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História Quando você chegou - "Surpresas" - parte II


Escrita por: yasan-

Capítulo 10 - "Surpresas" - parte II


Makino ON

Apesar de minha insistência sobre ficar em casa e dormir, os garotos não me deixaram, porque:

a) De acordo com Benn, ninguém deve passar a noite do aniversário sozinho;

b) Felipe disse que eu precisava me divertir um pouco;

c) Yassop acredita ser um "crime contra a vida" eu ter colocado esse vestido para ficar sozinha no meu quarto.

Por isso, eu estou dentro do meu carro, indo para o pub onde Shanks está tocando essa noite, com três garotos que estão tentando disfarçar o quanto odeiam Toby. Eles foram legais sobre o assunto, me apoiando e me consolando, mas pelo olhar que Felipe e Benn trocaram, sei que não estavam nada contentes com o acontecido. E nem eu. Mas ao contrário do que se é esperado, eu não estou me desabando em lágrimas ou me afogando em raiva; eu estava, de fato, desapontada, mas não arrasada. Talvez estivesse até mesmo um pouco preocupada. Toby não costumava simplesmente desaparecer sem dar notícias e, por se tratar de meu aniversário, alguma coisa deveria estar errada.

— Eu quase consigo escutar a sua cabeça funcionando, Maki – Yassop comenta. – Será que você pode parar com isso?

Eu sorrio, voltando à realidade.

— Alguém nesse carro precisa pensar.

Benn e Felipe exclamam algo como "Uh!", e então caem na gargalhada com a cara de dor que Yassop faz.

— Vou te perdoar apenas porque você está sensacionalmente bonita essa noite – retruca, piscando de maneira sugestiva.

— Se o Shanks escutar você falando isso, vai acabar acordando sem nariz amanhã – Benn diz, achando graça.

Eu sorrio também, percebendo então que eu estava há poucos minutos de ver Shanks. Hoje, mais cedo, ele havia pedido para que eu o esperasse à noite, mas já que todos os meus planos foram por água abaixo eu estava indo ao seu encontro.

— Não conte para ele, Maki – Yassop diz, fazendo biquinho. – Por favor.

— Isso depende. Você vai me dar um refrigerante quando chegarmos lá?

— Eu te dou dois refrigerantes, se é isso o que você quer – retruca rapidamente. – Dou tudo o que você pedir!

Os garotos começam a rir alto.

— Inacreditável.

— Inacreditável é essa sua beleza.

— Yassop, cale a boca! – eu exclamo, começando a rir.

— Só calo com um beijo – diz, inclinando-se em minha direção com os lábios franzidos.

Eu o empurro com uma mão e tento me manter concentrada na rua a minha frente. Ele ri, sentado no banco de trás, tendo sua cabeça entre os dois bancos da frente. Yassop se desvencilha de meu braço e me dá um beijo estalado na bochecha. Eu acabo rindo junto com ele.

Benn liga o rádio em uma estação aleatória, e rapidamente a melodia de "Counting Stars", de OneRepublic, nos envolve. Os garotos começam a cantar e, tão rapidamente como chegou, minha preocupação foi embora.


***


Quando entramos no pub, o cheiro de cigarro misturado ao álcool rapidamente me acerta. A iluminação é baixa, não há muito espaço para transitar e eu já estou com vontade de ir embora; até que a melodia do violão preenche meus ouvidos e meus olhos são arrastados para o palco, onde Shanks está, aparentemente, terminando uma canção.

— Tem lugar lá – Felipe diz, apontando para uma mesa no canto.

Nós o seguimos, fazendo o possível para passar pelo meio do público, curiosamente preenchido principalmente por homens. Não me entenda mal; havia mulheres lá, mas por alguma razão, 90% delas estava junto do palco, não desgrudando seu olhar do cantor.

Shanks tocou o último acorde e deixou as cordas ressoarem, aproximando-se do microfone logo em seguida. Antes que ele pudesse falar, a plateia o aplaudiu, animada. Ele abriu um enorme sorriso e baixou um pouco a cabeça, parecendo agradecido e talvez até mesmo um pouco envergonhado. Aquele sorriso fez meu coração bater mais rápido. Sem perceber, mesmo que ele não pudesse me ver, eu estava sorrindo de volta.

Quando os aplausos cessaram, voltou ao microfone:

— Obrigado – disse, sua voz um pouco rouca. – A próxima música é algo que não costumo cantar, mas como prometi para a filha do meu chefe, que é fã do Ed Sheeran, eu vou cantar. Essa é pra você, Hinami!

