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História Puppets Of Destruction - As Brigas


Escrita por: Ashmedhai

Capítulo 13 - As Brigas


Fanfic / Fanfiction Puppets Of Destruction - As Brigas

Seria mentira de YoonGi se ele dissesse que não estranhara a ausência de Hoseok naquela segunda-feira.

O loiro, sempre acostumado a almoçar com o amigo, sentiu-se solitário à mesa do restaurante da transportadora que sempre frequentava, sentiu falta de alguém rindo do seu modo desengonçado de segurar a faca, ou só falando sobre como a vida de faculdade andava complicada e cansativa, mas não era como se fosse a primeira vez que o Jung se fazia ausente. A diferença - e esta, nem sabia porque existia - estava na espécie estranha de saudade que sentia do mais novo.

Talvez, quando tivesse saco pra pensar nessas coisas, o loiro ponderasse algo sobre consciência pesada, provavelmente descartaria de imediato a hipótese já que sempre beijava e se relacionava com várias outras pessoas, não faria sentido só mais um naquela lista modificar algo - E não modificara mesmo.

Naquela tarde, depois de comer bem e assinar a nota de permuta que tinha como forma de pagamento de todas as suas refeições, retornou à mecânica. Haviam duas carretas esperando seus trabalhos e novamente sentia falta do moreno lhe ajudando, ralhando consigo e lhe chamando de cabeça dura por sempre ser extremamente metódico com o trabalho e a sua forma de executar as coisas. Era como se escutasse a voz do outro lhe dizendo que a quantia de óleo que usava era desnecessariamente exagerada, que deveria conter o fluxo de líquidos com estopas e não com a própria camisa, implicando com cada ato seu a cada segundo como se fosse uma daquelas mães excessiva e irritantemente zelosas com o filho pequeno.

“- YOONGINIE! VOCÊ AINDA VAI FODER SEU ARMÁRIO TODO, FILHO DA PUTA! PARA DE LIMPAR ESSAS MÃOS DE PORCO IMUNDO NESSA CALÇA!”

Se não tivesse tanta pressa em entregar os dois veículos consertados aos seus donos, YoonGi poderia perder bons minutos pensando em como a mecânica ficava silenciosa sem o Jung ali, mas preferia preencher os ouvidos com as canções da sua playlist e o barulho dos motores. Já eram sons altos o suficiente para lhe calar a mente e fazer relaxar, e realmente tentava não dar importância pra falta fora do normal que estava sentindo dele.

Ao fim da tarde, quando finalmente terminou seu trabalho, assistiu feliz a sua máquina de cartões aceitar os dois pagamentos gordos pelo seu serviço, observou por um bom tempo o galpão vazio enquanto contabilizava mentalmente o que faria com o dinheiro que recebeu, quanto ainda tinha em conta e no que poderia investir, mas não demorou nem dez minutos em meio aos pensamentos monetários antes de ser interrompido por um berro grave de cumprimento vindo da entrada.

Apesar de sorrir, era perceptível que Namjoon não estava de um todo feliz. Logo os dois rapazes pegaram cervejas no freezer, foram à escadaria, se sentaram nos degraus e um suspiro pesado fugiu do Kim antes de ter a atenção de YoonGi sobre si.

- SeokJin.

Não havia necessidade de explicações para que o mecânico entendesse o que se passava, não era preciso ouvir as lamúrias do rosado pra saber que todo e qualquer pensamento dolorido dele, tinha raiz no loiro mais velho. Aquilo tudo era muito óbvio para o Min sempre, desde o começo, mas não era como se fosse um amigo ruim que se negava a escutar e foi por isso que, mesmo sabendo exatamente tudo o que escutaria, lhe perguntou o que havia acontecido.

- Nada muito novo, pra falar a verdade. Ele foi pro posto comigo ontem, a gente… Bem, você sabe… E depois eu peguei no sono e ele foi embora no meio da noite. Sem mensagem, sem bilhete, sem nem um “vai se foder, some da minha vida”. Tá foda, YoonGi… Tá foda porque toda vez que eu acho que a gente vai se acertar cem por cento e ele vai vir morar no posto comigo, ele fica assim. - O embargo notório na voz do mais novo incomodava e fazia o anfitrião de fato ter dó dele. YoonGi não se julgava muito bom com conselhos, não sabia o que dizer em horas como essa, mas não podia deixar o Kim sofrendo em silêncio daquele jeito.

- Eu entendo isso de você ficar puto com ele por ele sempre fugir de você e tudo o mais. Deve ser foda pra caralho gostar de alguém e a pessoa não estar nem aí. - Disse jogando o braço sobre o ombro do mais alto e notou a encarada confusa dele quando expressou sua visão sobre o outro Kim, percebendo só ali que havia falado mais de si mesmo que do rosado, se expressado mal, tratando de corrigir imediatamente. - Por favor Nam, não tô dizendo que o Jin não tá nem aí pra você, só tô dizendo que ele tem agido assim, mas ele deve ter os motivos dele pra isso. O certo seria você chamar ele pra conversar e CONVERSAR mesmo, de verdade, falar tudo o que você sente, o que você quer ou espera dele. Ele também gosta de você, não adianta fazer de conta que você não sabe disso. - Concluiu mantendo o sorriso ameno no rosto, tentando acalmar a mente do mais novo e por mais que parecesse pouco ou que as palavras de YoonGi não fossem realmente as de quem se importava com a dor alheia, NamJoon sorria agradecido de volta.

A amizade dos dois desde o começo funcionava daquela forma. YoonGi nunca foi muito dado a palavras e discursos imensos, era sucinto, direto, não enrolava ou ficava escolhendo vocábulos, ele dizia exatamente o que pensava e o Kim o admirava muito por isso, por não ficar rodando pelos assuntos e lhe dizer exatamente o que precisava ouvir e o loiro sempre se sentia contente em ajudá-lo principalmente porque de todas as pessoas de seu convívio, o rosado era quem menos lhe cobrava conversações. O baixista lhe compreendia no olhar e essa era a parte da amizade deles que o Min mais apreciava.

