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História Quase H2O - Luzes Sobre Cabeças.


Escrita por: laia017

Notas do Autor


Quanto mais pensam que estão fora de problemas, os problemas aparecem para envolver as três, que refletem sobre si mesmas e no que sentem para com os outros em sua volta, enquanto caminham para uma nova etapa de suas vidas. Estando cientes de que uma bela joia encontrada num ser monstruoso poderia ser um perigo, a mesma joia concebe sua rara Chama de Luz, assim, desbloqueando mais mistérios que envolvem a si mesmas, revelando segredos guardados sobre o ex-reino extinto...
O maravilhoso Castelo, também possuíra artefatos históricos, palco para conflitos internos e discretas descobertas.
Bjs <3

Capítulo 26 - Luzes Sobre Cabeças.


Fanfic / Fanfiction Quase H2O - Luzes Sobre Cabeças.

Taehyung On

Lais - Bota pra fora, amendoim. - Falou, colocando uma colher cheia de sorvete na boca.

Caminhávamos pelo gramado em frente ao calçadão, que estava com mínimas pessoas fazendo suas corridas ou sentadas apoiadas nas árvores, numa manhã ensolarada de férias, que deveria ser tranquila, mas acabou se tornando bastante agitada, principalmente pelos meus estudos que faço por cima das pesquisas do Manuel, estavam enchendo minha cabeça com teorias e idéias sobre como a lagoa se formou, além do fato de que estava regularmente ajudando Hoseok com sua busca infinita pelo seu elo perdido. E Lais, desde o momento que saímos para caminhar, ela pedia mais explicações sobre o Predador e ainda mais sobre a Joia, a joia que se tornou um interesse maior por mim.

Taehyung - O que mais você quer? Já te contei quando ela começou a ser vista, desde o último avistamento.

Lais - Que foi, exatamente, trezentos anos atrás.

Taehyung - Duzentos e noventa e nove anos atrás.

Lais - É mesma merda! - Pôs outra colher cheia na boca, fazendo uma expressão dura enquanto olhava para a praia infinita com o fim azul.

Taehyung - Por que tanto interesse? - Pergunto pela desconfiança, porque a conhecia, ainda mais quando se tratava de algo que tinha um interesse a mais, sempre tinha uma coisa por trás.

Lais - Já disse, é curiosidade. - Mergulhava a colher no sorvete do copo protegido por uma toalha pequena, tendo um olhar perdido sobre ele.

Taehyung - Lembra, no quinto ano, quando nossa professora de artes nos mandou recriar as obras mais conhecidas do mundo?

Lais - E o que isso tem haver com o que estamos conversando? - Franzindo o rosto, me olhou confusa.

Taehyung - Você não conhecia nada de artes, fora os desenhos que você desenhava, então ficou no pé dos nossos pais para que eles te levassem para um museu de artes plásticas. E eu ainda não sei como você ficou tão alegre para ir no museu de artes plásticas? - Pergunto, confuso, olhando para ela que me olhava num semblante cansado. - Meu pais falaram que desenhou tudo de tudo que você viu nas artes do museu, e não descansou até deixar o seu desenho perfeito… e sabe porquê?

Lais - Não. - Respondeu com semblante de tédio, revirando seus olhos ao voltar a olhar para o calçadão.

Taehyung - Que você foi atrás de inspiração porque você acreditava que iria fazer algo memorável. Tinha uma vontade extrema de querer mostrar isso pra todo mundo. E que, com aquela coisa que você chama de arte, que não entendi até hoje o que você desenhou, conseguiu a nota mais alta das turmas da nossa série. - Digo calmamente e ela pára. Me viro para ela e vejo sua expressão pensativa para o chão. Sem pressa eu me coloco na sua frente, a olhando atentamente, com preocupação. - Lembra?

Lais - Lembro perfeitamente… - Respondeu, ainda continuando a ter seu rosto inclinado para baixo. - Eu queria provar para umas meninas que eu conseguia fazer algo… 

Taehyung - Jina, Minju, Nari, Eui… - Digo os nomes das garotas, que ficaram no pé dela desde o primeiro dia de aula do primário, apenas pararam quando mudamos de escola. Sempre soube que a implicância era por ela ser estrangeira, e que também chamava a atenção dos meninos da escola, mas ela sempre ficou na dela, por mais que, algumas vezes, mostrasse que iria revidar. 

A primeira vez que tiveram um início de uma verdadeira briga, foi no final do último semestre do sétimo ano, quando estávamos saindo da escola por ter acabado as aulas; ela estava saindo e foi barrada pelas quatro, na frente de todo mundo. Começaram a dizer que era uma puta para baixo, com todos ao redor rindo, e eu era um deles.

Ela era sensível, eu sabia disso, mas naquele dia parecia que estava vestindo um manto de calmaria, e muito, muito deboche; quando vi o seu rosto calmo e que aos poucos começou a crescer um sorriso, o meu sorriso foi sumindo do rosto. Parecia que o efeito também estava atingindo as mesmas, que esperaram que ela chorasse, mas não, só abriu um sorriso debochado e empinou seu nariz.

 

( Minju - Qual é a graça?! Ah? Por acaso vê graça em ser chamada de puta?! - Falava com a voz folgada e alta, abrindo um sorriso irônico. - Eu sabia que era uma vadiazinha, que vai pra cama com todo mundo. )

( Lais - Não! Eu só acho graça na sua insegurança! Inferioridade! E talvez uma invejinha da estrangeira, a abortada sem pais!! - Levantou sua voz, demonstrando sua irritação e indignação. - Não é assim que vocês me chamam? )

( Jina - Sua! - Se separou das outras para caminhar até ela, com passos pesados e um olhar de fúria. )

( Lais - Ou é mentira, Jina? - Afinou a voz ao falar seu nome, mas logo levantou outra vez sua voz, olhando para todas com irritação. - Quer me humilhar na frente de toda a escola porque os meninos olham pra mim? Simplesmente por causa de um grupo de cuecas que nem saíram da fralda, com os hormônios alvoroçados na pura sacanagem, que não conseguem ver uma garota? Qual é?! Toma vergonha na cara de vocês!! )

( Minju - É vo- )

( Lais - Eu estou pouco me fudendo pra sua opnião! E para a opinião de todo mundo aqui! Se acham que sou uma puta! Ótimo! Foda-se! Não me importo! Continuem falando de mim que eu gosto!! Mas agora, querer brigar por causa de garotinho, me poupe da vergonha, garota! E se ainda estiver putinha por causa disso, tome todos de presente. Vou enviar no Natal, está bom para toooodas vocês?! Ótimo! Agora, podem abrir o caminho? Obrigada! )

 

Todos nós ficamos quietos e surpresos com essa reação, porque foi a primeira vez que ela se pronunciou e se defendeu, e logo depois o alvo das suas palavras foi eu e os meninos.

Hoje em dia me sinto muito culpado.

Lais - Tá… - Assentiu, inspirando profundamente e soltando o ar com peso logo depois, voltando a olhar para mim. - Ainda não respondeu a minha pergunta.

Taehyung - Quando quer provar alguma coisa, você vai atrás, bate o pé com teimosia, até descobrir o que tanto queria. Mas agora, ao invés de ser uma pintura, é um monstro marinho que vive no fundo do mar… - Prendo meus lábios um no outro, me inclinando minimamente para ela com os olhos entreabertos. - Sendo o Predador dos Sonhos, eu acho que ele te mostrou alguma coisa que você quer ver outra vez… mas que não se lembra.

Lais - Não! - Negou com a voz alterada, desviando seu olhar quase arregalado para o chão, enquanto levava uma colher quase vazia para a boca.

Taehyung - Te peguei!! - Aponto para ela, dando um sorriso convencido e volto para ficar reto. - Irmã, eu não sei o que pode ser que queira ver outra vez, mas estamos falando de magia, inacreditavelmente sentindo a sensação de bobo quando continuo falando disso, mas é! E que pode não ser igual à que você e as meninas estão envolvidas! Ainda mais a magia que tá dentro de uma pedra! Que mexe com os sonhos e consciência de alguém! E se ela não fez nada até agora, pode ser que somente o carinha das profundezas escuras saiba como “ ligar ” essa coisa. Quer mesmo se arriscar, mexendo com uma coisa dessas?

Lais - Tae, não é só a lembrança… - Voltou a me olhar com os olhos brilhantes, tensa e aflita. - É a sensação que eu senti… Ela é… muito ruim… Senti ela outra vez quando dormir, e tudo que via era escuro, mas as sensações ainda estavam lá. Até parece que não são minhas.

Olhava para ela, calado, vendo a perturbação que estava nos seus olhos, e que me trouxe uma particular dúvida e confusão. Fiquei mal e angustiado por ver ela daquele jeito e não poder fazer nada.

Taehyung - Tem uma ideia do que pode ser?

Lais - Nem a minha pior lembrança que tenho me causou uma sensação tão sufocante, não me faz querer sumir. - Abaixou seu olhar e olhou para o mar, com seus cabelos sendo balançados pelos ventos. - Fiquei pensando nisso quase a noite inteira, mal consegui dormir. Minha cabeça ainda tá agitada, pensando sem parar no que eu vi, no que senti. Só tive quatro horas cansativas de sono. Nem parece que dormir!

Taehyung - Não pode ser, sabe… - Começo a dizer com hesito, mas olho com atenção seu rosto distraído e solto. - suas visões, talvez?

Lais - Tae, visões do futuro? - Perguntou, franzindo seu rosto, mas continuou a olhar para a praia vazia.

Taehyung - Olha, tem uma coisa que comecei a pensar… agora, nesse instante. - Meu estômago até revirou com o que pensava, fazendo meu coração pulsar com força pelo medo dessa conclusão ser verdade. - E se… você viu algo como um acidente… dos…

Lais - Nem fala isso.

Taehyung - É apenas um pensamento.

Lais - Um pensamento que é perturbador de pensar! - Se virou para mim, estando nitidamente irritada. - Não… i-isso não… 

Taehyung - Ainda quer descobrir o que viu? Pode ser algo ainda mais pior. Mesmo tendo um dom de ver o futuro, eu vejo isso como uma desvantagem, como nesses casos. Pode ter visto algo que te abalou profundamente, para chegar nesse ponto, e sua própria mente resolveu excluir.

Lais - E isso pode acontecer? - Me olhou com dúvida.

Taehyung - Existem estudos e sim… Pode acontecer. Então… - Chego mais perto e seguro nos meus ombros, olhando dentro dos seus olhos aflitos. -, eu quero que você fique longe dessa coisa. Não sei o que vamos fazer com isso, mas o que sei, é que você deve ficar bem longe, Lais. Já tem coisas demais que eu devo pensar e resolver. Mais isso é demais pra cabeça pensar.

Lais - Te conhecendo como conheço, você vai querer estudar essa pedra. - Falou, estreitando seus olhos e levantando seus olhos, desconfiada.

Taehyung - E não está errada. - Solto seus ombros e cruzo meus braços, abrindo um sorriso sínico. - Não é de hoje que você sabe que eu sou um perito em coisas extraordinárias.

Lais - Não, você não é. - Negou, convicta da sua resposta, continuando a me olhar com os olhos estreitos, depois os desviou para o lado. - Mas… vou pensar em tirar essa ideia.

Taehyung - Pensar? - A olho, contrariado, arqueando minha sobrancelha ao olhá-la com mais atenção. - Por que precisa pensar? A resposta já é meio óbvia, não?

Lais - Não… - Respondeu, franzindo o rosto. - Eu ainda sinto tudo isso, e a minha vontade de saber, é grande.

Taehyung - E isso afetou a Yngrid?

Lais - Se afetou, ela não me falou.

Taehyung - Eu vou passar na casa dela. Ia passar do mesmo jeito para pedir um favor.

Lais - Você e suas teorias malucas.

Taehyung - Você sabe se ela está em casa?

Lais - Hã… ela… - Estava pensativa, desviando seus olhos para o campo de passeio onde estávamos. - Está ocupada… agora mesmo. Nesse momento… agora.

Taehyung - Você sabe o quão passa um ar de desconfiança. - Franzi o olhar.

Lais - Hm. - Deu de ombros. - Vou fingir que ligo.

Taehyung - Então, se ela está ocupada… - Fixo meu olhar sobre ela, abrindo um sorriso astuto.

Lais - Taehyung, hoje não tô no clima para ser uma cobaia sua, muito menos do Hoseok!

Taehyung - Vai ser rápido…

Lais - Rápido uma porra! E pode me emprestar o livro daquele pirata? Eu quero ler por mim mesma e procurar mais histórias por aí.

Taehyung - Tá… - Contrariado, tiro uma das alças do meu ombro para puxar a mochila para frente e abrir o zíper, colocando minha mão para dentro e puxando o livro logo depois, de relance vendo um feixe de luz sair. Rapidamente segurei a barra da mochila com minha mão para esconder a luz e estender o livro para ela, sentindo meu coração bater rápido pelo susto. - Aqui.

Lais - Cê é esquisito, né não? - Pegou o livro enquanto me olhava desconfiada, logo depois desviou os olhos para o mesmo e começou a esfoliar.

De canto, começo a fechar o zíper e encarando a mesma concentrada, pelo receio dela ver algo. Pelo canto do olho, pude enxergar um cara, conhecido de vista, se aproximar de nós pelo calçadão, com passos firmes e um semblante rígido, mas que logo pára e dá um passo para trás, gesticulando com a boca e movimentando suas mãos em gestos ríspidos, discutindo consigo mesmo, hesitando em vir e voltar.

Ergui minha sobrancelha, confuso, piscando meus olhos estáticos ao encarar aquela cena de perda de determinação constante. Prendo meus lábios um no outro para segurar a risada do cara, presumindo que queria vir conversar com a minha irmã.

Como hoje, eu estava com um humor considerável bom, eu poderia deixar.

Taehyung - Irmã?

Lais - Não tá vendo que tô ocupada, cacete. - Respondeu enquanto passava seu olhar concentrado nos textos do livro.

Taehyung - Não, é que… tem alguém querendo falar com você. - Levanto minha mão e aponto para cara que apenas faltou morrer de susto ao ver que apontava para ele.

Ela calmamente se virou na direção dele, estando com o olhar estático.

Taehyung - Eu acho que vou indo… - Sinto o celular vibrar no meu bolso, que logo o pego, verificando que Hoseok me enviou uma mensagem. - Depois a gente conversa mais sobre isso, e toma cuidado com esse cara. Ele parece bem maluco.

Lais - Eu posso me virar. - Virou seu rosto para mim. - E onde vai?

Taehyung - Hoseok. - Respondo tranquilamente, dando um sorriso. - Estamos fazendo um progresso com as pesquisas, irmã.

Lais - Eu não sei porquê, mas… - Franziu o olhar, deixando seus olhos entreabertos ao me encarar com desconfiança. - Eu tenho um pé atrás com essas suas pesquisas.

Taehyung - Pode ficar tranquila. - Mostrei um sorriso tranquilo, mas com um fundo nervoso. - É totalmente legal.

Lais - São vocês que precisam de cuidado. Até mais tarde. - Se virou enquanto acenava, indo de encontro com o cara.

Taehyung - É, a gente vai precisar. - Digo para mim mesmo e me viro para a avenida, desbloqueando o celular para ver a sua mensagem. - “ Me encontra na frente da Universidade ”. Sério? Eu vou ter que pegar um ônibus! Desgraçado!

( Minutos depois )

Taehyung - Essa Universidade poderia ser perto? Quase meia hora. - Ligo a tela do celular para ver a hora. - Só de lembrar que vou fazer todo esse percurso quando começar a estudar aqui: Vir de ônibus ou no carro do Jin, ou do Jimin.

Ainda reclamando, volto a olhar para a janela, vendo passar a entrada do estacionamento da Universidade, apenas tendo alguns carros estacionados, do lado de um muro médio com grades altas, onde, no centro, estavam os portões para a entrada de frente ao campus do prédio.

Sinto meu corpo ser puxado para trás, indicando que o ônibus estava parando. Apressado, me levantei para descer junto de mais um grupo de pessoas, e parando na calçada em frente a um espaço mínimo de grama e com poucas árvores em frente ao muro e as grades. Árvores longas atrás do muro, barravam a vista do campus e também do ex-castelo antigo, do reino antigo da nossa cidade, Reino Gagnon. Um dos motivos da minha ansiedade de vir estudar aqui, era pela sua história, escrita entre vários combates que aconteceram nos campos, que agora eram avenidas e ruas.

Estranhamente, sinto uma tontura repentina ao ter uma forte impressão familiar do lado, que deixou minhas vistas em branco, mas que logo passou.

Hoseok - Já era hora, Taehyung!!

Abro meus olhos, sentindo a dor diminuir, e vejo ele saindo dos portões abertos para vir correndo por segundos até mim, por ser longe de onde estava, estando com um sorriso largo, mas notando de primeira seus olhos fundos e cansados.

Taehyung - Não posso fazer nada se tinha trânsito!

Hoseok - Tá, vem! - Segurou no meu braço e me puxou junto dele, caminhando apressados até a entrada, sendo que ela estava longe de nós. - Você vai adorar esse lugar. Pode se perder se não souber se localizar.

Taehyung - Não me diga!

Caminhamos pela extensão da calçada para chegarmos em frente aos portões e poder atravessar para dentro, e a imagem que não tinha da Universidade se abriu para mim, numa grama verde e recém-cortada, com mais árvores e arbustos nos cantos, de longe vendo os caminhos feitos ao redor do campus afastado da entrada e que se encontrada atrás do estacionamento, que nos levava para cada entrada dos prédios, acompanhados por arbustos menores em formas circulares, sendo que seguia Hoseok que me guiava por um dos caminhos que circulava o prédio da frente, que tampava minha visão de um pedaço do campus em frente.

Hoseok - O prédio está passando por uma fase de construção. Eles querem aumentar a Universidade para terem mais recursos de estudos para nós. Querem construir com a mesma estética do castelo. - Explicou enquanto caminhamos pelo caminho feito entre os gramados.

Taehyung - Vejo que todos precisam fazer uma caminhada de meia hora para chegar no prédio principal. - Comento ironicamente, sem tirar meus olhos do campus, um pouco perdido pela área ser gigantesca.

Hoseok - Calma, você vai fazer esse percurso por muitos anos da sua vida.

Taehyung - Ah.

Passarmos pelo caminho ao lado do prédio à nossa esquerda, sendo monitorado pelo meu olhar atento, e apreciando, abrindo mais a imagem ampla dos prédios em frente. Mas após a segunda impressão, que me deixou de boca aberta por um monumento desses existir em plena Califórnia, meus olhos foram puxados para uma fonte circular em meio ao gramado. A encarei ao passar do seu lado, mas após arregalei meus olhos ao ver um formato mais a frente ao continuar andando, no centro do campus, retangular, me dando a impressão que seria uma espécie de piscina e que sua largura e altura eram, consideravelmente, enormes, rodeado por formatos circulares de plantações.

Caminhamos pelo caminho ao lado, comigo olhando para aquela piscina que parecia ter profundidade.

Taehyung - Me lembre de manter as meninas longe disso.

Hoseok - Temos mais um lá na frente e outro o campus logo ali. - Levantou o braço e apontou para o lado, apontando para arbustos circulares que envolviam algo.

Taehyung - Isso é um perigo.

Aumentei o passos para seguir ele, que estava mais a frente de mim, tirando os olhos da piscina para os pôr sobre os degraus nas laterais de um bloco superior em frente, por fim, levantando os olhos para o prédio principal, me dando uma estranha impressão de me levar de volta para a era medieval, mas não deixei de reparar os muros de pedras altas nas suas laterais, complementadas pelos traços brancos e as janelas. Talvez pela construção que ele mencionou.

Logo subimos os degraus do meu lado direito do prédio, que apenas tinham algumas pessoas ao redor, podendo reparar que, atrás do prédio principal, nas aberturas feitas em volta dos dois corredores que levavam para os prédios de cada lado, conseguia ver o posto um muro em construção.

Hoseok - Hoje está mais movimentado do que a última vez que vim.

Taehyung - E para que você veio aqui?

Hoseok - Vai descobrir quando chegarmos à sala onde a magia acontece!! - Diz com ânimo exaltado, caminhando quando saltitando pelo gramado até uma das entradas do corredor, pisando no banco em frente e pulando para dentro. - A sala fica nos fundos da área das explosões.

Taehyung - Porque tem esse nome? - Franzi, confuso, pisando em cima do banco e pulando para dentro do corredor, seguindo ele até a entrada, onde as portas tinham a altura até o teto; tinham gravados o emblema do antigo reino: dois leões com asas estavam dos dois lados de um escudo, com uma coroa acima, entre cinco estrelas, e uma fita abaixo. Tinha novamente uma impressão forte de que já tinha visto aquilo em algum lugar.

Hoseok - Fica perto do laboratório.

Taehyung - Ebaaa. - Finjo animação, numa falsa comemoração. - Vamos ficar perto. Que merda…

Hoseok - Essa eu ouvi. - Segurou na maçaneta da porta direita para abrir a mesma, dando a visão de dentro do salão. - “ O quadro é bem bizarro, mas você se acostuma ”, disseram eles.

Entro no lugar amplo, observando o corredor do lado direito da sala e a curva que levava para outro corredor ao lado. Do meu outro lado, estava apenas uma curva para outro corredor. Na minha frente, uma escadaria que se separava, levando para direções diferentes, desaparecendo por trás de paredes.

Caminho pelo salão e viro para frente, olhando para cima, ficando surpreso ao um lustre maior no centro com outros menores ao redor; no lugar de velas, tinham lâmpadas. Também tinham aberturas sobre as paredes, separadas por pilares e protegidos por muros médios em frente, dando a vista para baixo. Mas, talvez o mais bizarro, era o quadro enorme de um homem que estava sentado numa poltrona com roupas do século passado, tinha um olhar frio e penetrante, olhando sempre para frente; estava posto no centro da parede da escadaria, entre outros menores quadros.

Taehyung - Acho que vou ter pesadelos com esse cara. - Comento, acompanhando Hoseok começarmos a subir a escadaria, ainda encarando, fixamente, os olhos do cara que me olhava, me fazendo ter arrepios e estremecer meu corpo.

Hoseok - É só não olhar. E é por aqui! - Apontou para a esquerda e virou a escadaria.

Atravesso com passos pausados até os degraus, ainda encarando amedrontado o quadro, desviando ao começar a subir rapidamente, acabando esbarrando no ombro dele.

