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História Quando A Noite Chega (Descontinuado, nova versão sem data) - Irmã, hora de dizer adeus


Escrita por: Moonlight_Kind

Notas do Autor


Finalmente livre e bem

Capítulo 12 - Irmã, hora de dizer adeus


Capitulo 11

A sensação era a mesma de estar na queda de uma montanha-russa, a diferença é que parecia que aquele sentimento incomodo iria durar a eternidade.

Tudo de errado que poderia acontecer aconteceu das formas mais inexplicáveis possíveis.

Pouco a pouco a garota demônio voltava a forma de sombras dela, sua energia estava lentamente sendo sugada para que a visão continuasse. A voz dela parecia rasgar pela garganta, o som era parecido com um rosnado.

Hayato me trouxe para perto, seu olhar expressava todo o medo e desconfiança que ele sentia com a garota. Eu não protestei, eu estava com medo, me sentia um completo covarde.

Os detalhes começavam a aparecer, e cada vez mais o frio nos cercava. A pressão sufocante me cercava como um monstro gigante e faminto. A visão se completava, as pessoas agachadas posicionando velas vermelhas. O sangue manchando o chão ao nosso redor, o caos nascendo.

Um homem apareceu, usando terno e com sua habitual expressão neutra e sem emoção.

–Daniyyel Verrader.

Falei o reconhecendo. Minha voz estava rouca. Minha garganta, seca. Minhas mãos tremiam, de repente a culpa não era mais do frio. Meus olhos não conseguiam acompanhar a dimensão da carnificina que ainda se formava.

O terno dele era preto e impecável, seu colar com a figura brilhante de um corvo refletia a luz do luar. Sua expressão, antes tão fria tanto a clareira, mudou. Ele estava impaciente, batia o pé de nervoso.

Eu pulei de susto quando uma perna sangrenta apareceu do meu lado, mas logo mais apareceram. Mais corpos, espalhados por todo o campo. A grama estava encharcada de sangue. A cada segundo que se passava a energia do local piorava.

A clareira ficava mais escarlate a cada segundo. Vermelha como o sangue ao nosso redor, vermelha como as velas que ainda queimavam.

Um bolo se formou na minha garganta. Queria gritar, mas nenhum som saia. Queria correr, mas minhas pernas não se moviam.

Eu não sei bem explicar como era o sentimento. Era como a tensão de ouvir um som estranho de noite, onde você fica tenso e seus sentidos ficam aguçados, querendo descobrir a origem do possível perigo.

Havia um círculo no meio do campo, envolta, todo o espaço disponível da clareira estava coberto de cadáveres. Mulheres, homens e pedaços não identificáveis do que um dia foram seres humanos. Havia pertences no meio, como colares, anéis, e...brinquedos de crianças.

Eu emiti um som parecido com um grunhido de desgosto, não sabia onde pisar ou o que fazer diante daquela cena. Mesmo sendo uma visão, tudo era real demais. Eu sentia vontade de vomitar.

A garota demônio chegou mais perto, sua cabeça estava inclinada para o lado como se ela estivesse curiosa com algo fascinante. Seu passo não era mais gracioso como antes, o braço dela ainda sangrava, as gotas de sangue se misturavam com os corpos ao redor enquanto ela caminhava.

Uma figura saia do chão, do centro do círculo. Uma massa vermelha e irreconhecível. Dei um pulo quando uma mão saiu daquela coisa que se formava. Eu não sabia o que estava acontecendo ali, mas estava dando terrivelmente errado.

–O que é isso?

Perguntou Daniyyel, sua voz transmitia o nojo que ele sentia. Uma dos homens levantou a cabeça.

–Tem algo de errado com o demônio, ele parece estar se formando aqui.

–Faça algo sobre isso, então.

O homem suspirou.

–Senhor, quando um demônio é invocado, ele projeta um “reflexo” dele no mundo dos vivos –Explicou o homem desconhecido, estava escuro demais para que eu pudesse ver seu rosto, mas sua voz era jovem e calma –O que significa que se o demônio for derrotado no mundo dos vivos ele ainda tem seu verdadeiro corpo no inferno. Eles passam um tempo recuperando a energia que gastaram na invocação e depois podem voltar ao nosso mundo, mais uma vez através desse “reflexo”. No caso desse demônio... –O homem fez uma pausa, dando um olhar preocupado na direção da bola vermelha disforme que se construía no centro do círculo –No caso disso, o demônio trouxe seu corpo real para esse mundo, não sei exatamente o motivo. Mas se o ritual for interrompido isso terá consequências tanto para o demônio quanto para nós.

Daniyyel não pareceu estar impressionado ou preocupado. Sua mandíbula estava travada, como se ele estivesse com raiva.

–O que podemos fazer, então?

O homem ficou quieto por um instante, e então disse:

–Torcer para o melhor acontecer e não interromper o ritual. Se uma vela sequer cair, estaremos mortos.

