1. Spirit Fanfics >
  2. Quando A Noite Chega (Descontinuado, nova versão sem data) >
  3. Pacto

História Quando A Noite Chega (Descontinuado, nova versão sem data) - Pacto


Escrita por: Moonlight_Kind

Notas do Autor


FAZ 84 ANOS
84
ANOS
MAS EU CONSEGUI
SOB A GRAÇA E PROTEÇÃO DE ALL MIGHT
EU CONSEGUI

Capítulo 11 - Pacto


Capitulo 10

Eu me sentia tão inútil, como se um desastre estivesse prestes a acontecer na minha frente e eu não conseguisse fazer nada para impedir. Na verdade, era exatamente isso que estava acontecendo ali, só que eu ainda não sabia.

Ninguém parecia realmente se importar sobre onde estávamos indo. Hayato estava do meu lado, quieto e sem fazer contato visual. Eu esperava, o observando, querendo uma reação dele mas nada acontecia. A garota demônio estava escondida no bosque, andando misturando-se entre as sombras como um bicho-papão pronto para atacar.

Silenciadores andavam para a direção oposta a nossa, conversando sobre lutas e treinamentos e coisas simples e rotineiras que Silenciadores faziam tipo decapitar vampiros e fazer churrasco com carne de monstros do mar, provavelmente. As crianças brincavam entre si, carregando armas. Era uma realidade completamente diferente da minha, eu me sentia desconfortável ao observar as crianças agindo com tanta naturalidade mesmo enquanto seguravam armas letais. Se eu estivesse entre elas quando criança provavelmente teria atirado uma flecha no pé de alguém, ou no meu próprio pé.

E mesmo que ver crianças carregando armas me deixasse tenso, o pior era a tensão no ar desde que tínhamos deixado o quarto. Hayato simplesmente não tinha falado nada, nem ao mesmo respondeu a garota demônio. Parecia que alguém tinha o socado e eu queria que ele reagisse. Aquele silencio estava me dando agonia. Eu juro que estava pronto para gritar no ouvido dele, ou pular em cima dele, quando ele finalmente deu uma sombra de reação.

Hayato observou um menino de cabelo preto que segurava um arco e flecha, a criança ria enquanto acelerava o passo para acompanhar os amigos. Os olhos de Hayato expressavam uma nostalgia boa, como se ele estivesse vendo uma memória antiga e feliz, de um verão que se foi há muito tempo.

–Foi a minha primeira arma –Hayato disse de repente –Arco e flecha. Eu não estranhei nada, era como se fosse tão natural quanto andar. Eu acertava todos os alvos, meu pai ficou orgulhoso naquele dia –Ele pausou um momento antes de continuar –Eu tinha 7 anos. O arco era feito com um tipo de metal inexistente na Terra dos Mortais, era preto, as flechas também –Chegamos na entrada do bosque, olhei para trás para me assegurar que ninguém estava nos seguindo, e continuei. Nenhum Silenciador parecia minimamente interessado com o que nós dois iriamos fazer aquela hora no bosque, eu não sabia se ficava feliz por isso ou insultado por ninguém se importar. A voz de Hayato me fez voltar pra realidade –Meu pai e minha mãe estavam sentados em tronos, ao lado do começo do jardim, me observando enquanto eu tinha minha primeira aula de combate com armas. O instrutor era um semideus filho de Ares, filho do Deus da Guerra. Ele queria me contar os nomes de cada peça, falar toda a parte teórica. Na primeira oportunidade, quando ele se distraiu, eu peguei o arco e flecha e disparei no alvo.

–E você acertou?

Perguntei, mesmo já imaginando a resposta.

–Bem no meio, na minha primeira tentativa –Ele sorriu enquanto me deu uma olhada rápida, parecia tímido –Minha mãe bateu palmas e sorriu, meu pai tentou esconder o sorriso. Eu senti, pela primeira vez, que poderia ser digno de ser filho de um Deus. Eu poderia ser bom em algo.

