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História Quase Sem Querer - Outra Chance


Escrita por: princetri

Capítulo 50 - Outra Chance


Lauren POV


 O que mais está me irritando dentro dessa cela, além da situação em si, é não ter nem ideia se é dia ou noite, se já se passaram muitas horas desde que Camila foi levada ou se é só impressão minha. Meu abdômen e meus braços estão cheios de hematomas, que eu não faço a mínima ideia de onde vieram, e nem uma blusa eu tenho para cobrir, já que dei meu moletom pra Camila, ficando assim apenas de top e calça moletom. Ouvi passos se aproximando da porta, continuei imóvel, deitada no meio do chão da cela, com a atenção voltada para o teto. Quando a porta se abriu me dei ao trabalho de apenas virar a cabeça naquela direção.


— Levanta que os anciões solicitam a sua presença. - Disse Claus.


— “Solicitam.” - Zombei. — Então tenho a oportunidade de escolher não ir? - Perguntei debochada. — Não estou afim de ver a cara feia deles, já basta a sua.


 Ele grunhiu parecendo mais um cachorro e veio com tudo em minha direção, quando ele estava com as pernas na altura das minhas mãos, segurei e puxei, fazendo ele cair no chão, juntando todas as minhas forças me levantei o mais rápido possível e saí em disparada pelo corredor, tudo que eu menos preciso é tentar medir forças com ele novamente, na situação que estou qualquer um me derruba. Consegui chegar até o saguão, mas antes que eu passasse pelas portas que dão acesso ao jardim e consequentemente a saída, elas se fecharam, e aprendi da pior maneira a não confiar nas paredes, nem nas portas daqui, brequei antes de encostar nela, mesmo parecendo ser uma porta tradicional, preferi não arriscar, corri os olhos por todo o saguão, até encontrar com o motivo para as portas terem se fechado. Emma está no alto da escada.


— Será que você não pode tentar fazer as coisas certas pelo menos uma vez? - Perguntou séria.


— Será que você pode parar de se meter na merda da minha vida? Abre essa porta! 


— Você não pode ficar fugindo pra sempre. - Disse calma.


 Eu percebi que ela desceu os olhos pelo meu corpo, provavelmente se perguntando como eu consegui tantos machucados. Sem nenhum controle sobre meu corpo, comecei a tremer de raiva involuntariamente, ela adquiriu o dom de me irritar apenas com sua presença. Em menos de 1 segundo subi as escadas e parei de frente pra ela.


— Eu faço o que eu quiser com a minha vida. - Falei baixo, tentando não me irritar ainda mais. — Eu só te peço pra não aparecer mais na minha frente, porque eu o-de-io você. - Ela permaneceu impassível, como se eu não estivesse me direcionando a ela.


— Eu me pergunto, como um dia fui apaixonada por você, além de egoísta, você é burra. - Disse e aquilo me atingiu mais do que eu gostaria, a voz dela é banhada por indiferença e soberba. 


 Levantei a mão com o intuito de acertar o seu rosto, mas ela foi mais rápida do que eu e segurou meu pulso.


— Se você tentar fugir mais uma vez. - Disse olhando fixamente nos meus olhos, e em um quase sussurro. — Eu vou perder a pouca vontade que tenho em te ajudar, e te deixarei ser condenada à morte.


 Soltou meu braço e passou por mim, descendo as escadas.


— Eu não me importo se eu morrer. - Gritei e virei, só então percebendo que Claus e mais outro idiota já estão lá embaixo.


 Ela olhou pra mim por cima do ombro.


— Se você morrer, sua esposa não vai conseguir sair daqui viva, porque ninguém vai ajudá-la, eu garanto isso.