Contudo, a paz de espírito do anfitrião não durou tanto. Assim que Namjoon se sentiu suficientemente consolado, notou falta de algo que o próprio YoonGi não queria pensar sobre. Em sua inocência quanto ao que se passava na mente do guitarrista, o Kim questionou sobre Hoseok, disse que era estranho chegar na mecânica a tarde e não vê-lo ali e mesmo desconfiando do real motivo da ausência do melhor amigo, o mecânico optou por mentir, mais para si mesmo que para o outro.

- Lembra que ele disse algo sobre monitoria da faculdade? Ele deve ter ficado no campus trabalhando nisso.

Um suspiro sutil escapou do rapaz mais baixinho ao encarar o outro vendo-o menear com a cabeça, indicando que lembrava de tal detalhe e aparentemente engolindo a história, contudo YoonGi sabia que haviam grandes chances de a ausência de Hoseok não ter nada a ver com aquilo.

Quando o Jung fixou o olhar no seu na noite anterior, YoonGi soube que ele havia entendido muito  bem o que significava “levar Jimin em casa”. O Min não se arrependia do que dera a entender e muito menos do que havia de fato feito. Admitia que havia agido completamente por impulso, contudo não negaria o quanto adorou de ter beijado Jimin e um lado seu verdadeiramente queria repetir tal feito, mas ponderar sobre o aparente desgosto do moreno expresso através de seu sumiço anormal só o fazia pensar que não deveria ter feito o que fez.

A cabeça do loiro ainda estava muito confusa. Enquanto Namjoon falava aleatoriamente sobre qualquer coisa que sequer assimilava, o Min viajava sobre as coisas que sentira desde sábado. O guitarrista pensava sobre como lhe incomodara a conexão que Hoseok e Jimin haviam criado enquanto tocavam juntos, pensava em como doeu ter ouvido o Jeon falando sobre eles terem quase se beijado no estúdio, e agora que já havia beijado o Park, tinha certeza que não, não era apenas porque queria ter sido o primeiro, era porque no fundo sabia que Jimin iria conviver com eles todos os dias, sabia que Hoseok era o tipo de pessoa que se apegava fácil e sabia que se acontecesse de eles ficarem, a possibilidade de um relacionamento sério surgir ali era imensa assim como também sabia que não suportaria perder de vez tudo o que tinha com o Jung além da amizade e do carnal.

A idéia de Hoseok namorando seriamente com alguém sim lhe perturbava e lhe trazia remorso. A possibilidade de ver o outro guitarrista se afastando lhe atormentava e sua vontade era de mandar Namjoon calar a boca e ir pra casa para poder ligar para o Jung e pedir para vir vê-lo, contudo tal contato nem sequer foi necessário. Era próximo às 21:30h quando a moto barulhenta do Jung invadiu o galpão assustando tanto o anfitrião quanto o dono do posto, logo em seguida arrancando risadas de Namjoon pelo sobressalto exagerado que YoonGi dera e não tardou ao recém chegado juntar-se aos dois na atividade de beber e falar da vida.

Para o Kim, a pequena melancolia que o acompanhara até ali já havia se dissipado quase que por completo. Mesmo sendo meio calado e não muito dado a grandes conversas filosóficas sobre a vida e a morte, YoonGi ainda era alguém que tinha a habilidade de fazer com que as pessoas se sentissem à vontade perto dele, era como se ao ficar perto de alguém que aparentemente não se importasse com absolutamente nada, tal postura fosse lhe passada também e era assim que o baixista se sentia perto do loiro, não se importando com nada, e se o clima já era agradável apenas sendo eles dois, tudo ficou ainda melhor com a chegada do Jung. O Dono do posto de combustíveis amava o eterno bom humor dele, a animação contagiante e a forma otimista com que Hoseok encarava a vida. Aquilo lhe dava ânimo, lhe fazia se sentir otimista também e, para Namjoon, tudo estava muito bem ali, o clima lhe era descontraído afinal.

Contudo, apenas o Kim não notava nada de estranho. Assim que Hoseok se juntou a eles, YoonGi percebeu de imediato que o mais novo não estava em seu humor normal. O Jung, mesmo falando consigo e interagindo de certa forma, evitava ao máximo lhe encarar, não sentou-se ao seu lado ou lhe tocou como sempre fazia e apesar de detestar a mania que o moreno tinha de encostar nas pessoas sempre que falava, naquele dia sentiu falta disso. Era estranho notar que até as características do mais novo que tanto lhe irritavam estavam fazendo falta e era pior ainda não entender exatamente o porquê daquilo.

Já Hoseok, sentia-se tão estranho quanto o baixinho.

Fazia muito tempo, nenhum dos dois poderiam dizer quantos anos exatamente, mas foi na adolescência que a amizade deles deixou de ser só uma amizade normal entre dois meninos. Foi próximo aos dezesseis ou dezessete anos, não lembrava perfeitamente quando, mas lembrava o dia. Era uma quinta-feira de inverno, o fim do ano escolar estava próximo e a pressão das últimas provas fez com que YoonGi ficasse por vários dias seguidos na casa da família Jung com o intuito de estudarem juntos para os exames escolares, contudo as brincadeiras dos dois só os faziam se afastar mais dos livros a cada hora.

Aquilo começou dias antes, em meio aos estudos de biologia e a busca por aulas on-line. Um site de conteúdo adulto acabou aparecendo nas propagandas do site de estudos e a curiosidade foi maior que o anseio por um boletim decente e ali se foram várias horas em meio a vídeos que até ensinavam algo de biologia, porém nada da matéria que precisavam estudar, no entanto na quinta-feira a busca por aquele site foi proposital e era inevitável para os dois sentir as bochechas esquentando na mesma proporção que a curiosidade sobre o que viam na tela crescendo.

