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História Quatro Estações - Quando é preciso partir


Escrita por: TaisWriterOQ

Notas do Autor


Boa tarde gurias ♥ só tenho a agradecer por tudo, pelos comentários, opiniões, favoritos... vocês são demais. :D
PS: Surpreendida pelo fato de algumas de vocês estarem com pena do Robin, isso me deixa mais feliz, saber que enxergam o lado bom dele, um lado que ele ainda não percebeu que tem, mas a gente sabe. hahaha
Tenho um desafio a lançar e realmente espero que ele se realize, bom a fanfic tem mais cinco capítulos pela frente, acredito que falte um mês para seu término visto que nesta data ela completará 6 meses... E, eu gostaria muito que até lá chegássemos aos 200 favoritos, hoje somos 167, ficarei grata se conseguir realizar. ♥
Ah, como já devem ter percebido, hoje é aniversário de 5 meses da história! Parabéns para Quatro Estações! :D
Bom, escrever esse capítulo foi um grande desafio, eu realmente fiquei muito triste após finalizar algumas cenas.
Eu tinha uma ideia em mente e resolvi mudar, por essa que considero melhor, apesar do sofrimento... vai tudo de uma vez só...
Escutem a playlist pessoal, (LINK NOTAS FINAIS) para quem gosta da Anahí, esse capítulo está recheado das suas canções que me inspiraram demais para escrever. Em alguns trechos há traduções de suas músicas.
Já acessem o link agora, para ouvir a primeira canção, Absurda, cujo um pequeno trecho consta no início do capítulo.
Boa leitura, e sobrevivam! ♥

Capítulo 24 - Quando é preciso partir


Fanfic / Fanfiction Quatro Estações - Quando é preciso partir

                                                                               Absurda-Anahi


                                                                                    “Não é culpa da lua

                                                                      Nem do céu, nem do sol

                                                                  Seu instinto continua doente

                                                              Não sabe de lições o seu coração


 

                                                                   Você sempre se mentiu

                                                                    Perdida em seu olhar

                                                         Porque continua procurando agora

                                                                 Onde não há mais nada


 

                                                                      Acorda absurda

                                                                Não continue no escuro

                                                                     Ele nunca te quis

                                                             Ele só te fez provar a loucura


 

                                                                     Acorda absurda

                                                                    A vida não é isto

                                                      Abra os olhos, empurra e esqueça... ”

 

 

 

 

 

 

                                                                                         Regina

 

 

 

  O ranger agudo do trem seguindo a margem dos trilhos era o único som que eu escutava ao longo da viagem, acompanhada pela respiração leve de meu pai ao lado. Minha cabeça pousava sobre o vidro, enquanto eu observava a lua alva, brilhante, seguida por estrelas, em perfeito contraste. Perdida em meus próprios devaneios.

   Após ouvir a ligação, tratei imediatamente de procurar pelo meu pai, desesperada. Me repreendia por mais uma vez ter sido egoísta, preocupada somente com meus problemas. Seu estado é lamentável.

Eu não estou preparada para perde-lo. Embora soubesse que esse momento chegaria, não havia me composto para me despedir. Todavia, neste instante, partíamos rumo a Hampton, onde se localiza a pousada de minha tia, Granny, com quem ele também gostaria de passar seus últimos dias de vida. Portanto, planejei apressadamente essa viagem repentina. Uma fuga de minhas próprias desilusões.

Sem retorno para voltar.

  Vislumbrar a figura de meu pai desfalecer aos poucos é: apavorante. A sensação de impotência inunda meu ser, me acusando mentalmente por não ser capaz de salvar o único homem que me amou verdadeiramente, sem esperar nada em troca.

Principalmente uma médica como eu, que fui renomada, por um longo tempo. Salvei tantas vidas, e agora a de meu pai escorre dentre meus dedos.

  Observo os passageiros que ocupam assentos ao lado esquerdo, imagino uma história para cada um deles, questionando se ambos já viveram ou vivem, uma história tão tenebrosa quanto a minha. Recordei instintivamente em meu marido.

Nesse momento enquanto ocupo o vagão do trem que segue seu percurso, sou contagiada por lembranças alegres, as mesmas que devem ser guardadas com desvelo, se fossem reais.

