História Quando A Piada Se Transforma Em Escuridão - Moça bonita não paga

“Lá na Costa Oeste
Eles têm um ditado
"Se você não está bebendo, então não está jogando"
Mas você tem a música
Você tem a música em você
Não tem?”

A boate tinha um cheiro estranho de vinho tinto, suor e tabaco de cigarro, nada tão incomum. Só havia três boates desse tipo em toda Gotham, e qualquer vilão que se preze sabe exatamente de quem pertencem. A do Norte é uma das maiores, pertencem a Fish Mooney, a do Sul pertence à Família Maroni, mas só os mais chegados, e quem não conhece a área, vai lá, o lugar é aberto ao público, mesmo que clandestinamente seja vendido arsenais de armas. Já o Oeste, para onde vim, pertence ao maior dos maiores, ao que janta na mesma mesa do que a Corte das Corujas, o que manda e desmanda, desde que não se sinta pressionado, o que sabe de tudo, mesmo que não saiba de nada, aqui é a casa mais aberta de todas, e a mais mortal também, ela é da Família Falcone, e o Don Falcone, um homem velho, de cabelos grisalhos, que fuma charuto na mesa central, aos fundos, é o dono de tudo.

E é ele quem eu quero para mim esta noite.

Erguendo o queixo e mantendo a postura, arrumei meus cabelos e sorri, andando de uma maneira sensual, ouvindo os murmúrios dos homens e mulheres por quem eu passava. Tudo tinha toque de ouro e brilho, o que combinava comigo. Eu coloquei cerca de três colares no meu pescoço, dois relógios no meu bíceps esquerdo, anéis dourados e um quadrado ao centro da minha mão, assim como diversas pulseiras. Eles iriam me amar por isso,a não ser que não gostassem de perfumes baratos. Pois é, trabalhei duro para roubar essas preciosidades, mas esqueci o principal, e com isso, tive que usar o desodorante/perfume daquele velho!

Me ofereceram champanhe numa bandeja, mas eu neguei, preferia me deslocar entre a multidão, procurando saber os rostos, identificá-los. Não conhecia ninguém que fosse útil para a minha procura. Então decidi fazer o que faço de melhor. Num pequeno palco de base de vidro, agarrei o pole dance envolto por correntes redondas e douradas como uma cortina. Todos dançavam abaixo de mim, a dançarina que viria ao palco decidiu não me afrontar e deu meia volta. Os olhos de Don Falcone estavam sobre mim e eu gostei disso. Girei meu corpo entorno do pole dance, sorrindo para os homens que começaram a assobiar para mim. Descendo maliciosamente, sentei sobre os meus calcanhares e subi, graciosa, enroscando minha perna no cano de aço, girando por ele, subindo e soltando meus braços, ouvindo salvas de palmas e gritos.

Que música estava tocando? Eu não sabia ao certo, tinha um toque sensual, um toque de deusa... Ah, sim, era um hino, Weast Coast da Lana del Rey, era viciante, porque eu fechava os olhos e podia sentir as vibrações por todo o meu corpo, de cima a baixo. Então eu rebolava e me mexia lentamente, passando as mãos pelas minhas coxas, mordendo o lábio. Eu não precisava de mais nada além de seguir o ritmo.

Em meio a multidão que me via, ouvi um assobio maior do que o de todos. Abri os olhos no mesmo instante e vi o paletó verde escuro com o cravo branco, a bengala tomando espaço em meio a multidão e os olhos tão verdes quanto os seus olhos. Ele sorria para mim como se eu fosse a coisa mais bonita que ele já tinha visto, e eu aceitei isso, eu me sentia maravilhada, eu queria aquele sorriso para mim, queria que ele dissesse o quanto me achava bonita, porque eu me produzi somente para ele… Então pisquei os olhos e vi a barba por fazer no lugar do Sr. C, o sorriso contagiante pendurado no canto da boca, os olhos negros me fitando enquanto seus cabelos, molhados, pingavam pelo seu terno cinza, e eu queria saber o que estava acontecendo, porque ali eu me sentia completa, inteira, como se nenhum buraco em mim faltasse, mas fosse rapidamente preenchido. Dei um passo à frente, em direção ao Bruce, e no mesmo momento, toda a ilusão se tornou fumaça, foi um dos seguranças ao lado do Don Falcone quem assobiou e era o próprio dono quem piscou para mim, me chamando com um mão enquanto fumava com a outra.

Pulei em meio a multidão, chegando na mesa ao fundo, seus seguranças deram espaço para que eu passasse e eu fui, sentando ao lado de Don Falcone no banco oval de camurça vermelho.

- Vai querer alguma coisa, Srta? - perguntou um garçom.

- Um Martine, por favor. - pedi, sorrindo para Don - Eu sempre quis pedir isso!

Ele assentiu para o homem.

- São 25. - avisou o empregado.

- O quê? - indaguei sem entender.

- Não ligue para ele. Moça bonita não paga. - Don Falcone estalou os dedos e no mesmo instante o garoto se foi, guardando o bloquinho de notas no avental negro.

- Então… - ele se virou para mim - Soube que você e o Coringa não estão mais juntos.

- Pois é, conflito de interesses.

Não notei que seu braço estava em torno do meu corpo, sobre o espaldar do assento, até sentir seus dedos passando levemente sobre as cicatrizes das minhas costas. Arrepiada, tentei disfarçar sorrindo.

- E… Parece que ele não aceitou muito bem.

- Eles nunca aceitam.

- Tem razão.

O garoto voltou e me entregou a bebida, a peguei e ele partiu.

- E o que faz aqui?

- Queria saber como encontrá-lo.

- O Coringa?

Afirmei.

- Quem em sã consciência iria querer encontrar o Coringa assim que terminou com ele!?

Bebi um pouco do Martine.

- Vamos combinar que não sou tão sã assim, não é docinho?

Deixei a taça sobre a mesa, deslizando minha mão para o seu joelho. Ele olhou para o percurso que eu fazia e me encarou.

- Não faça isso!

Aproximei-me de seu ouvido.

- Fazer o quê? - sussurrei, mordendo seu lóbulo vagarosamente.

- Eu não quero problemas com ele.

- Ah, mas quem iria querer? Chamam ele de Rei de Gotham!

Sua expressão tornou-se rígida.

- Mas ele não é!

Deslizei a mão mais para cima, em direção a parte interna da sua coxa, e ao ver sua guarda baixa, agarrei-o bem ao centro, rindo.

- Claro que não. - sorri - Para ser um Rei, precisa-se de uma Rainha… E eu estou bem aqui, com você… Então o que acha de irmos para um lugar mais reservado?