 Engoli todas as palavras que eu queria dizer e desci as escadas, Emma sumiu em instantes, Claus me guiou até a sala dos anciões, a qual está completamente vazia, suspirei e me sentei em uma das muitas cadeiras, completamente sozinha foi impossível não pensar em Camila, ela não conseguiu voltar pra Los Angeles, não sei se ela comeu, não sei se ela está com frio, não sei nada, e pela primeira vez em décadas me peguei rezando, não para um Deus específico, mas para todos ao mesmo tempo, Shiva, Zeus, Brahmã, Jeová, Odin… porque se eles existem, pelo menos um pode resolver me ouvir, e me ajudar a proteger Camila, e me tirar daqui.


— Deus não escuta demônios. 


 Ouvi uma voz atrás de mim que infelizmente eu já conheço, permaneci na mesma posição, não foi preciso eu me virar pra saber que é Johann, um dos anciões.


— Pela primeira vez concordamos em algo. - Falei e tirei as mãos dos rosto, me sentando corretamente na cadeira, ele saiu de trás de mim e parou na minha frente, o que me obrigou a olhar pra ele. — Eu não estou muito afim de conversar, então se você puder sair da minha frente eu agradeço.


— Minha filha disse que vai vir assistir seu julgamento. - Disse com um sorriso no rosto, que me deu ânsia de vômito. — Finalmente vou conseguir dá o que não pude, quando você partiu o coração dela... sua cabeça.


— Você soa tão patético. - Falei esnobe. — Quase tenho dó de vocês, por serem tão idiotas e tão inúteis a ponto de ainda se importarem com essa merda, que já aconteceu há décadas. - Cuspi as palavras e pude ver o ódio nos olhos dele.


 A resposta veio rápida, em segundos meu corpo foi arremessado para o outro lado da sala, meu corpo arde por completo, cada parte em mim dói, enquanto tudo à minha volta vai escurecendo aos poucos, todos os meus instintos pedem para que eu apenas relaxe e deixe meu corpo adormecer, mas, e se isso for o que se sente antes de morrer? E se eu estiver morrendo? Eu não posso simplesmente aceitar. Forcei meu corpo a se erguer, Johann novamente está vindo na minha direção.


— No nosso código de ética diz que é terminantemente proibido matar um igual por motivos pessoais e torpe. 


 Ouvi, mas não vindo dele, foi a maldita Watson, que não sei em qual momento entrou na sala.


— Não é por motivos pessoais, muito menos torpe. - Ele disse com um sorriso no rosto. — Ela nos expôs para mídia.


— Ela ainda não foi julgada. - Continuou. 


— Eu não vou matá-la. - Respondeu e se aproximou mais de mim.


 Emma entrou na frente e ficou entre a gente, eu odeio ter que precisar dela, mas agradeci mentalmente por ela estar aparentemente me defendendo, tudo que eu menos preciso é ficar sendo lançada de um lado para o outro, sem forças para reagir. 


— Se você se aproximar dela novamente,  Johann, eu vou arrancar sua cabeça do corpo com minhas próprias mãos. 


 Emma falou com a voz tão calma, que cheguei a duvidar ser de fato uma ameaça. 


— Tá querendo colocar as garrinhas pra fora, criança? - Perguntou, ele parece surpreso com a atitude dela. — Saiba que sou mais importante aqui do que você, um estalar de dedos e te coloco pra fora.


 Ela aproximou a boca do ouvido dele e enquanto fala o rosto dele vai ficando cada vez mais incrédulo, ela se afastou.


— Acredito que sou a menos dispensável. - Emma disse, ainda calma, e com as mãos ajeitando o terno do homem.


