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História Qualquer maneira de amor vale a pena - Home


Escrita por: LanaMM

Notas do Autor


Oi, todo mundo! Tô de volta com mais um capítulo dessa história, que eu tô adorando descobrir com vocês. Muito obrigada por todos os comentários e favoritos, eu não esperava que a fic fosse ser tão bem aceita. Vocês são os melhores ❤
Boa leitura.

Capítulo 5 - Home


‘Cause they say home is where 

(Porque eles dizem que lar é onde)

Your heart is set in stone

(Seu coração se grava em pedra)

Is where you go when you're alone

(É onde você vai quando está sozinho)

Is where you go to rest your bones

(É onde você vai para descansar os seus ossos)

 

– Família, cheguei! – Anuncio ao passar pela porta de casa.

Minha mãe e meu irmão estão sentados à mesa da cozinha tomando café da manhã, quando me veem entrar, e ficam surpresos.

– Filha!? Você não ia chegar só mais tarde? – Minha mãe pergunta confusa, levantando-se.

– Eu quis fazer uma surpresa. – Explico, quando ela caminha em minha direção vindo me abraçar.

Abraço-a de volta apertado. Nunca pensei que sentiria tanta falta do colo da minha mãe, até que passei uma semana longe dela. O tempo parecia uma eternidade, e toda vez que eu tinha um problema, pensava nela, mas lembrava que ela não poderia me ajudar, porque ela não estava por perto e a saudade aumentava. As mães nunca devia ficar longe dos filhos, porque a verdade, é que não importa a nossa idade, nós sempre vamos precisar do amor e da proteção que só elas podem nos oferecer. Mães deviam ser eternas.

Nem sei como começou, mas a próxima coisa que percebo é que estou chorando.

– Tá tudo bem, filha? – Identifico o tom de preocupação na voz dela. – Aconteceu alguma coisa na escola? Por que você está chorando?

– Eu só senti muito a sua falta. – Digo com dificuldade quando uma grossa e salgada lágrima desce pela minha bochecha.

Ela sorri e também começa a chorar. Então estamos agarradas uma à outra, sorrindo e chorando ao mesmo tempo.

– As mulheres são loucas. – Julinho deixa escapar, chamando minha atenção pra ele. Meu irmão parece confuso, e perdido, enquanto nos observa. Minha mãe e eu rimos, mas não nos soltamos. Não matamos a saudade ainda. Mas Julinho que me aguarde. Assim que eu soltar a dona Josefina, ele será a minha próxima vítima.

����

– Então, você divide o quarto com a filha do diretor? E ela é gata? – Pergunta Julinho.

– Que pergunta é essa, Júlio César? Você não acha que ela é muito velha pra você, não?

– Você tá por fora, Benedita. Eu vi num filme, que as mulheres mais velhas são as melhores.

– Mãe, você não tá verificando a classificação indicativa, nos filmes que esse pirralho assiste, não?

Estamos os três na cozinha. Eu sentada à mesa, cortando verduras pra uma salada, Julinho, preparando um suco – que provavelmente vai ficar aguado, mas nós todos vamos tomar dizendo ser o melhor das nossas vidas – e minha mãe, o almoço. 

Julinho faz cara feia, ao ouvir a minha pergunta e alega já ter quase 10 anos. Ele diz já poder escolher o que assistir sozinho, arrancando uma risada minha, e da nossa mãe, o que o deixa ainda mais irritado.

– Vai, Benê, conta mais. Você já falou das aulas, dos professores, dos dormitórios... Mas você passou uma semana longe de casa, não é possível que seja só isso. E quanto ás pessoas? Você fez amigos? – Minha mãe pergunta sorridente, tirando uma colher de dentro da panela, e deixando uma gota do molho cair sobre as costas de sua mão para experimentá-lo.

Penso nas meninas.

– É, acho que eu poderia dizer que sim. Quatro meninas. Elas são bem legais, divertidas. Uma delas é a Lica, a garota que divide o quarto comigo.

– Então, você virou amiga da filha do diretor? Você não é boba não, hein, Benê. – Meu irmão provoca, não sabendo nem a metade da história. 

