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História Quando você chegou - "Surpresas"


Escrita por: yasan-

Capítulo 9 - "Surpresas"


Makino ON

Entro no banheiro antes mesmo de Shanks retornar. Tiro minhas roupas e vou para debaixo do chuveiro, esperando que a água possa clarear um pouco minha mente bagunçada. Eu estava, realmente, muito confusa. Não conseguia entender porque estava tão atraída por Shanks, ou porque tudo parece ter mudado (para melhor) desde o dia em que ele chegou.

Quando lembro da nossa proximidade, há poucos minutos, sinto meu rosto ficar quente. Eu não deveria... Mas quero muito sentir o que senti novamente. Fecho os olhos com toda a força que tenho e tento afastar os pensamentos que me incomodam e só saio do transe quando escuto meu celular vibrar. Enrolo a toalha envolta de meu corpo, e suspiro quando vejo que é Toby.

Quando eu saí de sua casa, nós não estávamos em uma situação boa. Eu sei que o fato de não ter me contato sobre Luffy no instante em que soube da notícia foi idiota, mas ele não fez isso por maldade. E, além disso, todos nós erramos.

— Oi – digo ao atender.

—Amor – ele fala. Sua voz tem um tom preocupado. – Me perdoa. Você sabe que se eu soubesse que a vida de Luffy estava em perigo, eu teria contado a você imediatamente.

Respiro fundo. Eu sei que ele teria. Na hora em que saí do apartamento, eu estava apenas nervosa.

— Eu sei.

—Então você não está furiosa comigo?

— Não mais.

—Eu ainda vou poder te levar para jantar no seu aniversário, domingo à noite?

Eu abro um sorriso.

— Sim.

Escuto-o expirar o ar, aliviado.

—Eu te amo, Maki. Você sabe o quanto é importante para mim, não sabe?

— Sei – respondo, e não estou mentindo. No entanto, quando digo a próximo frase, sinto algo estranho. – Eu também te amo.

—Ah, amor, queria estar aí com você agora – diz. – Como está Luffy?

— Está bem. Vai ficar em observação até de manhã.

—Você vai passar a noite aí? – pergunta. – Eu posso ir até o hospital para te fazer companhia. Não quero que fique sozinha.

Ótimo! Shanks, Toby e eu cochilando no mesmo cômodo.

— Hum, na verdade, Shanks está aqui – respondo.

Toby fica em silêncio por um momento.

—Shanks, é? Por que ele não vai embora?

— Porque ele está preocupado com Luffy e quer ficar por perto.

—Por perto do Luffy ou de você?

— Toby, não seje infantil – falo, irritada com sua ceninha de ciúmes. – Eu vou desligar, está bem?

—Perdão, amor, por todas as besteiras que eu disse hoje.

— Boa noite, Toby – digo, desligando.

—Espere – ele chama. – Vou passar na sua casa às sete da noite, no domingo.

— Vou te esperar.

E então desligo.


***


No quarto, encontro Shanks adormecido na poltrona ao lado da cama de Luffy. Sua cabeça está levemente inclinada para trás, seus lábios um pouco entreabertos e há uma pequena mecha de cabelo caída sobre seu olho. Fico parada, observando-o, até que não consigo mais repreender a vontade de me aproximar.

Com cuidado, afasto a mecha de seus olhos e, quando percebo, meus dedos estão correndo lentamente por seus cabelos macios. Sorrio para mim mesma quando percebo o quão idiota devo parecer nesse momento, feliz por tocar o cabelo de um cara pelo qual eu estou... Estou o quê?

— Isso é bom – Shanks murmura e eu tomo um susto. Afasto-me rapidamente, mas ele coloca sua mão quente sobre a minha outra mão e a aperta de leve. – Não pare.

Eu estico meu braço até ele novamente, receosa, nervosa e morrendo de vergonha por ter sido flagrada.

— Não pretendia ter acordado você – sussurro.

— Então você pretendia se aproveitar de mim enquanto eu dormia? – ele pergunta, ainda com os olhos fechados. Há um sorriso divertido no canto de seus lábios. Não consigo desviar os olhos dele.

Eu rio, sentindo a vergonha crescer. Se o quarto não estivesse tão escuro, tenho certeza de que seria possível ver meu rosto vermelho.