Nem isso o assustou, me perguntei se Daniyyel não temia a morte, ou se ele simplesmente era um ótimo ator. Afinal, o talento de se esconder atrás de uma máscara na face do perigo é um dom para poucos.

A massa no centro do círculo se desenvolvia, a carne se prendia, os tendões e ligamentos apareciam e se estendiam. Logo, no meio do círculo estava visível a figura de um garoto. O peito despido quase aberto de feridas, as pernas machucadas, sua calça estava rasgada na altura do joelho, os nós de seus dedos estavam roxos, ao redor do braço dele haviam arranhões.

O rosto dele, tão suave quanto o de um elfo, escondia a natureza maligna. Seus lábios rachados se alargaram em um sorriso feroz, sorriso escondido pela focinheira decorada com dentes que foi obrigado a usar como punição.

Seu cabelo era tão branco quanto a neve. Sua pele branca parecia feita de porcelana, o que fazia os ferimentos se destacarem ainda mais. E seus olhos eram vermelhos como as velas que ardiam a poucos metros de onde eu estava.

–Irmão.

Disse a garota demônio, ao mesmo tempo que o Daniyyel levantava a cabeça e quase rosnava:

–Zedekiah.

Zedekiah levantou a cabeça, seus pulsos estavam marcados, como se ele tivesse sido algemado por muito, muito tempo. Seus traços eram quase angelicais, mas seu comportamento, sua presença, era a mesma de um animal feroz que foi trancado por muito tempo. Sua ferocidade mais a sede de sangue em seu olhar poderiam apavorar qualquer um.

 –Ah, você –Ele cantarolou –Eu lembro de você. Ainda tem pesadelos sobre o que você fez, Dan? Aposto que sim.

–Cale-se.

Daniyyel rosnou, seu lábio superior tremia. Ele mostrava os dentes de raiva, perdendo completamente a pose que antes apresentava.

–Então? –Perguntou o garoto, sentando de pernas cruzadas e estalando o pescoço –Que bruxa eu vou ter que matar agora? –Ele olhou em volta, soltando uma risada seca –Nossa, que bagunça vocês fizeram aqui, hum? Se bem que, matar mulheres e suas crianças é sua especialidade, não é, Dan? Todo mundo tem um talento.

Daniyyel engoliu em seco, agora sua raiva era tamanha que tanto o canto direito de sua boca quanto seu olho esquerdo tremiam. O rosto dele estava congelado em uma expressão de nojo, mesmo que eu estivesse morrendo de medo e horror, vê-lo tão deturbado foi estranhamente satisfatório.

–Preciso de sua proteção.

Zedekiah bateu palmas, enquanto dava mais uma risada seca.

–Isso sim é inesperado –Ele disse, se levantando e indo na direção de Daniyyel –Diga-me, meu amado Dan, por que você precisaria da minha proteção?

–Você sabe o que está acontecendo. Em tempos como esse, certamente Fiona virá me matar.

–Na verdade, eu estive um pouco ocupado recentemente, então... não, não sei o que está acontecendo. E a última vez que vi Fiona, ela estava amarrada em um tronco, queimando e gritando, na porta do Inferno –Zedekiah suspirou –Fiona pode ser uma ótima bruxa, mas ela sempre se mete com as piores companhias possíveis. Pobre mulher. Mas, me diga, o que está ameaçando o grande Dan? O que poderia ter acontecido pra te deixar nesse estado? Abriram as portas do Inferno e eu ainda não fui informado?

A expressão sombria de Daniyyel fez o rosto de Zedekiah se iluminar –Ah, não me diga que...

–O Céu se isolou –Cortou Daniyyel -Os Anjos não se comunicam mais, o Inferno está a beira de uma guerra civil, lobisomens e vampiros brigando novamente entre si, ataques fantasmas sendo cada vez mais frequentes e fatais, fadas desaparecendo...

–O mundo queima –Concluiu Zedekiah, com um sorriso –E você quer que eu proteja os silenciadores? Está me pedindo o impossível, você são como vários ratinhos correndo de um lado para o outro...

–Quem disse silenciadores?

Interrompeu Daniyyel mais uma vez. O irmão da garota demônio desfez o sorriso, sua expressão era de ao mesmo tempo desconfiança e choque.

–Não me diga que...?

–Por que acha que eu matei tantos sacrifícios para te invocar? É o demônio mais forte que eu tenho contato. E eu sei como você trabalha. Estou te contratando para me proteger, a comunidade silenciadora acredita que não precisa da ajuda de ninguém, então que assim seja.

–Você, meu caro Dan, é podre e egoísta. O pior tipo de humano –Zedekiah deu um riso de divertimento –Eu amaria ajudar, mas no estado que eu me encontro, não serei de muita ajuda. Se realmente quiser minha ajuda, terá que esperar uns dias até eu fazer pactos o suficiente para estar forte e bem de novo. Uns dias e, claro, me deixar sair daqui.

