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História Quatro Estações - Sempre foi você


Escrita por: TaisWriterOQ

Notas do Autor


Boa tarde gurias :) Ainda não consegui normalizar as postagens para a Terça, então vamos deixar como está, e eu vou atualizando os capítulos assim que eles ficarem prontos, certo?
Bom, esse capítulo está cheio de descobertas, e revelações... espero que vocês gostem, e ele saiu bem maior do que eu previa...
Escutem as músicas nos momentos especificados, para a leitura ficar mais agradável. (Links nas notas finais.)
Para quem não viu na página, ou no twitter, vou deixar o link da foto do quarto da Regina também... aquele aposento que vocês piraram quando viram. kkkkkk :)
Agradeço muito a todas vocês pelos comentários,mensagens,favoritos... é muito saber que estão gostando da história.
Boa leitura! <3

Capítulo 13 - Sempre foi você


Fanfic / Fanfiction Quatro Estações - Sempre foi você

                                                                    “ A lembrança dos teus beijos

                                                                       Inda na minh’ alma existe,

                                                                      Como um perfume perdido,

                                                                      Nas folhas dum livro triste.

 

                                                                         Perfume tão esquisito

                                                                           E de tal suavidade,

                                                                      Que mesmo desaparecido

                                                                       Revive numa saudade! “

 

 

                                                                                                                  -Florbela Espanca 

 

 

 

 

                                                                                       Robin

 

[...]

 

-Robin...?

-Você vai me ajudar? –Perguntei.

-Ah, claro! Entre. –ela respondeu, deixando eu passar. Assim que adentrei o apartamento ela fechou a porta. Logo, afagou com suas mãos delicadas as costas de meu filho.

-O que ele tem exatamente? –ela inquiriu, pude ver a preocupação em seus olhos e a apreensão em sua voz.

-Eu não sei, em um momento estávamos conversando, e no outro ele estava trêmulo e febril.

-Tudo bem. Venha. Leve ele para o meu quarto.

 Regina caminhou a minha frente, passamos pela pequena sala, sofisticada, a mesma adentrou uma porta que ficava diante do cômodo. Recostada na parede azul claro, havia uma cama de casal, esta ficava entre dois criados mudos, ambos com abajur brancos e fotos decorando. Nada de modernidade, seu estilo era vintage. Na parede ao lado, havia uma grande janela com aberturas brancas. Poderia observar a cidade diante da mesma. Uma poltrona ficava ao lado.

-Coloque ele na minha cama, enquanto eu vou buscar o termômetro para verificar sua temperatura. –ela gesticulou com a mão, apontando para a cama repleta de almofadas. Parecia convidativa...uma pergunta inapropriada veio a minha mente.

Olhei para a porta e não encontrei Regina, agradeço mentalmente, ficaria ruborizado. Sorridente por aquela distração, faço o que ela me pediu.

 O inesperado ocorre, ao colocar Roland deitado na cama, inalo o aroma da mulher misteriosa, aquele que fora capaz de me salvar tantas vezes. Era Regina, o tempo todo. Fora por ela que eu voltei. Como não fui capaz de perceber isso?

A prova estava diante de mim, seu aroma que antes pude sentir no travesseiro agora parecia expandir-se pelo quarto inteiro. Acreditei que fosse capaz de reconhecer... Meu coração disparava, e minha mente recordava de cada momento que passamos juntos ao longo desses dois meses, desde o passeio na praça, em que caminhávamos lado a lado, ao término de nosso relacionamento.

-Sempre foi Regina... ela estava do meu lado o tempo todo. –murmurei incrédulo.

Sequer percebi que a mesma voltará para o quarto. Sentou-se do outro lado da cama, retirando o casaco que cobria Roland. Eu a fitava aturdido, hipnotizado, surpreso, culpado... e ela percebeu. Como sempre.

-Robin? Você está bem? Ficou pálido.

-Estou... é... estou preocupado com Roland.

Omiti. Não sabia como revelar a ela algo tão importante em um momento de apreensão.

-Ele ficará bem. –ela disse, colocando o termômetro no meu pequeno garoto.

-Pelo que vejo – a encarei, ainda surpreso pelo que descobri e encantado com tamanha beleza –você estava de saída. Eu posso leva-lo para o hospital.

-Nada que eu não possa desmarcar. –respondeu, encarando Roland que ainda dormia.

-Não quero atrapalhar seus planos. –comentei, torcendo para que ela sorrisse enquanto respondia que eu não lhe incomodava. Mas, a resposta não fora como eu imaginava.

