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História Quão profundo é seu amor? - Ka-Bar.


Escrita por: ladymills

Notas do Autor


Rapidinho, né? Quero dizer que eu amei escrever esse capítulo. Espero que também gostem. Boa leitura, seus lindos e os erros serão corrigidos.

Capítulo 3 - Ka-Bar.


Ele tamborilava o copo raso de uísque na bancada. Fitava a Ka-Bar herdada de Rudolf de Locksley. Um objeto que ceifara incontáveis vidas quando servira o corpo de fuzileiro naval na Segunda Guerra Mundial. Tinha certa aversão pela arma, mas sua história fazia sentir-se orgulhoso de Rud. Um herói que lutara bravamente em nome de seu país. Segurou um soluço angustiante que tentara escalar a garganta. Ficara quase febril ao recordar que a sua amada vigarista colocara quase em ruína os negócios de Rud. 

''O que é isso?''

Robin suspirou e continuou a tamborilar levemente o cristal. ''Presente do papai.''

A sombra de Emma despontou em sua lateral e sentou-se na cadeira ao lado. Ele olhou-a através do reflexo do granito branco; os cabelos presos no topo da cabeça enlaçado por um prendedor, expondo os longos fios loiros soltos caídos até os ombros. ''Eu sei. Mas o que faz aqui?'' Ela tomou a faca, analisando como uma perita. 

''Estava pensando em nosso pai.'' Depositou mais um pouco de líquido dentro da pequena taça. ''Ele me presenteou com ela em seu leito de morte. Lembra-se?''

Emma colocou o objeto de volta no lugar com certa lentidão enquanto a cabeça borbulhava com memórias de Rudolf desfalecendo deitado sobre a cama com um dossel anil. Sua cor predileta. Azul como o céu, como costumava dizer. ''Sim. Ele faleceu onde queria: em seu quarto. Pelo menos nós conseguimos realizar esse desejo.''

''Acho que ele não sentiria orgulho de mim.''

A mulher o encarou. A testa criando vincos. ''Está falando besteira. Papai sempre sentiu orgulho de você. Fez faculdade em Harvard e tornou-se o grande empresário que é. De onde tirou isso?''

''Fui descuidado com a nossa empresa, Emma. Empresa que nosso pai fundou. Quase coloquei tudo a perder por causa de uma mulher.'' Ele arquejou. Fechou as mãos atrás da nuca e depositou os cotovelos sobre a bancada. ''Eu não deveria estar a frente da Locksley. Você e David são muito mais competentes.''

''Está errado.'' Debateu. ''Você é um diretor incrível. Tem pulso firme, sabe lidar com qualquer questão, é bastante sociável, apesar de ser um mal humorado.'' Ela riu e ele fechou a cara, o que a faz gargalhar ainda mais. ''Viu como estou certa?'' Em uma ação nostálgica, bagunçou os cabelos de Robin. ''Não sinta-se mal. O que aconteceu, você não poderia prever. É impossível saber o que se passa pela mente de alguém.''

''Fui um tolo em achar que sabia o que se passava pelo coração dela.''

Um silêncio se instalou. Emma o deixou jogado em seus pensamentos. Sabia o quanto Robin a amava. Um relacionamento oculto mais duradouro da vida do irmão mais velho. Sentia-se feliz ao deparar-se com os sorrisos automáticos de Robin, o que era bastante raro quando Regina ainda não fazia parte de seu cotidiano. Ela suspirou. Lembrar-se de Mills desencadeava sensações ruins em seu estômago. Comedida, levou a mão até o dorso do loiro, acariciando delicadamente os dedos dele. ''Há quanto tempo não tem notícias dela?''

''Há três meses.'' Ele a fitou. Os olhos cinzentos como a tarde chuvosa. ''Ela fugiu, Emma. Não importou-se com o eu que sentia. Na verdade, nunca se importou. Tudo sempre fora uma farsa para me roubar, e eu como um idiota, me deixei levar por suas palavras.''

''Você não tem culpa. É uma vítima. Ela o seduziu.'' Apertou a mão dele. ''Até eu não posso negar o quanto Regina era bonita, e o quanto ela parecia ser amável e confiante. Assim como isso aconteceu com você, poderia ter acontecido com David, sabia?''

Robin riu sem humor. ''Isso jamais aconteceria a David. Ele não é um filho da puta viciado em sexo como eu. Sabe se controlar diante de uma mulher gostosa e de boa lábia.'' Praguejou. Retornou olhar fixamente a Ka-Bar...

