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História Quase Sem Querer - Motivos


Escrita por: princetri

Capítulo 51 - Motivos


Lauren POV



 Desde que entrei na casa da Dinah, Camila não me largou um só segundo, até quando fui para o banho ela ficou me esperando na porta, no momento Dinah saiu e estamos deitadas na pequena cama cedida por ela.


— Então não podemos ir embora? - Ela perguntou com a voz abafada por estar com o rosto na curva do meu pescoço.


— Não, meu amor. - Acariciei o cabelo dela. — Você lembra da Diane Guerrero? - Afirmou com a cabeça. — É a revista que ela comanda vai publicar o artigo sobre a gente.


— Eu não gosto dela! - Disse Camila eu acabei rindo. — Não tem graça, é sério, eu lembro de vocês duas grudadas quando colocaram ela pra ficar uns dias com você quando você era minha assessora.


— Dias esses que foi interrompido no primeiro. - Falei e dessa vez ela quem riu.


— A gente usa as armas que tem. - Se afastou um pouco e olhou para o meu rosto. — Eu espero que dê certo, e que a gente possa sair daqui.


— Eu também. - Falei e juntei nossos lábios, não chegou a ser um beijo de verdade, passei a língua pelo lábio inferior dela e depois me afastei.


 Ouvi a porta da sala sendo aberta e em seguida as vozes de Dinah e Normani preenchendo o ambiente, pelo tom da voz estão brigando.


— Você já conheceu Normani? - Perguntei e Camila negou com a cabeça.


— Dinah disse que ia falar hoje pra ela que eu estou aqui, ela nem me conhece, por que não gosta de mim? - Perguntou inocente.


— Porque você é humana. - Respondi antes de me levantar.


 Fui até o sobretudo jogado em cima da cadeira do quarto e o peguei.


— Levanta, vamos dar uma volta. - Falei entregando o sobretudo pra ela. — Você acha que isso é o suficiente pra não ficar com frio? - Perguntei enquanto ela o vestia.


— Tem uma luva que Dinah me deu aí dentro dessa gaveta. - Apontou. — Pega por favor.


 Peguei e entreguei pra ela, enquanto ela colocava nas mãos me abaixei na frente dela pra amarrar a bota de cano baixo que ela usa.


— Onde nós vamos? - Perguntou quando me levantei.


— Algum lugar onde ninguém se incomode com a nossa presença. - Falei ajeitando o cabelo dela que está caído no ombro.


— A minha no caso. - Disse com a voz triste, e aquilo foi o suficiente para me deixar triste também. 


— Pra mim dá no mesmo. - Fui até o guarda-roupa e peguei uma jaqueta de couro que pelo cheiro eu sei ser da Dinah. — Onde você não é bem vinda, eu também não sou. - Completei. 


 Vi Camila indo em direção a porta do quarto, mas me apressei pra parar ela.


— Por aqui. - Segurei em sua mão e fui até a janela do quarto, ajudei ela passar e depois passei também. 


 Como na floresta obviamente não tem comércio, seguimos para Lydney.


— Não acredito que fizemos cosplay de crepúsculo. - Camila disse enlaçando nossas mãos, quando demos os primeiros passos dentro da pequena cidade.


 Rolei os olhos.


— Se você falar isso mais uma vez nós vamos voltar no seu ritmo, nem que a gente vá chegar lá amanhã de manhã. - Falei irritada e ela riu, porque ela nunca me leva a sério.


 A verdade é que eu quem carreguei ela até a cidade, porque pra chegar até aqui é necessário uma longa trilha, e se fôssemos vir caminhando na velocidade dela nunca iríamos chegar.


— Você vai querer comer o quê? - Perguntei entrando no pequeno e único café da cidade.


— Tudo que tiver disponível, não estava mais aguentando comer só fruta, ainda bem que você retornou para me salvar de uma possível destruição. - Brincou.


 Acabei rindo do seu exagero.


— Certo, senta naquela mesa do fundo que levo pra você.


 Ela foi pra onde indiquei, fui até o senhor do balcão e pedi uma coisa de cada exposta na vitrine, exagero? Também acho, mas nem lembro mais como é sentir esse tipo de fome, então não vou julgar. 


— E pra beber? - Perguntou depois de colocar o que foi pedido em cima do balcão.


— Prepara um chocolate quente, por favor.


