História Quando éramos apenas crianças sob as estrelas - Nova-Asia

-Crys, tenho que falar com você.

-O que foi?

-Sabe, eu tava pensando e...eu tenho que te dar uma coisa.

Olhei pra ele, confusa. Shay colocou a mão no bolso e tirou dois papeis grandes, e eu quase berrei quando vi o que eram.

-Eu achei que ia ser melhor você sair um pouco enquanto eu arrumo tudo, principalmente a seleção, já que como você mesma diz: eu tô estranho. Então, eu comprei essas passagens pra você.

-Shalom, você não tá falando sério!

-Depois de amanhã, as 8, seu vôo para a Nova-Asia vai sair e você só vai voltar daqui a um mês e meio.

Tapei a boca de surpresa e então não me contive e dei um grito e abraçei Shay. Fiquei agradecendo ele por um tempão e depois beijei ele, mas ele estava estranho. Não dei bola.

-Eu não acredito! -Eu pulei. -Eu vou pra Nova-Asia! Meu Deus!

-É, e eu já arrumei todos os hotéis, passeios, pontos turisticos, cidades...

-Ah, meu Deus! Shalom, eu te amo!

Abracei ele e ele demorou um pouco pra retribuir. Não sei o que tava acontecendo, mas queria acreditar que quando eu voltasse tudo estaria melhor.

Shalom voltou pro trabalho e eu não fui pro meu quarto, fui logo correndo pra cozinha ver Gardner.

Cheguei lá pulando de um lado pro outro e chamando ele, até que o vi colocando umas folhas num prato de sei lá o que.

-Por que tu tá pulando que nem uma cabrita retardada?

-Voce não sabe o que Shalom fez!

-Agora eu tô com medo de saber.

Olhei pra ele com uma cara de reprovação e parei de pular, mas logo continuei de novo:

-Ele comprou passagens pra eu ir pra Nova-Asia!

-O quê?!

-Sim! E já pagou tudo do roteiro! Eu vou viajar de graça!

-Meu Deus! Por um homem desse na minha vida!

-Mas e Gunther?

-Ok, viajar com ele pro shopping nas férias também deve ser legal. Mas quando você vai?!

-Depois de amanhã! Só vou voltar daqui a um mês e meio.

-Ele me deu férias de dois meses a partir de semana que vem. Se eu tivesse dinheiro dava pra eu ir com você, mas ele liberou Gun também e ele vai me levar pra conhecer os pais dele no meio do mato na fazenda deles.

-Meio do mato?

-É, mal pega telefone lá.

Ri dele:

-Boa sorte.

Ficamos conversando até que eu subi pro jantar. Dessa vez Shalom me encarou, mas foi bem pouco e ainda sim de um jeito diferente.

~~~

Passei o dia antes da viagem no salão das mulheres, me despendido da minha família e amigas. Todas ficaram falando sobre viagens e lugares legais, coisas sobre a Nova-Asia e como iam sentir minha falta.

Me despedi de todas as selecionadas, já que sabia que quando eu chegasse elas não estariam mais aqui. Falei pra Judy que não estaria aqui quando ela fosse embora no outro dia, mas que desejava sorte pra ela e pra Lana. Prometi pra Piper que eu manteria contato e o resto não foi tão difícil, já que não conversava muito com as outras.

Quando cheguei no meu quarto, minhas malas já estavam prontas com as roupas que eu tinha selecionado antes. Tomei banho e me preparei pra dormir mais cedo que o normal, já que teria que acordar relativamente cedo também. Mas por mais que eu tenha ido deitar as 9, já eram 1:00 e eu ainda não tinha dormido por causa da ansiedade.

Eu estava me remexendo na cama quando alguém bateu na porta. Virei para ver quem era, e quando a porta se abriu, eu pude ver dois olhos azuis.

Pov Shalom

Será que eu devia ir vê-la? Essa era minha última chance. Eu queria ver Crystal e queria abraça-la agora mesmo, mas tinha medo. O que será que eu devia fazer? Fiquei encarando o teto até 1:00 e minha cabeça doía de tanto pensar nisso. Eu já estava suando, pensando nas hipóteses, pensando em tudo. A imagem dela não saia da minha cabeça, e cada vez eu me perguntava mais se essa era mesmo a melhor escolha, se eu devia mesmo fazer isso. Não sei. Mas sei que se eu decidir continuar, eu tenho que ir vê-la agora. Tenho que ver o meu amor agora.

Quando vi, eu já estava indo pro quarto dela, minhas mãos estavam tremendo, e eu obrigava minha cabeça a ficar limpa e meu cérebro a ficar quieto. Parei antes de abrir a porta e respirei fundo, sentindo meu coração bater rápido. Eu tinha que me acalmar antes de entrar lá.

Bati na porta duas vezes, e depois abri. Como eu esperava, ela estava acordada, e sorriu ao me ver.

-Shay? O que você tá fazendo aqui?

-Vou ficar um mês e meio sem te ver, acho que podemos ter um encontro noturno. -Um último encontro noturno.

Sentei do lado dela e ela falou um pouco da viagem com a cabeça apoiada no meu peito enquanto eu mexia no cabelo dela.

-Mas mesmo assim, eu vou ficar com saudades.

-Eu também. -Eu olhei pra ela e beijei ela.

Eu não queria parar de beijar ela, queria aproveitar esse momento ao máximo, porque sabia que ia sentir falta disso.

Ela também não parecia querer parar de me beijar, então simplesmente não paramos. Tomara que ela entenda que eu estava querendo dizer que a amava com tudo, tomara que ela entenda que isso era nossa despedida.

~~

Abracei ela até ela dormir. Foi difícil não me render ao sono também, mas eu tinha que voltar. Mas eu não queria soltar ela, porque sabia que se eu soltasse, perderia ela pra sempre dos meus braços. Mas seria melhor. Seria melhor do que deixar ela comigo.

Coloquei meu pijama e depois me abaixei na frente da cama, encarando o rosto dela. Seu rosto estava sereno e eu senti minha garganta apertar. Não sabia como ela ficaria depois, mas ela poderia ficar feliz. É como dizem, depois da chuva, vem o arco-iris. Eu só queria saber se eu conseguiria ficar bem.

Admirei seu rosto no nosso último encontro, na última noite que foi nossa, e depois beijei sua testa, fechando os olhos e sentindo que eu ia chorar.

-Adeus, Crystal. -Eu disse voltando a olhar pra ela antes de me levantar e sair pela porta.

Agora eu tinha tomado uma decisão, e acho realmente que as coisas seriam melhores assim.