 Ele fechou a cara, e deu alguns passos para trás, indo sentar nas cadeiras atrás da mesa, destinada a todos anciões. Emma ficou de frente pra mim, me analisou de cima a baixo, e pela primeira vez senti ela me olhando como antes. Me mandou sentar no meu lugar e saiu, em no máximo 10 minutos ela retornou pra sala com um casaco moletom, entregou pra mim sem pronunciar sequer uma palavra e foi sentar ao lado de Johann, vesti na mesma hora, o fato de estar apenas de top e calça estava me deixando constrangida, já não basta a situação em si. Todos os anciões chegaram e preencheram as cadeiras vazias do outro lado da mesa, só uma pessoa em algumas cadeiras mais distantes se sentou do mesmo lado que eu, Alexa, não sei se o fato dela ter vindo até um julgamento onde provavelmente eu vou ser julgada a morte me surpreende. Tentei focar minha atenção para o ancião que ficou responsável por apresentar os meus “crimes”, eu estou me segurando pra não mandar todos eles se foderem com toda aquela bosta, mais de duas horas pra falar que eu supostamente expus o nosso segredo para a mídia, que eu revelei minha identidade para humanos e coisas que já tinham acontecido há tanto tempo que eu quase não lembrava mais, como por exemplo matar um humano pra se alimentar e deixar o corpo exposto, coisas que não eram motivos para um julgamento de morte, mas ainda assim está sendo relembrado, eles estão dispostos a mostra toda a merda que já fiz ao longo da minha existência, pelo menos todas as merdas que eles têm conhecimento. Quando finalmente o pronunciamento foi encerrado, chegou o momento para saber se eu mereço ou não a morte, através de uma votação, dos cinco anciões, quatro já tinham votado que sim, só falta a Emma, mas o que é um voto contra quatro? Parece que meus dias sobre a terra estão chegando ao fim. 


 Emma olhou pra mim por alguns segundos, vi um filme passar diante dos meus olhos, de todos nosso momentos juntas, então ela ss levantou. 


— Eu quero propor outra coisa. - Ela disse e todos a olharam sem entender, inclusive eu. — Eu sei que os crimes que ela cometeu são um tanto graves, porém acredito que nenhum deles foram cometidos na intenção real de prejudicar a todos nós, eu tenho digamos que uma solução para esse último crime dela, que é o mais grave, ou seja, a exposição à mídia, Diane Guerrero, a presidente de uma das revistas mais famosas do mundo atualmente, é uma de nós e está disposta a manipular uma matéria em prol da Lauren, meio que satirizar essas outras matérias, ela disse que pode funcionar e fazer o assunto ser esquecido, o senso popular é facilmente moldado. 


— Você está sugerindo que ela saia impune? - Um dos anciões perguntou.


— Não, eu estou sugerindo uma segunda chance, tentar consertar esses problemas com a mídia, caso não funcione… - Olhou pra mim por alguns segundos. — Ela será condenada à morte, e sugiro também que caso vocês aceitem essa proposta, ela seja proibida de sair da Floresta de Dean, até a conclusão do caso. - Ela voltou a se sentar e começaram a conversar entre si.


 Estava bom até ela sugerir que eu fique na Floresta de Dean, ela é o que? Advogada do diabo? Ela sabe que não gosto desse lugar pra morar, sempre permaneço aqui apenas nos dias da CAV, resolvi não me irritar com isso, porque pela cara do Johann com certeza ele vai votar contra, ou seja, não tem jeito pra mim hoje. As votações precisam ser maioria, e em casos assim, unânimes, e ele aparentemente tem mais influência do que ela.


 A votação teve início mais rápido do que a outra, me surpreendi com a quantidade de “sim”, a cada ancião que abria a boca meu nervosismo aumentava, por último ficou Johann, ele olhou pra mim com um sorriso irônico, encheu o pulmão de ar e proferiu um ”sim”, franzi o cenho, tudo aconteceu muito rápido, Emma pegou o martelo em cima da mesa e bateu.


— Caso temporariamente encerrado. - Disse rápido.


 Se eu estou sem entender nada? Com certeza, porque Johann está com a cara mais feia do que o normal, os outros anciões não devem ter notado, mas definitivamente ele não falou aquilo por vontade própria, da pra perceber a ira que ele tem no olhar enquanto olha pra sua filha, Alexa, a mesma se levantou e virou para sair, nesse momento nosso olhar se encontrou, ela piscou um olho e foi em direção a saída, Johann se levantou e foi atrás dela, quando dei por mim Emma já estava de pé ao meu lado.


