História Quatervois - Agelasta

O Heitor habitual era completamente agelasta. Era incrível o contraste e cada pequeno sorriso que vi em seus lábios ficaram profundamente gravados em minha memória. Podia parecer lerdeza da minha parte, mas foi ali, naquele silêncio que eu percebi que estava apaixonado.

Tudo por causa daquele sorriso.

“Quanto tudo o que você quiser ver, for o sorriso de alguém, desconfie logo se não é paixão ou algo do gênero”.

Quase pude ouvir a voz da minha avó me dizendo tais palavras. Eu entendia Heitor bem mais do que dizia. Entendia pois já fui como ele um dia, e foi ela, a mulher mais importante da minha vida que me fez ver quão idiota aquilo parecia.

Foi com ela que aprendi a aceitar as coisas como são, a aproveitar o que vier e sempre ser grato, até mesmo pelas horas difíceis. Foi ela que, mesmo com seus quase noventa anos, contrariando todas as expectativas, me convenceu que não valia a pena viver uma vida que não era minha e muito menos ir de contra meus anseios e assim, aos poucos tornei-me quem sou.

E de repente, enquanto ele seguia tão calado quanto antes, descobri que queria fazer o mesmo por Heitor.