– Isso não tem nada a ver, pirralho.

A tela do me celular acende, quando o aparelho vibra em cima da mesa. É uma mensagem de Keyla confirmando a saída hoje à noite.

Suspiro.

Eu tinha esquecido completamente disso. Mas vendo a mensagem, me lembro vagamente de ter aceitado sair com elas pro show do pai de Keyla, o problema é que agora que estou com a minha família, perdi totalmente a vontade. Acho que prefiro ficar em casa, vendo um filme e comendo pipoca com eles, ou lendo um livro. Já faz uma semana. Meus filhos devem sentir a minha falta. E eu sinto deles também. Não tem nada melhor do que o cheiro das páginas novas, ou das histórias que eles podem me contar.

– A Benê recebeu uma mensagem? Mãe, fecha tudo porque vai cair um temporal! – Grita Julinho e eu dou a língua pra ele. – Uau. Que maduro. E depois, eu que sou a criança.

– Julinho! Deixa a sua irmã em paz. Tá tudo bem filha?

– Tá, tá, sim. É que... Eu tinha combinado de sair com as meninas, mas acho que eu vou cancelar e ficar com vocês.

– De jeito nenhum. – Minha mãe grita, me dando um susto. – Benedita, você nunca sai de casa, porque não tem ninguém pra ir com você, ou pra onde ir, e agora que você tem os dois, quer cancelar? Nem pensar. Você vai. Nem que eu precise te levar.

Poxa! Valeu mesmo, hein, mãe! 

– Você é a primeira mãe na história que quer tirar a filha de casa. – Informo.

– E você, a primeira filha que precisa ser convencida. – Rebate.

– Eu tava pensando em fazer uma noite de filmes hoje. Eu já passei a semana inteira longe, mãe.

– A gente pode fazer a noite de filme amanhã. Eles não vão sair do lugar. 

Sorrio, me dando por vencida. Ninguém diz “não” pra dona Josefina.

Mando uma mensagem pra Keyla confirmando a minha presença, e ela pede o meu endereço, dizendo que vem me buscar pra gente se arrumar na casa dela. Envio.

Minha mãe põe o conteúdo da última panela numa travessa que coloca em cima da mesa.

– A comida tá pronta. Quem tá com fome? – Ela grita animada me fazendo rir. 

O cheiro do estrogonofe entra no meu nariz e o meu estômago ronca. Eu estou morrendo de fome. E morrendo de saudade da comida dela. 

Deixo o celular de lado e pego um prato. Nós três sentamos ao redor da mesa e comemos, falando sobre tudo e nada. Sobre a minha semana e a deles. Sobre bobeiras ou coisas importantes. Ou não falando nada. Simplesmente aproveitando a companhia um do outro.

����

Checo o relógio no meu pulso de novo. 17:12 e até agora nada de Keyla aparecer. Nós combinamos às 16:30, e depois de tanto tempo de atraso, começo a me perguntar, se ela não desistiu de vir, e ficou com vergonha de me avisar. Se bem que eu acho que nem na cabeça dela, faria sentido deixar alguém esperando, ao invés de se desculpar e dizer que não vai poder vir.

Estou no sofá com uma mochila cheia de roupas ao meu lado. Finjo mexer no meu celular a cada cinco minutos, pra disfarçar a minha preocupação de ter sido dispensada pela pessoa mais próxima de uma amiga que eu fiz em toda a minha vida.

A campainha toca, e eu levanto pra atender, e antes que eu possa dizer qualquer coisa, a garota já está se desculpando.

– Foi mal, foi mal! Eu sei que eu tô super atrasada, mas é que eu me perdi. Três vezes! E tô a um tempo pedindo informação, quer dizer, eu não, o Robson, meu motorista. Você acredita que ele disse que sabia onde ficava, mas depois, se perdeu no bairro e, começou a andar em círculos. Eu fiquei até meio tonta. – Ela para de falar, e começa a rir. – Desculpa. As vezes,  o meu filtro some. E eu não consigo parar de falar. Como você está? – Ela pergunta me abraçando. Eu levo meio que um susto, porque não estava esperando e faço o melhor que consigo tentando abraçá-la de volta.