Uma menina por volta dos doze anos, que estava sentada numa mesa próxima ao palco, acompanhada de um casal, deu um grito de alegria, animada. Todos começaram a rir.

— Além disso, a música não é tão ruim e talvez até mesmo descreva um pouco do que eu estou passando na minha vida agora – ele sorriu, passando seus olhos pelo público. – A canção se chama "I'm a mess".

No mesmo instante, seus olhos pousaram nos meus e eu vi uma mistura de confusão e surpresa. Ele franziu o cenho conforme começava a tocar os acordes. Eu sorrio, porque vê-lo confuso era muito bonitinho.

E então ele sorriu também.

Ah, meu Deus... Não, não era bonitinho. Eu prefiro nem dizer o que era.

Oh, I'm a mess right now, inside out. Searching for a sweet surrender, but this is not the end. I can't work it out. How? Going through the motions; Going through us – cantou, sem desviar seu olhar do meu. – And, though, I've known it for the longest time, and all of my hopes, all of my words are all over written on the signs, but you're my road, walking me home.

Quando começou a cantar o refrão, parou de sorrir; seus olhos adquiriram um tom mais sério. Shanks se aproximou ainda mais do microfone, seu corpo balançando conforme tocava o violão:

See the flames inside my eyes. It burns so bright, I wanna feel your love. Easy, baby, maybe I'm a liar. But for tonight I wanna fall in love. Put your faith in my stomach – ele continuou, sem nem fazer ideia do quanto ouvi-lo cantar estava me afetando naquele momento. Sua voz me cercava por todos os lugares, e seus olhos fixos aos meus pareciam querer me dizer alguma coisa. – I messed up this time, late last night. Drinking to suppress devotion, with fingers intertwined. I can't shake this feeling now. We're going through the motions, hoping you'd stop.

Eu nem mesmo consegui ouvir a próxima parte da música, porque de repente, passei a me sentir constrangida com a maneira como Shanks me olhava. Por que ele estava me encarando como se eu fosse a única pessoa presente? Eu juro que tentei desviar o olhar, me concentrar em como os saltos altos que eu usava machucavam meu dedinho, em como havia uma menina que não tirava os olhos de Felipe, em como a multidão balançava de um lado para o outro e até mesmo na rachadura na parede. Mas não teve jeito; quando olhei para Shanks, ele ainda estava me olhando. Dessa vez, ele abriu um sorriso no canto de seus lábios, como se estivesse adivinhando o quão ridiculamente atraente eu o estava achando nesse instante.

Precisei me lembrar que deveria respirar, quando ele fechou os olhos.

See the flames inside my eyes. It burns so bright I wanna feel your love. Easy, baby, maybe I'm a liar. But for tonight I wanna fall in love.

Ao fim da música, eu me sentia leve, como se o chão não estivesse mais sob meus pés. A vontade de caminhar na direção de Shanks e... eu nem mesmo sei o que eu queria fazer, foi tão grande que precisei me forçar a ficar parada em meu lugar. Pode ser que a música tenha sido cantada por causa da Hinami (era esse o nome da menina?), mas tenho certeza de que o efeito que teve nela não foi nem um pouco parecido do que teve em mim. Ah, disso eu tenho certeza.

Mais uma vez, a plateia explodiu em aplausos. Eu apenas segui a multidão, ainda me sentindo um tanto perdida. Assim que o barulho terminou, Yassop ergueu os braços e gritou para todos escutarem:

— Dedica uma música para mim também!

A plateia riu, e a risada de Shanks no microfone preencheu o ambiente. Ai, por que agora até a voz dele me causa arrepios?

— OK, então. Yassop, a próxima vai ser em sua homenagem – disse, abrindo um sorriso atrevido, e colocando o violão sobre um suporte. – Felipe, Benn, será que vocês podem vir aqui e me ajudar?

Os dois garotos, que estavam sentados ao meu lado, foram até o palco, um pouco confusos. Shanks cochichou alguma coisa em seus ouvidos, e então no ouvido de um outro cara que subiu no palco, que parecia ser um dj. Ele foi até um equipamento próximo e em instantes, a melodia começou a tocar. A plateia já começou a rir e a bater palmas no ritmo. Era "Like a Virgin", da Madonna. Isso seria engraçado.

— Essa é para descrever a sua história, Yassop – Felipe disse, começando a cantar em seguida, dramatizando de uma maneira exagerada, e apontando para o amigo. – I made it through the wilderness, somehow I made it through. Didn't know how lost I was, until I found you.