 

 

 

 

                                                                                         X X X

 

 

   Chegamos cedo na pousada de minha tia, o dia ainda alvorecia. A grande residência a beira da praia, de cor cinza com aberturas azuis, aguardava nossa chegada. Fitei ao redor, observando a tranquilidade que o ambiente transmitia. O vento atingia meu rosto, levantando poeira, enquanto mais distante o mar oscilava.

Recebidos por abraços calorosos de minha tia e sua neta, Ruby, a jovem de cabelos negros com mexas vermelhas.

A irmã mais velha de meu pai o encarava comovida, com o olhar marejado. Após nos encaminhamos até a cozinha, onde uma mesa farta de gostosuras nos aguardava. Apesar de tristes todos tentavam manter um clima agradável durante a refeição, passei grande parte do tempo fingindo sorrisos, enquanto por dentro desmoronava.

Por fim, meu pai resolveu descansar em seu aposento, deixando eu na companhia de Granny e Ruby.

-Querida, eu sinto muito que você esteja passando por isso –lamentava minha tia afagando minha mão enquanto eu divagava fitando as torradas a minha frente –Está abatida, precisa descansar.

-Eu farei isso, meu pai precisa de mim... –murmurei atuando mais um riso falso –Obrigada, tia, por nos receber em mais um momento difícil. A última vez que estive aqui a senhora me ajudou tanto me encorajando a seguir em frente.

-Nós somos sua família, estamos aqui para isso. Por tocar nesse assunto, você sabe o que aconteceu com aquele homem que lhe enviava aqueles bilhetes e fazia aquelas ligações? Que fez você fugir para cá um tempo...

-Eu me casei com ele.

Respondi, o que fez minha tia se engasgar com o café que ingeria. Encarando Ruby de relance.

Expliquei a ambas como tudo havia acontecido, desde que nos conhecemos até a noite em que tudo tinha sido descoberto.

-Eu nem sabia que você tinha casado...

-Foi uma surpresa até para mim, Robin planejou tudo ás escondidas, foi perfeito –encarei minha aliança –Até eu descobrir que não era real.

Conclui com o olhar lacrimejado.

-Meu deus, olha o que esse homem fez com você? –questionara minha tia.

-Como alguém pode ter sido tão ruim? –interveio Ruby.

É horrível ouvir essas constatações de minha família em relação ao meu marido, sequer posso lhe defender, jamais terei argumentos cabíveis. Afinal, Robin carrega consigo as piores características.

-Você ainda o ama, não é?

Minha tia perguntou diante do meu silêncio. Com a voz embargada e o coração apertado, sentindo o nó se fechar em minha garganta, respondi:

-Sim.

O choro veio sem aviso e logo Granny recostou minha cabeça em seu ombro.

 

 

 

                                                                                         X X X

 

 

 

   Sentada na varanda sob os degraus da escada, sentia a areia sob meus pés descalços. Apesar de já estarmos na última semana do verão a quantidade de turistas na praia ainda é grande.

Observo um homem e um menino, afastados de mim na beira do mar, o mais velho ensinando o pequeno garoto a alçar uma pipa vermelha. Brevemente imagino as figuras de Robin e Roland fazendo o mesmo em um fim de tarde qualquer desta estação, eu estaria segurando nossos sorvetes de creme e chocolate que derreteriam em minhas mãos.

Soltei um longo suspiro, repreendendo a mim mesma por tal absurdo. Ele não ama você –, uma voz soava em minha mente -na tentativa de dispersar esses sentimentos afrontei o lado oposto admirando a figura de uma mulher ao lado de uma menina montando um castelo de areia.

O pensamento de como a vida é injusta veio à tona, sem que eu pudesse evitar. Estou rodeada de pessoas que aparentam estar felizes enquanto a minha vida está um caos. Toda vez que penso nos planos de meu marido, me sinto destruída, e toda vez que vejo olhar de meu pai, me sinto tão esvanecida quanto ele.

  O olhar aversivo de Robin ao me chamar de assassina, me machucava e assustava na mesma medida. Me culpo por não ter percebido que ele nunca me amou. Fui enganada por anos sem desconfiar de nada. O que faz eu me sentir tola. Eu deveria odiar ele da mesma maneira que ele fez comigo, porém, eu não consigo. Só me resta sentir raiva.

