"Heavy Metal meu amor
Eu deveria ter aprendido a deixar você ficar
Você não me queria todo o tempo
Mas você valeu a pena mesmo assim
Porque você era muito melhor
Que o resto deles
Do que todos os outros
Você era o homem honesto”.
A Harley partiu. Não… Não exatamente partiu… Foi levada. Levada como um encomenda, um presente, um pacote especial para um psicopata, o meu maior inimigo, o homem que tirou a vida de Jason Todd e de centenas de pessoas, e que agora queria levá-la com ele para algum lugar que para mim, era desconhecido.
Quando todos se foram, levantei-me sem a ajuda de ninguém, assim como Tim e Dick, que se aprontaram a erguer um Alfred atordoado.
- De quem foi a ideia de abrir a clareira? - gritei, apontando para o fogo que tremeluzia ao meu lado.
Dick engoliu a seco e logo soube que fora ele. Estendi minha mão, e ele, relutante, colocou o controle sobre ela, deixando-me mais aliviado por não ter que surrá-lo novamente e arrancar a força o objeto.
Dei meia volta e entrei na clareira, descendo as escadarias, apertando um botão para que ela se fechasse atrás de mim.
Assim que me sentei na cadeira estofada em frente ao meu painel de controle, procurei acionar o GPS que pedi para Alfred implantar na Harley Quinn no dia em que ela chegou aqui, o dispositivo está colocado abaixo da pele de uma das suas cicatrizes. Ativei a busca assim que ele se mostrou ativo, porém, iria demorar. Logo me encostei no espaldar, apoiando meus cotovelos nos braços da cadeira, enquanto as pontas dos dedos de cada mão se juntavam abaixo do meu queixo, olhando fixamente para as porcentagens baixas que se demoravam em sair do lugar.
Ela me impediu de pegá-lo quando eu tinha a chance. Arle sabia do meu estado, assim como também sabia que eu não conseguiria vencê-lo. Ela se arriscou por mim e isso me deixa em dívida com ela…
Dívida! Ahhhh, mas quem eu estou tentando enganar? Não se trata de dívida alguma! Se trata de… Sentimento...? Ah, não, não é algo que eu queira agora, e não que eu não o tivesse… Minha lista se estendia… Porém, todos sabem sobre o meu relacionamento com a Selina Kyle, Mulher-Gato… Quero dizer, antigo relacionamento, mas…
"Droga Harley! Saia da minha cabeça!".
Neguei para mim mesmo, pressionando os dedos nas têmporas.
Suspirei.
49%.
Lembrei-me de como ela, induzida pelo Gás do Medo, mesmo em todo o seu desespero, pensou em mim. De início, achei que fosse algum truque, que ela queria realmente me matar, mas a verdade saía de sua boca como uma serpente e se enroscava em mim, prendendo-se entre minhas artérias cardíacas.
Definitivamente não se tratava de uma dívida, e sim disso que eu evitava.
Não podia mais negar que ela me seduziu de uma forma que minha respiração evitava sentir o aroma. Era alucinante e psicótico… Como quando você usa uma droga psicotrópica e vê que tudo é colorido e irreal, mas você sente em suas veias que a sensação é incrível, pungente, e você quer mais. E neste instante, eu quero mais.
Posso ainda sentir seu beijo naquela festa desastrosa, posso sentir como suas mãos passavam por mim, tentando me provocar enquanto dançávamos, como sua pele pálida e quente ficava mais brilhante ao contato com a água e como sua risada era contagiante quando dada sem pressão.
69%.
Ela era como um sereia prestes a pegar seu marinheiro. Eu era o almirante que insistia em não cair em seu encanto, em seu dom irresistível de persuasão, mas que mesmo ela achando que não me conseguiria, conseguiu.
Conseguem entender o que eu digo? Se trata de algo mais profundo e intocável do que qualquer coisa que eu já senti antes, por qualquer mulher. Parece a cena de um filme cult dos anos 60. Parece a história fracassada de uma escritora em ruínas… Parece a ironia do destino disposta a me deixar de joelhos diante de uma mulher, que salvou a mim e a todos a quem eu amo, num ato desesperado de nos deixar longe de um maníaco.
Suspirei mais uma vez.
- Ahhhh, Arle… - disse comigo mesmo.
Seu rosto delineado estava ao fundo da grande barra de carregamento.
Era estranho pensar como o diabo poderia ser tão belo quanto uma divindade. Ela tinha aquilo… Entende? O olhar. Aqueles olhos azuis que alguém insistira em por para enfeitiçar. Ou os lábios moldados para prender seus prisioneiros.
Algo… Infame, perverso e genial… O que me deixa a pensar que não lhe dei toda a oportunidade, mesmo depois do ácido ter sido encontrado em seu organismo, assim como a prova de que estava grávida daquele sádico.
Eu não acreditei nela graças a minha desconfiança ter tomado parte da minha consciência.
E agora ela se foi.
Partiu.
E eu tenho que achá-la. Preciso cozinhar meus músculos e fazer com que parem de doer. Tenho que voltar a vestir o meu traje e deixar com que os meninos descansem.
Preciso encontrá-la e deixá-la a salvo, comigo, sem que ninguém a tire de mim novamente, porque não vou deixar, nem que eu queira, nem que eu a deixe por perto durante 24hrs… Talvez agora eu entenda a fascinação, a obsessão do Coringa por ela. Arle é o problema. Seu jeito é o problema. Seu corpo e o seu rosto. Eles são o problema…!
NÃO!
O Coringa é o problema. Ele quem a tirou de mim no momento em que mais me senti só. Ele quem a tirou de mim quando eu mais me senti vivo. Ele quem a tirou de mim quando meus sentimentos estavam confusos e tudo o que eu precisava era que ela estivesse aqui para me ajudar a decifrá-los...
88%.
Era isso, então, por fim.
Eu fui o responsável dela ter sido pega, sou eu quem preciso tirá-la das mãos violentas daquele palhaço, eu quem devo voltar a ser o Vigilante que Gotham precisa, e com isso, ter quem eu preciso.
LOCALIZAÇÃO NÃO ENCONTRADA.
O que significava que eu deveria procurar respostas.
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