O próximo a começar a cantar foi Benn, fingindo uma voz feminina:

I was beat, incomplete. I'd been had, I was sad and blue. But you made me feel... Yeah, you made me feel shiny and new.

No refrão, os três se abraçaram sobre o palco, começaram a dançar e cantaram usando o mesmo microfone:

Like a virgin, touched for the very first time. Like a virgin, when your heart beats next to mine.

Embora eu tenha consciência de que tudo não passava de uma brincadeira, inlcuindo a dança, eu não conseguia desviar meus olhos de Shanks. Para o bem da minha sanidade mental, eu preferia não ter visto o momento em que ele colocou as mãos atrás da cabeça e fez uma dancinha para lá de sugestiva. Seu olhar cruzou o meu e ele me flagrou o encarando como alguém de dieta olha para um bolinho de chocolate. Meu rosto instantaneamente começou a pegar fogo. Seus lábios formaram um sorrisinho.

— I-di-o-tas – foi possível ouvir Yassop gritar quando os garotos pararam de cantar.

Só ele mesmo para conseguir me fazer esquecer (um pouco) o constrangimento por ter sido pega encarando Shanks dançando. Eu não conseguia parar de rir do quanto Yassop estava furioso com os amigos.

— Nós te amamos, cara – Shanks diz quando tudo termina. Seu cabelo está molhado de suor e sua camiseta preta está colada a ele de uma forma tão... (Ahhh!).

— Também amo vocês – Yassop resmunga. Ninguém além de mim o escuta.

— Bem, acho que vocês gostaram dos meus amigos aqui, não é? – Shanks pergunta para a plateia (lê-se: as mulheres), que grita e bate palmas, animada. – Então, agora, eu gostaria de deixá-los com vocês enquanto eu saio. Tem uma pessoa que veio aqui hoje à noite, e eu queria passar algum tempo com ela.

O que ele está fazendo?

Escuto as mulheres suspirando, um pouco decepcionadas.

— Foi muito bom estar com vocês hoje – diz, abrindo um sorriso encantador. – Espero que nos encontremos novamente.

Todos o aplaudem e ele sai do palco ainda sorrindo, quando Yassop chega lá, se arrastando.

Eu respiro fundo. Provavelmente em poucos instantes, ele estará aqui, e eu não sei como ficar perto dele quando me sinto tão ridiculamente atraída por todo movimento que faz. Decido tomar um refrigerante para tentar me acalmar e, dez minutos depois, quando Shanks volta, vestindo uma camiseta limpa e com os cabelos praticamente secos, vejo que o refrigerante serviu para porcaria nenhuma.

Ele se aproxima de mim e segura minha mão, em um pedido silencioso para que eu me levante. Sem nem saber de onde tiro forças para ficar de pé, eu o faço, ficando com meu corpo praticamente colado ao dele. Seus olhos percorrem meu rosto, como se procurando por alguma coisa, e então ele sorri, me puxando para um abraço, que durou muito mais tempo do que eu estava esperando. Meu coração passou a bater violentamente contra meu peito.

Ele tinha o mesmo cheiro suave de sempre, mas sua pele estava particularmente quente nessa noite, talvez por causa do esforço que fez, cantando e dançando. Suas mãos subiram por minhas costas lentamente, me causando arrepios, e uma delas parou em minha nuca.

— Feliz aniversário – ele sussurrou em meu ouvido.

Meus olhos se fecharam no mesmo momento e eu me obriguei a não deixar transparecer o quanto sua voz me fez perder todo o controle que eu ainda tinha. Eu nem mesmo conseguia escutar o que havia ao nosso redor; era como se a sensação de tê-lo junto comigo bloqueasse todos os meus sentidos, com exceção de seu toque em minha pele, e de sua respiração contra minha orelha.

Shanks afastou seu rosto alguns centímetros para me olhar. Seus olhos estavam escuros, sua expressão séria e seu peito subia e descia em um ritmo um pouco acelerado. Ele deu um beijo em minha testa, outro em minha bochecha e então voltou a me abraçar. Dessa vez, no entanto, o abraço foi rápido. Ele se afastou de mim, expirando o ar de uma maneira brusca.

— Obrigada – eu finalmente consegui dizer. Minha voz saiu baixa, rouca.

Seus olhos caíram para meus lábios em uma fração de segundo, e então ele olhou para meu refrigerante sobre a mesa. Sem nem mesmo me perguntar se podia, ele bebeu o copo inteiro de uma vez só.

