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História Quase H2O - O Predador de Sonhos.


Escrita por: laia017

Notas do Autor


Não posso confirmar quantas pessoas nesse mundo acreditam em magia, ou em algum objeto que contenha essa força sobrenatural, ou algum ser que não possamos ver, ou se vimos, fingimos não ver. Mas quando se detecta algum indício de existência, mesmo tendo uma mente bloqueada, os olhos fechados para um mundo diferente, os danos poderiam ser tão massivos quanto a própria mente imagina?
Abrindo nossos olhos para eles, talvez a gente se transforme, ou liberte algo que poderia estar trancando?
Bjs <3

Capítulo 25 - O Predador de Sonhos.


Fanfic / Fanfiction Quase H2O - O Predador de Sonhos.

( Duas semanas antes )

O tempo amanheceu gelado, ainda mais quando viajamos dentro de um carro, em plena manhã de sábado, onde as ruas estavam mais movimentadas.

Praticamente quase desmoronava de sono, mesmo tendo tomando um copo forte de café puro, e talvez um pouco de energético. Não muito diferente dos meus amigos, que não só desabaram ainda, por estarem ouvindo as piadas de vovô que Jin sempre contava.

Talvez a má vontade da graça que fugia por vontade própria das piadas, deixavam eles acordados.

 Mas, para me manter acordado, minha concentração estava inteiramente no meu campo magnético, via satélite de energia espalhados pela cidade: pela tela do meu celular, muitos pontos eletromagnéticos que se alarmavam em ondas que se estendiam ao redor, de segundo a segundo.

Gritei derrota por aquilo ter sido uma péssima ideia. Quase tudo ao meu redor emanava energia magnética, seja pouca ou muita.

Solto um suspiro, fervendo por dentro para pensar em algo específico…

A radiação?

Talvez?

Jungkook estava sentado do meu lado, por isso o senti se inclinar para o lado para ver o que tinha na tela do celular que me chamava a atenção.

Jungkook - O quê é isso?

Hoseok - Vai entender se eu explicar? - Viro meu rosto para ele, o encarando, em tédio.

Jungkook - Não. - Negou e se afastou, voltando a olhar para a tela do seu celular. - Mas também, nem tento mais entender as coisas que você faz.

Hoseok - Parou no quinto ano. - Digo, abrindo um sorriso, lembrando da época que estava criando meus sapatos de antigravidade, eles não funcionaram como eu tinha planejado.

Jungkook - Fiquei morrendo de medo, pensando que ia ficar preso no chão, com aqueles sapatos.

Hoseok - Nem pensei em trazer eles-Uh!

O celular captou outra onda magnética; essa vinha diretamente de um prédio que estávamos nos aproximando.

Yoongi - Se não fosse para um trabalho, eu iria estar xingando todo mundo.

Jin - Eu estaciono na frente do prédio ou entramos no estacionamento?

Parou o carro na travessa de dois cruzamentos: uma seguia em frente pela rua, e outra descia em curvas até a entrada do estacionamento no subsolo.

Yoongi - A encarregada me enviou o código, me disse para fazer um cartão com ele, mas nem tive tempo. - Dizia pegando seu celular e procurar o código. - É só aproximar os números na telinha ali e, voilá, passagem liberada.

Jin - Melhor, assim ninguém arranha a tintura do meu filhote.

Sinto o carro tremer por ser ligado, os motores rugindo, voltando a nos movimentar para frente e indo para o lado, começando a descer e virar as curvas até embaixo.

Jimin - Isso é mesmo uma gravadora, quer dizer - Encarava o prédio enorme pela vidraça da janela fechada. -, é muito mais enorme do que eu imaginava.

Estava sentado no assento na frente do meu.

Namjoon - Você não sabe como uma gravadora funciona?

Jimin - Sim… eh… 

Taehyung - Desiste, ele não sabe. - Zombou.

Jimin - Existem milhares de empresas assim na Coreia.

Jin - Mas você não grava os nomes na cabeça, Jimin.

Hoseok - Vamos lá. Como faço? Configurei em casa os comandos. Mas, apenas preciso entrar em contato com meu computador…

Meu corpo foi inclinado para frente, pelo carro que parou, enquanto meus olhos estavam presos nas configurações, que sumiam em segundos pelos meus dedos rápidos, começando a processar.

Yoongi - Que abra-se a luz.

Jungkook - Cacete! Como esse estacionamento é enorme! - Tirou o cinto e foi para frente, ficando entre o espaço aberto dos dois assentos da frente, para poder olhar melhor para fora. - E ainda podem ter mais.

Taehyung - Por que fica tão impressionado? O prédio da empresa do seu pai tem mais ou menos o tamanho desse.

Jungkook - Na largura ou na altura, você quer dizer?

Taehyung - Altura? óbvio.

Jin - Esse prédio é maior, não perceberam o tamanho?

Levanto meus olhos para frente e olho para o estacionamento cheio de carros que pareciam ser bem caros.

Namjoon - Minha mãe tem aquele carro. - Apontou para um dos carros.

Virou o carro para a passagem ao lado, procurando uma vaga aberta.

Jin - Só pelos carros que tem aqui, vejo que esse lugar é bem movimentado.

Jungkook - Cidade dos anjos, amigão.

Deixo ele e ponho minha atenção na tela do celular que ainda estava processando.

Hoseok - Eu preciso urgente de outro Software.

Jungkook - SAAAI DA FRENTE!! - Gritou, passando por cima de mim para afastar o assento da frente e sair do carro.

Com o susto, fico paralisado no lugar, confuso.

Hoseok - Precisa disso mesmo, Jungkook? - Reclamo, tirando meu cinto e me levantando para frente, passando por trás do assento e saindo do carro logo depois. - Você sabe que existem duas portas dos dois lados do carro, não?

Jungkook - Tem cheiro de limpo. - Ansioso e curioso, começou a andar pelo espaço, olhando para todos os lados. Bruscamente, se virou para nós, com um semblante de dúvida. - E onde vamos subir.

Jimin - Tem um elevador bem ali, idiota. - Apontou na direção das portas, revirando os olhos, antes de começar a seguir sozinho. - Estou mais ansioso para saber como é a parte cima do que um simples estacionamento.

Yoongi - Amigo, eles querem a mim! Não um solteiro aposentado! - Gritando, correu até ele.

Jin - Vai ficar aí?

Ficou do meu lado, dando uma batida de leve no meu ombro e me puxando junto ao começar a caminhar na direção dos outros.

Jungkook - VOCÊS VÃO ME DEIXAR PARA TRÁS MESMO?!!! - Gritou desesperado, começando a correr até nós, parando do meu lado. - Tenho que arrumar novos amigos.

Jin - Mas você já tem. Seus ex-colegas do time de futebol americano da escola. Somos Mad Dog ’s!!

Seu grito ecoou no vazio e silencioso subsolo do estacionamento.

Yoongi - Cacete. - Parou em frente ao elevador, do lado do Jimin, e apertou o botão para as portas se abrirem.

Namjoon - Tensão, alegria… - Circulava suas mãos em volta da cabeça do Yoongi. - Um pouco de pânico.

Yoongi - Nem chegou perto.

Jimin - Não finja - Olhou para ele, sorrindo. -, você está nervoso pra caralho.

Yoongi - E quem não estaria no meu lugar-essa porra não vai abrir?!

Após gritar, as portas se abriram na frente de nós, revelando o espaço que era circulado por paredes feitas de vidro.

Jimin - É uma parede feita de vidro? - Perguntou com sua voz alterada, apontando para a parede em frente, num olhar atônito.

Taehyung - Fica calmo. - Sendo irônico, pôs seus braços por cima dos ombros dele e o balançou minimamente. - Não é como se ficássemos há metros do chão?

Namjoon - Tae, você sabe que foi um sacrifício ele subir num avião, todas as cinco vezes! Então não deixe esse desgraçado em pânico para não passarmos vergonha!

Jimin - Aprecio seu carinho por mim. - Dizia numa voz robótica, ainda tendo seu olhar estático para frente.

Hoseok - Jimin, se essa merda é de vidro, pode ter certeza que é segurança é bem reforçada. - Bato minhas costas na parede, sentindo a caixa de vidro subir e ouvir o choro de menininha do Jimin. Prendi meus lábios um no outro para não deixar escapar minha risada, enquanto meus olhos ainda estavam no processamento mais lento da minha vida. - Essa porra não vai, caralho?!

Jimin - Posso desmaiar agora? - Perguntou com sua voz trêmula.

Jungkook - Jimin, seu frango, não é só você que tem medo de altura!! - Enrolou seus braços no braço do Namjoon, numa expressão de falso e forçado pânico, que logo desapareceu para abrir um sorriso. - Ah, me sinto melhor.

Yoongi - Fica calmo, estamos chegando no hall.

Logo ouvi um sino tocar e o elevador parar, logo em seguida as portas se abriram.

Jimin - Saiam, preciso de ar! - Abre seus braços, batendo os mesmos nos meninos e os empurrando para trás, podendo correr apressado para fora do elevador, parecendo um pato desesperado com seus braços estendidos e sendo balançados.

Eu e os outros encaramos ele ainda dentro, rindo do próprio, mas aumentamos a gargalhada quando ele se atrapalhou com os próprios pés ao ver um grupo de funcionários, vestindo ternos, passaram para o corredor e o olharam estranhamente.

Jungkook - Meu momento de fazer bonito. - Soltou o braço do Namjoon, levando sua mão para sua cabeça e bagunçar seu cabelo, após comportando sua jaqueta antes de começar a andar cheio de marra para fora do elevador.

Instantaneamente, os olhares de estranheza se foram ao perceberem Jungkook, quase estáticas e com suas bocas entreabertas.

Hoseok - Ele sabe mesmo fazer isso. - Comento em compreensão, e pouco confuso.

Os meninos saíram, andando calmamente pelo corredor, logo após os sigo, ainda segurando o celular na mão, mas distraído com a cena que meu amigo estava prestes a fazer, escutando: “ Ele é um novo modelo? ”.

Revirei meus olhos e abro um riso ao escutar, debochando da situação, ainda mais quando ele pára e se vira para as meninas, confirmando o que pensavam.

Jungkook - E o que mais poderia ser, preciosidades?

Como estava parado, eu e os meninos passamos do maldito cujo mentiroso.

Yoongi - Eu não tenho tempo para isso. - Resmungou enquanto caminhava apressadamente na nossa frente.

Hoseok - Não entre numa roubada, Jungkook. - Digo ao passar atrás do mesmo, e me aproximando do Jimin que estava parado, franzindo seu semblante enquanto assistia seu amigo a dar seu show, desacreditado. - Apreciando a situação?

Jimin - Eu vou apreciar ainda o que está por vir? - Abre seu sorriso zombeteiro, fixando ainda mais seus olhos nele.

Me viro para ver o que tanto aguardada, e prendo minha gargalhada alta, quando vejo Jin passando por trás dele e o segurar pela gola da jaqueta, estando com uma feição nada animada enquanto arrastava nosso amigo com dignidade.

Jungkook - Calma, Jin! Mais um minuto! - Reclamava com indignação, levantando seus braços para poder segurar no braço que o puxava, estando com passos atrapalhados. Tirou sua atenção do Jin e virou para as meninas, que já estavam dentro do elevador, ainda gargalhando. - Meninas, eu espero encontrar vocês mais vezes!

Jimin - É apenas por isso que sou amigo desse cara. - Choramingando entre as gargalhadas, se virou, comigo do seu lado, para continuar a caminhar e alcançar os outros que estavam mais para frente, e que riam por ter assistido o que Jin havia feito.

Minha boca estava aberta, mas nenhum som saia.

Jungkook - O quêÊÊÊÊÊ?!!! ESPERAAAA!! Você anda comigo para me ver me FERRADO?!! Isso é triste, PARKEEE!!! ME SOLTA, PORRA!!

Com seu grito ecoando, tirou ainda mais gargalhadas exaltadas de todos. 

Sugo o ar, por quase engasgar e solto o meu grito fino e alto, do lado do Jimin que tinha seus olhos fechados com força e gritava entre suas risadas, segurava meu braço com firmeza e me balançava enquanto caminhávamos até o grupo.

Jimin - Ainda… não… percebeu? - Sem ar, com a voz fina, falou entre pausas pelas tentativas de puxar o ar, mas logo voltou a rir, soltando meu braço e batendo suas mãos, sem controle algum. - O Jin… puxando ele como um bonequinho. E os bracinhos…

Viramos o corredor juntos, ainda rindo sem controle.

Jungkook - Então é assim?! ME SOLTA, JIN!! AGORA A PORRA VAI FICAR LOUCA!!

Namjoon - Jin, dessa vez você se superou!

Hoseok - Cuidado que o cão adestrado vai se soltar da coleira. - Zombo ao me virar para trás, fazendo gestos com meus dedos na frente do rosto.

Assisto ele se livrar da jaqueta, soltando seus braços das mangas compridas, girando pelo espaço do corredor vazio e se afastar com desespero do Jin.

Jungkook - HÁ!! - Gritou, aprontando com maior orgulho para nós. - EU SOU INCRÍVEL!!!

Jin - Senta lá! - Caminhando tranquilamente, jogou a jaqueta com força que caiu sobre o rosto dele.

E como uma bomba, nós gritamos em gargalhadas descontroladas, com o próprio Jin que também caiu no riso, vendo Jeon ainda imóvel.

Jungkook - AAAAH!!! - Gritou com o ódio subindo de dentro da garganta e explodindo para fora; agarrou sua jaqueta e a tirou de cima da cabeça; nos olhando com fogo nos olhos; prendendo seus lábios, um ao outro, e abrindo suas narinas para respirar e inspirar, fervorosamente.

Taehyung - Eu acho melhor a gente correr!

Ao mesmo tempo, nos viramos, deixando nossas almas para trás, para começar a correr como nunca para longe dele.

Dava tudo de mim, por saber que ele corre como ninguém. 

Jungkook - VOLTA AQUIIII!!! - Gritou, começando a correr com irá para nossa direção. - SEUS FILHOS DA PUTA!!!  EU VOU MATAR TODOS VOCÊS!!!

As pessoas que apareciam saindo de dentro das portas ficavam nos olhando assustados, alguns bravos pelo barulho e a bagunça que estávamos fazendo na empresa, ainda mais pelo Jungkook estar gritando em coreano.

Logo mais para frente, saímos do corredor para entrarmos no hall do prédio, o mesmo que estava cheio de engravatados e mulheres agrupadas em grupos, dentro outras que circulavam pelo lugar. Entrando e saindo pelas portas duplas, e enormes, feitas de vidro da frente.

Com isso, até por educação, nós paramos mas acabamos batendo uns nos outros pela força brusca que usamos para correr e também para parar.

Yoongi - Meu ombro, Jimin… - Resmungou entre os dentes, movimentando os dois ombros e caminhando para frente, para se afastar.

Jungkook - AGORA VOCÊS VÃ-

Rapidamente, Namjoon o segura entre seus braços e põe sua mão por cima da boca dele, mas seu grito foi o suficiente para chamar a atenção de todos, que viraram seus olhos incomodados na nossa direção.

Dava para perceber que eram pessoas de classes altas, ainda mais das várias mulheres que estavam em grupos, pelo olhar de desprezo que nos deram.

Até me senti meio mal por tanto olhar negativo de uma só vez.

Jin - Desculpem. - Diz com educação, com um sorriso gentil, mas que logo foi desfeito para deixar um rosto cheio de ódio ao se virar para Jungkook, que se acanhou nos braços do Namjoon. - Agora, sou eu quem vou te matar.

Jungkook - Nnahn… pohne.

Yoongi - Não entendemos nada, cabeça de ovo. - Dizia mal-humorado, revirando seus olhos e andando apressado para o balcão da recepcionista.

Jimin - Acho que é melhor nem olhar. - Comentou antes de começar a caminhar.

Começamos a caminhar dentro do ar de constrangimento, por mais que estivéssemos nos divertindo lá trás e mal ligando para quem nos olhava, mas agora me dei conta que olhares de desprezo das mulheres nos acanham, principalmente a mim, que fiquei calado e apertando o celular.

Paro um pouco distante do balcão, como todos deles, ouvindo a voz de fundo do Jungkook por se soltar do Namjoon.

Jungkook - Nunca mais façam isso, entenderam?

Taehyung - Quem começou? - Provocou, abrindo um sorriso de canto, deixando seu olhar para a vista que tínhamos através das vidraças.

Jungkook - Vão querer ter um amigo a menos? - Ameaçou, rangendo entre os dentes, dando seus passos brutos para ir até ele.

Jimin - Já estou preparado para a próxima. - Sorrindo, deu de ombros.

Jin - Vocês querem parar. - Os repreendeu. - Não podemos vir para um lugar sem passarmos vergonha.

Hoseok - Até parece que não conhece os próprios amigos. - Comento, virando a tela do celular para cima e vendo porque da demorada. - Aconteceu alguma coisa em casa?

De repente, ouvi repentinos falatórios ao mesmo tempo e flash 's sem intervalos sendo batidos na minha esquerda.

Namjoon - Tem algum famoso aqui?

Levanto meus olhos para a direção, vendo uma multidão circulando alguém que saiu de um dos elevadores ao lado. Abro um sorriso por ver como os fotógrafos caminhavam, cada passo de um centímetro para acompanhar quem quer que fosse.

- Vocês podem, por favor, abrir espaço! -

Alguém gritou no meio da multidão, que se abriu, e de dentro dela saiu uma garota, que tinha um andar de presença forte; se virou para os vários fotógrafos e tirou seus óculos escuros, abrindo um sorriso e fazendo sua pose para as fotos acompanhadas dos flash 's infinitos.

Um homem loiro e alto a acompanhou, ficando dois metros afastado da garota: tinha uma feição rígida enquanto observava cada um dos fotógrafos, e rigidamente.

A agitação do lugar também aumentou, principalmente entre as garotas que estavam por ali, demonstrando estarem ainda mais animadas e com a língua solta.

Não sei como eles sobrevivem? Ou ela?

Minha atenção foi tirada por uma voz fresca, seca, e rude, que estava se desfazendo de alguém de uma forma gratuita, e alta.

Viro na direção e vejo um grupo de garotas próximas do balcão, onde Yoongi estava centímetros para o lado, com uma em específico quase em cima de uma garota que tinha as roupas mais básicas que todas daquele lugar.

A menina tinha um olhar assustado e constrangido, e mesmo tendo a pele negra, eu podia ver o quão seu rosto estava corado. Tinha seus olhos para baixo, ouvindo tudo, e calada, que saia da boca daquela alta e loira de salto alto.

Com tantos insultos, o silêncio aumentava a sua voz irritante e enjoada.

Com o choque, e por não ter ninguém que se moveu para ajudar a garota, o nervosismo bateu em mim e me deixou imóvel.

E quando a garota tentou rebater, a loira aumentou a voz e a expulsou da empresa: “ Pessoas como você, jamais deveria entrar num lugar como esse, rato de esgoto ”. Disse ela com um desprezo que revirou o meu estômago.

De canto, eu vi, lentamente, Yoongi virar seu rosto na direção dela, já que estava mais perto, estando com uma feição macabra.

- Você quer calar a boca!!

Os gritos de duplas vozes em revolta foram ouvidos por todos, vindos do meu amigo e da própria garota que estava sendo a atração das câmeras.

- Me deem licença, amorzinhos. -

Tendo um semblante nada amigável, a garota começou a caminhar bravamente na direção das garotas, atrevidamente se colocando entre a altona e a garota; olhava para a alta de baixo, mas com uma energia familiar no olhar, que intimidava qualquer um.

Franzi e cerrei meus olhos para tentar me lembrar de onde reconhecia aquele ar de autoridade suprema.

- L-L-Layne! - A loira expressou com animação exagerada, tendo um sorriso largo, tirando o semblante de puro nojo que tinha segundo antes. - É você, em pessoa na minha frente! Eu sou muito sua fã! Adoro demais o seu trabalho!

Layne - Já eu, posso dizer o contrário! - Respondeu com a voz alta e grave, demonstrando sua irritação, num olhar profundo e fixo.

Aquele tom também era familiar.

- C-como? Para de brincadeira… - Desconcertada, tentou disfarçar forçando uma amizade, mas a Layne não retribuiu.

Layne - Parar de brincadeira? Deveria fazer essa mesma pergunta para si mesma, bolsa da Chanel invertida em tecido da maracutaia!

Agora, o silêncio foi abafado por sussurros com flash ‘s.

Layne - Quem você é para expulsar essa garota daqui? É dona desse lugar…? Alguma parente? Britney Spears? Lady Gaga? Ah! Presidente dos Estados Unidos?! Uhhh, Beyoncé?! - Irônica, pronunciava os nomes aleatoriamente com um sorriso forçado, tendo um olhar e um tom irônico e sarcástico para com o rosto constrangido e irritado da loira. - Já sei! A própria Batman?!

- Licença. - A garota atrás de si se manifestou, ainda constrangida e mantendo sua voz baixa, fazendo Layne se virar. - Isso não é grande coisa.

Layne - Tem razão! - Responde com humor e se virou para a loira. - É uma enorme coisa a se fazer!!

- Olha, m-me… 

Layne - Me-me-me… - Imitou com a voz alterada, fina, balançando sua cabeça de um lado para o outro, até parar e continuar séria. - Me poupe, nos poupe, se poupe dessa vergonha de dar uma desculpa por conveniência, por estar tendo várias câmeras apontadas para você, ou você é distraída demais para perceber, fazendo uma cena tão desumana que dá até pena da pessoa que o faz!

- Lay… -

Layne - Não se atreva a dizer meu nome nessa boca imunda e dê meia volta para dar o fora, antes que eu chame os seguranças para que te tirem daqui a força, e vai por mim, isso é bem mais humilhante do que sair por aquelas portas sozinha, por não ter conseguido passar no Casting...! - Ficou em silêncio, tendo a bravura no olhar que acanhou a loira. Voltou a abrir um sorriso astuto. - Ou será que não?

- Não saio. - Retrucou, batendo o pé e empinando seu nariz, fazendo um beicinho de birra.

- Carli, é melhor você…

Carli - Não dê palpites, nojenta!

Layne - Se é assim. - Se virou para o homem loiro. - Adam! Ligue para o Carl para que contrate ela!

Arregalei meus olhos com a autoridade que aparentava ter, a suavidade que tinha na voz para comandar.

- O quê?! N-não precisa.

Layne - Amiga - Se virou para ela, sorrindo. -, eu não preciso fazer um Casting com você para saber que é talentosa. Eu tenho um faro especial para isso. E a outra oxigenada aqui atrás não tem nada disso, além de uma boa transa na cama. Pode acompanhar um dos meus agentes, ele vai te levar até a sala do Carl, não precisa ficar nervosa.

- E-eu não sei se… posso aceitar…

Sua voz trêmula entregava que estava mais nervosa do que aparentava estar, mas seus olhos brilhantes pelas lágrimas se formando podia passar sua gratidão.

Layne - Qual seu nome?

Sônia. - Sônia.

Layne - Bem vinda a bordo, Sônia. Vejo você amanhã no set de fotos.

 - Me acompanhe. - Um homem a chamou, segurando um tablet na mão.

Sônia - Obrigada. - Sorrindo, dando pulos ansiosos de alegria, foi na direção dela a abraçou com força.

Layne - De nada. - Retribuiu com um sorriso largo.

Sônia - Não sei como posso agradecer, mas prometo que farei o meu melhor.

Layne - Faça isso.

Acompanhou com o olhar a menina seguindo seu agente até o segundo elevador, mas rapidamente se virou para a loira.

Layne - A próxima vez que pensar em fazer um Casting, ou qualquer outra merda da sua vida, trate bem aqueles que estão em volta de você. Certamente eles merecem mais do que uma pati como você… - Fez uma expressão de desgosto. - Nossa, nem fazer um trabalho de uma patricinha mimada faz um direito… Cai fora!

Meu celular vibrou, me tirando do momento glorioso para me avisar sobre o processamento foi concluído.

Hoseok - Depois de anos você conseguiu processar, merda. - Levanto o mesmo entre minhas mãos, não vendo nada no radar de cinco quadras. Arrasto meus dedos sobre a tela, para aproximar a tela para o prédio onde estava, novamente nada. - Decepção, o nome.

Carli - Onde pensa que vai?! Seu filme está queimado, Betty, a esquisitona! Eu vou tuitar essa humilhação, mostrar para todos que tipo de pessoa você é!

Então, um ponto de ondas de radiação apareceu na tela do celular, fazendo o alarme se agitar, por indicar setenta por cento de perigo que vinha das ondas.

Minha respiração pesou, e meu corpo enrijeceu, me deixando perplexo e confuso com o que via, também me alarmou pelas ondas estarem indicando virem, exatamente, a quase três metros de mim.

