História Quase Sem Querer - Miami

Lauren POV

 Chegamos em Miami por volta das 13h, e no momento estamos na área de desembarque, com várias mala em volta, discutindo sobre onde eu vou ficar, eu quero ir para um hotel, mas ela insiste em me levar para a casa dos pais.

— Não precisa, Camila, eu realmente prefiro um hotel. - Falei pela milésima vez.

— Mas eu quero que você vá pra minha casa, já disse. - Insistiu. 

— Então me der ao menos um bom motivo. -

- Porque eu quero. - Ela disse com o olhar fixo no meu.

 Respirei fundo e por fim falei:

— Ok, mas se em algum momento eu sentir que estou incomodando, eu vou pra um hotel.

— Combinado. 

*****

— É aqui. - Camila disse, sinalizando para que o taxista pare.

 Camila pagou o motorista, e eu fui retirar as malas do carro.

— MILA?! - Gritou surpresa, a garotinja que atendeu a porta.

— Vai me abraçar não? - Camila perguntou colocando as mãos na cintura.

 No mesmo instante a garota correu e se jogou nos braços dela.

— Você veio mesmo! - A garotinha disse segurando o rosto de Camila entre as mãos.

— Eu disse que iria tentar. - Camila disse  distribuindo beijos pelo rosto da menina. — Quem tá aí com você?

— Só a mamãe, papai viajou. - A garota disse, e olhou pra mim, vindo em minha ddireção. — Quem é você?

— Lauren, sou assessora da Camila. - Respondi, me abaixando pra ficar da altura dela.

— Você é muito bonita - Ela disse segurando meu rosto entre as mãos.

— Mas você é muito mais, qual é o seu nome?

— Sofia Cabello. - Disse.

 Nesse momento apareceu uma mulher na porta, provavelmente a mãe delas.

— Oi, mãe. - Camila disse, abraçando-a.

 O abraço foi rapidamente afastado pela mãe.

— Por que você está aqui, aconteceu alguma coisa?

— Não, mãe. - Respondeu, sem esconder a insatisfação. — Eu tenho um trabalho aqui durante a semana.

— Ahh, e quem é essa? - Perguntou olhando pra mim.

— Lauren, minha nova assessora, Dianna teve que sair. - Explicou. 

— Sinu. - Ela disse, me estendendo a mão. 

— Prazer. - Apertei sua mãe. 

— Por Deus, como você está ria, tá doente? - Ela perguntou, puxando a mão rapidamente, de uma forma grosseira.

— Me ajuda com as malas aqui, Lauren. - Camila pediu, antes que eu pudesse responder, e como eu já estava cansada de responder essa pergunta, fui ajudá-la.

  Paramos na sala.

— Sofi, mostra pra Lauren onde fica o quarto de hóspedes, que vou levar minhas malas pra o meu quarto. - Pediu Camila, chamando a atenção da irmã. 

— O quarto de hóspedes está com infiltração. - Sinu disse.

 Camila e ela ficaram alguns minutos se encarando.

— Ela fica no meu quarto então.

— Camila, eu posso ir pra um Hotel, não tem problema. - Propus.

 Ela não disse nada, apenas soltou a mala dela no chão e puxou a minha por entre os corredores, peguei as dela e fui atrás, o que mais eu poderia fazer? Ao entrar no quarto, Camila se sentou na cama e colocou o rosto entre as mãos. Sofia entrou também logo em seguida.

— Tá chorando, Mila? - Perguntou, se sentando ao lado da irmã. 

— Não, meu bem. - Camila respondeu, desviando sua atenção para a menina. — Já tá hora do almoço, você já almoçou?

— Ainda não.

— Então vai trocar de roupa, vou te levar pra almoçar.

 Sofia acenou com a cabeça e saiu do quarto.

— Desculpa pela minha mãe. - Ela disse, com um sorriso meio sem graça.

— Tudo bem, mas eu acho que ir pra um hotel seria melh…

— A gente vai almoçar. - Ela disse me interrompendo. — Você vai com essa roupa mesmo? Se sim te espero lá na sala.

 Ela não esperou por uma resposta minha, apenas se levantou e saiu do quarto. Peguei meu celular, e digitei uma rápida mensagem para Emma, avisando que cheguei, não quis demorar, e logo retornei para a sala, Camila está sentada no sofá, com Sofia em seu colo, de frente pra ela.