-Roland precisa de mim. Fique com ele um instante, preciso fazer uma ligação.

Finalizou, retirando-se do quarto, sequer tive a chance de lhe agradecer.

 Respirei fundo. Como fui um estúpido -minha mente repetia. Era Regina. Talvez eu a amasse da mesma forma que ela me ama. Eu sobrevivi por ela, para ela. O amor dela foi capaz de superar os embates da guerra. Eu não posso perde-la. Preciso lutar por essa mulher.

 

 

 

                                                                                     Regina

 

-Robin está aqui. Roland está doente e ele pediu a minha ajuda.

Revelei depois de muita insistência da parte de Graham. Estava na pequena sacada que meu apartamento possuía. A mesma que eu costumo admirar as estrelas e que em outrora, depois de uma noite de amor... eu e o Robin vislumbrávamos o pôr do sol, deitados na sala.

-Eu não acredito nisso! É só esse homem lhe chamar que você caí na dele, me poupe, Regina! Você não tem mais obrigações com Locksley ou a família dele, quando vai perceber isso?

-Ele foi meu noivo, Roland é como um filho para mim, eu me sinto no dever de ajudar. Por favor, Graham, compreenda isso. –disse, na tentativa de acalmá-lo.

-Você que sabe, lembre-se que depois quem saí machucada é você! –afirmou, ríspido.

-Graham? Graham...? Alô. Alô.

Ele havia desligado. Suspirei, enquanto a brisa fria da noite atingia meu rosto. Sabia que ele estava certo... mas, não poderia deixar Robin sozinho, além de tudo, era bom poder fitar seus olhos azuis que tanto sinto falta. Nem que seja por algumas horas.

 -Regina.

O mesmo me chamou, acompanhado por um trovão, me assustei de súbito. Não imaginava que ele estivesse na sala.

-Me desculpe. Não queria assustá-la. –disse, se aproximando de mim –Roland acordou enquanto eu tirava o termômetro. Ele quer ver você.

-Deixe-me ver o termômetro... –pedi –Trinta e oito graus, ele está febril. –constatei, encarando o objeto.

-E, agora? O que devemos fazer? –Percebi o semblante atônito no rosto de Robin. Assustado. É lindo ver a maneira como ele se preocupa com o filho.

-Primeiro você precisa se acalmar, -disse tocando seu braço –depois, pegue um pano úmido, há alguns na gaveta do banheiro, tem uma caixinha com remédio ao lado, traga ela também...ah, e leve um copo com água. Depois me encontre no quarto. Se ele não melhorar, eu ligo para uma amiga pediatra.

Ele consentiu. Retornei para o quarto.

Apesar da aparência abatida, Roland sorriu ao meu ver.

-Regina... –sussurrou.

-Olá, querido, como você está? –perguntei, sentando na cama ao seu lado. Segurei sua mão pequena. –Me diga exatamente o que está sentindo?

-Minha barriguinha... ela girando igual a um carrossel.

Levei a mão até a barriga dele.

-Você comeu algo que lhe fez mal?

-Aham... Eu estou com frio, Gina.

“Gina”, faz tanto tempo que ninguém me chama assim, sinto falta desse apelido carinhoso, posto por Roland e Robin. Sorri com a lembrança.

-Eu sinto saudade de você, querido.

Proferi acariciando seu rosto inocente. Um breve sorriso moldou meu rosto.

-Eu também, Gina. Meu papai também sente.

-Ele disse isso?

Perguntei, franzindo o cenho, enquanto o cobria. Não posso negar que meu coração acelerava descomedido pela expectativa da resposta.

-Disse. –ele tornou a dizer. Palavras sumiram de minha mente. Eu fiquei nervosa.

-E você, Gina? Sente saudade do meu papai?

Ele questionou. Eu não sabia o que responder. É claro que sinto falta do Robin, não tem um dia que eu não pense nele. Eu o amo, e sua ausência me corrói por dentro, porém, não há como explicar isso para uma criança de seis anos.

Antes de lhe responder finjo um sorriso.

-Sinto. Afinal, vivemos bons momentos, e agora somos... amigos.

-Mas, se você for amiga do papai, não vai ser mais a minha mãe –lamentou-Eu gostava da ideia de ter você como mamãe. –ele parecia pensativo –Se o meu papai pedisse você em casamento de novo, você casaria?

Sim. Eu casaria com Robin, é com ele que quero viver a minha vida...