— Eu não estava me aproveitando de você.

— Estava fazendo o que, então?

— Apenas... arrumando seu cabelo.

Ele sorri de novo, e dessa vez abre os olhos. Sou obrigada a parar e me afastar um pouco, porque não consigo tocá-lo ao mesmo tempo em que seu olhar intenso está sobre mim.

— Certo – diz. – Mas eu não estava dormindo.

Droga.

— Não?

Ele balança a cabeça.

— Por isso achei estranho, sabe, você demorar tanto tempo para estar apenas arrumando meu cabelo.

— Um trabalho bem feito leva tempo – respondo, dando de ombros.

Shanks ri e eu sorrio também, tentando esconder a maneira como seu sorriso me afeta. Por que ele tinha que ser tão bonito?

— Está tudo explicado agora. Por um momento eu pensei que você estava mexendo no meu cabelo apenas porque sentiu vontade – seu tom é irônico.

— Eu nunca faria isso.

— Que bom – responde, rindo. – Porque senão eu também poderia fazer alguma coisa apenas porque estou com vontade.

Sei que ele está brincando, mas mesmo assim seu comentário me causa um frio na barriga.

— Cale a boca – eu digo, rindo, indo sentar-me no sofá.

Depois de alguns momentos em silêncio, Shanks é o primeiro a voltar a falar:

— Makino... – ele começa. – Eu ouvi sua conversa com o Toby, sem querer. Na verdade, essas paredes são muito finas. Não fiz de propósito.

Eu engulo em seco.

— E...? – pergunto calmamente. Por dentro estou uma pilha de nervos.

Ele passa a mão pelos cabelos, aparentando estar desconfortável.

— Há quanto tempo vocês estão juntos?

Sua pergunta me pega de surpresa. Por que ele estava interessado nisso?

— Há mais de dois anos e meio.

Ele fecha seus olhos e assente, sem me olhar.

— Você o ama?

— Eu acho que se você ouviu nossa conversa, provavelmente deve ter me escutado dizer que o amava – respondo, ligeiramente incomodada com as perguntas.

Ele balança a cabeça.

— Você tem certeza?

— Que tipo de pergunta é essa, Shanks?

Ele me olha, os olhos arregalados. Parecia surpreso com a minha irritação.

— Desculpe. Só foi uma curiosidade.

— Acho que isso é assunto meu; não seu – continuo, sem compreender o motivo pelo qual me sentia tão zangada.

Quando acho que não falaríamos mais disso, ele volta a falar:

— Eu preciso te dizer isso, Makino... Eu realmente não acredito no seu amor por ele.

Que raios...? Qual é o problema dele?

— Bem, eu realmente não perguntei sua opinião; perguntei?

— Estou apenas falando. A relação de vocês não é o relacionamento que se espera de um casal apaixonado.

Eu me levanto, irritada.

— O que você é? Um especialista em casais? – pergunto, erguendo o tom de minha voz.

— Não sou especialista – diz, aproximando-se de mim. Ele apoia sua mão nas minhas costas e me guia para fora do quarto. Por estar irritada com ele, preciso fazer um esforço fenomenal para não me deixar abalar pelo seu toque. – Mas sei que se ele estivesse mesmo apaixonado por você, não haveria faculdade no mundo que o faria ficar mais de duas semanas sem te ver. Ainda mais considerando o quão perto ele vive daqui.

Suas palavras me atingem como um soco no estômago. Não consigo olhá-lo, porque estou com muita raiva. Ao invés disso, olho ao redor, onde as luzes do hospital fracamente conseguiam iluminar o corredor branco e vazio.

— Makino, olhe para mim – diz, segurando minha mão.

Eu me afasto dele.

— O que você está falando não faz sentido – respondo. Minha voz é baixa e controlada. – Ele me ama.

— Não estou dizendo que ele não te ama – diz, calmo. – É impossível te conhecer e não te amar, mas...

Suas palavras causam uma bagunça ainda maior em minha mente. Há um monte de sentimentos contraditórios dentro de mim e eu não sei o que fazer com eles.

— O quê?

— Talvez ele não te ame do jeito certo. Talvez o que há entre vocês seja mais parecido com amizade do que amor.

Eu balanço a cabeça, não acreditando no que estou ouvindo.