Shanks fechou os olhos por um momento e, quando voltou a me olhar, seu rosto tinha uma expressão mais leve.

— Desculpe por isso – disse. – É só que... Esquece.

Eu decido não pressioná-lo, porque eu sei exatamente o que ele estava sentindo. Sinto meu rosto corar.

— Eu não esperava ver você aqui – fala, mudando de assunto e se dirigindo para o banco.

— E eu não esperava vir, mas os meninos não me deixaram ficar em casa.

Shanks franze o cenho.

— E onde está Toby? Vocês não iam sair para jantar?

Eu dou de ombros e me sento ao seu lado, ficando completamente desconfortável com o assunto.

— Ele não apareceu.

Shanks passa a mão por seu cabelo e bufa, como se estivesse irritado. Sua voz, no entanto, é tranquila:

— Que idiota.

Eu pressiono meus lábios em uma linha reta. De que forma responderia a seu comentário?

— Ele não disse o motivo? – pergunta.

— Não.

Shanks coloca sua mão sobre a minha.

— Ele não sabe o que está perdendo – diz, olhando para meu vestido.

Seu comentário me deixa sem graça.

— Ah, então agora você fica com vergonha? – me provoca, rindo. – E hoje mais cedo, quando me mandou mensagem perguntando se eu queria que você me provasse que beija mal?

Eu rio também.

— Acho que fico mais corajosa mandando mensagens.

Shanks ergue uma sobrancelha e coloca a mão em seu bolso, tirando seu celular lá de dentro. Primeiro, eu acho que ele vai começar a navegar na internet e me ignorar, mas então sinto meu celular vibrar com uma mensagem. Quando olho, vejo o nome dele na tela.

"Eu também" , ele diz.

Sem querer, sorrio.

Você também é covarde pessoalmente?, pergunto.

"Às vezes" , responde. "Tipo hoje, eu queria dizer a essa garota que eu conheço que ela está linda com aquele vestido, mas eu não consegui.", Shanks envia a mensagem e então ergue os olhos para me olhar, atento.

Por que não?, pergunto sem conseguir olhá-lo, uma vez que sei que está se referindo a mim. Ele sabe que eu sei também.

Antes de responder, ele me observou por alguns instantes, como se estivesse decidindo se deveria dizer o que queria ou não. Aquela espera apenas me causou mais nervosismo. É claro que eu estava fingindo ouvir os garotos da banda, mas, na verdade, eu nem mesmo sabia qual música eles estavam tocando. Tudo no que eu conseguia me concentrar era o olhar intenso de Shanks sobre mim.

"Porque se eu dissesse aquilo naquele momento, e ela sorrisse, eu não sei o que eu seria capaz de fazer."

Quando leio sua mensagem, sinto um frio na barriga, como se estivesse numa montanha-russa. Ele acabou de admitir que sentiu vontade de me beijar? O que eu digo?

"Venha aqui e faça o que você quiser", é o que eu penso em escrever.

..., é o que eu realmente escrevo.

Shanks lê minha mensagem e ri.

"Eu pensei que você tivesse dito que era mais corajosa por mensagem"

Sou apenas um pouquinho mais corajosa

"Entendi"

Arrisquei olhar para ele e imediatamente me arrependi. Por que eu tinha que ser tão fraca? Por que eu não conseguia olhar dentro daqueles olhos sem me sentir do jeito que me sinto?

Você cantou muito bem hoje, digo, tentando desesperadamente mudar o assunto e também fazê-lo parar de me encarar.

"Quer saber outra coisa que faço muito bem?", ele perguntou, e um sorriso se abriu no canto de seus lábios.

Céus! O celular cai de minha mão. Literalmente. Eu até tento disfarçar meus olhos arregalados e ser sutil, mas acho que ter feito o maior barulho quando me abaixei para pegar o celular não colaborou para manter minha imagem de eu-nem-estou-surtando-com-o-que-você-acabou-de-escrever.

O quê?, pergunto. Ele está rindo baixinho.

"Levar garotas abandonadas no dia do aniversário para comer bolo"

Eu expiro o ar e relaxo um pouco no banco. Que susto!

Achei que a sua coragem por mensagem tinha passado dos limites, digo.

"Ah, então quer dizer que você estava esperando que eu sugerisse outra coisa?"

Ergo meus olhos para olhá-lo e mais uma vez dou de cara com aquele sorriso maravilhoso em seus lábios.