Hoseok - Até parece eu quando cheguei aqui. Haha. - Forçou uma gargalhada sem ânimo, e continuou o caminho pelo corredor.

Sigo ele pelo caminho, ignorando as portas por onde passámos até ele virar o corredor e parar em frente à duas portas duplas. Abrindo as mesmas, entrou, sem segurar as portas que quase bateram contra meu rosto.

Taehyung - Ei!! - Seguro as maçanetas e as empurro, entrando logo depois e olhando com raiva para ele, mas logo desvio dele para olhar a sala cheia de acabamentos, possivelmente projetos inacabados, caixas empilhadas nos cantos, armários fechados na parede do lado das mesas que tinham milhares de ferramentas desconhecidas por mim. - Então, essa é a sala dos espertalhões?

Hoseok - Minha, se soubesse as tantas matérias que eu tenho que estudar aqui, você morreria em pé se contasse. - Falou indo até a mesa da frente, que tinha um notebook e um tecido cobrindo três recipientes ao lado.

Tinha dois monitores consideráveis maiores e presos na parede, atrás da mesa, acima da altura da cabeça do Hoseok.

Taehyung - O que você aprontou? - Franzi o olhar, desconfiado, olhando para ele que digitava no seu notebook.

Hoseok - Amigo, antes de revelar o que tenho…

Ouço um som atrás de mim.

Continuando franzindo por ficar ainda mais confuso, me viro para trás, vendo uma tela de segurança do lado da porta, que piscava algo no seu monitor.

Inclino minha cabeça para o lado, ainda mais contrariado e confuso com aquilo, por mais que eu já estivesse acostumado com as coisas loucas que ele fazia desde que éramos pequenos.

Hoseok - Eu preciso saber que você não vai enlouquecer ou ficar… digamos, puto.

Taehyung - Hoseok, depois dos últimos acontecimentos, acho que não dá para superar algumas coisas… - Volto a olhar para ele, que ainda estava concentrado na tela do seu notebook. - Principalmente com o que tenho na minha mochila.

Hoseok - Não mais que isso.

Ouço apertar uma tecla com força, e aparecem imagens de nanopartículas, átomos, partículas, congeladas, as quais eu nunca tinha visto antes. Tinha um estudo básico sobre isso.

Estavam concentrados entre as duas telas, entre linhas de cinco espessuras.

Logo começaram a se mover, entre direções diferentes, mas uma delas apenas tremia minimamente.

Taehyung - H-hoseok… o quê… - Tento perguntar, mas aquilo que via tirou as minhas palavras por ser, outra vez, algo incomum.

Hoseok - Eu sei. É uma beleza. - Suspirou pesado e sai de trás da mesa para vir até mim. - E é isso que me preocupa se outra pessoa detectar isso.

Taehyung - Como assim? - Balanço minha cabeça para me tirar aquele encanto e olhar para ele, o via confuso.

Hoseok - Isso que está vendo, pelo menos alguns deles, é, simplesmente, radiação.

Taehyung - Radiação!? - Altero a voz pela surpresa, quase arregalando meus olhos. - Mas… que tipo de radiação? E onde você tirou isso?

Hoseok - Dos poderes da Yngrid, e outra de um celular que explodiu.

Taehyung - Agora fiquei mais confuso ainda. - Solto um suspiro leve, me virando e tirando a mochila das costas para a pôr sobre a mesa, voltando a olhar para elas. - Como isso, Hoseok?

Hoseok - O rastreador que construí para rastrear o Cubo. E como não funcionou, configurei para rastrear radiação.

Taehyung - E porque configurar para… Espera… - Com o olhar rígido, me viro na direção dele, já tendo uma idéia do porquê. - Entre tudo o que você me disse sobre essa coisa, você escondeu que ele libera radiação?

Hoseok - Taehyung, não é uma radiação letal. - Respondeu, voltando até a mesa para mexer no seu notebook.

As telas sumiram e apareceram outras, e uma delas eu reconheci.

Hoseok - Da esquerda, você já conhece. As nanopartículas retiradas da radiação de Chernobyl, e as da direita… são as nanopartículas que consegui captar no dia que estava testando o cubo, e elas se auto-multiplicam. - Explicava com um olhar de preocupação. - As partículas da radiação da usina de Chernobyl também se multiplicam, de uma forma contínua e lenta, mas são obrigadas a se reduzirem quando ficam presas pelo pouco ar. Mas as partículas da radiação do cubo se multiplicam instantaneamente, mesmo eu desligando a força, elas ainda continuavam se multiplicando pelo ar. Enquanto uma se prende umas às outras, a outra explode e se multiplica, mesmo estando em lugares fechados. Eu só não te contei, por medo.

Taehyung - Tá… - Assenti, respirando calmamente para compreender tudo o que estava falando. Volto a olhar para ele, pensativo. - O mesmo acontece com as outras?

Hoseok - Não… - Voltou a mexer no seu notebook e voltou com as tela, clicando na primeira da esquerda linha maior e na segunda linha maior abaixo. - A de cima, são as nanopartículas que captei quando a Yngrid usou os poderes ontem, na lancha. Da linha de baixo são da radiação que captei do celular que explodiu no dia que fomos para a empresa.

Taehyung - Aquele celular…? - Franzi, lembrando do momento que aconteceu.

Hoseok - Mesmo os pontos sendo diferentes, há algumas exatas partículas fixas iguais nos dois.

A tela juntou as duas imagens, comparando as partículas exatamente iguais que haviam sobrepondo às outras partículas.

Hoseok - As nanopartículas que captei do celular, são, digamos, espalhadas…

Mudou as telas, mostrando somente as duas diferentes partículas.

Hoseok - Espalhadas, bagunçadas, mas agem sobrepondo umas às outras, como se estivessem se atacando. Enquanto partículas dos poderes da Yngrid… - Explicava, encarando a tela. - são comportadas, alinhadas em linhas perfeitamente perfeitas. Essa é a diferença mais visível entre as duas.

Taehyung - E conseguiu identificar se existem outros? Comparando com outros tipos de nanopartículas, células? - Olhava para ele, quase em êxtase.

Hoseok - Os únicos indícios que encontrei são moléculas e átomos retirados do… espaço. - Respondem em sussurro, se virando com o ar de preocupação e cansaço, nos seus olhos fundos.

Fico calado, apenas sentindo minha cabeça girar ainda mais, me sentia zonzo, e sem qualquer ideia para formar. Me viro de volta para a mesa e me sento sobre ela, ainda sentindo minha cabeça girar.

Hoseok - Então, pensei: “ se pudesse, eu também testaria os átomos, moléculas e as células de rochas lunares para pesquisas ”. E então… lembrei que também estudei a rocha do vulcão de Mako e tinha tudo guardado… e comparei… - Sua voz tremeu, continuando a encarar a tela. - Encontrei similaridades entre todos. Átomos, células, nanopartículas, moléculas. Eles poderiam ser diferentes, mas, ao mesmo tempo, eles possuem as mesmas formações. As estruturas encontradas, eram as mesmas.

Taehyung - Hoseok, quando você estudou tudo isso? - Olho a olhar para ele, que continuava a olhar para a tela.

Hoseok - Nesses dois dias.

Taehyung - E você dormiu? - Pergunto por saber como ele era ao encontrar ou fazer algo novo. Não dormia por nada pela sua ansiedade. Estava preocupado, não só com ele mas com tudo o que descobriu.

Hoseok - Isso não importa. - Abaixou seu olhar, soltando um suspiro cansado.

Taehyung - Importa! - Levanto a voz, sem ser retribuído pelo seu olhar cansado. - Eu sei que tudo isso é fascinante, mas você precisa descansar, e descansar sua mente. Isso pode te fazer muito mal.

Hoseok - Eu sei… - Bateu seu punho sobre a mesa, ainda olhando para as telas. - Mas… a minha mente não me deixa descansar… Ela se agita de uma forma que pensa, e pensa, sem parar.

Taehyung - Toma seus remédios.

Hoseok - Você o que penso sobre isso. Eu prefiro pensar em outra coisa para resolver a minha insônia, mas agora, o que temos aqui é algo que pode mudar o mundo… mas criar um problema maior… - Seus suspiros trêmulos e altos eram as únicas coisas que escutava no silêncio da sala. - Esse é o principal motivo de não conseguir dormir. De pensar em tudo que fiz e descobrir, depois vir alguém e descobrir… Fico desesperado e não durmo. Ainda mais com isso…

O tecido que cobria os recipientes foi puxado por ele, revelando três caixas de vidro cheias de água com tons de cores escuras e tipos de plantas escuras, que dentro tinham algo no centro; pareciam pequenas criaturas dentro de uma bola. Com a última delas sendo a mais maior, e que deixava mais nítida a silhueta de uma criatura humanoide.

Fico em silêncio, apenas encarando incrédulo aquilo sem entender.

Hoseok - Essas são as pesquisas que não te contei no dia do nosso baile. - Falou calmamente, me olhando com olhos fundos. - Eu queria estudar a evolução, então… implantei as células das meninas em protótipos, células comuns em outro protótipo para comparar, e… o último é o mais complicado.

Taehyung - Por… - Sentia meu corpo paralisado, como minha mente.

Hoseok - Eu tirei as células da rocha do vulcão de Mako…

Taehyung - Hoseok… - Digo seu rosto quase rosnando, entre os dentes.

Hoseok - Eu sei! Está bem! - Aumentou a voz, me olhando com desespero. - Mas… essa minha idéia de evolução, de não saber com cada detalhe de como essas criaturas surgiram, não saía da minha cabeça! Eu tinha que fazer alguma coisa para descobrir! Mesmo ultrapassando limites.

Taehyung - Você… fez usou células das meninas para recriar uma sereia!? Posso até pensar o que você fez para fazer aquilo! - Aponto, cheio de raiva, para as três coisas em cima da mesa.

Hoseok - Taehyung!

Taehyung - Destrua isso agora!! - Digo com a voz alta, olhando com fúria para ele e para as três caixas.

Bruscamente ele sai de trás da mesa e vem correndo até mim, me segurando nos braços.

Hoseok - Por favor, Taehyung, eles estão reagindo bem!!

Taehyung - Hoseok, você não está numa das melhores formas para me impedir de destruir essas coisas que você fez!! - Dizia entre os dentes, sentindo meu corpo esquentando e minha cabeça explodindo.

Hoseok - Mas eu…

Taehyung - Isso não tem justificativa, muito menos a curiosidade! Hoseok, você é meu amigo, e me preocupo com você! Mas você não ajuda, caralho!! - Suspiro com mais calma para poder conversar calmamente. - Nem tudo a gente pode descobrir. Eu tentei de uma forma escrota e olha o que aconteceu?

Hoseok - Mas as suas limitações são diferentes das minhas. - Me olhava com um olhar apreensivo.

Taehyung - Eu sei muito bem disso! Mas não é só por isso, Hoseok, é se isso cair nas mãos de alguém. Amigo - Seguro nos seus ombros para olhar fixo nos seus olhos que imploravam para dormir. -, sua mente é brilhante, mas isso que fez, não é nada brilhante. Entendo que a fantasia de descobrir coisas assim é cegante, por isso pode acabar prejudicando outras pessoas…

Hoseok - Eu sei… - Assentiu e abaixou o olhar, soltando suspiros lentos.

Taehyung - Acho que temos que tirar umas férias disso tudo, não acha?

Hoseok - Estamos de férias. - Abre um sorriso mínimo.

Taehyung - Mas parece que você não está… Muito menos eu. - Solto um suspiro pesado e olho para as silhuetas nas caixas de vidro. - O que vai fazer com isso?

Hoseok - Sabe, às vezes eu me perguntava: “ O que eu criei? ”. Por que, até agora, não tenho ideia.

Taehyung - Bom… - Dou de ombros e volto a olhar para ele. - queimar?

Hoseok - Talvez depois… - Jogou sua cabeça para trás ao fechar seus olhos. - Tenho sono.

Taehyung - Vai conseguir dormir? 

Hoseok - Depois de desabafar com você… acho que sim. - Abaixou seu rosto e me olhou. - Sabia que aqui tem dormitórios?

Taehyung - Claro que são para aqueles que vêm de longe estudar aqui, e que não tem nenhum lugar para ficar.

Hoseok - Mas tem um de reserva, e é para ele que vou agora! Tenho excesso exclusivo, sabia? - Se afastou, batendo levemente no meu peito, se virando para caminhar para frente, mas depois se virou com os olhos fechados.

Taehyung - Te odeio.

Hoseok - Pode guardar tudo. E revisa mais de três vezes para não deixar nada para trás.

Taehyung - Não confia em mim? - Solto um sorriso sínico.

Hoseok - Não. - Se virou para caminhar entre as mesas, indo na direção da porta.

Taehyung - Vai ficar até quando?

Hoseok - Até meu sono acabar.

Taehyung - Até nunca mais. - Digo e abro um sorriso, me virando para ir até sua mesa.

Hoseok - Até amanhã, mas de tarde!

Ouço o som novamente, logo depois o som da porta sendo aberta.

Taehyung - Aham.

A sala ficou em silêncio depois que as portas se fecharam, e aquilo apenas aumentou a tensão em daquelas três caixas em cima da mesa; estava em frente à ela, encarando as três coisas que estavam dentro da bolha.

Taehyung - O que seja que o Hoseok criou… eu sinto muito, mas vou ter que destruir vocês… Nossa, me sinto horrível. - Fecho os meus olhos, tentando tirar a angústia de mim, mas ela não era passageira. Volto a abrir meus olhos e encarar as caixas. - Se isso for considerado assassinato…? Não tenho nada para fazer contra isso, mas é para um bem maior. Desculpas antecipadas… Ain… me sinto mais mal ainda… Calma, você vai conseguir… É só ir e pah!! Fácil!

( Minutos depois )

Taehyung - Não é nada fácil!! - Grito comigo mesmo e me afasto das três caixas de vidro que coloquei no piso liso de pedras em frente ao mar, batendo minhas costas na parede alta de pedra que circulava a região do piso, sem tirar os olhos daquelas três coisas, sentindo um mal estar enorme por ter que fazer o que preciso fazer, mas simplesmente não conseguia. - Joga no mar… ele leva pra longe… não é?

As ondas batiam contra as bordas das pedras e expeliam a água que caía sobre as caixas.

Taehyung - Está bem! - Me afasto da parede, batendo as mãos para me dar coragem para fazer aquilo, sem sentir repulsa.

Me aproximo das caixas e me abaixo com hesito, aproximando minhas mãos das mesmas, mas recuo, hesitando em pegá-las. Então, simplesmente, encho minhas bochechas com ar, esvaziando os pulmões, e fecho meus olhos, em movimentos bruscos de abrir a tampa das caixas e as peguei logo depois, jogando a parte aberta para frente e ouvindo o som de algo caindo na água.

Espremi minha feição, num semblante de nojo e choro.

Taehyung - Eu sou um ser humano horrível!!

Taehyung Off

Yngrid On

Prendia o choro na garganta por me negar, furiosamente, a deixar cair mais uma lágrima por causa desse idiota, deitado na cama, por minha causa. Eu tentava, de alguma maneira, enquanto olhava pro seu rosto, não me culpar, mas eu me culpava inconsciente e internamente.

Colocar a culpa nele seria escrotice ou um alívio para aliviar a culpa?

Hoje sonhei com ele, e não era um sonho mil maravilhas, recordando do tempo que namorei com ele, era um pesadelo com gritos de culpa, insultos. Sua voz cheia de raiva vinha de todos os lugares e ecoavam, estando perto e ao mesmo tempo longe, enquanto sentia suas mãos deslizarem por todo meu corpo e as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, o desespero de sentir mãos pelo meu corpo era real.

Quando acordei, eu estava trêmula e chorando.

A raiva guardada explodia dentro de mim, enquanto olhava para o rosto dele, imaginando cada maneira de matar aquele cabeçudo, mas minha imaginação vai embora quando escuto a porta do meu lado sendo aberta, por estar apoiada sobre a parede e ao lado da porta.

Enfermeira - Bom dia. - Cumprimentou gentilmente ao entrar no quarto.

Yngrid - Bom dia.. - Repito, dando um sorriso mais simpático que conseguia dar, antes dela se virar para ir até a cama dele.

Enfermeira - Pensei que já não estivesse mais aqui. - Falou enquanto mexia na máquina do lado dele.

Yngrid - Eu já vou… só… estava pensando.

Enfermeira - Fico contente que ele receba uma visita além dos policiais.

Franzi por escutar, ficando confusa e me perguntando do porquê, já que ele não falava nada.

Yngrid - E porque eles vem?

Enfermeira - Não sei dizer, é o Doutor Torres o responsável por acompanhá-los.

Yngrid - Hmm… - Assenti, desviando meu olhar desconfiado dela para ele. Sabia que o assunto da investigação do grupo ainda continuava, e que já prenderam outra pessoa, mas porque ainda envolver ele se já não podia mais ajudar?

Deveria fazer alguma coisa?

Faz meses que fui interrogada, mas minha discussão com o Evans nos fez cortar o contato definitivamente.

Yngrid - Bom, ele está em boas mãos. Já vou embora. - Me afasto da parede para me virar para a porta.

Enfermeira - Espera!

Me viro para ela.

Enfermeira - Não deveria perguntar, mas são as normas do hospital, mas, o que você é do paciente?

Yngrid - Era… na verdade. - Minha feição de emburrada para ele entregava minha falta de afeto.

Enfermeira - Era? - Franziu o rosto, confusa.

Yngrid - Sou ex-namorada. E nem deveria estar aqui por ele ter sido um cachorro, mas, a mente pesa, então… - Me sentindo desconfortável, ponho minhas mãos dentro dos bolsos da calça do moletom enquanto olhava para a face estática dele.

Enfermeira - Então é você?

Yngrid - Eu?! - Digo num tom alto e arregalei meus olhos, sentindo meu corpo gelar, virando meus olhos quase desesperados para ela. - E-eu o-o quê?

Enfermeira - Você é a garota que um dos policiais me falou, e se acaso aparecesse era para chamar ele.

Yngrid - O fita tem quase dois metros, dois pares de olhos que te hipnotizam, um cabelinho negro na réqua, e músculos por tooooda parte que fazem qualquer uma chorar? E, é claro, sem tem uma cara de merda pra você. E não me desculpo pelas ofensas.

Enfermeira - Policial Evans.

Yngrid - Depois de semanas, o safado vai me perseguir? - Digo com o fogo do inferno que habita dentro de mim. - Ô carinha que não tem o que fazer. Depois de falar aquilo tudo pra mim, ainda tem a pachorra...!

Enfermeira - M-moça. - Gaguejou, olhando quase estática, mas medo, para algo atrás de mim.

Yngrid - O quê, minha filha? - Mal-humorada, cruzo meus braços e a encaro a risca, levantando minha sobrancelha. - O fantasma do verão passado encarnou atrás de mim, foi?

Enfermeira - E-eu não diria que é um fantasma. - Abre um sorriso forçado, mostrando os dentes, lentamente levantando sua mão para acenar. - Bom dia, senhor.

Yngrid - É um vovozinho. - Resmungo e reviro os olhos, pronta para virar, e ao fazer, quase pulo para trás ao dar de cara com um peitoral apertado num uniforme policial; aos poucos fui levantando meus olhos e parar olhando nos olhos ríspidos do Evans. Demonstrei meu tédio ao vê-lo pelo olhar. - Preferia que fosse um vovozinho.

Evans - Você bloqueou o meu número? - Cerrou seus olhos severos ao perguntar.

Yngrid - Se não consegue me ligar ou mandar mensagens, é meio óbvia a resposta. - Respondo na grosseria. - Agora, pode sair da minha frente?

Evans - Seja mais educada. - Fala no seu tom autoritário de sempre.

Yngrid - Falo com educação aqueles que merecem, e você, não merece nenhuma atenção de um fio de cabelo meu!

Evans - Por favor, enfermeira, pode nos deixar sozinhos? - Desviou seus olhos dos meus para olhar a garota, falando com gentileza.

Yngrid - Não, não vai embora. Dois escrotos num lugar só vai infectar todo o ar com doenças!

Evans - Você sabe que está sendo infantil?

Yngrid - Vai falar a mesma coisa que falou no ano passado? - Franzindo minhas sobrancelhas, cruzo os braços e empino meu nariz, o desafiando com o olhar.

Evans - Precisamos da sua colaboração. - Firmou seu olhar sério em mim.

Yngrid - Não tô muito afim de dar ela não. Agora sai do meu caminho, rabugento. - Me viro para o lado, me espremendo ele entre e a parede para poder passar e caminhar livremente pelo corredor. - Livre! Caralho!

Evans - Nós temos uma denuncia sobre-

Yngrid - Policial, quando eu digo que posso calar a sua boca, não é mentira, e não vai ser com a minha boca! Então, CAI FORA!! - Grito com toda a minha raiva acumulada, caminhando de costas para ele. - Esses dias não estão sendo um dos melhores, então, desista! Procure outra boneca para usar! E bom trabalho.

Viro os corredores para descer a escadaria, e, pela primeira vez, sentindo um peso na consciência por falar daquela forma com ele, mas no momento da raiva não me controlo e falo tudo que vem na mente, sendo, sim, infantil, como ele mesmo diz. Mas quando alguém me magoa, eu viro o bicho encarnado.

Senti ele atrás de mim o caminho inteiro, pela escadaria, os corredores, seu olhar encarnava o próprio fuzil, até atravessar a recepção e sair pela porta da frente e encontrar com mais dois policiais na entrada, que me olhavam de cachorro abandonado.

Yngrid - Tirem férias, pessoal! - Grito e bato minhas mãos, passando por eles, cinicamente, com um sorriso debochado. - Ordens diretas do chefe!

Policial - Bem que ele disse que essa garota era louca.

Ouvi ele sussurrar.

Yngrid - Sou muito pior do que uma louca, amigo! - Respondo, sem parar de caminhar.

Evans - Yngrid, pelo menos pense no que está fazendo!!? - Gritou atrás de mim.

Yngrid - E VOCÊ!!? - Grito mais alto, sentindo a fúria fervendo no meu sangue, e tudo o que pensava era no seu total desprezo a mim.

Eu sei, eu sou uma porrinha de uma mimada egoísta.

Me viro para ele e sorrio mediante a sua rigidez.

