História Puppets Of Destruction - O Teste

Já haviam quatro garrafas de 500ml de cerveja vazias ao lado do amplificador de YoonGi quando finalmente Hoseok e NamJoon voltaram até onde todos os demais estavam.

Àquela altura, Jimin já se sentia mais relaxado e confiante sobre poder fazer seu teste, principalmente após ouvir o Min dizendo que caso Namjoon fosse realmente embora, ele mesmo assumiria o baixo e as músicas pedidas na mensagem seriam executadas de qualquer forma, e que caso o novato fosse aceito, convencer o autointitulado “líder”, seria questão de tempo e conversa, que ele próprio dizia fazer questão de ter com o rosado.

Enquanto isso, sentados ao lado da bateria, com as costas apoiadas na parede, estavam Jungkook e Taehyung conversando de forma tão animada, que nem parecia que há poucos instantes havia acontecido toda aquela tensão oriunda de Namjoon e seu aparente desgosto com o tipo de baterista que Jimin poderia ser. Os dois mais novos dali falavam sobre as músicas que foram pedidas ao Park e o rapaz de cabelos escuros mostrava em seu celular, outras músicas daquelas três bandas concordando entre eles sobre acharem Angra a melhor delas e ignorando totalmente o nariz torcido do Min que murmurava coisas como “Que heresia rebaixar Sepultura assim” ou “Malditos pivetes novatos que não sabem respeitar o Old School*”.

Já SeokJin andava de um lado para o outro, apreensivo com o possível desfecho de tudo, e para Jimin – que já havia percebido que aquele cara não fazia parte da banda propriamente dita -, soava estranha tal preocupação. “Se ele nem faz parte de nada, por que se importa se eles vão ter um baterista ou não? Ele não é só o cara responsável pelo pirralho ali?” Pensava o baterista consigo mesmo e ainda estava envolto em tais idéias quando notou os outros rapazes retornando, tendo a visão de um Hoseok amplamente sorridente e um Namjoon cabisbaixo, com um sorriso tímido no rosto, envergonhado talvez, e os olhos aparentemente úmidos, avermelhados, fazendo-o achar que talvez o baixista tivesse chorado, e quando ouviu a voz dele novamente teve certeza disso, e tal situação o fez se sentir culpado, mesmo sem saber a razão daquilo.

- Bom... Eu quero me desculpar contigo, Jimin. Os meninos tem razão. Eu to sendo um babaca preconceituoso em te julgar só por causa de um equipamento que eu nem sei como conseguiu. Eu não sei nada da sua vida, nem vi você tocando e deixei meus sentimentos interferirem em algo que eu deveria tratar de forma mais profissional, mesmo que de profissão, isso aqui não tenha nada. – Disse rindo soprado, se aproximando de onde o baixinho estava e lhe estendendo a mão que fora apertada de imediato, e o sorriso largo do novato ali, acalmou o coração do Kim fazendo-o se sentir leve, perdoado pela sua idiotice, e com isso resolveu parar com a enrolação, como YoonGi já tinha lhe pedido, e dar início ao teste de uma vez.

– Ok, vamos passar uma borracha nas coisas que aconteceram aqui e começar do zero. Park Jimin, Eu sou Monster, baixista e líder dessa banda, Esse é Jeon Jungkook, seu vocalista principal. Aquele é Min YoonGi, seu guitarrista base e ao seu lado, Jung Hoseok, seu guitarrista solo e backing vocal. Também temos Kim SeokJin, nosso “pseudo empresário”, babá do vocalista, vocalista e pianista nas horas vagas. Seja bem vindo a Puppets of Destruction. Aproveite sua estadia e nos guie como deve fazer.

Ao concluir sua fala, imediatamente viu todos se posicionando em seus lugares com as palhetas rentes às cordas dos instrumentos e o vocalista já de pé, apoiando o peso do corpo no pedestal do microfone, ligando-o e falando palavras aleatórias a título de teste, que reverberavam nitidamente da caixa de som que servia de apoio para o pé de YoonGi.