Raiva pelo passado vivido de mentiras e pelo futuro repleto de sofrimentos. Raiva, apenas.

Repulsa.

  Me livrando desses pensamentos, me viro para trás encarando a janela, me possibilitando de enxergar meu pai e minha tia que juntos vislumbravam um álbum de fotografias, apesar de estar acostumada eu não aguentei assistir as expressões duvidosas e repletas de questionamentos que meu pai transmitia é doloroso demais. Sendo assim resolvi ficar aqui fora e refletir em todo tormento que minha vida tem se tornado.

Associo essa fase obscura assemelhando-a com os filmes quando os personagens protagonistas enfrentam problemas. Naqueles instantes que uma música dramática de três minutos ressoa ao fundo, acompanhada por um conjunto de cenas tristes. Entretanto, a realidade quase nunca imita a arte, minha cena melancólica não terá um final feliz em menos de alguns minutos. Talvez leve a vida toda.

 

 

 

 

                                                                                        Outono

 

 

 

  O sol tímido de outubro era contemplado por mim e pelo meu pai, sentados sob as cadeiras de vime branco na varanda. Sentindo o soprar do vento roçar bruscamente em nossos rostos, bagunçando meus cabelos. O mar a nossa frente está agitado com grandes ondas chocando contra si mesmas.

Três semanas após nossa chegada se passaram. A situação de meu pai se agravava ao suceder dos dias o que era estarrecedor de presenciar. Sinto a mão dele que está entrelaçada a minha me apertar com força.

-Eu quero viajar pelo mundo, realizar meu sonho... –ele comentou me despertando de meu devaneio.

-Pai –engoli em seco, hesitante –O senhor não tem...

-Tempo... –interveio, fitando o céu enegrecido –Eu sei, mas não é como você pensa. Que quero que jogue minhas cinzas ao mar, assim poderei viajar ao redor do mundo –me encarando ele prosseguiu –Poderei ficar com você, mesmo sem estar.

Sensibilizada deixei que meus olhos ardessem em lágrimas que eu deveria evitar serem derramadas. Ele sorriu levemente antes de retornar a encarar o céu que insinuava o início de uma tempestade. O mesmo parecia desfrutar do tempo que a natureza oferecia os olhos fechados aproveitando cada momento, entregue.

Uma estranha sensação acometeu meu peito, trazendo consigo aquele desespero que tanto tememos. Acompanhado pelo medo. Atônita, fora a minha vez de comprimir nossas mãos. Inconformada com o que a vida nos reservava.

Permanecemos na varanda até os pingos leves da chuva engrossarem.

  Uma hora depois, estávamos reunidos a mesa, jantando a luz de velas, por conta da terrível tempestade que assolava a cidade, deixando-a sem energia elétrica. Minha tia nos contava que as fortes tempestades eram comuns nessa época do ano e que viriam outras piores. Apesar da falta de luz, tivemos um jantar agradável dentro do possível.

 

 

                                                                       (Gabrielle Aplin – Salvation )

  

 

  A pouca memória que restava em meu pai ainda era possível fazê-lo dizer que me amava todas as noites antes de colocar ele para dormir.

Neste instante eu lhe acomodava sob os travesseiros de algodão, cobrindo seu corpo com uma coberta grossa.

-O que tem te perturbado nesses dias?

Ele inquiriu me deixando surpresa com a pergunta repentina.

Nas semanas que sucederam eu tentei com fracasso pensar em Robin o menos possível. Embora durante os dias eu evitasse recordar quaisquer resquícios de nosso relacionamento, as noites no silêncio do meu quarto eu chorava acomodada em meu travesseiro, as lágrimas caiam até eu adormecer, o pranto não cessara, refletindo o sofrimento que a alma achara que jamais findara.

Diante da ausência de minha resposta, meu pai continuou, como se soubesse meus pensamentos.

-Eu tenho Alzheimer, mas não estou cego –proferiu me surpreendendo mais uma vez –Então, por que carrega essa tempestade de sentimentos em seu olhar?

-Como você ainda pode me reconhecer tanto?

Perguntei com a voz trêmula.

-Querida, o fato de eu estar morrendo não me impede de conhecer você. Agora, me diga, o que tem te atormentado?

Voltou a indagar, movimentando as mãos, pedindo para que eu me sentasse ao seu lado na cama, assim o fiz, segurando sua mão logo em seguida.