Fiquei quieto. Aquilo tinha acontecido quando Hayato tinha 7 anos, ele mesmo tinha falado. Ele era só uma criança e antes daquilo sentia que não era digno de ser um semideus. Ele acreditava não ser digno de ser o filho de seus pais, aquilo me destruiu. Ele era só uma criança, que deveria brincar e fazer se importar com sua curiosidade infantil e idiota, como comer sabão pra saber o gosto ou provar comida de gato pra ver se era bom.

–No Olimpo não há lugar para fracos. Eu não queria ser uma desgraça para a minha família. Queria ser o que um semideus destina ser, um herói. Queria salvar o mundo, honrar minha família, deixar meu pai orgulhoso –Seu tom de voz mudou –E então, tudo começou a dar errado. Sabe como chamam uma criança semideusa que tem asma, está abaixo do peso, é míope, que não sabe socializar e não tem poderes? “Natimorto”, nascido para manchar a história de uma família, destinado a ser um fracassado. Um herói morto –Ele fez uma pausa, correndo os dedos pelos troncos das árvores. Imitei o gesto, andando atrás dele –As pessoas me chamam disso desde quando eu tinha 4 anos, porque até então eu não tinha demonstrado possuir nenhum poder, tive que lidar com isso a minha vida inteira antes de decidir fugir. Por isso eu fui embora, estava cansado de ser uma mancha para a minha família. Eles estão bem melhores sem alguém como eu estragando tudo.

–Você está errado! –Falei parando, eu não queria falar nada, não queria tocar em um assunto delicado e deixar Hayato pior do que ele já estava, mas não conseguia me calar –Se você é uma pessoa boa, que está disposta a ajudar qualquer um, então eu tenho certeza que seus pais tem orgulho de você.

–Acho que eles preferem que eu ganhe uma guerra, Naru.

–Uma ação de bondade sem desejar nada em troca vale mais que mil guerras vencidas na base da violência!

–Eu fico muito feliz de existirem pessoas como você, Naru. E fico feliz de você pensar desse jeito, é uma coisa realmente muito nobre. Mas não é assim que o Olimpo funciona.

–Então é o Olimpo quem está errado!

Ele riu, o primeiro sorriso sincero depois de todo aquele drama. Soltei um suspiro profundo. “Pra que eu estou me metendo nisso?”, me perguntei. Não achei uma resposta pra isso.

Estávamos no começo do bosque, havia troncos caídos por todos os lados, as árvores estavam juntas demais e era difícil andar sem tropeçar em algo.

–Você diz isso com uma naturalidade assustadora, Nath –Hayato me deu o mais doce dos olhares antes de falar a frase mais cruel sobre si mesmo –Está tudo bem, de verdade, todos tem um destino e o meu é ser um fracasso. Eu já aceitei isso. Meu único desejo é te ajudar o máximo que eu poder antes de ir viver a vida mais normal possível.

Eu nunca pensei que ficaria magoado por causa de como uma pessoa pensa sobre si mesma. Mas lá estava eu, com o coração partido no meio de um bosque, sem saber o que falar pela primeira vez na vida.

Hayato parecia leve como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros, ele não precisou me contar isso, eu sabia. Dei um sorriso, mesmo que ele não estivesse olhando. Se eu tivesse ajudado, mesmo que apenas ouvindo ele, então eu já me sentia um pouco mais feliz. As vezes a única e melhor coisa que você pode fazer por alguém é carregar uma parte do fardo da pessoa por ela.

O vento fazia uma espécie de melodia própria enquanto andávamos cegamente, esperando um sinal da garota, que veio logo. O sinal foi algo simples, ela quase me dando uma ataque cardíaco ao falar bem perto de mim do nada:

–Vocês humanos são lentos demais.

E com isso, a garota começou a andar na nossa frente, guiando o caminho.

–Obrigado pelo teste cardíaco grátis, meu coração vai bem e saudável.

Falei, com a mão encima do coração.