- Puxa a música que você quiser das três que te passaram. A gente te acompanha. – Ditou Jungkook e com um aceno afirmativo de cabeça, o Park respirou fundo antes de esfregar uma mão na outra com as baquetas entre elas, já posicionando melhor os pés nos pedais.

E como se fosse água correndo em um rio, o ritmo que havia treinado por horas, fluiu do corpo de Jimin para o instrumento a sua frente e se não soubesse que realmente as guitarras começavam tardiamente naquela música, Taehyung poderia dizer que os dois guitarristas haviam se perdido no compasso das batidas executadas pelo primo por estarem embasbacados demais com performance dele.

Quando a Baqueta direita encontrou a pele da caixa ao mesmo tempo em que a esquerda atingir seu chimbal** com força e suas duas pernas passaram a intercalar as pisadas rápidas e fortes nos Czarcie, todo o nervosismo, toda a tensão, todo e qualquer pensamento ou sentimento que poderia passar por Jimin, simplesmente se dissipou. Não havia o medo de errar, o medo de não ser aceito, o medo de falhar em seu objetivo. Não havia pressão do seu pai sobre seu futuro, não havia as mágoas de Namjoon projetadas em si, não havia o mau humor de YoonGi e nem qualquer outra coisa que não fosse ele e seus tambores, pedais e baquetas. Logo o som das guitarras se misturaram ao som que ele mesmo produzia, seguido do baixo de Monster e quando achava que já era maravilhoso tocar aquela música por si só, percebeu que ser acompanhado pelas cordas deixava tudo melhor ainda e assim, sua empolgação só cresceu ainda mais, fazendo-o ignorar o vocalista reclamando pelo teste ter começado justamente com a única música da playlist que ele não cantava.

Aqueles seis minutos que eram a duração da versão de Painkiller que executavam, passou tão rápido para o Park que quando atingiu seus dois pratos de ataque*** simultaneamente, indicando o fim da música, Jimin nem sentia o suor que lhe escorria abundantemente pelo corpo todo. Sua respiração estava irregular por conta do esforço e demorou algum tempo até que pudesse cair em si sobre ter conseguido executar todo o ritmo com perfeição, sem falha alguma ou qualquer indício de que precisaria reexecutá-la, e assim, finalmente teve coragem de levantar o olhar sobre os seus tons e observar a expressão embasbacada dos quatro rapazes a sua frente, podendo ouvir um “caralho!” com um quê impressionado vindo de SeokJin que se mantinha escorado na parede do seu lado esquerdo.

- Wow! Isso foi... – Hoseok pausou procurando uma palavra que pudesse se encaixar em tal situação e ao notar que o rapaz não encontraria, o mecânico completou.

- Perfeito! Você foi perfeito! – o Min se aproximou do baterista que agora, além de suado e ofegante, tinha as bochechas vermelhas de timidez. YoonGi encarou-o firmemente e logo questionou. – Bom, é visível que você não escuta metal nem nada parecido... Onde... Como aprendeu a tocar assim? – A timidez no Park ficava crescente a cada palavra que ouvia e tentando não gaguejar, respondeu.

- Bom... Você tem razão... – Falava receoso, temendo a reação deles ao saberem que ele ainda não era adepto do gênero musical e engolindo em seco, concluiu. – Eu realmente nunca havia escutado as músicas que vocês pediram, mas tenho mais de dez anos de conservatório e assim que achei as músicas, me dediquei a praticá-las e conhecer melhor... – Ao olhar a sua volta e notar todos lhe encarando com expressões que ele não sabia identificar e resolveu justificar o porquê de ter se sentido apto a candidatar-se para a vaga mesmo não sendo familiarizado com o estilo antes que fosse chutado dali de uma vez sem ter a chance de se explicar. – Olha, no anuncio vocês pediam alguém que dominasse pedal duplo e blast beat****, e eu domino. Lá não falava nada sobre ser obrigatoriamente metaleiro ou coisa no sentido, mas admito ter gostado bastante das músicas e estou disposto a aprender mais sobre elas... – Jimin abaixou a cabeça, já achando que seria rejeitado por “não ser do mundo deles” quando as gargalhadas altas dos cinco rapazes inundaram o espaço, fazendo-o se sentir confuso.

