História Quadrado Amoroso - pov Bibi - Amor Não Recíproco

Acordei com o despertador, tanto o do meu criado-mudo, como o do meu celular.
"É assim que tem que ser, se eu não quiser depender da minha mãe pra acordar"
Ainda sonolenta, pego meu celular pra olhar as mensagens.
Tinham várias, mas as únicas, ou melhor, a única que me interessava era a do Lysandre.
Eu o havia chamado pra sair... "Como amigos". Eu não sei, mas depois de tanto tempo só sendo uma grande amiga do Lysandre, sinto que me apaixonei por ele, e que esse sentimento só aumenta a cada dia, e a cada dia tenho mais certeza disso.
"Desculpe, Bibi, mas... eu tenho um compromisso hoje"
Não pude deixar de sentir uma onda de decepção e tristeza correr pelo meu corpo. A primeira vez que tinha tomado uma iniciativa, havia fracassado miseravelmente. E com o único menino que eu me senti atraída por completo...
Eu pensei que só veria friendzone nas séries, filmes e animes, mas olhe só, acontece comigo.
Além de uma mensagem da Gih, a minha melhor amiga *insira um coraçãozinho aqui*, tinha uma do Armin.
E era já de hoje! Quer dizer que ele, Armin, o que passa a noite em claro, acordou mais cedo que eu?
"Eu tava pensando... Você não quer vir aqui pra casa pra jogar um pouco, à tarde?"
E depois, mandou emojis relacionados. Tão Armin. Armin era o meu melhor amigo. Eu nunca tinha sido tão próxima de um menino, não sei se por nossos gostos e personalidade.
Porém fiquei com preguiça tanto de responder a ele, como de ir à tarde na casa dele...
Logo quando voltei à página inicial do WhatsApp, minha decepção veio à tona de novo ao ver a conversa com o Lys...
—*suspiro* Eu definitivamente estou apaixonada por ele...
—o que? — a minha mãe entra no quarto, do nada.
—mãe! Dá pra bater na porta antes de entrar?
—eu queria ver se você ainda estava dormindo... O que houve? Acordou com o pé esquerdo?
—não. Foi outra coisa.
~
Quando cheguei na escola, Armin já tinha mandado outra mensagem reclamando de eu o ter ignorado. Fui mais uma vez à conversa do Lys, decepcionada por ele não ter dito nada do tipo "sinto muito mesmo", ou "bem que eu queria ir com você", porque, além de tudo, somos amigos, e ele podia ter feito isso...
Logo que entrei no corredor, dei de cara com a Gih, e a abracei.
—Gih, você sabe que eu te acho linda, né?
—por que tá me dizendo isso, de repente?
—porque eu queria te dizer que, apesar de tudo, você tá com uma olheira do caramba!
Nós rimos, mas logo depois, ela ficou preocupada.
—depois vamos pro banheiro, eu acho que um lápis resolve.
—ou não, né?
—cala a boca! Pelo menos, valeu a pena. Eu passei a madrugada toda jogando online com o Armin!
—ele também te convidou hoje?
—convidou pra onde?
—esquece.
—hum, tá. Ah, mas foi tão legal, o Armin é tão... tão Armin! Ou seja, tão perfeito.
—humm, sei, mas que coisa, hein? Parece que alguém está apaixonada.
—quem é você pra falar? Já percebi você babando pelo Lysandre!
—e quem não babaria? Ele é simplesmente lindo, eu acho que o nosso vínculo de amizade não estava me deixando perceber, mas eu estou...
Nesse momento, o Lysandre e o Armin chegaram, e nos compartimentaram.
O sino tocou e nós fomos em direção à sala. Armin se apressou logo a falar comigo.
—olha, depois daquele vácuo, eu tô até triste.
—acontece — eu disse, rindo.
—não acontece nada! Eu sou seu melhor amigo!
—a Gih é que é.
—você me magoou duas vezes hoje.
—vou me sentir mal o resto do dia com essa informação.
—eu senti sarcasmo.
Eu ri, apesar de ele estar sério e segui em frente. Ele continuou lá parado.
—cadê o Armin? Armiiiin! — a Gih se apressou em te-lo por perto.
Ele se moveu e logo nos alcançou.
Nós entramos na sala e sentamos nos lugares de sempre. Durante a aula, um de nossos professores nos separou, porque estávamos conversando muito, os 4. Na sala, nós éramos conhecidos como o "quarteto diferentão".
Quarteto porque éramos inseparáveis, melhores amigos. E diferentão porque ninguém mais na sala era geek como eu, a Gih e o Armin, e ninguém mais gostava de moda vitoriana ou literatura como o Lys.
Então, claro, eu nem pude acreditar quando o professou revoltou-se e mudou nossos lugares, nos separando em, literalmente, Norte, Sul, Leste, Oeste. E era triste imaginar que passaríamos o resto do ano assim, provavelmente.