Estático, levanto meu olhar perplexo e inquieto para frente, exatamente no mesmo instante que o celular na mão da loira explode numa luz forte, soltando uma fumaça tensa.

Me tremo pelo susto, dando passos para trás.

Todos em volta tiveram a mesma reação, e foram ajudar a garota que jogou o aparelho no chão, que, estranhamente, não continuou com fogo, apenas com a fumaça escapando. 

Ainda em choque, abaixo meu olhar para ver se ainda tinha algum indício de radiação, o que explicava, em teoria, a exploração, mas não. Apenas - 0,09 - pontos de radiação pelos materiais do próprio celular. 

Salvo a gravação, ainda estático.

Namjoon - Hoseok, você está bem? - Perguntou com preocupação ao se aproximar. 

Hoseok - Aham. - Assunto minimamente, com os olhos cravados na tela, agora, limpa. 

Layne - Deveria pedir um reembolso… E fica bem. - Se virou para ir embora, enquanto colocava de volta seu óculos escuro, acabando nos notando e franzindo suas sobrancelhas por curiosidade. Levantou sua mão e apontou para nós. - Vieram para o casting? 

Yoongi - Contrato com a gravadora. - Responde com a voz seca. 

Layne - É uma pena. Iriam passar facilmente, como cãezinhos em dia de cio. Principalmente o carinha mal de jaqueta de couro. - Voltou a se virar para o restante das garotas, que pareciam angustiadas. - A próxima sessão será amanhã de manhã, no mesmo horário. E pensem bem antes de fazer o mesmo que ela. Já viram a vergonha, não? Adam!

Tomou seus passos perfeitos, batendo a sola dos seus saltos no chão, que ecoavam o som, estando com seu ar autoritário exalado para nós.

Jungkook - Com certeza vou voltar. - Comentou, movendo minimamente sua boca por quase estar babando pela garota.

Jin - Fecha a boca, fazendo um enorme favor.

Yoongi - Essa daí desse ser alguma filhinha de papai que trabalha aqui. - Comentou rudemente, mantendo seu olhar fixo sobre ela, que passava das portas do prédio e indo até um carro em frente.

Taehyung - Sendo filhinha de papai, colocou ordens na casinha de milhões de dólares.

Jimin - Ninguém vai comentar o fato do celular da outra ter explodido.

Namjoon - Ninguém se importa. Então, Yoongi, não vai subir?

Yoongi - O cara está sendo avisado.

O mundo em volta não estava me importando em nada, apenas quebrando a minha cabeça do porquê daquele registro alto de radiação poucos metros de mim.

( Atualmente )

Ainda lembrava daquele dia, pela preocupação, mais pela curiosidade, por isso pensava em várias respostas contingentes para aquele fenômeno, sendo que o mais perto que cheguei foi a radiação que saía do próprio aparelho, mas o que me quebrava a cabeça, era a alta contagem de porcentagem de radiação que aquilo emanava.

Por isso que passei as últimas semanas trabalhando em algo para rastrear aquele tipo de radiação, pelos próprios satélites de energia da cidade, mas os poucos que encontrei, não eram nada, nenhuma célula, parecida com que captei naquele dia.

Um catalisador, preparei um capaz de aumentar a reação de um celular exposto à uma desgraça volátil de energia, capaz de queimar as lâmpadas de uma casa inteira, ou até mais, apenas para descobrir se emitia os mesmos sinais de radiação…

Novamente nada, apenas outra explosão, dessa vez mais violenta.

Preparei tudo nessa madrugada, enquanto os meus amigos estavam ocupados demais para prestar atenção em mim.

Seguia teimando com meu pensamento, pela simples razão de ter um sexto sentido que me martelava a cabeça, me dizendo que aquele fenômeno não era algo normal, e ficava tão inquieto e aflito, agoniado, quase desesperado, por não conseguir uma resposta plausível. Esse problema, juntando com a minha busca interminável pelo cubo, me tirava o sono por algumas noites, tanto que não tinha nenhum sinal de sono quando amanheceu, diferente dos outros que dormiram jogados pela ilha.

A insônia me fazia beber remédio para conseguir dormir.

Minha sede por conhecimento, por muitas vezes, me destruía, por dentro e por fora.

E tudo piorava, pelas partículas captadas que não eram, e jamais serão, iguais aos que já foram descobertas pelo mundo afora.

Mais um peso caía sobre mim.

E por medo, eu não toquei em nenhum arquivo relacionado à elas, por mais que eu me mordesse de vontade, com os olhos revirados, gritando com os pulmões ardendo, meu corpo se remoendo pela profunda agonia, de pular em cima e estudar como um louco, eu não fiz.

Os ventos quentes do dia, batiam sobre mim, enquanto meu corpo balançava pela força que a lancha seguia pelo mar calmo. Ao invés de me distrair com a vista, os meus olhos desanimados estavam na tela do celular…

 

/ … Processando … Processando ... Processando ... /

 

Procurava sinal, por ainda estarmos perto da Ilha Mako: éramos os últimos a sairmos da ilha pelo peso da organização cair sobre nossos ombros.

Os nossos “ amigos ” fugiram quando tiveram oportunidade.

Tener - Vocês podem fazer guerra de bola de água, sabem, o contrário de guerra de bola de neve. - Dizia energético pela animação.

Maria - Vocês já fizeram uma escultura de gelo do Mjolnir?

Yngrid - Vocês tão tendo umas idéias que eu nunca pensei antes, caralho! Toca aqui, irmãos! - Levantou seus braços e caminhou até eles, batendo nas mãos dos dois.

Jimin - E olha que o Jungkook é o maior retardado de nós sete, e no máximo, ele perguntou como elas tomavam banho.

Com seu comentário, todo mundo começou a rir.

Jungkook - Eu apenas não fiz mais perguntas, para elas não acharem que estava me aproveitando!

Lais - Agora mesmo que vou fazer várias cozitas. Haha! - Riu como uma psicopata.

Jungkook - Posso te dar referências.

Lais - Jungkook, eu sou uma guria bem informada do mundo pop, obrigada!

Tener - Se ele quiser, estou aqui!

Jungkook - Porque não dá em cima dos outros caras?! Mas é meio óbvio que a resposta para essa pergunta, é que sou mais eu.

Tener - Não está errado, mas já é um trabalho do caralho ficar indo atrás de você, isso cansa. - Franziu sua feição cansada.

Jungkook - Sério? - Seu sorriso se abre psicopaticamente, se virando bruscamente para correr pela lancha. - EU VOU CONTINUAR TORNANDO ISSO BEEEEM MAIS CANSATIVA!!

Todos encaravam ele numa expressão, também, cansada.

Tener - Bom… - Deu de ombros e se afastou das barras de segurança que circulavam a lancha, para ir atrás dele. -, se ele quer assim, quem sou eu para reclamar.

Taehyung - JUNGKOOK, SE VOCÊ QUERIA SE LIVRAR DO PROBLEMA, FAZENDO CARA DE BOM MOÇO, SÓ PIOROU SUA SITUAÇÃO!!

Yngrid - Enquanto os retardados fazem o show, estou com uma ideia para fazer! - Sugeriu, estando com seu sempre sorriso de possuída.

Maria - Amigaaaa! - Caminhou até ela, levantando uma garrafa cheia, mas com um sorriso sarcástico para a Thais. - E para aqueles que se incomodam, essa bebida apenas tem cinco por cento de álcool, infelizmente! Feliz?

Thais - E porque você olhou diretamente pra mim?

Maria - Por que você odeia animação, e tem raiva de quem têm!

Thais - É segurança. Só para lembrar, a última vez que fiquei bêbada, foi no exato dia que tive minha primeira crise à luz do Luar, e meio que isso te coloca traumas!

Yngrid - Diga isso só por você!

Lais - Eu dou o foda-se e bebo mesmo… o meu toddynho que eu ganho mais.

Maria - Foda-se!

Yngrid - Cabelo de unicórnio, abre a garrafa! Já sei o que vou fazer!

Coloco novamente o meu olhar sobre a tela, num completo tédio e desânimo, mas quase deixo o celular escapar entre meus dedos pelo mesmo optar por mostrar outras ondas de radiação a quase dois metros de mim.

 

/ Processo de dados compatíveis: Onda localizada /

/ Nível de radiação: 1, 01 % /

 

Minha respiração acelerou, e meu coração pulsou forte, o arrepio subiu minha espinha pela ansiedade.

Lentamente levanto meus olhos e vejo o líquido flutuando para fora da garrafa, voltando com meu olhar para a tela e vendo a mesma forma vendo sendo reproduzida; aumento a visão ampla para me chocar mais com a forma mais próxima e mudando de segundo em segundo.

Arrasto a tela para o lado, trazendo a barra às nanopartículas em movimento constante, sem multiplicações ou agitações extremas; as partículas eram suaves com base ao movimento que Yngrid movia sua mão, mas o término da forma fez com que as partículas parassem de se mover, ficando perfeitamente alinhados em círculos densos no centro e se dissipando nas bordas.

Nanopartículas essas que se comparavam assustadoramente com as mesmas partículas das ondas de radiação que captei semanas atrás.

E para meu espanto, a própria programação fez o trabalho de comparar as partículas da radiação de hoje com as que captei semana passada: as duas tinham vários dos pontos destacados compatíveis, mas a minoria nitidamente incompatíveis uns com os outros.

Hoseok - Ai meu Deus.

No restante do caminho, parecia que havia um campo que me separava dos outros, que tinham arco-íris em volta, enquanto eu, nuvens cinzas escuras e trovões.

Minha mente estava em fagulhas, trabalhando sem parar em como trabalhar por cima dessas partículas, das possíveis células encontradas, nas infinitas possibilidades, os caminhos, que isso poderia abrir.

E, pela primeira vez, estava com medo de mim mesmo, de não me conter e colocar as mãos nisso que parecia ouro aos meus olhos. O meu pior pesadelo era ficar obcecado à algo em relação às meninas como Taehyung ficou, não queria mesmo fazer isso pelas costas delas, por mais que já estivesse fazendo há meses.

- Para bailar La Bamba! Para bailar La Bamba! Se necesita una poca de gracia! -

Escutava os gritos da cantoria deles, com um fundo de toque de violão, caminhando pelas ruas do lado deles, segurando as lágrimas de verdadeiro desespero que ameaçavam sair.

Lais - ARRIBA!!

Thais - ABAJO!!

Gritaram nas ruas com Jungkook passando rapidamente a ponta da palheta nas cordas do violão, fazendo um som instigante.

Yoongi - MEU VIOLÃÃÃÃO!! - Gritou, desesperado.

Yngrid - Por ti sere!! - Se virou para ele, apontando seu indicador, cantando, balançando seu corpo numa dança. - Por ti sere! Por ti sere!

Yoongi - Eu não conheço essa música, e nem nenhuma de vocês.

Jimin - Estamos passando vergonha!

Yngrid - Yo no soy marinero!! ARRASA, JOÃO BISCOITO!!

Jungkook - Me chamou de quê?!

 Lais - Yo no soy marinero, soy capitán! 

- ¡Soy capitán!! Soy capitán!! -

A bagunça dos gritos de intensificou numa dança desorganizada das meninas. 

Yngrid - Bamba, La bamba!! - Levantou seus braços e começou a correr na frente de nós, mas, assustadoramente parou e se virou. - QUEM DE VOCÊS PODE ME LEVAR NAS COSTAS?!!!

Sue - EU APOSTO NO JUNGKOOK!!!

Jungkook - Sinto em informar, ruivinha, que minhas costas já estão ocupadas. - Dizendo, parou de tocar o violão, levantando ele com as mãos, passando por cima dos ombros para o pôr sobre as costas, cinicamente. - Mas, se a senhorita quiser…

Carmen - Não dê em cima dela na minha frente, punheteiro! - Levantou a voz, o olhando com um olhar severo.

Jungkook - Se houver uma possibilidade de nós servos rivais de interesses, pela conquista honrosa da Sue, eu não sinto em informar que perderá humilhantemente, mas… - Dizia no seu humilde sarcasmo. - se desistir agora, eu sempre irei considerá-la uma forte combatente pela preservação feminina, as quais acho, abundantemente, maravilhosas.

Carmen - Eu devo te arremessar nessa lata de lixo, ou prefere algo ainda mais leve, Cara de bolacha? - Sugere, ironicamente, em seu olhar de tédio aparente.

Jungkook - Carmen, existe uma chance de você…

Carmen - Não gosto de pau, se é isso que iria perguntar. Aliás, eu nunca gostei de um!! - Respondeu rudemente, com um mínimo sorriso. - E só quase te matei, por ela, agora, ser minha irmã de consideração. Já considerava, mas agora, por união de pais.

Jungkook - Aha. - Assentiu, pensativo, voltando com seu olhar guloso para cima da Sue. - Su…

Sue - Desculpa, Jeon, você pode ser um gostoso, maravilhoso, com um corpo escultural, mas… - Virou seus olhos brilhantes para ele, abrindo um sorriso. - não faz o meu tipo.

Jungkook - . . . . - Ficou em silêncio, pensativo e confuso. - Lais! Suas novas amigas são tem os parafusos no lugar!!

Lais - VOCÊ É UM TARADO NATO, JUNGKOOK!! NENHUMA DELAS VAI TE QUERER!!

Mesmo estando numa total agonia dentro de mim, a companhia de todos eles estavam humanizando as coisas para minha mente explosiva. Me sentia bem mais leve do que minutos atrás.

Yngrid - Uni… Duni! NAMJOON!! - Correu até ficar atrás dele e pulou, se pendurando nas costas dele. - E não se atreva a me apertar com segundas intenções. Eu sei que sua mente é corrompida, hentai!

Namjoon - Eu posso ter uma mente tarada. - Segurou nas coxas dela com firmeza e voltou a caminhar. - Mas nunca por você!

Yngrid - Óbvio, porque sou inteligente demais para não cair na sua conversa, aliás, na conversa de todos vocês! Punheteiros de rabo de saia!

Jungkook - Me sinto lisonjeado pelo elogio.

Jin - Eu não.

Yngrid - Você também, Kim!! Sabe que não sei!

Jin - Menina! - Arregalou seus olhos e apontou para ela. - Jamais entre na minha cabeça!

Yngrid - Mesmo se quisesse, não faço. Não quero ficar me remoendo de dor de cabeça com dramas de outras pessoas. Já tenho meu próprio drama, não preciso assistir os dos outros. E MARIA!!

Namjoon - Meu ouvido… 

Yngrid - Depois preciso de falar uma coisa… - Abre seu sorriso psicopata com um olhar doentio para a amiga.

Engulo seco, não sabia como eles aguentam.

Maria - Suspeito, em, Yndi. - Cerrou o olhar, mas logo sorriu. - Fico no aguardo.

Yoongi - Tener, eu posso suportar que você abuse de mim, apertando minha bunda, uma vez. Processar a informação na segunda vez, mas na terceira!!

Tener - Sua voz grave é tão sexy quando fica grave. Continue!

Jungkook - Isso, continua!

Tener - Calma, Jungkook, ainda tem um pouco para você!!

Abro um sorriso no rosto por não aguentar a pressão entre os dois. Não sei como eles não ficam juntos? Já que, uma vez, Jungkook experimentou como era se relacionar com um homem, e foi no começo do ano passado.

A zombaria continuou entre eles, até atravessarmos a curva da rua da casa dos Kim, por nos depararmos com uma multidão de fotógrafos entre carros e vans na frente da casa dela. Mesmo com a possibilidade sendo baixa, pensei mesmo que a cauda delas foi descoberta, mas se fosse isso, acho que teria mais do que simples fotógrafos esperando por ela.

Pela feição das próprias, devo presumir que deviam ter pensado o mesmo.

Esse pensamento se foi quando vimos os mesmos se agitarem quando viram um carro aparecendo no outro lado da rua, um carro que me lembrava de bem tinha visto.

Hoseok - Aquela garota…

Continuamos a caminhar pela rua, agora com passos mais lentos, por estarmos encarando a chegada do carro em frente à casa que era cercada por um muro alto de grades brancas, do lado contrário à dos meus amigos.

Yoongi - A pagante a dona da empresa? - Rudemente disse.

Jimin - Tem algo contra ela?

Yoongi - E porque deveria ter alguma coisa contra? Mal conheço a garota?

Jimin - Parece que tem.

Yoongi - Não, não tenho.

Jimin - Sim, tem sim! - Se virou para ele, sorrindo. - Percebo nitidamente nesse seu rostinho de limão azedo.

Tener - Amassado com sal, diga-se de passagem.

Enquanto nos aproximávamos ainda mais, notava aquela mesma garota saindo de dentro do carro, agora vestida com roupas mais básicas, mas ainda sim com ele ar de autoridade e o natural deboche, simpatizando gentilmente com vários fotógrafos e os entrevistados que seguravam microfones ao redor, e o seu ajudante logo atrás, sem acompanhada dos seus óculos escuros.

Tener - Ai, papai, para tudo! - Espantado, com a boca quase arrastando no chão, passou por nós para ir até as suas amigas. - Eu não creio que ela vai ser sua vizinha, Lais.

Thais - Ela é bem mais alta do que nas telas. - Comentou.

Lais - E quem é ela?

Stancy - Não se lembra que fomos, semana passada, no cinema para assistir As Férias de Verão: Segundo Passaporte?

Lais - Aaaah. - Assentiu calmamente, mas logo para e arregala seus olhos. - Nããããh.

- Sim!! - 

Todos eles retrucaram, assentindo, sem tirar os olhos dela.

Taehyung - Como se isso fosse estranho? Aqui é Califórnia, tem bastante famosos por aqui… Mas não um que morasse tão perto. - Abre um sorriso malicioso. - É por isso que eu reconhecia esse rostinho de algum lugar. Por isso que a loira chamou ela de Betty, a esquisitona.

Maria - Apenas nos dois primeiros livros, porque na terceira parte, a amada vai se transformar na própria Beyoncé nas férias do segundo ano para o terceiro. Todos os fãs do livro adoram a parte quando ela chega na escola, no final do livro, toda transformada e cada um ter o cu da bunda caído quando vê ela, todo mundo que zoava dela, o deboche em pessoa! Todo mundo tá surtando com a notícia da continuação! - Dava pulos ansiosos, com um sorriso animado no rosto, entre a explicação, mas que logo parou e alargou um sorriso de canto e um olhar de segundas intenções. - E se a própria atriz está aqui, podemos ter informações privilegiadas!

Jungkook - Se essa famosinha, que me adorou, abrindo a mente de vocês, descobrir que tem um grupo de retardados morando do lado, vai querer se mandar rapidinho.

Mal dava para ver direito seu rosto, com óculos que usava.

Yngrid - Minha filha, assim fica difícil tirar uma foto sua… - Reclamou, apontando a câmera do seu celular na direção dela, mas meu amigo se mexia por estar, visivelmente, incomodado com o peso. - Namjoon, merda, fica parado aí embaixo, caralho!

Namjoon - Me desculpa, mas fiquei acordado a noite inteira, e só estou de pé aqui, porque meu estômago deseja as panquecas macias da Senhora Kim!

Yngrid - Então vê se colabora, depois desço, amado!

Jimin - Ela já esteve na Coreia, não? Eu me lembro, uma vez, que já vi ela por Seul.

Sue - Ela gravou uma das cenas na Coreia… As trocas dos passaportes são… “ acidente ”.

Jimin - Por que “ Acidente ”? - Fez aspas com os dedos.

Sue - Assista ao filme, ou melhor, você só vai descobrir no terceiro e penúltimo livro… O próximo filme… - Sua voz rouca, indicou que prendeu o grito na garganta.

Lais - Acho que temos que... né? Ir? - Estendeu seus braços para frente, apontando suas mãos com insistência para a rua.

Yngrid - Não! Curiosidade mata, sabia?

Namjoon - Peso também… - Falou com voz rouca.

Yngrid - Ah, também! Menininha! Me solta! Mas com calma, cacete. Não vai me soltar para me deixar cair no chão.

Namjoon - Não é má ideia. - Abre um sorriso, aceitando a ideia.

Yngrid - Não se areva! - Bate nas costas dele, com força.

Volto com minha atenção para a atriz, e a vejo tirar seus óculos para sorrir para as câmeras que não paravam com os flash ‘s.

Lais - É, ela não mudou nada… Só cresceu muito! - Comentava em voz alta e pensativa.

Maria - E como ela não vai crescer? É também a Modelo Teen mais bem paga do momento.

Lais - Posso falar uma coisa que eu não falei pra vocês semana passada? - Falou estática.

Yngrid - Solta a língua.

Lais - Conheci ela quando fez as filmagens na Coreia. - Revelou com a voz serena, mantendo seu olhar fixo para frente, por sentir os olhares surpresos dos seus amigos a encarando.

- VOCÊS O QUÊ!!

Maria - QUANDO PENSOU EM CONTAR ISSO PRA MIM?!! - Se inclinou para frente, quase se jogando em cima dela, nervosa.

Sue - VOCÊ NÃO TEM O NÚMERO DELA?!! - Deu um passo para frente, com os olhos arregalados.

Jungkook - Pode me apresentar ela?

Tener - Quando vocês vão parar de revelar coisas para mim?! Meu coração é fraco!

Yngrid - Irmã, não se esconde uma informação dessas. - Dizia em tom, falsamente, fingindo decepção, negando com a cabeça.

Lais - Por isso mesmo. - Levantou seu dedo e apontou para cada um deles, que a olhava irritados. - E que diferença vai fazer? Isso aconteceu uns… dois anos atrás, eu acho. Nem deve mais se lembrar de mim.

Thais - Como conheceu ela?

Lais - Dançando nas máquinas de dança, sabe. Disse que conheci várias pessoas assim. - Deu de ombros. - Até já nos confundiram, pensaram que éramos irmãs, mas eu acho que foi o ar brasileiro que não saiu da gente.

Yngrid - Brazuka com orgulho! - Balançou seu corpo numa dança animada.

Taehyung - E você nem falou pra mim?

Lais - E porque, caralhos, eu ia falar pra você? - Se virou para ele, dizendo o óbvio. - Esqueceu como nossa situação era?

Com o barulho em gritos altos de surto, Layne olhou para nossa direção e franziu o olhar, interligando seu olhar entre nós, mas, principalmente, para Lais, piscando sem parar, pensativa.

Em segundos um sorriso alegre se abriu no seu rosto.

Layne - LICENÇA!! EU VI MINHA COLEGA!! SAAAIAM DA FRENTE!!

Com suas mãos, começou a empurrar aqueles que estava na sua frente para poder passar, passando em volta de um carro, e continuou vindo na nossa direção, com um sorriso impagável no rosto.

Layne - * Não adianta ficar com essa face pra mim, fi! Pode abrir esses braços, Jaburu, e me dar um abraço, carai!! * - Gritando, logo parou na nossa frente, começando a balançar seus ombros e a colocar suas mãos na direção dela, a chamando em gestos. - Bitch!!

Jungkook - Agora pronto!

Thais - Vai logo! - Bate seu cotovelo nas costas dela, que a faz ir num pulo para frente, constrangida.

A atenção da mídia estava toda para nós, principalmente para ela.

Finalmente abre seus braços e foi até ela, sendo recebida por um abraço apertado da mais alta.

Layne - * Sabia que sentia sua falta? *

Lais - * Não. *

Layne - * Agora sabe. *

Enquanto se abraçavam, os flash ‘s piscavam de segundos em segundos, fazendo meus olhos perderem o fogo pelo incômodo.

Carmen - PORRA, PODEM PARAR COM OS FLASH ‘S!!

Com seus gritos, onde percebemos o nítido gosto do ciúmes, as duas soltaram o abraço e se viraram para nós, encontrando um grupo que as encaravam, estáticos e surpresos.

Tener - Eu não consigo deixar de pensar que aconteceu umas segundos intenções entre vocês duas. - Gesticulou com sua mão para ele, com os olhos cerrados em desconfiança.

Yngrid - É exatamente isso que tô pensando. - Cerrando seus olhos, arrastava seus dedos pela sua bochecha.

Layne - Colega, mesmo que eu ache ela maravilhosa, essa não é minha área! - Gesticulou suas mãos em volta do corpo dela, encarando Yngrid.

Sue - Você é mais incrível fora da tela.

Layne - Depois dou meu autógrafo e tiro uma foto com você, eu vejo pelo seu olhar que grita por isso, mulher! Mas, voltando para você. - Se virou para Lais.

Lais - Tudo o que posso dizer, é que… seja bem vinda! - Dizia empolgada.

Layne - E quando você se mudou?

Lais - Faz alguns meses, já você… - Levantou sua mão, deixando ela pouco acima da sua cabeça, medindo sua amiga secreta, pela diferença de altura aparente.