— Vamos logo comer o bolo – digo, puxando-o pela mão enquanto tento achar um caminho para fora dali.


***


Algumas horas depois, chegamos em casa. Meus pés estão me matando e, considerando a quantidade de bolo de chocolate branco que eu comi, diabetes também me mataria se eu continuasse nesse ritmo. Shanks também comeu demais. Quero dizer, nós passamos pelo menos duas horas conversando – dessa vez sem mensagens de texto, porque elas eram muito arriscadas – e nesse tempo, não paramos de comer.

— Ei – Shanks me chama quando começo a subir as escadas. – Não esqueça de vir aqui depois. Preciso entregar o seu presente.

—  Achei que meu presente fosse a rosa vermelha e a cantoria vergonhosa.

— Aquilo também. Mas tem outra coisa.

— Você não precisava ter gastado dinheiro comigo – digo, me apoiando no corrimão da escada. – Além disso, você pagou o bolo hoje.

— Não gastei dinheiro com o presente – comenta, me deixando sem entender nada. – E claro que paguei. Desde quando o cara deixa a mulher pagar a conta num encontro?

— Shanks, aquilo não foi um encontro.

— Mas poderia ser – ele sorri.

Eu reviro os olhos e sorrio também.

— Volto logo.

Subo para meu quarto e tomo um banho – não aguentava ficar com o vestido e o sapato nem por um minuto a mais. O problema que não se resolvia com um banho era que, toda as vezes que eu fechava os olhos, imagens da noite com Shanks piscavam em minha mente. Ele tentando não rir com a boca cheia de bolo, me contando piadas, limpando glacê do canto de meus lábios com seu dedo (e o lambendo depois), e principalmente, a intensidade de seu olhar.

Era muita coisa para absorver em apenas uma noite.

Quando voltei para a sala, Shanks já estava lá. Ele também havia tomado banho; seu cabelo ruivo ainda molhado estava desgrenhado, e eu pude sentir o cheiro gostoso de seu shampoo e sabonete quando me sentei ao seu lado.

Estava passando um suspense na televisão e, por algum tempo, nós dois apenas ficamos ali, lado a lado, assistindo ao filme. Em certo ponto eu até mesmo comecei a me interessar pela história.

— Makino – Shanks fala, baixinho.

— Hum? – eu murmuro, sem dar muita atenção. Eles finalmente haviam descoberto quem era o vilão.

— Posso te falar uma coisa?

— Hum – murmuro de novo, sem desgrudar meus olhos da tela.

— Você está cheirosa – ele comenta, me pegando de surpresa, sem me olhar.

— Pare de me cheirar e preste atenção no filme – respondo, com um sorriso no rosto.

— Não consigo.

— Consegue, sim. É só fechar o nariz com a mão.

Ele vira seu rosto e passa a ponta de seu nariz por meu ombro descoberto, fazendo arrepios percorrerem minha espinha.

— Shanks, pare com isso – eu o alerto, tentando disfarçar os pelos eriçados em meu braço.

— Por quê? – me provoca, esticando-se ainda mais para perto de mim. Sua respiração faz cócegas em meu pescoço.

Sou obrigada a me afastar. Quando o olho, vejo um sorriso travesso em seu rosto.

— Você ficou louco, é? Tinha álcool no seu bolo?

— Foi mal – diz, ainda sorrindo. – Eu só queria tirar sua atenção do filme.

— Bem, você conseguiu – digo, e parece que ainda consigo sentir seu toque.

Shanks sorri e se levanta. Quando volta para se sentar em meu lado, traz consigo seu violão. Ele o entrega a mim.

— O que é isso? – pergunto, confusa.

— É para você.

Como assim?

— Shanks, eu não toco violão.

Ele coloca uma mão sobre a minha.

— Eu sei que você sabe tocar. Apenas não pratica há muito tempo.

Fecho os olhos com força. Eu costumava mesmo tocar, já que mamãe entendia muito de música, mas não o tinha feito desde... você sabe.

— Como você sabia?

— Luffy me contou – responde com um sorriso doce e empático no rosto. – E como eu vou comprar um novo amanhã, pensei que talvez seria bom deixar esse com você.

Eu o olho, apenas me sentindo estranha demais para dizer qualquer coisa.

— Makino – ele me chama, colocando sua mão em meu queixo, delicadamente, para que eu o olhasse. – Você não precisa tocá-lo hoje, ou amanhã, ou semana que vem. Estou te dando para que toque quando estiver pronta.