— Pare de falar. Você acabou de estragar ainda mais a minha noite – eu o acuso e vejo sua expressão mudar. Ele parece magoado.

— Acha que eu estou falando besteiras? – pergunta, parecendo estar irritado. Quando volta a falar, seu tom de voz é alto. – Ele não faz esforço algum para te ver! Prefere ficar em outra cidade, fazendo sei lá o que, ao invés de ficar com você.

— Cale a boca, Shanks. Você não me conhece, está bem? – explodo, começando a me afastar. Eu preciso de um tempo longe dele.

— Não – diz, segurando-me pelo braço. Sua voz é mais suave agora – Não vá.

Eu fecho meus olhos e não tento me soltar. Estou cansada demais para isso, tanto fisicamente quanto emocionalmente.

— Eu quero ficar um pouco sozinha.

— Tudo bem, mas não quero que vá quando eu praticamente acabei de gritar com você – ele soa arrependido.

Respiro fundo e abro meus olhos para vê-lo. Ele me observa, preocupado.

— Tanto faz – comento, aparentando não me importar. Na verdade, eu acho que estou tão magoada quanto ele.

Shanks se aproxima um pouco mais de mim e, lentamente, me puxa para um abraço. Eu não o impeço. Sua mão passeia calmamente pelas minhas costas e a batida de seu coração faz com que eu relaxe um pouco.

— Desculpe. É só que... eu fico louco sabendo que você gosta tanto dele.

Quando termina de falar, seu corpo fica um pouco tenso.

— Ele é meu namorado, Shanks. Se eu não gostasse dele, não estaríamos juntos.

Ele afasta um pouco sua cabeça e, sem tirar os olhos dos meus, pressiona sua testa contra a minha. Sinto sua respiração em meus lábios e acho que estou prestes a entrar em combustão. Meu corpo inteiro está quente, minha respiração fica irregular e o lugar onde suas mãos estão pressionando em minhas costas parece formigar.

Estou com medo do que possa acontecer, do que Shanks possa estar sentindo nesse momento mas, principalmente, do quanto eu quero beijá-lo agora. Estou com tanto medo que não consigo nem mesmo me afastar.

Shanks baixa um pouco sua cabeça e seus lábios roçam por minha testa, passando por meus olhos e chegando a minha bochecha. Fecho meus olhos. Meu coração está batendo tão rápido que desconfio Shanks pode ouvi-lo. Ergo minhas mãos até seu peito e sinto que seu coração está tão acelerado quanto o meu.

Eu deveria me afastar, deveria sair correndo o mais rápido possível, mas não consigo fazer minhas pernas se mexerem. Seus lábios descem até o canto de minha boca e eu deixo escapar um suspiro alto. Nesse momento, percebo que, mesmo que conseguisse, eu não me afastaria.

Porém, Shanks se afasta de mim.

Seu peito sobe e desce rapidamente e consigo ouvir sua respiração pesada. Seus olhos estão pousados nos meus e tudo o que consigo ver neles é culpa. Culpa porque quase nos beijamos. E eu não consigo sentir nada além da falta de seus lábios sobre minha pele.

— Desculpe – ele sussurra. – Isso foi além dos limites.

Eu fico em silêncio porque tenho medo de que, se eu tentar falar, vou pedir para que ele volte a fazer o que estava fazendo.

Shanks passa a mão por seus cabelos, como sempre faz quando está preocupado ou nervoso, e começa a caminhar para longe de mim, com pressa.

Sei que ele não vai voltar dessa vez.


***


Luffy, após muitas orientações do médico, é liberado no dia seguinte, para a minha alegria. Passei a noite toda acordada; como poderia dormir depois da conversa que tive com Shanks? Como poderia dormir depois do que quase aconteceu entre nós? Até agora meu corpo está me amaldiçoando por não ter ido em frente e o beijado quando tive a chance.

Quero me dar um soco bem no meio da cara para ver se consigo me livrar dessa... vontade de estar com Shanks, de saber como seria beijá-lo, de como seria abraça-lo sem peso na consciência. Ao mesmo tempo, quero ficar o mais longe possível dele, para que nada atrapalhe o relacionamento seguro que tenho com Toby.

