Lauren POV
Hoje foi o dia programado para Sofia chegar, pelo menos foi a data que ela deixou na carta, o que obrigou eu e Camila irmos até Lydney no meio da tarde pra esperar, a cidade não é muito grande, então ficamos em uma das mesas externas do café, que fica localizado na única estrada para entrar na cidade, ou seja, quando passar qualquer táxi tem 90% de chances de ser ela, já faz mais de três horas que estamos aqui, está quase anoitecendo, e nada dela ainda.
— Será que ela vem mesmo? - Camila perguntou, no mínimo, pela milésima vez.
— Claro que sim, Camz, ela disse que ia vir, então… - Dei de ombros.
— É, mas e se nossa mãe não tiver deixado? Você conheceu ela, sabe como ela é, e ela me odeia agora, o que certamente faz tudo ainda bem pior.
Suspirei e segurei na mão dela por cima da mesa.
— Camz, se acalma, ela vai vir, eu tenho certeza. - Falei tentando passar segurança pra ela.
— É, mas e se…
Parou de falar, porque um táxi entrando na cidade tomou nossa atenção, o carro passou direto, e quando eu ia comentar sobre ter achado que era a Sofia, o mesmo começou a dar ré, a mão de Camila que ainda está na minha começou a suar, acho tão engraçado essa facilidade do corpo humano demonstrar as coisas, talvez eu deva agradecer por não ser tão sensível assim.
— É… é ela? - Camila perguntou com a voz falha.
Demorou alguns segundos até a porta do carro se abrir, quando desceu uma mulher, eu deixei meu queixo cair, não pode ser ela, qual é, foram só nove anos, não é possível.
— Eu acho que não. - Falei observando a mulher, que troca algumas palavras com o taxista.
— É ela. - Camila afirmou.
— É? Tem certeza? - Olhei pra Camila e ela afirmou com a cabeça, os olhos cheios de lágrimas, paralisada olhando naquela direção.
Voltei a olhar pra mulher, garota, não sei mais, que segundo Camila é a Sofia, mas eu prefiro acreditar que não, pode alguém crescer tão rápido? Ela está com o cabelo ruivo, e não tem mais nada daquela garotinha que conheci em Miami, está vestida com um vestido em uns tons meio verde, branco, preto, sei lá, e um sobretudo bege por cima. Ela olhou na nossa direção, enquanto o taxista se dirige até a mala do carro, ela sorriu, então tive a certeza que é ela, o mesmo sorriso de antes, levantei, mas Camila continuou na cadeira.
— Levanta, amor. - Falei apertando a mão dela, ela fez o que eu pedi, mas continuou parada de pé ao meu lado.
Sofia quem tomou a iniciativa de vir em nossa direção, ela não parou sequer um segundo de sorrir, e quanto mais ela se aproxima, mas eu percebo os traços dela de quando pequena ainda presente, Camila soltou minha mão e terminou o resto do caminho a passos apressados, as duas se abraçaram e eu me deixei sorrir assistindo a cena. O taxista passou por elas com uma mala na mão e se aproximou de mim, colocando a mala no chão ao meu lado.
— Eu passei as últimas horas ouvindo essa menina falar de uma tal irmã, é ela? - Perguntou e eu afirmei com a cabeça. — Sangue abençoado o da família, hein? Talvez eu fique um pouco mais na cidade. - Disse em tom de malícia, o que me fez ficar séria.
— Se eu fosse você nem me atreveria, vai que você não tem nem a chance de voltar mais, né?! - Ameacei.
Ele olhou pra mim sorrindo, ao ver que eu permaneci séria o sorriso foi diminuindo.
— Eu estava brincando, eu já vou indo. - Apontou para o carro e saiu.
— Acho bom mesmo. - Falei vendo ele ir em passos apressados para o automóvel.
Só agora percebi que Camila e Sofia já estão perto de mim, e as duas com o rosto molhado de lágrimas.
— Fascinante esse dom de vocês permanecerem intocáveis com o tempo. - Sofia disse me analisando dos pés a cabeça, antes de me abraçar.
— Ainda bem que tenho isso a meu favor. - Falei abraçando ela de volta. — Se o tempo tivesse me derrubado sua irmã já teria me chutado, olha a genética maravilhosa dela, de vocês na verdade. - Falei também olhando ela dos pés a cabeça.
— Eu estou tão linda quanto a Mila? - Perguntou divertida, se auto analisando.
— Sim, está linda. - Falei e ela sorriu. — Como você está? - Perguntei, porque parece que Camila perdeu a fala.
— Estou bem, ótima na verdade, várias coisas pra contar, mas antes de tudo quero saber em qual buraco da França vocês se esconderam? Faz ideia do quanto eu procurei por vocês depois de ter visto aquela matéria na revista? - Perguntou alternando o olhar entre eu e a irmã, que está bem ao lado dela.