-Roland, isso não vai acontecer.

Conclui com pesar, tornei a acariciar a mão dele.

Robin adentra o quarto, trazendo consigo o que eu lhe pedi. Pego o frasco do remédio e coloco algumas gotas no copo com água.

-Beba, querido. Isso irá curar você.

O convenci com um breve sorriso. Robin estava em pé diante de nós dois, percebi que ele me fitava de relance. Está diferente nesta noite. Notei isto, desde o momento em que abri a porta.

-Você está bonita, Gina.

Roland disse, enquanto me entregava o copo.

-Obrigada.

Agradeci sem graça.

-Não é, papai?

Roland fez questão de frisar. Robin me surpreendeu com sua resposta.

-Está linda!

Afirmou. Um arrepio percorreu o meu corpo. Nossos olhares se encontraram, posso estar enganada, mas, por um momento, acreditei ter visto desejo no seu olhar. No entanto, recordei que não foi a mim que o coração dele escolheu.

-O que vocês comeram? Roland disse que está se sentindo mal da barriga.

-Nós comemos o meu macarrão, estava delicioso!

-Não tava, não, papai.

Roland interveio. Não consegui conter o meu riso, logo o menino gargalhou. Robin nos afrontava espantado com a nossa reação. Sentou-se ao meu lado na cama, pude sentir o calor que emanava de seu corpo, sua respiração pesada chegou até minha nuca. É tentador ficar ao seu lado. Me sinto intensa. Mas, ele parece não perceber.

-Quer dizer então que vocês não gostam da minha comida? –inquiriu divertido.

-Digamos que você tem outros talentos, mas que a culinária não é um deles.

Todos nós rimos, naquele instante me senti de volta ao passado. Uma família em conciliação.

-É melhor eu ir fazer a gelatina para que você melhore.

Disse encarando Roland, aquele momento estava ótimo, mas, era apenas um momento... findaria no dia seguinte. Tornando-se algo para recordar. Eu não quero ter a ilusão de um momento perfeito e acordar sozinha logo mais.

-Não, Gina, me conte uma história. –Roland pediu, fazendo beicinho.

-Mas... –iria contestar, porém, Robin se opôs.

-Deixe que eu faço. Quem sabe assim não tenho a chance de me redimir –sorriu -Vou fazer a melhor gelatina do mundo!

Afirmou, piscando para o filho que bateu palmas.

Expliquei para Robin onde ficavam os objetos e ingredientes que ele precisaria usar. Por fim, retirou-se, deixando eu e Roland a sós.

-Então... qual história quer que eu conte?

-Hoje eu vou deixar você escolher.

-Hum... vejamos, que tal “A branca de neve e os sete anões”?

-Sim! A história dos anõezinhos!

Alguns minutos desde que comecei a narrar o conto se passaram. Embora proferisse a narração, minha mente divagava tentando compreender o motivo de Robin ter trazido Roland até mim e não a sua mãe...

-Infelizmente foram separados pela maldição do sono.

-Por que os casais têm que se separar?

Ele indagou. Tinha me esquecido o quanto Roland é inteligente. Tenho convicção de que a pergunta não se referia ao conto, e sim ao meu relacionamento com Robin.

-Infelizmente o amor acaba entre algumas pessoas. E para não ver o companheiro triste, o relacionamento chega ao fim. –proclamei sem perceber -Mas, esse não é o caso da nossa história, precisamos terminar...

-Você ainda ama o meu papai, Gina?

Ele perguntou antes que eu continuasse. Aquela inquisição me arrebatou de súbito. Hesitei por um instante. Deveria omitir, porém a verdade fora proferida de meu lábio.

-Sim. Eu ainda amo seu pai.

-Então vocês ainda podem ficar juntos! –exclamou animado.

-Roland, não é assim que as coisas funcionam –sorri entristecida- Seu pai se esqueceu de mim, do que ele sente por mim.

Confessar isso a Roland é doloroso. Como se tudo que me decepciona em relação a esse fato, viesse com mais intensidade. Meus olhos lacrimejaram ao pronunciar tais palavras.

-Ele se esqueceu de mim também –Lamentou, é perceptível a tristeza em sua voz. –Meu papai esqueceu os desenhos que eu mais gosto de assistir, esqueceu que eu não posso comer chocolate, não se lembra do dia em que me ensinou a andar de bicicleta... –Notei o quanto era perturbador para ele também ser uma memória perdida –Será que ele esqueceu do que sente por mim também? Por que ele não pode lembrar da gente?