Se YoonGi se lembrava daquela quinta-feira, Hoseok não sabia, mas ele lembrava com precisão a forma como a mãozinha pálida do mais velho apalpou sua coxa com força, se lembrava com uma riqueza de detalhes imensa a surpresa e tensão que sentiu quando o corpo mais baixo que o seu subiu sobre si e com a memória ainda mais vivida recordava daquele primeiro beijo dado em um garoto.

Àquela altura da adolescência deles, ambos já haviam tido seus namoricos de colégio, aquele não foi o primeiro beijo de nenhum deles, mas ambos compartilhavam a primeira experiência com alguém do mesmo sexo assim como ambos gostaram tanto daquilo que passaram a tarde toda em meio aos cobertores do anfitrião se beijando e se descobrindo quanto aquela gama de novidades. Pensavam que talvez fosse justamente por ser algo novo que era tão bom, mas no fim, com o passar do tempo, perceberam apenas que era bom por ser mesmo, independente da novidade. Quando deixou de ser novidade, continuava sendo gostoso, principalmente por todos os novos gostos tanto de um quanto do outro se complementarem.

Entretanto, YoonGi parecia ser alguém que sempre gostava do novo. Foi com desgosto que Hoseok assistiu-o beijando a boca de outros caras, foi engolindo o nó que lhe subia a garganta que escutou o Min lhe contando sobre a sua primeira transa com uma menina e foi sentindo o peito cada dia mais dolorido que percebeu o pior: Estava apaixonado, e em seu pensamento, era unilateral.

O Jung relutou por dias dentro daquela percepção, negou por diversas vezes que havia algum vínculo sentimental entre ele e o mais velho - que pensava ser exclusivamente da sua parte - e foi tentando se preservar que propôs o lema conjunto de “são apenas orgasmos”. Foi dolorido pro mais novo perceber que tal proposta fora aceita até com certa felicidade pelo mecânico, foi sôfrego vê-lo cada vez menos seletivo com as pessoas com quem saia e toda vez que o Min lhe procurava, se sentia usado, mas não era como se conseguisse apenas lhe negar. Mesmo se sentindo usado, ele ainda o tinha e temia imensamente dizer qualquer coisa acerca do que sentia e ser rejeitado em definitivo. Era triste aceitar e viver das migalhas que YoonGi lhe oferecia, mas era melhor que nada, então resignava-se às vontades dele e tentava imitar o modo que o mais velho encarava a vida, não demorando tanto assim em também procurar outras companhias, por vezes tentar causar ciúme e chorar trancado em seu quarto por pensar que não havia obtido êxito, tentando cada dia mais voltar a ver o loiro apenas como um amigo com benefícios - que era como o Min os denominada - do que como um cara com quem pudesse ter um relacionamento de fato, alguém para ser seu, amar e receber amor. Demorou, mas depois de alguns anos a ideia de receber amor de YoonGi deixou de existir e agora, já com seus vinte e poucos anos feitos, havia se conformado por completo, nem cogitava mais nada sentimental entre eles.

Hoseok não imaginava o quanto estava errado, não cogitava nem em seu pensamento mais utópico a realidade de que seus sentimentos eram espelhados dentro do loiro. YoonGi sentia exatamente o mesmo medo de revelar que gostava verdadeiramente do Jung e acabar por vê-lo se afastando. O Min também perdia algumas noites de sono quando o mais novo arrumava algum caso novo, o temor dele se apaixonar por algum dos caras com quem saía era sempre presente e era com um alívio imenso que escutava os “a gente não combinava” que vinham seguidos das explicações sobre cada término.

YoonGi sabia perfeitamente que Hoseok era o típico “cara para casar”. Quando o moreno começava a ficar com alguém, não se envolvia com outra pessoa e isso incluía não se envolver nem consigo. Todas as vezes que o Jung conhecia alguém novo, o loiro enlouquecia, se fechava em seu quarto e ficava pensando em todos os defeitos possíveis do novo par do outro apenas para talvez persuadi-lo em largar quem fosse logo e voltar para os seus braços, e se sentia realmente feliz quando nem precisava argumentar coisas como “esse cara não presta, olha como é cômodo pra ele estar contigo! Você não merece alguém assim, Hoseok.” Mas a vontade mesmo era de dizer “Você merece alguém como eu, então pare de procurar nos outros o que eu posso te dar e vamos ficar juntos.” Contudo, coragem nunca fora seu forte.

E era justamente por essa covardia que afastava-o. Era por não ter “peito suficiente” que procurava em outras pessoas o que sabia que só Hoseok lhe daria na esperança de apagar de si o que sentia pelo mais novo e talvez começar uma vida seria, mesmo achando que a única pessoa que poderia lhe mudar de fato era o próprio Jung. Chegava achar-se ridículo por teimar em negar tudo aquilo reforçando o trato de nunca se prenderem quando na verdade o que ele mais queria era realmente ser só do Jung e ter somente ele para si.

Era perto da meia noite quando já meio embriagado, Namjoon levantou-se da escada e disse que iria pra casa dormir. Os dois amigos fizeram companhia até que ele assumisse o volante do seu carro e partisse, e foi só quando se viram sozinhos que YoonGi e Hoseok se encararam pela primeira vez naquela noite.

- Eu vou nessa também. - Disse o Jung simplista, logo pegando seu capacete e caminhando em direção à sua moto e por instinto, o mecânico segurou seu braço, obrigando-o a encarar-lhe de novo.

- Por que? Dorme aqui. - Pediu o Min soando mais manhoso do que gostaria, sentindo a saudade que tinha do Jung ganhando vazão dentro do peito e quase se amaldiçoando por ter se exposto tanto com tão pouco, logo notando o olhar cortante do moreno.

- É melhor eu ir mesmo. Vai que o Jimin aparece aí… Eu não quero criar clima. - Com tal afirmação, Hoseok se soltou e ganhou o olhar incrédulo de YoonGi sobre si. Assistiu-o pondo as mãos na cintura em um nítido sinal de irritação e percebeu que possivelmente havia falado demais, talvez até o ofendido, mas manteve-se na mesma postura fria que mantinha desde de que chegara.