Layne - Tapinha de gente. - Zombou, mostrando sua língua.

Lais - Mal nos reencontramos e você vai começar a me zoar?

Layne - Sim. - Riu, dando pulinhos. - É uma coincidência você estar aqui também.

Lais - E você, veio para filmagens, ou outro trabalho?

Layne - Terminei as filmagens do terceiro filme a uns três dias, e como me convinha morar na Califórnia, pelos próximos anos ter trabalhos para fazer aqui, então…. - Balançou seus ombros, junto do corpo, sorrindo em alegria para ela. - Vai ter que me suportar, amiguinha! Vocês também! Já vou informar que posso ser uma vizinha bem barulhenta.

Jungkook - Taehyung, posso me mudar pra sua casa?

Taehyung - Não.

Sue - Eu não ligo! - Respondeu instantaneamente, desesperada.

Stancy - Você não mora aqui. - Lembrou com uma feição de tédio.

Maria - Pode me dar um spoiler sobre o próximo filme?!! - Juntou suas mãos, implorando pela resposta.

Layne - Não posso, desculpe. Mas podemos discutir sobre o livro uma outra hora. Nos próximos dias vou ter muito tempo livre. Graças a Deus. - Jogou seu rosto para cima, em agradecimento.

Tener - Calma que vou desmaiar… Esperem! - Gritou, abrindo seus braços para os lados, e começou a caminhar entre nós para ir até Jungkook, se jogando nos braços dele, fingindo um desmaio.

Jungkook - Tener, seu retardado! - Xingou, segurando seu amiguinho com firmeza.

Layne - Vocês de novo? - Franziu o olhar, passando seus olhos curiosos por nós. - Foi uma lástima não terem feito o casting, mas, quem sabe uma próxima vez.

Lais - Conhece esses palhaços? - Perguntou, apontando para nós.

Jin - Ô, mais respeito, viu!

Layne - Eles foram para a empresa HOSK umas semanas atrás, nos encontramos numa das minhas… - Pensativa, inclinou sua cabeça para o lado. - digamos… teste de moral? E soube que conseguiu o contrato, Yoongi, parabéns!

Yoongi - E como sabe disso?

Diferente dela, ele, de uma hora para outra, ficou com sua feição rígida, falando em tom grosso.

Layne - A produtora também é da empresa, e também as notícias correm aqueles corredores. E vocês ainda são falados, e que saibam disso… não de um modo bom.

Desvio meus olhos dela, para pôr sobre o loiro que vinha bravamente na direção dela.

Adam - Layne. - Parou atrás dela, que se virou e deu encontrou seu agente, numa feição nada amigável.

Layne - Não fala, Adam.

Adam - Estamos atrasados.

Layne - Eu disse pra você não falar! - Soltou um suspiro, irritada, depois se virou para nós e sorriu. - Acabei de chegar, mas agora tenho que ir.

Sue - Tchau… - Acenou pausadamente, hipnotizada, enquanto olhava para ela.

Layne - Até de tarde. - Se virou para a Lais com um sorriso desanimado. - Adorei encontrar você. Eu até te procurei no insta e no twitter esses dias e nem te encontrei.

Lais - Me encontrou agora, não?

Layne - Pelo menos isso. - Sorriu, abrindo seus braços para dar outro abraço forte, mas logo se separou e se afastou, acenando para ela e depois para nós. - A gente se vê por aí!

Jungkook - Eu estou contando muito com isso!

Lais - Para de ser um cachorro!!

Hoseok - Ser um cachorro está no DNA dele.

Tener - Um cachorro que ainda me segura. Lembrando que ainda estou aqui!

Jungkook - Eu só não te jogo no chão pela educação que mamãe me deu.

Jimin - Você fez isso comigo. - Lembrou.

Jungkook - As coisas mudam, amigo.

Maria - Tener, você acabou de ter a afirmação que tem a atenção do seu amado.

Com seu comentário, todos nós viemos a gargalhar.

Jungkook - Odeio vocês. - Revirou os olhos, soltando Tener para  arrumar seu cabelo e olhando para a casa onde Layne havia entrado.

Lais - Se quiserem entrar para tomar o café da manhã, fiquem à vontade! - Gritou, passando por eles para ir na direção da porta da sua casa.

Namjoon - Eu amo a comida da sua mãe, não perco por nada!

Taehyung - Hey… - Diz e parou na minha frente. - O que vai fazer depois? Pergunto porque percebi uma agitação sua na praia.

Hoseok - É… b-bom… - Gaguejo por não saber o que responder, sentindo meu peito apertando pelo nervosismo.

Taehyung - Encontrou alguma coisa pra você ficar assim?

Hoseok - É mais complicado do que parece, Taehyung. - Encaro ele, nervoso, sentindo minha garganta se fechar pelo receio em contar.

Taehyung - É… - Assentiu, confirmando seu pensamento. - Encontrou alguma coisa.

Hoseok - Tá, se sou um livro aberto, então deve imaginar que isso não é algo… digamos, que bom para ser descoberto.

Taehyung - Está bem, agora estou começando a ficar preocupado.

Hoseok - Mais tarde a gente conversa, porque eu sei que o sono vai vir com tudo depois que comer as panquecas da sua mãe.

Taehyung - Posso esperar.

Nos viramos para caminhar pelo caminho feito até o degrau em frente da sua porta, enquanto ouvíamos as risadas e vozes altas ecoarem de dentro da casa.

Taehyung - Tenho que estudar aquelas projeções que ainda são um quebra cabeça para mim.

Hoseok - Por que não revisa com ela?

Taehyung - Prefiro fazer isso sozinho, e também não quero incomodar com esse assunto.

Hoseok - Você que sabe.

Hoseok Off

Thais On

Me aconchegava entre o edredom, apertando o travesseiro entre os meus braços num sono desperto, o qual desejava voltar para o mundo dos sonhos, desfrutando do silêncio que estava na minha casa. Meu primo disse que ontem a festa do ano novo, aqui em casa, foi a mais louca que nossa família já teve. E conhecendo muito bem ele, apenas disse pela raiva que sentia por não ter ido para a festa em Mako, pela minha tia ter proibido.

Eu sabia, mais do que ninguém, como eram as festas de ano novo da minha família, eram animadas, mas nem tão interessantes assim para meus primos, e nem para mim.

Camila - THAIS!!! - Gritou, abrindo a porta do meu quarto com tudo.

Thais - Aahn…

Meu tremeu pelo susto, como meu coração, susto esse atingindo o fundo do peito pelo sono que ainda sentia e que me desmaiou mais cedo, quando me derrubei na cama.

Sem um pingo de vontade de me mover, continuei na mesma posição, de costas para a porta, apenas tentando me tranquilizar.

Camila - Eu sei que está acordada.

Thais - Eu também sei, por isso quero voltar a dormir!! - Respondo de mal humor, levantando minha cabeça para pegar o travesseiro e o levantar, para pôr minha cabeça por baixo. - Pode sair.

Camila - Eu não só lamento, mas como digo que seus amigos estão no andar de baixo, desfrutando da piscina.

Thais - Que ótimo, pode ir. - Dizia sonolenta, quase resmungando.

Camila - Eu apenas vim avisar, antes que algum deles andasse pela minha casa e molhasse meu chão! Eles queriam vim te chamar e eu te chamei, então desça antes que algum deles molhe meu chão.

Thais - Fala que tô dormindoooo… - Choraminguei, balançando meu corpo pela cama.

Camila - Levanta!

Ouvi a porta sendo fechada, o que me deixou sozinha outra vez. Soltei um susto, tirando a irritação de mim, e relaxando meu corpo para voltar a dormir, mas sou tirava, mais uma vez, do meu mundo dos sonhos pela voz do Shawn Mendes, cantando: “ Eu não vou mentir para você ”.

Thais - E quem disse que você vai, Shawn! - Irritada, bato minhas mãos na cama e me levantando, segurando meu edredom entre minhas mãos nervosas, que o jogaram para longe, para levantar do lado esquerdo da cama, que me deixava em frente à minha sacada, apenas dando alguns passos até ela e abrir as duas portas de puxar. Suspiro ao sentir os ventos quentes baterem na minha pele e fecho meus olhos pelo sol quase me cegar, estando no horizonte azul, abaixo das nuvens alaranjadas, já indo embora. Abaixo meu olhar até minha piscina, que estava invadida por ratos famintos, vestidos com roupas de banho e com as minhas boias, tomando copos cheios da MINHA limonada de limão.

Trinco meu queixo, ainda irritada por ser acordada, me inclinando para frente e apoiando meus braços no apoio em frente, tendo um olhar mortal para meus amigos, ainda sentindo os ventos que faziam meu cabelo voar. Fixo meu olhar sobre Tener, que estava estirado na minha bóia de pato, segurando um copo cheio.

Minha mão estava visível na minha visão periférica, o que colocou um pensamento, o que deixou meu lado maligno sair: encurvo os dedos da mão para o lado, enquanto virava a palma para cima, pressionando minha pressão sobre o copo que ele segurava.

Solto um sorriso, quase gargalho ao ver ele colocando o canudo dentro da sua boca e fazer uma careta antes de começar a tossir.

Tener - AMIGA, MINHA MORTE VEM!!! - Gritava batendo suas mãos e pernas na água.

Quando percebeu que estava na sacada, sorrindo, viro novamente a palma para cima e o levo para a direita: sua bóia foi puxada para o lado, fazendo ele cair com tudo para dentro da piscina e deixando cair a limonada.

Sue - ESSA FOI BOA!! - Gritava, batendo suas mãos, em meio às gargalhadas junto da Stancy.

Bruscamente, forço minha mão nas bebidas que estava dentro dos seus copos, assustando as mesmas, o que cortou seus risos, com os esguichos da limonada nos seus rostos.

Thais - Agora riem o quanto quiserem! - Bato minha mão no apoio antes de me virar para entrar.

Tener - THAIS, ISSO NÃO TEM A MENOR GRAÇA!!!

Calço os chinelos antes de caminhar emburrada até a porta do meu quarto e sair, batendo ela atrás de mim. Apenas passo pela parede que separava o corredor do meu quarto, da escada que me levava para a cozinha, para começar a descer a mesma e ver os meus amigos zuando na piscina, mesmo com o susto que tinha acabado de dar.

Caminho, ainda irritada, até a porta e a abro, chamando a atenção deles para mim.

Sue - Precisava fazer isso?

Thais - Eu quase não dormi de madrugada, o que queriam? Que ficasse de bom humor, sendo acordada pelo Shawn Mendes tocando na minha sacada? - Dizia, grosseiramente, enquanto caminhava na varanda para descer os degraus e parar, ficando centímetros longe da beira, onde a água parecia gostosamente boa para entrar, mas não podia, ainda ouvindo a voz do cara de fundo.

Tener - E porque não entra? - Sugeriu no seu tom traiçoeiro, astuto, me olhando com um olhar travesso e um sorriso de canto.

Thais - Não pense em tentar pregar uma peça numa sereia dentro da água. É mais capaz de você morrer, sabia?

Tener - Como você falando assim… - Forçou um beicinho mimado, mostrando sua desanimação. - Só queria passar o resto do tempo que ainda me resta do lado das minhas amigas.

Tombo minha cabeça para trás, sentindo um pouco de culpa por tratar ele de uma forma rude, mas estava de mal humor. Poxa! Ser acordada de um sono tão gostoso e profundo quando se ainda tem sono é, literalmente, brochante, como já dizia Yngrid.

Thais - Porra, com você falando assim, me sinto culpada, merda! - Digo ainda com a voz alterada, voltando a olhá-lo, com a feição reprimida. - E a gente pode aproveitar… mas num momento onde não tenho um sono fudido, me obrigando à voltar para a cama.

Tener - E o que deseja fazer nessas férias? - Moveu seus braços para nadar até a beira da piscina, colocando o copo no chão. - No máximo, temos duas semanas.

Thais - Hmmm. - Formo um beicinho desanimado, devolvendo o olhar triste. - Talvez depois a gente nade junto, mas aqui em casa não. Pelo menos não quando meus pais estão nela e um primo que ocupa o meu sofá. Ah! Eu vou agradecer a Deus quando ele for embora daqui uns dias.

Maria - E o que vamos fazer?

Thais - Não sei… - Dou de ombros, sentindo eles pouco doloridos pelo sono. - Andar por aí. Ir no Shopping, Pacific Park, Arcade, Matinês. Há muitas possibilidades. Estamos na Califórnia, porra!

Sue - Matinês… - Levantou a mão, enquanto virava a jarra inteira da limonada na boca.

Impressionados, ficamos encarando ela, calados

Maria - Faça isso com o refil do Pacific Park. Vai ganhar o prémio do dia. - Se levantou da cadeira e foi até as roupas que estava na cadeira afastada da mesa. - Só me deixe colocar a roupa.

Tener - Bicha, estamos, praticamente, do lado da praia. Tem pessoas que andam pior do que você por aí.

Thais - É o namorado possessivo dela. - Digo e me afasto da piscina.

Maria - Isso… não é… verdade. - Respondeu com hesito, desviando seus olhares para o lado.

Stancy - Você mesma se entrega, sabia?

Sue - Ele não te fez nada, né? - A olhou, desconfiada.

Maria - Como pode pensar numa coisa dessas? - Sorriu, colocando sua blusa.

Tener - Ele é o Bad boy, então…

Maria - Isso não quer dizer que ele é uma má pessoa. Já deviam saber. Saímos muitas vezes no final de ano.

Thais - Uma coisa é sair com os amigos, outra bem diferente é sair com a namorada. - Explico, olhando seriamente para ela e com os braços cruzados.

Maria - Ele tem ciúmes sim, mas não é possessivo.

Thais - É bom mesmo, ou então vamos verificar nesse ano, quando estudarmos na Universidade.

Stancy - Vou querer tudo impresso na mesma hora.

Thais - Em caso de emergência, você aluga um carro e volta. São quase duas horas e meia de viagem, não?

Stancy - Por ai.

Maria - A-ah… - Gaguejou e desviou o olhar, vestindo seu short.

Thais - Está tudo bem?

Maria - Estou, claro… - Me olhou desconfiada e apontou para mim. - E nem pense em usar seus poderes em mim.

Thais - Não faço isso com vocês… fica tranquilo. Estou guardando para um caso de emergência. - Respondo, logo abrindo um sorriso irônico.

Maria - Thais, eu te mato!

Depois de mais discussões, sigo eles para fora de casa, sob um céu laranja e uma rua movimentada, sem algum destino aparente, apenas conversando sobre assuntos, até chegarmos no assunto das nossas escolhas de cursos de faculdades. No meio da conversa, Sue ficou se alterou, dizendo que iria num lugar e que logo nos procurava.

Demos de ombros e continuamos a caminhar pela calçada.

Tener - Você foi a única que não disse sobre o que quer fazer? - Pergunta para Maria.

Maria - Ainda tenho… dúvidas.

Stancy - Você gosta de dançar.

Maria - Hobby.

Stancy - Cozinhar.

Maria - Hobby.

Stancy - Mas como é difícil.

Maria - Eu disse, mas prefiro conversar sobre isso uma outra hora.

Thais - Uma outra hora que não seja a última. Conseguir uma vaga com bolsa de estudos, é difícil, pelo menos na Universidade da cidade.

Descemos da calçada para atravessarmos a avenida parada pelo trânsito e chegar do outro lado, no calçadão, que estava movimentado por pessoas que caminhavam para exercícios, corriam, ou carrinhos de vendas.

Maria - Óbvio que não… - Franzi seu olhar ao nos encarar em hesito. - Ainda tenho, tecnicamente, um mês e algumas semanas para pensar. Também posso escolher uma fora da cidade… 

 Subo no calçadão, desviando de uma criança quase que desgovernada na sua bicicleta, seguindo Tener, que nos guiava ao entrar na praia.

Stancy - Maria, você sabe que a transferência de uma Universidade são com semanas de antecedência, pelo menos na Universidade do Sul da Califórnia. Não sabe como lá as coisas são rígidas? Tudo tem que ser certinho na medida das regras deles.

Tener - Que você é a única que vai ficar mais perto da praia, principalmente dessa cachorra! - Se virou bruscamente e apontou para mim. - Ainda mais com se namorado, sortuda.

Stancy - Olha, foi uma coincidência incrível a gente ter nos escrito na mesma universidade, passado nos testes, que, diga-se de passagem, os mais difíceis da minha vida. O TCC comparado com aqueles teste, são um espirro.

Maria - Eu fico até surpresa com o fato da Thais não ter escolhido essa universidade.

Thais - Eu já tenho uma vaga, com bolsa de cem por cento, desde o ano retrasado, na universidade daqui. Esqueceram? E que o Tener deveria entrar! - Grito para ele que levantou seu braço, mostrando o dedo do meio. - Não vou me desculpar por ter te engasgado!

Tener - Eu vou fazer você se engasgar com outra coisa!

Stancy - Isso saiu meio pornográfico.

Tener - E quando é que não falo nada pornográfico?

Maria - Quando está com sua mãe, ou com sua avó!

Tener - Nisso você tem um ponto. E olha só a imagem que salva essa praia! - Levantou seus braços para cima e começou a correr até o quiosque do Christian, passando pelo mesmo que tinha acabado de servir uma mesa.

Maria - Quando foi que ele voltou?

Thais - Ele não mandou nenhuma mensagem.

Como estava desanimada pelo sono que ainda sentia, calada, seguia as meninas, apenas observando ele entrando no seu quiosque, logo parando do lado deles, em frente ao balcão.

Christian - Boa tarde. - Cumprimentou com um sorriso simpático e animado, atravessando o espaço e indo até seu armazém. - Como foi a festa?

Tener - Muito desanimado porque você não estava lá. - Respondeu fingindo mágoa, apoiando sobre o balcão.

Franzi meu olhar, entediante, para ele, e tombei minha cabeça para o lado, dizendo com o olhar: “ Sério mesmo? ”

Maria - Foi bem agitado, Chris, foi uma pena você ter viajado e não ter ido. Perdeu um verdadeiro show de fogos.

Christian - Eu vi cinco minutos depois nos Stories de todos vocês! - Gritou de dentro do armazém.

Stancy - E como foi o seu?

Christian - Cheio de trabalho, pode acreditar. - Sai de dentro do armazém, segurando duas caixas de frutas congeladas, indo até o freezer ao lado. - Querem o mesmo de sempre.

Tener - Tudo que você quiser!

Thais - Apenas uma garrafa de água, por favor. - Digo sem animação, virando meu olhar nas ondas do mar e sentindo a brisa, que agora ficava mais fria.

Christian - E o que aconteceu com ela?

Maria - Shawn Mendes acordou ela, nada demais.

Christian - Ah… está bem… - Respondeu confuso. - Vou preparar suas bebidas rapidinho, porque tenho que passar no Sea World, resolver uns assuntos com a dona e depois ver os golfinhos.

Thais - Tratam bem eles, não? - Volto a olhá-lo, curiosa, sendo retribuída com o mesmo olhar, só que mais profundo e pensativo.

Christian - Sim, claro que são, se não fosse, já estaria fechado. Thais, eu sei que você tem problemas com lugares assim, mas eu garanto que eles são bem tratados. Imagino que a comunidade te informe também.

Thais - Estão… sempre. - Assenti firmemente. - Mas ainda sim… ainda fico desconfiada.

Christian - Pode ir comigo e verificar por si mesmo.

Enquanto dizia, preparava a bebida de todos.

Maria - Aí ela mata todo mundo.

Stancy - Faz quanto tempo que não vamos pro SeaWorld?

Tener - Faz meses, eu acho. Tanta coisa para pensar… Christian, você pensou muito quando escolheu a Universidade daqui para estudar?

Christian - Ah… Sim, pensei. - Respondeu minimamente, concentrando no que fazia. - Tinha muitas opções, mas… escolhi aquela que tinha que estar mais perto do meu trabalho.

Maria - Ele é um cafetão e trabalha. - Comentou, arrancando um riso do mesmo.

Tener - Aceita, sua besta. - Sussurrou com a cabeça tombada para trás.

Thais - Água, por tooooda a parte, esqueceu? - Sussurro, irritada, de volta, o matando com meu olhar firme.

Tener - Não tem problema, posso te substituir! - Disse, abrindo um sorriso animado, voltando a olhar para ele.

Thais - Jesus. - Reviro meus olhos, negando com a cabeça, voltando a olhar para o mar, para o céu que já estava ficando escuro.

Yngrid - É uma alegria encontrar vocês!

Se colocou entre nós, apoiando seu braço por cima do meu ombro e o outro por cima do ombro da Maria. 

Yngrid - É pra falar a verdade, estou mentindo! Chris, você tem energia?!

Christian - Não posso vender para menores.

Yngrid - Meu mais lindinho cabeludo loiro, isso é pra me fazer rir? Até parece que não me conhece.

Lais - Não dê pra essa louca! - Parou do nosso lado. - Ela pulou em cima de mim, quando estava sonhando que eu era a Hanna Montana.

Yngrid - Tenho uma tradição a seguir, miglis, e não vai agora que vou quebrar.

Christian - Aceita um café?

Yngrid - Com muita cafeína, e gelado, pelo amor!

Lais - Gente, depois… não sei, aceitam ir comigo para a casa da minha amiga, a Layne? - Perguntou com receio. - Ela conseguiu meu número, mas como porradas conseguiu? Aí já não sei, mas perguntou uns minutos atrás… e a voz da Sue estava no fundo.

Maria - Eu preciso responder?!

Tener - Então é por isso que essa louca gritou pra gente que ia ali e já voltava.

Maria - Foi comprar cigarro.

Lais - Essa serve pra você também, Chris!

Christian - Sinto muito, baixinha, mas já combinei outra coisa com a Thais. - Respondeu, colocando os copos em cima do balcão.

Ergui a sobrancelha, contrariada e confusa.

Thais - Eu não...

Christian - Se cale, vai sim! - Retrucou com mais garra, colocando a garrafa gelada em cima do balcão, enquanto me olhava severamente, o que fez meu estômago revirar e o frio percorrer meu corpo.

Tener - Se alguém falar comigo assim… eu fico de quatro.

Thais - P-pode não falar isso… - Gaguejo por estar afundando no nervosismo, não conseguindo desviar meu olhar dos seus olhos azuis misturados com verde, de tão intensos que estavam. - E eu não aceitei ir.

Christian - Quem piscar…

Thais - Eu vou perder, sou péssima nesse jogo! E nem venha com outra brincadeira para decidir se vou ou não! - Pelo nervosismo que me causava, minha voz se alterou, falando mais alto.

Yngrid - Lais, acho que a gente perdeu algo.

Lais - Tô vendo.

Christian - O Shawn foi meio grosso com você na hora de acordar, porque… - Brincou.

Arregalo meus olhos e abro minha boca, abismada.

Thais - Melhor você correr! - Bato minhas mãos no balcão, gritando para ele, que apenas ria.

Christian - Podem avisar para aqueles que passarem que o quiosque está fechado! Vou me trocar lá trás! - Disse rapidamente, se virando para correr para os fundos.

Lais - Thataaaa? - Perguntou com um sorriso largo e sem mostrar os dentes, e erguendo as sobrancelhas.

Thais - Sua cara assusta.

Yngrid - Foi ele que te convidou, né, safrada!

Me balançou com seu braço.

Tener - Somos testemunhas vivas desse momento glorioso!

Thais - Vocês não pensam?! - Franzi minha testa e as encaro. - Parque Marinho! SeaWorld! Água por todo o lugar!

Lais - Sério...? - Respondeu, cinicamente, com a voz fina, fingindo desentendimento.

Thais - Não seja cínica! - Fecho minha feição. - Estão dispostas a me incentivarem a ir nesse lugar?

- Sim! -

Thais - Me recuso, não só pela água, mas pelo lugar! Sabe que não me dou bem!

Stancy - Mas ele só te convidou para ver os golfinhos.

Thais - Eu nado com golfinhos todas as vezes que entro ali! - Olho para ela, que sugava sua bebida num canudo, e aponto, incessantemente, na direção do mar. - Não preciso ir num lugar que prendem eles!

Lais - Santo Sangue da Nossa Senhora que Bate as asas do cu alado!! - Juntou suas mãos e fechou seus olhos.

Thais - Eu vou matar você.

Maria - Se a gente ir, vamos bancar os cupidos…?

Yngrid - Deixem as crianças se virarem sozinhos.

Thais - Aff. - Refiro meus olhos, pegando os papéis toalhas para poder pegar a garrafa molhada, quase soltando ao ver Christian aparecendo com roupas mais soltas.

Christian - Vamos. - Abre um sorriso.

Yngrid - Sim, ela vai!