Ela parecia mais... solida, digamos assim. Sua silhueta tinha se modificado, agora era possível distinguir as curvas que formavam seu corpo. Era até mesmo possível notar alguns detalhes como seu rosto, que era da mesma forma que um humano, e seu cabelo longo, que ia até um pouco abaixo da altura da cintura. Tinha alguma coisa cobrindo o rosto dela, da ponte do nariz até o queixo, algo como uma máscara.

Ela andava de forma lenta e suave, tão delicadamente que parecia que ela flutuava. A garota estava usando um conjunto de uma blusa e uma calça longa. Mesmo com todos esses detalhes, ela ainda era feita de sombras, e vê-la daquela forma só me deu a confirmação que eu precisava para ter certeza de que ela tinha se alimentado das emoções de Hayato.

Senti Hayato chegar mais perto.

–Acha que é mesmo uma boa ideia a gente ajudar ela?

Suspirei.

–Não, não é –Falei já completando rapidamente –Mas, ela me convenceu. Eu realmente acredito que ela só queira saber o que aconteceu com o irmão, não acho que ela esteja mentindo. O tipo de demônio que ela é ...não é um tipo fraco, mas ela está numa forma diferente então alguma coisa aconteceu. Até então eu acreditava que seria melhor que eu a ajudasse, e ela iria embora. Porém –Falei enquanto desviava de um galho baixo –Ela se alimentou das suas emoções, te deixou nervoso e triste de proposito e agora, como você com certeza notou, ela parece mais...

–Real.

Ele completou.

–Sim –Falei, soltando um suspiro –O que significa que seria melhor se a gente ajudasse ela e deixasse ela ir embora logo, quanto mais tempo ela passar aqui, mais fortes são as chances dela criar situações para deixar todos em pânico.

–E criando esse tipo de situação ela ficaria muito mais forte –Hayato disse, concordando com a cabeça –Engenhoso, bastante engenhoso.

–Exato.

Confirmei, alguns morcegos passaram muito a nossa frente, sinalizando a chegada da noite. Uma clareira apareceu, escondida atrás do emaranhado de árvores. Prendi meu folego. Havia marcas pelo chão, a grama estava queimada e o solo marcado para sempre. Era um círculo, velas vermelhas estavam distribuídas pelo local e havia enormes de poças de sangue seco.

As árvores se emaranhavam entre si, formando um círculo e deixando o local discreto e escondido para qualquer um que não soubesse que aquela área existia. O céu aberto acima de nós estava coberto de nuvens negras.

Não havia vento naquela área, não havia nenhum canto de pássaro ou o barulho de insetos. Não havia vida, era como se tudo estivesse parado. Cada segundo que se passava era pior para mim, o ar me faltava, eu sentia um fisgada dentro de mim. Algo naquele lugar queria me puxar para a escuridão, me puxar pra um lugar que eu nunca sairia. Era como se... era como se as sombras falassem. Sussurros tímidos, tentando te convencer que o seu desconforto é fruto da sua imaginação.

A grama estava irregular, havia velas vermelhas quase totalmente consumidas espalhadas...

–Está sentindo? –Perguntou a garota, me tirando do devaneio. Minha língua estava dolorida, minha boca não se mexeu, então eu apenas confirmei com a cabeça. Ela parecia tão intimidada quanto eu –Essa é a hora.

Eu não conseguia prestar atenção nela, aquele círculo estava chamando o meu nome, estava tentando me atrair para dentro.

A garota demônio pareceu estender as mangas da blusa, Hayato tocou meu ombro.

–Você está pálido. Ela está...?

Ele não terminou a frase. Peguei em sua mão com força, o olhando nos olhos, e minha boca se mexeu sem a minha permissão. Minha voz saindo áspera e com transbordando medo:

–Estamos pisando –Respirei com força –Em um cemitério.

Talvez tenha sido a urgência carregada na minha voz, ou a própria frase que saiu da minha boca, mas Hayato parecia mais alerta.

–Deveríamos sair daqui.

Ele comentou. Olhei para a garota, que corria as unhas pelo braço. Um sangue escuro escorria por toda a extensão do braço dela, ela veio na minha direção.

–Ela tem que ver isso.