- É sério que tudo isso foi só porque eu levei o Jimin em casa? - O tom sutilmente debochado do loiro foi perceptível e incomodou um bocado o outro que imediatamente virou-se para retrucar.

- Pra cima de mim não, YoonGi! Eu te conheço! Eu sei perfeitamente bem que você levar ele em casa significa que no mínimo ficou com ele. - Respondeu ríspido e a raiva que começava a surgir em si só crescia ainda mais ao notar a sobrancelha arqueada e o sorriso jocoso naquela face pálida.

- Ok, vamos corrigir então: Tu sumiu hoje o dia todo e está me tratando assim por que eu levei o Jimin em casa e beijei ele? Sério Hoseok, isso é ridículo! - Bufou desistindo de qualquer discussão, já rumando as escadarias novamente quando dessa vez, ele que fora segurado pelo pulso.

- Eu não sumi por conta disso, eu tinha coisas da faculdade pra fazer! E eu não tô com ciúmes, eu tô é preocupado! - A gargalhada irônica de YoonGi o fez se irritar mais e apertar com veemência o braço pálido, fazendo-o encarar bravo, expressando que realmente estava sendo machucado pelo aperto. - Você parece que tem merda na cabeça! Tu conheceu o moleque há três dias e já ficou com ele! Ele acabou de entrar na banda! Tu tem noção do tanto de problema que esse “rolinho” pode trazer pra todo mundo? É tão difícil assim se controlar e não sair agarrando cada pessoa nova que conhece? - As palavras borbulhavam ódio, Hoseok já não escondia a irritação que aquela história toda lhe trazia, mas fora justamente a justificativa dada que fez o Min engolir a mágoa que lhe subia sobre o julgamento de Hoseok, praticamente lhe chamando de vadia indiretamente e se curvar de tanto rir antes de encarar o outro quase deixando veneno escorrer pelo canto da boca.

- Acho muito engraçada essa preocupação toda vindo de você… - A Risada debochada se fez audível novamente e as palavras do loiro só faziam o guitarrista se sentir confuso sobre o que significava, porém o anfitrião não demorou em explicar. - Eu acho realmente a piada do século você me recriminar por ter beijado o Jimin quando deixei ele em casa sendo que se não fosse pelo Kookie, tu teria beijado ele muito antes, ou você acha que eu não sei o porquê de vocês terem demorado tanto no estúdio ontem? - As palavras sumiram da boca do Jung ao ouvir aquilo. Ele tinha absoluta certeza que ninguém mais sabia, que o Jeon não tinha visto praticamente nada e ainda ponderava sobre como o Min poderia saber das coisas quando seus pensamentos foram outra vez interrompidos. - Não faz essa cara de sonso pra cima de mim! Eu sei bem o que aconteceu e eu acho que você tá certo em dizer que pode não ser ciúmes mesmo… - Outra vez sem entender nada, o Jung levantou o olhar esperando a continuação da frase. Ele sabia que aquilo era uma isca, conhecia a mente ardilosa de YoonGi e só esperou ele continuar mesmo temendo que tais palavras pudessem lhe machucar. - Você não está com ciúme porque o que você sente é inveja. Você queria ter sido o primeiro a beijar ele, confessa! Eu sei que você gosta do tipo de cara que o Jimin é. Eu sei que você tem tara por músculos e pele bronzeada, por esses caras que ficam dizendo por aí que são hétero e se fazendo de brutos só pro seu ego inflar a hora que “domar” eles. Eu te conheço o suficiente pra saber como você é e do que você gosta de verdade mesmo negando todas essas preferências quando fica comigo! Não precisa mentir, Hoseok. Eu te conheço!

YoonGi nem teve tempo pra pensar em nada. Assim que suas palavras terminaram de deixar a sua boca, a face direita ardeu e imediatamente sentiu-a esquentando. O loiro demorou alguns segundos para assimilar o fato de ter levado um tapa forte no rosto e só percebeu que havia ido longe demais no que dissera quando encarou Hoseok pronto para revidar a agressão e notou os olhos dele marejados, a mandíbula cerrada fazendo sua coragem se esvair gradativamente a cada passo lento que o moreno dava em sua direção.

- Por que pra você tudo tem que ser uma competição? Por que você não pode só aceitar que ambos somos igualmente bons? Por que, nem por um mísero segundo, se passa pela sua cabeça que eu poderia só ter me interessado por ele independente do corpo que ele tem ou da possibilidade de que você também o quisesse? É sempre “Eu primeiro”, “Eu sou o melhor”, “Eu pego fulana ou ciclano antes”, eu, eu, eu! Chega! - O Bufar frustrado escapou de Hoseok que nem se deu ao trabalho de observar a cara embasbacada do Min, logo pegando o capacete com ambas as mãos e ajustando as correias apenas para não encará-lo mais e foi caminhando em direção à moto em passos lentos, deixando um YoonGi atordoado para trás antes de lhe olhar uma última vez. - Eu realmente me interessei pelo jeito dele. Ele é realmente muito bonito, mas você reparou no quão gracioso ele fica quando está com vergonha? No quão frágil e assustado ele é? Você por algum momento olhou ele além dos músculos e pele bronzeada? Reparou no talento que aquele filho da mãe tem com o instrumento dele ou na forma engraçadinha que ele fica corado quando a gente elogia ele ou em como ele não tem noção do quanto é um bom baterista? É claro que não reparou em nada além do corpo dele porque pra você, nada importa não é? Pra você é sempre só sexo e orgasmos e tudo que for além disso não te interessa. Quer saber? Eu nem vou “competir” com você nessa competição que só existe na sua cabeça. Boa sorte nisso de fazer ele de idiota como você faz com todo mundo que se envolve ou gosta de você e na sua tentativa de foder a banda mais uma vez porque vai ser bem isso que vai acontecer! Vocês vão ficar juntos e mais cedo ou mais tarde, quando você achar outra pessoa pra te satisfazer, ele vai se magoar e sair da banda com toda a razão do mundo. Escreve o que eu tô dizendo. Boa noite, YoonGi.