Uma lágrima escorreu do rosto dele.

-Hey, querido, não chore. –Recostei ele em meu peito. Sequei sua lágrima. –Seu pai ama você da mesma maneira.

-Eu só queria que ele voltasse a ser o mesmo de antes.

Declarou piedoso.

Ficamos abraçados por um tempo. Minha mão afagava o cabelo encaracolado de Roland. Até escutar a barriga dele roncar.

-Acho que alguém está com fome. –disse tocando seu nariz.

-Será que o meu papai vai demorar muito? A melhor gelatina do mundo levando muito tempo para ficar pronta... a minha barriguinha reclamando.

Cruzou os pequenos braços.

Eu já sorria diante da reação do menino. As crianças têm a capacidade de nos fazer sorrir e chorar em um curto período de tempo.

-Vou ver o motivo de tanto atraso.

 Ao sair pela porta, vislumbro a figura de Robin de costas, recostado na parede. Parecia pensativo. Toquei seu braço, o mesmo virou-se de imediato. Naquele instante percebi que seus olhos estavam marejados, beiravam as lágrimas. Antes que pudesse lhe perguntar o que lhe afligia, ele me abraçou com destreza. Deixando que o pranto percorresse seu rosto, consequentemente umedecendo minha echarpe.

Sua cabeça pendia em minha nuca, os soluços dele me assustavam. Eu nunca o vi chorar, jamais presenciei uma lágrima escorrer de sua face, sempre tão astuto, ele não permitirá que eu o visse derramar lágrimas. Por fim, retribui o abraço, minhas mãos acariciavam sua costa. Embora não soubesse o motivo de seu pranto, quero ajudá-lo.

-Me desculpe, Regina. Eu sinto muito.

Proferia com a voz embargada por conta do choro. Eu ainda não compreendo a razão do seu pedido de desculpas. Essa reação inesperada de Robin está me deixando aturdida. O mesmo rompe o nosso abraço e me encara, posso ver sua face abalada.

Me perco na imensidão daquele olhar entristecido. Na tentativa de decifrar a razão de tanta emoção.

-Me desculpe por não lembrar de você, de Roland, me perdoe por decepcioná-los e não ser quem vocês esperam. Me desculpe por não corresponder ás expectativas, ou...

Naquele momento, eu compreendi que ele escutará a minha conversa com Roland. Me senti culpada, pela primeira vez pude testemunhar o quanto a ausência de suas memórias o afetavam mais do que eu imaginava. Algumas lágrimas traçavam seu rosto, as mesmas que eu fiz questão de conter, levei a minha mão as suas feições e as detive com o meu toque sob sua face.

Meu coração se partia ao vê-lo neste estado, também acelerava com o contato de nossos corpos. Minha respiração assim como a dele arfava.

-É a primeira vez que você me permiti secar as suas lágrimas.

Disse serenamente.

Robin fungou e depois gesticulou com a cabeça negativamente.

-Desculpe fazer você passar por isso. Eu me descontrolei. –suspirou –Ouvir Roland pronunciar aquelas palavras, a decepção em sua voz... eu sou um péssimo pai, ele ficou doente e...

-Hey... –toquei seu braço – a culpa não é sua, toda criança tem dor de barriga, Robin. E sobre o que você ouviu... Roland ama você, só quer ter um pai presente novamente. Pode satisfazer isso, até melhor.

-Você acha? –inquiriu surpreso.

-Claro! –consenti. –É claro que você consegue.

Sorri.

  Uma forte chuva se prenunciou, trovões e relâmpagos foram o único som audível em meu apartamento durante um tempo. Mais uma vez me perdia naquele olhar penetrante. Cujo as íris resplandeciam arrependimento.

-A gelatina está pronta? Roland está com fome.

-Ah, claro!

Ele apareceu rápido demais com a tigela suponho que havia a depositado sob a lareira, perto dos retratos.

-Espero que ele goste.

Comentou.

-Você não quer levar?

-É melhor não. Você faz isso melhor que eu.

Sorriu sem graça.

-Tudo bem.

Segui até o quarto.

-Regina...

Ele me chamou, ao encará-lo pude ver sua feição um pouco tímida, comparado ao homem que ele fora um dia. Estava com as mãos dentro do bolso da calça jeans desgastada. Os olhos ainda vermelhos por conta do choro.

-Obrigado.

Agradeceu. Consenti e retornei ao quarto.