-O medo –respondi omitindo verdades.

-Medo?! De quê?

-De ficar sozinha –bradei acompanhada por uma lágrima.

-Filha... você jamais ficará só, por trás de tudo isso haverá uma grande lição.

Ele sorria genuinamente enquanto eu, chorava.

-Pai, o senhor está morrendo... –murmurei com a voz embargada -Como pode estar conformado?

-Eu vou encontrar sua mãe.

Revidou sorrindo comovido, me deixando sem palavras. Meu lábio fora aberto, mas nada consegui proclamar.

-Um dia o seu momento vai chegar e nós também vamos nos encontrar. Mas o seu está longe de acontecer, alguém estará no meu lugar para te proteger. Há muitas vidas para você salvar ainda, filha –dissera meu pai, docemente. Sem saber que antes eu precisava salvar a mim mesma.

-Eu só lamento de não poder ter visto você casar, te levar junto de mim no altar, ver meus netinhos correndo pelo quintal...

Ele declarava me fazendo chorar ainda mais, o sintoma de sua doença se fazendo presente entre nós mais uma vez. Suas palavras me faziam recordar do dia que no passado jurei ser o mais feliz de minha vida.

Eu vislumbrava a decepção no olhar do meu pai, por não “poder” ter participado de uma data tão significativa. Sem pensar o interrompi.

-Pai... o senhor estava lá.

-Você se casou? Eu te acompanhei na igreja?

-Sim. Mas, não foi realizada uma cerimônia religiosa.

-E, onde está seu marido?

Ele questionou. Estarrecendo meu peito de uma emoção irreversível, que me fez chorar enquanto fitava a aliança dourada que ainda decorava meu dedo em uma tentativa fracassada de que eu ficasse mais perto do homem que eu ainda amava.

-Eu não sei...

Proclamei sincera diante do pranto descomedido. Meu pai me acolheu em seus braços quentes, depositei minha cabeça em seu peito, soluçando.

-É por isso a tristeza em seus olhos?

-Sim. Mas não é maior que a dor de te perder.

Confuso mesmo sem saber ele tentava me compreender.

-O que houve entre vocês? Não minta para mim.

Acabei lhe revelando algumas poucas verdades sobre nossa separação mesmo que ele não fosse lembrar amanhã.

-Você não vai ficar muito tempo sozinha.

Vociferou despertando em mim certa curiosidade.

-Eu não sei se vou aguentar...

-Eu esqueci de muitas coisas, mas ainda consigo lembrar do dia que lhe ensinei a andar de bicicleta...

-Lembra? –inquiri enquanto o choro cessava.

-Sim. Você achava que não conseguiria andar sozinha e seguir em frente, e após dois ou três tombos estava lá, linda, passeando sorridente, pela vitória conquistada –meu pai sorria assim como eu, enquanto recordávamos juntos daquela manhã tão especial –Agora você está passando por isso de novo, na vida é preciso cair algumas vezes para aprendermos a levantar. E você vai conseguir, eu sei.

Ele mencionava com tamanha certeza. Beijei sua mão, emocionada.

-Eu sinto muito por partir no momento em que seu coração está tão apertado...

-Tudo bem –sussurrei para tranquiliza-lo –Você não vai morrer está noite ainda, há muito a ser partilhado –murmurei com a voz trêmula novamente, tentando convencer a mim mesma. Ele sorriu brevemente, como se pensasse o contrário –Agora, beba o seu chá, antes que esfrie.

Orientei, me levantando e secando algumas lágrimas ainda presentes em meu rosto. Após, entreguei a xícara que estava sob o criado o mudo, nas mãos de meu pai. O mesmo pediu que eu me abaixasse para que ele pudesse depositar um beijo em minha testa, o qual ele selou com uma afetuosa ternura, o momento do qual eu guardarei em minha memória eternamente.

-Estou com frio, você pode buscar mais um cobertor para mim?

-Claro.

Segui até a porta parando em seu marco ao ouvir ele pronunciar:

-Eu te amo.

Me virei para o mesmo afrontando seu olhar profundamente, antes de declarar pela última vez o quanto lhe amava. Aquela fora a nossa despedida.