Com milhões de pensamentos e sentimentos controversos, deito a cabeça no travesseiro para descansar por volta das 10 horas da manhã. Felizmente, durmo assim que fecho os olhos.


***


— Makino, se você gosta dele, faça alguma coisa! – Olívia dizia, rindo. – Ele não vai adivinhar sozinho!

Eu suspiro, frustrada. Nós estávamos na festa de uma garota que eu nem mesmo sabia o nome, que estava na nossa turma de química, e eu observava Toby dançando com uma patricinha qualquer. Que noite trágica.

— Mas o que eu faço? Não posso parar ao lado dele e dizer "Oi, beleza? Eu estou um pouco apaixonada por você".

— Claro que pode! É isso o que você deveria fazer!

Eu reviro os olhos.

— Você e mamãe são péssimas para dar conselhos.

— Você contou para a sua mãe? – ela pergunta.

— Contei – respondo. – Ela disse que eu deveria contar a ele.

— Sua mãe sabe o que é melhor para você – diz, me provocando. – Por falar nisso, qual o horário de estar em casa hoje?

— Duas horas.

— Mas já é quase uma e meia da manhã! – Olívia arregala os olhos. – Nós temos trinta minutos para fazer Toby se apaixonar.

— Sim, porque isso é totalmente possível.

— Maki, você precisa tomar uma providência, já faz meses que você está gostando dele, e ele também parece sentir algo por você.

— Você acha?

— Claro, sua idiota.

Eu respiro fundo e, impulsivamente, quando a música acaba, eu caminho até Toby, que acabara de ser deixado pela outra garota.

— Oi – digo, parando em sua frente.

— Oi, Maki – responde, com um sorriso no rosto. – Quer dançar?


Acordei por volta das 17 horas e fiquei parada por algum tempo, apenas apreciando o silêncio e ainda vivendo o sonho que tivera há pouco. Naquela época, mamãe ainda estava aqui, Toby e eu éramos apenas colegas, e Shanks era apenas uma pessoa que eu havia visto uma vez na vida, quando era criança. Seu nome não tinha significado algum para mim. Tão diferente de agora...

Quando desço as escadas, encontro os rapazes da banda na sala, conversando. Penso em desviar e ir para a cozinha, apenas para poder ficar sozinha, mas não estou com fome e Benn me chama para sentar com eles. Seria rude recusar.

— Conseguiu descansar? – Benn pergunta, esticando seu braço por trás de mim, no encosto do sofá, quando me sentei ao seu lado.

— Muito – respondi.

— Que bom – diz, sorrindo. – Ah, Garp pediu para te avisar que conseguiu uma semana de folga para cuidar de Luffy.

— Ele não precisava ter feito isso! –digo, preocupada. – Eu poderia cuidar de Luffy.

— Acho que seu pai quer que você cuide um pouco de si mesma também – Felipe diz. – Além disso, é seu aniversário amanhã!

— Como vocês sabem?

— Luffy – os três responderam juntos.

Claro. Não sei nem porquê pergunto como as pessoas sabem as coisas que eu preferia que elas não soubessem.

Eu me afundo no sofá.

— Está tudo bem? – Yassop me pergunta.

— Sim – finjo um sorriso. – Vocês viram o Shanks por aí?

Benn e Felipe se olham, apreensivos.

— Não – Benn responde. – Na verdade, nós estávamos pensando em te fazer a mesma pergunta.

— Ele não voltou para casa na noite passada?

— Não... Ele não ia ficar no hospital?

Fecho os olhos e sinto o abraço amigável de Benn se intensificar um pouco mais. Decido contar a eles o que aconteceu entre Shanks e eu (ou melhor, o que não aconteceu) e como a situação terminou com ele indo embora.

— Ah, Maki... – Benn começa, massageando sua testa com as mãos. – Eu te pedi para que não desse esperanças a ele se você não estivesse planejando ficar com ele.

— Não estou dando esperanças, Benn! As coisas simplesmente acontecem! Quando o vejo tenho vontade de estar perto dele e, quando ele se aproxima, eu não consigo me afastar.

— Você planeja deixar o Toby? – Felipe pergunta, direto.

— Isso não tem nada a ver com deixar o Toby ou não – respondo, irritada.

— Você tem um namorado, Makino, mas mesmo assim está atraída pelo Shanks.