Thais - Posso recusar, sabia?

Tener - Podemos ir com eles? - Sussurrou.

Stancy - Não. Vai atrás do Jungkook com o tempo que ainda te resta, ouviu?

Thais - Christian!! - Chamo ele, encarando o próprio vindo na direção do balcão e segurando na parte de cima, retribuindo o olhar com um sorriso de canto. - Só vou com uma condição.

Christian - É só dizer, Bela da Fera.

Thais - Não invente brincadeiras, já estou com muito bom humor para aguentar mais brincadeiras. - Respondo com um sorriso irônico.

Tener - Ela quase me engasgou, cuidado.

Ele respondeu com um sorriso de canto, mais uma vez, sarcasticamente, após a abertura fechou seu quiosque.

Thais - Você mereceu! - Digo com raiva, abrindo a garrafa e a virando na boca, engolindo a água gelada, e com ela tentando engolir a irritação do corpo.

Yngrid - Belesma. - Tirou seu braço de cima dos meus ombros, para segurar os mesmos e me empurrar para o lado. - Se divirtam crianças!

Thais - Ah! - Quase engasgo por ainda estar engolindo a água, inchando as minhas bochechas para prender a tosse e parar a água entre elas, mantendo firme a garrafa na minha mão… não contando com os respingos que respingaram para fora e atingiram minha mão. Paro no lugar, sentindo a raiva subir pelo meu corpo, como uma chama que acende instantaneamente. Engulo a água lentamente, encarando a parede do quiosque. - Eu te odeio, Yngrid.

Yngrid - Opa…

Tener - Amiga, é melhor você correr! - Bateu suas mãos.

Stancy - Anda logo. - Veio até mim e segurou a garrafa.

Thais - É melhor você estiver beeem longe quando eu voltar! - Com o olhar possesso na sua direção, aponto para a mesma, avisando antes de começar a correr na direção da água, passando por eles. Sentia o formigamento crescendo nas pernas ao pular pelas ondas, e logo mergulhar.

Movimento meu corpo para frente, atravessando rapidamente a água pelo surgimento da Cauda, logo me impulsionando para frente, nadando como um jato para circular o espaço do mar. Por segundos, sentindo a água salgada e calma em volta de mim, me esqueci do mundo de cima, tranquilizando minha irritação rara.

Paro bruscamente para continuar a nadar tranquilamente, mergulhando mais para o fundo e nadar acima da areia, entre a escuridão, mas ainda enxergava as silhuetas dos poucos peixes pequenos e das pedras menores, logo enxergando a parede de pedras na minha frente.

Afasto meus braços e os movo sobre a água, me puxando para frente enquanto movimentava meu corpo, juntamente da minha Cauda, me erguendo para cima. Encosto minhas mãos sobre a pedra ao sair para a superfície, rapidamente virando minha cabeça para os lados, verificando se estava segura para sair.

Me arrasto com a ajuda das minhas mãos pelas pedras, até tirar minha barbatana de dentro da água, me virando de frente e me deitar sobre ela, suspirando, descansando os músculos dos meus braços, cansada por arrastar quase uma tonelada de cauda.

 Thais - E agora? - Levanto minha cabeça para cima, olhando a Cauda enorme na minha frente sem saber o que fazer, foi então que ela se aqueceu e soltou seu vapor. Franzi minhas sobrancelhas, assustada, preocupada e confusa. - O quê?!!

Lais - Sou eu, doida!!

Thais - Ah! Ainda bem! - Fecho meus olhos e suspiro aliviada, voltando a me deitar tranquila. - Eu não queria encarar um novo poder.

Lais - Tá mais calminha agora, rapariga?!

Thais - Para a sorte de todos, sim.

Lais - Brigada, Santa Nazaré do Pai!!

Minutos depois, estávamos caminhando apressadas pela praia, seguindo na direção do quiosque que estava logo à nossa frente.

Meu coração quase salta para fora, quando vejo Christian saindo da frente do seu quiosque para ir até o calçadão; parecia meio irritado pela sua expressão.

Lais - M-melhor tu ir atrás do cara, a feição dele não parece uma das melhores. - Dizia com a voz amedrontada.

Thais - Diga para a Yngrid que eu me resolvo com ela depois. - Aumento meus passos para começar a correr pela praia, sentindo os grãos de areia entrarem pelo meu chinelo, continuei a corrida sem me importar. - CHRISTIAN!!!

Ele se virou para mim e tombou sua cabeça para frente, arqueando sua sobrancelha, deixando sua feição séria para mim.

Suspirando, diminuí meus passos ao me aproximar dele, com o coração martelando na goela, encarando diretamente seus olhos claros que sempre me deixavam sem jeito, e, de alguma forma, insegura sobre como deveria me comportar.

Abro um sorriso tímido e paro de andar, já na sua frente, com ele ainda fazendo sua expressão séria.

Thais - Desculpa por sumir… 

Christian - Se não quer ir, não precisava inventar uma desculpa como essa. - Desfez sua feição séria para uma de desânimo. - Além do mais, o banheiro fica do outro lado, e também, você sabia que tinha um banheiro no quiosque… 

Thais - O-oi…? - Franzi, confusa, tombando minha cabeça para o lado.

Christian - Sabe… eu… - Franzia seu olhar, hesitante em falar algo, mas, após segundos, desistiu, negando com a cabeça. - Não, esquece.

Thais - Christian, olha aqui! - Aumento o tom da minha voz, deixando minha feição séria e dou mais alguns passos até ele, ficando mais próxima, o que me deixou ainda mais nervosa. - Se eu não quisesse ir, acha mesmo que eu teria fugido? Olha bem pro meu rosto e responda!

Christian - Perdi as vezes que disse que não queria ir. - Ainda com a feição franzida, cruzou seus braços, mostrando, nitidamente, seus braços trabalhados. - Mas você não age assim… 

Thais - Bom… - Minha voz saiu falha, mas logo forço a minha garganta e volto ao normal. - Talvez a Yngrid, sabe como ela é, mas eu não. Eu diria: “ Não quero, vá sozinho ”. Mas como acordei do lado contrário da cama, estou… estava meio irritada. Não dormi nada hoje de madrugada.

Christian - Somos dois… - Tirou seu pulso debaixo do meu braço para ver a hora no seu relógio. - Tenho que ir agora.

Thais - Então vamos.

Christian - Mas você…

Thais - Christian!! - Viro meu olhar rígido para ele, apontando com meu indicador, quase rindo pela sua expressão surpresa. - Para de putaria, entendeu?!

Christian - Hã… entendi. - Respondeu, logo depois abrindo um sorriso, soltando um suspiro que esvaziou seu peito, parecia mais nervoso que eu. Abaixou seus olhos para o calçadão. - É só que… esses dias longe… 

Thais - Sabia que é muito sentimental?

Christian - Sim, eu sei… - Balançou a cabeça, concordando, abrindo seu sorriso.

Thais - Não leve isso como um defeito… - Fui até ele e segurei no seu braço, o puxando para a avenida e olhando para os dois lados. -, adoro isso em você.

Christian - Bom saber.

Thais - E olha, com calma. - Aviso, e o puxo para atravessarmos a avenida juntos, comigo ainda presa no seu braço.

Christian - Você vai adorar eles, claro, a metade ajudou a resgatar. Principalmente os golfinhos. Apenas aviso que o Rifi, o golfinho que eu treino para as apresentações, enfim, pode ser muito brincalhão.

Thais - Hm… - Cerrei meus olhos e o olho. - Eu cuido dele.

Christian - Eu sei.

Continuamos nosso caminho pelas ruas que estavam movimentadas, numa noite de domingo, já sem o sono que me perturbava, sentindo os ventos, agora frescos, me refrescarem, com o cheiro de gasolina que emanava da fumaça dos carros, junto do bom cheiro de cachorro quente, hambúrguer, batata frita e pipoca, por passarmos em frente à uma lanchonete e um carrinho de pipoca.

Dessa vez, senti meu estômago gritar e minha língua salivou.

Thais - Deveria ter comigo antes de sair de casa. - Reclamo comigo mesma, baixo.

Christian - Podemos comprar alguma coisa.

Arregalo meus olhos, outra vez sentindo meu coração saltando e o frio no estômago, que me fizeram parar, com ele, que trilhava seu olhar de dúvida entre o carrinho de pipocas e dentro da lanchonete.

Christian - Deseja pipoca salgada…? Ou doce? Batatas fritas? Ou cachorro quente? Talvez um hambúrguer? - Sugeria, pensamento, logo voltando a me olhar, me deixando ainda mais constrangida.

Thais - Chris, não precisa, é sério, posso aguentar. - Recusava com um sorriso constrangido. - Podemos continuar.

Christian - Vai aceitar, sim, senhorita! - Assentia com a cabeça fervorosamente.

Thais - Quero ver você me forçar?

Seu sorriso sarcástico se abre no seu rosto, levantando uma de suas sobrancelhas, o que me assustou.

( Cinco minutos depois )

Thais - Você é bom em persuadir as pessoas… - Comentava, colocando o garfo cheio de batatas gordas de Cream cheese e Ketchup dentro da minha boca, quase saltitando pela explosão que sentia dentro da minha boca. Sorria enquanto mastigava, seguindo o maior do meu lado.

Christian - Ainda dizia que não queria. - Comentou, virando a lata de refrigerante na boca.

Thais - Olha… mamãe ensinou que não posso recusar coisas dadas com tanto agrado. - Sarcástica, sendo encarada por ele, ponho outra garfada cheia na boca e sorri, mastigando as batatas, sento retribuída.

Christian - Depois me lembre de te fazer minha Lagosta Defumada do Caribe.

Thais - Christian, pode não parecer, mas posso ser uma poço sem fundo quando quero. Só avisando. Então, não cite outras comidas enquanto estou saboreando uma!

Christian - Isso, tecnicamente, é mais um lanche.

Thais - Não me corrija, por mais que eu esteja errada, agradeço!

Christian - Mulheres. - Bufou ao murmurar.

Thais - Sou complicada mesmo, ouviu?! - Ponho outra garfada cheia na boca.

Christian - Sim, senhorita. - Sorria divertido.

Passo atrás dele, na catraca, sendo destravada pelo seu cartão, e logo passo por ele, o que me fez ver o canal, que estava cheio de barcos e lanchas, do outro lado dos apoios e das mesas de descanso logo à frente.

Junto às minhas mãos, entrelaçando meus dedos, pelo nervosismo que me atingiu ao ver a água.

Christian - O que foi? Se sente bem?

Thais - Claro… - Assenti, desviando meu olhar do canal para ele, voltando a sorrir, mas sem mais a animação de antes. - Vamos.

Christian - Parece nervosa. - Franziu o olhar, me olhando com desconfiança.

Thais - Quem está nervosa? Eu? Haha… - Dizia sem parar, mostrando nitidamente meu nervosismo, não por estar com ele, mas por estar naquele lugar. - Imaginação da sua cabeça. Agora, onde fica o tanque dos golfinhos?

Passo por ele, suspirando com acidez, caminhando com passos apressados pelo caminho pouco movimentado, para entrar nas ruas das lojas.

Christian - Ei… - Parou do meu lado. - Não precisa ficar assim, pode ficar calma.

Thais - Estou calma.

Christian - Thais… - Manteve seu olhar fixo em mim, desconfiado, insistindo em manter com rigidez que não aguentei, pela pressão, e também por ter seus olhos em mim.

Thais - Está bem! Caralho! Talvez por não ter vindo aqui por meses.

Christian - Quantos meses?

Thais - Bom… - ( Talvez, desde agosto do ano passado, quando ganhei essa cauda? ) - poucos meses.

Christian - Vou te obrigar a voltar a frequentar o parque.

Thais - Aposto. - Gargalho alto, zombando.

Christian - Apostar o quê?

Thais - Deixa eu ver… se conseguir que eu volte a frequentar mais esse lugar… hmmm… - Mantenho meu olhar na vitrine de uma loja, encarando um brinquedo de um fogão rosa. - Eu te ajudo com o quiosque por um mês, sem reclamar.

Christian - Hmm, proposta intrigante.

Thais - E se não conseguir… - Movo meus lábios, tentando pensar em algo mas, simplesmente, os pensamentos não estavam vindo na minha cabeça. Eu travei. - Ah… bom…

Christian - Dificuldades para escolher a minha punição? - Riu, debochando.

Thais - Filho da… - Levanto minha mão e o bato no seu braço. - Você vai fazer tudo o que eu mandar por um mês!

Christian - Justo. - Assentiu, concordando. - Agora preciso mesmo ir até o tanque.

Sorrindo, viro meus olhos para a entrada do lugar onde mantinham os mamíferos aquáticos, as orcas para ser mais exata. Por um momento, pensei em entrar.

Christian - Está fechado. Apenas abre de manhã. Se quiser ver elas, vai ter que vir cedo.

( - Não preciso disso para ver orcas, Christian… mas é uma pena que não saiba - )

Thais - Que pena.

Continuou seguindo ele pelo caminho sem movimento, mas logo escuto gritos e aplausos vindos de dentro de um prédio onde passávamos. O famoso, mais nova inauguração do parque, show de luzes submerso.

Christian - Quando terminar, podemos aproveitar os brinquedos do parque. - Sugeriu. - Eu vim no pré-lançamento do show de luzes, foi incrível.

Thais - Parece interessante. - Respondo normalmente, não mostrando a minha curiosidade para ver aquele show, mas logo dando um sorriso por me sentir flutuando.

Continuamos o caminho em silêncio, comigo apreciando as entradas para as “ diversões ” do parque, até perceber e me dar conta de que ele estava atravessando uma ponte, acima de um rio dentro do parque, o que voltou com minha agonia e meu nervoso, mesmo sabendo que nada poderia acontecer, já que estava metros acima da água.

Controlo minha respiração, somente para não parecer nervosa, por estar do lado dele, que se mantinha focado no caminho. Aquilo me relaxava, por não ter sua atenção.

Descemos nos píer's, e o sigo por eles, até retomarmos o caminho entre o parque. Logo mais a frente, meus olhos foram puxados pelo brinquedo que tomava quase a metade do parque: O Kraken.

Abro um sorriso por me lembrar da última vez que estive na Montanha Russa, matadora de crianças; um dia antes de irmos para Mako. Lembrei dos risos e dos gritos de pavor que dei junto da Lais, já que Yngrid gargalhava alto e gritava, levantando suas mãos, enquanto éramos molhadas.

Lembrei da sensação de como era  ser molhada dos pés à cabeça, sem ter nenhuma preocupação em me esconder, ou pavor, nem medo. Com certeza, aquela época era mais tranquila do que é agora.

Às vezes sentia falta de ser normal outra vez.

Sue - Calma que vou morrer…

Ouvindo sua voz, saiu dos meus pensamentos e olho para frente, vendo ela inteiramente molhada, do lado da Layne, que estava a centímetros de distância da mesma, seca, mas sorrindo junto com ela. Estavam entre uma multidão, completamente molhados.

Notei que a própria tinha um olhar desconfiado para essas pessoas ao passar pelas duas. Cerrei meu olhar e franzi as sobrancelhas por aquilo.

Layne - Eu disse pra você.

Sue - Não comece a dar um sermão, eu sei que você também queria ir. - Passava suas mãos, freneticamente, pelos seus cabelos ruivos.

Layne - Prefiro os secos.

Sue - Na próxima vai comigo.

Layne - Não mesmo!

Sue - Eu tenho pouco tempo aqui, e eu vou aproveitar da melhor maneira possível.

Layne - Eu acho melhor você ir se secar.

Sue - Tem uma câmara ali do lado, para nos secar.

Layne - Por que é longe da entrada? - Olhou para trás e se inclinou para frente.

Sue - Para sentirmos a agonia de estar molhados. Pode ficar, não vou demorar! - Avisou, antes de começar a correr pelo caminho entre os gramados para entrar na casa, sendo seguida por muitos da multidão.

Layne, rapidamente, se afastou desses muitos, tendo uma expressão assustada, com movimentos ágeis e rápidos, logo ficando para trás e encarando profundamente a multidão, quase hipnotizada.

Thais - Layne? - A chamo ao parar na sua frente, balançando meu braço, conseguindo chamar a sua atenção, que me olhou meio nervosa. - Está bem?

Layne - Estou! - Sua voz falhou, mas no tom alto e rápido. - Claro, estou!

Thais - Pois não parece. - Cruzo meus braços, mantendo meu olhar desconfiado para ela.

Christian - Thais? - Se virou e me chamou.

Thais - Layne, eu tenho que ir, mas depois a gente se fala, tá? E diga “ oi ” pra Sue por mim.

Layne - Claro.

Thais - Tchau. - Aceno, dando um sorriso, depois continuou a caminhar rapidamente até Christian, que olhava para ela, curioso. - O que foi?

Christian - Conheço ela de algum lugar.

Thais - Talvez de um cartaz enoooorme na frente do cinema, ou em dois filmes de quase duas horas, mas também numa capa de revista!

Christian - Nem sugestiva. - Sorrindo, se virou para continuar a caminhar do meu lado.

Passamos em frente à entrada do estádio, sendo a mesma o maior tanque e palco para apresentações dos golfinhos, dando a volta pelo lugar até descermos uma rampa, que no fim fazia uma curva para a porta, escrita: “ Permitida apenas a entrada dos funcionários ”.

Paramos em frente para ele passar o cartão e abrir a porta.

Thais - Posso ser chata por falar isso… - Começo a dizer, acompanhando ele para dentro de uma sala, que mais parecia um vestiário pelos armários nas paredes e os bancos em frente. Aquilo me tirou o pensamento que iria dizer. - Esquece.

Christian - Pode falar. - Passou por mim para ir até um dos armários e o abrir.

Thais - Só ia dizer que poderíamos ter entrado pela entrada de cima, mas… né… - Levanto minhas mãos para indicar a sala, meio sem jeito, me virando rapidamente para as portas duplas e ir na direção, tendo um pensamento repentino que me gelou o corpo. - Imagino que a gente vá passar embaixo do tanque.

Christian - Vamos sim.

Thais - A-ah… legal. - Respondo com a voz presa na garganta.

Continuo o caminho até as portas, segurando na maçaneta e a virando, puxando a mesma para frente, o que me deu a visão de um corredor rodeado por paredes de vidro; dando a imagem azulada dos vários peixes, arraias, tartarugas, pequenos filhotes de tubarões, pelos meus estudos mínimos, inofensivos, nadando por cima.

Abro mais espaço para caminhar para dentro, imersa na visão hipnotizante que estava em volta de mim, por mais que não seja a maneira que eu adorava, eu nadava entre eles, mas era fascinante como aquilo mexia comigo de uma forma que fazia meu coração saltar e tomava por completo minha atenção, me fazendo esquecer de tudo que estava em volta.

Caminho até a parede, levantando minha mão para tocar o vidro, dançando meus dedos pela superfície e notando a aproximação de uma tartaruga, que me olhava fixamente com seus olhos profundos e negros.

Thais - Oi, amiguinha… - Afastei minha mão para acenar, abrindo um sorriso encantado, voltando a tocar o vidro e notando a mesma que não desviava seu olhar, o que me deixou confusa e desconfiada. Me aproximo mais, diminuindo o espaço entre ela e eu, devolvendo o olhar fixo com uma interrogação. - Você consegue sentir… não é? Que eu sou… sabe… É uma pena que não fale com animais… mas eu posso sentir vocês.

Antes que eu pudesse fazer algo, ouço a voz do Christian entrando no corredor, o que me tirou a concentração. Olho para ele e sorri, meio nervosa, notando que estava com uma camiseta azul, com o símbolo e o nome do parque na frente, de mangas compridas.

Christian - Vejo que adorou esse lugar. - Diz, se aproximando de mim, desviando seu olhar azul do meu para pôr sobre a pequena tartaruga, franzindo sua feição confusa. - Acho que ela gostou de você… estranhamente.

Thais - Quando digo que tenho uma empatia e uma conexão de outro mundo com os animais, não brinco em serviço. - Suspiro profundamente, tentando não ficar nervosa, mas já estando, volto a olhar para a pequena que ainda tinha seus olhos em mim, e sorri para ela.

Christian - Eu sei. Todas as vezes que te olho, tem um brilho peculiar nos seus olhos, que… é um mistério que me deixa confuso, mas eu gosto desse mistério.

Perco o foco dos olhos da tartaruga e firmo meus dedos no vidro, deslizando minhas unhas sobre ele, por sentir meu corpo inteiro travar; as famosas borboletas reviraram meu estômago; meu coração pulsava forte a cada segundo. Prendo minha respiração como uma trava na garganta.

Lentamente, viro meus olhos, quase estáticos, para ele, que se apoiava no vidro e que ainda prendia seu olhar rígido sobre o meu, sorrindo gentilmente para mim. Se afastou da parede de vidro, tendo suas duas mãos dentro dos bolsos, sem algum indício de timidez ao dar um passo adiante, um em seguida do outro, sem desviar seus olhos profundos e que estavam tão intensos, destacados pelo azul que transbordava, e que me hipnotizava ainda mais, dos meus.

Solto o ar, quase trêmula, começando a sentir o calor subir pelo meu corpo, sem ter forças para mover minhas pernas ou desviar meus olhos dos dele, que se aproximavam cada vez mais, se inclinando para mim.

- Christian! -

Num susto, eu e ele nos afastamos, quase num pulo, e nos viramos, bruscamente, na direção onde um cara terminava de descer a escada no final do corredor.

A queimação no meu rosto, deixava nítido o desconforto, ainda mais pelo momento que tinha acabado de acontecer; deixou meu coração descontrolado no peito e a fraqueza no meu corpo.

- Pensei que não iria vir mais. - Desceu o último degrau e começou a caminhar até nós, logo colocando seus olhos sobre mim, num certo interesse que cresceu seu sorriso charlatão. - Já entendi… Sua namorada… 

Thais - Não… - Respondo, negando com minha cabeça, sentindo que iria desmaiar a qualquer momento pela anestesia da vergonha. - Só amiga dele, não voe alto.

- Posso me sentir tranquilo depois disso. - Abre um sorriso astuto e animado, arrumando a gola do seu uniforme.

Christian - Entony, não comece.

Thais - Olha - Me viro para ele. -, eu vou ir na frente, já que tem muito para com que conversar. Tchau, amiguinha!

Passo pelo moreno com passos rápidos, deixando claro meu constrangimento, indo até a escada onde subi como um jato, dando de cara com duas portas duplas e um corredor à minha direita.

Thais - Está bem… - Com a voz falha, caminho para frente, encarando o corredor vazio e após as duplas portas, cantando “ uni-duni-tê ” na minha mente para escolher qual passar. Terminando, acabei escolhendo a da minha frente, a qual passei quase tropeçando no meu próprio pé, entrando num corredor que terminava com duas portas duplas, na esquerda e na direita.

Thais - Eu vou ter que usar uni-duni-tê de novo, caralho! - Resmungo, batendo o pé no chão, antes de continuar.

Paro no centro das duas, ouvindo uma voz alta que anunciava mais um número dos golfinhos, e que vinha da porta do meu lado esquerdo, então meu alerta soou para entrar na porta do lado direito, e foi isso que fiz.

Abrindo a porta, acabei batendo ela contra uma garota que segurava duas caixas: a garota foi para trás, tropeçando nos próprios pés e quase caindo, deixando as caixas caírem no chão. A sorte, foi que as mesmas estavam lacradas.

Thais - Me desculpa!! Ai meu Deus! - Desesperada, vou até a caixa e a pego, olhando a garota pegando a outra.

- Não faz mal. - Se levantou, com a outra caixa na mão, e veio até mim com um mínimo sorriso.

Thais - Mesmo assim, eu não te vi. Desculpa. - Me sentia mal colocando a caixa em cima da outra. - É bom que elas sejam pequenas.

- É… mas… - Franziu seu olhar, me olhando confusa. - É nova por aqui?

Thais - Não, só estou visitando.

- Mas aqui é área restrita… -

Quase arregalei meus olhos com meu sangue gelando no meu corpo todo.

Thais - Então o Christian vai ter problemas, por me trazer? Olha, se for assim, eu posso ir embora agora! - Entrando ainda mais no desespero, pronunciava as palavras rapidamente.

- O-o Christian? Você veio com o Christian? - Falava em tom surpreso, com o olhar franzido.

Thais - Sim… - Respondo lentamente, deixando meus olhos entreabertos, desconfiada. - Por quê?

- Nada, é que ele nunca traz amigos pra cá… nem namoradas. -

Thais - S-só somos amigos, SÓ amigos. - Insisto dando ênfase para o “ só ”.

- Ah… tá. - Abre um sorriso, parecendo aliviada. - Então, de todo o caso, se ele trouxe você, não tem o menor problema.