— Longa história. - Respondi.
— Ainda bem que vou ter tempo suficiente pra ouvir. - Disse e voltou a virar pra Camila, abraçando ela novamente. — Eu senti tanto a sua falta. - Disse com a voz chorosa.
— Comigo não foi diferente, você está tão grande, tão linda. - Camila disse toda orgulhosa.
Horas e mais horas se passaram e nós três em uma das mesas do café, eu apenas observo, tendo oportunidade de falar vez ou outra, porque as duas estão falando tanto, que resolvi não entrar nessa competição de quem fala mais, Camila contou toda nossa vida nos últimos nove anos, e Sofia fez o mesmo, o pai delas tirou a própria vida na prisão, Camila não recebeu a notícia muito bem, passou quase 30 minutos para eu conseguir acalmá-la, consegui com a ajuda de Sofia, que ficou meio temerosa em continuar falando sobre ele, então simplesmente mudou de assunto, segundo ela Sinu mudou nos últimos anos, e está menos agressiva, o que eu duvido muito, aquela mulher era o capeta, mas tomara que ela realmente tenha mudado, quanto menos empecilho entre Camila e a irmã melhor. Eu queria que a Sofia ficasse em alguma pousada da cidade, mas ela não queria, ainda tentei convencê-la a ficar por aqui mesmo, mas Camila ficou do lado da irmã, e eu já sou ruim de argumento, imagine contra duas pessoas, onde uma delas é capaz de me convencer até a se jogar de um penhasco, então Sofia acabou indo pra floresta de Dean com a gente, eu com a corda no pescoço e ainda assim continuou infringindo as regras, é, talvez Emma tenha razão, eu sou uma mula teimosa.
Assim que chegamos Sofia pediu pra tomar um banho, no momento ela está dentro do banheiro, Camila sentada na poltrona e eu de pé, encostada na cômoda.
— Tá feliz? - Perguntei analisando o rosto dela.
— O que você acha? Acho inclusive que estou a ponto de morrer, de tão feliz que estou. - Respondeu com um sorriso largo. — Ela está linda né?! E grande, gentil, inteligente, atenciosa.
— Vai com calma ai, estou ficando com ciúmes. - Falei com os olhos semicerrados e ela riu.
Se levantou e veio na minha direção, parando encostada a mim.
— Você também é tudo isso. - Disse olhando nos meus olhos, antes de juntar nossos lábios em um beijo intenso, quando eu estava começando a me empolgar com o beijo de Camila a porta do banheiro se abriu, o que fez a gente se afastar de súbito.
— Algumas coisas nunca mudam. - Falei baixo e como resposta Camila bateu com o cotovelo na minha barriga e se afastou.
— Onde vou dormir? - Sofia perguntou se jogando na cama. — Aqui me parece uma boa opção. - Falou olhando pra nós duas.
— Também acho. - Camila disse e se jogou ao lado dela.
— Que? E eu? - Perguntei.
— Ah! Você não dorme mesmo, Lolo. - Sofia disse rindo e rolando na cama pra abraçar a irmã, achei fofo ela ainda lembrar do apelido que me deu, mas me mantive séria, pra manter a pose.
— É amor, você não dorme. - Camila repetiu
— Traidora. - Falei apontando o dedo pra Camila. — A sorte de vocês é que estou com muita dor de cabeça, caso contrário iria debater até ganhar a cama SÓ PRA MIM. - Falei fazendo drama.
As duas riram alto, o que me fez rolar os olhos.
— Eu pego um remédio pra você. - Sofia disse indo até a mala.
— Não precisa, esses remédios demoram tanto pra fazer efeito em mim que prefiro sair pra me alimentar. - Falei, mas ela não parou de abrir a mala, quando pegou o tal remédio voltou a olhar pra mim.
— Vamos fazer um acordo? - Disse sugestiva.
— Acordo? - Perguntei confusa.
— É, acordo, se esse remédio fizer efeito em 10 minutos, amanhã você me leva pra conhecer mais esse local. - Propôs.
— E se não funcionar? - Perguntei sorrindo, já tendo o acordo como ganho.
— Aí deixo você sozinha na cama, ainda tiro a Mila de lá também. - Disse e Camila resmungou.
— Fechado. - Falei e ela jogou o remédio na minha direção.
Peguei o frasco amarelo, de tampa branca, com várias cápsulas dentro, se eu quero ficar com a cama só pra mim? Não, na verdade não me importo em deixar as duas lá, mas quero ganhar a aposta só pra provocar a Camila, talvez eu ainda faça as duas passarem uma noite no chão. Tirei o remédio da embalagem e coloquei na boca.
— Não engole, dissolva debaixo da língua. - Sofia disse antes de voltar a deitar.
Dei de ombros e fiz como ela mandou, não vai funcionar mesmo.
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