A veia no pescoço de Daniyyel pulsava, ele parecia pronto para explodir de estresse.

–Está me dizendo que eu ficarei vulnerável por dias até você matar mais gente, seu maldito? e nesse meio tempo?

–Tenho certeza de que seus cachorros te protegem até lá.

Zedekiah fez um gesto com a cabeça, indicando com a cabeça os homens que ajudavam com o ritual. Foi a gota d’água para Daniyyel, com o rosto vermelho de ódio ele berrou:

–Já chega dessa palhaçada!

Eu já fiz muitas decisões burras na vida, mas nenhuma se comparava a que Daniyyel fez. Ele chutou a vela mais próxima, interrompendo o ritual de qualquer forma. A frase do homem de antes me veio a cabeça “Se uma vela sequer cair, estaremos mortos”.

As linhas do círculo queimaram em um fogo alto e vermelho demais. Zedekiah fez um som parecido com o de um rosnado, eu queria correr. A garota demônio observava tudo com um ódio frio.

Um por um, todos os homens que ajudaram no ritual caiam de joelhos, seus gritos ecoaram pelo bosque. Eles queimavam, de dentro para fora. As chamas saiam pelas suas bocas e olhos, até que eles já caiam mortos em questão de segundos. Daniyyel segurou seu cordão e o puxou até a corrente arrebentar. O cordão do corvo cresceu em sua mão até virar uma espada de prata com lamina larga, o cabo era ornamentado com uma grande pedra de Ônix lapidada. Em um só movimento, Daniyyel decapitou Zedekiah.

Foi nesse ponto que as coisas foram de ruins para péssimas.

Um som de lamento rasgou pela garganta da garota demônio, e ela caiu no chão de joelho. A cabeça surpresa e decapitada de Zedekiah rolou pela grama. O corpo do garoto demônio caiu no chão com um baque seco. O sangue que havia respingado em Daniyyel parecia ácido, começava a queimar suas roupas e sua pele em todos os lugares que havia caído. Ele caiu para trás, parte do braço direito queimando, e fez um som de agonia.

Os homens que antes tinham ajudado no ritual, agora se juntaram como mais cadáveres entre os corpos daqueles chamados de “sacrifício”. Daniyyel passou correndo por mim, sua expressão carregada de agonia e segurando seu braço queimado.

A visão se dissolveu, a clareira voltou ao que era antes. Desta vez a atmosfera não estava tão pesada e sombria, era como se aquele lugar estivesse tenso, pronto para contar uma história. Ninguém falou nada, percebi que estava machucando o braço de Hayato durante a visão. Soltei o braço dele murmurando a mais baixa das desculpas. Ele não parecia se importar com o braço. Eu devia estar pálido e horrível, porque ele parecia prestes a perguntar se eu estava bem.

E quanto eu pensei que tudo tinha acabado, uma figura quase translucida apareceu. A garota demônio, quieta até então, fez algo similar a um soluço. Zedekiah sorria tranquilamente, agora sem a focinheira.

–Faz muitos anos que eu não te vejo chorar de verdade, irmã –Ele parou na frente da garota demônio e aconchegou seu rosto entre suas mãos, a fazendo olhar para cima –Zoe, minha irmã amada. Você terá que trilhar seu próprio caminho a partir de hoje. Irmã, é hora de dizer adeus.

Sua expressão beirava a insanidade, ele se agachou e encostou sua testa na da garota demônio, Zoe.

–Você sabe o que fazer.

Ele disse. Aos poucos ele foi desaparecendo, e quanto mais ele desaparecia, mais Zoe parecia ficar forte.

Ele estava passando o resto de sua energia para ela. Eu não fazia a menor ideia de como, mas era visível a mudança.

Zoe estava mais solida do que nunca, o ultimo resquício de Zedekiah desapareceu. O que antes era uma forma feita de sombras, uma silhueta sombria no meio do bosque, agora era uma garota tão real quanto eu era. Cabelos brancos e longos, a mesma pele de porcelana que seu irmão, marcas roxas de correntes no pescoço e nos pulsos e cortes por todo seu corpo. Sua blusa esfarrapada era tão longa que parecia um vestido, sua calça estava destruída nas pernas, cortada em diversos pontos onde tinham marcas de chicote.

E ela olhou para mim. Era tão linda quanto uma princesa de conto de fadas, feições dignas de um anjo escondidas pela focinheira decorada de dentes que tinha sido firmemente amarrada. E os olhos de Zoe, pareciam dois rubis preciosos, brilhando de ódio e desejo de vingança. 


Notas Finais


Tive que tirar uns dias para descansar, estava em péssimas condições, tanto mentalmente quanto fisicamente. Mas voltei!


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