''Pare de olhá-la desse jeito.'' Rapidamente, pegou o instrumento histórico. ''É melhor colocá-la de volta na caixa.''

''Acha que estou pensando em fazer algo com essa faca?'' Indagou, deixando um sorriso escapar pela ponta da boca.

''Não sei. Diga-me você.''

Ele se levantou, causando um ruído quando a madeira encontrou o assoalho. Engoliu a última gota quente de uísque e enfiou o copo de cristal na bancada. Estendeu a mão para a loira. ''Dei-me.''

''Não gosto da ideia.'' Empurrou a faca na mesa sem soltá-la, deixando-a em uma considerável distância dele.

''Isobel sempre disse para escutar-me por ser seu irmão mais velho. Não pedirei novamente.''

''Não tente usar as palavras de mamãe contra mim.'' Ele aproximou-se. ''Você está bêbado.''

Exausto, Locksley bufou. Enfiou o solo do pé direito descalço sobre o joelho esquerdo, conseguindo manter-se impressionavelmente equilibrado. Emma gargalhou diante da cena boba. ''Pareço bêbado para você?''

''Esse teste é patético.'' Revirou as íris verdes. Relutante, entregou a adaga a Robin. ''Você é patético.''

''Muito obrigado pela confiança e pelo adjetivo carinhoso.'' 

Robin deu alguns passos até a caixa mediana revestida de veludo vermelho depositada em cima da mesa. Abriu-a e com cuidado, abrigou novamente o presente do pai. Demorou alguns instantes alisando-a, como uma caricia em um cachorro preguiçoso. Seus pensamentos estavam à quilômetros de distancia, especificamente, em uma pequena mulher de cabelos negros e lábios fartos.

''Ainda a ama.''

A voz de Emma pairou sobre sua cabeça como uma nuvem carregada. ''Do que está falando?''

''Estou dizendo que ainda ama Regina, e eu não o julgo por isso.''

''Está louca.''

''Certamente.'' Disse com sarcasmo.

''Por que acha que ainda amo a mulher que me enganou, que mexeu com a droga dos meus sentimentos e sumiu?''

''Porque não mandamos em nosso coração, Robin. Há quem diga ''Eu escolhi amar você.'' Isso é conversa. Ninguém escolhe amar ninguém, o amor é quem nos escolhe. Sei que jamais escolheria amar Regina se pudesse, mas sei que seu coração não pensa como seu cérebro. Não tem culpa de ainda estar apaixonado por uma pistoleira.''

''Eu passo longas horas do meu dia tentando esquecê-la.'' Confessou. Apoiou as mãos na mesa e curvou a coluna, fitando o vidro. ''Mas não consigo, Em. Juro que tento, mas Regina não sai da minha cabeça.''

''Muito menos do seu coração.'' Emma concluiu.

''Exatamente. Muito menos do meu coração.'' Encheu os pulmões de ar e o liberou. ''Me arrependo de não tê-la colocado atrás das grades como deveria, pelo menos assim eu saberia de seu paradeiro. Não precisaria remoer meu cérebro buscando pistas.''

''Ela nunca mencionou sobre algum lugar que gostaria de conhecer?''

''Tel Aviv.''

''Israel?''

''Sim. Agora entendo sua obsessão. Não pretende padecer no inferno por conta de seus atos. Santificar-se em um país considerado sagrado antes da morte, seria ter um pé no paraíso.'' Grunhiu em desprezo ao imaginá-la sendo hipócrita perante Deus, tanto quanto foi a ele. 

''Nunca pensou que ela poderia estar escondendo-se lá?''

''Sim.'' Robin virou-se para encarar a irmã. ''Mas acho pouco provável. Ela jamais em suas armações, me daria pistas de sua localização.'' Tomou a caixinha aveludada para guardá-la. ''Mas aonde quer que ela esteja, espero que sofra. Que ela perca as memórias para esquecer que um dia me conheceu.''