Yngrid - Você, pelo menos, pensou, alguma vez, que TALVEZ eu poderia estar sentindo alguma coisa por você!? E olha, é um talvez! Por que, depois de meses, desde meu término com aquele empenhador de chifres, eu tenha conhecido um cara que é foda-se total para os meus sentimentos, mas que me fez sentir alguma coisa! Talvez gases? - Esnobada, debochada, sarcástica e irônica, fazia caras e bocas para eles, que apenas me olhavam como se eu fosse louca, ainda mais quando falei que poderia ter sentido algo por ele. - E só para recapitular e atualizar o sistema fudido que é minha máquina que bombeia meu coração; ele já não está nem aí pra você. Buff… Apareceu um outro mistério. E se você quer saber, ele é beeem maaaais gostoso que você!

A face do Evans se tornou uma tempestade de ira e ódio para cima de mim, num semblante que poderia matar alguém, soltando suspiros que esmagariam o ar. Apenas faltou a fumaça saindo das narinas.

Policial - Evans, amigo… - O mais franzino, passou do seu outro colega para se aproximar do Evans, com as mãos levantadas. -  se controla.

Evans - Estou á uma linha de prender essa garota… - Começou a dar passos pesados e pausados na minha direção, enquanto me olhava com fuzis e fogo nos olhos. - Já passei muito pano para você.

Yngrid - Isso que você chama de cara de cão que late e não morde não convence ninguém, cara! Agiliza isso daí, mermão!

Evans - Primeiro, me respeite que eu sou a autoridade.

Yngrid - Ôhhh. - Assenti, formando um beicinho nos lábios e medindo ele com meu olhar debochado.

Evans - Segundo, você vem comigo.

Yngrid - Come poeira! - Me viro com tudo para trás e começo a correr como nunca corri na vida, atravessando o gramado para virar a rua e ver o ônibus perto do ponto, pouco mais à frente. - ÔHHH MOÇO!!! NÃO ACELERA!! ME HEEEELPAAAAHHH!!!

Todos que estavam na rua, me olharam assustados e alguns recuaram ao passar correndo por eles. Ainda escutava seus gritos atrás de mim, mais e mais perto.

Sentindo meu nervoso subindo, respirando com força, viro meu rosto para trás e meu coração pula por ver os três correndo com sangue nos olhos, ainda mais o Evans, sobre a rua e a calçada, na minha direção.

Yngrid - Puta que pariu!! - Volto a olhar para frente e quase esbarrei num grupo de criancinhas que compartilhavam casquinhas de sorvete. - AHAAAH! LICENÇA!! SAI DA FRENTE QUE ATRÁS TEM GENTE!!!

As crianças, atrapalhadas, abriram caminho ao se grudarem uns nos outros em meio a gritos, comigo passando entre elas com passos cegos e quase esbarrando nos anões, até voltar a correr concentrada na calçada.

Yngrid - FOI MAL!!! - Grito para elas, ouvindo os gritos de reprovação. - Pestinhas, eu odeio eles!

Evans - Por que vocês deixaram ela fugir?!!

Yngrid - EU AMO ELES!!!

Olhava para o ônibus que já parava no ponto, e algumas das pessoas que estavam esperando, começaram a entrar, o que me fez ficar ainda mais desesperada.

Comecei a passar em frente a um restaurante, do lado das mesas que tinham guarda-sol, então uma luz se acendeu na minha cabeça e me tirou um sorriso maligno; coloco minha mão na direção e abro a mesma, sentindo os ventos passarem por mim e logo ouvi os primeiros gritos.

Gargalhava ouvindo a bagunça acontecendo atrás de mim.

Olho para trás outra vez e a primeira coisa que vejo são as pessoas correndo, depois a bagunça das comidas no chão, e talvez o mais hilário foi ver alguns dos guarda-sol se soltando da mesa e subindo.

Talvez eu nem percebi a agitação atrapalhando os policiais, por estar bastante concentrada nos guarda-sol voando para cima; controlava os ventos para fazê-los subir ainda mais.

Volto a olhar para frente, vendo o ônibus fechando as portas.

Yngrid - ÔH MOTORISTAAAHH!!! - Coloco minha mão na direção das portas traseiras, segurando suas portas que pararam no meio do processo de se fecharem. Agilizo meus passos, passando da parte traseira e quase dando um pulo para pisar no degrau, passando na rasteira ao ver o ônibus começando a se mover.

Com os batimentos indo contra meu peito, seguro firmemente a barra e puxo o ar que estava faltando, com minhas pernas fraquejando, enquanto via Evans correndo por uma das janelas.

Abro o meu sorriso debochado e desço um degrau, me inclinando para fora enquanto me segurava na barra, sentindo os meus cabelos sendo balançados pelo vento, logo levanto meu braço para balançar minha mão, acenando para ele, que parou com o impulso do ônibus que pegou velocidade.

Yngrid - Te vejo na próxima, bebê! - Levo meus dedos até meus lábios e depois os afasto, dando um beijo no ar, continuando a sorrir enquanto olhava para sua cara de tonto ao parar, suspirando, me olhando indo embora.

Volto para dentro antes das portas se fecharem, soltando um suspiro, nada aliviado, por saber e sentir que, uma hora ou outra, o caldo ia engrossar pro meu lado.

Yngrid - Assim, sabe, miga… - Coloco o canudo dentro da boca e sugo meu suco, enchendo minha boca e inflando minhas bochechas com o gosto do limão, pensativa, enquanto olhava para o mar.

Thais - Se você não falar, não tem como eu saber! - Colocou o canudo na boca para beber a água, também olhando para o mar.

Yngrid - Os federal tão atrás de mim. - Falo logo depois que engoli meu suco.

Thais - O quê?! - Gritando, virou seu rosto estático, em choque, para mim. - Como da última vez?

Yngrid - Eu vô lá saber. - Respondo, me virando para ela. - Nem deixei ele falar.

Thais - Yngridiiii… - Me repreendeu com seu olhar severo.

Yngrid - Nem venha jogar esse jogo dos olhinhos de bom senso pra cima de mim.

Thais - Yngrid, se você não deve nada, então porque foge?

Yngrid - Quem disse que fugi? - Assopro um riso debochado, voltando a olhar para as ondas do mar que estava longe de mim.

Thais - Essa sua cara te entrega fácil, sabia.

Yngrid - E o que você queria que eu fizesse, porra?! - Respondo com irritação, voltando a olhar para ela, contrariada.

Thais - Devo responder o óbvio, ou tá difícil? - Franziu suas sobrancelhas.

Yngrid - Tenho direito de não responder. - Volto a me virar para frente, tomando mais do meu suco.

Thais - Essa discussão entre vocês dois, é meio… digamos… sem nexo.

Yngrid - Ahn… - Abro minha boca e me viro para ela, fingindo um semblante de mágoa. - Até tu, brutus…?

Thais - Yngrid, aquele cara é um policial, e por mais que a polícia não age muito nessa cidade, pelo menos ele demonstrou estar interessado em ajudar e resolver o caso do tráfico que seu ex-namorado participava, que você ajudava a encobrir.

 Yngrid - Eu… é-éh… - Hesito em responder por estar olhando diretamente dentro dos seus olhos. Concordando com ela, desvio o olhar e suspiro, revirando meus olhos, contrariada.

Thais - Ele é bom.

Yngrid - Eu sei.

Thais - Vai escolher primeiro as obrigações do que uma garota problema, que você é! Mas também, você estava envolvida num contrabando, namorava um cara que estava entre o contrabando, e agora, eles podem ter encontrado outra pista e que você pode ajudar!

Yngrid - Olha, eu só tenho raiva do modo que ele me tratou, do jeito que ele falou comigo… - Dizia, com meus olhos sobre as ondas, pensativa.

Thais - Gostou dele?

Yngrid - Eu não digo gostar, tá mais pra um interesse a mais, sabe… - Volto a olhar para ela. - Depois de tudo o que o Guilherme me disse, ele foi me consolar, falou coisas pra mim me sentir bem, e o safado conseguiu… depois roubei um beijo dele, porque ninguém é de ferro.

Thais - Hmm. - Assentiu, franzindo o rosto e esperando eu contar mais.

Yngrid - Até convidei ele pro meu último baile de escola, e ele só ficou bebendo com os outros caras ao invés de ficar comigo, porra, eu fiquei bolada, véi! E depois de ouvir o que ele me disse, me deu ranço! Raiva! Me tirou a imagem que eu tinha dele.

Thais - E que imagem tinha dele?

Yngrid - De um policial gostoso pra caralho! Que se importava com a segurança dessa cidade! E que tinham um temperamento de chão raivoso, mas era uma maria mole por dentro. Agora eu acho ele um puta escroto, que não se importou com o que eu sentia por ele, que quer resolver tudo na base da autoridade! E, ainda acho ele um puta de um policial gostoso, mas eu não falo isso porque eu tenho meu orgulho, minha fia!

Thais - Seu orgulho por ultrapassar uma causa maior.

Yngrid - Minha causa é uma causa maior.

Thais - De prender aqueles que zombaram de você? Que tentou contra nós? Que quase estragaram o nosso halloween?

Yngrid - Cê tá roubando, caralho. - Cerrei meu olhar para ela.

Thais - Não estou, e você sabe disso. O cara ainda tá solto, por mais que alguns já estejam presos e…

Yngrid - O outro tá num sono profundo… - Minha voz falha, voltando a pensar na minha visita de hoje de manhã; ele estava tão pálido e tinha uma expressão catatônica.

Thais - Mas os outros ainda estão lá… e você pode ajudar.

Yngrid - Miga, se tu continuar, eu vou bancar uma de Nick Fury e listar uma lista para recrutar os futuros Vingadores! E você é a primeira opção de recrutamento.

Thais - Pelo menos a gente iria atrás deles e prender eles… - Me olhou num olhar preocupado. - Ainda mais que eles sabem dos nossos poderes. Eu tenho a ideia de que não vão contar para qualquer um, somente para aqueles em que confiam, contando nos dedos, mas também acredito que podem não acreditar… mas é um risco.

Yngrid - Onde cê tá querendo chegar com isso? - Franzi meu olhar.

Thais - Essa informação pode chegar nos últimos da delegacia. Por mais que a idéia seja absurda, pode haver exceções.

Yngrid - Oh, miga… - Levanto meu indicador, a olhando com estranheza. - Tu num tá achando que tão atrás de mim por causa disso, né?

Thais - Eu só estou formulando meus pensamentos com base no que aconteceu ano passado. Pensa, se eles têm a ideia que nós temos poderes, acha mesmo que vão parar, assim? Só por serem perseguidos pela polícia, Yngrid.

Yngrid - Cê tá colocando medo em mim, cachorra.

Thais - Só pra te fazer pensar. Eu me preocupo com você, com a Lais, e não quero que nada desse tipo aconteça de novo.

Yngrid - A gente pode encarar… - Olho para cima, pensativa no assunto.

Thais - Yngrid…

Yngrid - Está bem. - Suspiro e volta a olhá-la, encarando seu olhar severo, que me deixava sem jeito. - Eu prometo que vou… pensar.

Thais - Pensar?! - Franziu, aumentando a voz.

Yngrid - Aff, como você é chata. Ave Maria! Eu vou ir na delegacia…

Thais - Ótimo! Melhor assim.

Yngrid - Mas não disse quando. - Sorrindo, volto a me virar e tomar mais do meu suco.

Thais - Às vezes, acho que te odeio.

Yngrid - É amor acumulado, relaxa.

Taehyung - Meninas!

- AAAH! -

Nós duas gritamos e viramos nossos rostos para trás, vendo Taehyung com um sorriso peculiar no rosto.

Thais - Filho da puta!

Yngrid - Não. - Digo antes dele falar alguma coisa.

Taehyung - Mas eu não falei nada.

Yngrid - Por isso mesmo. - Abro um sorriso sarcástico, levantando minhas sobrancelhas e volto a beber no meu canudinho.

Taehyung - Nem sabem o que vou pedir.

Thais - Eu posso até imaginar o que é. - Voltou a olhar para frente, franzindo o rosto logo depois. - Jungkook?

Jungkook - MENINAS, VOCÊS ESTÃO LINDAS!! FALA, TAEHYUNG!!

Taehyung - Ele bebeu?

Olho na direção e vejo o próprio surfando nas ondas maiores, afastados da margem, com mais algumas pessoas. Minha boca quase caiu ao ver ele dobrar uma onda.

Yngrid - Desde quando ele faz isso?!

Taehyung - Tanto faz. - Se abaixou e se sentou entre mim e a Thais. - Preciso que façam uma coisa pra mim.

Yngrid - Já disse que não.

Taehyung - Você nem sabe o que é. - Virou seu olhar de cão abandonado para mim.

Yngrid - Irmão, já basta o que aconteceu ontem de noite!

Thais - O que aconteceu ontem de noite? - Se inclinou para frente e me olhou com desconfiança, com suas sobrancelhas encurvadas.

Yngrid - Nada! - Minto, tentando passar um ar de forçação na voz.

Thais - Eu sei que está mentindo, não precisa se esforçar. - Abre um sorriso astuto.

Yngrid - Eu odeio quando usa seus poderes em mim.

Thais - Acha mesmo que preciso usar meus poderes em você para saber se está mentindo para mim? - Sarcástica, falou, e depois voltou a olhar para Taehyung. - E o que seria essa sua ideia, Taehyung?

Taehyung - Não posso mostrar aqui… tem muita luz.

Yngrid - O sol ilumina a gente quase todos os dias.

Taehyung - Não digo pelo sol. - Começou a se inclinar para os lados, olhando atentamente para as direções. - Onde a Lais está?

Yngrid - Não tá com você?

Taehyung - Ela estava comigo hoje de manhã… mas apareceu o seu primo e tirou ela de mim.

Yngrid - Meu primo? - Franzi, confusa. 

Taehyung - Claro que não, o primo da Thais.

Thais - Ela saiu com meu primo? - Perguntou, surpresa.

Taehyung - Parece mentira, não é… - Se virou para ela, pensativo. - Mas se bem que eu não vi ela saindo com ele, fui embora antes de ver.

Yngrid - Graças a Deus! Jeová! - Levanto minhas mãos em agradecimento. - Meu primo está há cinco países longe de mim. Que continue assim, amém!

Taehyung - Vocês duas têm problemas com seus primos? - Interligou seu olhar entre mim e entre Thais, pensativo.

Yngrid - Eu não tenho problemas com meu primo, é ele quem tem problemas comigo.

Taehyung - Por que não estou surpreso?

Thais - Acho que sei o porquê que ele foi atrás dela, mas prefiro não comentar.

Yngrid - Começou, pode terminar! - Arregalo meus olhos para ela, tentando passar pressão, mas ela continuou com seu olhar de tédio para mim.

Thais - Tá parecendo uma idiota.

Yngrid - Prefiro uma vadia doida.

Taehyung - E então, vocês me ajudam?

Thais - Isso tem haver com mais experimentos ou testes?

Taehyung - Tem… mas… eh melhor vocês verem com os próprios olhos… - Se levantou. - Se bem que a Yngrid já viu, então.

Yngrid - Oi?! - Me apresso para levantar e o encarar com desconfiança. - Taehyung… Não me fala que a Lais deu aquela coisa pra você?

Taehyung - Eu prefiro conversar sobre isso quando estivermos todos juntos. - Respondeu com um sorriso forçado, tentando disfarçar seu nervosismo.

Thais - Ela está na pista de Skate, junto do meu primo… com o Jimin e a Melissa?

Yngrid - Vai dá com pau! - Digo com raiva, sem tirar meus olhos dele, por saber que aquela pedra pode fazer alguma merda.

Taehyung - Então vamos até lá.

Yngrid - Quando chegar, eu vou te empurrar na pista. - Abro um sorriso psicopata, enquanto olhava para ele do meu jeito.

Taehyung - Não teria coragem. - Negou, mas com hesito e preocupação, me olhando assustado.

Yngrid - Ainda duvida? - Dou um passo para frente, levantando meus braços, aumentando meu sorriso maligno.

Thais - Já chega, crianças! - Falou e passou por nós.

Yngrid - Quando nóis chegar lá… - Aponto para ele, quase piscando o olho de tanto ódio que estava sentindo ao olhar para ele, que estava estático. - eu mato você.

Taehyung - Você ainda não escutou a história toda.

Yngrid - Eu nem preciso! - Coloco meus dedos na minha dos meus olhos e depois para ele, fazendo uma cara de birra, depois passo por ele para ir até a Thais que já estava afastada. - ESPERA, CACETE!!

Thais - Fala direito comigo!

Yngrid - Posso zoar com eles quando chegar? - Pergunto, parando do seu lado.

Thais - Até eu vou zoar com eles.

Abrimos nossas bocas para começar a gargalhar, como sempre, gargalhadas altas.

Taehyung - É melhor fingir que nem conheço vocês… - Passou por nós entre passos rápidos.

Yngrid - Vai passar vergonha comigo sim! - Corro até ele e seguro seu braço. - MORÔ?!

Taehyung - Ajuda. - Sussurrou, amedrontado.

Yngrid Off

Lais On

Lais - NÃO ME SOLTAAAA!! - Gritava, desesperadamente, sentindo o frio na barriga sentir meu corpo sendo balançado de um lado para o outro, mantendo meus olhos fechados pelo medo e a tontura que estava sentindo.

Lucas - É você quem está quase arrancando meu braço!

Lais - Já disse que tenho medo de altura?

Lucas - Não, mas é um bom começo!

Lais - Eu nunca mais vou acreditar nas suas palavras! - Choraminguei, fincando ainda mais minhas unhas na pele do seu braço. - Desculpa se ficar a marca.

Lucas - Se quiser, pode fazer vários arranhões.

Lais - EU VOU DÁ NA SUA CARA!! - Grito, soltando seu braço e começando a bater no mesmo, mas logo me sinto cair e o frio na barriga voltar, e me agarro no seu braço com a tontura. - Na próxima, eu escolho!

Lucas - Como quiser.

Minutos depois, o tempo de ficar subindo e descendo naquele brinquedo chegou no fim, e a potência começou a diminuir, até parar segundos depois.

Lucas - Vem. - Falou ao parar do meu lado.

Lais - Eu não sinto minhas pernas… - Respondi com a voz fraca e presa na garganta.

Lucas - Posso te pegar no colo.

Lais - Claro… sim… - Assenti. - Mas nas suas costas.

Lucas - Tudo bem. - Deu de ombros, dando um sorriso alegre depois.

Desci do brinquedo estando nas costas dele, apertando meus braços contra seu pescoço e sentindo suas mãos apertarem minhas coxas.

Lais - Lucas, espero mesmo que você esteja apertando minhas coxas para me segurar com mais firmeza.

Lucas - Claro que sim, Lais, não sou um tarado.

Lais - Discordo, sabia. - Abaixo minha cabeça para apoiar ela no ombro dele, por ainda estar tonta. - Eu odeio brinquedos assim.

Lucas - Gata, se você me falasse que ficaria assim, não teria escolhido aquele brinquedo.

Lais - Já vai passar…

Lucas - Podemos ir em outro brinquedo mais leve, se quiser… Estou passando em frente da Montanha Russa.

Lais - Por mais que a velocidade não seja tanta, ainda é demais pra mim.

Lucas - Tiro ao alvo?

Lais - Também não quero pensar.

Lucas - Quer comer?

Lais - Claro.

Lucas - Vamos pedir talvez um hambúrguer? Nachos? Mini pizza.

Lais - Lucas, ainda são dez horas da manhã.

Lucas - E vai recusar uma mordomia dessas?

Lais - Claro que não. - Abro um sorriso, sentindo ele sorrir também.

Lucas - Mas antes, eu posso ganhar um prêmio?

Lais - Que tipo de prêmio? - Pergunto na desconfiança.

Lucas - Não é nada do que está pensando. É só olhar para o lado.

Sinto ele parar e levanto minha cabeça, olhando para uma banca cheia de armas airsoft com os alvos giratórios de movendo no fundo, com vários brinquedos ao redor.

Lais - Se você gostar de dinossauros, tudo bem, pode ir, eu espero. Me solta! - Dou leves batidas no seu ombro, vendo ele se inclinar para trás e se abaixar, soltando minhas coxas até pisar no chão. - Boa sorte perdendo, amado.

Lucas - Valeu pelo incentivo. - Levantou seus braços e os dobrou, jogando seus cotovelos para trás, logo depois os sons de estalos foram ouvidos por mim. Terminando a demonstração, foi até o balcão, colocando um ticket na mesa.

Lais - Até dói em mim. - Passo minha mão pelo meu braço, olhando para ele que pulava, ansioso.

Minutos depois, apenas via ele acertando os alvos com uma facilidade anormal, até arregalei meus olhos, estando surpresa com aquilo.

Lais - Ohha!

Lucas - Muito obrigada. - Agradeceu à garota por ela ter dado a almofada de ursinho, e se virar para mim todo orgulhoso. - É para minha priminha.

Lais - Thais? - Presumi, prendendo meus lábios um no outro para segurar a risada.

Lucas - Ela me odeia, além disso, temos outra prima, e essa gosta de mim.

Lais - Boa sorte.

Lucas - Deveria tentar. Eu vi uma coroa de conchas linda no fundo.

Lais - Não sou boa em acertar alvos… Eu acerto o chão ao invés de acertar a lata de lixo com papéis amassados.

Lucas - Deixa que eu te ensino. - Se virou, deixando o urso encostado no balcão para vir até mim e me puxar até o balcão.

Lais - Lucas, tô no pique não.

Lucas - Deixa comigo.

Nos colocou em frente ao balcão, mas se colocou atrás de mim, me fazendo sentir seu abdômen atrás das minhas costas e me estremecer com aquilo.

Lais - Lucas… - O chamo com a voz pouco baixa.

Lucas - Prometo que não vou fazer nada que não queira, mas, agora, só vou te ajudar. - Disse, pegando uma das armas e depois segurando no meu pulso, colocando ele na minha mão, segurando delicadamente nos meus braços para mirar no alvo. - Isso… se concentra num dos alvos, para ter aquela coroa.

Sentia sua respiração forte e acelerada bater contra meu pescoço, seus braços me envolvendo contra seu corpo quente me deixavam nervosa, de algum jeito, o que me atrapalhou a me concentrar nos alvos que se moviam.

Lais - Não… quero nenhuma coroa. - Minha voz saía fraca pelo nervoso de sentir seu corpo contra o meu, supostamente fazendo ele sentir meu nervosismo, sentindo ele rir.

Lucas - Foco.

Lais - E-eu estou focada. - Fixava meus olhos nos possíveis alvos, mas a pressão que sentia do seu corpo era o bastante para me tirar o foco.