– Tudo bem, obrigada por perguntar. E como você...

– Eu tô ótima! – Afirma me interrompendo – Você me dá um copo de água? Tô morrendo de sede!

Olho pra ela. Keyla parece mais agitada que o normal, mas eu não sei se devo ou não perguntar se algo aconteceu, afinal não somo assim tão próximas. Vou até a cozinha e lhe trago um copo com água.

Keyla usa sapatilhas beje, com detalhes em preto, uma calça jeans justa, uma jaqueta preta de couro que esconde a maior parte de uma blusa amarela e um faixa no cabelo, da mesma cor da blusa. 

A garota bebe toda a água de uma vez, quando entrego o copo, deixando cair um pouco pela lateral da boca. Ela limpa o rosto rapidamente com as costas da mão, e olha pra mim sorrindo.

– Você tem certeza que tá tudo bem? – Pergunto. Obviamente, tem alguma coisa muito errada com ela.

– Claro. Você tá pronta? Eu sei que parece cedo, mas nós somos cinco garotas que precisam ficar gostosas até a meia-noite. É mais complicado do que parece.

– Benê? Eu ouvi a campainha. A sua amiga chegou? – Minha mãe pergunta entrando na sala.

– Chegou sim, mãe. – Quando ela se aproxima, tento apresentar as duas. – Essa é a Keyla. Key, essa é a minha mãe, Jo...

Keyla a abraça antes que eu possa terminar de falar. Tipo, um abraço de urso. O que está acontecendo com essa menina, hoje?

Minha mãe olha pra mim com os olhos arregalados, e eu sorrio, tentando explicar sem palavras que Keyla é assim. O que eu não explico é que hoje ela está dez vezes pior.

– Dona Josefina! – Keyla deduz animada, ainda agarrando a minha mãe. – A Benê fala tanto na senhora que eu já sinto como se te conhecesse.

– É mesmo? – Minha mãe pergunta quando as duas se afastam. – Espero que ela fale coisas boas.

– Claro que sim! Ela até me contou que a senhora é fã do meu pai.

– Seu pai?

Ah, droga! Esqueci de mencionar esse detalhe.

– Roney Romano. – Keyla explica.

Os olhos da dona Josefina quase saltam fora do rosto, ao ouvir o nome. Ela olha de Keyla pra mim, e então, pra Keyla de novo.

– Roney Romano? O cantor, Roney Romano? “Amor selvagem, amor bacana é assim...”? – Minha mãe pergunta cantando a última parte.

Keyla bate palmas, aprovando e balançando a cabeça, e então a minha mãe abraça a garota de novo e as duas começam a pular e cantar feito loucas.

Jesus!

Se isso não fosse tão estranho, eu poderia até sentir ciúmes.

– Que gritaria é essa aqui? – Sussurra Julinho no meu ouvido, olhando a cena e parecendo tão confuso quanto eu me sinto.

– É melhor você nem perguntar.

����

– É sério! Eu nunca conheci uma mãe tão legal quanto a sua. – Afirma Keyla pela milésima vez, enquanto passa o rímel.

Depois que as duas finalmente se separaram lá em casa, elas engataram uma conversa animada sobre Roney Romano – eu nunca vi uma filha gostar tanto de falar do pai, quanto Keyla – e nós só conseguimos sair, depois de Keyla prometer que ia conseguir um convite pra minha mãe ir no próximo show. Claro que a Dona Josefina fez um charminho, dizendo que não podia aceitar, mas não demorou muito pra ela topar. Pode-se dizer que as duas agora são BFF's.

– É sério, digo eu, Keyla Maria. Eu não sou a Benê, mas até eu já tô ficando com ciúme pelo tanto que você tá falando da mãe dela. – Tina pontua, conferindo a imagem no espelho.

Elas estão terminando de se arrumar, mas eu já estou pronta. Não sou uma garota do mundo da maquiagem. Um banho, uma roupa e um sapato, e voilà!, estou pronta.

Me encontro sentada na cama enorme de Keyla com Ellen que foi a segunda a terminar, enquanto as outras três acertam os últimos detalhes.