***

Jogada no canto como um saco de batatas, a mulher estremecia de frio. Daniel fora perverso, deixando-a apenas com suas roupas intimas que comprara há poucos dias. O lençol maltrapilho fino, mal conseguia aquecê-la. O queixo batia e os dentes rangiam a cada rajada de vento que adentrava pela enorme janela. Conseguia sentir o cheiro de madeira velha exalar por todo o lugar, causando-lhe enjoos. E por vezes, expelia suco gástrico dentro de um balde que fora colocado ali estrategicamente. Amaldiçoou-se um milhão de vezes pelo rumo que sua vida tomara desde o dia que saíra do internato em Londres. A Inglaterra tinha sua graça, mas o que havia no centro dos Estados Unidos, chamaram sua atenção. Os cassinos e as jogatinas em Las Vegas encheria os olhos de qualquer garota disposta a fazer qualquer coisa por dinheiro. Ela raspou os dedos pelo ventre. Uma pequena protuberância se erguia, para dentro de meses, tornar-se grande como uma bola, ou maior. Muito maior. A sensação de um futuro enigmático, a consumia até a ponta das unhas mal cuidadas. 

Ouviu o conhecido barulho da porta se abrir e o viu aparecer dentro de seus ternos caros. ''Está bem aquecida, meu amor?''

''Morra, Daniel.'' Retrucou com os dentes presos.

''Seja uma garota boa e agradeça pelo cobertor e pela lingerie. Poderia deixá-la nua, sabe disso.''

Ela ergueu os olhos até o balde. ''Tire isso daqui. Está fedendo.''

''Espere. Você disse  - Obrigada, Dani? - .'' Indagou, caçoando.

Regina ficou em silêncio e enfiou a cabeça contra a parede de concreto. Os cabelos negros já estavam maiores, chegando até as costas. Apertou o edredom velho nas mãos, deixando os nós dos dedos brancos. Sussurrou algo inaudível que Daniel imaginou ter sido um agradecimento.

''Como? Não ouvi. Por favor, repita.''

Ela respirou profundamente, quase podendo sentir os pulmões através da pele branca de sua barriga. ''Obrigada...'' Daniel fitou-a, esperando. ''Dani.'' Com a última palavra, o estômago embolou-se e ela expeliu vômito sobre o chão, deixando-o com uma expressão de nojo. 

''Muito bem. Mandarei limparem isso.'' 

Young saiu imediatamente por onde entrou. Minutos depois, um de seus capachos retirou o vaso de plástico e colocou outro no lugar. Sob o olhar fatigado de Regina, o mesmo arrancou o seu cobertor e jogou outro para que ela pegasse. Depois que ele saiu, ela engatinhou até um prato com apenas um sanduíche deixado ali no chão. Alimentou-se como um animal faminto; como uma leoa que ficara semanas desprovida de algo para colocar na boca para matar a fome. Limpou os lábios com o dorso da mão e voltou a deliciar-se com o presunto e o queijo jazido dentro do pão que finalmente parecia ser novo. 

Com o pouco de dignidade que ainda lhe restava, levantou-se e caminhou até um livro disposto em cima de uma mesa de aço. Ao tocar o móvel gélido, tremeu de frio. Não tinha sido uma boa ideia ficar sem o cobertor. Tomou o livro e com curiosidade, leu o título: Orgulho e Preconceito. Ela franziu o cenho. Imaginou qual empregado de Daniel se interessaria em ler uma romântica obra literária. Analisou-o. A capa estava dura e as folhas brancas como nuvens. O livro dava sinais de que saíra da livraria há poucos dias. Pensou em pertencer a Vikram. Talvez sua esposa apreciasse uma boa leitura. Ao lembrar-se de Tara, cogitou que a mulher estaria entrando em trabalho de parto dali há algumas semanas. De súbito, um sorriso apareceu em seus lábios, e tão rápido quanto aparecera, sumira. A Sra. Vikram provavelmente teria um parto tranquilo e na companhia de profissionais, enquanto ela... Bem, ela não fazia ideia. Nem ao menos tinha ciência de quando sairia dali. Nem ao menos sabia se sairia viva.

Já se passara três meses e Robin insistia em recusar a proposta imposto por Daniel. Não conseguira decifrar se o que sentia por Locksley fora ódio ou compreensão, afinal, ela o enganou como um idiota. Mas agora ele sabia de sua gravidez. Sabia que Regina esperava um filho dele - ainda que ele tivesse suas prováveis desconfianças sobre a paternidade, ela pensou. No entanto, estava grávida e ponto. Isso não o tocava nem um pouco?

Ela retornou rapidamente para a aresta da sala quando ouviu passos se aproximarem. Enfiou-se dentro dos lençóis e mastigou o último pedaço de pão. ''Bem melhor.'' Daniel disse, olhando-a limpa. 

''Robin.'' Ela gemeu.

''Robin? O que tem ele?'' Ele andou até está agachado diante da mulher medrosa e trêmula.

''Por que ele não quer pagar meu resgate mesmo sabendo que estou grávida dele?''