- É... dá pra notar que tu não é da cena* mesmo! – Falava Hoseok em meio ao riso alto, curvando-se e apoiando a mão sobre a barriga e a cara confusa de Jimin e Taehyung fez SeokJin se compadecer deles.

- Vocês são uns babacas por tratarem o garoto assim! Ele só não conhece, seus arrombados! Ao invés de rir dele, ensinem-no! – Dizia o mais velho, e logo o Min se recompôs da crise de riso, concordando com ele.

- Ok, ok! Vamos começar do começo: Jimin, nós não fazemos panelas, ok? – Falou segurando a risada, e a cara confusa do baterista só se acentuou. – “Metaleiros” fazem panelas e coisas de metal. Se tiver a necessidade de intitular alguma coisa por aqui, use “Headbanger” ou “Metalhead”*****, como os europeus preferem, mas não fala “Metaleiros”, cara! Isso soa repulsivamente mainstream... – Falava torcendo o nariz como se tivesse algum tipo de nojo do termo usado pelo novato e logo, todos os demais concordaram com o loiro em forma de acenos positivos de cabeça.

- Eu realmente não tenho muito o que falar... – NamJoon tomou a palavra com o olhar perdido, mas logo se focou no moreno ansioso pelo veredito do baixista, e percebendo a aflição do rapaz baixinho, resolveu tentar expressar o que pensava de fato. – Eu cresci ouvindo músicas assim, já tive tantas bandas que mal posso contar e já toquei com uma caralhada de bateristas que, assim como eu, nasceram ouvindo Judas Priest e isso me dá a segurança de afirmar com toda a certeza do mundo que você tá “cru” ainda, mas que a perfeição é questão de tempo e se você gostar mesmo das músicas, sentir o que elas querem te passar e se dedicar a elas, tu vai ter tudo pra ser um dos melhores bateristas da cena. Vai depender do teu esforço. – Concluiu o rapaz de cabelos rosados e para Jimin, foi automático sorrir amplamente, orgulhoso de si mesmo, acenando afirmativamente para o Kim, enquanto já olhava para Taehyung que tinha o mesmo sorriso orgulhoso no rosto.

- Ok, vocês já me excluíram da vida por tempo demais! Bora tirar um Nova Era pra eu poder brincar também? – Perguntou animadamente o vocalista, esfregando as mãos e se reposicionando em frente ao pedestal enquanto YoonGi mais uma vez ralhava por não gostar daquela banda.

- Vocês sabem que minha paciência pra essas músicas de garotinha deprimida é de mínima à nula, né? Por que pediram pro garoto praticar isso? – Perguntou e logo SeokJin se aproximou dele levando a mão ao braço da sua guitarra para tirá-la do seu corpo.

- Nova Era é tipo prova de fogo... Ninguém no mundo consegue tirar o solo dela igual o Aquiles**² faz, então se ele conseguir tocar na íntegra, a vaga é dele. – Explicou o mais velho já ajustando o cinto da guitarra para a sua altura e empurrando o Min para o lado. – Deixa que eu faço a base dela. Pega mais cerveja pra gente e cigarro porque o meu ficou no carro. Até tu voltar a gente já terminou. – Ordenou e imediatamente fora obedecido.

- Nova Era, então? – Perguntou Hoseok e viu os outros três colegas assentindo com a cabeça. – Faz tempo que não faço o solo dela, vamos ver se eu consigo... – Disse respirando fundo enquanto pisava nos pedais do seu Behringer X Vamp***² a fim de ajustar a distorção da guitarra para aquela musica, e logo Namjoon o tranquilizou.

- Quem precisa tirar o solo perfeitamente é o Jimin. Se tu ver que não vai conseguir, só para e ele continua. – O baixista se voltou para o Park que acenou afirmativamente com a cabeça antes de outra vez respirar fundo e deixar seu corpo se mover.

