História Quatervois - Numinoso

Aquele era um assunto tão numinoso para mim, e quanto mais avançava em meus estudos, que eu já sabia ser reflexo da minha tentativa desesperada de compreender-me, mais difícil se tornava.

Temia o julgamento, não o dos outros, como normalmente se pensa, nunca me importei com o que pessoas com as quais eu não tinha o menor dos relacionamentos, pensariam de minha conduta, o que me preocupava verdadeiramente era o que pensariam meus pais.

Já na praia, sentados lado a lado, enquanto observamos a lua surgir no horizonte e ouvíamos o vento trazer algumas canções de um luau que acontecia por ali, eu baixava minhas últimas resistências diante de Allan. Aquilo que começou a ser dito, com ambos embriagados, era repetido e melhor explicado ali, sóbrios e totalmente consciente da importância daquele momento.

Contei a ele tudo o que sempre mantive trancado à sete chaves. Contei a ele coisas que nem eu mesmo sabia, e como saberia se me recusava a pensar a respeito? Sentia-me esvaziar pouco a pouco, eu via toda a dor, a mágoa, o sentimento de ter que atender às expectativas, ir de mim até ele e tudo ser recebido de bom grado pelo seu silêncio acolhedor.