Antes que sequer pudesse se recuperar do bombardeio verbal que recebera, YoonGi ouviu o ronco alto da moto perdendo volume conforme ela se afastava. Nunca em sua vida havia visto Hoseok daquela forma, nunca sequer havia imaginado como ele se sentia ou o que pensava a seu respeito e junto a isso, o tapa que tomara o chocou tanto que não conseguia sequer reagir. A catatonia lhe tomava por completo e tudo o que ouvia eram zumbidos da sua mente estática que se esforçava para processar aquilo tudo mas não conseguia. Não conseguia acreditar que Hoseok, o cara que havia crescido consigo, lhe julgava daquela forma frívola, lhe via de um jeito totalmente distorcido e irreal, não conseguia crer que ele havia realmente lhe agredido e o pior, era descabido para si pensar que tudo aquilo estava sendo só porque beijou Jimin. Aquilo doía como o inferno e em nenhum outro momento em sua vida toda pensava que poderia chegar o dia que Hoseok lhe faria chorar da forma que chorava agora.

E o Jung não estava diferente dentro de todas as decepções. Seu dia já havia sido uma verdadeira e grande merda por ter sido obrigado a ficar no campus da universidade desde o primeiro horário da manhã até o final do turno vespertino. Ao chegar na mecânica e notar YoonGi com o semblante fechado para si as coisas só pioraram, e depois ser acusado de ser um invejoso foi a gota d’água. Era óbvio que doía o fato do Min ter ficado com o baterista, mas será que em momento algum ele cogitou que doía porque queria que o Loiro lhe olhasse diferente? Será que em momento algum YoonGi sequer cogitava seus sentimentos que sempre lhe parecera tão óbvios?

Hoseok jamais negaria seu interesse em Jimin desde quando ele passara pela porta da mecânica, mas aquilo não era uma competição. O Park não era um troféu, ele era um ser humano e o Jung abominava a mania que o outro guitarrista aparentava ter de sempre agir como se as pessoas fossem objetos, fossem descartáveis e servissem apenas pro seu bel-prazer.

Foi com tais pensamentos lhe nublando a cabeça e as vistas que finalmente chegou em casa. Seu corpo estava dolorido e já não sabia mais dizer se era apenas pelo dia cansativo ou se era por toda aquela tensão também.

Ainda na garagem, estranhou encontrar seu pai arrumando as coisas que levaria para a viagem e chegou pensar sobre que tipo de cegueira havia adquirido por nem ter sequer notado o caminhão do velho estacionado do outro lado da rua.

Jung Taekwoon, apesar de não ficar muito em casa, conhecia bem seu filho. Assim que assistiu Hoseok estacionando a moto ao lado do carro, com o rosto vermelho e os ombros tensos, o velho presumiu que o rapaz havia tido um dia ruim. Sua vontade era de questionar o que acontecera, perguntar qual era o problema, mas sabia que o rebento não era de desabafar, não consigo. Era nessas horas que se arrependia da barreira que havia criado sob pretexto de manter o respeito e hierarquia familiar porque se talvez tivesse criado-o como um amigo e não com a relação austera de pai e filho, ele se abriria mais e dividiria os pensamentos que lhe passava, mas agora, vinte e poucos anos depois, já não adiantava tentar mudar aquilo, então optou por tentar mudar outra coisa: O Humor do garoto.

- Sua mãe tirou as coisas da minha caixa de cozinha pra lavar. Me ajuda a arrumar la porque daqui a pouco eu tenho que ir. - Pediu já entregando a caixa de papelão grande cheia de panelas para o rapaz que sequer teve tempo de negar o pedido.

- Pai, é duas horas da manhã! Sério que o senhor vai pegar estrada agora? - Perguntou tristonho e escutou o mais velho suspirando sôfrego.

- O Pai não se manda, filho… Tô carregado com container de eletrônico, tenho hora pra estar no porto. - Respondeu já rumando à rua e apesar de tudo, aqueles momentos eram com certeza momentos que Hoseok verdadeiramente apreciava.

O mais novo seguiu Taekwoon até o caminhão e assistiu-o destravando o alarme e logo abrindo a porta alta da boleia, subindo os três degraus que separavam a carroceria do chão e se jogando contra o banco. Nesses momentos, o rapaz voltava a se sentir como quando tinha cinco anos de idade e sua mãe lhe levava no colo até àquele mesmo lugar para se despedir do pai antes de uma viagem.

O cheiro de aromatizador misturado a cigarro e óleo diesel era uma combinação que marcava a memória de Hoseok com coisas boas, o fazia se lembrar da infância, de quando sentava no colo do progenitor e tinha a ilusão de que era ele que dirigia aquele veículo imenso e era inevitável a sensação de nostalgia que lhe corria as veias toda vez que estava por ali.

Logo o Jung mais velho destravou as coisas no painel, ligou a ignição fazendo o ronco forte e grave do motor se espalhar pela rua quieta da madrugada e imediatamente desceu ao chão em um salto só, capturando a caixa das mãos do filho e dando a volta na carreta, seguido de perto pelo outro. Assim que chegou no meio do compartimento de carga, Hoseok recebeu novamente a caixa em mãos e viu o pai pegando um molho de chaves e rumando ao cadeado que trancava a grande caixa de madeira que ficava presa sob o chassi da carroceria.

Ali era a tal cozinha do caminhão e ali sim a nostalgia chegava ficar pesada.

Hoseok se lembrava com um carinho imenso de todas as vezes que viajara com seu pai. Lembrava das manhãs que viam o Sol nascendo do pátio de algum posto de combustível qualquer de beira de estrada enquanto faziam um café simples apenas para eles ali naquela caixa de madeira improvisada que tinha sua tampa como mesa. Era engraçado como só o fato de dividir aqueles pequenos momentos com Taekwoon o fazia se sentir muito melhor e era com uma dedicação e cuidado imensos que se esforçava para organizar tudo exatamente da forma que sabia que o velho gostava enquanto o motorista baforava um cigarro e ia andando ao redor do veículo, mexendo em algum parafuso aqui e acolá, ajustando melhor os engastes e dando a última verificada antes de finalmente voltar para perto do filho e elogiar a organização da cozinha.