Jimin sentiu falta de escutar o som da orquestra que abria a canção, mas não se deixou intimidar. Sabendo que o primeiro instrumento depois da orquestra era o seu, olhou para Hoseok que o encarava com certa ansiedade e ainda dentro do olhar, acertou seu prato de ataque com a baqueta da mão direita, logo travando o movimento do disco metálico com a mão esquerda, seguindo para uma batida na caixa simultânea à batida no seu china****², e depois a sequência de duas batidas no tom médio e no surdo, logo dando início àquela dança, que era como havia definido seus movimentos para aquela canção que exigia muito do seu corpo para uma execução perfeita.

O moreno pode sentir um arrepio lhe percorrendo o corpo todo quando terminou de fazer a introdução que era acompanhada apenas pelos instrumentos que lhes faltavam da música original, e quando seus pés passaram a intercalar as pisadas novamente, fazendo o som do pedal duplo se espalhar, pode ouvir com regozijo os sons oriundos dos dedos do Jung. Maestria era a palavra que lhe vinha a cabeça quando olhava a agilidade do rapaz que estava exatamente a sua frente, apoiando o pé esquerdo no seu bumbo, já com os olhos fechados e um remexer tímido da cabeça. Era visível o quanto o guitarrista solo apreciava executar cada acorde na BC Rich Warbeast que empunhava, sua expressão remetia imediatamente a ideia de prazer, e se questionado, era exatamente assim que Hoseok descreveria o que sentia ao fazer o dedilhado daquela música: Prazer quase que orgasmático, e quando Jimin já estava impressionado o suficiente com as habilidades do moreno, a voz do “pirralho” lhe tomou os ouvidos.

Somehow I know

That things are gonna change

New boundaries on the way

Like never were before

Find a meaning to your life

Healing whispers of the angels

Bring the sunrise again

New day shines, fallen angels will arise

Nova Era brings the ashes back to life

All over now, all the pain and awful lies

Angels will arise

Back to life!

Não existiam palavras no vocabulário do Park para descrever a voz de Jeon Jungkook. Angelical talvez fosse a que mais se aproximasse, mas ainda assim parecia pouco para expressar a perfeição do seu timbre dentro daquela canção. Sua voz era relativamente mais grave que a do vocalista original, mas isso em hipótese alguma tirava a qualidade daquela execução. Jimin havia visto na internet que Edu Falaschi*³ –compositor e responsável pelo vocal daquela música –, era premiadíssimo mundialmente, reconhecido pela garganta potente e até havia sido cotado para substituir o vocalista de uma das bandas mais tradicionais do Heavy Metal na década de 90 e concordava piamente com cada um dos elogios que lera nos artigos especializados de música sobre aquele homem, mas nos segundos que fechava os olhos ali naquele barracão de uma mecânica de caminhões, sua impressão era a de que Jungkook conseguia ter a voz ainda mais harmônica e forte que a do dono da canção. Esplêndido, ele diria. O Vocal de Jeon Jungkook lhe soou esplêndido.

Seus olhos se mantiveram fechados por quase todos os aproximadamente dois minutos e meio que antecediam a parte que mais temia daquela música. Quando a hora do tal solo chegou, seus olhos se abriram novamente e imediatamente suas orbes se focaram no olhar de Hoseok. Naquela fração de segundos, Jimin sentiu como se uma conexão estivesse se estabelecendo ali. Ele não precisava olhar onde suas baquetas estavam batendo e tampouco o Jung olhava para quais cordas seus dedos estavam acertando. Era como se um, no olhar do outro, pudesse saber exatamente o que estavam fazendo e o que precisariam fazer para que aquele um minuto e meio de solo praticamente exclusivo deles dois, pudesse ser transcorrido em perfeição e foi só quando a voz de Jungkook voltou a ecoar pelo microfone que o Park percebeu que praticamente não havia respirado durante todo aquele tempo.

Find a meaning to your life

No way to limit our goals

Healing whispers of the angels

Bring the sunrise again!