-Você demorou! –Roland esbravejou.

-Estava conversando com o seu pai.

-Por que ele não está aqui?

-Seu pai... está fazendo um favor para mim. Gostou da gelatina?

-Sim! Está deliciosa! – afirmou com a boca cheia. Eu sorri.

-Vai com calma. Precisa se curar e não abusar.

-Sabe Regina, essa gelatina me lembra você.

-Eu? –Franzi o cenho.

-É doce e tem o coração mole.

Gargalhei. Roland é a criança mais fofa que conheço.

-Não mais que você! –Toquei seu nariz.

O riso de Roland contagiava o aposento que sempre é sossegado. Seu sorriso aquecerá meu coração, amenizando o nervosismo e a minha preocupação instaurada em meu peito ao vislumbrar Robin e seu olhar entristecido.

 

 

 

 

                                                                                     Robin

 

                                                               (Hunger – Ross Copperman)

 

 

 

  Em minhas mãos está o retrato com uma foto nossa, a mesma que encontrei dentro de meu livro, semanas atrás. Meu olhar fitava as fotografias depositadas sob a lareira. Minha figura está presente na maioria delas. Pondero o quanto fora perturbador para Graham ver tantas fotos minhas espalhadas. Ainda sou uma lembrança constante na vida de Regina.

Acariciei a fotografia como fiz da primeira vez que a vi.

-Qual o motivo desses sorrisos? –sussurrei –Por que é tão difícil lembrar?

-Robin... –sua voz doce me chama. Me afrontava surpresa, seu olhar atento fitou a foto, tornando a me encarar. –Eu não sabia que você ainda tentava lembrar.

Comentou aproximando-se.

-Eu tento, mas não consigo.

Notei que ela me fitava ainda espantada pela revelação. Invadi seu espaço pessoal, era possível sentir a respiração dela. Ofegante.

-Você realmente acha que eu não penso naquela noite? Nas suas palavras? Eu tento lembrar quais as razões que fizeram eu me apaixonar por você todos os dias.

Ousei. Levei minha mão ao rosto dela, contornando sua face macia. Entretanto, ela hesitou, não consegui finalizar minha declaração.

-Você quer beber algo?

Ela questionou afastando-se.

 

 

 

                                                                                       X X X

 

 

  Já havia tragado uma taça de vinho, Regina me servirá a segunda. Ela aparentava apreensão com a bebida em mãos, como se fosse sucumbir. Não havia sorvido um gole sequer. Apesar de atento a esses detalhes prestava atenção no que ela proferia.

-Roland irá se adaptar. Você vai ver.

-Obrigado, Regina, pelo que você fez por mim. Você não tinha obrigação. É fácil compreender porque todos da minha família te adoram.

Ela suspirou, fitando a taça em mãos.

-Regina? –ela me encara –você parece aflita.

-Eu não sou esse anjo que a sua família pensa. Cometi erros. –parecia recordar de algo –Mas, não sou uma pessoa ruim, sou humana.

-Não consigo imaginar você cometendo erros, parece tão... perfeita.

Elogiei. Regina sorriu tímida. Sua expressão logo fora desfeita.  

-Mas, eu cometi. –ela disse encarando o chão. Encolheu-se no sofá. Cobriu as pernas com um cobertor que trouxera do quarto minutos atrás, antes de nos sentarmos.

-Existem situações do meu passado que não revelei a você, omiti. –a encarei intrigado. Neste momento ela fitava nossas fotos na lareira que ficava a nossa frente. Parecia distante... –Nós tínhamos um relacionamento perfeito. Fiquei com medo de estragar tudo. Decepcioná-lo, não queria perdê-lo. Por isso ocultei algumas coisas. Dê uma forma ou outra, acabei perdendo você. Como não está mais apaixonado por mim, não encontro razões mais para decepcioná-lo.

Eu estou apaixonado por você Regina. Meus pensamentos diziam, porém, eu sou incapaz de proferir. Eu tenho certeza que você jamais me decepcionaria.

-Eu já fui alcoólatra.

Ela confessou. Despejou as palavras tão rapidamente que eu demorei alguns segundos para assimilar o que ela me contará. A mesma depositou a taça com o vinho sob a mesa de centro. Somente então pude compreender o motivo daquele comportamento, enquanto tinha a bebida em mãos. Divagava até perceber que ela me encarava esperando pela minha resposta.

-Regina, –cobri a mão dela com a minha –acredito que isso não seria um empecilho para mim. A minha paixão por você não diminuiria, enfrentaria ao teu lado seu problema e a sua dependência.