— E daí? Isso deve acontecer com todo o mundo.

— Não – retruca. – Atração física pode acontecer, não a atração que você e o Shanks tem. Aquilo não é simplesmente físico. Eu, que estou convivendo com vocês há pouco tempo, já consigo ver isso. E aposto que o Benn e Yassop concordam comigo.

— Sim – Benn fala.

— Infelizmente – Yassop diz. – Eu realmente pensei que teria uma chance com você.

Eu abro um sorriso triste, achando graça.

— Eu não vou negar o que você disse – digo. – Mas eu amo o Toby. Não posso simplesmente ignorar tudo o que ele e eu passamos até agora porque estou atraída por uma pessoa que conheço há menos de dois meses!

— Eu entendo. Então, se não há intenção de deixar o seu namorado, acho que o melhor a se fazer é se afastar de Shanks, porque eu conheço o meu amigo, e eu sei que ele pensa em você mais do que gostaria.

Reflito por alguns momentos sobre o que ele falou, e estou tão triste que não consigo nem olhá-lo.

— Não quero me afastar de Shanks.

— Mas também não quer se afastar de Toby.

Eu balanço a cabeça, negando.

— Apenas tome cuidado, ok? – Benn segura minha mão. Vejo compreensão em seus olhos.

No instante em que ele termina de falar, a porta da frente se abre e um Shanks muito cansado, vestindo as mesmas roupas da noite passada, entra. Ele olha em nossa direção e seus olhos sustentam os meus rapidamente até que ele volta a andar.

— Shanks – eu o chamo, me levantando. Ele para de caminhar, mas não se vira para me olhar. – Podemos conversar?

Escuto-o respirar fundo.

— Agora não – responde, seco, e vai para o andar de cima.

Apesar de Benn ter me feito sinal para ficar, eu vou atrás dele. Sigo-o até a porta de seu quarto.

— Quando, então?

— Não sei. Agora estou ocupado.

— Ocupado com o quê?

— Preciso pegar algumas roupas. Vou passar a noite fora.

Meu coração bate mais rápido, entrando em pânico. Ele estava indo embora?

— Por quê?

Ele se vira para me olhar, sério, e sinto em seu hálito o cheiro característico de álcool. O cheiro que odeio. Ele andou bebendo.

— Eu realmente não quero conversar, Makino. Estou de mau humor.

— Você está bravo comigo? Por causa de... você sabe, por causa de ontem à noite? – pergunto, sentindo meu rosto ficar quente.

— Não.

— Promete?

— Não.

Seus olhos encontram os meus, e eu sem querer acabo abrindo um sorriso. Ele observa meus lábios e expira pesadamente.

— Você só sabe falar "não"?

— Não – responde, voltando seus olhos para os meus. Agora quem sorriu foi ele.

— Vai me contar o que te deixou irritado?

— Além de que eu quase a beijei? – pergunta, me pegando de surpresa.

— Quase me beijar te deixou irritado?

— Não te beijar me deixou irritado – responde, baixo, descendo uma mão por meu braço lentamente e pousando-a em minha cintura.

Seguro a respiração. Tenho certeza de que agora estou tão branca que provavelmente pareço que vou desmaiar. Ele me olha intensamente, e eu queria ser capaz de ler seus pensamentos nesse momento. Eu nem mesmo sei o que falar. O que se fala numa hora dessas? Toda a minha concentração está no calor de sua mão, que passa pela minha camiseta, e seus dedos que fazem uma leve pressão, tocando minha pele.

Quando Shanks percebe que eu não direi mais nada, ele se vira abruptamente, abrindo a porta de seu quarto, sem nem mesmo olhar para trás.

— Conversamos outro dia – diz. – Não consigo ficar perto de você agora.


***


— Parabéns para você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! – Luffy cantava alto enquanto pulava na minha cama, de um lado para o outro. Ele ainda estava de pijama, com seu braço engessado.

— Você quer quebrar o outro braço? – eu pergunto, puxando-o para um abraço antes que ele voasse de cima da cama direto para o chão.

Ele se rende sem nenhuma resistência (apenas porque é meu aniversário, eu aposto), e me aperta forte.

— Nós temos uma surpresa para você! – exclama, feliz. – É um bolo!