Lucas - Não parece… - Soltou uma risada nasal e aproximou sua boca da minha orelha, me fazendo arrepiar ao sentir sua respiração contra minha nuca.

Estremeci meus ombros, quase me tremendo, mas me contive ao máximo. Mas não pude conter meus suspiros tensos, de ficar rígida, com movimentos falhos ao segurar a arma airsoft. Piscava sem parar, suspirava lentamente para me acalmar e tirar a tensão nos músculos.

Lucas - Agora se concentra… ou faça melhor, mira fora do alvo e atira, isso sempre funciona… claro que comigo.

Reviro meus olhos e movo meus braços para o lado, ainda sem foco, e atiro, acertando um alvo, quase de raspão, mas acertei na faixa vermelha.

Lucas - Melhor que nada. - Comentou, continuando atrás de mim, segurando nos meus braços. - E olha a sorte, era o alvo da caixa surpresa.

Lais - Se for uma caixa surpresa que uma cara de um palhaço assassino pula na sua cara, eu mando ele te matar. E pode me soltar? Eu agradeceria.

Lucas - Ah, é claro. - Se afastou de mim para ficar do meu lado. - Gostou da experiência?

Lais - Gostei… - Coloco a arma de volta na trava, vendo a moça trazendo uma caixa pequena e a Coroa. - Eu não falei que queria a coroa.

Lucas - Éééé, fui eu.

Lais - Eu não toco nessa caixa. - Digo para ele vendo a moça colocando a coroa no balcão junto da caixa. Seguro a coroa feita de conchas coloridas, notando que não era tão feia assim. - Até que não é mal.

Lucas - Tem medo mesmo do que tem aqui dentro? - Perguntou, segurando a caixa.

Lais - Nunca assistiu filmes de terror? Maldições por todo o lugar! E em caixas? - Me viro para ele e olho para a caixa na sua mão.

Lucas - Sou fã do Jason.

Lais - Freddy, o Senhor dos Pesadelos, um clássico… Sabia que eu já vi ele pessoalmente? E é mais feio ainda, que até dói.

Lucas - Como ainda tá viva? - Franziu a testa tendo um sorriso no rosto.

Lais - Eu fechei as portas do corredor. - Dizia em tom de brincadeira, num tom que ele esperava por pensar que era brincadeira minha, mas não era.

Lucas - Podemos continuar nossa conversa comendo? Me deu fome.

Lais - E onde? Temos várias opções para escolher.

Lucas - No momento, eu estou saboreando uns belos nachos com muito cheese, tacos…

Lais - Eu tô salivando, caralho! - Seguro seu braço e o puxo, para começarmos a caminhar até o Whac-a-mole tacos, que estava pouco atrás da entrada do Pacific Park. No caminho, guardei a caixa e a coroa dentro da mochila que tinha comprado numa das lojas, para guardar, principalmente, o livro, enquanto ria do Lucas, que segurava a urso. - Que fofis.

Lucas - Se sinta privilegiada por me ver segurando um urso desse tamanho.

Lais - Sabe, o Píer é bem famosinho, então, não vai ser difícil encontrar uns ex-colegas de escola andando por aí.

Lucas - Ainda é de manhã, num dia entre as férias antes da faculdade.

Lais - Tu venceu! - Bato minhas mãos e sorriu para ele, sendo retribuída com um mais bobo.

Entramos na fila curta para pedir nossos pedidos, enquanto espremia meus olhos para conseguir ler as letrinhas.

Lais - Eu deveria mesmo trazer os meus óculos. - Digo para mim mesma, forçando ainda mais visão.

Lucas - Deve ficar linda de óculos.

Lais - Não dê em cima de mim na cara de pau.

Lucas - Não estou… Bom, queria…

Olho para ele, levantando minha sobrancelha.

Lucas - Sou um cínico, eu sei… Mas é uma das minhas qualidades.

Continuei encarando ele, procurando alguma familiaridade com a Thais, mas, simplesmente, não encontrei nada familiar, tirando a pele parda e os olhos castanhos claros, num tom nítido para verdes.

Lucas - Eu sei que sou lindo.

Lais - Não, eu sô tô procurando uma coisa em você que justifique ser primo da Thais, mas acho que tô meio equivocada, cê num tem nada parecido com ela.

Lucas - Graças a Deus! - Agradeceu, jogando sua cabeça para trás e virando seu olhar para o lado.

Sorrindo, volto a olhar para frente e me deparo com os olhos escuros e puxados do Jimin, estando junto da Melissa, na fila que estávamos. Meu sorriso, aos poucos, foi diminuindo, e os batimentos aceleraram, ainda mais pelo susto. Senti aquela mesma sensação que apertava meu coração, vendo ele estando junto dela.

Tratei de parar de encará-lo feito uma tonta para olhar Melissa e sorrir para ela, mesmo estando com uma amargura no peito.

Melissa - Bem que eu achei que tinha ouvido sua voz.

Lais - E vocês são muito calados.

Jimin - E eu pensei que só acordava depois do meio-dia. - Brincou e se virou, andando até a janela para fazer seu pedido.

Lais - Melissa, vai ficar viúva jovem! - O olhava com ódio.

Lucas - Vai pra mesa que eu vou pedir, tá… - Falou e passou por mim, com seu urso me empurrando junto da Melissa para poder passar.

Melissa - Que urso enorme.

Lucas - Ah! - Se virou e estendeu o urso. - Pode segurar para mim? E o que vai querer?

Lais - Claro. - Digo e seguro o urso, abraçando ele logo depois, olhando para o cardápio colado ao lado. - Um burrito supreme, dois tacos supreme com chips, nacho cheese e um regular soft drink. Calma que eu já pego o dinheiro.

Lucas - Não precisa, princesa, eu pago com maior prazer. - Se virou para ir até a segunda janela.

Lais - Não precisa, eu posso pagar!

Lucas - Eu comprarei tudo para você, princesa! - Piscou seus olhos, sorrindo, e se virou.

Lais - Agora é princesa?

Melissa - Não sabia que namorava.

Lais - Quê?! - A olho com surpresa. - Eu e o Lucas? Não, só estamos saindo… hoje… E nem me pergunte o porquê. Talvez pelo bom humor raro de manhã. - Falava pensativa.

Melissa - Vamos sentar? - Segurou no meu braço e me puxou.

Lais - Aham. - Acompanhei ela até sentarmos numa das mesas vazias. Coloquei o urso sentado do meu lado.

Melissa - Então…

Olho para ela.

Melissa - Como estão indo suas férias?

Lais - Estão lentas, divertidas, mas com um gosto de adeus.

Melissa - Ah, as meninas estão indo embora.

Lais - Mas ainda podemos nos falar por mensagens, ligações.

Melissa - E o que você pensa em estudar na Universidade?

Lais - Moda… dança… e se encontrar um outro curso, eu estou seguindo. E você?

Melissa - Gastronomia, eu amo cozinhar, principalmente para o Jimin. Ultimamente aprendi a fazer lámen e ele adorou. - Dizia com um sorriso bobo no rosto. - E depois de saber o que significa comer lámen com alguém na Coreia, nossa… 

Não pude deixar de não pensar em todas as vezes que fiz lámen para ele, e não senti outra vez o aperto no peito.

Lais - Coloca bastante pimenta, até tirar sangue da garganta dele.

Melissa - Se deixar, ele coloca o frasco inteiro.

Pelo canto do olho, vejo Lucas vindo na direção da mesa junto do Jimin, uma cena que fez minha barriga revirar, e me deixar sem jeito na frente dos três.

Melissa - Foi rápido. - Comentou, olhando para Jimin que colocou a bandeja na mesa.

Lucas - Lais, seu dia de sorte duplo. - O mesmo se sentou, colocando uma bandeja na mesa com tudo que comprou, mais do que pedi, o que já era muito. - Gorjeta de dupla porção de nacho Cheese com dois mega regulares soft drink ’s.

Lais - Mas… - Franzi, confusa, levantando meu braço para segurar na parte de cima do corpo grande dos drink ’s e trazer para mim, colocando o canudo na boca para tomar o sprite. - Tá bem, não vou reclamar.

Lucas - Parece desanimada.

Lais - Não vou mentir, estou sim… um pouco, na verdade. - Dou um mínimo sorriso e pego um dos burritos cortados, rasgando um pouco do papel que envolvia o lanche para poder morder: fecho os meus olhos, balançando minimamente minha cabeça e dando um sorriso, por sentir o gosto incrível do lanche, junto da pimenta.

Lucas - Ela é muito linda comendo? - Comentou com os olhos, olhando para mim enquanto comia os nachos.

Abro meus olhos e encaro ele, depois para os dois: Melissa sorria e o Jimin tinha uma expressão tediosa no rosto, forçadamente. Logo senti meu rosto esquentar pela vergonha.

Melissa - Own… ela ficou corada.

Lais - Para… - Digo, colocando meu dedo na frente da boca por ainda mastigar, com os olhos fechados, tentando não ficar mais corada.

Jimin - Cara, para de babar.

Lucas - É a comida.

Melissa - Podemos ir ao cinema hoje, que tal? Como um encontro duplo. - Dizia animada, depois mordendo uma fatia de pizza.

Lais - Depende do filme, porque… - Pego um nacho, mergulho no queijo e depois o coloco na boca. - eu vi todos que lançaram no cinema com meus amigos, então…

Jimin - Doutor Estranho ainda está em exibição.

Lucas - Nem assisti.

Lais - Perdi quantas vezes fui no cinema assistir. O filme é lindo de maravilhoso! Mas sou eu que vou pagar a pipoca!

Jimin - Eu agradeço!! - Soltou um sorriso cínico.

Todos eles deram risada.

Lais - E você paga o refrigerante. - Digo, fazendo os dois rirem ainda mais e ele tirar o riso convencido do rosto e me olhar com ranço.

Melissa - Você dois parecem cão e gato.

Lais - Nós praticamente crescemos juntos, então… o ranço pega.

Jimin - Eu não discordo.

Nós dois, numa forçação de briga vinda de mim, retribui seu olhar de raiva.

Melissa - Gente, esse ar de guerra não fica bem. - Levantou suas mãos e as colocou na nossa direção, tentando acalmar a situação.

Errou miseravelmente.

Jimin - Não é surpresa minha você me olhar assim. - Abre um sorriso debochado.

Lais - Eu te odeio.

Jimin - Também gosto de você, viu.

Melissa - Vamos ver Star Wars!! - Sugeriu.

Lucas - Não, esse filme é muito ruim.

Melissa - Eu não assisti.

Lucas - Nem eu, mas amigos me falaram.

Ainda continuava com minha marra forçada para cima do Jimin, mas já não aguentando mais, abro um sorriso e tombei minha cabeça para o lado, acabando com o clima, sendo retribuída por ele, que também tombou sua cabeça para o lado.

Lais - Vai ficar com dor no pescoço.

Jimin - Minha flexibilidade é um poder de nascença.

Lais - Minha fome também. - Volto a ficar reta, passando minha mão sobre o pescoço, para continuar a comer.

Momento mais tarde, estávamos na entrada do cinema, comprando os nosso ingresso para assistir o filme do meu Mago bonitão preferido. Depois, fomos até a vitrine, onde meus olhos brilharam ao ver tantas escolhas de lanches.

Lais - Aquele parece bom - Apontava com meu indicador contra o vidro da vitrine, mas logo aponto ele para outra sobremesa. -, mas aquele me chama.

Melissa - Acabou de comer.

Jimin - Vai ficar assustada com o tanto que ela pode comer.

Lucas - Pode ser um exagero se eu disser que também posso te acompanhar nessa?

Lais - Não!

Lucas - Fechou!

Me virei para ele, levantando minha mão para bater contra a dele, para depois chamar a moça para escolher meus lanches.

( Horas depois )

Depois de acabar de ver o Doutor Strange, fui sorrateiramente para outra sala de cinema onde estava passando Animais Fantásticos, deixando os outros andarem sozinhos pelo corredor.

Lucas - Onde você vai, menina?

Lais - Tirar férias de vocês. - Respondo e me viro para entrar na sala, com um sorriso animado, estando subindo a rampa e vendo passar na tela enorme a parte em que Newt acariciando um hipógrifo. - Que coisa mar linda.

Jimin - Você não pode entrar aqui… - Sua voz baixa soou atrás de mim, parando do meu lado e olhando para a tela. - Nossa.

Melissa - Eu me sinto uma criminosa. - Comentou com a voz presa na garganta.

Lucas - Eu me sinto normal.

Lais - Isso não me surpreende. - Olho para eles e sorri, me virando para subir as escadas enquanto olhava para as cadeiras vazias do fundo.

Jimin - Se for preso, a culpa vai ser sua. - Sussurrou.

Lais - Caralho, é você quem tá me seguindo, porra… - Respondo em sussurro também, entrandoo num corredor de cadeiras vazias, caminhando rapidamente, e cegamente, por olhar a tela. - Ele é tão lindo!

- Shiiii!!! -

Lais - Shii pra vocês também, caralho. - Reclamo com um casal nos assentos debaixo, me virando para abaixar a parte debaixo da cadeira e me sentar, sorrindo e olhando para o meu marido. - Se eu fosse do universo do Harry Potter, iria ser uma magizoologista.

Jimin - Professor de Artes das Trevas.

Melissa - Uma prima Malfoy distante.

Lucas - Eu nunca assisti. - Se sentou do meu lado.

Viro meu olhar lentamente para ele, sentindo meu olhar se acenderem em chamas.

Lais - Saia do meu lado agora.

Jimin - Mas que vergonha.

Melissa - Só vi os filmes.

Lais - Recomendo ler os livros.

- Podem calar a boca aí atrás! -

Lais - Presta atenção no filme, caralho! Eu quero ver meu marido!! - Grito com falta de vergonha, sentindo os olhares de todos para mim.

Melissa - Eu prefiro o Draco.

Lais - Ele também é meu marido! - Viro meu olhar para ela, me inclinando para olhá-la melhor, ignorando totalmente o olhar contraditório do Jimin com as sobrancelhas levantadas e os lábios franzidos, para nós duas. - Sonserina, e você?

Melissa - Óbvio que Sonserina!

Lais - Toca aqui, irmã! - Empurro Jimin para ficar batermos nossas mãos na frente dele, surtando com nosso compartilhamento de casas.

Melissa - Sai da frente, Jimin! - Empurrou Jimin para fora da cadeira para se sentar do meu lado, começando a contar seus momentos favoritos dos filmes, os feitiços preferidos. - Se o Tom Felton aparecer na minha frente, eu caso na mesma hora!

Lais - Eu pulo no dele e obrigo ele a fazer um texto comprometedor no meu corpo!!

Jimin - Lucas, as duas estão falando de outro cara na nossa frente? - Falou baixo.

Lucas - Sim.

Melissa - Acho que temos problemas. - Parou para pensar.

Lais - Eu prefiro assistir o filme do que pensar neles. - Me arrumo no assento e volto a prestar atenção no filme.

Melissa - Depois surtamos.

Lais - Aham.

Melissa - E pare de me olhar assim, bebê.

Jimin - Não!

Lais - Podem discutir a relação lá fora.

Melissa - Que espere sentado.

Jimin - Quanta ousadia.

Lucas - Audácia sua de falar de outro cara.

Lais - Cala a boca, inferno!!

Saindo da sala do cinema, eu e Melissa continuávamos conversando sobre o Universo mágico, deixando os meninos emburrados atrás de nós. Nos distraímos com o tempo, caminhamos pelos corredores até sairmos do cinema e pararmos, esperando os meninos.

Melissa - Continuam com essa cara? - Perguntou com um sorriso no rosto, olhando para os dois, inocentemente.

Jimin - Conversamos sobre isso depois.

Lais - Nossa, Park, não sabia que era tão ciumento assim. - Brinco, soltando uma gargalhada debochada, batendo minhas mãos.

Jimin - Não sou eu quem estava roendo os dentes. - Provocou, virando seu olhar brincalhão para Lucas, que não tirava seus olhos de mim.

Lucas - Eu te ensinei a atirar…

Lais - Conheci o Tom antes de você, desculpa.

Lucas - Ele é bem mais velho.

Lais - E eu vou fingir que me importo!

Melissa - Não íamos para a competição de Skate?

Jimin - Porque não vai com o Tom?!

Melissa - Lais! - Caminhou e passou por eles.

Lais - Bora! - Solto um sorriso e passo por eles, seguindo ela.

Lucas - Me lembra de nunca assistir Harry Potter do lado dela.

Jimin - Só se você me lembrar.

Atravessamos as ruas ainda entre nossas conversas, com os meninos nos acompanhando, aos poucos, tirando o semblante de emburrados. Caminhamos por minutos cansativos, pelas pistas de skate serem longe da calçada das lojas.

Lais - Poderíamos ter pego um ônibus de turismo, não? - Pergunto, sentindo minha garganta seca e as pernas fracas de tão cansadas que estavam.

Melissa - Poderia ter falado isso minutos atrás! - Suspirava de cansada.

Jimin - Vocês estão morrendo? - Abre um sorriso debochado.

Melissa - Não jogue suas caminhadas das cinco da manhã na minha cara.

Jimin - Ainda não aceita? - Gargalhou.

Lais - Como aguenta esse cara?

Melissa - Eu suporto! - Respondeu com raiva.

Jimin - Bom saber.

Lucas - O motorista está passando!

Lais - Ah! - Dou um mini grito e me afasto, acabando esbarrando na Melissa, por ver ele passando de raspão do meu lado com uma bicicleta. - Existe um espaço do outro lado, sabia?!

Lucas - Eu sei que está com inveja!

Lais - Mas eu vou… - Movimento meus dedos, pensando num plano maligno para derrubar ele da bicicleta e roubar ela pra mim.

Melissa - Vai usar aquelas coisas…? - Perguntou em sussurro para mim.

Lais - Quê? - Saio do meu pensamento infestado pelo mal ao ouvir sua pergunta. Olho para ela, tirando o foco dele.

Melissa - Aquela coisa que você tem. - Levantou suas mãos, começando a fazer movimentos atrapalhados.

Lais - Não… - Ponho minhas mãos por cima dos seus antebraços e os forço para baixo. - Nunca mais repita isso.

Melissa - Desculpa. Acredita que, amanhã inteira, eu esqueci dessa informação?

Lais - E agora lembrei, porque você não mencionou nenhuma vez.

Jimin - E!!

Olhamos para frente e nos calamos, fiquei confusa e surpresa, vendo Jimin em pé na parte de trás da bicicleta onde Lucas ainda pedalava, se afastando rápido de nós enquanto gargalhavam.

Jimin - Continuem conversando!!

Lais - Mas vai ser agora! - Abaixo minha mão e a abro bruscamente na direção da bicicleta: parou bruscamente, fazendo os dois serem inclinados para frente. Abro um sorriso vitorioso e empino o nariz, começando a caminhar e a empurrar a bicicleta para frente.

Melissa - Isso é tão legal. - Comentou e começou a e seguir.

Aumentava meu sorriso a cada centímetro que aquela bicicleta seguia para frente, com o olhar desafiador do Jimin para mim e as movimentações repentinas do Lucas, demonstrando que estava confuso..

Melissa - Você já trolou o Jimin?

Lais - Quer que eu comece por cima ou por baixo? - Sorrindo, giro minha mão para a direita, virando a palma para cima: a bicicleta seguiu o curso para a direita, se aproximando do gramado que separava o calçadão da rua.

Melissa - E-eles vão-

Lais - Quando falar “ cachorro-quente ”, você corre e pega a bicicleta que eu te sigo.

Melissa - Porque cachorro-quente?

Lais - Também não sei. - Prendi o riso com uma feição de choro, guardando meu desespero.

Lucas - Gente! E-eu não sei como… - Dizia, segurando o guidão e o balançando, fazendo a mesma se tremer pela sua roda descontrolada. - PARAAAH!!!

Jimin - LIIIIIIIM!!

Lais - Ele voltou a me chamar de Lim? - Franzi.

Aumento os passos com ela atrás de mim, observando a bicicleta barrar no gramado e viro calmamente minha mão para o lado: a mesma se inclinou para o lado e caiu, fazendo os dois caírem sobre o gramado.

Lais - Ca-

Melissa - Eu sei: “ cachorro-quente ”. - Correu na direção da bicicleta, comigo a seguindo.

Jimin - O que pensam que estão fazendo?! - Nos olhou incrédulo.

Melissa - Roubando a bicicleta! - Dizia enquanto se abaixava e segurava nos guidões para levantar a mesma, ficando em cima dela para começar a pedalar. - Lais!

Lais - Até mais, babacas! - Gargalho alto ao dizer com um sorriso largo, pisando nos apoios dos dois lados da roda traseira para subir e segurar nos ombros dela. Acenava para eles, com um sorriso cínico, enquanto a gente se distanciava.

Melissa - Essa vai pra minha lista de coisas mais legais que eu já fiz!

Lais - Para as pistas de skate, marujo!! - Apontava para frente, sentindo os ventos baterem em mim.

Melissa - Sim, senhora, Capitã!!

Nossos risos ecoavam o caminho que a gente passava, que começou a ficar mais cheio de pessoas, percebemos enquanto fazíamos as poucas curvas, nos aproximando das pistas que estavam a poucos metros de nós, aos poucos escutando a batida da música forte.

Melissa - Minhas pernas já estão doendo, e não vou conseguir forças para subir a colina.

Lais - Se você estiver pensando que eu deveria pedalar agora, vai se arrepender.

Melissa - Por quê?

Lais - Vai ter um braço quebrado e a pele raspada.

Melissa - Não sabe andar de bicicleta?

Lais - Não. - Nego, sentindo ela parar, justo na curva que começava uma escadaria com curvas entre o gramado para subir a pequena colina até as pistas, que estava sendo usada pelos grupos que subiam. Desço da bicicleta, quase caindo por sentir uma dormência nas pernas de tanto ficar em pé e imóvel. - Tô bem.

Melissa - Vou colocar isso apoiado na árvore e já subimos, tá? - Pisou forte no chão para se jogar para frente e pedalar até a árvore.

Lais - Tá. - Desvio meu olhar dela, que estava tirando sua blusa e revelando seu biquíni, para pôr nos grupos que caminhavam pelo gramado, pela escadaria, indo na direção das pistas; do lugar onde estava, podia ver que a entrada estava cheia. - Eh… está cheia.

- Demorou, Mê!

Uma das garotas que desciam a escadaria, gritou, sorrindo acenou para Melissa, que acenou de volta.

Melissa - Desculpa a demora, estava ocupada.