  Fora em meados de outono, numa noite fria, cujo vento soprava na janela fortemente, um dilúvio de água jazia do céu que, enquanto caminhava aturdida pelo corredor iluminado apenas por uma única vela, eu escutei o vidro da xícara de porcelana colidir-se ao chão. Lágrimas percorrem minha face no mesmo instante em que eu concluía que meu pai morrera.

 

                                                                    Te puedo escuchar- Anahi

 

                                                                     “  Você se foi sem avisar

                                                                 Te procurei, mas você não estava

                                                                         O destino quis assim

                                                                          Mas sua alma não irá


 

                                                                    Era meu cúmplice nos sonhos

                                                             Sabíamos que um dia voaríamos juntos


 

                                                                Sei que suas asas ficaram comigo

                                                       Que mesmo no céu, seu abraço é meu refúgio

                                                                   Anjo divino me protege do mal

                                                         Sei que sigo em frente com sua companhia

                                                                 Que sua voz alegrará meus dias

                                                               Mesmo que você já tenha partido

                                                                             Posso te escutar


 

                                                  Guardo o ar do seu sorriso que me trás a felicidade

                                                Lembro de você perto de mim compartilhando sua paz

                                                                    Tanta alegria me dava te ver

                                                                     Não esqueço de te querer

                                                                    Ainda que me faça chorar...”

 

 

 

 

 

                                                                               UM DIA DEPOIS

 

 

 

  O luto era evidente. Não apenas pelo manto preto que me cobria, mas também pela amargura que refletia em meus olhos, estes fixados no mar a minha frente. As ondas seguiam seu caminho pela areia, molhando meus pés, no mesmo instante que fortes lufadas de vento roçavam em minha face, abatida.

Uma tormenta de dor. Um olhar tempestuoso de sentimentos, trazendo consigo lágrimas que eu não conseguia derramar. Insípida. Deixava apenas a expressão de desagrado visível. Enquanto por dentro, eu decaia, desfalecida.

O medo da solidão me acometia, assim como a culpa pelo o que não foi feito. Na mesma medida em que lembranças de velhos tempos, em que a felicidade ainda era presente em nossas vidas... O que não passava de um prelúdio de contentamento.

O tão temido vazio me sobreveio, acompanhado por uma dor no peito, impossível de conter. Também tinha o nó na garganta, seguido por aquela sensação apavorante de nada ser capaz de proferir.

  As mãos agitadas seguravam a garrafa, a mesma que carregava as cinzas de meu pai. Acompanhadas por um pequeno bilhete, com algumas letras borradas, devido a tinta da caneta, cujo as palavras foram redigidas com minhas mãos trêmulas.

 

                                                                           Henry Hooper Parker

                                                                        17/07/1953 – 24/10/2017

                                                                    Ótimo pai, marido e amigo.

                                                            Realize seu sonho, viaje pelo mundo.

 

 

 

  Um pouco mais afastadas, Granny e Ruby, presenciavam o momento que eu pedi para ser partilhado a dois.

Me certificando de que a rolha prendia com firmeza o que continha no recipiente. Lancei as cinzas de meu pai ao mar, deixando que este a levasse consigo, desejei que a garrafa viajasse ao redor do mundo como meu pai sonhara.

-Um dia a gente vai se encontrar, adeus, pai.

Constatei em um sussurro, com a voz entrecortada, esboçando um sorriso melancólico. Enquanto meus olhos arderam em lágrimas que pude conter.

  O mar com tamanha destreza conduzia a garrafa que eu ainda podia avistar que boiava, torcia para que ela conhecesse lugares dos quais jamais serei capaz de ver, e que navegasse, sempre.

Almejei para que o mar também fosse propenso para levar consigo todas as minhas angústias e principalmente a dor que me atingia. Um sentimento incapaz de cicatrizar. Infelizmente as ondas rebeldes não eram capazes de realizar esse milagre. Eu haveria de passar por uma provação: aprender a viver com a dor e não me permitir morrer junto dela.

  Fitei a garrafa até a mesma desaparecer de minha visão, velejando pelo mar. Encarei minha aliança por instantes, uma ideia se instaurou sob meus pensamentos. Após a tirei de meu dedo, afrontando o objeto circular.

Desejando que as ondas oscilantes, me livrassem deste suplício, deixarei que o mar através daquele anel -, que um dia jurei ser tão significativo – levasse as recordações falsas de meu casamento.

