História Quase Sem Querer - Desculpa

Emma POV

 Já se passou uma semana desde o acontecido, Alejandro foi preso, mas está sendo cogitada a possibilidade de transferirem ele para uma clínica de psiquiatria por: “alucinar seres sobrenaturais.”, o enterro do Austin aconteceu no mesmo dia, por decisão da família, para tentar diminuir o assédio da mídia, após esse dia, eu não vi o rosto da Camila por 3 dias seguidos, porque ela simplesmente não saia do quarto, consequentemente Lauren também ficou enfurnada lá dentro, ela veio para cá logo após o enterro, porque em frente ao prédio que ela mora estava cheio de repórteres. O plano de ir morar na França ainda está de pé, porque Alejandro não trabalhava só, então achamos melhor prevenir, porém eu estou decidida a não ir, é por isso que neste momento estou descendo as escadas para falar com Lauren, que está na sala, adiei o máximo que pude, mais do que eu gostaria até, porque vou dizer hoje pra ela que também vou viajar, mas sozinha. 

 Lauren está com os pés sobre o sofá, e o resto do corpo está todo esticado em direção a mesinha de centro, tentando alcançar seu celular, quando a pontinha dos dedos dela estavam quase alcançando o objeto, eu fiz ele deslizar para longe. 

— EMMA! - Desistiu de tentar pegar o celular e se contorceu toda até ficar sentada normalmente no sofá. — Eu daria meus dois braços em troca desse seu poder.

— Ai vai ficar brocha pra o resto da vida. - Eu disse e ela arregalou os olhos.

— Cacete, verdade, retiro o que eu disse. - Disse e eu neguei com a cabeça.

— Cadê a Camila? - Perguntei, estranhando o fato dela não estar ali, já que ela é 24 horas grudada na Lauren.

— Tá dormindo. - Respondeu.

— Ótimo, hã… eu preciso falar com você. - Me sentei de frente pra ela no sofá.

— O que eu fiz dessa vez?

— Nada. - Sorri fraco. — É só que, eu tomei uma decisão e… faz um tempo que estou adiando pra te contar isso, mas acho que agora é o momento, não dá mais pra adiar. - Comecei, sentindo meu corpo inquieto. 

— Você tá me deixando preocupada, fala logo.

— Eu vou pra África. - Eu disse e me calei, até tentei falar mais alguma coisa, como planejei mil vezes, mas não consegui, parece que minhas cordas vocais sumiram.

 Ela começou a rir e jogou uma almofada em meu rosto.

— Eu pensei que você ia falar algo sério, sua idiota. - Relaxou as costas no sofá.

— Lauren, eu estou falando sério. - Eu disse e aos poucos o sorriso que ela tinha no rosto foi se desfazendo.

— Como assim pra África, Emma? A gente combinou de ir pra França, vai dar o maior trabalho mudar tudo pra África, você deveria ter avisad…

— Lauren. - Interrompi. — Eu vou pra África. - Dei ênfase. —  Você e a Camila vão pra França.

 Ela analisou meu rosto, buscando resquícios de uma possível brincadeira 

— Você está dizendo que vai me deixar? - Perguntou séria.

— Não. - Neguei veementemente com a cabeça. — Eu estou dizendo que não vou mais acompanhar você, mas você sempre vai ser a minha amiga, melhor amiga e sempre que precisar de mim pode me ligar, nós só não vamos mais morar juntas e...

—  O que eu fiz? - Perguntou com a voz carregada de mágoa.

 Eu senti lágrimas prontas para descerem pelo meu rosto, mas rapidamente passei a mão nos olhos, os secando, eu não posso chorar.

— Nada. - Respondi em um fio de voz, me odiando por não conseguir falar nada.

— Como assim nada, Emma? Você nunca quis ir embora e agora assim do nada resolve ir, sem mais nem menos, alguma explicação tem que ter. - Respirou fundo, nitidamente tentando se controlar. —  O que eu fiz? Fala, que gente resolve. 

 Fiquei em silêncio, eu simplesmente não sei o que responder, eu sei que se abrir a boca pra falar alguma coisa, as lágrimas que pesam nos meus olhos vão descer descontroladamente. 

— FALA! - Gritou se levantando do sofá e ficou em pé, olhando pra mim. — NÃO TEM PORQUÊ VOCÊ IR EMBORA ASSIM DO NADA, ME FALA O QUE...

— Eu amo você. - Eu disse cortando a fala dela e essas palavras nunca me pareceram tão pesadas como agora, parece que estou tirando um trem de cima das minhas costas. 

 A feição dela se suavizou e ela se abaixou na minha frente.

— Então porque você quer ir embora? - Segurou minhas mãos, e deixou um beijo no dorso de cada uma. — Eu também amo você, Emma, você sabe, muito.

 Puxei o ar para os meus pulmões, quando eu falar, não vai ter mais volta.

— O problema é que eu te amo mais do que eu deveria, Lauren, eu não te amo apenas como amiga. - Nesse momento sua expressão paralisou, ela tentou sorrir, mas então negou com a cabeça e se levantou. — E eu preciso me afastar de você, pra conseguir reequilibrar esses sentimentos, porque a cada dia que passa, esse sentimento tá se tornando mais pesado, mais difícil de carregar, ultimamente eu estou chegando a sentir raiva de você e eu não quero sentir isso em hipótese alguma, nunca, eu te amo ao ponto de sentir raiva de mim por sentir raiva de você, eu te amo mais do que eu me amo, Lauren, e eu não quero mais isso, eu quero voltar a pensar em mim de novo antes de pensar em você, eu quero parar de girar ao seu redor.

 Ela riu com escárnio e ficou andando de um lado para o outro no meio da sala.