Ambas se aproximaram no pé da escadaria e começaram a conversar, enquanto eu apenas encarava as suas amigas e tentava disfarçar o meu olhar guloso sobre seus corpos expostos em biquínis coloridos.

Desvio meu olhar tenso para o lado, encarando a praia e o fundo azul.

Melissa - Meninas, essa é a Lais.

Volto a olhar para as mesmas, ficando constrangida com seus olhares e sorrisos para mim, eu me segurava para não ficar com o rosto ardendo.

Melissa - E Lais, essas são Marta, Enoí, Mabel, Lara e Felícia. - Apontava para cada uma, de loira até ruivas.

- Olá!! - Todos aumentaram os sorrisos.

Lais - Oi. - Aumento o sorriso constrangido.

Felícia - Porque está de roupa num evento culto desses? - Perguntou, passando seu olhar sobre meu corpo vestido. - O sol está rachando o asfalto, querida, vamos, tira!

Lais - O-olha, eu prefiro ficar vestida, não que não goste de usar biquínis, eu gosto, mas hoje não estou com uma moral lá em cima. - Respondi um pouco surpresa, com o fato dela, literalmente, mandar eu tirar minha roupa.

Enoí - Está usando um biquíni por baixo?

Lais - Eu devo… responder… que sim? - Dei um grito de surto dentro de mim, me segurando para não correr, sentindo a pressão da tortura dentro de mim.

Os seus sorrisos aumentaram, num olhar cúmplice que todas compartilhavam.

Me inclinei um pouco para trás, assustada com tanto olhares que se tornaram negros para mim.

Lais - Vocês estão bem? - Perguntou choramingando.

Jimin - Chegaram tarde?

Lais - AAAH!!! - Gritou e pulo para trás, me atrapalhando com meus próprios pés, mas me viro com tudo e vejo ele do lado do Lucas, completamente molhados e sem suas camisetas. Passos meus olhos sobre os dois, vendo seus abdomens treinados, ainda mais pelo corpo do Jimin que estava tão pertinho de mim, o que fez meu corpo estremecer e se esquentar, acelerando minha respiração. Para disfarçar, uma ideia doida passou pela minha cabeça; comecei a me balançar e fazer minha careta de nojo, me virando para a praia. - Ai, que visão do inferno!

Lucas - A visão do meu corpo é tão ruim assim.

Lais - Não é o seu! - Nego com a cabeça.

Jimin - É bom saber disso.

Lais - Mas se bem que eu posso compartilhar o meu pensamento com você vestido de joaninha. - Falo e começo a rir.

Jimin - Você não se atreva!

Melissa - Meninas, parem de babar! - Bate suas mãos. - E Lais, vamos! Temos um lugar aqui perto para esses tipos de emergência.

Lais - Sério, meninas? - Franzi meu olhar, confusa, olhando para elas, que assentiram. - Não, eu me nego! Prefiro ficar vestida!

Lara - Não precisa ter vergonha, vamos. - Falou, começando a vir na minha direção, com um sorriso maroto.

Lais - É sério… - Choraminguei, dando poucos passos para trás.

Lucas - Você pode vir comigo. Eles tem uma mangueira incrível lá trás. - Começou a vir até mim.

Lais - A-AH!! - Grito e aponto para ele, olhando com meu olhos estáticos, fazendo ele parar. - Não se aproxima de mim, muito menos você, Park!!

Melissa - E como vocês chegaram aqui? Não te vimos.

Lucas - Encontrei meus amigos passeando de carro e pegamos uma carona. E ele, incrivelmente, faz amizade bem rápido. - Dizia em tom surpreso.

Jimin - É um dom. - Abre um sorriso convencido.

Melissa - Odeio vocês.

Lara - Vem. - Segurou no meu braço e me puxou com calma. - E a mochila?

Lais - Tem coisas valiosas. - Assenti freneticamente, nervosa, quase enlouquecendo ao me colocar no centro de todas, que vieram pra cima de mim. Prendo minha respiração e fecho minhas mãos, por sentir os seus corpos se alisarem em mim. Se não fosse pela situação constrangedora de estarmos sob olhares indesejáveis, eu diria que estava no paraíso, mas não, estava quase desmaiando. - M-m-meninas, podem se afastar!

Melissa - Meninas, isso mexe com a mente dela…

Lucas - Eu posso-

Lais - Não! Você não pode nada!

Mabel - Então a preciosa gosta da fruta, é? - Brincou com um olhar malicioso, mordendo seu lábio inferior como uma provocação, logo vindo segurar meu braço. - Gostei mais ainda de você.

Lais - Deus!! - Solto o ar no grito desesperado, com a minha alta saindo do corpo, por sentir alguma delas bater com força em uma das minhas nádegas. Todas elas se agarraram ainda mais em mim, começando a me arrastar para a escadaria, me forçando a subir junto. - Isso se chama abuso! E eu posso denunciar vocês!

Marta - Eu vou adorar ser denunciada por você, gatinha!!

Todas riram com as provocações e eu não sabia onde enfiar a minha cara, mesmo sabendo que era de brincadeira, estava mexendo demais com a minha cabeça.

Lais - VOCÊS NÃO VÃO FAZER NADA?!! - Grito e viro para trás, olhando eles que, Lucas estava encarando a cena com cara de paisagem, Melissa me encarava com animação excessiva, tirando a face nada incompreensível do Jimin, estava sem semblante algum.

Melissa - APROVEITA!! - Gritou em meio às gargalhadas.

Lucas - ELA ESTAVA COMIGO!!!

- PERDEU!!! - Todas gritaram.

Lais - Isso é um sequestro!! SOCORROOO!!

Enoí - Não gosta de estar sendo agarrada por cinco garotas?

Lais - O-olha… gostar, eu até gosto, mas não quero abusar!

Felícia - Nós que estamos abusando de você, querida.

Sinto outro tapa forte na minha bunda.

Lais - Meu Deeeeeus! - Fecho os meus olhos, sentindo a quentura no corpo e no rosto, respirando acelerado. - Acho que vou morrer…

Subimos na área aberta, em frente às pistas, as quais estavam lotadas de skatistas, com as arquibancadas laterais lotadas: carrinhos de lanches, de sorvetes, bebidas, estavam espalhados; o espaço num canto das pistas, tinha um palco improvisado: estavam sentados um homem e duas mulheres.

Lais - Se soubesse andar de skate, eu participaria. - Comento, olhando para todos os lados cheios de pessoas com poucas roupas; óculos coloridos; copos cheios de bebida nas mãos; a música com a batida alta.

- Posso participar da festa, meninas? - Perguntou um tarado ao nos ver passar, estando junto de um grupo de amigos, que nos encararam com uma feição maliciosa, sorrindo.

Quase não ouvimos pela música alta, as vozes altas, gritos, talvez o calor, não pelo sol, mas pelos corpos alvoroçados e suados de todos que estavam impregnados, curtindo, dançando, à nossa volta.

Mabel - Se vocês quiserem… - Respondeu da mesma forma, abaixando seu óculos de sol.

Lais - Não! Não podem não! Não quando estiver entre elas!! - Respondo com desespero e nervosismo, olhando para ele em desafio.

- Não seja ciumenta, gatinha! -

Lais - Não é ciúmes, é prevenção de retaguarda mesmo.

Enoí - Garota, você é tão sem graça.

Continuamos a caminhar entre os caminhos estreitos que existiam entre os grupos espalhados, nos espremendo para poder passarmos.

Lais - Meninas, olha, eu acho melhor…

Marta - Você não acha nada.

Lara - A Casa Bini ’s fica do outro lado da pista, já vamos chegar.

Lais - A-atrás das pedras da praia? - Pergunto, ainda nervosa.

Lara - Na frente do canal.

Lais - Maravilha.

Passamos do lado das arquibancadas, dando em frente à outra escadaria, mas curta, que nos levava diretamente até um tipo de cabana, que nunca prestei atenção, que acima dela tinha uma logo com palavras em roxo, escrito: Casa Bini ’s. Ao lado, ali estavam as preciosas pedras enormes, tomando toda uma área, até terminarem, entre menores pedras, do lado das pistas.

Mabel - Estou com sede.

Marta - A Dona Ela pode nos dar. Esqueceu como ela é simpática e atenciosa?

Começamos a descer a escadaria, rapidamente chegando em frente ao lugar, trilhando um caminho feito de pedra entre o gramado e a areia.

Logo notei uma senhora sorridente aparecendo entre cabides quase vazios, apenas sobrando alguns biquínis.

Mabel - Dona Ela! Trouxemos uma nova vítima para a senhora! - Gritou e se separou de nós, para começar a correr até a entrada aberta. - Mas tenha calma, a menina é uma protegida do senhor.

Lais - Ela sempre fala as coisas na ironia assim?

- Sim! - Todas responderam.

Ela - Olá, mocinha. - Cumprimentou com uma voz serena e um sorriso doce no rosto, vindo até nós.

Lais - Boa tarde, Senhora. - Retribuo o sorriso, parando logo depois e olhando para as poucas peças.

Ela - Tirem a mochila dela. - Falou com a voz mais grave, num tom sério.

Lais - Oi?! - Olho para ela com os olhos arregalados, e assustada, vendo seu semblante severo, me olhando com rispidez. Sinto minha mochila ser tirada das minhas costas e jogada num sofá no canto. - Calma! Eu disse que tinha coisas preciosas nela!

Ela - Não vai ser mais precioso do que irá usar. - Se aproximou de mim segurando uma fita métrica. - Tirem a blusa dela.

Lais - Sabia que você é estranha?! - A medi de cima a baixo, em choque.

Ela - Sabia que você não tem nenhum senso de moral para falar comigo, você está horrível. - Cuspiu as palavras, olhando para minha roupa com desprezo. - Nesse sol usando calça, um tênis e uma blusa, por mais que seja linda, olhe as marcas indesejadas… é um aviso.

Lais - Eu sempre uso um protetor solar potente. Importado, na verdade, e sem água.

Ela - Isso responde… - Se aproximou, levantando suas mãos para as pôr sobre meu rosto, me olhando atentamente. - Sua pele é tão macia. Sem manchas de espinhas, cravos. Seus lábios são bem rosados e seus olhos bem brilhantes… Tem alguma coisa neles que é familiar para mim…?

Lais - Senhora, você tá me assustando. - Meu corpo estava rígido, olhando para ela estaticamente.

Ela - Vamos, tire a blusa.

Lais - O-olha, não vou tirar a blusa porque…

Ela - Meninas! - As chamou num tom ainda mais alto e autoritário.

Lais - N-não!!

As mãos delas agarraram meus braços e os levantaram, puxando minha blusa para cima, o que me deixou ainda mais nervosa.

Mabel - Uuuuh, o famoso sutiã de controle para jogos. - Comentou em tom de brincadeira ao encarar meu sutiã, se apressando para levantar suas mãos e os pôr sobre meus seios, me apertando.

Lais - Ahn… - Prendo meu grito dentro da garganta, rapidamente batendo minhas mãos nas suas e colocando meus braços na frente dos meus seios, sentindo meu rosto queimando. Olhava para ela, nervosa. - Não mexa numa coisa dessas!

Mabel - Gostou, né? - Perguntou com malícia, me olhando da mesma forma safada e levantando suas sobrancelhas. - Até prendeu o gemido na boca.

Lais - Eu, definitivamente, acho que você tem um problema! - Falo ainda com a voz alterada.

Mabel - Todo mundo fala isso.

Ela - Você tem uma boa forma. Tira isso! - Segurou meus braços e os puxou, bruscamente, analisando meu corpo com o olhar atento, e começando a andar para o lado. - Muito bem eu diria. Tem uma boa cintura.

Mabel - E tem umas nádegas bem firmes!

Ouvi as gargalhadas das suas amigas atrás de mim.

Lais - Elas sempre trazem alguém aqui?

Ela - Raramente.

Enoí - Não temos empatia por quase ninguém, porque… como posso descrever… - Dizia com sua voz pouco infantil, e pensativa. - Somos más.

Felícia - Mas você é um caso diferente.

Lais - Expliquem! - Viro meus olhos para o lado, por ver a senhora terminando de me analisar.

Felícia - Não sabemos o porquê, mas gostamos de você, guria.

Marta - Começando, porque já é amiga da Melissa. E também é a garota que ajudou ela a investir no Jimin.

Lais - Bom saber. - Abro um sorriso forçado, sentindo meu peito se apertar outra vez. Saindo dos pensamentos, senti a senhora envolver a fita envolva do meu busto.

Ela - Hmm, seu busto é bem diferente das outras.

Lais - Eu sou brasileira, e dizem que nós temos o corpo mais formado.

Ela - Isso responde. Busto elevado, cintura amigavelmente fina, um bumbum avantajado e coxas grossas.

Lais - Acabou de levantar minha moral, senhora. - Fecho os olhos e solto um sorriso sincero, ainda envergonhada, mas me sentindo melhor do que acordei de manhã.

Mabel - Então essa é a receita para ser gostosa?

Lais - Eu não me acho gostosa. Sinceramente, nunca pensei nisso… - Digo, perdida nos meus pensamentos, lembrando das vezes que a Carmen me chamava de gostosa, me tirando um sorriso do rosto. - Pelo menos não ultimamente.

Marta - O que faz para manter a forma?

Lais - E-eh… - Gaguejo por não saber o que dizer, tinha medo de dizer que nadava, mas não podia dizer que ia treinar ou correr. Se mentir, uma hora vão saber, por que Melissa sabe que eu nado, e foi essa desculpa que dei quando ela perguntou da minha boa forma. - Dançar… e nadar…

Lara - Eu nado e não tenho esse corpo.

Enoí - Começou a nadar mês passado, anja do céu.

Ela - Tenho um perfeito para você. - Tirou a fita da minha cintura e correu até seu balcão, se colocando atrás dele e abaixando para pegar algo, logo colocando um pacote em cima do mesmo, mostrando um conjunto de cor amarela. - Vai realçar bem seu busto e sua cintura, ainda mais seu bumbum. Vai caber perfeitamente em você.

Lais - Hmm. - Assenti, concordando com ela, pegando pacote logo depois.

Ela - Mostrem ela o nosso santuário, meninas.

Lais - Eu posso ir sozinha! - Alarmada, volto a olhar para ela, quase desesperada, por não querer estar perto das meninas, não que eu não goste, mas elas me deixam muito constrangida, e odeio me sentir assim.

Lara - Não tenha vergonha.

Pôs seu braço por cima dos meus ombros e me puxou, me levando na direção de duas portas duplas.

Mabel - Não desmaia!

Lais - Po-por quê? - Franzi, ficando mais assustada com essa garota.

Lara - Não ligue para ela. - Levantou sua mão para a pôr sobre a porta e a empurrar, me empurrando para dentro logo depois. - Não se acanhe.

Eu paro instantaneamente, quase explodindo ao ver milhares de tetas na minha visão.

Lais - Meu pai! - Sentindo meu rosto esquentar violentamente, meu corpo inteiro vibrar, coloco bruscamente minha mão por cima dos meus olhos.

Felícia - Não precisa disso. - Entrou no lugar e segurou nos meus ombros, me empurrando para frente. - Meninas, ela é nova, é bem tímida.

Lais - Eu só não quero olhar demais!

Mabel - Ela gosta da fruta!

Lais - Não se sintam intimidadas, pelo amor de Deus! - Ainda estava sendo empurrada até ser quase jogada dentro de uma cabine. - Ai! Não precisa disso!

Felícia. - Desculpa, mas como você é tímida, trocar aqui dentro não é má ideia.

Lais - O-obrigada. - Sorrindo forçadamente, vou até a porta e a seguro. - Até lá fora.

Felícia - Não apronte, mocinha. - Abre um sorriso malicioso e se afasta da porta, me deixando fechá-la.

Lais - Essas garotas são doidas… uUH! - Me tremo e começo a me trocar.

Me olhava no espelho ao colocar a calça novamente, deveria procurar um short, mas daria mais trabalho; me sentia mais segura usando um short.

Mabel - Lais! - Abre a porta bruscamente, parando em frente a ela por me olhar surpresa. - Ficou ótima em você… mas porquê a calça? Menina, não me fala que apenas colocou a parte de cima?

Lais - Claro que não. - Nego, dando um sorriso mínimo. - Eu só não me sinto bem usando apenas biquíni, é coisa minha, então nem tenta me convencer a tirar.

Mabel - Não vai ser comigo que deve se preocupar.

Lais - Tenho minhas artimanhas. - Me abaixo e pego minhas peças de roupa para colocar no pacote.

Volto acompanhada dela, atravessando o espaço que estava vazio, graças a Deus, passando logo pela porta e encarando a multidão de garotas que estavam na frente, numa multidão de falas.

Lais - Vai ser fácil. - Aumento meu riso, convencida de que iria passar ilesa da dona do lugar, mas quando a vejo me olhar e seu sorriso murchar, meu sorriso some e o medo sobe. - Posso correr, é uma opção.

Ela - Isso é um ataque contra as minhas peças, moça!! - Gritou, fazendo todas se calarem e olharem para mim.

Lais - D-desculpa, Senhora, mas eu prefiro assim.

Ela - Você tem alguma coisa no corpo que não quer mostrar?

Lais - Não! - Tento dizer normalmente, mas minha voz sai fina e presa na garganta. - Merda!

Mabel - Não me faça querer te dar um corretivo?

Lais - Nossa, faz tempo que não ouço alguém falar isso pra mim. - Comentou, tentando lembrar a última vez que ouvi isso.

Mabel - Era intimidada por alguém pela sua aparência?

Lais - Podemos dizer que sim, mas não é por isso que não quero mostrar meu corpo.

Ela - Então?

Volto pra realidade, vendo ela na minha frente, me encarando rigidamente.

Lais - Esse conjunto é lindo, e prometo que vou usar ele mais vezes, só que… 

Ela - É tão tímida que chega nesse ponto?

Lais - Eu era pior antes, vai por mim.

Ela - Está bem… - Assentiu. - Mas saia daqui, antes que eu me arrependa de te deixar sair assim.

Lais - Mas ainda nem paguei.

Mabel - Deixa na conta da Enoí, ela é rica. - Pôs suas mãos nos meus ombros e me empurrou.

Lais - Ah.

Saímos do lugar, encontrando as meninas com copos cheios na mão.

Marta - Demoraram.

Enoí - Ainda com calça?

Mabel - Fomos apreendidas pela Ela, mas fomos liberadas.

Lais - Eu prefiro subir e tomar alguma coisa. - Digo, guardando o pacote dentro da mochila.

Felícia - Porque tem uma caixa, uma coroa de conchas e um livro infantil na mochila?

Lais - Nunca se mexe na mochila dos outros, sabia?

Enoí - Isso são suas preciosidades?

Lais - Uns tem um copo especial, uma roupa, até dente! Por que não posso ter uma caixa, uma coroa de conchas e um livro especial? - Digo na defensiva, apertando a mochila contra mim e passando por elas.

Mabel - Ah, gente, ela ficou magoada. Que decepção, em! Lais, espera!

Enquanto subia, recebi uma mensagem da Thais, perguntando onde estava, logo depois respondi que estava no evento na pista de skate. Termino de escrever, sentindo alguém colocar o braço em cima dos meus ombros.

Mabel - Elas são curiosas mesmo, não liga.

Lais - Acha mesmo que estou com raiva? - Sorriu, divertida, guardando o celular no bolso da calça.

Mabel - E não está? - Me olhou, confusa.

Lais - É puro drama.

Mabel - Um prêmio do ano para você, garota.

Voltamos para o evento, sendo bombardeadas pelas outras garotas, começando a passar, novamente, pela multidão de pessoas aglomeradas, sentindo o calor violento me pegar, voltando a ter os ouvidos trêmulos com as batidas da música alta.

Mabel - Meu irmão já chegou…

Quase não ouvia sua voz, mas podia ouvir por estar do meu lado.

Enoí - O gatinho do seu irmão.

Mabel - Não fala desse assim quando estiver perto de mim. Que nojo.

Enoí - Ainda vai continuar tendo nojo quando eu citar que já nos pegamos?

Mabel - Sim! - Olhava para o lado, sobre seus óculos, observando algo. - Lá vai ele aprontar de novo.

- TODO MUNDO, LEVANTA AS MÃOS!!! -

Olho na direção e arregalo meus olhos, por ver o cara com uma mangueira nas mãos, apontando para a multidão, onde estava no meio.

Lais - E-eu tenho que ir ali…

Mabel - Não! - Segurou meus braços e me juntou ao seu corpo.

Lais - Mas… - Senti meus batimentos aumentarem pelo medo, o nervoso que fazia meu estômago revirar, o desespero aumentar, ao ver aquela cena e notar que já estava girando a torneira na ponta para ligar.

Marta - Que venha água.

Enoí - Que venha ele também!

Mabel - Eu vou ter pesadelos hoje.

No momento que vi a água ejacular da mangueira, bruscamente abro minha mão esquerda e os jatos foram jogados para trás, assustando o cara que quase cai do carro ao ser atingido por eles.

Lais - Eu estou indo! Tchau! - Solto meu braço dela, que estava concentrada na cena, prendendo o riso, para poder correr entre a multidão e notar que ele começou a jogar água para a multidão que gritava em comemoração. Aumento meus passos, com desespero, com medo de ser molhada, até bater contra algo.

Jimin - Você ficou doida! - Gritou em meio a música e segurou minha mão, para começarmos a correr entre a multidão, que esperava a água, ansiosamente, até conseguirmos parar num local vazio, onde pude parar para respirar e sentir meu corpo inteiro tremer pela adrenalina, com o coração batendo num turbo no peito.

Andei até as barras e me seguro nelas, para recuperar o ar.

Jimin - O que estava fazendo lá?

Lais - Voltando de uma… sessão de comprar mais bizarra da minha vida. - Ponho minha mão sobre o peito, sentindo meu coração ainda rápido e respirando descontroladamente.

Jimin - Eu notei. Aliás, aquele jato foi incrível. - Soltou uma gargalhada típica.

Lais - Que bom que gostou. - Respondo com a voz fraca e me viro para a multidão que se divertia sendo molhada.

Jimin - Isso vai dar problema.

Lais - E porquê? Todo mundo está gostando.

Jimin - A pista tem que estar seca para poderem usar o skate, ou podem errar.

Lais - Não é problema. - Dou de ombros, pensando em secar a água logo depois que o show acabar.

Jimin - Nem pense nisso. - Virou seu rosto, me repreendendo com o olhar.

Lais - Ninguém vai desconfiar de mim.