Aquilo era estranho. Jimin já havia tocado em várias outras situações com vários outros músicos, mas nunca havia se sentido tão confiante sobre ditar um ritmo e ter uma melodia como resposta em tão perfeita harmonia. A maestria de Hoseok era algo que nem se passou pela sua cabeça contestar desde o primeiro segundo que havia visto-o tocando, mas a forma como ele pareceu confiar em si e se deixar confiar também enquanto executavam aquela parte tão difícil daquela canção, fez o Park achar que aquele era de fato o lugar onde ele queria estar no mundo. Era como se tivesse cumprido uma missão de vida poder ditar algo a alguém tão magnânimo e habilidoso como Jung Hoseok.

Quando finalmente concluíram a execução daquela música, tanto o Park como Hoseok e Seokjin estavam encharcados de suor. Além de todo o esforço que faziam, ainda havia o calor e o ar abafado dentro do ambiente fechado e como se lesse os pensamentos de todos, YoonGi voltou do andar de cima e foi diretamente ao freezer, pegando as garrafas de cerveja e jogando uma a uma na direção dos rapazes.

- Olha, não queria dar o braço a torcer não, mas sinceramente Jimin, tu tem jeito pra coisa... – Falava o loiro sorridentemente e logo sendo zombado por Jungkook e NamJoon. – Ah! Qual é? Não é porque eu não gosto do estilo da banda que eu vou menosprezar a técnica dos caras. Você tocou perfeitinho. Gostei mesmo! – Reconheceu o Min enquanto pegava um cigarro e acendia, logo passando o maço para Seokjin que pegou um e passou para Namjoon, e depois para Hoseok e por fim, Jungkook pegou um cigarro também, logo oferecendo para o baterista e seu primo que negaram de imediato dizendo um “não fumo, obrigado”com justificativa.

- Vocês combinam bem tocando juntos! Foi bonito ver tu e o Hoseok no solo, deu gosto de assistir. – Falou Namjoon tirando o cinto do baixo e colocando o cigarro aceso sobre o amplificador, ao lado da garrafa de cereja. – YoonGi, tu precisa colocar ar condicionado nessa pocilga. O calor aqui tá infernal. – Disse encarando o loiro e já levando as mãos até a barra da camiseta surrada, puxando-a para cima e jogando no chão ao lado da caixa de som de Jungkook.

- O Nam tem razão. Eu to derretendo. – Completou o Jung, imitando seu ato e antes de qualquer outra palavra, Jungkook retirou a regata que havia vestido a pedido do irmão mais velho.

- Tu já parou pra pensar no tamanho do ar condicionado que eu teria que colocar num galpão desse pra fazer o mínimo efeito? Pode tocar de cueca se quiser, eu não vou gastar dinheiro com isso. – Falou o anfitrião dando de ombros e já pegando a guitarra das mãos de SeokJin quando notou o baixista levando as mãos ao cinto, fazendo um pequeno desespero lhe atingir. – NÃO, NÃO CARA! TU TA LOUCO?! NÃO VAI ARRANCAR AS CALÇAS AQUI NÃO! – Gritou caminhando em direção ao mais alto com o intuito de impedi-lo de se despir ainda mais e Namjoon gargalhava enquanto o provocava dizendo que ele havia permitido e toda aquela cena fez os dois novatos ali se curvarem em risadas também.

- Será que as crianças podem parar de brigar aí e retomar o ensaio? Não to afim de ficar aqui o dia todo olhando pra cara de vocês sabendo que tem um freezer cheio de cerveja pra esvaziar. – Falou o vocalista chamando a atenção de todos e a única coisa que Jimin conseguia pensar ao olhar para a cara de feição infantil daquele garoto era “mas esse cara lá tem idade pra beber?”, Porém ao vê-lo fumando com a postura mais confiante possível - talvez até soberba -, pensava que provavelmente aquilo não seria um empecilho para um garoto como ele.

- Tu ta certo, pequeno-grande-molecote. Vamos ao verdadeiro Hino do Thrash Metal**³ então? – Disse o Min sorridente pisando nos  seus pedais iguais aos de Hoseok para ajustar a distorção da sua guitarra enquanto Jungkook ralhava por não gostar daquela banda. – Você larga mão de ser Herege, moleque! Aprende a ouvir música de verdade e não essas coisas estranhas que insistem em chamar de metal. – Repreendia o loiro.