Eu sentei no meio do grupo de meninos, tendo que escutar as baboseiras dele a aula inteira. Lysandre e Armin sentaram no meio de um grupo de meninas. E isso foi péssimo, porque aquelas meninas pareceram perceber a beleza deles somente naquela hora, porque sempre que eu olhava pra um deles, estavam (ou melhor, as meninas estavam) conversando de um jeito super descontraído. Fiquei cheia de ciúmes quanto ao Lysandre, mas, felizmente, assim como o Armin, ele não dava a mínima para as garotas, sempre dispensando suas cantadas do jeito fofo dele, uma das coisas que eu adoro nele.
De repente, o menino que sentava atrás de mim me cutucou.
As pessoas não o chamavam pelo nome e sim, de "fantasma".
O menino parecia nunca ter visto a luz do sol, tinha olheiras arroxeadas e fundas, de certa forma, me lembrava o L de Death Note. Ele era o único menino da sala, junto com o Lys e o Armin, que não era idiota.
—aquela sua amiga te mandou isso — ele me deu um bilhete todo amassado
—Gih?
—isso.
Fiquei tensa por estar sentando na frente, o que me evita conversar, desenhar, abaixar a cabeça, e, até mesmo, dar aquela olhadela no celular.
Mesmo assim, abri o bilhete.
"Eu tenho uma coisa pra te falar depois da aula"
Escrevi em baixo:
"Precisava passar bilhetinho pra isso? O professor vai ver. De qualquer forma, vai lá pra casa hoje à tarde? Se quiser, pode almoçar."
Não demorou muito pra ela me entregar a resposta.
O garoto fantasma, que fazia papel de carteiro, riu com a nossa interação nada discreta.
"Tá bom, então. Apesar de ser o fundão, tá mó chato aqui! Tô cercada de meninas que só sabem falar de marcas de roupa, macho e séries clichês! Alguém me mata!"
Amassei o bilhete e joguei fora.
Tentei prestar atenção, mas uma nova cutucada do garoto me levou pra longe da matéria.
—esse povo não consegue ficar nem um minuto sem falar com você!
Abri o bilhete e logo reconheci a letra do Armin.
"Com quem você tava passando tanto bilhetinho? Com o Lysandre? Eu percebi que você está olhando ele com outros olhos. Olhe, olhe, viu? De qualquer forma, você não falou nada sobre jogar comigo hoje à tarde."
A minha resposta:
"Isso não é da sua conta. Eu acho que não vou poder ir hoje... Eu já tenho um compromisso. E por que não chamou a Gih? Não tem graça nenhuma sem ela!"
Ele me mandou uma resposta, mas, vendo que o professor já me olhava feio, eu amassei sem nem olhar.
O Lysandre também estava escrevendo e tive a impressão de estar nesse troca-troca de bilhetinhos também. Olhei pra Gih com um olhar interrogatório e minutos depois surgiu na minha mesa, através do garoto, fiel a ser nosso carteiro pessoal.
"Olha o que o Lys me disse:"
A caligrafia mudou para a uma que eu nunca, nessa vida, confundiria, a que faz lindos poemas de sua própria autoria:
"Gih, eu estava pensando se você não gostaria de ir ao meu ensaio com o Castiel, na casa dele. Nós compomos uma música e eu gostaria que você ouvisse"
O meu coração acelerou e eu tive uma leve vontade de chorar, além de muita inveja da minha melhor amiga. Esperei, esperei, mas nada de um bilhete da linda caligrafia, com o mesmo convite, chegar na minha mesa. Quando me preparei pra escrever uma resposta pra Gih, pedido pra que ela não fosse e, talvez, revelando meu amor platônico, o professor tomou o bilhete da minha mão e botou no bolso.
—eu a troco de lugar, mas parece que não adianta. Na próxima, você sai.
Me encolhi na cadeira, morrendo de vergonha caso ele lesse o bilhete.
A aula passou bem mais devagar depois disso, e logo já estávamos saindo.
Nós quatro ficamos no pátio conversando. E quando os pais do Armin chegaram, ele deu tchau pra todos e me disse pra repensar no convite dele. A Gih logo se apressou a me lançar um olhar confuso, mas eu ignorei.
Logo depois que o Armin foi embora, eu percebi que eu estava deslocada no lugar.
Enquanto o Lys e a Gih conversavam, eu quase não falava nada, e os dois não me faziam falar.
O Lysandre parecia tão distante. Será que ele havia descobrindo um amor pela minha melhor amiga?
Eu não sei o que eu faria se descobrisse isso.
Não ficaria com raiva de ninguém, é claro.
Mas será?
Eu não me imaginaria gostando de outra pessoa, senão o Lysandre... O menino mais lindo que eu já vira.
Se ele gostasse de outra pessoa — da Gih — seria um obstáculo difícil de superar, e com certeza minha paixão não diminuiria.
O Leigh chegou pra buscar o Lys e não demorou muito pro meu pai vir buscar eu e a Gih, pra irmos pra minha casa. Tínhamos muita coisa pra conversar.