— Acho que já podemos ir. - Eu disse me aproximando e as duas olharam pra mim.

 Sofia pulou do colo da irmã e veio correndo em minha direção, pulou nos meus braços em uma agilidade que por pouco consegui segurá-la. 

— Sabe o que a Mila disse? - Ela perguntou, enrolando uma mecha do meu cabelo em seu dedo.

— Não sei, mas quero saber, o que foi?

— Ela disse que se você topar, podemos ir tomar sorvete ao invés de almoçar.

 Olhei pra Camila, e ela tava fazendo mímicas para que eu diga não pra irmã.

— Acho uma ótima ideia. - Eu disse, e a garota arregalou os olhos surpresa, e me abraçou. 

 Olhei pra Camila bem a tempo de ver ela revirando os olhos, coloquei Sofia no chão, e fomos pra uma sorveteria que tem a poucas quadras da casa delas, durante todo o percurso Camila foi reclamando por eu ter dito sim.

— Não adianta reclamar, Mila, você tá com ciúme, porque ela ficou do meu lado e não do seu. - Sofia disse enquanto entrávamos na sorveteria, o que me arrancou uma risada.

 Camila fingiu não ouvir, e foi direto para o balcão fazer o pedido, enquanto isso eu e Sofia nos sentamos em uma das mesas espalhadas pelo estabelecimento.

— Eu quero de chocolate. - Sofia gritou da mesa e Camila apenas afirmou com a cabeça.

 Com pouco tempo, Camila chegou na mesa, carregando uma tigela enorme de sorvete, com vários doces jogados por cima.

— Melhor almoço da minha vida. - Sofia disse enchendo uma das colheres de sorvete e enfiando dentro da boca.

 Ela e Camila comeram praticamente todo o sorvete sozinhas, enquanto eu apenas ria da empolgação de Sofia por estar almoçando sorvete, depois de satisfeita ela foi brincar em uma área reservada para crianças que tem dentro do estabelecimento. 

— Você conseguiu se entender com seu namorado naquele dia? - Perguntei, tentando quebrar o silêncio que se instalou na mesa desde que Sofia saiu.

— Consegui sim, me desculpa por aquela cena, de vez em quando ele tem dessas, mas no mais é um cara legal.

— Eu que peço desculpas por ter… - Gesticulei. — Você sabe… atrapalhado vocês.

— Eu prefiro não falar sobre isso. - Ela disse, desviando sua atenção para a tigela de sorvete. — Você não vai nem experimentar?

— Não, obrigada, eu não gosto mesmo.

— Duvido que não. - Colocou sorvete na colher, e guiou em direção a minha boca.

— Não, eu não quero. - Falei, virando meu rosto para o lado contrário.

— Nossa, que mal educada. - Ela disse, em uma falsa reprovação. — Abre a boca.

 Meio a contragosto deixei ela colocar a colher na minha boca, já pressentindo o mal estar que vou sentir mais tarde.

— Gostou? - Perguntou com expectativa. 

 Balancei a cabeça em negação, o que fez ela rir.

— Droga! Pelo menos sobra mais. - Encheu a colher e colocou na boca. — Qual a minha agenda para amanhã?

— Uma entrevista pra uma emissora local que vai transmitir o evento.

— Ahh. - Deu de ombros. — Pelo menos não são fotos.

— Ainda não. - Falei. — Caiu sorvete no seu queixo.

— Pronto? - Ela perguntou depois de ter passado a mão, mas ainda ficou um pouco sujo.

— Não. - Me suspendi sobre a mesa, peguei o guardanapo que estava em sua mão e limpei o local. — Agora sim. - Eu disse, subi meu olhar para ela, e só então percebi seu olhar fixo em minha boca.

— Ainda tem sorvete? - A voz de Sofia surgiu ao nosso lado. — Por que você tá em cima da mesa?

 Voltei rapidamente para o meu lugar, nervosa, não sei se por Camila, ou pela Sofia. 

— Hã… - Engoli em seco. — Estava ajudando sua irmã a limpar o rosto.

- Ah. - Disse simples, puxou uma cadeira e sentou.

— Pode comer. - Camila disse empurrando o resto do sorvete.