Jimin - Não é só por isso.

Lais - Vão chegar na conclusão do sol. O calor está matando, e aposto que a pista está tão quente que pode fritar um ovo.

Jimin - Vão poder fritar um ovo se você fritar a pista. - Soltou um suspiro, continuando a me olhar com profundidade.

Seu olhar intenso trouxe o frio que sempre sentia no estômago quando ele estava perto, ou me olhava daquela forma.

Jimin - Fiquei preocupado.

Lais - Não precisa, sério. - Quase falo com a voz trêmula, sentindo minha respiração quase se descontrolar.

Mabel - Onde você foi? - Sai dentro da multidão, junto de um cara alto, ambos inteiramente molhados. - Oi, Jimin.

Jimin - O banho foi bom?

- Incrível. Não sei porquê vocês correram feito loucos? - Nos olhava com confusão, principalmente para mim. - Principalmente você, gatinha… ou vocês dois…

Jimin - Nunca.

Lais - Jamais.

- É bom saber disso. - Abre um sorriso aliviado, piscando rapidamente para mim. - Mithril. E não precisa dizer seu nome, minha querida e linda irmã me fez um favor em dizer.

Mabel - Ele dá em cima de todas as minhas amigas, por isso não tem NENHUMA!! - Virou seu olhar cheio de ranço para ele, mas depois voltou a me olhar com um sorriso.

Lais - Prazer. - Abre um sorriso constrangido.

Mabel - Ela é tímida, então… não pelanca!

Mithril - E quando eu pelanco!?

Mabel - Muitas vezes!

Jimin - São gêmeos?

Mabel - Deu para notar? Que desgraça.

Lais - Sério? - Olho para ela e depois para ele, notando que eram parecidos, mas nem tanto. - Nem notei.

Jimin - Você é lerda.

Lais - E você é uma mula! - Olho com raiva para ele.

Mabel - Se odeiam?

Lais - Desde os primórdios da vida! - Solto um sorriso forçado e volto a olhar para ela.

Mabel - Bom, amiga, nós podemos ir… - Deu um passo para se aproximar.

Lais - A-ah, olha… - Dei um passo para trás, assustada, olhando o corpo dela todo molhado, tentando dizer que iria embora, mas não consegui.

Mabel - Eu sei que sou linda, mas não me seca na frente do meu irmão… - Abre um sorriso debochado. - Vai sentir ciúmes.

Mithril - Não me fala que lança pro lado delas. Ai vou ter uma concorrente à altura… e uma enorme decepção. - Seu semblante se tornou sofrida.

Lais - Meio termo, mas, Mabel, é que eu tenho uma coisa pra fazer e…

Lucas - Linda, olha… eu sei que isso tudo é incrível, mas… - Sai da multidão e para do lado do Mithril, olhando para mim, mais precisamente para meu corpo, abrindo sua boca para tentar dizer algo, mas nada saia.

Jimin - Cara, isso está ficando estranho, melhor parar! - Falou com um tom grave, demonstrando um pouco de irritação.

Lucas - Não, é que… nossa… - Não tirou os olhos gulosos de mim.

Lais - Me sinto exposta. - Me viro para o lado, sentindo meu rosto queimar, dando uma corrida curta até passar atrás do Jimin e parar do seu lado. - O muro é baixo, mas ainda serve.

Jimin - Como é?! - Virou seu olhar bruto para mim. - Você me usa e ainda me ofende? Que tipo de amiga você é?

Lais - Do tipo que usa e ofende. - Sou um sorriso inocente.

Jimin - Culpada!

Mabel - Vamos continuar aqui ou vamos nos divertir? - Perguntou animada, movendo seu corpo numa dança acompanhando as batidas da música, enquanto me olhava.

Lais - Mabel, olha, eu não estou com uma animação boa.

Mabel - Disse isso minutos atrás, e quando a Senhora Ela enalteceu seu corpo, você disse que se sentia bem.

Lais - Eh… mas eu… Hmm. - Fecho os meus olhos, não conseguindo pensar em nada para me livrar disso.

Mabel - Se não quer ficar com a gente, pode falar! - Seu tom ficou mais sério e me olhou com raiva, cruzando seus braços.

Lais - Mabel, não é que eu não queira ficar com você e as meninas, e não é desse jeito que vocês estão pensando!! - Dizia entre palavras rápidas, por estar nervosa.

Mithril - Não estou pensando em nada.

Lucas - Eu muito menos.

Jimin - Não ligo pra nada do que estão falando.

Taehyung - Deveria ligar, seu idiota!

Pelo canto do olho, vejo ele bater sua mão na cabeça do Jimin.

Jimin - Ai… - Se virou para ele, com a expressão confusa. - Qual é seu problema, Taehyung!

Taehyung - Quer que eu faça uma lista?

Jimin - Não, obrigada.

Yngrid - Porque não me chamou pra festa, em? - Bate no meu ombro, nervosa. - Que tipo de amiga você é?

Lais - Do tipo que é sequestrada. - Respondo, alisando minha mão sobre o ombro.

Thais - Eu acho melhor a gente ir, não? - Falou preocupada, olhando em volta e percebendo que tudo estava completamente molhado.

Lais - Ah, eu até esqueci disso. - Digo com a voz trêmula.

Mabel - Vai me abandonar mesmo? - Continuava a me olhar com raiva.

Yngrid - Arrumou uma namorada e não falou pra gente.

Lais - E-ela… - Continuava a gaguejar por nervosismo, sentindo meu interior remoendo.

Mabel - É, você não falou pra elas que estamos namorando? E a minha aliança? Cartões com mensagens românticas. Bombons de chocolate. 

Seu tom de brincadeira era o que me tranquilizava, mas não tirava a vergonha que estava passando, muito menos o desconforto, por, ainda, estar do lado do Jimin.

Mithril - Agora, irmãzinha, você foi longe. E você nem é lésbica!! - Virou seu olhar cheio de ranço para ela.

Mabel - Você não sabe! - Se virou para ele, com faíscas de fogo saindo dos seus olhos.

Taehyung - Lais, você fala de nós mas é igualzinha. - Comenta, surpreso, encarando a cena.

Lais - E-eu não tenho nada haver com isso. Nem dei a oportunidade disso acontecer, e nem olhei assim pra eles.

Lucas - MENTIRA!!

Yngrid - Meu filho, desde quando você tá aí.

Lucas - Também quero saber. - Se virou e bebeu.

Thais - Essa é a hora que a gente começa a rir.

Viro lentamente para as duas, vendo seus risos aumentarem, escandalosamente. Confusa e com vergonha, dou passos para trás e bato em alguém, e paraliso, por sentir que minhas costas tocavam a pele de alguém.

Jimin - Estou odiando isso, sabia? - Sussurrou com a voz rouca.

Sua voz suave e rouca entrava pelo meu ouvido num choque, os suspiros tensos e pesados batiam na minha pele, sentindo seu corpo quente atrás de mim: arrepiou os pêlos de todo meu corpo, numa descarga incontrolável, forçando o frio no estômago e o revirou, deixando meu corpo rígido, tenso, balançando incontrolavelmente meu coração. Me estremeci, minha respiração acelerou com mais arrepios violentos percorrendo meu corpo.

Por um momento, fechei meus olhos e desejei, imaginei, que ele me abraçava com força e começasse a beijar meu pescoço.

Jimin - A manhã inteira… Lais… agora isso, é demais. Só pára. - Seus suspiros ainda mais pesados batiam contra mim, seu peito inchava e diminuía com tensão, atrás das minhas costas.

Saio do meu mundo de fantasias por ouvir o que ele disse, franzindo meu rosto por ficar confusa, e me viro para ele, vendo sua expressão de raiva ao mesmo tempo de angústia, num olhar profundo e intenso que me perfurava por inteira, acanhando ainda mais meu corpo com a tensão.

Lais - O quê?

Jimin - Para de me fazer presenciar outras pessoas brigarem por você, falarem coisas pra você… - A raiva dominou seu olhar. - Para de me fazer desejar você, garota.

Lais - E-e… p-porque… - As palavras ficaram presas na garganta, com os meus sentidos de razão serem apagados e só existir a anestesia daquilo que sentia, que fazia meu coração pular como nunca no meu peito.

Taehyung - Irmã… - Parou do nosso lado, encarando nós dois, ainda trocando olhares confusos e intensos. De repente, ele empurra Jimin e se coloca na minha frente, colocando suas mãos sobre meus ombros e me balançando. - O que esse safado falou pra você, para te deixar assim, em?! Eu mato ele, está ouvindo, Jimin?!

Jimin - Vou procurar a Melissa. - Se virou e entrou no meio da multidão.

Meu olhos ainda estavam estáticos e perdidos no tempo, ouvindo a voz do Jimin repetindo as palavras na minha cabeça. Minha mente estava frenética, confusa como nunca ficou antes.

Taehyung - Lais?!

Yngrid - OLHA A ÁGUA!!

Com o grito, saiu dos meus pensamentos e viro para ela, ainda em êxtase.

Yngrid - Agora tu olha, né?

Mithril - Não vou continuar essa discussão, irmã, tenho coisas mais importantes para fazer. Lais! Espero que te veja mais vezes.

Lais - Aham. - Assenti, sem olhar para ele.

Mabel - E agora, amiguinha, o que vai ser? - Dizia sarcasticamente, se virando para mim e me olhando sem paciência.

Yngrid - Escuta, ô princesa de Tão, Tão Distante… - Se colocou na minha frente, falando ironicamente. - Ela vai com a gente, agora…

Mabel - E se eu não deixar?

Yngrid - Quem é você pra deixar alguma coisa, mulher? E-e de onde que você conhece minha amiga?

Mabel - Daqui… agora, nesse lugar… Da Melissa. - Dizia pausadamente.

Yngrid - Ah, deveria ser mesmo. - Se virou para nós, dando um sorriso forçado, logo voltando para frente. - Ele é uma graça. Só que, agora, precisamos dela… Da Lais, não da Melissa.

Mabel - Não quero.

Taehyung - O que você fez com essa mulher? - Sussurrou para mim.

Lais - Eu?! - Viro meu olhar surpreso para ele. - Por que eu? Porque não pergunta se ela não tem uma mente doida e tarada?!

Mabel - Licença.

Yngrid - Não!

Thais - Meninas, olha…

Yngrid - Não se intrometa, puta! É ela quem tá comprando briga comigo.

Lais - Yngrid, pelo amor de Deus, não precisa disso. - Fico do seu lado, nervosa e preocupada, com medo, olhava para as duas. - Mabel, depois a gente se encontra e conversa.

Mabel - Mas eu quero agora!

Yngrid - Mimadinha. - Falou com a cara fechada.

Mabel - Eu vou chamar as minhas amigas e eu quero ver se vai encarar? - Deu um passo para frente.

Yngrid - Me conhece pra falar alguma coisa de mim? Que eu não encararia você e suas vadiazinhas…

Lais - Porque tá fazendo isso, Yngrid? - Choramingando, seguro seu ombro. - Mabel, para você também.

Yngrid - Arrancaria vocês todas num pau!

Thais - Isso vai entortar.

Mabel - ESCUTA AQUI!! - Gritou e deu seus passos na nossa direção.

Ynrid - AH! FICA LONGE!! - Balançou seus braços freneticamente, parando bruscamente com sua mão direita aberta na direção da Mabel.

Paralisei ao ver a cena da água no seu corpo sendo espirrado para trás, mas o que me chocou foi ver seu cabelo esvoaçado, cheio, descabelado, quase num Black Power, para trás.

Ela ficou parada olhando para o nada, estando com um semblante confuso, pensativo, logo levantando seus braços e colocando suas mãos sobre seu cabelo descabelado e arregalou seus olhos.

Taehyung - A gente precisa ir… - Segurou no meu pulso e me puxou. - TCHAU PARA VOCÊ, GAROTA!!

Lais - Acho que vou desmaiar. - Falo com a voz fraca, ainda sentindo a adrenalina de tudo o que aconteceu nos últimos minutos, sendo puxada pelo meu irmão até a escadaria ao lado.

Pude ver o chão molhado ao chegar em frente às escadas, então olho para trás, naquela multidão, lembrando o que falei com o Jimin sobre aquilo; abro minha mão e a fecho rapidamente, notando a fumaça que começou a se levantar do chão. Eu me concentrava nas poças que estavam no chão para não fazer alguma besteira.

Lais - De nada!!

Descemos a escadaria correndo, sendo seguidos pelas meninas.

Taehyung - Viemos de bicicleta, então… espero que caia.

Lais - Legal!

Terminamos de descer e ele foi pegar uma bicicleta que estava sobre o gramado.

Yngrid - O que você, sua rapariga de satanás, tava fazendo com aquela doida?! - Perguntou, terminando de descer o último degrau e se virar para mim com um olhar de ódio.

Lais - Eu já disse, fui sequestrada.

Yngrid - Seus poderes são para quê?

Lais - Eu não ia machucar elas.

Yngrid - Ah, claro, porque seus olhos estavam se degustando da imagem de pomposas delas! - Fez uma dancinha ao dizer “ pomposas ”, voltando a me olhar com raiva.

Thais - Você não pode falar nada! Foi perseguida pela polícia! - Diz irritada, e se separou de nós para ir até sua bicicleta.

Lais - Em?! - Arregalo meus olhos e olho para ela, surpresa. - Chegou nesse ponto, Yngrid?

Taehyung - Não é nenhuma surpresa. - Comentou subindo em cima da sua bicicleta e se empurrando para a frente.

Yngrid - Isso não tem nada haver com a cunversa! - Falava com seu jeito marrento, balançando sua cabeça, me olhando ainda irritada.

Lais - E onde é que vamos? Por que, algo me diz, que isso tem haver com o meu irmão.

Yngrid - E tem mermo… só que… bem… - Hesitava em dizer, tombando sua cabeça para o lado e olhando algo atrás de mim. Voltou a ficar normal e se aproximou de mim. - Não fica puta, mas o Taehyung…

Thais - VÃO FICAR PRA TRÁS!!!

Me viro para trás, vendo os dois indo pelo caminho com as bicicletas.

Yngrid - Melhor tu ver com seus olhos do que eu contar. - Passou por mim, caminhando até a outra bicicleta sobre o gramado.

Lais - Vocês estão me assustando. - Digo entre os dentes e vou até ela.

Yngrid - Vai pegar a sua bicicleta, mulher. - Falava enquanto subia na sua.

Lais - Eu não tenho…

Yngrid - Aquela na parede. - Apontou para a mesma que Melissa tinha usado.

Lais - Pode ser de qualquer um.

Yngrid - Aff… - Suspirou, revirando seus olhos. - Sobe.

Lais - Valeu! - Corro até ela e me sento no assento de trás, de costas para ela.

Yngrid - Viada, é melhor tu tirar essa coisa das suas costas, assim vai complicar a situação aqui, mona.

Lais - Aisi! - Resmungo, tirando a única alça do meu ombro para colocar a mochila no meu colo, tendo uma ideia para conseguir ler o livro. - Yngrid…

Yngrid - Oi, puta.

Começamos a seguir pelo caminho com tranquilidade, o que facilitou a minha postura de ler.

Lais - Eu descobri uma coisa sobre… aquela criatura de ontem.

Yngrid - O gramunhão?

Lais - Aham. - Abro a mochila, tirando tudo que estava na frente para conseguir pegar o livro, vendo o pacote do biquíni que me lembrou de vestir a minha blusa. Tiro o livro de dentro, e também minha blusa. - Descobri umas coisinhas sobre ele.

Yngrid - Não me fala que existem lendas sobre ele? - Falou com a voz enjoada.

Lais - Quer que eu recite o que há no livro? - Fecho o zíper da mochila, deixando ela e o livro sobre meu colo, enquanto desdobrava minha blusa para vesti-la, depois pego o livro e o abro, esfoliando ele para encontrar a página.

Yngrid - Acho que nem vou escutar.

Lais - Então depois você quer saber?

Yngrid - Sei lá, viada.

Dou de ombros.

Lais - E quando for fazer uma curva, me avisa pra me segurar.

Yngrid - Hihi… tá.

Lais - Eu odeio quando dá essa risada.

Os minutos foram passando como vento, pela minha atenção estar toda nos textos fantasiosos do livro, com minha imaginação criando as cenas e cada vez mais lembrando daquela figura do tamanho do mundo que vivia no fundo do mar.

Várias perguntas rondavam minha cabeça, do porquê que ele sempre atacava embarcações que tinham algum item de valor, e não embarcações mais humildes?

Talvez querer tirar a fascinação de poder daqueles que estavam nos navios? E não atacar os navios mais humildes por terem pessoas mais boas?

Mas isso não faz sentido.

Navios piratas também eram atacados, tendo tesouros roubados ou não. Tendo piratas bons ou não.

Solto um suspiro, abaixando o livro e levantando meus olhos para as ruas movimentadas que rodavam para frente, sentindo os meus cabelos voarem pelos ventos, me refrescando pelo calor que fazia.

Minha mente ainda estava agitada e com várias perguntas sobre essa criatura.

Ao meu ver, ela não era tão má assim, mesmo depois de ter feito aquilo comigo.

Talvez poderia estar assustada?

Solto outro suspiro e volto a ler o livro.

Yngrid - Curva.

Me seguro firmemente no assento, sentindo meu corpo se inclinar para a esquerda ao virarmos a rua. A pressão foi embora e pude me soltar para voltar a ler o livro.

Taehyung - Você está lendo o livro, justo agora?

Lais - Não tive tempo antes.

Taehyung - Posso imaginar o porquê.

Lais - Não pense coisas sobre mim, Taehyung. - Levo meus olhos para ele, que olhava para frente. - Estou criando teorias.

Taehyung - Já tenho as minhas.

Lais - As suas não são as únicas. E onde estamos indo?

Taehyung - Universidade.

Lais - E demora tanto assim pra chegar lá.

Taehyung - Bom, se o caminho não tiver trânsito, uns vinte e poucos minutos, meia hora, mas se estivermos com trânsito, mais de quarenta minutos.

Lais - Porra… - Arregalo meus olhos. - E de bicicleta.

Taehyung - Sei lá, dá no mesmo.

Lais - E o que vamos fazer na Universidade?

Thais - Eu não sei, mas estou animada pra voltar lá. É tão fascinante, principalmente pela história! - Dizia com um sorriso animado, estando do lado do Taehyung.

Yngrid - Já fui lá quando era criança. Uma prima minha estudou lá quando ficava na minha casa… - Suspirou. - Ai, ai, nossa convivência era quente como um inferno! Minha vida era feita para atrapalhar a dela. Até hoje, nóis se odeia. Depois voltei mês passado para resolver a papelada tudim.

Lais - Nossa, fui a única que não foi. Resolvi tudo pela internet. É bem mais fácil. - Seguro a mochila e a viro para frente, para pegar o zíper e abrir a mochila para pôr o livro dentro.

Thais - Você vai amar o lugar. É um pedaço que sobrou, mas bem conservado do antigo castelo do Reino perdido da cidade.

Lais - Reino? - Franzi e virei meus olhos para ela.

Taehyung - Nossa, você nunca soube disso? - Me olhou surpreso.

Lais - Bom, eu pude ter ouvido na aula de história, mas não prestei atenção.

Thais - O Reino deixou de existir há cento e noventa anos atrás, quando o último herdeiro foi assassinado e a metade da fortuna que tinha, sumiu. O corpo nunca foi encontrado, muito menos o ouro roubado. Isso daria um belo filme.

Taehyung - Existem várias teorias sobre isso, sabia?

Yngrid - Vamos ficar apenas escutando, e se deixar, vai durar o dia inteiro. - Cantarolou aos ventos que aumentaram.

Thais - A mais forte, e a minha preferida, a mesma que todo mundo acredita, porque houveram rumores na época, fala que existiam intrigas internas na família pelo poder, por roubos de joias, ouro, de qualquer objeto de valor que aquele castelo possuía, porque houve uma onda de desaparecimentos de objetos valiosos no Castelo. Tudo isso aconteceu no período de início do colapso dos impérios nos países. As pessoas que moraram aqui, foram indo embora para os outros países, ou outras cidades que tinham mais condições de vida, porque a própria cidade ficou corrupta e abusiva pelos governadores, mais pela própria família real, que cobrava dinheiro, cobrava respeito com base de tortuta, com o medo das pessoas que trabalhavam na cidade, que estava crescendo de quantidade, mas não de economia. Essa época ficou conhecida como a época pós-paz, porque o antepassado Rei, bisavô dele, era gentil e bom com o povo, e o reino era promissor, por mais que dizem que a rainha era senhora ranzinza e o próprio rei vivia na depressão constante, muito chegaram a dizer que ele era louco. Os reis a seguir eram bons também, mas o declínio aconteceu com o reinado do seu pai.

Lais - Fala mais… - Pedi mais por ficar realmente curiosa.

Thais - E com o reino caindo, o rei queria fazer de tudo para levantar ele outra vez, então queria passar a coroa mais cedo pro filho mais velho, que muitos relatos dizem que era o mais ajuizado de toda a família, ele ajudava aqueles que precisava com a namorada… noiva, não sei? Mas a família, lembrando, que era enorme, recusou porque não era a hora disso acontecer.

Yngrid - Já aí, eu ia desconfiar de todo mundo.

Thais - E os relatos também dizem que ele também desconfiava, que estava com medo de algo acontecer com ele, mais ainda com sua esposa. E então, aconteceu a coroação, contra toda a família, na frente de toda a cidade, que comemorou a coroação. E no primeiro dia que estava como rei… ele iria fazer com comunicado com a cidade, queria recrutar vários dos profissionais de educação, de economia, enfim, para fazer a ideia dele funcionar.

Lais - E qual era a ideia?

Yngrid - Curva!

Lais - Ai! - Seguro no assento, sentindo meu corpo virar para a direita.

Thais - Ninguém sabe até agora, porque ele nem falou isso pra esposa, a rainha dele. Ela disse que ele, literalmente, pulou da cama falando que precisava sair e resolver tudo… que isso perturbava ele demais, com a situação que a cidade enfrentava, com a miséria, pessoas passando fome, falta de trabalho. Disse que queria ser um rei como o seu bisavô foi, bondoso com seu povo. Mas antes disso acontecer, no caminho, ele foi assassinado, dentro da carruagem dele. Não encontraram o corpo mas encontraram o sangue, o homem que estava junto apenas falou que só viu a escuridão, depois disso o rei sumiu.

Taehyung - E depois, aconteceu A Queda do Castelo.