Young mordeu a ponta do lábio, pensando. ''Bem, acho que ele não acredita que o filho seja dele.''

''Eu não menti quanto a isso. Por que não deixa-me falar com ele? Talvez desse modo Robin aceite a pagar o que está propondo.'' A voz saíra baixa e sútil. Não parecia ser a mesma Regina que conhecera no cassino. ''Por favor. Deixe-me tentar.''

''Sente falta da voz dele, não é?'' Ela fechou os olhos e ele alisou os cabelos negros dela. ''Mas não farei isso. Não falará com Robin. Preciso vê-la sofrer um pouco mais. Isso aqui é uma punição pequena demais para o tamanho da burrada que você fez, não acha?''

Regina cobriu os pés que estavam expostos. Enrolou-se até o pescoço, fitando-o como uma gata assustada. ''Acho que já estou sofrendo o suficiente. Sofrendo por dois.'' Lançou um olhar rápido até o ventre. Daniel tentou tocá-la na barriga, em reflexo, ela o empurrou. ''Não ouse!'' Esbravejou.

''Pelo visto já está sadia.'' 

Ela sentia a raiva de Daniel latejar no pulso quando ele a pegou brutalmente pelo braço, levantando-a. O homem arrastou-a até a mesa de aço e a depositou sentada ali em cima. Arrancou o edredom das mãos dela e o deixou cair no solo. Os dedos longos e ansiosos desabotoaram o sutiã negro de Regina. Ela fechou os punhos. Estava tentando controlar-se. Quando Daniel tocou sua face, ela o mordeu fortemente no braço. Um gemido e um grito de dor ecoou por todo o galpão e o sopé do estômago da morena tremeu. ''Sua puta!'' Young vociferou. Em um pulo, Regina estava com os pés no chão. Correu até a porta mas as mãos grandes de Daniel tomou-a pelo quadril. ''Onde pensa que vai, vagabunda? Depois de tudo o que lhe dei enquanto a comia antes do idiota do Locksley, é assim que me trata?''

Regina se debatia nos braços dele. As lágrimas começavam a rolar inconscientemente. ''Deixe-me em paz. De qualquer forma, você já matou-me em vida.'' Deixou um soluço escapar da garganta.

''Você é como uma barata, Regina. Não adianta pisá-la uma, duas ou três vezes. Você continua lutando pela vida.'' Com força, apertou os braços ao redor do ventre de Mills, ouvindo-a gritar de dor. ''Será que podemos matar um feto desse jeito?'' Cochichou na orelha dela para depois mordiscar. 

''Não faça isso, Daniel. Eu imploro. Não o machuque. Você não pode matá-lo.'' Gritou as últimas palavras. Os olhos vermelhos como sangue. ''Ele não tem culpa alguma. Por favor.''

''Mas a mãe dele tem. Ele deve pagar pelos erros dela.''

O ar nos pulmões estavam se esvaindo. Os lábios soltavam soluços dolorosos. Por um momento, ela sentiu realmente o medo cobrir sua pele como nunca antes. Um manto negro que a puxava para o abismo e tentava levar a criança em seu ventre. As unhas grandes arranhavam as mãos de Daniel, mas não era o suficiente. Tentou socar-lhe o estômago, mas falhou. Ela nunca conseguiria ganhar aquela luta. 

''Então mate-me de uma vez.'' Sussurrou, já sem forças.

Ela ouviu a forte respiração de Daniel atrás de si. De repente, estava livre das garras dele. Seu corpo automaticamente impulsionou-se para frente. Em questão de segundos, sentiu a testa bater contra algo duro e frio. Gemeu por alguns instantes, para depois, cair no vácuo opaco. Horas depois que pareceram ser anos, ela abriu os olhos. Existia duas figuras masculinas olhando-a com curiosidade. Analisando-a calmamente. Agora estava deitada sobre uma cama, porém, ainda no galpão. Com uma dor dormente na testa, ela arrastou-se e apoiou as costas na cabeceira. Cada movimento era vigiado pelos homens.

''Regina?'' Indagou, o mais magro de cabelos castanhos. ''Como está se sentindo?''

A mulher depositou as mãos nas têmporas. Sua expressão demostrava incomodo. ''Minha cabeça está doendo.'' Sussurrou. Agora fora a vez dela de analisá-los ''Onde estou e quem são vocês?''

Daniel fitou Vikram. Um sorriso malicioso despontava em seus lábios. 


Notas Finais


Me digam o que estão achando *-*


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