Papai entra no quarto, segurando em suas mãos uma bandeja com um lindo bolo de chocolate com morango. Ele franze a testa.

— Luffy, nós não contamos o que é a surpresa, senão ela deixa de ser surpresa – explica. – E eu disse para você me esperar para cantar "Parabéns".

Meu irmão o olha, arrependido.

— Eu sei, mas eu estava muito animado.

— Não tem problema – eu digo. – Eu amei a surpresa.

Os dois sorriem para mim e se sentam ao meu lado na cama para me abraçar. Nesse instante, me sinto completa e incompleta ao mesmo tempo; as duas pessoas mais importantes da minha vida estão ao meu lado, mas sinto que se mamãe estivesse aqui, isso poderia ser ainda melhor.

Em seguida, comemos o bolo e passamos o resto do dia juntos. Vamos ao shopping, porque papai insiste em me comprar um presente. Embora eu tenha tentado convencê-lo do contrário, ele me disse que me presentear com algo que eu quisesse era o mínimo que poderia fazer para me agradecer pela boa filha que sou. Acabei escolhendo um vestido azul – eu o usaria à noite, quando saísse com Toby.

De tarde fomos ao cinema e, apenas para que papai pudesse tirar o peso da consciência por tirar a semana de folga, passamos pela delegacia para que ele se assegurasse de que estava tudo bem em sua ausência. Recebi uma grande leva de "feliz aniversário" e, quando começou a escurecer, nós fomos para casa, pois em poucas horas Toby viria me buscar.

Naquela noite, eu me sentia feliz e amada. É a primeira vez que comemoro meu aniversário desde o dia que mamãe morreu – não havia mais sentido em se alegrar com uma data comemorativa em que ela não estivesse presente. Mas hoje foi diferente. Papai estava feliz e Luffy parecia tão alegre por passarmos o dia juntos que desejo que o próximo aniversário chegue logo, apenas para que eu possa fechar meus olhos à noite e saber que tive a sorte de ter um ano feliz ao lado de minha família. Tudo estava mudando, e isso era tudo que precisávamos.

Quando estou me vestindo, escuto meu celular vibrar. Vou correndo para busca-lo, tendo certeza de que recebi uma mensagem de Luffy. Achei estranho ele não ter me ligado de manhã, mas com certeza quer me desejar feliz aniversário pessoalmente. O que vejo, porém, não era o que eu estava esperando.

"Desculpe não estar com você hoje. Eu queria muito passar o dia do seu aniversário com você, mas achei que Garp e Luffy precisavam ter um tempo sozinhos com a pessoa mais incrível desse mundo. E desculpe também pela noite passada. Fiquei um pouco preocupado com o que quase aconteceu entre nós no hospital. Eu realmente achei que você me odiaria por aquilo... Enfim, espero que a sua noite seje boa. Será que você pode me esperar acordada hoje? Vou chegar depois da meia noite. Tenho um presente para você.

Shanks."

Tenho um sorriso bobo no rosto quando termino de ler a mensagem. Rapidamente, meus dedos começam a digitar uma resposta:

Isso quer dizer que você vai voltar para casa?

"Sim", responde alguns segundos depois.

Onde é que você esteve nas duas últimas noites?

"Eu dormi num hotel"

Por quê?

"Você sabe"

Não sei

Dessa vez, sua resposta demora dois eternos minutos:

"Achei que tinha ferrado as coisas entre nós dois"

Isso é por causa do beijo?

"Sim"

Vamos esquecer aquilo, ok? Não aconteceu nada demais

"Eu não consigo esquecer... E se tivesse acontecido?"

Sua mensagem me faz pensar; o que eu teria feito se, de fato, tivéssemos nos beijado? Eu contaria a Toby? Sim. Eu ficaria com raiva de Shanks? Não. Nem um pouco.

Se tivesse acontecido, você provavelmente voltaria correndo para Londres, porque eu beijo muito mal, decido arriscar com algo que o faça rir, para ver se todo esse sentimento de culpa que ele tem desaparece.

"Duvido", foi sua resposta.

Quer que eu te prove?, respondo, rindo sozinha. Quando passa um minuto e sua resposta não vem, volto a escrever. Ele provavelmente está surtando. É brincadeirinha, Shanks., mando para ele, rindo.

"Engraçadinha. Quer me matar do coração?"