– Sorte a minha então, que a Benê é muito mais madura que você. – Keyla garante a Tina que revira os olhos, e vem sentar comigo e com Ellen. Terceira.

– Eu ainda não acredito que deixei vocês me convencerem a ir num show de brega. – Lica comenta arrumando a franja. Ela assim como eu, prendeu a metade de cima do cabelo e deixou a franja solta. A diferença é que eu prendi o meu o mais próximo possível do couro cabeludo, e de maneira que nenhum fio ficasse fora do lugar, enquanto Lica, deixou os cabelos, presos em um coquinho despojado, com alguns fios soltos.

– Hey! Não é um show de brega! – Keyla corrige dando um tapinha no braço da irmã de Guto. – É romântico. Sabe? Aquela coisa que falta na sua vida?

– Quem precisa de romance quando se tem sexo?

Tina ri ao meu lado, enquanto Ellen balança a cabeça de um lado pro outro, não vendo graça na brincadeira. 

– Será que dá pra vocês se apressarem? – Ela pergunta. – Caso vocês não tenham percebido, a gente só tá esperando as madames.

– Ellen, para de ser chata, que a gente não tem culpa se os seus crushes te abandonaram. – Lica alfineta séria, e eu não tenho certeza se ela está brincando ou não.

– Eu não tenho crush nenhum!

– Não tem porque não quer. Todo mundo sabe que o Fio tá a fim de você, e o Jota também, o que aliás, foi o motivo do Guto ter se afastado. – O Guto queria ficar com a Ellen? – Foi mal, Benê, eu sei que vocês tiveram um lance.

– Sem problemas. – Digo. E é verdade. A gente não teve nada mesmo. Eu nem sequer tenho porquê ficar incomodada. O que eu não estou, óbvio.

– Okay, okay. Sem brigas, vocês duas. Eu não quero sair com um clima ruim. – Pede Keyla se virando. Ela está linda.

Seus cabelos estão soltos, e a maquiagem é quase neutra, a não ser pelo batom vermelho poderoso na boca. Ela usa um vestido azul com um decote generoso que é justo até a cintura e depois se solta ao redor de suas pernas, e pra finalizar, um sapato de salto preto que me derrubaria se eu tentasse usar sentada.

Lica também está linda. Além do cabelo diferente, ela está com seu costumeiro visual total black, só que mais produzido. Ela usa uma blusa com transparência, que mostra um sutiã escuro, e uma saia de couro, que esconde parte de uma meia calça também preta, e um par de botas que vai até a altura do tornozelo, sem salto.

Ellen veste uma camisa de botões branca e um short jeans curto, preso por um cinto marrom. Os cachos estão abaixo de uma faixa colorida, que imita um laço ao ser amarrada de lado em sua cabeça. Ela também usa um bota, mas vai até a metade da canela e é marrom.

Tina prendeu os cabelos em um rabo de cavalo, deixando alguns fios na frente soltos. Veste uma camiseta branca, com um desenho de uma guerreira japonesa, vestida numa armadura e segurando uma espada na mão enquanto faz uma pose ameaçadora. Embaixo, usa uma saia solta fechada por botões no centro, vermelha, meias que vão até acima do joelho da mesma cor da saia e um tênis preto nos pés.

Eu escolhi um vestido amarelo, que vai até metade da coxa e coloquei um cinto em volta da cintura, nos pés, o meu par favorito de sapatilhas, preto e com detalhes em branco, super confortável.

Estamos todas prontas. Finalmente.

Só tem um problema.

– Gente, não tá muito cedo, não? – Pergunto. – O show não começa só depois das 23:00? Ainda são 21: 02.

– Sério? – Pergunta Keyla fazendo biquinho.

– Eu avisei que tava cedo! – Reclama Ellen.

– Não seja por isso. Eu tenho a solução. Foca aqui! – Pede Lica. – E se a gente passar no Point, comer alguma coisa, e depois ir pra esse show-romântico-não-brega-maravilhoso?