Logo os dois rumaram novamente para dentro de casa. Hoseok assistiu o outro Jung entrar no próprio quarto e pela porta aberta, viu-o se despedindo da esposa que já dormia, escutou com clareza as palavras de afeto trocadas pelos dois e o beijo casto que fora depositado na testa da mulher enquanto ela murmurava o mesmo “Faça uma boa viagem, se cuide e tenha juízo na estrada” que ela sempre falava para Taekwoon antes dele partir.

Já com a mala de roupas em mãos, pai e filho voltaram para o lado do caminhão. Antes de embarcar o motorista abraçou forte seu rebento que estranhou tal demonstração de carinho mas não a rejeitou ou questionou, apenas apreciou o enlace firme dos braços fortes e os tapinhas amigáveis que ganhara no ombro e se tal contato físico fora algo que estranhara, as palavras de despedida proferidas já de dentro da cabine o perturbou ainda mais.

- Hobi, não importa o que esteja te incomodando, lembra que isso passa, ok? O pai te ama e tem muito orgulho de você. Independente do que fizer ou acontecer saiba que teu velho te considera o melhor presente que já ganhou na vida! Durma bem, garoto!

Hoseok queria ter respondido com um “boa viagem” ou um “Também te amo, pai”, mas quando pensou em dizer, o vidro já estava fechado e o caminhão já se afastava ainda lentamente, logo ganhando embalo nos quarteirões seguintes até enfim sumir de vistas, deixando o rapaz ainda no meio da rua observando o nada enquanto pensava sobre o que seu pai quis dizer com aquilo tudo.

Mesmo com a mente perturbada, Hoseok sentia o cansaço lhe destruindo. Assim que entrou em casa foi diretamente a cozinha e comeu os biscoitos que encontrou sobre a bancada, depois rumou ao quarto, pegou suas roupas e foi ao banheiro que ficava no meio do corredor onde tomou um banho quente mas não muito demorado pois a pressa em encontrar seu travesseiro era maior que vontade de apreciar a água sobre a musculatura.

Assim que saiu do banheiro, encontrou sua mãe aguardando para utilizá-lo, escorada na parede ao lado do batente. Ainda sonolenta, a mulher questionou que horas eram, perguntou onde o filho estava até aquela hora e ouviu todas as respostas sem sequer abrir os olhos e assim que viu sua mãe finalmente rumando para o quarto, Hoseok fez o mesmo, jogando-se sobre seus cobertores sem nem se dar ao trabalho de secar direito os cabelos ou vestir alguma roupa.

A terça-feira começou para o Jung do mesmo jeito que todos os seus dias de semana começavam. Seu despertador lhe tirou da cama, e ainda praticamente dormindo, foi ao banheiro e fez sua higiene. Só após escovar os dentes foi que o rapaz se deu conta de que ainda estava nu e tal fato só aconteceu por sua mãe ter lhe xingado dizendo que não era por tê-lo feito e criado que era obrigada a “aguentar desrespeito de marmanjo”.

A verdade foi que o que lhe despertara de fato fora a risada da senhora. Se havia no mundo uma coisa que apreciava mesmo vendo sempre, essa coisa era a risada da mãe e não demorou para zomba-la e brincar com ela mais um pouco nos parcos minutos que eles tinham juntos antes de cada um sair de casa em direção às suas rotinas.

Ao ganhar as ruas em direção a universidade, o vento que batia em seu corpo juntamente ao som grave da sua moto faziam Hoseok se sentir muito bem. Ele não pensava em YoonGi e nem em nada de ruim que acontecera na noite anterior e realmente se concentrava em manter o humor agradável com que acordara naquele dia, principalmente por saber que devido ao fato de passar dois dias inteiros no campus, ganharia a quarta-feira de folga e já imaginava quantas horas de sono conseguiria repor naquele dia. Contudo, seu plano de dormir desde o entardecer da terça-feira até o amanhecer de quinta-feira fora totalmente frustrado ainda antes do almoço.

O guitarrista já deixava a sala de aula em direção ao refeitório quando sentiu seu celular vibrando no bolso e ao capturar o aparelho, viu o nome de SeokJin na tela. Na ligação, o mais velho perguntava se era verdade o fato de que não teria aula no dia seguinte e mesmo tentado a mentir, não conseguiu. Ao confirmar sua folga, ouviu o loiro comemorando e dizendo que ele e Jungkook também foram dispensados das aulas do tal dia e assim, iriam convidar os demais para ensaiar.

Hoseok se sentiu imensamente incomodado e ali desistiu de manter seu estranho bom humor.

Ele não se sentia preparado para reencarar YoonGi, não depois de ter batido nele e da conversa que tiveram. O Jung não se arrependia em nada do que dissera, mas não sabia como acabaria reagindo se visse Jimin e YoonGi aos amassos pela mecânica e nem como se sentiria sobre isso e todas as possibilidades realmente lhe deixavam temeroso, mas não era como se tivesse opção então mesmo nervoso e relutante, acabou por aceitar.

Aquele dia correu mais rápido do que o rapaz gostaria. Nunca em sua vida toda havia ansiado tanto por ver o relógio parado porque realmente não conseguia imaginar como seria estar próximo aos dois novamente, mas o tempo não era algo que ele controlava e quando menos percebeu, já era manhã de quarta-feira e se tudo já estava sendo angustiante, a ligação que recebera de Namjoon, já perto do meio dia o deixou pior ainda.

“- Oi Hobi, sou eu, o Nam. Faz um favor pra mim? Busca o Jimin na casa dele? Eu, o Jin e o Kookie estamos aqui no posto e o movimento tá insano, não tem como alguém ir buscar ele. A gente tá agilizando aqui pra não atrasar então se um sair vai dar merda. Quebra essa pra gente? Valeu ae!”