Thais - E… porquê? - Cerrei meu olhar, desconfiada.

- Ele é quase um sócio do parque… quase. -

Thais - O-o Christian…? Sócio do parque? - Repito em choque, sentindo a minha mente agitada como nunca, para processar a informação. - Aquele vendedor, que trabalha num quiosque de praia, é sócio do parque SeaWorld?! Bem que a Yngrid tava certa. Cafetão!

- Como é? - Franziu o olhar por não entender o que dizia.

Thais - Só falando comigo mesma. - Abro um sorriso, escondendo minha irritação. - Bom, acho que é melhor você ir…?

Emilly - Emilly.

Thais - Emilly, não quero trazer problema

Emilly - Nos vemos por aí.

Thais - Claro. - Me viro para segurar a porta e deixar a passagem aberta, fechando logo depois que ela passa e olhando para o tanque confortável de tão enorme que era, apenas terminando por uma barreira que dividia o mar aberto do tanque, longe de onde estava. - Uau.

Caminho pelo lugar, que era iluminado pelas luzes dos postes espalhados pelo lugar, ainda ouvindo os gritos e os aplausos vindos do outro lado, enquanto analisava cada pedacinho daquele tanque. Caminhava, animada, pelo caminho que estava a centímetros da margem do tanque, separados pelo gramado cuidado, para ir até um píer que estava em frente.

Pulo no começo dele para correr até a sua ponta, que quase chegava no centro do tanque, descendo três degraus para o espaço abaixo, para ir até a beira em frente e me agachar, vendo a luz sendo refletida pela água em movimento, o que me deu a alucinante vontade de mergulhar.

Thais - Não! - Levanto meu rosto, com os olhos fechados, para tirar a vontade de pular. - Não posso fazer isso! Aqui não!

Escuto a fala de um golfinho bem animado abaixo de mim, o que quase me assustou, mas me contive e levei meu olhar para ele que ainda falava.

Thais - Oi, lindo.

Fui respondida por uma fala pausada e o que parecia ser um sorriso.

Thais - Não preciso usar meus poderes para saber que está feliz, eu já notei de cara… - Sorriu para ele, vendo o mesmo se inclinar para mergulhar, levantando sua cauda para batê-la contra a água.

No reflexo, levanto rapidamente para me afastar no justo momento em que ele bate sua barbatana na água, que respingou para cima, molhando a madeira do píer.

Thais - Não acertou, HÁ!! - Grito, logo depois sorrindo ao ver ele aparecendo poucos centímetros do píer, ouvindo sua fala que parecia um riso. - Você sabe, não sabe… Pelo jeito, tentar me molhar é uma prova bem clara que sabe… Ou é só uma brincadeira. De todo o caso, não faça mais isso, mocinho… Não comigo.

Cruzo meus braços e me viro para trás, encarando as portas duplas e pensando no Christian.

Thais - Ele tá demorando. Deve estar resolvendo as coisas dele. Mas eu realmente espero não ter nenhum proble-

Meu pensamento é interrompido pelo seu grito, também pelo som da água sendo batida, juntamente com os respingos que bateram contra minhas canelas. Arregalo meus olhos e me viro bruscamente, fervendo o olhar, com ódio por dentro, encarando o golfinho ainda nadando de barriga para cima e batendo sua barbatana sobre a água. - Pode ir se preparando!

Jogo meu corpo para frente e mergulho, balançando minhas pernas, que já formigavam, e movimentando meus braços para me puxar para o fundo, logo sendo envolvida pelas paredes de bolhas, que fizeram minha cauda surgir, e que logo foram desaparecendo.

Entre as poucas bolhas que subiam, eu o via nadando em círculos, de ponta cabeça, e falando; apenas encarava de volta num olhar rígido e uma feição mal-humorada, enquanto movimentava meus braços e balançava minha cauda.

O mesmo se aproximou, entre falas, e passou do meu lado, eu o acompanhava com o olhar, vendo ele passar entre o pilar fincado na areia e nadar para frente.

Alargo, minimamente, um sorriso no rosto, ainda mal-humorada, ao vê-lo dando giros pela água.

Nego com a cabeça, ainda sorrindo, inclinando meu corpo para frente enquanto me puxava com ajuda dos meus braços, movimentando minha cauda; coloco meus braços para frente, com as mãos juntas, para começar a me movimentar e a seguir pela água com agilidade e rapidez.

Sendo acompanhada pelo golfinho, ele nadava falatório do meu lado, o que me tirava sorrisos.

Nadava enquanto observava em volta, com ajuda das luzes que eram fortes o suficiente para iluminar o tanque, tentando encontrar um lugar escondido o suficiente para ficar e poder me secar, mas meu coração quase pula para fora quando viro uma curva e dou de cara com uma vidraça, que APENAS havia um grupo de crianças, olhando para um grupo de filhotes; bruscamente me puxo para trás, ficando colada no muro de pedras. Meu coração ainda batia pelo susto e medo, que me faziam tremer.

O golfinho continuou o caminho até lá, mas não prestei atenção por estar com os olhos fechados e quase cravando minhas unhas sobre a parede de pedra, o que me despertou com a ideia. Abro meus olhos e levanto minha cabeça, vendo, entre as mechas flutuantes do meu cabelo, as sombras criadas pela luz do poste.

Balanço minha cauda enquanto me puxava, com as mãos sobre a parede de pedra, até tirar minha cabeça de dentro da água e olhar em volta, observando, notando que ainda estava sozinha.

Thais - Ele ainda não voltou…? Hm. - Deu de ombros e nadei para o lado. - Melhor pra mim.

Com o espaço raso de pedra, me arrasto por ela até tirar a cauda de dentro da água, a mesma cerimónia de sempre, e me virar de barriga para cima, ficando deitada.

Solto um suspiro, cansada, agoniada.

Thais - Modo borrifador ativar. - Abro minha mão, que estava do lado da cauda, sentindo uma força sobre minha cauda que logo foi embora. - Ótimo!

Thais Off

Yngrid On

Yngrid - TOCA O SOM, DJ!! - Grito, levantando meus braços para cima e começando a movimentar meu corpo, pisando nos quadrados no brinquedo, cantando: - YYYYY. M. C. A!!! NANÃ!! NANÃ!! NANÃ!! NANAAH!! YYYY. M. C. A-AH!!

Tener - Eu não entendo nada do que ela fala, mas eu adoro!! - Gritou de volta, dançando na máquina de dança ao lado, junto da Maria.

Lais concentrada nos passos do meu lado.

Repetia os passos que a tela mostrava, para pisar na seta correta, que piscava embaixo do meu pé.

Lais - EEEEU VOU CA-BE-ÇAR!! QUALQUER UM QUE ENTRAR!! EEEEU VOU CA-BE-ÇA-AH!! - Cantava no ritmo da música, repetindo os passos sem errar.

Yngrid - Ooohh, espertalhona! Não canta vitória ainda!

Lais - Eu não tô cantando vitória, só tô cantando, merda! E se for, vai me pisar com seus passinhos, menininha!

Yngrid - Eu vou dar um ataque de pelanca! UOOOU!!! - Pulo em círculos, com os braços levantados. - EU NUNCA VOU ME CANSAR!

Maria - VOCÊ VAI SIM!!! IGUAL AO TENER!!

Tener - AMIGA, NÃO DIGA COISAS QUE NÃO SABE!!

( Cinco minutos depois )

Yngrid - Retiro o que disse. - Suspiro, com a voz fraca, me estirado no banco encostado na cerca de ferro, com os braços e as pernas esticadas. Segurava, pela borda, meu corpo extragrande de explosão colorida, logo levantando ele para pôr o canudo dentro da boca e sugar a bebida vermelha que estava pela metade, cheia de gelo, sentindo o gelado descendo pela minha garganta, me refrescando com ajuda dos ventos frescos da noite.

Tener - Para de putaria, você não está morrendo… - Suspirava violentamente, sentado no chão, do lado do banco, virando a garrafa de água gelada na boca. - E toma cuidado com esse copo.

Yngrid - Calma que é o sono.

Lais - Eu poderia ir na Roda-Gigante. - Comentou, encarando a própria que piscavam as luzes coloridas sem parar.

Ainda deitada, viro meu rosto para ver as mesmas, as tais que eu tanto ignorava por me lembrar dos vários momentos que estive no brinquedo, e também admirando elas, junto do meu ex, junto desse pensamento, a imagem dele deitado numa cama de hospital não saía da minha cabeça.

A culpa me bateu de frente outra vez, e o desânimo também.

Yngrid - Eu passo, de nada.

Forço meu corpo para cima e me sento, colocando o copo em cima do banco para respirar, encarando as minhas, ainda mais o meu dedo que carregou o anel do nosso namoro por três anos.

Ainda era uma trouxa por pensar nisso.

Stancy - Vamos comer alguma coisa no Marisol? Estou afim de algo bem apimentado!

Tom - As carnes suculentas, bem passadas, com os molhos… - Dizia com os olhos fechados, imaginando os pratos. - Ah… Minha boca salivou.

Lais - Com você falando assim, qual boca não vai salivar?! - Reclamou, levanto o canudo e o colocando dentro da boca, tomando sua bebida igual a minha, enquanto encarava num olhar de ranço para os dois.

Yngrid - Alguém com a pança cheia.

Maria - Que, no caso, não é a sua.

Yngrid - Sou um buraco sem fundo, fi. - Pelo canto do olho, vejo três figuras familiares se aproximando de nós. Reviro meus olhos e bato minhas costas no banco.

Tener - Amiga, seu homem está vindo.

Alexander - Desculpa o atraso. - Falou, parando do lado da sua namorada e apoiando seu braço em volta dos ombros dela, dando um beijo na bochecha dela. - Esses caras não me deixaram em paz.

Oscar - Você tinha um pacto com a gente.

Alexander - E eu informei que esse pacto poderia, ou não, dar certo. - Virou seu olhar cheio de raiva para ele.

Jonas - Oscar, melhor você calar a boca do que ter uma morte sob o olhar do seu amigo.

Oscar - Jura, as vezes eu acho que nem somos amigos. - Firmou seu olhar forçado para o olhar de ódio do Alexander.

Alexander - Eu digo a mesma coisa.

Yngrid - Vamos deixar eles namorarem, gente, e ir comer! Meu estômago pede por algo saboroso, que me faça ver estrelas… Mas longe de casais melosos. - Interligo meu olhar ranzinza para os dois casais e sorri, falsamente.

Stancy - Agora aguente, bela adormecida.

Yngrid - Eu prefiro ser a Merida do filme Valente, o único filme de princesa da Disney onde a protagonista não precisa de um homem para resolver seus problemas.

Lais - Tem a Mulan.

Yngrid - Mar tem o carinha lá. - Olho para ela.

Lais - Mas ela não precisa dele. - Explicou, logo tomando sua bebida. - Mas mesmo assim, tem ele… tendeu.

Tom - Às vezes não entendo nada do que elas falam. - Comentou.

Yngrid - Faz tempo que não vejo Mulan. - Digo para mim mesma, desviando meus olhos para o chão. - Tenho que fazer uma lista.

Alexander - Do que estamos falando mesmo?

Maria - Comida mexicana.

Jonas - Eu adoro comida mexicana.

Yngrid - E quem disse que está convidado?

Tener - Quanto mais gente melhor. - Sorria para mim, com malícia, levantando seu indicador e me cutucar na perna.

Lais - Não me olhe com esses olhos de amendoim, tarado!! - Se virou para o lado, continuando a tomar sua bebida, com uma feição emburrada.

Tom - Bom, assim não sobra, e todo mundo divide a conta.

Tener - Eu posso ficar com o loirinho? - Pergunto num sussurro para mim.

Yngrid - Faça o que você quiser. - Olho para Lais, que me encarou de volta, e tombo duas vezes minha cabeça para frente, indicando para irmos na frente. Pego, na parte de cima, o copo que estava do meu lado para levantar, com cuidado levando o canudo para a boca e sugando a bebida doce e azeda, indo na direção da Lais. - Tchau pros retardados.

Stancy - Vai abandonar a gente?

Lais - Ir na frente, é a palavra! - Informou.

Tener - Não me deixe para trás! - Parou do meu lado. - Não quero sobrar no meio de tanta lambança!

Maria - De apelidinhos como: “ filhote do céu ”. - Gargalhou, debochando de Tom.

Tom - Você me respeita, Mariposa!!

Maria - Abelhudo!!!

Tom - Pé de Chernobyl!

Ambos começaram a gritar um com o outro, berrando os apelidos vergonhosos na frente de todo mundo.

Maria - Cabeça de hipopótamo.

Tom - Vaca leiteira!

Yngrid - Essa foi eu quem inventei!

Caminhamos pela passarela movimentada e longa, até descermos os degraus, onde, em frente, estava os prédios, um deles estava escrito: Marisol. Brilhante e enorme no topo e embaixo uma logo mais simples. Com um movimento considerável.

Tener - Vamos ficar dentro ou fora?

Yngrid - Pros abestalhados lá trás, tô pouco me fudendo, mas muaaaaa… - Aponto para mim mesma. - irei ficar adentro.

Tener - É bom ver que se importa com seus amigos. - Falou enquanto dramatiza um choro, dramático.

Lais - Você não pega ninguém com essa.

Tener - Nunca duvide, Bebê. - Jogou seu cabelo imaginário para trás.

Lais - Eu te pegaria, Tener.

Tener - Sei, minha amiga, confirmei isso quando a gente ficou flertando dentro da sala… Mas se eu te iludi, sinto muito, mona, mas gosto de pau.

Lais - Isso eu sei, destruidor de corações.

Yngrid - Meu pai, se beijem logo! - Reviro meus olhos e aumento o passo para subir a escada na frente deles, e atravessar as várias mesas e cadeiras até chegar na escada que me levaria para o andar de cima.

Lais - Me espera, cadela!

Yngrid - Aumenta o passo, satanás de pernas curtas! - Grito de volta, atravessando a curva da escadaria para subir até a porta.

Lais - Não começa a zombar da minha altura, Xerazade!

Sorrindo, abro a porta para passar, deixando ela aberta atrás de mim enquanto analisava as mesas vagas, até meu olhar bater em uma que estava nos fundos e perto da janela.

Yngrid - Aquela é minha! - Digo e caminho entre as mesas ocupadas, com o nariz empinado, indo até a mesa; arrasto a cadeira do lado da janela para poder me sentar. Solto um suspiro e olho para a vista que tinha do mar.

Lais - Sabia que eu amo quando você dá o foda-se - Arrastou a cadeira da frente da minha e se sentou, enfurecida. -, até  quando dá o foda-se pros seus próprios amigos.

Yngrid - Ai, miglis, tô bem não pra ficar perto de casais… Se estar perto de um foi um sufoco, imagina de dois?

Lais - Ainda tem os cara, né? - Revirou os olhos e tombou sua cabeça para trás.

Yngrid - Dá o foda-se pra eles também. 

Pelo canto do olho, vejo todos eles circulando a mesa e arrastando as cadeiras para se sentarem. Viro meu olhar entediado para eles, deixando claro que não queria eles perto de mim.

Maria - Tem dias que você é insuportável. - Comentou, se sentando do meu lado.

Yngrid - É, seu sei, amore. E quem disse que ligo. E valeu por se sentar do meu lado.

Maria - Fiz isso pra proteger o garoto.

Yngrid - Sorte a dele. Ia arregaçar na porrada.

Stancy - O que vamos pedir? - Perguntou animada, abrindo o cardápio.

Lais - Algo bem apimentado.

Sinto os ventos batem em mim, me deixando respirar com mais calma, e talvez tirar a tensão que eu mesma me coloco.

( - Talvez eu deva visitar ele outra vez amanhã - )

No meio do nosso jantar, tiro o celular de dentro do bolso meu macacão e coloco na câmera, estendendo meu braço para frente e apontando a câmera da frente na minha direção, mostrando mundo da mesa comendo e conversando, sem notar que tirava várias fotos comigo fazendo várias caretas.

Na última, chuto a perna da Lais, fazendo um gif no momento que ela abre a boca, numa careta assustada, comigo fazendo um beicinho e mostrando um sinal de paz com a mão, mostrando a agitação de todos atrás de mim, se repetindo e repetindo, para postar nos meus Stories.

Yngrid - Macarena está entre nós. - Digito acima das fotos mais constrangedoras possíveis e postei.

Tener - Amiga, você não vai… 

Yngrid - Já foi! HA HA!! - Riu malignamente, olhando cada foto.

Lais - Foda-se você, miga pra vida! - Falou com raiva, me olhando com fuzis nos olhos.

Yngrid - Foda-se é um cumprimento, sabia.

Lais - No planeta da sua cabeça de ovo?

Yngrid - Óbvio.

Depois do jantar, deixo os casais para trás, outra vez para ir até em frente do Píer, sentindo os ventos baterem em mim e sentir o cheiro da água salgada do mar, que trouxe a forte vontade de mergulhar; segurei firmemente a barra de ferro entre minhas mãos, inspirando com tensão, pronta para me jogar.

Lais - O quê cê tem? - Perguntou ao parar do meu lado. - Eu entendo que tem dias que você incorpora o próprio Lúcifer, mas… também entendo, e sei, que quando você fica assim, beeem distraída… tá acontecendo alguma coisa.

Yngrid - E porque estaria? - Dou de ombros.

Lais - Por que seu ex ainda tá em coma… E você se culpa, já falou isso, sendo que eu sei que você visitou ele semana passada. Olha, é uma barra fudida, mas… não precisa ficar assim.

Yngrid - É que… por mais que ele tenha sido um filho da puta do caralho, e eu tenha me vingando numa classe altíssima de elegância… - Sorriu sem um fundo de animação, olhando para o horizonte escuro, prendendo o meu pânico que começou a aumentar e as lágrimas que queriam se formar. - Eu não… eu não queria chegar nesse ponto. Eu nunca pensei que poderia chegar nesse ponto, de colocar uma pessoa em coma… por um mês… 

Lais - A gente pode pensar numa coisa.

Yngrid - Eu já pensei, mas não é tão simples. Eu sinto dor quando uso, e é insuportável. Minha cabeça lateja, parece que vai explodir… Se usar outra vez nele, eu não sei o que vai acontecer.

Lais - Uma cobaia? - Sugeriu.

Yngrid - Eu não posso… - Negava com a cabeça, sentindo meu corpo tremer por medo, culpa amarga que carregava no peito e que poderia aumentar, apenas por pensar em fazer isso em outra pessoa. - não mesmo.

Lais - Então, só podemos deixar nas mãos de um especialista… e ele mesmo.

Yngrid - Quero acreditar que sim… - Minha voz falhou, enquanto uma lágrimas deslizava meu rosto e caia na água por estar inclinada para frente.

Lais - Nóis pode nadar… sabe, eles tão distraídos com a Banquinha.

Yngrid - Quem? - Franzi e volto a olhar para ela.

Lais - Uma garotinha vestida de sereia. Banquinha era o nome escrito no cartaz em cima. Tem que ver como a cauda dela é.

Yngrid - Se ela cair na piscina num dia de Lua Cheia… Upiii, sortuda. - Balanço minhas mãos, comemorando sem animação.

Lais - Bom, você vai ou não, porque eu tô com uma vontade fudida de entrar desde tarde.

Yngrid - Nóis vai ir fundo, porque… - Abro meus braço para o céu e para o mar, a olhando como o óbvio. - Tá escuro. E não enxergamos no escuro.

Lais - Eu pensei nisso. - Sorrindo travessa, se virou para correr no corredor e virar a curva do píer, logo voltando e trazendo duas lanternas enormes. - E antes que me pergunte, eu comprei e estavam na promoção, pague uma de leve duas.

Yngrid - Eu não ia, mas ok. Joga.

Jogou uma lanterna e a peguei no ar, analisando a minha.

Yngrid - É mesmo a prova de água? - Pergunto, meio desconfiada.

Lais - Não confia em mim, doida? - Perguntou, indo até o portão e o abrir.

Yngrid - Pra quê essa frescura? - Seguro na barra e levanto meu pé para pisar na barra mais abaixo, subindo a mesma e me sentando logo depois, encarando ela fechando o portão. - Rebeldia, putonha.

Lais - Eu não vou voltar só pra praticar um ato criminoso, que eu, com certeza, faria! - Se virou para descer os poucos degraus e ir para a beira.

Yngrid - Ah. - Reviro os olhos e me jogo na água, quase gritando um amém ao sentir a água em volta de mim. Abro meus olhos, trazendo a lanterna para perto e procurar o interruptor, mas antes ou bombardeada pela chuva de bolhas que trouxe minha cauda à luz, enquanto eu apalpava sua base até encontrar o interruptor e forçar o botão para frente, quase ficando seca com a luz cegante que saia de dentro, por isso apaguei, vendo as famosas bolinhas coloridas na minha vista.

Levanto minha cabeça, quase cega.

Volto a olhar para frente, e mesmo estando de noite, ainda conseguia ver através da água escura, entre elas, via a silhueta da água já nadando à frente de mim.

Inclino meu corpo para frente, com ajuda dos meus braços, movimentando minha cauda; coloco meus braços para frente, segurando a lanterna com minhas para nadar. Me movimento lentamente, mas logo alçando Lais que nadava lentamente, arrastando sua mão sobre a areia, que se levantava e voava para trás.

Separo meus braços, ainda movimentando meu corpo, mas abaixando para o fundo e abrindo um sorriso, por acabar de ter uma idéia; batuquei meu dedo no seu ombro e a mesma me olha, logo desconfiando do meu olhar e do meu sorriso.

Aumentamos nossos risos e, bruscamente, voamos para frente, entrando na imensidão da escuridão que o mar estava. Por dentro, não queria admitir, mas estava com um certo medo, e era por isso que estava me achando estranha o suficiente por hoje.

Estava sentimental demais!!! AAAH!!!

Eu e ela estávamos lado a lado, podendo nos enxergar através das bolhas que criavamos ao atingir a velocidade, nos tornando mais velozes para ver quem venceria por passar do círculo de pedras nos corais, mas sempre cortando o mar num nível acima do fundo para não correr risco de batermos em alguma pedra… mas ainda existia a chance de batermos contra algum animal.

Voltamos a nos encarar, com a marca competitiva na face de cada uma; ela ligou a lanterna e se afastou, começando se movimentar entre a água e ir mais para o fundo.

Apenas via a luz forte entre a escuridão, e as bolhas.

Com ranço, tomo impulso, ligando a lanterna e voando para frente, me movimentando entre o espaço, com ela embaixo de mim, iluminando a escuridão, e, foi então que percebi, que já não havia mais fundo… Eu não via mais o fundo do mar.

Com a diversão que estávamos tendo, percorrendo a distância do mar, mal percebemos que fomos longe demais da costas. Logo paro violentamente, chicoteando minha cauda sobre a água, e ficando quase em pânico ao me ver sozinha numa imensidão escura e azulada, mesmo tendo uma lanterna com uma potência sobrenatural com uma luz que poderia cegar qualquer um.

Começo a olhar em volta e procurar a Lais, já que o bagaço batia o cu da bunda que, no momento, não tinha. Não via nada, mesmo com a porra luz, e era isso que estava me traumatizando e concordando que nunca mais iria nadar numa noite escura… pelo menos tão longe da costa.

Me puxo para frente, movimentando minha cauda para dar impulso, e poder procurar pela corna sem chifres. Se não fosse pela água, já estaria gritando pelo nome dela, e também, se não fosse pela água, tomo o universo ouviria meu grito de pânico, quando algo tocou meu ombro: abri minha boca e a água entrou com tudo, mas meu grito abafado expulsou ela, que me agonio com o gosto salgado; balancei todo meu corpo como uma lagartixa com cãibra, o que me fez soltar a lanterna.

Com o susto nem me dei conta, mas quando fecho minha mão e não sinto minha única segurança contra o escuro, arregalei meus olhos e olho para baixo, vendo a minha luz no fim do túnel caindo para o fundo. Me joguei para baixo e nado como nunca atrás da lanterna, e, pelo milagre de ter uma cauda, a Barbie que engula poeira, eu consegui pegá-la.

E com a força do ódio, levanto a luz para cima, enxergando a Lais gargalhando e fazendo gestos de assusto, me imitando.

( - Uma afronta contra mim - )

Bato, fortemente, minha cauda através da água para subir rapidamente na direção dela, com fogo nos olhos; mas ela começou a nadar para cima, também com velocidade.

Felizmente, para sua desgraça, INFELIZ, a alcançar, pelo menos sua cauda, e começo a bater na sua barbatana que se movia apressadamente, mas que logo parou ao atingir a superfície.

Continuou a subir, passando na sua frente, e sair para a superfície, logo ouvindo a sua risada que ecoava pelo silêncio assustado.