- Vou fazer a versão do Derrick***³ então. – respondeu o mais novo e já se escondeu atrás de SeokJin.

- Eu vou bater em você! Não se esconde não Jungkook, eu vou arrebentar a sua cara se você continuar com esse desrespeito, garoto! – Disse o anfitrião avançando sobre ele enquanto todos davam risada, menos Jimin que realmente não entendia absolutamente nada sobre a irritação do rapaz.

- Vocês dois aquietem o cu! Jungkook, para de putaria, a gente pediu a versão original pro Jimin tirar. Não vem foder as coisas agora. – Falava Namjoon tentando acalmar os ânimos dos dois briguentos e já se voltando para o mais velho, pegando-o pelo cinto da guitarra e empurrando-o na direção em que ele estava antes. – E você engole essa síndrome de Old School que isso é desprezível! A gente faz música aqui! Tu pode parar de ser preconceituoso com as coisas novas que quando a gente for compor, não vai dar pra fazer tudo como era na década de 80. Evolua, Min YoonGi! Evolua! – Ralhava o Kim sendo o único ali com um ar sério por de fato também ser o único que percebia a proporção do problema que o guitarrista causaria caso mantivesse a “cabeça fechada” que lhe era característica própria, quase uma marca registrada.

Territory, apesar de envolver mais os tons e os surdos que as outras músicas, assim como exigia melhor utilização dos pratos, ainda era algo mais tranquilo para Jimin executar. Ela não era tão rápida, seu foco era mais no peso dos sons graves que na agilidade dos pedais, mas ainda assim, exigia concentração. Era uma canção que o baterista sabia perfeitamente ser icônica, a marca de uma geração inteira, quase um hino para o que ele estava recém conhecendo como Thrash Metal. Ainda era confuso para o Park aquilo tudo porque até alguns dias atrás, ele sabia que existia metal, ou “rock paulera” - Como a mídia gostava de chamar -, e quando começou a se interessar por aquele meio, tinha a impressão que sua cabeça explodiria com a quantia de informação que lhe era jorrada na cara como água de um cano estourado.

Já Taehyung havia tido mais tempo para ler sobre tudo aquilo nos dias que se passaram desde a quinta-feira de manhã que ficara com Jimin pesquisando sobre as músicas. Naquele sábado ele já entendia a irritação de YoonGi ao ouvir o nome “Derrick” ser citado, mesmo não concordando com absolutamente nada na aparente postura dele. Taehyung sabia que Max Cavalera****³ – Vocalista e guitarrista da primeira formação do Sepultura - não havia deixado a banda por culpa do seu substituto e sim, muito antes dele entrar. Ele havia lido algo sobre a demissão da empresária do grupo que era esposa do vocalista e isso fez Max se sentir traído deixando o grupo ali. Pra o Kim, Derrick deveria ser enaltecido por ter salvado a banda, mesmo que o som dela tivesse se modificado com a sua chegada, e não ser rebaixado por uma confusão que ele não tinha nada a ver e para o rapaz que só assistia o ensaio, era tudo culpa do Max e do seu egoísmo, visão essa que parecia não ter tido espaço na cabeça de YoonGi .

Como fora ordenado pelo guitarra base, a música fora executada em sua versão original, um pouco mais lenta que a versão que o Sepultura executava com Derrick Green, mas ainda assim com um peso e uma potência que justificava completamente a adoração que os fãs tinham para com ela. Jungkook, mesmo a contragosto, fez os vocais da forma como Max Cavalera executava e mesmo fazendo aquilo contra a vontade, ainda assim era majestoso, ainda assim deixava nítido o quanto sua voz era perfeita, independente do tipo de música que tocavam ou da técnica que precisaria para que as versões covers deles se aproximasse ao máximo das originais.