Eu aceno com a cabeça, concordando. Se eu nunca estivesse pronta, pelo menos o violão era bonito o bastante para decorar meu quarto.

— Obrigada – digo.

Ele sorri.

— Será que agora podemos voltar a ver o filme para que eu possa te cheirar? – pergunta, virando a cabeça de lado e quebrando todo o clima gelado entre nós.

Eu começo a rir.

— Você sabe que isso é meio estranho, não sabe?

— Também achei estranho você estar cheirosa hoje, considerando que geralmente você tem cheiro de... – ele volta a me provocar.

— Ei! – eu o interrompo, dando um tapa em seu braço.

— O que foi? – pergunta, erguendo as sobrancelhas e se fazendo de desentendido. – É verdade.

— Não é verdade – eu reclamo, rindo da careta que ele fazia no momento.

— É verdade sim, quer ver? – disse, colocando seu nariz em meu pescoço novamente. Eu ri ainda mais, começando a sentir cócegas.

Ele pareceu achar a situação toda muito divertida, porque usou suas mãos para fazer cócegas também. Eu não aguentava mais de tanto rir. Tentei de todo jeito empurrá-lo, mas tudo o que consegui foi me contorcer e acabar quase deitada no sofá.

O sofrimento continuou até que Shanks parou, de repente. Só então abri os olhos, já esperando que ele voltasse a me provocar. No entanto, o que encontrei foi um Shanks quase deitado por cima de mim, tendo apenas um de seus braços como apoio, nos separando. Assim, agora que não estava mais concentrada nas cócegas que sentia, os sentidos de cada centímetro de meu corpo me alertaram com a proximidade que estávamos.

Meu sorriso desapareceu de imediato. Seus olhos estavam concentrados nos meus e, sua respiração roçava meus lábios. O calor de sua pele contra a minha me fez ficar sem força alguma. Ele expirou o ar, devagar, e baixou sua cabeça, colocando-a no espaço entre meu pescoço e meu ombro.

— Shanks... – eu tentei dizer. Nós precisávamos parar.

Seus lábios fizeram uma leve pressão contra a minha pele, e eu imediatamente senti minhas pernas amolecerem. Acho que o suspiro que escapou de meus lábios foi encorajador, porque ele repetiu o que havia feito, dessa vez fazendo um caminho até meu pescoço e por fim até o canto de minha boca, me mordendo de leve. Senti parte de seus lábios contra os meus e, por impulso, coloquei meus braços em volta de seu pescoço, passando meus dedos por seu cabelo.

Aquilo foi demais para mim. Juro que se ele fizesse qualquer outra coisa, eu não seria capaz de impedi-lo.

— Shanks – falei novamente. Eu estava alarmada, mas não conseguiria sair dali. Eu não conseguiria, por vontade própria, me afastar dele.

— Me diz que você não quer – ele sussurra contra os meus lábios. – Nós não deveríamos estar fazendo isso.

Eu o puxo para um pouco mais perto de mim e dessa vez o suspiro escapa dele. Eu não conseguia pensar em nada. Não conseguia pensar em nada que não fosse o peso de seu corpo sobre o meu.

Quando me preparo para dizer que eu queria, meu celular começa a tocar e, como se nós dois estivéssemos hipnotizados, nos afastamos. Quero dizer, ele se afastou. Eu acho que não conseguiria me levantar dali por uma semana.

Com muito esforço, peguei meu celular para ver o nome de Toby na tela. Sem nem considerar atender, desliguei a chamada.

— Não vou atender – digo a Shanks, que está de pé em minha frente, sem me olhar.

Ele tem as mãos pressionadas contra seus olhos e seu peito sobe e desce, rápido.

— É Toby, não é? – pergunta. Sua voz está rouca.

Eu não respondo, e meu celular volta a tocar. Antes que eu pressione "ignorar" novamente, Shanks começa a se afastar:

— Atenda, Makino.

— Shanks, não vá, por favor. Nós precisamos conversar.

Mas ele não faz o que pedi. Fico ali, parada, sem saber o que fazer com meu celular que não para de tocar, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, até que escuto a porta de seu quarto bater com força no andar de cima.

Com as mãos trêmulas, atendo a chamada de Toby.

— Maki...? – ele pergunta, sua voz está embargada, como se estivesse chorando. – Acho que minha mãe está morrendo.


Notas Finais


Que noite hein, Makino :v
Até o próximo capítulo! ~chu 💜


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