Meu olho chegou a piscar pela irritação, por segurar a vontade de matá-la enforcada.

Yngrid - Isso não tem a menooooor graça!!

Lais - Pra VOCÊ não tem graça… HAHA!! - Continuou a rir, tirando suas mãos de dentro da água e começou a batê-las.

Yngrid - Quando acontecer uma desgraça com você, eu vou comemorar, quando o povo comemorou o dia da independência do Chimbinha do Calypso!!

Lais - Isso não aconteceu. - Parou de rir, mas ainda tinha um sorriso debochado no rosto.

Yngrid - Mas vai quando acontecer a desgraça na sua vida! SUA PUTA!! COMO PODE ME ASSUSTAR NO MEIO DO VALE?!! - Gritava, histérica, balançando meus braços para cima e pela água, jogando água nela! - Eu poderia ter morrido do coração! Cadela!

Lais - Para de histeria! No meu lugar, faria a mesma coisa!

Yngrid - E faria mesmo! Não minto. MAS SOU EEEEU QUEM PASSOU POR ISSO!! ENTÃO, AGUENTE, QUE AINDA TEM MAIS PRA SAIR!!!

Ela me encarava com um olhar de tédio, mas que logo desviou para o lado, e sua expressão endureceu, quase arregalando seus olhos, mas escancarando sua boca, levantando seu olhar para olhar algo mais acima.

Lais - Yngrid… - Me chamou com sua voz fina, amedrontada.

Yngrid - Agora tem medo de bicho babão, babona?!

Lais - É-é que… - Tirou sua mão de dentro da água para apontar para frente, insistentemente.

Yngrid - Mas que porra, porrice! Eu tô aqui, querendo tretar no meio do oceano! Pode realizar isso pra mim?! - Cerrei meu olhar, irritada.

Lais - Sua puta! Quando eu entro em choque e aponto pra trás de tu - Segurou no meu rosto e me virou. -, é você olhar, cacete!

Yngrid - Aaaaahnn… - Arreganho minha boca e arregalei meus olhos com o que vejo na minha frente: Via a pura reencarnação do Titanic na minha frente, estando bons metros de distância de nós, mas ainda sim, era assustador com o tamanho do navio. - É o Titanic? Nóis voltamo no tempo?

Lais - Yngrid, eu prefiro nem responder, e pelo que tô vendo… - Levantou sua mão e apontou para um bote que estava boiando logo em frente, depois abaixou. - tem alguém lá embaixo…

Yngrid - Não é só isso… - Levanto minha mão, tirando de dentro da água, para apontar para o que parecia ser um drone com uma lanterna, vindo na nossa direção.

Lais - Cacete que partiu! - Segurou nos meus ombros e me empurrou para baixo, mergulhando junto comigo.

Nos afundamos ainda mais na água, enquanto olhávamos para cima e vimos a luz do drone focando no lugar onde estávamos. Bruscamente Lais pegou na minha lanterna e o desligou, segurou na minha mão pouco depois para me puxar mais pra baixo, nos movimentando com pressa para o fundo, entre o escuro e o silêncio do vazio, que chegava a ser uma dor dentro do ouvido. Mas, antes de pegarmos velocidade, no horizonte da escuridão, vimos quatro pontos de luz que se moviam no espaço, o que formavam um círculo à nossa volta, e que, aos poucos, se aproximavam.

Nós paramos pelo susto, principalmente da parte da Lais, que começou a apertar com força a minha mão; comecei a balançar minimamente minha mão, para fazer ela me soltar pela dor que estava sentindo. Mas, rapidamente, segundos depois, me soltou para enrolar a faixa de segurança da lanterna no seu braço, depois voltou me a segurar, com firmeza, e se virar para o lado, mas paralisou outra vez: ao olhar na direção, meu corpo instantaneamente se alto-anestesiou, com o arrepio gelado que percorreu pelo meu corpo, e toda minha vida passou diante dos meus olhos: uma luz maior e forte estava vindo na nossa direção, perto o suficiente para nos ver; era algum tipo de drone circular, onde percebi a vidraça na frente com alguém do lado de dentro.

A minha reação aquilo foi ficar imóvel, com os meus sentidos gritando, apavorados, dentro de mim, para sair correndo, mas o pavor me dominou, congelando todo o meu corpo e me impedindo de fazer alguma coisa para me esconder.

Lais, ao contrário de mim, sentia sua mão trêmula e que me apertava com mais garra; estava apavorada. Foi então que uma nuvem de chuva de bolas invertida, atingiu a máquina, fazendo as infinitas bolas se dispersaram pela água ao atingirem a parte debaixo do drone; Lais soltou minha mão, para fazer o mesmo movimento e aumentar a pressão daquela chuva, que aumentou espontaneamente suas bolas: o drone voou para cima, junto da sua luz.

Então, eu ouvi um sino fino soar ao longe, e viro meus olhos na direção, vendo os mesmos pontos de luzes virando, roboticamente, e virem na nossa direção.

Foi como um estalo na minha cabeça, com a última tocada do sino, minha consciência despertou do pânico e agi; segurei na mão da Lais e mergulhei para baixo, movimentando rapidamente minha cauda enquanto cortava a água em plena escuridão. Estendo meu braço para frente, sentindo que me aproximava do fundo pela água que ficava mais fria e densa, mesmo não enxergando nada.

Por reflexo, percebi que as luzes se aproximavam.

Pelo tato, sinto algo alisar as pontas dos meus dedos, afastei minha mão e paro pelo susto, mas eu afundo ainda mais e senti suas pontas moles alisando meu corpo, fazendo cócegas na extensão da minha cauda, e no meu rosto. Levanto minha mão até a altura do meu rosto, balançando a mesma para afastar as plantas, eu presumo ser algas.

Ainda segurando a mão dela, a solto para apalpar seu braço, procurando a lanterna, que logo encontro junto do interruptor, para, brevemente, ligar a luz e me encontrar, mesmo, sobre uma vegetação de algas altas, percebendo um caminho longo feito por elas mais para frente.

Rapidamente desligo a luz, com ela começando a se mover na minha frente, e por medo de ficar sozinha, a sigo com gás, sempre do seu lado, sentindo, por vezes, brevemente, nossas barbatanas se tocarem, enquanto sentia as cócegas feitas pelas algas que passava, com o cu inexistente fechado pelo medo de encontrar alguma coisa entre elas.

Continuávamos a seguir com calma, até que a luz forte se acendeu acima de nós, e percorrendo o matagal submerso… procurando por nós… Talvez?

Esse pensamento me gelou outra vez, acelerando meu coração, com o pânico crescendo no peito que se apertou com angústia e medo.

Sem prestar atenção na minha amiga, pela adrenalina do desespero que me cegou, continuei a me mover para frente, com mais rapidez, agora não sentindo mais cócegas das algas que ainda me alisavam, mas, ao passar de um certo ponto, eu não as sentia mais; parei no lugar, movimentando meus braços e olhando em volta; as luzes tinham um alcance extremo de claridade e atingiram o lugar vazio, abaixo de mim; arregalei meus olhos ao perceber que estava no centro de um abismo que tinha caralhudos de metros mais maior do que eu.

Parecia que eu era um peixinho insignificante, nadando no vazio do universo! Na boca de um Jaburu!

Abro minha boca, num segundo grito abafado, sentindo o gosto salgado atingir minha língua, sentindo meu coração dilatando violentamente pelo desespero, vendo as várias bolhas subindo em frente do meu rosto. Movimento, bruscamente, meus braços, juntamente do meu corpo para trás, com minha cauda parecendo um chicote cortando a água, com meu impulso de me virar com a idéia de me esconder entre as algas, mas uma mão, que saiu de dentro delas, me puxou para baixo, me deixando infiltrada entre as algas e ver, entre as piscadas da luz, o rosto cheio de fúria da minha amiga entre elas, ao mesmo tempo de perceber que a piscada da luz forte, acima de nós, que girava e girava.

Franzi meu rosto, levanto ele para cima, abrindo a boca ao ver a lanterna girando pela água e caindo, na nossa frente, como a lanterna de um farol, que caia dentro da cratera, com seus feixes de luz iluminando, APENAS, as partes onde a luz fixava ao girar, mostrando como a intensidade da escuridão do abismo era densa, tendo somente um ponto de luz que se tornou fraca, ao contrário de como era forte fora da cratera.

Acompanhei ele com os olhos estáticos, e prendendo meus lábios um no outro para segurar a risada, pela cena ser engraçada… pelo menos quando ele estava caindo no começo, mas ao perceber como a escuridão era violenta, meu sorriso desapareceu e o medo, que já estava em mim, piorou.

Viro meu rosto para ela, que também me olhou, quase estática, com ela fazendo menção de ir para frente, e como não sou besta, a segui, na cara de pau; apoiamos nossas mãos sobre a areia da borda para nos puxar pra frente, deixando nossas cabeças à centímetros da beira

Meu estômago revirou, e me arrepiei, o que me fez tremer o corpo.

A escuridão do lugar trazia uma sensação de desespero, mesmo eu não estando dentro, o pânico batia no estômago e retorcia; o desespero quase me fazia sair disparada, por ainda ver a luz continuar a cair e quase sumir, ainda girando no espaço.

O silêncio estava quase me fazendo surtar, mas a ponta de surto se vai ao ver a luz parar, ou era o que pensei; via os feixes de luz serem tampados pela nuvem de areia que se levantou na região onde a lanterna caiu. Ainda em choque, analisava as rochas com os poucos feixes que refletiam sobre elas, dando a visão das rochas serem dominadas por plantas e musgos, revelando os cardumes de peixinhos tão pequenos que quase não eram vistos.

Mostrou o quão aquele precipício era fundo.

Os mesmos peixes estavam agitados, nadando para fora do cu do oceano; os vimos pela pouca luz.

Curiosa, mesmo com o cu fechado, me puxo para frente e inclino meu corpo para baixo, deixando meus olhos entreabertos para fixá-los no fundo, percebem as várias entradas de vários tamanhos, espalhados pelas rochas, parecidas como um labirinto. E, entre as sombras formadas no fundo, percebi uma corda, ou o que parecia ser uma, remexida entre a areia, na entrada de uma das cavernas do fundo, do lado esquerdo… apostaria numa cobra.

De repente, a minha vista embaçou e uma forte pulsação espremeu minha cabeça, quase me fazendo soltar um grito de dor; ponho minhas mãos em volta da minha cabeça, as apertando, tentando fazer com que aquela dor fosse embora. Era impossível.

Tudo em volta de mim se tornou turvo e não ouvia mais nada…

- So… co… -

Bruscamente abro meus olhos, em choque, por ouvir uma voz ecoando dentro de minha cabeça, uma voz falha e fraca, parecia desesperada. Minha cabeça pulsou em dor novamente, tirando toda a minha concentração nessa mesma voz.

- E-eu… sinto você… entã…. me ajuda… Estou dentro da cratera… -

Abro minha boca para gritar, por sentir meu cérebro ser espremido violentamente ainda mais, a ponto de não sentir mais meu corpo, e tudo se tornar vazio… não sentia mais nada.

Senti o lado esquerdo do rosto ser espatifado com força, o que me faz voltar a ter consciência e abrir meus olhos, ainda tendo a visão embaçada que, aos poucos, foi voltando ao normal, e ver o semblante de desespero da Lais, que me balançava.

Rapidamente me lembro da voz e salto para trás, levando meus olhos para baixo e mergulhar, mas sou segurada pela Lais e puxada, tendo seu olhar de reprovação e seus gestos bruscos; apontava para a cratera e depois para o lado, insistentemente. Me obrigava, com olhar, a me afastar para irmos embora.

Franzi a sobrancelha, com raiva, começando a fazer vários gestos, batendo minhas mãos, uma na outra, desengonçadamente, na tentativa de explicar que tinha uma pessoa… ou outro ser vivo, lá embaixo que precisava de ajuda, mas ela sempre franzia o olhar, me olhando confusa. Por último, aponto para baixo, com o olhar forçado e birrento, e ela negou freneticamente, espremendo seus ombros, deixando claro que não iria descer, ou me deixar descer.

Com raiva, levanto o indicador, fazendo um círculo na sua frente e depois uma linha reta, embaixo. Com dois indicadores, estendo dois palitos do lado da linha reta e mais dois abaixo da linha reta. Abro minha boca, movimentando meus lábios, lentamente, soletrando a palavra “ HO-MEM ”.

Solto um suspiro de alívio, vendo as bolhas subindo na frente do meu rosto, ao vê-la pronunciar “ ho-mem ” e assentindo.

Depois estendo meu braço para trás e aponto para baixo, mantendo firme meus olhos aos dela, que estavam atentos a cada movimento meu, por mais confusos que estejam, depois junto minhas mãos e as envolvo no meu pescoço, levando minha língua para fora da minha, fechando meus olhos e tombando minha cabeça para o lado.

Segundos depois abro meus olhos e sorrio para ela, que piscava, ainda confusa, mas assentiu freneticamente e apontou para trás, indicando os drones com um olhar de desespero.

Abro um sorriso, levantando minhas mãos duas, abrindo uma e depois a outra, e: “ Booom!! ”. Imito uma explosão.

Franziu o olhar e negando, mas eu alarguei ainda mais meu sorriso maligno e assinto.

Receosa, balançou seu corpo, apoiando suas mãos no chão e virando seu olhar para cima, mas eu não estava preocupada, sabia perfeitamente que ela iria tomar conta, mesmo estando com medo. Tiro meu rosto de demônia e apoio minha mão sobre seu ombro, fazendo ela me olhar com pânico, dando um sorriso calmo para ela, tentando passar serenidade, a verdadeira paz, através dos meus olhos… pelo menos eu tentei.

Sem mais esperar, sentindo o frio na barriga, apreensiva, com o martelo batendo contra peito, balanço minha cauda para me levantar para frente, enchendo meu peito de coragem ao tempo de fechar meus olhos e mergulhar dentro do abismo escuro, nadando com movimentos quase congelados e o olhar inquieto para os lados, com o corpo trêmulo, num terror interno que aquele lugar me fazia sentir.

Estava apavorada por estar no centro da cratera, no escuro, e foi por esse mesmo pavor que subi de volta para pegar uma das lanternas que Lais segurava para voltar e ligá-la, apontando diretamente para a rocha ao ligar a luz, pelo medo de ter algo nela, mas não tinha nada, apenas algumas suspensões de plantas.

Ainda me sentia trêmula, apontando a luz que também tremia para baixo e voltar a me movimentar, sem alívio algum.

Seguia mergulhando ainda mais para o fundo, e quanto mais afundava, a água parecia ficar mais densa e turva, e escuro continuava mesmo sendo iluminado com a minha lanterna que era apontada para todas as direções, que agora, não parecia mais ter a potência que tinha antes. O silêncio era perturbador, o que fez meus pensamentos se agitarem de uma forma desconhecida por mim, me fazendo imaginar, e lembrar, montar as figuras de monstros que podem viver aqui em baixo… Se isso fosse verdade mesmo, estaria ferrada, e também seria uma trouxa de ir resgatando uma pessoa, que nem sabia se era uma pessoa, do fundo desse cu cheio de água.

Também, meu raciocínio está pesando na mente, me fazendo lembrar que estou há metros abaixo da superfície, no fundo do mar, com um tanque de guerra em cima da minha cabeça, cheio de pessoas. Pensar nisso, me fazia revirar o estômago de desespero, que subia no peito e se prendia na garganta, por mais que eu seja uma criatura do mar, em parte…

Continuei a descer, com o corpo reprimido, quase me arrependendo de ter escutado aquela voz; mesmo naquele espaço, eu me senti apertada. Apontava a luz para todo o lugar duvidoso que olhava, e a cada apontada de luz, era uma parada do coração, mas a cartada final da minha aflição foi apontar a luz, agora sem intensidade, para uma entrada infinita, escura, mesmo com a luz apontada, o que não era novidade; parei bruscamente na frente da entrada que era um círculo perfeito, estranhamente, e enorme, diferente dos outros que ignorei.

Encarava aquela escuridão, estática, agora com o coração pulsando forte, mas lentamente, sentia meu falecimento parte na porta e a vontade gritante de subir para ir embora daquele lugar, mas a consciência falou alto e me fez lembrar do pedido de ajuda.

Até duvidei se aquele pedido de ajuda foi feito pela minha própria cabeça, já que estava tão surtada com aquele lugar.

Me xinguei eternamente por não conseguir dar as costas.

Voltando a acordar, ainda me encontrei diante daquela passagem direto para o além; espremi meus braços junto do meu corpo, franzindo meu rosto, e mergulhei para baixo, apertando a lanterna entre minhas mãos, movendo minha Cauda para descer rapidamente.

Passei por mais algumas passagens que eram espremidas, estreitas e menores, ignorando todas, estando com pavor, me aproximei da caverna logo abaixo de mim. Apontei a luz para baixo e enxerguei a corda.

Me aproximei da parede, apoiando minha mão sobre as rochas, para sentir, pelo menos, segura, enquanto descia, até me aproximar da parte de cima da caverna e pôr minha mão sobre a beira para me puxar pra baixo; levo minha mão, que segurava a lanterna, para baixo e apontar a luz para o fundo ao colocar meus olhos na direção, me chocando com o que vi: o corpo de um cara estava boiando, desacordado, estando com equipamentos de mergulho, menos com o cilindro; sua corda estava presa no corpo. Com uma máscara cobrindo seu rosto.

Via ele de cabeça pra baixo, e aquilo bugou meu cérebro, dor de cabeça, ficando zonza por segundos. Rapidamente, com ajuda das minhas mãos, me jogo para baixo e me viro para cima, sem desviar meus olhos do cara, até ficar de frente para a entrada e abaixar meus olhos para os fiapos que o final da corda tinha.

Me balanço para baixo, com o braço estendido para pegar a corda, fazendo a areia voar pela agitação, e subir novamente, levanto a lanterna para deixar a corda na luz e ver os fios grossos se tornarem finos, entre pequenos fios que balançavam. Pensei: “ Deu muita merda ”.

Volto a pôr meus olhos no cara, colocando meus braços para frente e me impulsionar, apontando a luz no corpo que boiava, mas escuto um suspiro pesado e carrancudo, que fez uma corrente de bolas passarem por mim, vindos de atrás de mim, o que me paralisou e fez voltar com o frio na barriga, a tremedeira no meu corpo, e o medo entalado na garganta subir de vez, levantando os pelos do corpo numa onda gelada.

Meu corpo estava denso, e rígido, num conflito interno para me virar, mas recuando pelo medo; medo de me virar e realmente ter um brutamonte atrás de mim, apenas esperando que eu me vire para me engolir numa mordida.

Tremo meu corpo ao ouvir o grunhido dele, e, como jás dizias mamãe: “ Aquele que rezas, cais em cima da cruz com os cus nas retas ”.

Bruscamente solto a corda e junto minhas mãos, começando à reza, movendo meus lábios freneticamente, sentindo o gosto salgado bater na língua, ouvindo outro grunhido raivoso atrás de mim, arrepiando mais uma vez os pelos do meu corpo.

Movo meu corpo lentamente para o lado, choramingando, ainda com as mãos juntas, quase desmaiando ao dar de cara com uma cara gigante de lagartixa: com duas antenas que tinham bolas pequenas nas suas pontas, na altura do seu focinho, e também existentes pouco mais abaixo da linha risonha da sua boca: uma boca larga com vários dentes finos e pontiagudos, com os da frente curvados para frente: barbatanas com finas pontas, parecendo garras, percorriam, desde a altura da sua cabeça, e continuavam pelas costas do seu corpo, terminando na ponta do seu rabo; pontas espalhadas existiam na sua base, entre barbatanas que terminavam numa enorme e pontiaguda ponta;

Seu corpo gigantesco possuía duas enormes asas, também com barbatanas que continham as pontas desproporcionais longas, finas, como uma agulha, prontas para assassinarem sua pressa; sua pele grossa tinha uma mistura acinzentada com verde musgo e salmão, que reluzia a luz, tornando a textura translúcida e que revelava as várias veias correntes pelo seu corpo.

Talvez a coisa mais extraordinária do seu corpo, mais bizarro ainda do que suas formas apavorantes, e o que não me dava tanto pavor, eram os vários pontos de luzes azuladas, postas em fileiras pelas laterais do seu corpo, que terminavam a ponta do seu rabo.

Novamente, eu vi minha vida passar diante dos meus olhos, somente tendo o corpo paralisado, porque minha alma já estava com Jesus, até poderia jurar que sentia as minhas lágrimas se formando nos meus olhos pelo calor que sentia vir deles. O meu corpo tremia pelo desespero, meus olhos estavam fixos no bicho, sendo retribuída pelos seus olhos que, de alguma forma, exalavam sua luz azulada mais tensa do que a própria luz da lanterna que eu apontava.

O bicho poderia me engolir com apenas uma dentada, e era isso que mais me apavorava, porque estava entre a entrada da caverna e a saída.

Daqui era pra baixo, com certeza.

Me estremecia de dentro para fora, por, praticamente, estar na frente dos seus dentes finos e longos, que tinham, basicamente, quase o tamanho da minha altura. Essa imagem medonha não iria sair da minha cabeça tão cedo.

Solto um grito e ele abre sua boca, me fazendo ter a imagem aterrorizante da sua garganta que tinha cor escura, e uma língua curta, áspera, revelando mais ainda seus dentes.

Me segurei para não desmaiar, diante do seu grito ensurdecedor, tanto que deixou meus ouvidos zumbirem, com certeza que ecoou por todas a cratera, talvez o único som que ouvi desde que entrei aqui.

Quase gritei “ aleluia ” por finalmente ter ouvido um som desse lugar maluco.

Mas o mais pavoroso, foi ser jogada para trás pela potência que aquele grito tinha sobre a água, e bater contra o corpo de defunto, ou quase, levanto ele junto até batermos com brutalidade contra a parede de rochas; minhas costas arderam ao rasparem pelas colunas entre as rochas; dor espremida que senti na nuca por bater contra a rocha, me tirou lágrimas pela dor brutal.

O zumbido nos meus ouvidos, a forte bancada que minha cabeça tomou, e a anestesia que sofri em todas as partes possíveis do meu corpo, me colocou numa inconsciência de segundos, que apenas sentia meu corpo boiando com meus braços voando.

Forcei meu corpo a se mover, de alguma forma estando consciente, mas ele, simplesmente, não me obedecia, continuando imóvel como o cara que tinha atropelado; aquilo me apavorou. Sentir aquilo e não conseguir me mover, me colocou mais pavor do que ver uma criatura como aquela, e que estava prestes a me devorar.

Aos poucos, o zumbido foi diminuindo, mas ainda continuava com a tontura apertando a cabeça, e os sons de gritos rasgados que raspavam o ouvido, e batidas violentas, começaram a aumentar, ao longe, mas se aproximavam lentamente. Sem mais forçar meus movimentos, eu apenas aceitei a ficar boiando, mas ao ver uma fresta de luz bater por cima dos meus olhos fechados, instantaneamente abro eles, continuando a ficar imóvel ao ver uma boca carregada de agulhas bater contra violentamente, entre os gritos que agora conseguia os ouvir perfeitamente, pelo pouco espaço da entrada.

Num segundo, o mesmo parou de bater contra a entrada e se afastou, abaixando seu olhar cheio de luz, que exalava em olhos circulares e estáticos, envolvidos entre tecidos que pareciam pele morta, para conseguir me ver, e, então, abre novamente sua boca e solta um grito mais agonizador e cheio de ódio do que o primeiro; aquele ecoou no espaço da caverna, o que pareceu intensificar, porque senti meus ouvidos se esquentarem.

Com medo, rapidamente envolvi minhas mãos por cima das orelhas e os aperto, para proteger com força a minha audição, que, uma vez, quase perdi por escutar músicas com o volume no máximo, por mais que hoje em dia eu escutasse, as chances disso acontecer eram mínimas, na época, eu era uma criança, e agora, eu poderia perder por um grito sobrenatural.

Algo gelado tocou minha barriga, e no desespero, abro minhas mãos e as impulso para frente, com os olhos fechados, mas segundos depois o grito some.

Abro meus olhos e vejo a criatura mais afastada da entrada, o que me dava a chance de sair num jato, mas desviei o meu olhar para o cara do meu lado e a raiva me desceu.

Eu era egoísta, rabugenta, a própria criação do inferno quando queria, mas a minha pose caia por terra quando me encontrava em situações complicadas com meus amigos, mas agora era diferente, era a vida de alguém que podia ser comido pelo monstro do cabaço perdido se eu for embora.

