História Quando A Piada Se Transforma Em Escuridão - Não me deixe

“Acabe sua bebida, baby, fique acordada a noite toda

As coisas que você pode fazer, você não vai, mas deveria

O potencial que você terá e que nunca verá

As promessas que você apenas fará”

Eu não sei por quanto tempo eu esperei que tudo se aquietasse. Bruce me deitou na cama e me cobriu com os lençóis mais grossos que tinha, ao ver que minha pele estava fria, e eu gostei disso, mesmo que no fundo eu não estivesse tão confortável com tudo isso. Ao me virar para ele, olhei fundo nos seus olhos, tirando suas mãos dos lençóis que ele iria por sobre mim.

- Não precisa disso, eu estou bem. - resmuguei, cruzando os braços sobre o tecido.

- Você está na minha casa agora, tem que aceitar a minha ajuda! - disse ele, tentando ser o mais paciente possível.

Revirando os olhos, me afundei no colchão.

- Você deveria ajudar a Selina, como ela estava, parecia bem necessitada de ajuda pessoal. - tentei alfinetá-lo.

Ele se sentou no chão, ao lado da cama, sem intenção alguma de subir nela. Deitando seus braços nos joelhos dobrados, perto do peito, seu rosto virou-se para mim, parecendo um tanto cansado.

- Selina e eu… Não aconteceu nada.

- Eu não preciso disso. - virei-me para o lado - Talvez seja verdade… Não sei…

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Suas palavras pareciam mais mansas do que antes, o que significava que ela estava pegando no sono.

- Eu… É… Talvez ela estivesse vestindo um lençol porque ela gosta de usar lençóis…

- Eu não sei o que ela vestia, porque a deixei em um outro quarto depois de ver que você a tinha ferido.

- Eu… Feri?

- Um corte de vidro.

- É porcelana… - corrigiu ela, num sussurro - O jarro deve ter acertado ela… É… Eu mandei bem.

Sorri pelo canto da boca, vendo-a virar o rosto para mim, de olhos fechados, respirando pesado como se esse fosse o seu único momento de paz.

- Harley…? - murmurei, mas ela não se mexeu ou fez menção de pronunciar uma palavra.

Olhei ao redor, vendo como a escuridão parecia banal. Pensei, de início, que tudo poderia ter paralisado naquele instantes calmo, sem tensão ou brigas… Era pedir demais? Eu vivo no caos, eu sou a justiça e a noite, isso me deixa acima da lei, mas não me dá experiência alguma com relacionamentos.

- Harley? - chamei-a - Sabe… Hã… - aproveitei que ela não respondeu, sabendo assim, que ela estava definitivamente dormindo - Eu… Eu andei pensando por esses meses, e sei que foi burrice ter te deixado e te mandado uma carta como desculpa para não me aproximar… Eu… Eu não sou capaz de vê-la sem ter medo, medo de perder, medo de não ser bom o suficiente... É um medo pior do que a morte para mim… E mesmo que isso me passe pela cabeça, ficar ao seu lado agora é o melhor que eu posso fazer. Então eu penso no quanto fui duro com você… Quero deixar bem claro que esse aqui é o Bruce falando…

- Eu senti a sua falta, também… - pude ouvi-la sussurrar, virando o rosto para o outro lado, se encolhendo na cama.

Passei as mãos pelos cabelos, e suspirei alto.

- Sim, eu estou bem… Você me ouviu? Pedindo pra você voltar… Na minha mente?

"Ela falava dormindo!", pensei comigo mesmo.

Levantei-me do chão, pondo-me de pé. Sorrindo, passei as mãos nos seus cabelos brancos e fui para a porta, me dispersando.

Cheguei a BatCaverna minutos depois. Embora eu não usasse mais a bengala, ainda sentia como se uma bola de canhão houvesse  sido disparada contra a minha coluna, então dei uma olhada para os painéis de controle, vendo como a situação estava pronta. Já que eu estava afastado pelo resto da noite e Dick decidiu voltar a usar seu uniforme de Asa Noturna, ao menos esta noite, tudo estava feito. Deixei localizações de criminosos no sistema do GCPD e dei a senha ao Comissário para que somente James Gordon tivesse acesso. Então, ao menos o que dava para ver, tudo estava em ordem. Ainda mais com Tim Drake vestindo a máscara de Robin, junto com sua namorada, Stephanie Brown, a Salteadora.

Olhei para as barras de aço e para o traje do Batman que usei na invasão ao Arkham, vi o exoesqueleto sobre a mesa, arranquei minha camiseta e o prendi a mim. A máquina robótica que me ajudaria até minha recuperação era forte o bastante para me manter de pé, suas articulações de aço cabiam corretamente na base dos ossos da minha coluna e costela, o que fazia tudo parecer mais fácil. Agarrando as barras a poucos metros acima das minhas mãos estendidas, comecei a agarrá-la, contraindo o meu peso enquanto subia e descia nela, vendo como minha musculatura se ajeitava ao objeto e como meu corpo se comportava com todos os apetrechos e pressão.

Quando terminei os exercícios e desci das barras, uma chamada se estendeu rapidamente por todo a BatCaverna.

- Mestre Bruce! - ouvi algo gritar - Corra aqui para cima, alguma coisa aconteceu com a Arlequina!

Soltei o exoesqueleto de mim no mesmo instante e o joguei na mesa, onde estava. Corri escadaria acima, esperando que nada de mal houvesse acontecido com ela. Dick saía do seu dormitório as pressas, enquanto eu podia ouvir Alfred pedindo toalhas para ele. Entrei no meu quarto no mesmo instante, vendo-o erguer a cabeça de Harley para trás, enquanto seu nariz sangrava e seu corpo caía para o lado. Corri até ela no mesmo segundo, segurando sua cabeça, deixando o Alfred longe. O sangue começara a escapar pela boca também, sua pele estava quente, fervendo, e pelo termômetro que Alfred tirou da boca de Harley, deu para ver que a temperatura estava acima da normal de um corpo.

- Alfred e Dick! - gritei - Encham a banheira com gelo, precisamos diminuir a temperatura corporal dela antes que os órgãos comecem a falhar… Agora!

- Mas Patrão Bruce… - disse Alfred, parando na porta, prestes a sair - O que a Srta. Arle tem?

Olhei para os punhos fechados de suas mãos pálidas, a luz do quarto iluminava os hematomas nas juntas e nas veias, que estranhamente estavam verdes.

- Ela foi envenenada.