Ao fim daquela última música, a tensão cobriu o ar de tal forma que Jimin achava que poderia sufocar. O baterista conseguia notar os quatro membros se encarando com o olhar inexpressivo e ele sabia que da boca de um deles sairia o veredito para seu teste e pelo pouco que havia convivido com eles, o Park sentia que realmente queria estar ali, queria tocar mais daquelas músicas e conhecer mais daquele meio, mesmo achando que teria um AVC com a quantia de informação por minuto que teria que absorver para conseguir entender e sentir o que as músicas que precisaria tocar, passavam. O ar pesado perdurou por um tempo até que finalmente Namjoon suspirou, tomou um longo gole da sua cerveja e terminou seu cigarro, logo jogando a bituca em uma garrafa vazia, encarando o baixinho de cabelos escuros sentado em um galão de lubrificante à diesel e notou-o apreensivo, com os ombros tensos e o olhar pedinte por uma resposta sua.

- Bom... Apesar de ser o líder, eu não sou dono de nada aqui, então eu vou dar a minha opinião. – Disse olhando diretamente para o garoto de forma firme, até dura, diria, mas não poderia ser imparcial e tomar tal decisão sozinho, então precisava ser franco desde ali, e acabou optando por o ser até o fim. – Apesar de ter tudo pra não ir com a sua cara, eu sei que é idiotice minha achar que todo baterista vindo do conservatório é igual. Como eu já disse você ainda ta bem “cru” dentro do tipo de som que a gente tira, mas também acho que se você se esforçar, não vai ser problema algum tirar qualquer música que a gente te pedir. Você realmente toca bem, você tem técnica, talvez eu lhe sugeriria trabalhar mais sua postura no sentido de como se comportar em um palco ou só como apreciar o que está tocando, e o prazer de fazer isso por si só já vai te deixar menos retraído na hora de se apresentar. Por mim, você tem meu voto de confiança. Se os garotos concordarem, você fica na banda e já nem marco teste com mais ninguém. Agora depende dos rapazes e de você. – Concluiu o Kim alternando o olhar entre o Park e os demais garotos ouvindo Jungkook concordando com o Baixista e logo YoonGi fazendo o mesmo.

- Não tem como eu não concordar. Faziam meses que eu não tocava e me sentia tão seguro assim em ser guiado por alguém. Faço das minhas, as palavras do Nam. Se você ditar seu ritmo, seja ele qual for, minhas cordas estarão aqui pra te acompanhar. – Concluiu Hoseok sorrindo amplamente enquanto caminhava até Jimin, lhe estendendo a mão sobre os tons e logo sendo apertada com firmeza e entusiasmo pelo mais novo.

- Sendo assim, Seja bem vindo oficialmente a banda, Park Jimin. Será um prazer ter você e o seu roadie sempre conosco. – Concluiu o baixista apontando para Taehyung também que riu da piada do rosado, sentindo-se acolhido ali, tanto quanto o primo se sentia.

- Ok, tudo decidido, tudo lindo e maravilhoso, né? A gente tem um baterista, um roadie pra fazer companhia pro Seokjin na função dele e não temos mais problemas. Agora, será que podemos parar com esse mimimi todo e ir beber? Eu trabalhei até há pouco, quero só relaxar. Podemos? – Perguntou YoonGi já tirando o instrumento do corpo, largando-o sobre o amplificador e caminhando em direção ao freezer.

- Claro! Façamos então a primeira festa dos garotos como membros da família! – Concordou Namjoon empunhando a cerveja pela metade para o alto e logo andando em direção ao freezer também.

Jimin, ao escutar as palavras dos rapazes, não conseguia sentir outra coisa além de felicidade. Era gostoso a forma como se sentia acolhido, se sentia realmente em família, mesmo sem entendê-la perfeitamente. Ao se levantar do seu banco improvisado para pegar outra garrafa para si, notou seu primo abraçado aos ombros de Jungkook. Eles gargalhavam alto de algo que parecia alheio a todos, pareciam se conhecer há anos, mas era o primeiro dia que haviam se visto. Ao pensar sobre aquilo tudo, seu coração se via grato por ter tido coragem de jogar as vontades do seu pai para o alto, ter ligado para aquele numero do anuncio, ter ido contra o pensamento pequeno de Taehyung até então e principalmente, ter ido até lá, mesmo sem saber o que o aguardava. Estava feliz. Jimin estava feliz por poder, acima de ser músico, ter a chance de ser um músico com uma família com o mesmo sonho que si mesmo.