Resmungo e vou até ele, que estava curvado para frente, segurando as alças que tinham sobre seus ombros para puxá-lo e me virar para a entrada, mas a chance de sair foram pro cano ao ver os olhos acesos na minha direção: seus dentes estavam rígidos se batendo um no outro, parecendo rosnar. Estava pronto para avançar, com força, pra cima de mim.

A idéia de que estava presa com um defunto impregnou em mim, e quase me faz jogar o cara para longe, mas, pelo canto do olho, ver algo parecido com um cilindro cair, levanto meu rosto para cima e ver uma passagem escura: abro minha mão, sem tirar meus olhos do cano acima de mim, na direção da lanterna, onde sua luz estava apontada para mim, fazendo mínimos movimentos para mover a mesma através da água e trazê-la até minha mão.

Sinto ela bater contra minha mão e a aperto contra meus dedos, logo depois levanto ela, apontando sua luz para cima, e mesmo com a água turva, consegui ver as várias ondulações feitas nas paredes que abriram o espaço do túnel para cima, sem conseguir ver o final, e era aquilo que me preocupava.

Sem olhar para o carinha que queria meu corpo como jantar, me movo para cima, puxando o cara pela alça, enquanto apontava a luz para cima. Entro no túnel, que somente tinha espaço para duas pessoas nadarem; naquele momento agradeci por não ser claustrofóbica, por perceber que aquele caminho era longo, mas ainda me colocava um pouco de pavor por pensar que poderia ser um caminho sem saída.

Ainda continuava a ouvir os gritos, mas agora estavam abafados, aquilo me tranquilizou por saber que estava longe daquele carinha e que não podia entrar.

Até abri um sorriso debochado, gritando vitória, mas ainda tinha esse cara e não sabia o que iria fazer.

Pela luz, eu vi uma encruzilhada mais para cima e a mesma onde parei, confusa, apontando a luz para os mais de quatro caminhos, minúsculos, largos. Foi ali que comecei a cantar “ uni-duni-tê ” na minha cabeça, apontando a lanterna em cada entrada, acabando encolhendo uma entrada larga à minha direita. Dou de ombros e me movo, balançando minha cauda com pressa, o que proporciona a velocidade ao meu favor.

Apontava a luz para as paredes, ainda receosa, e percebi que elas estavam se alargando a cada segundo que seguia pelo caminho. E ao virar por uma curva, outra vez, à minha direita, eu paro pelo susto de ver centenas de luzes da mesma cor que os olhos daquele cara estendidas no teto, mas essas estavam borradas, com ondulações da água sobrepondo as mesmas.

Meu coração quase pára os batimentos, fazendo meu peito doer, e a corrente gelada surfar por mim. Logo me acalmo por perceber que não era ele, mas ainda não me sentia segura.

Sem ter o que fazer, apenas continuou, segurando cara e apontando a luz na direção, por mais que agora não precise, pela luz das próprias luzes azuis serem mais eficientes do que a lanterna.

Me movimentava lentamente na direção delas, cerrando meu olhar para ter uma visão melhor das luzes, mas apenas via seus borrões. Mas suas luzes soltavam dentro da água, como se fizessem parte dela, iluminando, praticamente, toda a extensão do corredor até a parte da frente.

Paro abaixo delas, curiosa, franzindo o rosto e me obrigando a continuar, mas simplesmente não queria ir sem saber o que era aquilo; dei o foda-se para a razão e segui minhas emoções que me direcionavam para as lâmpadas de teto. E, ao subir, dou de cara com um espaço sem água, mas que pingava a água de cima… entre aquelas lâmpadas que tinham mais de dez centímetros de altura, de vários tamanhos e larguras.

Estava, praticamente, de boca aberta olhando para elas que tinham uma emanação de energia fora do normal, olhadas de perto elas me hipnotizaram pela sua luz transcendente. As mesmas pingavam água, sem explicação.

Tiro meus olhos do brilho da luz para prestar atenção no teto, ficando de boca aberta ao ver as várias ondulações feitas pela água que subiam e se rastejavam pelas rochas, e caiam, em quantidades enormes, ao chegarem nas próprias pedras acesas. Franzi meu rosto ao perceber, ficando ainda mais confusa com aquilo.

Yngrid - O que mais de doido pode ter aqui embaixo… - Comento para mim mesma, foi então que ouvi uma tentativa de suspiro do meu lado. Viro meus olhos, vendo, pelo canto, o semblante do cara através do vidro escuro da máscara de ar. Dou um suspiro, mal-humorada. - Você ainda tá vivo. Cacete. Sorte do gramunhão da porra… Tá, se tu tá vivo… eu tô mais fudida ainda… Mar como vamo sair daqui, cacete…?

Yngrid Off

Lais On

O medo, que não me abandonava, me dominava a cada movimento, desde que percebi esses caras nos rondando; o pânico de algo sério acontecer, era desesperador.

Desde o segundo que Yngrid entrou nesse fundo de poço, eu procurava um jeito de afastar aqueles drones de perto da entrada, das formas não letais que encontrava, por não querer machucar ninguém.

Levanto minhas mãos duas, na direção de um drone que vinha na direção da entrada, estando quase acima de mim, sentindo as pressão sobre elas, e que fizeram a máquina parar no caminho; umas das suas luzes começou a se mover para minha direção. Ponho mais força sobre minhas mãos e as empurrei para frente: o drone foi jogado para trás, com velocidade, parando metros ao longe.

Pelo canto dos olhos, vejo uma luz se aproximando, e, rapidamente, levanto minha mão até ela ao pôr meus olhos na mesma direção, me concentrando, apenas, no vidro, que refletia a imagem de dentro: um homem estava dentro, com roupas de proteção, brancas, e me olhava diretamente, parecendo saber que eu estava lá.

Percebendo aquilo, o meu sangue gelou, sentindo a onda do pânico crescer e me paralisar por segundos, mas caí por terra ao perceber a camada do gelo crescer sobre o vidro.

Minha mão ainda continuava suspensa, trêmula, preparada para o que vier, mas a minha concentração firme pelo medo se foi por escutar um grito que raspava os meus tímpanos de tão agudo e violento que era; o grito em si não era alto, mas era ecoado numa extrema fora do comum. Pareceu vir de dentro da enorme cratera.

O grito parou e franzi o rosto, pensando na Yngrid.

Bruscamente me impulso na direção, parando sobre a beira e olhando para baixo, e o que vi me paralisou, não só corpo, mas a mente. Aquilo era mais bizarro do que ficar horas da noite com personagens de terror, que poderiam te matar a qualquer momento. Mas aquilo, pelas luzes que se moviam no que parecia ser seu corpo, era de uma proporção gigantesca que me gelou a alma do pavor que senti.

Sem pensar, mas pensando na Yngrid, estendo meus braços e abro minhas mãos, sentindo a movimentação constante da água ao meu redor, sem tirar meus olhos daquilo que emitia luz: círculo minhas mãos e as empurro para baixo, impulsionando a água que levava vários pedaços de pedras, entre nuvens de areia, na direção da criatura.

( - Ai meu Deus, bichinho! DESCULPAAA!! - )

A minha agonia de saber que iria machucar um animal, mesmo sendo um brutamonte daqueles, me fazia mal. Mas ao ouvir seu grito de ódio, eu paro, fechando as minhas mãos, o que fez as nuvens de areia se espalharem e as pedras, simplesmente, caírem na entrada.

Com a água turva, eu firmei meu olhar para conseguir enxergar, mas a escuridão não ajudava, ao contrário dos pequenos pontos de luzes que via perfeitamente; num segundo, se moveram bruscamente para cima, numa velocidade que meus olhos não acompanharam. Quando percebi, os seus olhos brilhantes, que me penetravam num encanto infinito de desespero, estavam sobre mim, arregalando sua boca com infinitos, longos, finos e pontiagudos, dentes para mim, mostrando sua garganta escura e profunda, me deixando em mais um complexo de pânico.

Meu corpo inteiro se tremeu, até o último osso, arrepiando os pelos de todo meu corpo, ainda tendo meus olhos presos nas luzes penetrantes e cegantes dos seus olhos, que me prendiam totalmente num luppi de pavor.

A mesma boca soltou um berro alto, que, novamente, rasgou os meus ouvidos, e o zumbido agudo dilatou por dentro, pulsando, com a pressão apertando minha cabeça; meus olhos estavam fechados com força, com meus braços em volta da cabeça para tentar diminuir a dor, mas ele ainda berrava na minha frente.

Subitamente, num pensamento que passou rápido pela minha cabeça, consigo abrir minha mão e a fechar com violência, sentindo os ossos dos meus dedos estalando pela energia apertar a minha mão. Após, sinto meu corpo ser jogado para trás, ainda ouvindo seu grito ecoando: meu corpo se chocou contra a areia e começou a rolar, até começar a perder a velocidade, mas bato de barriga contra uma pedra, o que me faz abrir a boca e sugar a água salgada para dentro e se prender na garganta, quase me sufocando com a necessidade de tossir.

Subo com tudo, sentindo a dor na barbatana por batê-la contra uma pequena pedra, cortando a água num jato até parar centímetros abaixo da superfície, fazendo as chuva de bolhas subirem ao meu redor e borbulharem na superfície. Continuou batendo minha Cauda contra  água até puxar o ar de cima, começando a tossir como nunca, sentindo o gosto salgado na língua, e puxando o ar profundamente.

Ainda tinha o zumbido me incomodando no ouvido, mas que, aos poucos, foi diminuindo, junto com a dor na cabeça, me fazendo recuperar os sentidos de tudo à minha volta.

Lais - Essa foi a pior “ cof-cof ” sensação de todas… - Fico segundo apenas tossindo, e pensando comigo mesma que eu, podendo ficar sem respirar por minutos, ainda podia me afogar. - Então é assim que é a morte?!

Viro meus olhos para o lado, vendo aquele navio ainda mais longe, mas com luzes de todos os pontos dele sendo ligadas, causando uma extrema intimidação nos meus olhos. Tiro meu braço da água para colocá-lo em frente dos meus olhos franzidos, notando que suas luzes fortes iluminavam o lugar a metros de distância, podendo até chegar em mim.

Mas o que tirou minha atenção daquelas luzes, foram os pontos transcendentes que começaram a surgir na turva e escura água, se levantando para a superfície.

Lais - Não… isso vai dar muito ruim! - Apreensiva, mergulho com tudo e indo bruscamente para frente, percorrendo o espaço vazio e escuro; viro meu rosto para trás e me estremeço numa onda gelada ao ver seus olhos reluzentes e arregalados me encarando friamente entre a escuridão, como suas luzes que sobrepunham a água, se movendo entre movimentos calmos que atingia uma velocidade avançada, como eu. Poderia dizer que tinha fortes chances de me alcançar, mesmo nadando em círculos e fazendo curvas; parecia que estava mais perto de mim.

E, como num susto, ao voltar a olhar para frente, que quase parou meu coração, quase me choco de frente com um dos drones, onde o mesmo se inclinou para o lado no momento que iríamos bater, e passo raspando o casco embaixo, sentindo a ponta da minha barbatana riscar brevemente a lataria.

Continuou a correr, com o coração quase falhando no peito, no meu corpo que se tremia, mas sou tirada desses pensamentos ao escutar novamente seu berro cortante ao longe, mas, de repente, ele parou. Paro bruscamente, balançando meus braços desengonçadamente, e me viro para ver ele, que estava nadando em círculos em volta do drone, sobre a luz da lanterna do drone, assustadoramente, balançando seu corpo de um modo calmo, olhando fixamente para a luz, olhando para sua presa, e, em segundos, abre sua mandíbula que estava trêmula de tão rígida que estava, mostrando seus dentes afiados.

Paraliso em pânico vendo sua boca se tornar uma garra com agulhas nas bordas, esticando sua mandíbula e a parte de cima como se não tivessem fim, ou sentir alguma dor, diante do drone que era um rato comparado com ele, e eu uma mosca; lentamente começou a ir na direção da enorme garra e suas luzes começaram a piscar.

Eu estava em pânico, um pânico de um gigante monstro do mar que estava prestes a engolir uma bola de lata, com uma pessoa dentro; tudo acontecia diante dos meus olhos apavorados e imóveis, mau movimento um músculo.

Foi uma buzina alta que veio de longe, ecoando no vazio, que me tirou dessa profunda dormência e ter a noção do que estava acontecendo, e mesmo estando com medo, eu voei na direção dele; indo em direção à sua cabeça. Passo por cima dela e seguro firmemente sua primeira ponta, que tinha um calor peculiar, sendo extremamente liso, e duro, por isso envolvi meus braços em redor dele, acabando dando um giro ao parar de bater minha cauda.

Sua cabeça foi puxada para o lado, pelo impulso que fiz, o que chamou sua atenção e o fez grunhir, e começou a balançar violentamente sua cabeça e se jogar para os lados, se movimentando pela água com brutalidade, enquanto meu corpo era jogado, sendo batido com violência contra a água; tinha meus olhos fechados enquanto prendia meus braços com mais firmeza entre aquela ponta, chegando a tocar sua barbatana grossa.

Giramos e circulamos pela água, em quilômetros pelo mar, por ele querer me tirar de cima da sua cabeça.

Ainda apertava meus braços envolvidos na sua ponta, me sentindo voar enquanto percorria junto dele, com um frio na barriga, e já com algumas dores pelo corpo.

Se a sensação não fosse assustadora, eu estava sorrindo por diversão; estar segurando numa antena de um monstro do mar foi uma realização de um sonho não sonhado. Me sentia como Indiana Jones, ou o próprio Harry Potter em cima do Grifo, mas ao contrário de sentir alegria, era desespero, porque não sabia o que fazer para fazer ele parar.

Até comecei a ficar com tontura pelos tantos giros que ele dava.

Finalmente abro meus olhos, ainda os deixando entreabertos para ter foco na água, e acabo vendo, entre as faixas de luz que estavam vindo de cima, próximo de onde ele estava indo, uma figura que tinha Cauda e que segurava alguém, indo rapidamente para cima, na direção de um bote; meu batimento desacelera pelo susto por reconhecer a Yngrid.

Rapidamente, bato a barbatana na sua cabeça e a balanço com rapidez, puxando ele para o lado contrário, forçando meu corpo com todas as forças que eu tinha, principalmente a minha cauda, para fazer ele se afastar; minha cauda, em toda a extensão, começou a crescer a dor dormente, juntamente dos meus braços que estava escorregando. Por ficar com os olhos fechados, não consegui ver, muito menos perceber, se essa tentativa deu certo, mas tudo que conseguia saber era que, pelo seu grunhido, ficou ainda mais raivoso.

E, como numa noite de sono pesado, quando pulamos na cama e nos aconchegamos nas cobertas e adormecemos, senti meu corpo levitar, sendo aquecido por algo macio e aconchegante, não antes de perceber uma luz sobre minha pálpebra. Ainda estava consciente, por isso tentei me mover, e, novamente, o pavor de não conseguir me mover me dominou; forçava meu corpo num grito interno que apenas eu ouvia, e era desesperador; minhas lágrimas começaram a se formar… mas algo me interrompeu.

A sensação, era como um estágio entre estar acordado e a dormência, entrando no sono profundo, onde seu corpo não se movia mais, e não temos o controle sobre a mente…

Imagens desconhecidas, de vários momentos, com pessoas diferentes, começaram a passar pela minha cabeça; as mesmas eram fortemente familiares. Um estalo aconteceu, como um silêncio perturbador, e os momentos conhecidos de alguns sonhos, que ainda me lembrava, estavam passando pela minha cabeça e, aos poucos, sentia minha cabeça sendo puxada, ou era como sentia. Puxada de dentro para fora. Os vislumbres que tinha sobre meus sonhos de infância, e os mínimos recentes, foram se desmanchando entre ondas de luzes azuladas, como se fossem apagados ao mesmo tempo… e por mais que eu esforçasse, não me lembrava mais nada… muito menos dos meus próprios sonhos, das minhas vontades… das pessoas…

Lais Off

Yngrid On

Deixo aquelas luzes para trás, nadando rapidamente para o final do túnel, ainda puxando o cara pela alça. Passo pelo corredor e paro entre a encruzilhada de vários caminhos de vários tamanhos, como o último, apontando a luz pela água turva para enxergar alguma coisa, fora do campo de luz das lâmpadas azuis atrás de mim. Mas, reparei que havia sons de demolição ecoando pela caverna, o que voltou a me dar preocupação, pelo lugar desconhecido que estava, principalmente porque os sons estavam vindo debaixo de mim.

Franzi meu rosto e aponto a luz para baixo, do mesmo modo que olho para baixo, apenas vendo rochas com alguns riscos tortos de luz fraca, quase inotável, mas que, com o passar dos segundos, foram aumentando sua luz, como num pisca-pisca, até os feixes ficarem tão intensos a ponto de iluminar todo o lugar, até que os sons aumentaram.

Houve um estrondo, que deduzir ter acontecido do outro lado da rocha, onde ele ecoou, ao mesmo tempo que rachaduras mais bruscas e abertas começaram a se formar por toda a extensão da rocha, aumentando a luz azulada, que explodiu com a demolição das rochas, onde seus pedaços caíram lentamente em meio, praticamente, as mesmas lâmpadas que emitiam a luz azulada, mas aquelas, dentro da passagem, eram mais largas e maiores que eu.

Todas tinham a mesma forma, como as formas de um escudo de cavaleiro; tinha a forma de um diamante, com a superfície lisa. Suas luzes eram, consideravelmente, mais fracas com as que tinha encontrando lá trás, mas, ainda sim, tinha uma luz forte que cintilava; as mesmas estavam soltando uma espécie de correntes de luz reluzentes, que estavam direcionadas para frente.

Pela segunda vez, fiquei encantada e surpresa por essas pedras, curiosamente, as mesmas que aquele brutamonte tinha no corpo.

Curiosa, inclino meu corpo para baixo, me balançando até a passagem, que começou a ter feixes fracos, e que começou a circular o espaço do buraco feito na rocha, como um redemoinho. Tentada a passar por ela, aumento a rapidez com que balançava a cauda e passo entre os feixes claros, não sentindo nada, e ao olhar para a sala que era tão ou mais maior do que a própria cratera, que também tinham pedras mais menores, mas o que percebi de primeira foi a enorme nuvem que as correntes de luzes estavam fazendo: a luz era mais densa dentro da massa, parecendo cintilar a cada segundo. Não revelava o que tinha ali dentro.

Dou de ombros, mesmo achando aquilo fodasticamente demais, para voltar a prestar atenção nos cristais de luzes, que, em volta deles, de todos que eram presos nas rochas, tinham rachaduras com fortes luzes azuladas pelas rochas; segui as mesmas rachaduras com o olhar, interligando meus olhos entre os milhares riscos brilhantes, até me sentir tonta. Parei por alguns segundos.

Pisco milhares vezes para tirar o incômodo e voltar a olhá-los, dessa vez seguindo os riscos, e notando que eles levavam para o mesmo caminho, contrário da nuvem que estava no centro da sala; me viro lentamente para o lado e depois levanto meus olhos: os feixes quase invisíveis de luz estavam vindo da luz que saia das rachaduras, se formando num tornado, olhando de baixo.

Encarava aquele estudo com dúvida, mas, pelo canto do outro, eu via uma cintilação que me chamou a atenção e me fez olhar para a pedra, que tinha meu tamanho. E sim, era mais assustador de perto.

Nado para frente para ficar de frente à ela, mas não tinha reflexo. Deixei isso de lado e me aproximei ainda mais, levantando meu braço e erguendo meu indicador. Balanço minha cauda para frente para parar, e aproximo meu dedo da superfície brilhante, notando que, ao redor, um pequeno círculo de luz começou a se acender, em volta do lugar onde iria tocar, quase não era notável, mas como estava perto, notei. Continuei, e o círculo apenas aumentou sua luz, até que ele começou a diminuir e se fechar: meu dedo estava a centímetros de tocar a superfície.

Então, meu dedo tocou, juntamente da luz que também tocou meu dedo, causando um som suave, parecido com sinos, em tons mais finos e delicados, entre ondulações que se formou na superfície lisa ao tocá-la e afastar meu dedo.

Abro um sorriso e começo a tocar a superfície com meus outros dedos, fazendo um ritmo de toques bons de se ouvir, entre ondulações formadas pelos toques dos meus dedos. Por um instante, eu esqueci que estava segurando o cara e o soltei, para ajudar com o meu músical, mas ao notar que a mesma pedra começou a tremer, assustada, eu me afastei, deixando minhas mãos para frente e olhando desconfiada para a pedra que não parou de tremer.

( - Eu fiz merda - )

Olho de relance para o lado e volto a olhar para a pedra, mas como um surto eu volto a olhar para baixo, com os olhos arregalados, por ver o carinha afundando. Bruscamente, com raiva dentro de mim, por já ter pegado ranço desse cara, me impulso para baixo e mergulho, acabando batendo minha barbatana contra a pedra que soltou um som agudo e outros sons que me assustaram: sons de rachaduras.

Crack. Crack. Crack.

Paro, estando de ponta cabeça, e viro meus olhos preocupados na direção da pedra, que sua ponta inferior estava rachando; logo os pedacinhos começaram a se soltar e caírem.

Rapidamente continuou a descer com velocidade até o cara, e o segurar nos ombros.

( - Deveria ganhar uma grana por salvar sua vida, né não? - )

Me viro de volta para trás, notando os vários pedaços minúsculos que caíam sobre mim; estendo meu braço na direção de um pedaço que caía acima de mim, conseguindo pegar a mesma e a aproximar do meu rosto. Analisava com atenção a pedra que ainda emanava luz, e foi o momento que o escuro se fez no lugar, fazendo assim, acesas as únicas fontes de luz que eram os pequenos pedaços que sobrevoavam, com algumas poeirinhas de luz que estavam nadando pela água.

Olho em volta e era tudo escuridão, além de duas bolinhas minúsculas que estavam no breu… me observando.

Engoli em seco por me lembrar do grandalhão, mas ele era um dinossauro comparado com aquele, que, possivelmente, era um mais menor, ou não. Mas agradeci, abrindo um sorriso debochado, pensando comigo mesma: “ se fosse uma versão menor, pelo menos era um ”. Mas o meu sorriso se desfaz ao ver as bolinhas de luzes aparecendo, uma seguida da outra, fazendo o meu coração subir pra garganta ao ver os infinitos olhinhos de demônios me olhando, onde os menores pontinhos de luz se acenderam numa linha reta pelos seus corpos, que iluminavam uns aos outros; revelou a montanha das caras de lagartixa que estavam prontos para virem me comer.

Abro minha boca, sentindo o gosto salgado, para abrir um mínimo sorriso de que a alga fedeu pro meu lado.

Então, todos eles pularam para frente, ao mesmo tempo, numa velocidade incompreensível, onde meus olhos não conseguiam acompanhar. Rapidamente coloco a pedra na minha outra mão, que segurava a alça do cara, e aponto ela na direção dos peixes; circulava ela, sentindo as correntes das águas se moverem por mim, controlando eles para irem na direção dos mesmos: os que foram atingidos pelas correntes, foram jogados para trás.

Ao perceber, começo a movimentar as formas da minha mão, intensificando as correntes, estendendo meu braço para todas as direções, jogando os filhos do capeta pra longe de mim. Eu mal reagi pelo susto, pensando em nadar para fora dali, mas quando esse pensamento explodiu na mente, eu senti o cara se balançar do meu lado. Brevemente olho para ele, vendo um capetazinho acabando com seu capacete.

Viro minha mão na direção, fazendo uma corrente atingir o demônio, consequentemente também atingiu o capacete que voou para trás.

Numa última tentativa, solto ele, deixando minha mão aberta do seu lado e a empurrei para cima, conduzindo seu corpo, sobre a água, para cima, vendo seu corpo sendo empurrado para fora daquele buraco de piranhas. Rapidamente, impulso minhas mãos para baixo, causando uma pressão sobre a água que me jogou para baixo, fazendo o mesmo com eles, mas corto a pressão com minha cauda, batendo ela contra a água para subir para cima. Antes de sair, peguei o pedaço da pedra que estava boiando próximo à entrada.

Ao sair, impulsiono minha mão para baixo, repetindo o mesmo que fiz, após estendo meu braço para cima, me concentrando no corpo do cara e o empurro com violência para cima. Eu subia com o bater de cauda, apressadamente, mas sem voar, porque não sabia o que iria acontecer com o cara se fizesse aquilo, mas também a adrenalina não me deixava pensar em mais soluções, estava assustada, mesmo não querendo estar assustada.

Olhava para baixo e queria gritar pelo pavor de ver uma multidão de olhos me seguindo, um ultrapassando o outro, se arrastando pelas paredes das rochas, com seus dentes afiados se batendo um contra o outro, me olhando numa profunda e perturbadora necessidade de fome, aquilo perturbava e desesperava qualquer um. Eu estava num completo desespero, talvez o desespero mais fundo do pavor que tinha chegado na minha vida causada por peixes.