Falei. Uma parte de mim estava inquieta, a outra, mortalmente calma. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas sabia que aquele lugar iria mudar tudo.

Toda a energia, todo aquele lugar gritavam. Uma atividade sobrenatural tinha acontecido, tão forte que eu sentia tonto. Era como sentir o pesadelo virar a realidade.

A garota olhou para mim, o cabelo flutuando como se ela estivesse debaixo da água, em um mundo submerso tão perigoso e escuro quanto estávamos.

–Você vai servir de isca. Vai canalizar a energia sobrenatural, essa energia vai tentar te matar, mas isso é parte do plano. Assim que chegar perto o suficiente eu vou dar o meu jeito.

–E ai o que acontece?

Perguntei tentando não encarar o braço ainda jorrando sangue dela.

–Eu vou usar o resto da minha energia para criar um tipo de holograma do que aconteceu.

–Mas...

–Sim, eu provavelmente vou voltar aquele estado de antes, feita de sombras –Mesmo que eu não conseguisse ver direito o seu rosto eu sabia que ela estava determinada –Eu não me importo, meu irmão e tudo para mim, se algo aconteceu com ele eu tenho que saber. E só então eu estarei em paz. Vou fazer um corte nos seus dedos, depois disso você segura o meu braço e se concentra, tenta enfiar os dedos na ferida, assim é mais fácil para mim.

A ideia de fazer aquilo não era exatamente bem vinda para mim. Eu lembrei de uma coisa a tempo.

–Você é um demônio de tratos, não é?

Perguntei mesmo sabendo a resposta. Ela pareceu sorrir.

–Sim, quer fazer um pacto comigo?

–Um acordo, na verdade.

–Nathaniel.

Hayato me chamou, dei um olhar para ele. “Eu sei o que estou fazendo”.

–E qual seria esse acordo?

Ela perguntou.

–Eu sou sua isca, não me importo, mas tem que me jurar que não vai machucar ninguém hoje. Ninguém que esteja aqui.

O sorriso dela, o a sombra dele, desapareceu.

–E se eu recusar?

–Dê adeus a sua chance de saber o que aconteceu com o seu irmão.

Ela deu uma risada, levando a unha até o próprio ombro.

–Prometo que não machucarei ninguém aqui hoje, mesmo as pessoas envolvidas na situação com o meu irmão.

Hayato parecia completamente apavorado e desconfiado. Mas aquela garota trabalhava com pactos, esse tipo de demônio não pode, e nem deve, contrariar suas promessas. Pelo menos nisso eu tinha confiança.

Dei minha mão a ela, que enfiou as unhas na ponta dos meus dedos. Fiz um grunhido sofrido com a dor, o sangue quente escorrendo pela minha palma da mão.

–Pronto?

Ela perguntou. Me virei para Hayato.

–Se proteja.

Ele deu uns passos para trás, com a expressão ferida de alguém que está com palavras entaladas na garganta. Coloquei os dedos dentro na ferida da garota, senti ânsia de vomito ao sentir o calor do sangue dela, mais quente do que qualquer humano sonharia em ter. Fechei meus olhos, não precisei me esforçar para sentir aquela energia esmagadora.

Estava esperando o momento certo, quando me deixei a mercê daquele lugar, quando aquela onda de atividade sobrenatural se jogou em mim, tentando me engolir. As sombras me envolveram, era sufocante, frio, mortal.

Pessoas tinham morrido, seus gritos ecoavam na minha mente, distantes mas se aproximando a cada segundo.

Ouvi a voz de Hayato, muito longe, mas sorri. Ele parecia muito preocupado, me perguntei o porque.

O cheiro de sangue era forte, um gosto metálico explodiu na minha boca. Os gritos se tornaram suplicas de misericórdia, as velas se acenderam, e quando eu abri os olhos... vi o que era que estávamos lidando.

Aquilo era bem pior do que eu poderia ter imaginado, e era tarde demais para desistir.


Notas Finais


Atualização não vai demorar 84 anos. Já tenho o roteiro pronto (sim, isto é um milagre)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...