  Camila claramente ficou sem graça, tanto que não consegue mais olhar

diretamente pra mim, dividiu sua atenção entre o celular e a irmã. Quando Sofia terminou de raspar toda a tigela, resolvemos voltar, e o caminho de volta pareceu mais longo, talvez pelo silêncio de Camila.

— Pode tomar banho na suíte, eu vou tomar aqui no da casa mesmo. - Camila disse quando entramos. 

 Apenas confirmei e segui para o quarto, ao fechar a porta, eu olhei em volta, não tem muita coisa no ambiente, só uma cama de casal, um guarda-roupa e uma porta do outro lado do quarto, provavelmente a do banheiro. Quando terminei o banho, tentei ligar pra Emma, mas deu desligado, já que não tenho mais nada pra fazer, peguei um livro em minha mala e me sentei na cama se encostando na cabeceira para ler. Mais ou menos 30 minutos depois Camila entrou no quarto só de toalha.

— Esqueci de pegar uma roupa. - Ela disse apontando para a mala, com um sorriso sem graça no rosto 

 Ela puxou tão rápido as peças de roupa de dentro da mala, que duvido que ela tenha escolhido algo, entrou no banheiro, e já saiu de lá vestida, com uma calça moletom preta e uma camisa na mesma cor. Ainda em silêncio, ela pegou o celular e se sentou na cama, na mesma posição em que eu estou. Parei de prestar atenção nela e voltei a ler meu livro, mas não por muito tempo

— O que você está lendo? - Ela perguntou, largando o celular de lado.

— A Nascente. - Respondi, antes de fechar o livro.

— Fala sobre o quê? - Pegou o livro nas mãos. 

— Eu não sou muito boa em explicar, mas no geral é um arquiteto bem cabeça dura. - Respondi.

Ela riu.

— Ainda bem que você sabe que não é boa com explicações.

— Mas também não precisa passar na minha cara. - Falei.

— Tinha que ter pelo menos um defeito. - Ela disse mordendo o lábio inferior.

 Eu não soube o que responder, então apenas sorri, eu não sei se entendi muito bem o que ela quis dizer. 

— Vamos jantar. - Ela disse, e se levantou repentinamente.

 Fiquei no mesmo lugar, pensando em uma desculpa pra não ir jantar, não posso me sentar na mesa e ficar olhando enquanto elas comem, com certeza vão querer me enfiar comida.

— Na verdade, eu tenho que sair. - Eu disse, e também me levantei, indo até minha mala.

— Sair? - Ela perguntou com o cenho franzido. — Você conhece alguém aqui?

—Conheço, um amigo do tempo do colégio, vou aproveitar pra ir visitar ele. - Menti.

 Ela não disse nada, apenas afirmou com a cabeça e saiu do quarto.

— Idiota. - Disse pra mim mesma quando ela saiu.

 Pior desculpa, agora vou ter que ficar perambulando por aí. 

 Aproveitei a saída para roubar sangue de um hospital, o que foi bem difícil sem a ajuda da Emma, sempre fazemos isso juntas, ou ela sozinha. Também aluguei um carro, afinal será uma semana aqui, rodei com ele boas horas pela cidade, até finalmente retornar. Quando cheguei novamente na casa, fui direto para o quarto, não quis arriscar dar de cara com a mãe da Camila. Entrei no quarto, apenas uma luz fraca vinda do abajur ilumina o cômodo, e eu finalmente entendi o porquê a cama do quarto dela é tão grande, ela está praticamente tomando todo o espaço nquanto dorme, olhei em volta procurando um lugar pra ficar, mas antes que pudesse encontrá-lo, ela se mexeu.

— Pode deitar aqui. - Disse com a voz um pouco sonolenta, e abriu espaço na cama. 

— Pensei que você estivesse dormindo. 

— Estava, mas ouvi você abrindo a porta. - Olhou pra mim.

— Ah, desculpe. - Pedi.

— Não tem problema, agora deitada logo ou eu vou ter que levantar pra te tirar daí?

— Não, eu só vou trocar de roupa.

 Ela concordou com um sinal nasal e eu entrei no banheiro, tranquei a porta e respirei fundo, um quarto de hotel seria menos embaraçoso, né? Tomei um banho rápido e retornei, ela já está dormindo de novo, com o máximo cuidado eu me deitei no espaço vazio da cama, ela imediatamente passou uma das pernas por cima de mim. É, essa vai ser uma longa noite.