Iria ter pesadelos hoje.

Continuava com o processo para mantê-los afastados de mim, até ver uma luz no final do túnel, literalmente. Joguei o cara com as mais fortes rajadas que conseguia para tirá-lo de dentro e o deixar bem afastado da entrada. E então, eu voou para fora daquele túnel, com a corrida não durando dois segundos por passar a entrada, e parei bruscamente, me virando para baixo e ver os filhos do largartixa se aproximando.

Com o coração batendo no talo da minha garganta, sentindo meu corpo inteiro tremer, sem controle algum, olhando desesperadamente para os lados, procurando algo, mas não tinha esperança. Foi então que encontro uma pedra que estava inclinada sobre outra pedra. Não sabia que tinha o tamanho do buraco, ou a largura perfeita, mas, mesmo assim, estendo minhas mãos na sua direção, sentindo o peso apertar minhas duas mãos, mas era suportável: a pedra saltou poucos centímetros do chão, mas logo voou para cima ao fazer esforço, sendo que eu mesma não tinha nenhuma noção de direção, por isso que perdi várias vezes o controle sobre o movimento, e era aquilo que estava me agoniando no desespero por saber que eles estavam já na pimpa de saírem.

Então conduzi a pedra sem calcular na minha direção, sem calcular a distância e a força que colocava, estava quase fora de mim e trêmula, sem ter tempo para pensar. Eu queria gritar e abandonar tudo.

Somente fechei meus olhos e impulso minhas mãos para baixo, sentindo um forte impulso na minha frente e ruídos de arranhões, entre gritos abafados.

Com todos os centímetros do meu corpo trêmulos, sentindo o calor nos meus olhos por começar a chorar, abro meus olhos e vejo a pedra por cima da entrada, aquilo me deu um certo alívio mas não tirou a agressividade das emoções que estava sentindo.

Num segundo, eu me lembrei do cara e olho para cima, vendo sua silhueta entre as luzes fortes que vinham de cima, acima do enorme casco que estava a metros de distância de nós.

Já com a mente cansada, com o corpo cansado, sentindo meus músculos doloridos, ou poderia ser frescura minha pôr ser dramática ao nível insuportável, me movimento com pressa para cima, sem demorar para que fique diante de dele e o segurar pelos ombros, começando a me balançar suavemente, olhando para cima enquanto subíamos com rapidez, nos aproximando ainda mais da claridade.

Abaixo os meus olhos, de relance olhei para ele e consegui ver o formato de seu rosto que tanto a máscara escondia; era um moreno que deixava qualquer uma maluquinha. E quase me xinguei por ter sido tão rabugenta com uma beldade daquelas… Uma beldade que me lembrava alguém. Uma beldade que, por segundos, fez meu coração balançar.

Com a minha viagem dos meus pensamentos, vejo ele abrir os olhos e deixando eles entreabertos, me olhando com uma serenidade que não compreendia por ter ficado quase meia hora do lado de uma retardada, principalmente, se afogando, e percebo a cor deles, eram verdes e brilhantes. Por segundos, fiquei hipnotizada por aqueles olhos verdes.

Saio da minha hipnose ao ver o mesmo começar a tossir.

( - Depois de tanto tempo, veio tossir agora, inferno? - )

Sem pensar, me aproximo e colo minha boca na dele e empurro o ar para dentro da sua boca, ficando segundos na minha posição, enquanto, ainda, subíamos.

Descaradamente - Deus poderia me enviar pro lado dele depois disso - comecei a movimentar os meus lábios nos dele, sentindo a água salgada, que já estava, praticamente, fazendo parte de mim, sendo que também, ele mesmo começou a movimentar os seus contra os meus. Em segundos, pareceu que tudo havia parado, e as lembranças de tudo que aconteceu foram se afastando, trazendo a bagagem da forte sensação que estava explodindo dentro de mim, o que me fez parar de me mover.

A tensão que sentia sobre mim, por sentir um turbilhão de batimentos por segundo, a forte impressão que familiaridade que tinha desse cara, que nunca tinha visto na vida, me deixou com a mente bagunçada entre o beijo mais inesperado que dei…

Talvez pela intensidade em que estava sentindo tranquilidade, depois de tudo que aconteceu… Talvez… Não sei.

Foi ali que percebi que fiquei mexida por um beijo de um cara desconhecido.

Me separo dele, sentindo a preocupação do golpe subindo… dele saber que sou uma sereia. Meus pensamentos ficaram ainda mais bagunçados quando ME percebi, que trocava um olhar profundo, trazendo uma sensação mista de saudade… e raiva.

Lógico, eu tinha raiva dele porque, por culpa dele, eu passei pelo que passei, e foi esses pensamentos que me acordaram e que me levaram a continuar a levá-lo para cima, já estando, praticamente, a centímetros da superfície.

Me afasto cautelosamente, ainda segurando nos seus ombros para empurrá-lo para cima, mas ainda por continuar querendo ver seu rosto pela última vez até o empurrar com mais força para cima. Balançava meus braços e minha cauda para me levarem para o fundo, ainda olhando para ele, e que, também, avistei uma sombra de um barco se aproximando.

Observei o mesmo chegar na superfície e o barco parar logo depois, fazendo uma curva para ir até o cara, que logo foi puxado para dentro do barco.

Então, as luzes fortes que vinha, a luz que iluminava tudo, que vinha de cima, se apagou, como uma lâmpada que se apaga e deixa o quarto na mais completa escuridão, e era assim que estava agora, na mais completa escuridão.

Apenas tiro minha atenção dos caras na superfície ao ver, pelo canto dos meus olhos, uma luz forte cintilar na escuridão. Me viro para a direção, ficando com o corpo rígido ao ver a Lais estendida sob a cabeça da lagartixa: seus braços estavam esticados, seus cabelos estavam ondulando para cima e sua cauda esticada, imóvel, com olhos fechados e um semblante calmo. Talvez a parte que mais me desesperou, e me chocou, foi ver ela sendo incorporada pelas correntes de luz que saiam das pedras que lhe tinha no corpo, também dos seus olhos: as correntes iam diretamente para ela, contornando ela com a própria luz que cintilava mais e mais, iluminando tudo em volta.

Arregalo meus olhos e abro minha boca, franzindo o rosto, vendo aquela cena que parecia de outro mundo; ganhar Cauda e poderes numa lagoa, tudo bem; conhecer uma entidade que dá vida aos personagens de filmes numa noite de halloween, tudo bem; encontrar um monstro marinho no fundo de uma rala sem fim, tudo bem, também. Agora, ter o corpo envolvido por uma luz magicamente azulada, fazendo a gente brilhar, aí já era demais!

E agora, a raiva por aquele trambolho, o ranço daquele cara de lagartixa, estava subindo em mim, me revirando inteira de dentro para fora. Somente fecho minhas mãos e me impulso para frente, voando com tudo na sua direção, determinada e com uma coragem que estava faltando para encarar ele de frente.

Bruscamente, ao chegar perto, inclino meu corpo para baixo e viro minha cauda para cima, matematicamente calculado, para batê-la contra uma das suas joias brilhantes; a adrenalina que sentia parecia que acelerou o tempo e tudo aconteceu tão rápido; apenas senti a dor em toda a extensão da minha cauda ao bater contra a joia, e de ser arremessada para longe.

Tudo que vi, após isso, era luz que se espalhou pela água, a mesma que me levava para longe.

Viro meu corpo com tudo, pelo movimento da corrente, bato minha barbatana contra ela, cortando a luz no meio e paro, balançando meus braços para me manter no lugar por ter minha cabeça espremida pela dor, remexida pelo movimento brusco que a luz me jogou pela água, mantendo meus olhos fechados para aguentar a dor. Os abro segundos depois que a dor estava diminuindo e olho para eles, franzindo com o que vejo: as luzes que antes saíam das pedras e iam na direção dela, agora pareciam que era ela quem puxava as correntes de todas as pedras em todo o corpo do carinha, tendo os dardos que emitem luzes cintilantes entre as correntes claras, indo diretamente para o corpo dela, ainda envolvido pela luz azul.

Antes, achava que o bicho iria gritar, mas não, ele ficou quieto, imóvel, com seus olhos também soltando as correntes com os dardos reluzentes e fortes. Aquilo me deu um medinho profundo, não só por ele, mas pela Lais, que continuava imóvel e recebendo aquilo.

O que iria acontecer quando aquilo acabar? E acabou, quando o último dardo de luz saiu da primeira pedra, a mesma que tinha acertado, e foi diretamente para ela, sendo seguido pela corrente de luz mais clara e que foi se acabando… No segundo que ela sugou o último feixe, eu vejo um cintilar da mesma pedra que jogou uma luz sobre a água por explodir, soltando uma parte.

E ali eu percebi que estava ferrada, por ser a segunda pedra de luz que quebrava, e por ouvir o seu grito novamente que rasgou meus ouvidos. No momento que iria pôr minhas mãos sobre minhas orelhas, acabo batendo a parte da pedra que tinha rachado nas passagens submersas, na região da minha orelha, percebendo que ainda segurava ela.

Afasto ela da minha orelha e a ponho na frente do meu rosto, não sabendo o que fazer com aquilo.

Volto a ter atenção sobre ele, pelo seu grito que se tornou um grunhido raivoso, como um de cachorrinho, mas o dele era mais rouco e agudo, e que ecoava por conta própria. E, novamente, senti meu sangue gelar, ficando imóvel, com o olhar estático, pelo pavor de ter os seus olhos cintilantes entre a escuridão, entre as outras pedras de luz pelo seu corpo, na minha direção.

A luz que estava em volta da Lais, já, praticamente, estava se apagando, fazendo ela desaparecer, apenas deixando um vislumbre da sua forma entre a pouca luz que o bichano emitia, enquanto ainda boiava inconsciente.

Num movimento ríspido do animal na minha direção, eu fui com tudo para trás, percorrendo o espaço escuro, com medo de olhar para trás e ver aquele par de olhos acesos atrás de mim.

Meu coração já não aguentava mais susto.

Afundo mais na água, vendo, por um vislumbre de sombras, a silhueta da pedra passando abaixo de mim milhares de vezes, por mim nadar entre ziguezague, numa tentativa falha de deixar o cara tonto, como nos desenhos, mas acho que isso não vai funcionar. Mas, num raciocínio rápido, e mamãe iria ter orgulho de mim, penso naqueles filhos de satã, e que, provavelmente, sua mamãe está atrás de mim.

Abro um sorriso satânico e inclino meu corpo para baixo, batendo minha cauda sob a água, mas me jogar para frente e descer para mais perto do fundo, sentindo aquela água fria. Seguro a lanterna presa no meu braço e ligo a luz, virando ela para baixo, vendo plantações entre pedras, areia, e logo passo raspando por cima dele da enorme pedra.

Somente segundos se passaram e escuto seu grito, mas agora tinha um tom macio, e sofrido.

Paro bruscamente e me viro, vendo os olhinhos dos diabinhos junto do corpo iluminado da mamãe, se aconchegando nela com necessidade. E, por um momento, achei esse momento fofinho, esquecendo a parte que todos tentaram me matar.

Mas, do nada, todos viram seus olhares para mim, e um ruído trêmulo começou a aumentar das profundezas do abismo, que vinha das suas bocas.

Já sabendo o que iria acontecer, balanço minha cauda e vou num turvo para longe deles, apontando a luz da lanterna para frente, mesmo  não vendo nada além de bolhas e a escuridão. Abaixo, logo na frente, vejo uma parte de luz, igual ao do carinha se movimentando, e paro, apontando a luz da lanterna para baixo, logo soltando um suspiro de alívio por ver a Lais descendo e indo até ela, pegando a mesma e olhando para cima, dando um sorriso para mim.

Comecei a ir até ela, e ela até a mim, mas um grito agudo nos tirou a atenção, e nos fez olhar para o lado, lugar esse onde tinha os vários pontos dos feixes azuis, se aproximando.

Com o olhar estático, viro outra vez para ela, da mesma forma que ela vira seus olhos preocupados para mim, permanecendo assim por segundos, até voarmos para o lado oposto do dele, lugar esse onde nós viemos. Podia não ser uma gênia na geografia como a Thais, mas eu sabia alguma coisa sobre.

Agilizamos com velocidade extrema, cortando o mar, passando pelo caminho do oceano num turbo até entrarmos na região familiar para nós, do recife perto da costa. Mesmo não enxergando quase nada,  sabia que estávamos em casa.

Tomamos o rumo pelo caminho do recife que sempre usávamos, nos direcionando com ajuda das pedras no fundo, até pararmos em frente às pedras e nadamos apressadamente para a superfície. Podia dizer por nós duas, que ainda estávamos com medo.

Yngrid - Seca! Seca! Seca! Seca! Seca! SECAAH!!. - Dizia com desespero, com a mão fechada por cima da cauda, espremendo minhas unhas contra a minha pele que já doía. Sentia meu coração errado as batidas, num agito que fazia meu corpo tremer. - O que cê vai fazer com esse pedaço de céu?

Lais - N-não sei! - Respondeu com a voz alterada e trêmula, tendo um olhar estático para a mesma. - Nem sei porque eu trouxe isso.

Yngrid - O pânico...? - Arregalo meus olhos pensando que ele poderia ter nos seguido até aqui. - E se ele nos seguiu.

Lais - Então, vamos ter que ter a obrigação de manter ele de volta pro lugar de onde saiu.

Yngrid - Pra lá eu não volto, de jeito ninhum!!! Mar neeem que me pague!

Quando nossas pernas surgiram, pegamos os pedaços e nos olhamos com dúvida, ainda mais ela que segurava um pedaço de espada reluzente nas mãos.

Lais - E agora, doido?

Yngrid - Esconde essa porra - Digo enquanto desamarrava a camiseta xadreza da minha cintura e jogo para ela. -, nessa porra!!

Lais - Amanhã te devolvo! Lavadinha e passadinha! - Pôs a camiseta por cima da espada da luz e a embolou, desengonçadamente, entre as mãos, formando um rolo que foi abraçado com força.

Nós corríamos pelas ruas, pouco movimentadas, desesperadamente com gás para querer chegar em casa e descansar.

Ainda segurava o pedaço de pedra na mão, e como a Lais, eu também não sabia o porquê trouxe isso comigo.

Logo viramos a esquina da rua da Lais, e de primeira notamos o grupo sentado na calçada em frente ao portão da casa da nova vizinha famosa. Mas aquilo não nos fez tirar o medo do cu, que não entrava nem agulha, para parar de correr, e sorte era da Lais, já que sua casa estava mais perto.

Lais - Depois a gente conversa!!!

Yngrid - Eu prefiro ignorar essa conversa!!!

Lais - EU NÃO!!! TCHAU!!! - Se virou para o lado, subindo na calçada da sua casa, correndo sobre o gramado feito para ir na direção da sua porta.

Yngrid - Brigada por me salvar, Jeováááá!! - Grito, continuando a correr pela rua, e ignorando os olhares do grupo sentado na calçada, apenas desejando chegar em casa e me jogar na cama. - TCHAAAAAUU, LAAAIXXXXX!!!

Yngrid Off

Lais On

Parecia que meu coração era um turbo sem controle, colocado no lugar do meu coração, por culpa da ansiedade, do medo, desespero, apenas por me lembrar o que vivi lá embaixo, depois de ter minhas lembranças apagadas, e de não me lembrar mais delas segundos depois, o que me desesperou, com engasgo do choro querendo subir, querer fugir pros braços da minha mãe por não me sentir segura. Somente me lembrava da sensação do profundo pavor de ficar imóvel, enquanto era sufocada por aquela luz, que me apavora, mas ao mesmo tempo, apreciava. Estava com um pedaço dela nas minhas mãos, mas não deveria, foi ela quem me fez sentir uma bola de sentimentos que, mesmo não me lembrando, eu sinto que vi algo que mexeu tanto comigo que me fez gritar, sentindo uma profunda dor inexplicável no peito, e que somente eu ouvi o meu grito.

E por mais que eu me esforçasse para lembrar o que vi, as imagens, simplesmente, não apareciam. Era como ter a resposta na ponta da língua, e ela estava presa.

A única coisa que me lembrava, eram os meus gritos e as sensações de felicidade, alegria, medo e dor. Era por isso que estava tão assustada com aquilo que segurava, e talvez era por isso que trouxe… para me fazer lembrar o que vi.

Suspirando agressivamente, corria pelo gramado da minha casa, deixando a Yngrid para trás, que corria com desespero pela rua e gritando, o que me tirou um riso contraditório pelo momento de estresse que estava passando. Ao pisar no degrau para ir de encontro com a porta, a mesma se abre pelo Taehyung, que quase pulou ao me ver, mas eu pulo pelo susto e por ele estar segurando uma garrafa cheia de água e molhada.

Taehyung - Sua doida!

Lais - Retardado! - Grito com o susto, sentindo meu coração falhar e a dor ao mesmo tempo, também com o corpo trêmulo, apertando o pedaço da pedra contra o peito.

Taehyung - O que tem aí? - Apontou para o enrolo da camiseta, com um olhar de dúvida e desconfiando.

Lais - Nada! - Digo com a voz pouco alta, pelo nervosismo, desviando meus olhos para dentro de casa e abraço ainda mais o embrulho contra o peito.

Taehyung - Do nada, você ficou péssima na arte de mente.

Lais - Cala a boca e sai da frente! - Abano minha mão para ele sair da frente e passar com passos apressados, quase correndo, passando pela sala e indo para a escadaria.

Taehyung - Lais!

Lais - Não existo!! - Grito ao subir os degraus, e corro para o corredor ao chegar no topo, avistando a porta do meu quarto; era como ver a esperança no fim do túnel.

Taehyung - Não minta! - Gritou, atrás de mim, começando a caminhar apressadamente pelo corredor.

Lais - Eu já disse que não existo! - Grito de volta, sem olhar para trás ao pegar na maçaneta e girar para abrir a porta. Atravesso ela num pulo, me virando logo depois, acendendo a luz e para fechar a porta, mas um pé se colocou entre o vão da porta, me impedindo de fechar.

Taehyung - Eu vi.

Levanto o rosto, passando meu olhar sobre ele até parar nos seus olhos desconfiados, deixo os meus entreabertos, forçando os mesmos a ficarem olhando fixamente.

Taehyung - Vai querer brincar mesmo de quem pisca primeiro? - Se inclinou para frente, empurrando a porta com sua mão, para entrar e manter o contato visual, com o ar irônico. - Fui campeão na terceira série.

Lais - Só vai, tô querendo dormir.

Taehyung - Aham… - Assentiu, abaixando seu olhar para o pedaço enrolado na camiseta. - O que tem aí?

Lais - N-nada… - Gaguejei pela minha condição não estar numa das melhores, sentia tudo em mim falhar miseravelmente, até nas minhas devezas. Irritada comigo mesma, me viro e caminho pelo meu quarto, para guardar aquilo.

Taehyung - É melhor tampar a luz, antes que outra pessoa veja.

Lais - Valeu… Espera?!! - Aumento a voz, arregalando os meus olhos e movendo a peça para levantar a parte de baixo, me xingando eternamente por ver um pedaço da pedra fora do pano. - Merda!

Taehyung - Onde encontrou isso, e nem invente uma história de que é uma lanterna ou outra coisa do tipo. Nessa noite, você cai ladeira abaixo se continuar a tentar mentir.

Lais - Tá bem! - Bato meu pé no chão, irritada, me virando para ele enquanto desenrolava o pedaço: sua luz cintilava mais que a própria luz do meu quarto. Olhar para ela, me fez estremecer o corpo por me lembrar da sensação de ser puxada. Me viro para ir até a cama e colocar a pedra sobre ela, e me afastar bruscamente, até bater contra meu irmão, que segurou nos meus ombros.

Taehyung - Você está gelada e tremendo. - Passava suas mãos pelos meus braços, procurando me esquentar.

Lais - Não é por causa do frio. - Respondo, suspirando pesadamente, sentindo meu coração batendo com força, ainda fixando meus olhos na pedra.

Taehyung - O que ela fez?

Lais - Não quero falar disso, mas, apenas saiba que ela pode… sugar você! Não chegue perto!

Taehyung - Oi?

Lais - É meio difícil de explicar, mas confia em mim - Aponto para ela, meio hesitante. -, você não vai querer descobrir.

Taehyung - E onde conseguiu?

Lais - Nadei por aí.

Taehyung - De noite? - Tirou suas mãos dos meus braços para se colocar do meu lado, e me olhar severamente.

Lais - Eu estava no mar, não no meio da rua! Ao contrário de humanos, temos monstros marinhos famintos… - Paro de dizer para respirar, depois continuar com a voz trêmula. - que podem te matar numa dentada…

Taehyung - Você encontrou um… monstro do mar? - Tentou esconder sua ansiedade na pergunta.

Lais - Não fique alegre, animal! - Irritada, digo com um olhar raivoso. - Ele tem cem vezes mais altura, largura, espessura, pele, ossos, olhos brilhantes, do que você! Os dentes dele chegam a ser do seu tamanho, só pra tu ter uma noção do tamanho da tromba!! E antes que pergunte, porque tô vendo seu questionamento, a resposta é não!! Fomos um tantinho longe… ou… muito longe da costa. Não sei em que região é, exatamente, mas era longe o suficiente para ser nas profundezas do caralho.

Taehyung - Numa das maiores crateras do mundo?

Lais - Exato! Aquele bicho vive lá dentro como uma lagartixa! E ele tem uma cara de lagartixa bizarra… mas, espera! - Fixo meu olhar, desconfiada, sobre ele. - V-você sabe onde é?

Taehyung - Quando falam que essa região, ou as regiões perto daqui, são estranhas, não desconfia. Até sei o que pode ser, as pessoas daqui escreveram tudo que aconteceu nesse lugar. Talvez seja uma tara. Já volto. - Deu uma última olhada para a pedra para se virar e andar para fora do quarto.

Fiquei os segundos que ele saiu, encarando aquela coisa de luz, com dúvidas na minha cabeça, se eu realmente deveria mexer com aquela coisa apenas para me lembrar de lago que nem eu mesma sei o que deve ser… já que a única coisa que me quebrou aconteceu anos atrás. Não deveria ser isso, eu me lembrava perfeitamente.

Pode ser que a única coisa boa de ter as minhas lembranças apagadas, foi esquecer dessa, em específico.

Taehyung - Uma das lendas antigas dos piratas que passavam por aqui, eram registrados num livro que está disponível ao público na biblioteca da cidade. - Falou enquanto passava pela porta, parando do meu lado e esfolando as páginas de papéis gastos do livro.

Lais - “ As fantásticas aventuras no Alto do Galeão? ” - Leio a capa.

Taehyung - O nome do navio pirata-Encontrei! Deseja que eu leia tudo ou…

Lais - Resume o resumo, do resumo, do resumo.

Taehyung - É uma criatura que, naquela época, destruiu metade das embarcações, sejam elas piratas ou não. Mas o curioso são as embarcações escolhidas. Todas elas eram de piratas, óbvio, e… embarcações de levas de entregas, como mercadorias, enfim… - Explicava enquanto lia por cima.

Lais - Quando pegou isso?

Taehyung - Meses, irmã.

Lais - Não fico surpresa. - Me inclino para o lado, e olhar para a pedra, verificando se ela estava normal.

Taehyung - As embarcações que afundaram sempre tinham algo de valor, como dinheiro, joias, quadros… E os que sobreviveram, sempre voltavam sem memória… ou em sã consciência. - Fechou o livro.

Lais - Sem consciência? - Pergunto.

Taehyung - É por isso que quase ninguém acredita nessas histórias. Voltando pro mundo real. Esses eram sobreviventes dos naufrágios, que voltavam com lesões na cabeça, mas não fisicamente.

Lais - Psicologicamente?

Taehyung - Sim. - Assentiu, fixando seu olhar em mim, pensativo.

Lais - Eu tô bem, não precisa se preocupar. Yngrid me salvou.

Taehyung - Mesmo assim, se isso não é somente uma lenda do mar, pode acontecer alguma merda se alguém ver esse cara, principalmente olhar dentro dos olhos. Escreveram que, a apenas de olhar na sua luz, você enlouquece.

Lais - Eu olhei e não aconteceu nada…

Taehyung - Talvez seja porque é uma sereia, a coisa pode ser bem diferente quando se trata de pessoas normais… - Falou, mas logo abriu seus olhos em alerta. - não que vocês não sejam normais…

Lais - Eu entendi.

Taehyung - É por isso que ele levou o nome de O Predador de sonhos.

Lais - Um predador de sonhos que vive numa vala.

( Continua… )


Notas Finais


Obrigada por lerem.


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