Eu estou com um sorriso tão largo no rosto que minhas bochechas doem. Como ele conseguia ser tão adorável até mesmo por mensagem? Eu quase consigo vê-lo passando uma mão por seu cabelo, desconfortável.

Desculpe, respondo. Em seguida, mando outra mensagem: Onde você está?

"Estou no pub. Vou tocar hoje à noite. Os caras já chegaram aí? Eles passaram o dia ensaiando comigo, me ajudando a passar algumas músicas novas que escrevi."

Ainda não.

"Quando chegarem, vá conversar com eles. Tem algo que eu mandei pra você", escreve. Sua próxima mensagem chega em seguida. "Ah, se o Yassop quiser te dar parabéns, não o deixe te abraçar. Você sabe como ele é."

Mais uma vez, estou rindo sozinha. Yassop era mesmo oportunista.

Tudo bem. Eu preciso me arrumar agora, vou sair em breve.

"Com Toby?"

Sim. Vamos jantar.

"Se cuide."

Termino de me vestir automaticamente, porque não consigo me concentrar sabendo que Shanks me pediu para espera-lo à noite. Eu nem mesmo me importo com o presente; estou focada no fato de que nós vamos finalmente passar algum tempo juntos, depois de dois dias.

Quando vejo que são sete horas, desço as escadas para esperar Toby na sala. Antes mesmo de me aproximar, já consigo ouvir a risada alta dos garotos. Eles já estavam em casa.

— Minhanossasenhora! – Yassop quase grita quando me vê. – Alguém mais notou que o mundo de repente ficou mais quente?

Eu não consigo segurar a risada. Sua expressão é muito engraçada. Benn se levanta, segura minha mão e me faz dar uma voltinha.

— Sabe, Maki, por que é que você não usa vestido todos os dias?

Felipe cruza os braços sobre o peito, seus olhos arregalados.

— Eu vou ser obrigado a concordar com esses dois idiotas dessa vez.

— Obrigada, gente.

— O Shanks iria pirar se te visse assim – Yassop comenta, rindo. Eu reviro os olhos.

— Onde é que você vai, vestida desse jeito? – Benn pergunta, sorrindo e voltando para o sofá.

— Toby quer me levar para jantar.

Ele assente, mas já não parece mais tão animado. Eu decido que é hora de mudar de assunto.

— Shanks me disse que ele mandou uma coisa para mim e que está com vocês. O que é?

— Ah, verdade! – Benn exclama, saindo correndo para o andar de cima. Quando ele volta, traz em sua mão uma única rosa vermelha e um pequeno envelope.

Eu seguro a flor e abro o envelope o mais rápido que consigo: "Queria estar aí para ver suas bochechas ficando tão vermelhas quanto essa flor". Franzo o cenho. O que ele quis dizer com isso?

E então Yassop, Felipe e Benn começam a tocar e a cantar "Parabéns para você", bem alto. Sinto meu rosto corar, mas não consigo evitar a risada que cresce em meu peito. Os três parecem muito idiotas. Felipe toca o violão e pula de um lado para o outro, enquanto Yassop e Benn têm seus braços ao redor de meus ombros, me abraçando e me balançando no ritmo da música.


***


Depois que a vergonha passou, nós ficamos mais algum tempo conversando, até que me dei conta de que Toby estava quase uma hora atrasado. Tentei ligar para ele, mas não houve resposta. Na decima tentativa, desisti. Ele provavelmente estava preso no trânsito e logo estaria aqui. Por isso, quando percebi que teria de esperar mais um pouco, fiquei na sala com os rapazes, que estavam prestes a começar a assistir algum filme de tiroteio.

Eu me recordo de fechar os olhos por alguns segundos mas, quando os abro novamente, já são quase dez horas da noite. Alguma coisa estava errada. Afinal, era domingo; era quase impossível que houvesse um engarrafamento, mas se acontecesse, não seria longo o bastante para o atrasar quase três horas.

Tento telefonar mais uma vez e, novamente, a única resposta que tenho é a gravação da caixa postal. Benn me observa com cuidado, sua expressão é suave.

— Desculpe, Maki, mas acho que ele não vem – Benn diz, baixinho, esticando um braço para me envolver.

— Eu sei – sussurro.



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