Finalizei. Eu disse pelo homem que sou agora, mas ela não percebeu. Logo depositei minha taça ao lado da dela, sem desvencilhar nossas mãos. Ela não hesitou meu toque e eu aproveitaria esta oportunidade. Por um momento, o olhar dela se iluminou, encantada.

-Isso não é tudo –pigarreou. Parecia refletir. Um silêncio se originou entre nós. Rompido pela própria. –Eu... eu... –os olhos dela marejaram, sua dor era evidente. Apertei sua mão encorajando-a. –Eu matei minha mãe. –Revelou. Sua voz era carregada de culpa. –Por causa desse maldito vício.

Eu estava confuso e não compreendia muito bem o que ela me dizia. Como sempre, Regina pareceu ler os meus pensamentos, tornando a falar:

-Se eu não tivesse bebido naquela noite, não teríamos discutido no carro e não sofreríamos aquele acidente. –Lágrimas eram derramadas pela sua face delicada. Era minha vez de contê-las.

-Você está muito bela para chorar está noite. –Frisei mais uma vez o quanto ela está linda, me deslumbra. Meus polegares traçaram seu rosto. Ela me fitava de relance. –Não se culpe. Sua mãe partiu quando foi necessário, a missão dela foi realizada neste mundo.

Pensativa, ela ponderou:

-Você acredita mesmo que nós viemos destinados com missões para cumprir?

Ela perguntou mudando de assunto. Deveria machucá-la falar de sua mãe. Eu respeitaria sua dor.

-Acredito. Embora, não tenha a mínima ideia de qual seja a minha missão por aqui.

-Eu também não sei.

-Um dia vamos descobrir.

Comentei esboçando um pequeno sorriso. Após um silêncio, ela tornou a falar do assunto anterior.

-Acho que é por isso que eu tenho trauma de dirigir até hoje.

-Mas você dirigia para nos levar aos lugares que costumávamos frequentar.

-Nos sacrificamos pelas pessoas que ama...pelas pessoas que são especiais.

Amamos. Amamos. Amamos. É isso que ela iria dizer. Eu já sabia que Regina ainda me amava, ouvi sua conversa com Roland mais cedo. Porém, quase escutar essas palavras de seu lábio era uma sensação completamente diferente. Sequer ouvi suas últimas palavras. Preciso encontrar um caminho de dizer a ela como me sinto...

 

                                                          (Ed Sheeran - Thinking out loud)

 

-Regina, no tempo em que passamos juntos você não me contou como nos conhecemos.

-Você quer saber?

-Adoraria.

Por um instante, ela pareceu divagar profundamente dentre suas memórias. Eu a invejei. Gostaria de saber exatamente o que senti quando encarei seus olhos pela primeira vez.

-Foi em uma tarde de verão no pentágono, Emma sugeriu que eu me voluntariasse e ajudasse na ala médica, assim o fiz. Você havia se machucado, eu cuidei de você, do seu ferimento... –agora entendo como me apaixonei por ela, imagina sentir o toque dela suave em minha pele, logo de início. Se eu pudesse lembrar... –Tivemos uma conversa agradável, mas depois você foi embora agitado, parecia nervoso.

Ela ponderava encarando o próprio pulso, movimentando a pulseira dourada.

-Compreendo perfeitamente. É fácil demais ficar nervoso ao seu lado.

Regina me fitou espantada. As palavras foram proclamadas sem aviso. Antes que eu pudesse avaliar se devia, ou não, pronunciá-las.

Um silêncio constrangedor fora instaurado.

-Ah, antes de sair, você me disse... –Regina engrossou a voz tentando me imitar –“Acredito que deixarei alguém surrar meu rosto na próxima quarta. ”

Eu gargalhei, uma risada contagiante há muito esquecida.

-Parece até eu falando.

Eu disse irônico. Ela riu tanto quanto eu. Somente quando perdemos o fôlego o riso foi contido.

-Meses depois você me confidenciou que eu fui o motivo daquele roxo no seu rosto.

Eu sorri ao comentar:

-As pessoas se apaixonam de formas misteriosas.

Com o olhar brilhante ela concordou.

-É mesmo.

  Meus olhos percorreram o ambiente ao redor, tornei a fitar aquela foto que tanto me deixava intrigado. Desvencilhei nossas mãos que permaneciam unidas há um bom tempo. Peguei o retrato. E me sentei ao sofá novamente, mais próximo de Regina dessa vez.