Lais - Como eu nunca soube disso?

Thais - Os professores não queriam passar mais essas histórias porque todo mundo já sabia, já estavam cansados.

Lais - Que merda, em. E o que aconteceu com o castelo, ele literalmente caiu?

Taehyung - Os relatos do momento são perturbadores.

Yngrid - Vira de novo!

Lais - Pelo amor de Deus! - Me viro e seguro nos seus ombros, me inclinando para trás olhando para os prédios por onde passávamos. Logo, eu vejo a entrada do estacionamento do lado do muro suspendendo as grandes que circulavam a parte da frente, tomando por uma pequena área de grama com poucas árvores, mal me deixando ver dentro por também ter árvores bloqueando a vista.

Yngrid - Às vezes imagino como deveria ter sido isso tudo na época de reinos.

Passamos em frente ao lugar, em frente à calçada movimentada com estudantes. Rapidamente desço, sem desviar meus olhos da entrada, procurando um buraquinho que me deixasse ver por dentro.

Yngrid - E ainda nem é a época de voltar a estudar, então porquê eles estão aqui?! - Segurando os guidões, arrastou a bicicleta até um suporte, que estava vazio.

Thais - Eles não são você! - Seguiu até o suporte, sendo seguida pelo Taehyung.

Caminho pela calçada, colocando a alça da mochila atrás das minhas costas, encarando as árvores que que bloqueavam a vista de dentro seguindo até a entrada dos altos portões abertos.

Yngrid - Vai ser um sonho ter um carro e entrar pelo estacionamento.

Ouvi sua voz atrás de mim, se aproximando junto dos outros, sendo segurada pelos ombros e empurrada, para caminhar junto de todos até a entrada mais em frente.

Thais - É uma pena que o Castelo desabou, bizarramente, dois dias depois que o novo rei foi assassinado, a fortuna desapareceu.

Yngrid - E o governo tomou conta de toda essa porra!

Passamos pela entrada, calmamente, entrando no amplo e vazio campus, sendo que meus olhos ficaram presos no prédio logo em frente, uma construção de um castelo familiar pra mim: a tontura surgiu de repente, fazendo minha cabeça girar; e a familiaridade com aquele lugar, trouxe um sentimento de saudade no peito e tristeza; meus batimentos aumentaram.

Minha respiração acelerou e o engasgo do choro subiu na garganta, me sentindo confusa, com a mente agitada. Tudo estava embaçado e com os sons longe, ecoando num vazio que sentia estar, mas aos poucos as vozes de todos foram aumentando.

Yngrid - Ô, Lais!

Lais - Ah… - Fecho os meus olhos, tentando raciocinar com calma, por sentir minha cabeça sendo apertada numa pulsação ardida.

Thais - Você também?

Lais - Hã? - Abro meus olhos e a olho, vendo sua confusão no olhar, não estando diferente de mim.

Yngrid - Eu tô fora desse “ você também ”.

Thais - Eu tive a mesma impressão dela desse lugar na primeira vez que vim aqui. Familiar.

Taehyung - Vocês duas ou… - Levantou seu indicador para apontar para Yngrid, com um olhar de dúvida.

Yngrid - Ehr… talvez, um pouquinho, mas o que isso tem haver com o fato da gente estar aqui.

Taehyung - Não venha se fazer de desentendida! - A olhou com um olhar mortal e passou por nós para começar a caminhar pelo gramado.

Lais - É permitido andar pelo gramado?

Yngrid - O que cê acha?

Thais - Vem. - Segurou meu pulso e me puxou, com um sorriso no rosto, para caminharmos sobre o gramado, indo na direção do caminho feito que nos levava até uns degraus mais a frente. - A gente só precisa tomar cuidado com os chafarizes.

Yngrid - Eu vou derrubar muita gente nele. Hi hi. - Abre seu sorriso diabólico, estando do nosso lado.

Thais - Nem pense nisso.

Yngrid - Até parece que nem me conhece.

Subimos nos degraus, seguindo meu irmão que estava indo para o prédio esquerdo do castelo, subindo num banco entre um dos espaços abertos do corredor e desceu do outro lado.

Lais - Tenho um pressentimento nada bom.

Thais - Viu alguma coisa?

Lais - Nada.

Thais - Mas eu estou sentindo algo não muito bom.

Yngrid - Tô amando o ar de universitária. - Subiu no banco e pulou para dentro do corredor, seguindo o corredor. - Quanto gatinhos eu vou conhecer aqui.

Taehyung - Não sei, mas fique longe de mim quando esse momento chegar.

Eu e Thais ficamos caladas, apenas acompanhando eles até as portas duplas que já estavam abertas, mostrando um corredor largo e longo, que terminava uma curva ao fundo: várias portas estavam fechadas.

Yngrid - Pra quê quadros… sabe… - Comentou um tanto amedrontada, encarando um de frente de uma mulher com um semblante rígido, olhando severamente para frente, já roubas do século 18, com uma alta peruca branca cheia de tranças caídas nos ombros. - Espero que o pintor não tenha falecido pintado essa obra de arte abstrata.

Lais - Espero que ninguém tenha falecido, passando por esse corredor. - Comento, estando com medo de todas aquelas pinturas nas paredes de pessoas com trajes antigos, com muito poucos tendo um mínimo sorriso no rosto; olhavam fixamente para frente. - Parece que olham pra nossa alma.

Thais - Então esse é o corredor dos Olhos da Morte. 

Yngrid - Nomezinho agradável.

Thais - Sabiam que os veteranos fazem os calouros atravessarem o corredor, uma hora específica da noite, sozinhos, com um castiçal que tem espaço para uma vela. Fazem para dar as boas vindas. Às vezes fazem alguma arte para assustar quando estão inspirados.

Lais - Ah, pára! - Me viro para ela, estando ainda mais nervosa com o primeiro dia, olho amedrontada e quase chorando para ela.

Thais - Você gosta de horror, então porque vai ficar com medo de quadros?

Lais - São quadros! Nunca ouviu relatos de pessoas que viram as pessoas em quadros se moverem e saindo de dentro da tela?! É por isso que obriguei minha mãe a vender nossos quadros!

Thais - Você não fez isso? - Perguntou com uma feição surpresa.

Lais - Ah, fiz. - Assenti freneticamente. - E faço de novo se ela inventar de comprar um com pessoas!

Voltamos a caminhar, e eu me grudei no braço da Thais, olhando fixamente para frente, tentando não fazer contato fixo com um dos quatros.

Vejo Taehyung virar para subir uma escada à nossa esquerda, que fazia uma curva mais em cima. Paro em frente a ela, vendo uma janela retangular em pé, alta e longa, numa vidraça coberta por duas cortinas brancas. Aquilo aumentou a minha sensação de assombração desse lugar.

Lais - Esse lugar não pode ficar pior? - Choraminguei.

Yngrid - Filha, tu nem viu os fundos. - Se virou, alargando seu sorriso psicopata e começou a subir.

Lais - Hmmm… - Prendo meus lábios para segurar o choro falso, mas cheio de medo.

Thais - Para de assustar a menina! - Deu o primeiro passo e me puxou, quase me fazendo tropeçar, atrapalhada, mas piso no primeiro degrau junto dela. - Não tem nada de assombração, ouviu?

Lais - Você não sabe. - Respondo com a voz presa na garganta, subindo os degraus até pararmos no pedaço sem degraus para olharmos, entre as paredes de fora, a visão de vários homens cimentado uma parede de tijolos, com um chão inteiro pavimentado atrás. - Nossa.

Thais - Construção em época de estudos é foda, mas pelo menos falaram que iria deixar a mesma estética medieval de castelo. É por isso que a Universidade chama a atenção. Sabia que também serve como um mini museu?

Lais - Não. - Nego.

Nos viramos para continuarmos a subir a escadaria, fazendo a volta.

Thais - Algumas das coisas que conseguiram salvar do desabamento, estão expostas pela universidade. Tipo quadros.

Lais - Me avisa para ficar longe, pelo amor. - Falo entre palavras rápidas, sentindo meu peito se apertar com o receio e nervosismo.

Thais - Mas a maioria das coisas estão num outro museu em Los Angeles. Já fui num passeio de escola. Fomos num dos ônibus da escola da escola no quinto ano… - Ficou quieta por segundos, pensativa.

Lais - O que foi?

Paramos ao chegar no corredor, confusa, olhava para ela, que olhava para o vazio.

Thais - Senti uma coisa estranha quando estava lá, sabe. É confuso lembrar agora.

Lais - Esse lugar fica mais estranho ainda.

Yngrid - Ô, princesas do papai, tamo aqui no fundo!!

Viramos para o lado, vendo ela inclinada para fora de uma das portas, com seu semblante impaciente.

Thais - Estamos indo, caralho!! - Respondeu nervosa.

Yngrid - Não use esse tom comigo, mocinha! Sou mais velha que você! - Se puxou para dentro da sala, deixando um olhar repreendedor para nós.

Thais - Dez meses mais velha, que diferença faz?

Lais - Também sou mais velha que você, né?

Thais - Todo mundo vai jogar isso na minha cara?! - Falou, irritada, se virando de frente ao corredor para caminhar por ele, me deixando para trás.

Lais - Os que nasceram em dois mil não. - Zombo, dando uma gargalhada alta, mas logo me calo ao dar de cara com outro quatro de uma mulher gorda, ela sorria para o pintor. - Até que não é má.

Thais - Espero que ela saia que te traga muitos pesadelos! - Gritou e se virou para entrar na sala.

Lais - Não me deixa sozinha, cadela!! Ah-ha!! - Dou um grito fino e amedrontado, aumentando o passo para ir atrás dela e entrar com tudo na sala, me assustando ao entrar por ver ela inteira vazia, tirando uma mesa no centro, onde Taehyung estava de frente e tirando alguma coisa na sua mochila. - Que sala é essa?

Taehyung - É uma das salas que os estudantes podem alugar, pelos clubes que eles organizam. Esse lado do prédio está cheio delas, como os próprios dormitórios. As salas ficam na frente e os dormitórios nos fundos.

Lais - E onde tirou dinheiro para alugar essa sala?

Taehyung - No bolso do nosso pai hoje de manhã. - Pôs a mochila aberta em cima da mesa, soltando um suspiro ao olhar algo dentro dela, pensativo.

Yngrid - Miglis, se prepara pra surtar. - Avisou, se virando na minha direção com um sorriso provocador.

Lais - Porquêêêê? - Franzi, desconfiada, olhando para ela, depois voltando a pôr meus olhos atentos no meu irmão. Cruzo meus braços e começo a caminhar pela sala. - Taehyung?

Taehyung - Lais, apenas não surta… ou grite.

Thais - Depende do que você fez, dessa vez.

Taehyung - Antes de tudo, pode fechar a porta. - Falou, demonstrando seu nervosismo no olhar e na voz.

Continuou olhando séria para ele, imóvel, com os braços cruzados, e ouvi a porta sendo fechada atrás de mim.

Taehyung - Nessas horas, seus poderes-

Yngrid - Agiliza logo, porra! - Demonstrando que estava irritada, interrompeu ele.

Taehyung - Não precisa dessa grosseria. Aisi. - Resmungou , enfiando suas mãos dentro da mochila, tirando dela o mesmo embrulho que fiz em volta da pedra luminosa.

Lais - Taehyung! - Mantenho meu olhar raivoso na direção dele, ainda parada no lugar. - O que você pensa que vai fazer com isso?!

Taehyung - O que eu penso que VOCÊS vão fazer com isso?

Thais - E o que é isso? Alguém pode me explicar? - Perguntou enquanto se aproximava.

Yngrid - E-eh que… meio que…

Taehyung - As duas foram nadar, encontraram uma criatura de uma lenda antiga de pirata, e meio que tiraram uma parte dela.

Thais - QUÊ?!! - Arregalou seus olhos com o susto.

Lais - Não é isso que você tá pensando! - Levanto minhas na direção dela para acalmá-la, logo levando meu olhar cheio de ódio para ele, que apenas desviou. Volto a olhá-la com mais calma. - É que… a criatura.

Yngrid - É do cão!

Lais - Ele não é tããããão horrível. - Nego e olho para ela.

Yngrid - Não, imagina, só ele e os seus carrapatos tentaram me matar. - Respondeu ironicamente, e se virou para olhar a janela ao cruzar os braços, soltando um suspiro.

Thais - Eu não entendi.

Yngrid - Essa coisa é uma fêmea que dá luz à capirotinhos que sugam a luz dessa coisa! - Se virou para olhar a pedra ainda coberta, levantando seu braço para apontar para a mesma. Depois voltou a se virar para nós e se aproximou. - Dentro do abismo do desespero, têm várias cavernas submersas, largas, pequenas, médias. Poucas até davam pra ele passar, mas a maioria era estreita, dando apenas para duas pessoas, se pá uma, passar. Nem sei como consegui arrastar aquela cara… 

Thais - Que cara?! - Franziu, virando seu olhar desconfiado para ela.

Lais - Você fala demais. - A repreendo com o olhar arregalado.

Yngrid  Depois eu te explico, muié!! A coisa aqui é… - Foi até Taehyung, pegou a pedra das suas mãos e a colocou na mesa, começando a desenrolar a camiseta dela, e os feixes de luz começar a fugir dos poucos espaço abertos, até ficar descoberto e a luz azul iluminar a sala, mesmo com as janelas com o sol forte do dia iluminando a sala.

Com a luz forte, que incomodava o olhar, todos nós nos afastamos da mesa, desviando o olhar da mesa.

Yngrid - No fundo daquele lugar, tinha uma espécie de “ santuário ”, vou chamar assim porque é mais legal - Solta um riso. -, que tinha milhares de pedras, mais maiores do que eu, e olha que estava com minha cauda que já é enorme. Todas as pedras estavam presas nas rochas e soltavam correntes de luzes, que estavam sendo puxadas para um círculo de luz no centro da sala. Parecia uma brisa, tá ligado, mas, era pura luz, que não deixava mostrar nada do que estava dentro. Podia até cegar, mas eu conseguia olhar pra ela de boas, sem ter a incomodação nos olhos que tô tendo agora!

Lais - Você não me falou essa parte da história.

Yngrid - Eu tava em choque, guenga, como ia falar?! Nossa, senhora. - Se virou, dando as costas para a pedra.

Taehyung - Talvez só consiga suportar a luz, nas suas formas de sereia.

Thais - Tá, mais, o que isso quer dizer? Eles soltam correntes de luz… 

Yngrid - Pros capirotinhos. Não sei pra quê, talvez comendo a luz, num sei! Mas eles tavam no centro da bola de girava. Mas o mais estranho, era os feixes fracos que estavam girando no buraco que se abriu, por isso eu consegui encontrar aquele lugar. Eu só tenho medo do que o Taehyung tá pensando e no que a gente pode fazer com essa coisa.

Taehyung - Só para testes.

Yngrid - Taehyung! - Olhou para ele seriamente. - Essa é uma pedra de luz, que estava no corpo de um monstro do mar, e a mesma que ele usou para fazer a Lais UM POSTE TRANSCENDENTE DE LUZ AZUL!!! NO MEIO DA ESCURIDÃO!!! E lá embaixo, mermão, é puro breu! Temo que levar uma lanterna potente, que olha… no fundo do abismo, a luz nem pega uma formiga!

Thais - O que ele fez com você, Lais? - Se virou para mim, me olhando com curiosidade.

Lais - Prefiro falar disso outra hora… - Forço um sorriso.

Yngrid - E se fazer isso com a gente? - Levantou sua mão e o circulou, apontando para todos nós, encarando sério Taehyung. - Vai roubar nossos sonhos?

Lais - Quando você quebrou a pedra, eu consegui puxar todos de volta, então… 

Yngrid - E se não tiver ninguém consciente aqui, viado?!

Taehyung - Só tem uma forma de saber…

Thais - E porquê você quer fazer isso? Não têm outras coisas para fazer não? - Cerrou seus olhos, desconfiada, para ele.

Taehyung - E-eu tenho… sim, claro que tenho, mas… isso é uma pedra mágica. Quando, na vida, eu iria encontrar uma?

Lais - Tecnicamente, foi a gente que encontrou.

Taehyung - E vocês trouxeram até mim, então, também vale! - Me encarou com sangue nos olhos ao explicar. - Eu apenas quero saber o que isso pode fazer.

Yngrid - Roubar os sonhos dos marmanjo, talvez? - Balançou os ombros, sendo irônica, fazendo uma expressão de desdém. - Só talvez.

Thais - Isso é perigoso, Taehyung. Temos que devolver isso para esse animal. Pertence a ele, e lá é o lugar dele.

Lais - Sensata. - Assento com a cabeça.

Thais - E porquê trouxeram ele?

Lais - Estava com medo! - Respondo com a voz alterada.

Thais - Ele poderia ter seguido vocês até a costa. - Interligava seu olhar preocupado entre mim e a Yngrid.

Yngrid - A gente já pensou nisso.

Taehyung - Puta merda. - Pôs suas mãos no rosto.

Thais - Depois vamos verificar. Essa deveria ser responsabilidade de vocês duas! E tem mais… - Se virou para a Yngrid, apontando para ela e mantendo um olhar severo. - Eu quero saber qual é desse carinha.

Yngrid - Tá… - Respondeu, contra vontade, revirando os olhos e se virando para trás.

Taehyung - Ela pode ser mais nova, mas é mais responsável que vocês duas.

Lais - Que você também, ôôôh charlatão!

Taehyung - Tanto faz… - Revirou os olhos e tentou olhar, mas desviou pelo incômodo da luz.

Thais - Vamos fazer isso o mais rápido possível, e se não funcionar, não vamos tentar de novo. Vamos devolver isso para esse animal e vir embora.

Yngrid - Tá, senhora responsabilidade. - Responde, irritada, cruzando os braços, emburrada.

Vejo a Thais se aproximando da mesa com um certo receio, que quase desaparecia pela luz cegante.

Lais - E-eu não concordei com isso… - Balanço a cabeça em negação, virando meu olhar amedrontado para a luz, desviando segundos depois pelo incômodo nos olhos.

Taehyung - Não precisa fazer isso.

Lais - Mas elas…

Thais - Podemos rebater os feixes com nossos poderes, não? - Continuava a se aproximar com passos curtos, mas sem o receio de segundos antes.

Lais - Vocês não sabem o quão forte essa luz é. Ah. - Fecho meus olhos, levantando meu braço e o colocando na frente do rosto para bloquear a luz.

Yngrid - Miglis, até eu acho que isso é uma má ideia… - Fala entre os dentes, entre um sorriso forçado para ela com os olhos espremidos pela luz.

Taehyung - Lembrem, movimentos leves e concentração.

Yngrid - Cala a boca, Taehyung! Não incentiva mais ela.

Não desviei o olhar da Thais por um segundo, percebendo que ela olhava fixamente para a luz da pedra.

Lais - Thais, fica longe da luz! - O medo que sentia daquela luz voltou a revirar meu estômago, quando vejo a mesma se intensificar com a aproximação da Thais.

Yngrid - Ô-ô Thais! - Franziu seu rosto, receosa, esticando seu braço na direção, com medo, e choramingando, ela hesitou abaixando seu braço e se afastando. - Tô com medo!

Lais - Taehyung!

Taehyung - Por que eu?! - Me olhou amedrontado.

Lais - Ideia foi sua! Então, sua responsabilidade! Vai!

Taehyung - Odeio quando você tem razão! - Voltou a olhar para ela, franzindo seu rosto pelo medo, soltando um gemido constante, como um choro, esticando seu braço ao dar passos curtos e pausados na direção dela, que parou, de repente. - Ah… Thais…?

A mesma levantou sua mão, sem desviar o olhar na luz.

Yngrid - E-ela tá levantando a mão, gente… - Apontava freneticamente para ela, dando alguns passos para trás.

A luz, que iluminava toda a sala, diminuiu drasticamente, mas ainda contida dentro da pedra que cintilava fervorosamente, estranhamente não refletindo sua luz para fora. Tons de nuvens azuladas, quase inotáveis, começaram a ser expelidas para fora da pedra. Uma onda transcentente de pequenas faíscas de luzes sobrepuzeram as nuvens e se dissipando pelo ar, entre pequenas faísca de lua azul mais densa entre as faíscas mais claras.

As nuvens ralas com as faíscas passaram por mim, com o meu corpo sentindo uma brisa gelada, que levantou um arrepio violento e me fazendo tremer com o frio, até atingir as paredes, o que formou vários pontos de gelo que se criaram nas superfícies.

Taehyung - Haa… Isso é muito mal.

Olho para o meu irmão, vendo ele batendo suas mãos sobre as faíscas de luz, e então se abaixou, deixando uma ondas carregada das faíscas passar por cima e criar um iceberg na parede, formando mais uma camada.

Lembrando do gelo, cruzo meus braços e passo minhas mãos sobre eles numa tentativa de me aquecer do frio que aumentava a cada segundo.

Yngrid - Ô-ôh, Lais…

Olho para ela e arregalo meus olhos ao ver sua mão aberta em frente às faíscas de luz, onde a luminosidade das mesmas se tornou mais densa que o restante das faíscas que saíam da pedra entre as nuvens ralas, mas, precisamente, estas estavam sendo seguradas em frente à sua mão e que começaram a fazer movimentos giratórios entre uma nuvem mais acessa, que se tornou uma forma arredondada, como uma bola de futebol americana.

Yngrid - Isso é legal pra cacete! - Comentou com um sorriso maravilhado no rosto.

Notei que as faíscas paradas em frente à sua mão, estavam aumentando, acendendo ainda mais pelas seguintes ondas se juntando com a mesma, onde suas bordas estavam separadas e se inclinavam para trás, iniciando uma curva ao redor da mesma, mas que pararam de atingir o pequeno espaço do chão, no teto e na parede, por estar segurando uma parte das nuvens e das faíscas.

Percebo que sua feição se tornou mais rígida, expressando a força que colocava para segurar aquilo.

Taehyung - Isso é legal. - Levantou seu olhar para ela, sorrindo com a força sendo formada, com várias outras bolinhas dentro.

Yngrid - Eu vou dar um legal na sua cara, Taehyung! - Levou seus olhos de gato raivoso para ele.

Suspirava entre tremedeiras, encarando as faíscas, que, ao mesmo tempo que me assustava, eu achava lindo a cena de luz, pareciam pequenas luzes entre a água.

Yngrid - Lais, a situação tá ficando precária aqui! - Levanta sua mão esquerda e a abre na frente das faíscas, aumentando o formato da bola, estando ainda mais reluzente.