— Vem comigo que quero falar com você. - Ela disse e saiu indo em direção a saída, me levantei e segui seus passos.


 Paramos ao chegar em frente a uma porta, ela colocou o rosto em frente de uma estrutura moderna e a porta se abriu, não sabia que a tecnologia já tinha chegado aqui a esse ponto, ela passou e trancou a porta, ficando de frente pra mim.


— Como você está? - Perguntou analisando meu rosto.


— Como eu estou? - Repeti a pergunta e ela maneou positivamente com a cabeça. — Você se importa?


— Se eu não me importasse, não estaria perguntando.


— Engraçado, porque não sei se você lembra, mas há alguns dias em Paris, eu estava mais do que nunca precisando da sua ajuda, e você me decepcionou, mais uma vez. - Falei séria, batendo com o dedo contra seu peito. 


 Ela negou com a cabeça.


— Eu fiz aquilo pra te ajudar, porq…


— Me entregar pra quem quer minha cabeça não é me ajudar. - Falei entredentes.


— Eu tive motivos Lauren. - Afastou meu dedo de si. — Porq…


— Motivos? Me entregar pra passar dias naquela cela horrível, sem me alimentar, e com aquele babaca do inferno me batendo sempre que aparecia, eu acho que não te deixaria passar por isso nem com um milhão de motivos, Emma.


— Mas eu tive qu...


— Inventa outra.


— CALA A PORRA DA BOCA E ME DEIXA TERMINAR DE FALAR! - Os olhos dela ganharam uma coloração amarela, mas apenas por alguns segundos, logo voltou a cor normal.


 Senti cheiro de sangue no quarto e comecei a tentar identificar de onde está vindo, meus sentidos não estão tão apurados, mas enquanto ela fala comecei a andar pelo ambiente, tentando localizar aquele maldito líquido capaz de me fazer parar de sentir tantas dores pelo corpo e parar com essa sensação de estar girando, o cheiro ficou mais forte perto do guarda-roupa, abri todas as portas e nada, me abaixei e comecei a abrir as gavetas, quando localizei os sacos de sangue, bebi o máximo possível, ela não parou de falar nem por um segundo, mas não prestei atenção em nada, porque não importa o que ela diga, eu nunca vou perdoá-la, nunca.


— Não precisa continuar porque não estou prestando atenção no que você fala. - Eu disse e ela fechou a cara. — Não importa o que você diga, eu não vou te perdoar, e eu não quero mais te ver na minha frente, então eu te peço que enquanto eu estiver nessa merda de floresta, você continue dentro dessa merda de castelo o máximo possível. - Cuspi as palavras e me direcionei até a porta.


— Você não vai sair desse quarto antes de me ouvir.


 Soltei uma risada alta sem parar meu caminho até a porta, porém quando coloquei a mão na maçaneta me arrependi no mesmo instante, me segurei pra não gritar, droga de porta revestida com prata, eles querem se auto mutilar?


— Abre essa merda!


— Me escuta primeiro, eu não podia te ajudar, Lauren, porque...


 Deixei ela falando sozinha e em um movimento nada calculado fui até a janela e pulei, antes de atingir o chão fiz meu corpo se transformar em uma ave, em um corvo para ser mais específica, talvez a visualização de um em cima do muro tenha ajudado meu subconsciente a escolher aquela forma, deixei meu corpo daquela maneira apenas até passar por cima do muro, a verdade é que de todos os poderes que eu poderia ter desenvolvido, a metamorfose foi o pior, porque não importa quantos anos se passem, eu nunca vou me sentir bem copiando a forma de algum animal ou de alguma pessoa, por isso eu tento usá-lo o menos possível, eu me sinto estranha ao fazer essas transformações, eu sinto que estou ali, dentro daquele ser, presa, e aquilo me sufoca tanto, parece que a qualquer momento eu vou sumir, simplesmente parar de existir, vou me tornar o ser copiado. 


Notas Finais


até mais <3


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