-Nós estávamos felizes nesse dia. –comentei. Esperando por alguma história, mas ela não disse nada. –O que aconteceu? –Perguntei por fim.

-Havíamos comprado a nossa casa. Estávamos no quintal dos fundos. Chamamos os seus irmãos, você fez bife na grelha para comemorar. Louisa tocou, Roland aprendeu a andar de bicicleta. Foi um dia perfeito.

Ela acariciou a foto da mesma forma que eu, há pouco mais de uma hora atrás...Suspirou. Me arrependi de trazer à tona memórias que ela mantinha adormecidas. No entanto, sou surpreendido no instante que um sorriso floresceu de seu lábio. Logo substituído por gargalhadas. A risada dela é tão gostosa de ser ouvida, poderia escutá-la minha vida inteira.

-O que mais aconteceu nesse dia, hum? –Perguntei, franzindo o cenho.

-Você quase causou um incêndio no nosso imóvel recém adquirido.

Contou em meio ao riso.

-Agora você me deixou curioso. Me explique isso melhor.

-Você colocou a churrasqueira portátil dentro de casa, próximo demais da janela. Acreditava que o fogo já estivesse apagado. Não viu que havia resquícios dele. Estávamos na varanda contemplando as estrelas... –Nós contemplávamos as estrelas –Quando entrou para pegar refrigerante, berrou –ela novamente imita a minha voz. Como é linda sorridente. –“MEU DEUS, REGINA! TEM FOGO AQUI! ” Me lembro com exatidão da sua expressão de pavor. -Ela ria com mais intensidade.

-Por sorte eu me lembrei que havia um esguicho no quintal, o liguei apressada. Quando retornei você estava sem essa camisa –levou o dedo na fotografia -,havia tirado ela na tentativa de conter o fogo, porém as chamas se alastraram ainda mais pela cortina e também pela camisa.

Nós dois gargalhávamos sem parar.

-Como tudo terminou?

Perguntei. Minha barriga doía de tanto rir.

-Eu fui a salvadora da noite, corri rapidamente com o esguicho e lancei água sobre o fogo. Quando as chamas foram contidas, todo cômodo foi inundado por água. Depois de alguns segundos, todo o nosso nervosismo foi rompido, olhamos ao nosso redor e rimos por horas e horas, como agora. –Ela sorriu. –Foi um dia divertido!

-Pelo que você me contou, imagino que sim.

Eu disse, frustrado por não conseguir lembrar.

-Como está seu relacionamento com seus irmãos?

Suspirei.

-Tentamos manter um convívio estável, mas, eles não conseguem me compreender. E, para ser sincero, eu também não. Semana passada, David me disse que nós ficamos mais de um ano sem nos falarmos. Eu já sabia que nós havíamos brigado quando desonrei meu casamento, só não tinha ideia de que era tão grave.

Exprimi essas palavras, decepcionado comigo mesmo.

-Não se martirize mais por isso...Uma vez David me disse que via em você um exemplo de homem que ele seguia. Confessou que admirava você, o irmão mais velho que tinha. Contemplava sua coragem em enfrentar batalhas, sua determinação...

-Meu irmão disse isso? –perguntei incrédulo.

-Sim. David ama você. Ele ficou magoado pela figura do homem que ele tanto admirava ter cometido um erro. Mas, como disse a ele naquela tarde, torno a dizer agora, as pessoas que mais amamos, nos decepcionam ainda mais. O amor enfraquece, começam as discussões, mas, mesmo frágil o amor não acaba. Não se preocupe, seus irmãos estão tão perdidos quanto você. Dê um tempo a eles.

A cada palavra pronunciada por Regina, eu me apaixono ainda mais. Como ela pode ser tão gentil comigo? Apesar de tudo.

-Parece que as coisas estão se repetindo.

Comentei com um pequeno sorriso.

-Como assim? –ela inquiriu, aparentava cansaço.

-David também me disse que você foi a responsável pela nossa reconciliação. E agora é como se fizesse o mesmo.

Por instantes, nenhum de nós disse nada.

-Sabe, Regina... –ponderava se devia, ou não falar, por fim prossegui –Eu posso ter feito muitas coisas das quais não me orgulho ao longo desses seis anos. Me arrependo de todas elas, e sei que ainda irie me decepcionar mais comigo mesmo. Porém, tenho a certeza de afirmar que fiz uma única escolha correta nesse tempo.