Todas topamos porque a verdade é que estamos trancadas aqui a horas e vai ser divertido sair um pouco e mudar os ares. Tina sugere fazermos uma selfie antes de sairmos, pra guardamos pra posteridade e nós nos juntamos pra foto. É engraçado pensar em como a minha vida mudou em menos de uma semana. 

Há sete dias nesse mesmo horário, eu estava em casa vendo um filme com a minha mãe e meu irmão e agora aqui estou eu, cercada por essas meninas que não podiam ser mais diferentes entre si e de mim, e ainda assim, parecem completar umas às outras e por algum motivo abriram um espaço no grupo pra mim. A minha parte triste e autodepreciativa não consegue parar de se perguntar se não existe uma pegadinha, mas eu a ignoro e me permito experimentar pela primeira vez na vida a sensação de ter amigos. E essa se torna a minha definição de melhor coisa do mundo.

����

Acabou que “Point” é na verdade uma lanchonete que as meninas gostam. E pela forma como elas cumprimentam todos, funcionários ou clientes, devem vir aqui sempre que podem. Reconheço algumas pessoas da escola assim que entro, como por exemplo, MB que acena quando nos vê.

– Lica se você vai se produzir assim toda vez que a gente brigar, nós vamos precisar fazer isso mais vezes.

– A gente já briga o tempo todo, MB. – Ela diz ao se aproximar do loiro. – E vai sonhando que eu me arrumei por sua causa. Eu tô indo pra um show quando sair daqui. A gente só passou pra comer alguma coisa.

– Essa é minha garota. Sabe como fazer um cara se sentir especial. Mas que show é esse? Tô dentro!

– Do pai da Keyla. – Respondo sem pensar, antes de Lica poder dizer qualquer coisa.

Os dois olham pra mim ao mesmo tempo. Lica arregala os olhos por um segundo, depois deixa que eles voltem ao tamanho normal. Opa! Acho que ela não queria que ele soubesse. MB, me olha surpreso, como se só agora tivesse percebido que eu e as meninas estamos aqui. Então começa a rir.

– Não tô acreditando que vocês estão indo num show de brega! – Ele fala, entre risos.

– Não é brega! É romântico! – Keyla quase grita ao corrigir. Ela parece irritada.

– Gente, vamos comer? Eu tô morrendo de fome, e a gente tem que ir daqui a pouco. – Ellen intervém e nós concordamos.

– MB, o Anderson tá por aqui?– Tina pergunta, olhando ao redor.

– Tá lá embaixo. – O loiro responde quando se recupera do ataque de risos. – Por que vocês não vêm comer lá? A galera tá toda aqui.

Olho ao redor. Não parece uma má ideia ir lá pra baixo, seja lá onde isso for, já que aqui em cima, todas as mesas parecem ocupadas.

– Pra você ficar zoando a gente? – Lica pergunta, cruzando os braços no peito.

– Não, Lica, prometo me comportar, tá bom? – Ele garante, enquanto faz um xix com os dedos indicadores e depois beija um de cada vez, pra selar a promessa.

Lica tenta manter a pose de brava, mas obviamente já foi convencida. Aparentemente, MB pode conseguir qualquer coisa dela. Eu meio que shippo os dois.

Nós vamos até o balcão fazer nossos pedidos, e percebo Keyla olhando para os lados.

– Tá tudo bem? Você tá procurando alguém? – Pergunto pra ela.

– O Ta... Deco. O Deco. Eu tô procurando o Deco. – Ela responde, mas parece muito mais preocupada em convencer a si mesma só que a mim. – Você viu ele por aí?

Balanço a cabeça de um lado pro outro, e pego um cardápio. 

Suspiro.

Não sou nenhuma maníaca por saúde, mas gosto de me alimentar direito, só que aqui, vai ser impossível. De salgados a refrigerantes, a comida mais saudável na lanchonete são os hambúrgueres por causa do alface e tomate que vêm como acompanhamento.

Mas... é coisa de uma vez só, então...

Peço um hambúrguer e um milk shake de chocolate, e observo enquanto minhas amigas se entopem de bacon, salgados e batata frita.