— VOCÊ É UMA EGOÍSTA EMMA, A MERDA DE UMA EGOÍSTA! - Ela gritou e chutou a mesinha de centro, fazendo ela ir parar do outro lado da sala.

 Me levantei, pronta para sair da sala, mas desisti e me voltei para ela.

— Claramento isso é uma questão de ponto de vista, porque também tô achando você uma puta de uma egoísta.

  A respiração dela ficou alterada e ela veio pisando fundo em minha direção, me empurrou de encontro à parede e eu gemi de dor pelo forte impacto, me desencostei e tentei passar por ela, mas ela me empurrou novamente, e dessa vez prensou seu corpo ao meu e começou a beijar meu pescoço, com tanta tanta força que está causando dor.

— Sexo resolve tudo, eu vou transar com você e depois você vai esquecer toda essa merda. - Ela disse. — Você vai esquecer isso!

— Lauren, PARA! - Pedi, sentindo meu estômago embrulhar. 

 Mas ela não se moveu um centímetro, ao invés disso deu uma mordida tão forte no meu pescoço que tudo escureceu e vi todo o ambiente girar. A contragosto levei minhas mãos até os seus ombros e a empurrei pra longe, feito isso, o corpo dela foi arremessado até colidir contra a coluna da sala, continuei imóvel no mesmo lugar e ela também, me virei pra sair dali, mas já no meio da escada, ela começou a chorar, virei e meu coração se apertou ao vê-la sentada no chão, chorando com as mãos tampando o rosto, desci novamente e fiquei de frente pra ela, ela se ajoelhou no chão e me puxou pra perto, enterrando o rosto na minha barriga.

— Desculpa. - Pediu e eu quase não compreendi, pela quantidade de soluços e por ela está com o rosto pressionado na minha barriga.

  Ela afastou um pouco e ainda com os braços em volta da minha cintura, ela olhou pra cima.

— Desculpa Emma, eu não queria te machucar, desculpa. - Pediu com os olhos completamente opacos.

— Não tem problema, se levanta desse chão. - Com as mãos sequei as lágrimas que desciam pelo seu rosto, mas foi em vão, porque no mesmo instante desceram mais e ela voltou a enterrar o rosto na minha barriga.

— Desculpa, desculpa, desculpa… - Ela repetia a palavra como se fosse um mantra. — Eu queria tanto tirar esse amor de você, eu não queria que você sofresse por minha causa Emma, me perdoa, me perdoa. 

— Olha pra mim. - Pedi segurando no queixo dela, para que não abaixe mais a cabeça. — Não diga isso, eu amo te amar, é o sentimento mais lindo que carrego em mim, mas no momento, tá doendo como nunca doeu antes, desde o dia em que te conheci, eu soube que estava condenada a te amar até o dia da minha morte, e o tempo todo, eu sabia que tinha algo especial em você e talvez eu nunca vá entender o porquê desde o momento que pus meus olhos nos seus, eu me senti tão... viva, como eu nunca tinha me sentido em toda a minha existência antes de você. - Segurei o máximo que pude pra não chorar, mas as lágrimas já não me obedeciam mais, apenas caiam livremente pelo meu rosto. — Mas eu não posso mais ficar, Lauren, porque eu não quero mais considerar a sua felicidade mais importante que a minha, pela primeira vez desde que nos conhecemos eu estou pensando em mim primeiro, eu não quero ser triste para sempre. 

 Ela voltou a enterrar o rosto na minha barriga. Passei a mão pelo rosto, tentando fazer com que as minhas lágrimas parassem de descer, segurei nos braços dela e a fiz ficar de pé, mas em segundos ela voltou a se agarrar a mim, dessa vez colocando o rosto na curva do meu pescoço e voltando a chorar.

 Eu não faço a mínima ideia de quanto tempo ela passou chorando naquela posição, mas quando senti que ela estava mais calma, me afastei um pouco, pra poder olhar para o seu rosto.

— Eu não sei o que é uma vida por conta própria. - Ela disse, em uma voz quase inaudível de tão baixo que ela está falando. — Desde que nasci tive alguém por mim, primeiro meu pai, depois a Alice e então você, mas agora eu não vou ter ninguém e eu sinceramente não sei se sei viver sem você, Emma.

— Você tem a Camila. - Lembrei, passando a mão em seu rosto molhado. 

— Sim, eu tenho a Camila. - Sorriu. — E ela é humana, mas eu vou aprender a lidar com isso.

— Sair para fazer a feira do mês, ir a hospitais, comprar remédios, TPM, é, você com certeza vai aprender a lidar com isso. - Eu disse com humor, embora não esteja no menor clima para isso, mas quero de alguma forma fazê-la rir.

 Ela sorriu largo, com os olhos brilhando. 

 Enfim o paradoxo, eu amo vê-la feliz, mas dói como se um trem me atropelasse várias vezes seguidas.

— Estou tão feliz por você. - Eu disse, contornando o sorriso dela com a ponta dos dedos. — Embora eu ainda ache a sua namoradinha uma chata sem sal, eu nunca vou deixar de ser grata a ela por colocar novamente esse brilho nos seus olhos. - Falei sincera. 

 Os olhos dela voltaram a encher de lágrimas, as sequei antes que elas voltassem descer novamente.

— Não chora mais. - Pedi.

 Puxei ela para outro abraço, tentando de alguma forma aliviar o vazio, que há tempos eu não sentia dentro de mim, meu corpo parece já sentir que vou me afastar da Lauren, o vazio que carreguei por anos antes de conhecê-la, voltou, e isso está me assustando pra caralho, ao mesmo tempo que toda dor que meu amor por Lauren vem me causando, ele também me confortava, em nossos momentos juntas, e eu não vou tê-los mais. 

 Nossos caminhos vão se desviar.