 Peguei os pratos, tentando ao máximo conseguir equilibrar todos, quando cheguei na mesa os olhos de Camila faltaram pouco pra brilhar, neguei com a cabeça e retornei pra pegar o chocolate quente e uma carteira de cigarros, ela fez uma careta quando viu o cigarro na minha mão, mas não disse nada, deixei ela comendo lá dentro e fui fumar no lado de fora. Não sei ao certo a hora, mas provavelmente ainda são umas duas horas da tarde, mas está tão frio que parece fim de tarde, o céu está completamente fechado. Olhei para dentro do estabelecimento pela porta de vidro e Camila está olhando para mim, pisquei um olho e ela sorriu. Camila é diferente agora, ela parece mais velha, ela é mais velha, mas não é isso, é algo mais sobre o olhar em seus rosto do que sua idade, ela não olha mais como aquela garota que encontrei em Los Angeles, às vezes me pergunto se ela sente falta da sua antiga vida, das passarelas, das várias pessoas aos seus pés, festas, uma agenda cheia, uma verdadeira vida de estrela, o que ela tem agora? Nada, ela só me tem, assim como eu tenho ela, mas será que isso vai continuar sendo o suficiente pra ela por muito tempo? A única coisa da Camila de nove anos atrás que prevalece é o apetite sexual, ri com meu próprio pensamento, joguei o cigarro fora e entrei.


— Sabia que eu te amo? - Perguntei, puxando uma cadeira para me sentar.


— Eu também te amo e amo quando você me diz isso, sabia? - Perguntou com um sorriso largo, pegou a caneca de chocolate quente e colocou na minha frente. — Experimenta pra você vê como tá bom.


 Peguei a caneca e fingi tomar um pouco.


— Hmm, delícia. - Falei e ela semicerrou os olhos.


— Experimenta!


 Rolei os olhos e provei de verdade dessa vez.


— Tá mesmo. - Falei e tomei outro gole, ela sorriu satisfeita e tomou a caneca de volta. — Só pra me deixar na vontade, né?


 Ela riu, mas depois de beber me devolveu a caneca. A regra é clara, se ela está comendo, não importa o que seja, ela me faz experimentar, no começo quando eu passava super mal, ela se sentia culpada, mas depois me fazia experimentar novamente, resultado: como comida humana e não passo mais mal, quer dizer, desde que não seja nada além de duas colheres, e carne, carne eu não consigo nem olhar, na nossa casa em Paris mandamos colocar uma porta na cozinha pra quando ela fosse preparar carne fechar a porta, só de lembrar do cheiro que senti na primeira vez que ela foi cozinhar carne me dá ânsia de vômito.


— O que foi? - Perguntei ao notar seu rosto ficando sério repentinamente. 


— Você tem dinheiro?


— Aqui não, pra que você quer dinheiro? - Perguntei e acompanhei o olhar dela até o senhor atrás do balcão lendo um jornal, só então minha ficha caiu, virei pra ela novamente. — Eu tinha esquecido desse pequeno detalhe. - Falei e olhei pra mesa, não resta nada além de pratos vazios.


 Ela começou a rir.


— Isso não é engraçado Camila. - Falei séria.


— Isso não te lembra nada?


 Franzi o cenho.


— Uma vez em Los Angeles você me levou pra ver as luzes da cidade, na volta paramos pra comer e só depois percebemos que estávamos sem dinheiro. - Explicou. — O que a gente fez?


 Comecei a rir também, mas de nervosismo.


— Nem sonhe, não vamos sair correndo novamente, primeiro porque da outra vez não deu certo, segundo porque aqui é o único lugar onde vamos conseguir comida pra você, a não ser que você queira voltar para as frutas. - Sugeri e ela fez uma careta.


— Melhor pensarmos em uma saída mais adulta. - Falou fingindo seriedade.


 Todo o meu corpo travou quando ouvi a porta se abrindo e aquele maldito cheiro familiar invadindo meus sentidos, não virei, porque não é necessário, eu tenho certeza que é ela, Camila olhou pra porta e pra mim, pra porta, pra mim, pra porta, pra mim, pra porta, pra mim, pra Emma parada ao lado da nossa mesa, pra mim.


— Boa noite.


— Boa noite. - Camila quem respondeu, porque eu continuei calada olhando pra frente.


— A gente pode terminar a nossa conversa?


 Não respondi, não olhei pra ela, senti um chute na minha perna por debaixo da mesa, fuzilei Camila com o olhar.


— Você não terminou? - Perguntei finalmente olhando pra Emma.


— Se você não tivesse pulado pela janela eu teria terminado.


— Eu vou tomar um ar lá fora. - Camila disse se levantando.


— Não precisa, pode ficar. - Emma disse.


 Camila se sentou novamente, Emma puxou uma cadeira e se sentou também, minha vontade é de levantar e sair. Emma ficou olhando pra mim, eu fiquei olhando pra Camila, Camila ficou alternando o olhar entre nós duas.


— Eu prefiro sair. - Camila disse e se levantou novamente, acompanhei ela com o olhar, ela parou no balcão e saiu de lá com outro chocolate quente e um tom de riso no rosto.  


 Neguei com a cabeça e ri também, como se a gente já não estivesse devendo o suficiente.


— Desculpa. - Ouvi a voz de Emma e voltei a ficar séria, olhando pra frente novamente.


— Por quê? Por me deixar em Los Angeles? Por não ter dado notícias durante nove anos? Por ajudar me trazer pra cá? Por ter me impedido de sair daquela merda de mansão e ainda me ameaçar usando Camila? Por ter me feito acreditar que realmente éramos amigas? - Falei tentando ao máximo não alterar meu tom de voz.