Quando o atendente entrega a cada uma de nós sua bandeja, nós seguimos Lica e MB que vai roubando batatas da bandeja dela enquanto lhe diz coisas ao ouvido. Tento não prestar muita atenção, porque tenho a impressão de que estou invadindo um espaço deles, e contínuo caminhando, me concentrando pra não tropeçar e fazer a maior sujeira.

Nós seguimos por entre as mesas, até darmos de cara com uma porta fechada que MB não perde tempo para abrir, e segurar para passarmos. Primeiro Tina, depois Ellen, Keyla, eu e então o casal, que dessa vez, faz seu caminho atrás de nós. A porta esconde uma escada em caracol que é estupidamente difícil de descer com essas bandejas, e então estamos em uma espécie de sala. 

Let's hurt tonight, de One Republic, sai por auto falantes no alto das paredes. Uma mesa de sinuca se encontra em um lado e alguns jovens estão em volta dela. Há algumas mesas para as pessoas sentarem e comerem,  com aqueles sofás que a gente sempre vê em seriados americanos, junto às paredes. Exatamente na direção oposta dessas mesas, o chão se eleva um pouco, formando um palco improvisado.

Ouço um grito de comemoração que se sobrepõe à música e olho na direção. Na ultima parede, de frente para a mesa de sinuca, pessoas estão reunidas em volta do que parece ser outra mesa, mas eu não posso dizer de que jogo se trata. Seja o que for, parece estar animado. As pessoas gritam “Vai! Acaba com ele!”, o tempo todo, e de vez em quando se escuta um grupo comemorando e outro reclamando.

Sigo as meninas até uma das mesas dos sofás mas não me sento, apenas pego meu milk shake e informo que quero ver o que está acontecendo no canto mais animado da sala.

É difícil passar pelas pessoas que estão aglomeradas, em volta da mesa, mas às vezes, ter o meu tamanho serve pra alguma coisa. Vou pedindo licença, até conseguir um lugar pra acompanhar o tal jogo. Paro na lateral da mesa, e vejo os bonequinhos e a bolinha sendo empurrada de um lado pro outro. Pebolim! 

Eu adorava jogar, mas ganhar de Julinho acabou perdendo a graça. E ele ficava muito irritado quando eu dizia que o jogo era apenas uma questão de física. A verdade é que você consegue fazer qualquer coisa, se souber o cálculo certo pra usar.

Meus olhos seguem o caminho da bolinha até o gol, e as torcidas explodem em excitação e raiva. Escuto o garoto ao meu lado reclamar, e levanto os olhos da mesa para o menino à minha frente, ao mesmo tempo em que ele termina o abraço de comemoração, com... Samantha? É esse o nome dela, certo?

Guto tem um sorriso gigante no rosto, e parece um pouco confuso ao me ver, mas não irritado, nem nada do tipo. Levanto meu milk shake pra ele como uma forma de cumprimento, e sorrio sem graça.

A galera tá toda aqui”, MB disse, e eu tinha que ter desconfiado que Guto estaria entre essa galera, mas isso nem me passou pela cabeça. Droga! Eu não queria vê-lo. 

Eu sei que parece infantil, mas a verdade é que eu estava o evitando desde terça, quando descobri o lance do Felipe, e não é porque eu estava o julgando nem nada, é só porque eu não queria ter essa conversa, e continuo não querendo. Vai ser uma conversa estranha, e eu não quero me meter nesse rolo, mais do que já estou metida. O desespero era tão grande, que se eu o via em algum corredor, dava às costas, antes que ele me visse. Quando ele me via, e parecia querer vir na minha direção, eu inventava as piores desculpas e saia correndo. 

Mas o pior foi na quinta-feira. 

����

Era quase a hora do jantar, e eu estava no meu quarto estudando, quando resolvi descer pra procurar as meninas. Na hora em que toquei na maçaneta pra abrir a porta, ouvi a voz dele, conversando com Lica. Os dois iam entrar. Eu estava sem opções. Podia tentar me esconder no banheiro mas um deles poderia querer usar, então sem pensar, corri pra baixo da minha cama, e fiquei lá. 