-O que? –ela perguntou sonolenta.

-Você.

Proferi suavemente.

-Está flertando comigo, Tenente Lockesley?

-Estou tentando.

  A chuva continuava a cair em cântaros. O ambiente estava propício para que eu revelasse meus sentimentos. Entretanto, sinto a cabeça de Regina pender em meu ombro, cansada, dormiu ali mesmo. Eu sorri com a visão que tinha... Com cuidado levei minha mão até o ombro dela, abraçando-a. Sua cabeça fora apoiada em meu peito. Se ela estivesse acordada escutaria as batidas saltitantes de meu coração.

Dividimos nesta noite tantas frustrações, angústias, medos, confidências. Compreendo todas as razões que fizeram eu me apaixonar por ela, só falta lhe revelar meus sentimentos. Tracei meus dedos pela sua face, feliz, fora em meus braços que ela adormecerá. Será comigo que ela passará está noite. E, pela primeira vez em pouco mais de um ano, não fui assolado por pesadelos durante a noite.

 

 

 

 

                                                                                     Louisa

 

 

 

                                                                           Domingo de manhã

 

 

  A tempestade não findará um minuto sequer desde a noite anterior. Embora houvessem relâmpagos e trovões, ambos não conseguiam sobressaltar sobre os gritos exasperados de minha mãe.

-Eu já disse que não, Louisa!! Você não tem idade para estar apaixonada...

-Mas, eu gosto do Benjamim.

-Você não sabe o que está falando! Além do mais, eu não permito que você saia com um rapaz que eu nem conheço.

-Mãe, por favor, o Ben disse que vem aqui...

-NÃO! Pare de insistir! Maldita hora que eu coloquei você naquela escola de música! Segunda feira vou cancelar sua matrícula. Não quero mais que você frequente aquele lugar.

-Não, mãe, por favor, você não pode fazer isso. A música é a minha vida!

Eu dizia desesperada, minha mãe conseguiu estragar minha felicidade. Está destruindo os meus sonhos... lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto.

-Pensasse nisso antes de se envolver com um garoto que deve estar debochando de você e da sua deficiência visual.

-Isso é mentira! Benjamim gosta de mim –suspirei-, até quando você vai me prender por causa dessa deficiência?

-Estou protegendo você.

-Isso é tudo, menos proteção.

-Você nunca entenderia... minha decisão está tomada.

Mesmo sem sentir de fato esse sentimento eu disse:

-Eu odeio você!

Afirmei enquanto minha mãe batia a porta bruscamente.

Lágrimas percorriam meu rosto. Não consigo compreender o motivo de tanto amparo.

  Acredito que minha mãe me trata assim porque me considera um fardo a mais para carregar. Estou cansada de tudo isso. Eu só quero...só quero ser normal.

Ouço movimentos no andar de cima. Logo o chuveiro é ligado. Vou até a gaveta do meu criado mudo, pego todo o dinheiro que tenho. Devagar e com cuidado, para não fazer barulho, me retiro. Cansei de ser proibida, quero ser livre.

Experimentei a sensação de ser banhada pela chuva, e tenho convicção de que tomei a decisão certa. Então comecei a correr, corri até não sentir mais o ar em meus pulmões, e então tropecei em alguma coisa que não posso ver e caí. Já não sabia mais o caminho de voltar.

 

 

 


Notas Finais


Ross Copperman: https://www.youtube.com/watch?v=L7QIYXGL8m8

Ed Sheeran: https://www.youtube.com/watch?v=lp-EO5I60KA

E aí o que acharam? Gostaram da relação de Robin e Regina? Roland... espero que tenham gostado, por apesar de cansativo, esse capítulo serviu para que ambos, se abrissem mais um com o outro, e constituíssem novos laços.
Mas, e Louisa? O que será que vai acontecer... isso fica para o próximo capítulo. (suspense básico)
Prometo, responder todos comentários e mensagens até amanhã.

Como algumas já sabem, essa semana eu postei uma one-shot OutlawQueen "Messa in a bottle", agradeço a todas que leram e já comentaram <3 vocês são as melhores. E, se alguém não leu ainda e tem interesse vou deixar os links abaixo.

Spirit: https://spiritfanfics.com/historia/message-in-a-bottle-7759002

Nyah: https://fanfiction.com.br/historia/722697/Message_in_a_bottle/

Espero que gostem... <3

Um beijão a todas, até a próxima atualização. :)
Ps: Dois meses para a volta de Corações Feridos.


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