Se tudo já tinha uma certa tendência a não dar certo e a possibilidade do clima ficar tenso entre ele e YoonGi no ensaio, a ciência de que antes disso ficaria sozinho com Jimin o deixava pior ainda, principalmente por achar que sabia como a cabeça do Min funcionava, mas não era como se tivesse escolha. Enquanto dirigia para o endereço que SeokJin lhe passara por mensagem sua cabeça girava sobre como se comportar. Ele sabia que tudo o que Jimin lhe provocava deveria ser freado, YoonGi tinha ciência do seu interesse no mais novo, o loiro provavelmente também sabia que iria buscar o baterista e Hoseok realmente não tinha intenção de competir com YoonGi pelo Park mas o fato de ficar a sós com o outro poderia ser perfeitamente mal interpretado pelo mais velho. O Jung não queria mais se envolver com nenhum deles e por alguns segundos chegou até cogitar a possibilidade de ceder a vaga de guitarrista solo pro Min e fazer SeokJin entrar na banda como guitarrista base, deixando de tocar com eles, mas tal pensamento fora rapidamente afastado quando ponderou sobre como estaria prejudicando os outros amigos que nada tinham a ver com a briga que tivera com o mais velho e quando menos percebeu, já estava parado de frente ao casarão rosado que era o seu destino.

Já dentro da casa dos Park, as coisas não estavam em nada mais calmas.

Se já não bastasse todas as perturbações que sua mente carregava sobre os dois guitarristas, quando acordou naquela quarta-feira Jimin já se viu bombardeado por cobranças do seu pai outra vez sobre não fazer nada da vida, porém fora salvo pelo celular de JungSoo que lhe chamara para a vida dos negócios novamente, dando ao Park algumas horas de paz.

Já próximo ao horário do almoço, o baterista se arrumou e decidiu que deixaria suas bags e cases na sala para facilitar sua partida a hora que sua carona chegasse. Aquela, com certeza, foi a pior ideia que teve naquele dia que parecia ter sido o dia que seu pai havia tirado para lhe perturbar. Durante toda a refeição, ao invés de aproveitarem o raro momento em família, tudo o que se ouviu à mesa foram comparações e discursos sobre como o caçula estava fadado ao fracasso, sobre como ele nunca seria alguém na vida e sobre o sonho do velho de vê-lo se formando e assumindo os negócios da família.

A paciência de Jimin se esvaia a cada palavra escutada e era difícil manter o silêncio e resignação quanto a todas as ofensas indiretas dirigidas a si e foi quando ouviu uma buzina do lado de fora da casa que finalmente uma ponta de esperança lhe surgiu quanto a não precisar mais escutar aquela encheção de saco toda.

Rapidamente levantou-se da mesa e percebeu que estava sendo seguido por um JungSoo enfurecido que clamava pelo respeito, dizendo que Jimin não deveria deixá-lo falando sozinho. Ignorando totalmente o pai, o baterista subiu ao seu quarto, pegou sua carteira e celular que estavam sobre a escrivaninha, apressando-se em descer novamente a escadaria já capturando a bag de pratos, a mochila e a case dos pedais mas antes de chegar à porta, ainda no hall de entrada, o velho segurou seu pulso, tomou a carteira da sua mão e antes que sequer pudesse reagir, Jimin viu-o tomando o cartão do banco onde era depositada a sua mesada.

- Eu estou cansado de ficar sustentando vagabundo que fica em casa o dia todo fazendo nada! - Disse devolvendo a carteira vazia a um rapaz embasbacado, boquiaberto, realmente incrédulo quanto ao que estava acontecendo. - Duas semanas, Park Jimin! Você tem duas semanas para arrumar um emprego, um curso, qualquer coisa que seja de fato útil nessa sua vida e criar responsabilidade! Enquanto isso não acontecer, nada de cartão de crédito, nada de mesada, nada de carona, nada de chave de carro pra passeios em fim de semana e nem pense em chorar para sua mãe e sua irmã que elas vão se ver comigo se desobedecerem! Duas semanas… Esse é o prazo que você tem pra deixar de ser um desgosto pra família!

Ainda em estado de choque, o moreno assistiu seu pai voltando para a sala de jantar e sentando-se à mesa como se nada tivesse acontecido. A vontade de chorar lhe subia a garganta mas não era pela privação de mordomias, era pelo tom de voz e pelas palavras que ouvira. Nunca em todos os seus mais de vinte anos Jimin viu ou ouviu palavras tão grosseiras ou viu o pai tão exaltado e doía. Doía saber que ele era declaradamente o desgosto da família, doía ter escutado aquilo com todas as letras e saber que não era verdade. Ele poderia não ser um bom filho no sentido de seguir a carreira que o pai queria mas nunca fizera nada de errado, nunca lhe deu motivo de vergonha, sempre se comportou e tentava seu melhor em casa. Pela primeira vez na vida, mesmo sabendo que não era de um todo vagabundagem, Jimin cogitou a possibilidade do pai estar certo e notar que teria que abrir mão do seu sonho para poder deixar de ser um estigma no seio familiar quase o levou às lágrimas mas antes que pudesse chorar, ouviu batidas na madeira da porta que estava há poucos metros de si.

Assim que atendeu, o ar de piedade na face de Hoseok o fez ter ciência de que o guitarrista havia escutado tudo. Envergonhado, Jimin logo saiu de dentro de casa e caminhava em direção à moto estacionada na calçada sendo seguido de perto pelo Jung que apressou-se em capturar a case dos pedais, passando a sua frente em seguida.

Já de frente para o veículo, o Park recebeu o capacete, Hoseok sentou-se à moto e ajeitou a bolsa quadrada que carregava sobre as coxas e assim que recebeu um sinal de que poderia subir na moto também, Jimin ajeitou melhor a mochila as costas e abraçou a bag de pratos, sentou-se atrás do Jung e logo a partida elétrica fora acionada.

- A não ser que você seja muito habituado a andar de moto, é melhor você se segurar em mim.