Lais - Caralho! - Volto a olhar para os faíscas, que passavam tranquilamente por mim e gelando ainda mais meu corpo trêmulo, e levanto minha mão direita e a fecho com rapidez, fazendo as faíscas e as nuvens de luz pararem na frente dela e um chiado do ponto soar: o pequeno pedaço que atingia, se iluminou, formando uma parede em volta de mim, e os vários pontinhos de luzes começaram a escapar para os lados, lembrando faíscas de velas que usamos na praia dois dias atrás, mas aquelas eram espessas e grossas, como um líquido grosso e que exalava luz e curtos raios quebrados de luz.

As faíscas caíam no chão e se espalhavam junto da neve acumulada na região, formando pequenas poças de luz na frente dos meus pés.

Encarava aquilo quase paralisada, sentindo uma pressão suportável sobre minha mão, começando a dar passos curtos para trás por sentir uma força empurrar meu corpo para trás.

Taehyung - Uou.

Yngrid - Se não fosse pelo momento, iria achar isso muito incrível!

Lais - Mas eu sei que você tá achando incrível! Como o idiota do meu irmão! Valeu, bocó! - Olho para ele, que estava escorado na parede, olhando para cena, imóvel.

Yngrid - Eu tô mesmo!

Taehyung - Meninas, o olhar dela tá acendendo! Ah! - Se levantou para dizer, mas se abaixou com rapidez por mais uma onda de faíscas se aproximar, passando por cima dele.

Yngrid - Franguinho!

Taehyung - Ah, qual é? São vocês que têm os poderes!

Lais - Tá legal. - Olhando para baixo, mantendo firme minha mão sobre as faíscas, que estavam mais reluzentes, vendo a poça do líquido reluzente aumentar; então movo minha mão para o lado e a forte luz superior acompanhou o movimento, iluminando outras faíscas que soltaram o líquido de luz.

Dou um primeiro passo para frente, pisando em pontos onde o líquido não caía, me aproximando da Thais, que ainda estava parada, e quanto mais de aproximava, mais a pressão que sentia me empurrava para trás e a força que batia com a minha mão aumentava, fazendo ela doer.

A curva que formei entre as faíscas e as nuvens, era violenta, como o frescor gelado que batia na minha mão fechada, quase era palpável, fazendo minha mão começar a tremer pela pressão, não a pressão que sentia sobre minha mão, que ajudava a própria dor, mas pela pressão palpável que sentia vir daquelas faíscas explosivas transcendentais, apenas não era cegante por um milagre, mas que me dava a impressão de que tudo a minha volta era escuro, menos as próprias luzes que saíam da pedra.

Yngrid - Lais? - Me chamou com a voz presa na garganta, tendo um olhar receoso ao me ver se aproximando da nossa amiga.

Lais - Eu sei o que pode tá acontecendo com ela, e não vou deixar ela sentir isso. - Dou mais alguns passos para frente, e sinto um pulsar de calor na minha mão, trazendo a dor em seguida, num impulso que senti no corpo inteiro que me empurrava para trás, o que me fez parar por um momento. - Fudeu…

Yngrid - Cê vai perder a mão, Lais. - Arregalou seus olhos, deixando o medo escapar por eles.

Lais - Então me ajuda. - Viro meus olhos para ela, pedindo com a voz, mas também com os olhos. Estava nervosa, e com o medo engasgado, por saber que poderia ser afetada por essa coisa também.

Yngrid - Ave maria… - Engoliu em seco e deu o primeiro passo, fechando seus olhos logo depois, mas continuou em seguida. - Santa Jeová da Glória. Nazaré de Paula! Arranca com fooorça!

Tento me mover para frente, mas o impulso que me empurrava para trás sobre meu corpo, não me deixou mover um dedo do pé; o pulsar quente numa frequência de choques que sentia na mão, ajudava. Sentia ela tremer, sendo seguida pela dormência que tomou meu braço.

Fecho os meus olhos, sentindo eles começaram a lacrimejar pela dor que estava sentindo na mão. Então, os sentimentos dolorosos, que fizeram um buraco no peito, voltaram à tona, me fazendo pensar que ela também poderia estar sentindo, tão ou mais pior que eu senti. Aqueles sentimentos, que rasgaram meu peito, me deram a determinação para forçar meu corpo para frente, e quase gritar ao ter meus músculos esmagados com a força que me empurrava com fúria, e então… tudo ao redor começou a ficar distante, e apenas consegui me concentrar naquilo que estava sentindo… Era medo e desespero.

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- PAPAAAAI!! -

Apertava com apreço meus dedos, fincando minhas unhas pretas, de tão sujas que estavam, nas bordas molhadas de madeira daquele navio que se afastava do porto. Balançava com impulso sobre as ondas agressivas, debaixo de um temporal que castigava a todos nós, num céu pintado de nuvens cinzas, escondendo o céu azulado por duas manhãs e uma noite.

- MAMÃE!! NÃO ME DEIXA IR EMBORA!! - Com a voz trêmula pelo choro sofrido, entre soluços por suspiros pausados num peito enfraquecido, gritava com desalento para a imagem borrada dos meus pais parados no porto, apenas olhando-me ir embora. - MAMÃÃÃÃE!!

O restante da força que ainda restava, ponho sobre meus braços franzinos e começo a tentar balançar-me contra a construção rígida, mas as mãos que se colocaram em meus ombros, apertaram-me com vigor, obrigando-me a parar. A chuva que caia sobre mim, também cessou.

- Teus pais apenas contribuíram para seu futuro, menina. Morreria neste lugar mundano. - Bravejava friamente em tom de voz amargo e rústico, aveludado como um cetim de seda. - Irá crescer, e se tornar uma bela dama.

Suas palavras eram distorcidas pelos sons das ondas do mar que batiam contra o casco do navio, pelos assopros gélidos que batiam sobre a madeira, pelas velas suspensas pelos metros e cordas, me guiando para um caminho longe de meus pais.

- Apenas quero estar com minha mamãe. -

Me tremia com as rajadas que me atingiam, por estar completamente encharcada pela água da chuva, sentindo suas gotas caindo pelo meu corpo vestido de farrapos.

A visão já não era embaçada, mas estavam longe, tão longe que apenas conseguia vislumbrar suas formas, por hora, apenas permanecendo uma, pois a maior se distanciava.

- Estando uma moça, criança, irá me agradecer. - Robusta, sua voz esbanjava seu orgulho soberbo.

A invulnerabilidade da angústia profunda no peito, me deixava na mais profunda dormência, com a mente trafegando entre os sonhos dos meus desejos distantes, mas, por alguma razão, ouvi suas palavras desdenhosas.

A ardente chama da fúria se levantou no meu coração, transbordando a coragem em mim.

- Nunca. - Lhe contesto, com os olhos cheios de lágrimas.

- Atrevida! - 

Sou esbofeteada na cabeça por sua mão impetuosa. Meu corpo foi empurrado com pudor contra o chão que recebia a água da chuva, novamente sendo atingida pela mesma; fechei meus olhos com impulso pela dor que tomou meu corpo miúdo.

- Tenho a obrigação de lhe ensinar boas maneiras, mas a pena de uma miserável como você, amolece meu patrimônio. - 

Apalpava minhas mãos pela madeira, entre suspiros trêmulos e fracos, lentamente levando meus olhares temidos para a senhora requintada por joalherias de valor; por seu pescoço; dedos; orelhas. Vestida num traje escuro, colado ao corpo, seus lábios tinham a mesma cor, como seu chapéu enfeitando sua cabeça, numa pena longa que caia por trás de sua cabeça.

A mesma era acompanhada por um homem vestido num terno que erguia um para-chuva acima dela.

Seus olhos cobiçosos, exalavam sua perversidade, abrindo um sorriso soberano nos lábios.

- “ A Dama crescerá ao poder, e açoitada não irá ser ”. Seja uma boa menina, Luna.

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Lais Off

Yngrid On

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- Sua fedelha!! Volte já aqui!! - Esbravejava a coroca da cozinheira, na sua tentativa de me perseguir entre curtos passos pelo corredor, erguendo uma colher enorme de madeira na mão.

Meus risos escavam num sorriso zombeteiro, correndo com minhas curtas pernas livres num vestido branco, segurando um pão macio na mão.

- Como vai, Senhora Madeline?! - Felicito ao passar do seu lado, entrando para o cômodo de estar para me encaminhar até a escadaria ao lado. Piso pelos degraus entre pulos, segurando no corrimão para ajudar a subir.

- Esta miúda irá aprender com boas palmadas! -

Ouvia sua voz velha e rabugenta ressoar, o que fez alargar meu riso gozador e inclinar-me sobre o corrimão, no alto da escadaria, para espreitar sua figura abatida pela velhice: rugas delineavam seus olhos fundos e cansados, percorrendo entre linhas fundas na sua pele marcada pela luz do sol; os desgrenhados cabelos brancos a fizeram ter o reconhecimento entre os corredores como a gagá da cozinha.

Sorrio perante seu olhar severo, erguendo o pão entre minha mão e o balanço em tom de provocá-la.

- SUA PRAGA!!! -

Estreito meu rosto, amedrontada, me afastando do corrimão para subir entre passos pesados e apressados, pisando com vigor sobre as taipas de madeira para escapar das suas vistas e atravessar as curvas dos corredores pequenos, com quadros de rostos deformados postos nas suas paredes, entre as portas dos aposentos fechadas, esperançosa para regressar ao meu aposento e realizar minha artimanha.

Prosseguindo ao entrar para o seguinte corredor, visto a porta do meu aposento ser aberta com veemência pelo noivo de minha mãe, sua feição era consumida pela fúria; as chamas da ira dominaram seus olhos ao pôr os mesmos em mim.

- Vire-se sozinha com este escarro. - Rispidamente, seu tom brusco revelou sua indiferença para mim, se retirando de dentro do aposento carregando uma mala em sua mão.

Passou por mim, sem olhar-me no rosto.

 A mim, mantinha meus olhares equivocados para ele, após para minha mãe ao passar por mim em prantos: - Lhe imploro, Fidelio, não me deixe!! - Acompanhou o homem pelo corredor, entre sua voz trêmula e alta.

Ainda confusa, acompanhava os dois com meu olhar, apressando-me para acompanhá-los em passos ligeiros até a travessa dos corredores e vê-la escorada na parede, acanhada, tremendo seus ombros entre seus soluços.

- Mamãe… - A chamo, com a voz ressoando pelo espaço vazio.

Meus suspiros se aguçaram ao vê-la girar sua cabeça, entre seus cabelos desgrenhados e os olhos esbugalhados em tom rúbeo, para mim, entre olhares de pura ira. Brevemente se virou para caminhar rigidamente até mim, alvoroçando a intensa amargura da dor entre seus olhos brilhantes pela água que reproduzia.

- É tudo sua culpa!! - Berrou, cerrando seus dentes como um cão raivoso. -

- Ma-mamãe… - Franzi meu olhar, mal conseguindo mover uma parte de meu corpo pelo momento inepto de reação ao vê-la, novamente, naquele estado de fúria.

- Carrasco! Miserável! - 

Ao se aproximar de mim, agarrou os fios do meu cabelo com sua mão bruta e me puxou com agressividade, pelo corredor.

- Mãe! Para! - Sentindo meu coração pulsar, e o medo impregnando cada centímetro do meu corpo, o fazendo tremer, acabo soltando o pão que peguei sorrateiramente para segurar com garra a mão de minha mãe que puxava friamente os frios do meu cabelo, batendo os pés contra o chão para tentar pará-la e escapar de algum modo daquele castigo, mas ela continuava a me puxar.

Jamais compreendi a razão dela me tratar daquela maneira, falando coisas para mim que, simplesmente, não compreendia o significado, já que me proibia de ter aulas com a dona da pensão, ou ter qualquer relação com o mundo fora dessas paredes.

Ao notar, meu corpo foi jogado brutalmente contra o chão, ouvindo as falas de fúria da minha mãe que escapavam dos meus ouvidos, pela embriaguez da zonzeira que tirou a possibilidade de ouvi-la, mas não de sentir os fios de couro chicotearem meu corpo, trazendo meus sentidos átona.

- MÃÃÃÃÃE!! PARA!!! - A voz rasgou minha garganta ao implorar que pare, com lágrimas escorrendo meu rosto torturado com a mancha da amargura pelo desespero que sentia desde que me lembro. O gosto era amargo.

A dor corroía em todas as partes do meu corpo debruçado sobre o chão, abraçando-me em calafrios que perfuram minha pele castigada com marcas roxas. E tudo em minha volta se tornou um borrão de imagens e os sons deformados, tudo que restou era a brutal dor que me corria até os ossos.

Sentindo o couro bater contra o rosto, escancaro minha boca e solto o grito de pavor agonizador, implorando que qualquer um viesse me acudir, mas nunca correspondiam às minhas súplicas.

Exausta, meu corpo não reagia mais às minhas súplicas de defender-me contra as esbofeteadas, a ardência em minha pele librava o choro cortante da garganta, entre lágrimas quentes que sentia escorrer pelo meu rosto. Meus sentidos não agiam para me tirar do engasgo sufocante do desespero, por não sentir o resto do corpo largado ao chão, mas sinto o buraco vazio que se abria cada vez mais no meu coração.

Era assim que alguém se sentia morto?

A pergunta rondou minha cabeça, sem consciência.

Meus braços foram puxados com força para cima, começando a ser arrastada pelo chão gelado até ser levantada e deixada entre seus braços, que me puseram sentada sobre um lugar mais gelado que o próprio chão, de pouco espaço, por fazer minhas mãos se dobrarem. Não senti mais seus braços em volta de mim, mas sim o ar gélido bater contra minha pele sem cor, com marcas do espancamento, e após um som forte de algo sendo batido, a frente de mim.

A fobia ao ouvir aquele som me corrompeu ao horror, fez com que meus olhos se abrissem, saltar para fora com aversão ao me ver trancada novamente dentro daquele armário onde meus pesadelos noturnos se realizam a cada cair da escuridão.

- Mã… - A voz se prendeu na garganta que se fechou para soltar um ruído de minha voz falha, com a gélida sensação agoniante na barriga e as dores em volta do corpo, impossibilitou meus movimentos para contra as portas. - A… 

Mal poderia compreender quanto tempo permaneci trancada, mas teria sido suficiente para minhas lágrimas diminuirem e a castigada dor em todo o corpo se tornar suportável, a ponto de me permitir movimentar meus braços e me empurrar para frente: ergui minha mão trêmula até o parafuso, já livre da tarraxa.

Depois de tantos anos sendo trancafiada dentro daquele espaço frio e vazio, com calmaria, mesmo com o ar faltando no peito, tendo a ponta dos meus dedos avermelhados pelas tentativas de desenroscar as tarraxas do lugar pela minha falta de compreensão a como desenroscar, minha cabeça manuseava o pensamento de abrir uma daquelas portas, e a minha tentava estava atento sobre aquela mesma porta.

Após tantas tentativas, movendo as pontas dos dedos trêmulos, sentindo que suas peles eram raspadas entre superfícies com pontas, desorientada entre um movimento e outro pelo torpor em cabeça numa quentura que cobria meu corpo, os batimentos dentro do peito aumentarem, sempre me colocavam a dormir, num sentido impenetrável que me corroía por dentro em todos os momentos em que era deixada presa.

Minhas vistas me deixavam atada, minha respiração retornou a fraquejar, uma forte sensação de fúria que me invadiu, pelas tremedeiras em minhas mãos não permitiram que conseguisse girar os parafusos. Por um momento, paro o que fazia para inflar meu peito trêmulo, puxando todo o ar que podia e o soltar calmamente, entre suspiros pausados.

Poderia ainda estar a ponto de dormir novamente, mas não iria permitir que esta tortura prosseguisse.

Fecho os meus olhos por não confiar em minhas vistas, e tombei minha cabeça para frente: minha testa bateu contra a porta, enquanto prosseguia girando os parafusos, mas a mesma, somente, foi para trás e caiu, estando pendurada na fechadura da outra porta.

Sentindo as lágrimas escorrendo dos meus olhos, me empurro para fora e caiu sobre o chão, pela fraqueza que ainda dominava minhas pernas doloridas; bato meus punhos sobre o chão para ter o impulso para levantar, mesmo desejando cair sobre minha cama.

Corri, e corri por entre aqueles corredores sem cor ou sem alguma piedade, trafegando como um espírito livre à procura de liberdade.

Empurro as duplas portas com minhas mãos, onde as marcas roxas foram expostas pela luz das lamparinas, e corri, pulando os degraus em frente para cair sobre o chão de terra trabalhada com o suor de outros que derramam mais lágrimas que eu, por vê-os todas as manhãs até o anoitecer, trabalhando nessas terras.

- TINY!! - 

Ouço tua voz me chamando, mas apenas a deixo para trás.

Ao sentir os ventos soprando meu rosto, com as primeiras gotas de água, abro um sorriso em meio às lágrimas, transbordando um sentimento incompreendido por mim, mas era bom. Mal sentia as dores em meu corpo.

Desejo sentir isso muitas mais vezes.

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Yngrid Off

Thais On

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Manuseava a caneta lentamente, escrevendo minhas letras arredondadas sobre o papel, ouvindo as palavras ditas que minha mãe dizia ao ler o livro de literatura francesa. Ao traçar o risco da letra R, a tinta acabou, justo no momento em que ouvi o médico chamando por minha mãe diante da porta dos aposentos de meus pais.

- Continue desse parágrafo. - Põe o livro sobre a mesa e aponta para a linha, antes de levantar.

Balanço a cabeça em concordância, retomando a pressentir a sensação ruim no peito, sempre pressionando meu peito. O rosto que transmitia alegria de meu pai sempre surgia em minha mente, o que forçava as lágrimas se formarem em meus olhos.

Solto um suspiro trêmulo ao fechar os olhos, sentindo as mãos gentis de minha mãe se porém sobre meus ombros, deixando um beijo doce na minha cabeça antes de me deixar para ir ao encontro dele.

Pisco por mais vezes, retomando minha concentração sobre meu texto, erguendo meu braço até o tinteiro para mergulhar a ponta da caneta na tinta negra, assim retomando a escrever as palavras complexas do livro, mas, por mais que dialogavam em tom baixo, poderia ouvir alguns murmúrios. Não compreendia nenhuma palavra, mas fora o suficiente para me tirar a concentração da leitura.

Abro a boca para inspirar o ar que me era escasso, sentindo os pesares em meu peito que prejudicavam a entrada da mesma.

Pelo estorvo, ponho a caneta no tinteiro e me movo sobre a cadeira, me pondo para trás, observando suas feições de desalento para com o médico, que mantinha um semblante rígido em seu rosto.

O pensamento formulado da possível perda de meu pai, me tirou lágrimas dos olhos e escorreram pelo meu rosto.

Ouvia as toses acumuladas virem de dentro do seu aposento, transbordando o temor dentro de mim.

- Tenha bons estudos, Mila. - Desejou ele, numa feição carente de risos, passando ao lado da mesa para se dirigir até a porta.

- Completou seu texto? - Indagou em sua voz envelhecida e trêmula, se colocando do meu lado.

- Mamãe… - A chamo, erguendo meu olhar carregado por lágrimas para a mesma, prendendo meu olhar sobre o seu, angustiado.

As gotas de suas lágrimas brotaram em seus olhos e escorreram pelo chão, os fechando logo em seguida, abaixando sua cabeça para frente, se aprontando para agachar-se e apoiar-se em meu colo, murmurando uma reza, suplicante.

Mais lágrimas eram formadas e caíam sobre meu rosto, sendo asfixiada pelo pavor, pela apreensão ao ver minha mãe decaindo ao choro de fé.

A envolvi com meus braços e a apertei, fechando meus olhares para clamar junto a ela.

- Turo ira ficar bem, Mila... tenho fé que irá. - Pronunciava sabiamente, minha mãe.

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Thais Off

Hoseok On

Caminhava pelo corredor, quase tropeçando nos meus próprios pés pelo cansaço que ainda sentia. Dormi por quase nove horas seguidas, e ainda estava com sono.

Acordei e vi que já estava anoitecendo, com o celular piscando, com uma chamada e uma mensagem do Taehyung.

Hoseok - Espero mesmo que ele tenha uma boa desculpa. - Comentei comigo mesmo, esfregando os olhos com as minhas mãos e bocejando, não sentindo quase nada do meu corpo, até abrir os meus olhos e ver uma luz azulada atravessar as lacunas da porta em frente, que iluminavam perfeitamente o corredor, ainda sem lâmpadas. - Não me fala que ele está fazendo uma festa?

Suspirando, continuei o caminho até a porta, segurando a maçaneta da mesma e pronto para começar o meu sermão cheio de ódio, girando ele e abrindo a porta.

Hoseok - Taehyung, o que você… - Calo minha boca ao encarar uma luz de milhares e minúsculas bolas de luminescência, que destacou as cores de tudo à minha volta por segundos, como uma câmera lenta que desviava e seguia sendo seguida por luzes translúcidas. Mas o que destacou, e que me deu o pavor no peito, acelerando meu coração, quase um infarto, foi ver elas formando um círculo de luz intensa, como nuvens, em torno da Yngrid, Thais, Lais e o Taehyung, que tinham seus olhos iluminados pela mesma luz azul, envolvidos pela mesma… e flutuando à centímetros do chão. - AAAAH!!!

Bruscamente volto para trás, me movendo com os sentidos aguçados que tenho, e o que me restou, me escorando na frente da porta fechada com o corpo que ficou alarmado, em suspiros tensos, com o coração acelerado como um motor que batia dentro da garganta pelo susto que me acordou.

Hoseok - Que porra é essa!!?

( Continua… )


Notas Finais


Aqui vou deixar o link do fantástico castelo que sofreu um desabamento décadas atrás. Lembrando, que minha visão dimencional do lugar, pode ser alterada por mim para ter os aspectos que imagino para uma Universidade, sendo um ex-castelo medieval.

- https://media-exp1.licdn.com/dms/image/C4D1BAQFj6mANvDDKlw/company-background_10000/0/1541432360352?e=2159024400&v=beta&t=j8Ik5lKBOz3nAK8fnhspIru0nMt0AezXVInuBXpDKFE -

Para mais entendimentos, uma imagem feita apartir de cima da construção. -
https://storage.googleapis.com/hippostcard/p/687dc3d167e8546f81c5fa52d34a8bf3-800.jpg

Espero que tenham gostado do lugar.
Obrigada por lerem.


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