Sorte que os dois não falaram nada de mais, porque eu definitivamente, não precisava de mais segredos dele pra guardar. Eles só brincaram um com o outro, Lica reclamou do MB, como sempre faz, mesmo não conseguindo ficar longe dele, e brigou com Guto, por ele estar, nas palavras dela: “correndo risco de pegar DST” com uma tal de Júlia. Pelo que ela disse, nem Samantha gostava dessa menina, e isso era algo grande. Em determinado momento, Guto perguntou por mim, mas Lica disse que não sabia onde eu estava. 

Quando o meu corpo já estava implorando por socorro, ele decidiu ir embora.

“Você ainda vai ficar aí por muito tempo?” Lica perguntou quando a porta fechou atrás dele.

“Há quanto tempo você sabe que eu tô aqui?” Respondi com outra pergunta, saindo de baixo da cama e sentindo as minhas bochechas corarem.

“Desde que eu abri a porta. Você tem sorte que o Guto ficou na sua cama.”

Eu não sei bem se sorte era a palavra, já que Lica passou a noite e a sexta inteira me zoando por isso, mas eu deixei pra lá, já que ela não me perguntou nenhuma só vez o porquê de eu ter feito aquilo.

����

Volto ao presente, quando a gritaria fica mais forte. Guto está sorrindo, e o garoto ao meu lado reclama, e diz querer uma revanche outra hora, então presumo que temos um vencedor. O menino que perdeu, se afasta ao som de vaias inclusive de sua própria torcida, e quando olho pra Guto de novo, seus olhos estão em mim. As pessoas em volta da mesa o cercam – principalmente as meninas – ansiosas para lhe dar parabéns e eu aproveito essa chance para dar meia volta. Vejo as meninas ainda na mesa, conversando e rindo umas com as outras. MB ainda está com elas, junto com Anderson, que está sentado ao lado de Tina, e fazendo carinho na mão dela. Olhando em volta, encontro a escada, e subo depressa. Passo pela porta e atravesso a lanchonete, saindo do local.

Quando o vento da noite bate em meu rosto, paro e penso, o quanto o que estou fazendo é ridículo. Eu literalmente me escondi embaixo da cama, como uma criança assustada pra fugir dessa conversa. Eu consigo fazer melhor que isso. Mas porque diabos, ele precisa ficar me metendo nesse rolo? Eu não tenho culpa deles terem se pegado na sala de música, ou do Felipe ser amigo dele. Foi um acidente eu ter visto a primeira coisa, e um acaso, eu ter descoberto a segunda. 

Será que ele está bravo? Bom, se não estava antes, as coisas devem ter mudado depois de eu ter passado a semana inteira fugindo dele. 

Droga!

Será que as meninas ficariam muito irritadas se eu fosse embora?

– Você tá me evitando? – Uma voz sussurra ao meu ouvido e cada pelinho do meu corpo se levanta.

Viro a cabeça e um par de olhos escuros me encara de volta, de perto. Muito mais perto do que eu já estive de qualquer cara em toda a minha vida. E eu não tenho certeza se é nervosismo por causa dele, ou por causa da proximidade em si, mas uma voz na minha mente não para de repetir:

Tarde demais. Você tá ferrada.


Notas Finais


Boooooomm, eu sei que não era bem isso que vocês estavam esperando, mas não me matem! Eu sei que foi um pouco de maldade ter tão pouquinho do Guto no capítulo e ainda terminar assim, mas eu prometo que a conversa dos dois no próximo vai compensar isso, é uma conversa bem bonitinha.
Alguma teoria do que aconteceu com a Keylouca? Eu não sei se a galera aqui gosta dela, (sei que tem um monte de gente do fandom que odeia a coitada) mas eu adoro, e ela vai ter um papel bem importante na mudança de status do relacionamento de Gunê mais pra frente, por causa desse rolo de agora, só não posso dizer se o papel importante dela vai ser bom ou ruim.
Josefina e Julinho de volta, eu realmente gosto de ver essa família unida e demonstrando todo o amor que sentem um pelo outro, acho tão lindo eles na novela, sem falar que o Julinho é uma figura, né? Hahah
Acho que é isso, pessoas, espero que vocês tenham curtido.
Um beijão, meus amores, e até a próxima!


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