A tensão sentida pelo mais novo ao notar que seus pulsos foram puxados através da cintura magra do guitarrista era algo que de fato só ele sentia. Talvez se Hoseok não estivesse tão concentrado nas ruas e com a cabeça tão perdida no que escutou do pai do Park, ele também desse alguma atenção ao fato das mãos de Jimin estarem trêmulas e ele com a postura tensa atrás de si, mas o maior realmente não reparou naquilo.

O caroneiro, ao ser puxado para frente congelou em seu lugar e se já era difícil respirar só pelo nervosismo que a proximidade com aquele corpo quente a sua frente lhe trazia, quando a moto ganhou movimento tudo ficou ainda pior por conta do perfume delicioso do Jung que invadia suas narinas.

O baterista ficou tão entorpecido que com poucos quarteirões já nem lembrava mais da manhã de cão que tivera, já não pensava mais nas palavras rudes do seu pai e nem em nada de ruim. Apenas apreciava o aroma agradável que se desprendia do pescoço do mais velho diretamente para a sua face e sua distração com isso fora tanta que nem reparou quando Hoseok estacionou em um posto de combustível ainda no meio urbano.

No entanto, foi impossível não estranhar o fato do Jung não ter parado ali para encher o tanque. Assim que ambos desembarcaram Hoseok caminhou até a conveniência do posto e voltou de lá com uma lata de energético e outra de cerveja, ficando com a bebida sem álcool para si e entregando a outra para o Park. O silêncio reinou entre eles por um bom tempo. Os dois limitavam em bebericar suas latas, um pensando nos efeitos estranhos que o mais velho lhe causava e o tal mais velho pensando na ideia que havia tido para ajudar o Park.

- Me desculpa se eu parecer intrometido, mas eu posso te ajudar, Jimin. - A atenção do menor voltou-se imediatamente para o guitarrista e o semblante confuso dele estimulou Hoseok a continuar. - Eu sei que eu não deveria ter escutado nada e realmente não foi proposital, mas eu acho que tenho a solução, se você quiser. - Um aceno afirmativo veio como sinal de que escutava e logo o mais velho continuou. - Eu não lembro se cheguei comentar contigo ou coisa assim, mas na faculdade onde eu estudo tem um projeto de monitoria onde acadêmicos auxiliam pessoas que querem prestar vestibular. É como se fosse um cursinho preparatório, mas ao invés de aulas mesmo, com professores e tudo o mais, são os alunos do campus que dão aulas das matérias e ajudam com dúvidas, questionários e simulados. As inscrições estão abertas, Jimin. Seu pai falou pra você fazer algo da vida, o vestibular vai ser só no fim do ano. Eu acho muito difícil você conseguir um emprego bom mesmo sem ser formado ou estar pelo menos estudando, então acho que talvez esse curso possa te ajudar, nem que seja temporariamente. - A ponta de esperança que surgiu no olhar do Park comoveu o acadêmico que sorriu amplo na mesma hora, logo a destra fora esticada e o sorriso que já era grande, cresceu mais ainda. - Topa ser meu aluno? Isso vai ser um bom negócio pra nós dois. - Em meio ao aperto o cenho do menor franziu e logo a explicação veio. - É que as pessoas que eu indicar serão meus alunos. Vai ser divertido ter alunos conhecidos além das pessoas que a universidade mesmo vai designar pra mim.

Em meio a risadinhas baixinhas e temerosas, o Park pensou sobre a proposta mas não via motivos para negar. Se era orgulho que seu pai queria de si, orgulho lhe daria e aquele aparentava ser um ótimo primeiro passo.

“Posso fazer esse curso e depois prestar vestibular enquanto me dedico a banda. Quando a banda começar a fazer sucesso eu enfio o pé nessa faculdade e vou mostrar pro meu pai que eu não preciso de um diploma para ser motivo de elogio. Me aguarde que você ainda vai se arrepender de ter dito que eu sou um vagabundo, pai.” - Era o que o garoto pensava enquanto novamente a moto de Hoseok ganhava as ruas em direção à mecânica para encontrar o restante da banda e se a possibilidade de ter algum problema naquele ensaio existisse, para o Park isso agora nem era cogitado.


Notas Finais


Bom, eu realmente gostaria de dizer que postei 3 capítulos seguidos por unica e exclusivamente bom humor, mas não foi dessa vez, meus chapas.
Como eu havia comentado em algumas respostas, eu tinha até o capitulo 13 pronto, e cá está ele.
O motivo de estar postando agora é porque, infelizmente, eu não sei quando vou escrever de novo.
Hoje eu recebi uma noticia terrível, muito difícil mesmo e que eu não esperava nem no meu pior pesadelo.
Por conta disso eu vou ter que me afastar por um tempo da internet de modo geral, isso inclui escrever, postar e coisas assim.
Eu realmente quero do fundo da minha alma que isso passe logo, os últimos dias têm sido infernais pra mim e pra minha família e tudo o que eu posso pedir é que vcs rezem por mim.
Eu quero voltar logo.
Por favor, não desfavoritem a fic ou tirem da biblioteca porque ela vai ser terminada, se não por mim, por alguém algum dia.
Isso não é o Fim de POD, é só uma pausa e eu estou realmente rezando pra que seja breve, então rezem por mim também.
Eu realmente quero agradecer o carinho e amor de vocês todos, quero dizer o meu mais sincero Muito Obrigada a todos os 143 favoritos, 2371 views e 65 comentários, eu realmente não esperava tanto em tão pouco tempo.
Eu realmente não sei como agradecer tudo isso, de coração mesmo.
Peço perdão por ter prometido tanto e realmente quero um dia concluir todas as promessas que fiz vcs, eu farei meu melhor no que depender de mim, mas infelizmente muito pouco depende de mim, então reforço: Rezem!
Quanto ao Twt, eu desativei ele hoje a tarde por conta de outros problemas que não tem a ver com o hiatus da fic, mas que eu sei que será melhor pra mim assim.
Eu amo muito vocês e espero ansiosamente poder voltar em Breve.
KissKiss
~~Ashmedhai_


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