— Não. - Tirou as luvas das mãos e a colocou sobre a mesa. — Por ter te feito acreditar que você pode tudo, desde que nos conhecemos eu sempre fazia o que você queria, por isso você é assim hoje, tão impulsiva e sem escutar ninguém, porque você acha que só o que você pensa importa, e que você é capaz de levar o mundos nos peitos.


 Neguei com a cabeça. 


— Vai me dar lição de moral agora? É meu pai? - Perguntei debochada.


— Não, mas eu te conheço melhor do que Mike te conheceu um dia.


 Engoli em seco ao ouvir ela pronunciando o nome do meu pai. 


 Por que as pessoas morrem?


— Por que você não me ligou? - Perguntei, dessa vez mais desarmada. — Por que as cartas pararam?


— As cartas pararam porque elas sempre retornavam pra mim, se você não lia então por que se importa com elas?


— Porque quando elas pararam foi como se você tivesse me deixado novamente. - Olhei pra ela. — E ligar, você não podia?


— Se fosse pra continuar em contato com você eu teria permanecido em Los Angeles, eu precisava de espaço, Lauren.


— Adiantou alguma coisa? - Perguntei rodando a carteira de cigarros na mesa.


— Bom, eu não odeio mais a Camila por ela namorar com você, e nem sinto mais vontade de te xingar por saber que você a ama, então sim, foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. - Sorriu. — Me livrei dos seus encantos.


— Então com ele se foi a amizade também. - Falei amarga.


— Você acha que eu estaria nesse lugar com cheiro de gordura se não fosse mais sua amiga?


 Parei de girar a carteira de cigarro e olhei pra ela.


— Você era mais humilde. - Constatei.


— Tenta passar quatro anos na Floresta de Dean, e sai pra cidade novamente pra você vê, o cheiro de tudo incomoda. - Tentou segurar minha mão sobre a mesa, mas no automático afastei.


— Hm, entendi. - Parei de olhar pra ela e voltei a girar a carteira de cigarros.


— Eu tenho um moti…


— Por que você ajudou o Claus a me trazer pra cá? - Perguntei cortando a sua fala.


— Eu já ia falar sobre isso, eu tive motivos pra ajudar ele, primeiro é que eu precisava da confiança dos anciões, e nada melhor do que trazendo você pra eles, assim quando fiz a proposta pra você ter uma segunda chance, não foi julgado como um pedido pessoal, já que eu te trouxe pra cá, e por último, e mais importante, porque a praga de 1872 esta voltando, bom, pelo menos algo semelhante, e eu precisava que você não fosse mais uma foragida quando ela chegar na Europa, e caso a gente ache uma cura, quero você na lista de pessoas que vão receber.


 Olhei pra ela mais uma vez, incrédula.


— Isso… isso é sério? Como você sabe?


— Infelizmente é sério, eu vi, mas não foi isso que me fez acreditar, o primeiro lugar a chegar foi na África, muitos dos nossos já estão morrendo por lá, e eu presenciei algumas mortes.


 Soltei o ar dos pulmões e olhei na direção da Camila, somos tudo o que temos uma para a outra.


— Você acha que a cura vai ser encontrada? Da outra vez, mais de 70% dos nossos foram mortos. - Falei voltando a olhar pra ela. — Quase fomos extintos. 


— A gente tá tentando. - Colocou a mão sobre a minha, e dessa vez rápido o suficiente para eu não afastar, aquele simples contato fez todo o meu corpo travar e acredito que ela notou isso, porque no mesmo instante ela soltou. — Tenta se manter na linha, tá? Pelo menos até isso tudo passar, e se precisar de alguma coisa pode me procurar. - Se levantou e pois a mão no bolso do sobretudo, tirando de lá um cartão de crédito, e o colocou em cima da mesa bem na minha frente.


— A senha é a mesma.


— Não precisa. - Falei empurrando na direção dela.


— Eu não quero ter que ir até uma delegacia subornar um delegado porque vocês saíram correndo sem pagar a conta. - Disse em um tom divertido.


 Fiz uma careta.


— Tinha esquecido que pedi pra você ir subornar o delegado.


— Pediu? Você me obrigou a ir até lá. - Negou com a cabeça. — Então pega o cartão porque não estou disposta a fazer isso novamente. - Ela disse e eu rolei os olhos.


— Certo, então depois eu te pago.


— Como preferir. - Disse e nesse momento Camila se aproximou novamente da mesa. — Até mais, se cuida.


 Virou e saiu, acompanhei ela com o olhar até passar pela porta, Camila se sentou novamente na mesa, pegou o cartão e analisou.


— Não vamos mais fugir? - Perguntou e eu neguei com a cabeça. — Confessa que você estava doida pra fazer isso.


— Talvez. - Falei rindo.


Notas Finais


...


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