“Ser uma vadia má
Pode não atrair tolos como você
Nós estávamos lá quando ele ficou chapado
Isso pode não ser algo que você faria
Mas você ainda não viu o meu homem”
Deveria saber que aquela prostituta estava mentindo para mim a respeito do lugar, mas claro que o Frost, aquele pau-mandando, tinha que se intrometer nas minhas procuras.
Bufando, pulei as grades do muro da grande área aberta, onde deveria ser o estacionamento, e logo a frente dele, atravessando a rua, era o grande lago que cruzava o Norte de Gotham entre as duas pontes vermelhas.
Estava de noite, logo, eu tive que passar numa loja de conveniência a três quarteirões daqui e furtar uma lanterna. Não tive tempo de escolher, então acabei pegando a mediana, que numa categoria mais simples significava: não ilumina o que tem que iluminar.
Agarrando-a do bolso da minha jaqueta, liguei-a, podendo ver dentre as sombras de automóveis estacionados, o chão de terra batido. O som dos cascalhos se partindo e o salto da bota se afundando na lama me deixava um tanto brava e amedrontada, mas mesmo assim, segui. Procurei por esconderijos objetivos e lugares onde os capangas do Duas-Caras e do Coringa poderiam se esconder. No entanto, nenhum sinal dos dois, e já eram 20hrs30min!
Esgueirei-me entre dois carros esportes ao ver sons de rodas gritando, mas ao perceber que não era nada, voltei a procurar, tendo, mais uma vez, que me esconder entre as sombras, desta vez, desligando a lanterna.
Meu estômago congelou, se partiu e afundou assim que vi a capa negra cair em meio ao estacionamento, porém não estava sozinho, tinha algo ali com ele e tinha um grito de dor horrível. Segurando o braço provavelmente quebrado, um homem caiu frente ao Batman. Seu lábio inferior estava cortado e sangrando, enquanto seus olhos procuravam, amedrontados, alguma coisa… Ou alguém.
- E-eles deveriam estar aqui! - gritou o homem, cuspindo no chão, tentando se arrastar até a grade mais próxima.
- Mas não estão! - rugiu Bruce entre os dentes - Quero nomes e lugares, agora!
- Eu não s-sei. Eu juro! - gritou - Eles disseram para eu espalhar para todo mundo que eles estariam aqui… Esse é o lugar! Eu sei disso! Eles… Eles até marcaram o perímetro entorno do estacionamento, mostrando até onde os seus homens poderiam chegar.
Suspirando, cheguei cada vez mais perto, tentando não ser vista.
Batman agarrou o braço quebrado do homem e o jogou para trás. O estalo do osso voltando ao lugar me fez arrepiar. O homem gritou alto.
A lanterna quase caiu assim que eu dei um passo em falso.
!Desastrada!
Marcação de perímetro… Localização… Espalhar um boato… Um truque! Claro! Por que não?
Quis ir até o Morcego, mas neguei com a cabeça para mim mesma, sabendo que ele teria esse raciocínio antes mesmo do que eu. Com mais cautela, fui em direção a grade que pulei e a escalei, tentando fazer o mínimo de barulho. Ao dar a volta, pulei, mas não sem antes torcer o tornozelo. Engolindo o grito de dor e a falta de ar que fez o meu coração disparar, segurei meu tornozelo direito, batendo com o calcanhar no chão para que a dor cessasse e rapidamente eu pudesse escapar dali.
A lanterna girou pela calçada e acendeu, soltando a luz sobre o Batman, que olhou em direção a mim.
- Harley?
Quase não consegui ouvir o som de sua voz, porque sobre ele surgiu as salvas de disparos como uma chuva prateada cruzando a rua atrás do estacionamento, acertando os metais dos automóveis do outro lado da grade. Me erguendo no mesmo instante, comecei a correr pela rua ao ver que o automóvel, com cerca de três metralhadoras e quatro homens, vinha em direção a estrada onde eu percorria. Eles riam e usavam as máscaras de palhaços e desenhos animados.
O homem que foi pego pelo Batman levou um tiro no pescoço e outro na cabeça, morrendo, caindo e sangrando no mesmo instante. O Morcego ergueu-se para o ar, planando com sua capa, até subir em um dos prédios.
Eu continuei correndo, sentindo meu peito arder e minha respiração cada vez mais dificultada. Meu pé me impedia de ser mais rápida e os tiros, por outro lado, chegavam cada vez mais perto. A rua parecia não ter fim, e as balas também não.
Batman pulou sobre o teto do carro, mas caiu para fora assim que os tiros começaram a perfurar o metal. Uma luz piscou no para-brisas, talvez um GPS que ele havia colocado.
Segurando a coxa afetada pela torção, conseguia ver a esquina a poucos metros de mim.
Os disparos não cessaram por um segundo. E logo notei o porquê, as salvas de balas não vinham só de um automóvel, mas sim de dois, o outro vinha pela rua paralela ao estacionamento, disparando com fuzis maiores e metralhadoras presas ao topo do teto do carro.
Ao chegar no fim da rua, minha intenção era virar a esquina, mas os carros me encurralavam e o Batman tentava planar sobre eles para evitar um atropelamento ou acidente. Então eu corri com mais afinco, sentindo o suor grudar minha camiseta ao corpo. Avancei mais e mais para o outro lado da rua, mesmo não sabendo nadar, mesmo não tendo ideia de como fazê-lo. Usar a piscina de Bruce, na Mansão, sendo rasa, eu sabia como usar, mas o que estava a minha frente era o lago, sem qualquer dimensão de chão abaixo dele.
Pulei fechando os olhos, com os braços cruzados frente ao meu rosto, sentindo o impacto da água submergindo o meu corpo, gelando a minha pele. Esqueci que não podia respirar, então a água entrou pela minha boca e nariz, queimando o meu cérebro e enchendo os meus pulmões. Tentei gritar, mas isso me deixava cada vez mais sem oxigênio, as bolhas estouram e sobem frente ao meu rosto, me jogando para o fundo da negritude que me esperava abaixo, sem qualquer saída ou entrada.
E quase pude imaginar, enquanto meu cérebro sangrava, o vislumbre da capa adentrando o mar, juntamente com uma luz brilhante e dourada.
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