Todas as vezes em que eu a fitava era a figura de meu marido que eu enxergava, eu já não queria mais estar junto dele –como declarei no verão – com o desejo de me libertar desse compromisso que tanto me machucava, deixei que o anel deslizasse pelos meus dedos –sem ter suprema certeza do que fazia –subitamente arrependida tentei impedir, porém, já era tarde.

O mar levará o bem que selava meu casamento. Infelizmente meu amor por Robin ainda não era capaz de naufragar pelas profundezas dessas águas.

Inerte, nada fui capaz de fazer. Atônita, não tive coragem de vislumbrar seu percurso. Me virei de costas para o mar, caminhando dentre a areia fina da praia, me sentando, onde permanecia por horas a fio.

 

 

 

 

                                                                                          X X X

 

 

                                                                         (Anahi –Como cada dia)

  

 

 

  Os dias que sucederam após a morte de meu pai são enigmáticos até mesmo para mim. Me recordo vagamente de passar o dia trancada em meu quarto ás escuras e durante as noites me enfiava pelos bares da cidade me embebedando, até voltar cambaleante para a pousada de minha tia, que desesperada, não sabia o que fazer.

Logo ela e Ruby começaram a me manter presa dentro da residência, a partir das seis da tarde. No ápice de meu vício comecei a comprar as bebidas pela manhã enquanto dizia “sair para caminhar”, escondia as garrafas de bebida em meu quarto, onde, no calar da noite, bebia sem parar.

Por vezes, durante o dia, eu colocava pequenas quantidades de álcool em meu café, tomando a bebida repetidas vezes. Extasiada pelo vício que eu não conseguia controlar.

Eu só queria ser fraca e amenizar meu sofrimento com o que quer que fosse. A bebida era a única coisa que me dava prazer. Conviver com a dor novamente, fora mais difícil do que eu pensava. Eu só queria esquecer que ela existia. Estava desprovida de sentimentos, inanimada.

Não transmitia o que sentia desde a morte de meu pai e tampouco penso em fazê-lo.

  Desejava arduamente que meu vício me matasse, perturbada, em uma manhã qualquer de novembro, corria pelas ruas de Hampton, parando apenas para chegar em meu destino: uma farmácia. Comprei alguns comprimidos, o suficiente para o que eu desejava executar.

Não aguentava mais viver com a ausência de meu pai e recordar constantemente da traição de meu marido. Seu desejo de vingança estava sendo consumado aos poucos, pois eu sentia que enlouquecia na medida que os dias procediam.

 Na mesma noite, após consumir uma vasta quantidade de bebida eu tomei coragem para fazer o que eu acreditava ser certo no momento. As mãos trêmulas deixaram com que os comprimidos caíssem no chão, o que me fez pegar mais no frasco.

Estava prestes a colocar o remédio em minha boca, porém, me assusto com a porta sendo aberta bruscamente, fazendo com que eu derrubasse os comprimidos mais uma vez.

-Regina, eu trouxe um lanche, você não desceu para jantar... –minha tia constatava antes de vislumbrar meu estado deplorável –Você está bêbada de novo? Como trouxe bebida para cá?

A mais velha questionava, assustada, enquanto encarava o ambiente, rodeado de garrafas algumas pela metade, outras vazias. Até fitar os comprimidos em minha mão.

-Meu deus, Regina! Você poderia ter uma overdose e morrer!

Exasperou nervosa arrancando os comprimentos de mim. Logo me levantou bruscamente da cama me sacudindo pelos braços.

-ESSE VÍCIO ESTÁ TE MATANDO, VOCÊ PRECISA REAGIR, VIVER, REGINA!

-COMO VIVER, SE TUDO A MINHA VOLTA MORRE?! –Berrei, trazendo à tona o pranto que eu estava cansada de esconder, minhas palavras deixaram minha tia atônita –Primeiro minha mãe, depois eu matei a ex-noiva e o filho do meu marido, meu casamento, e agora meu pai...

Desabafei. Deixando meu corpo colidir ao chão a medida que eu soltava soluços agonizantes sem conseguir conter, desencadeando a dor que tanto ocultei por dias.

A mais velha se ajoelhou ao chão, segurando minhas mãos e pousando minha cabeça em seu ombro.

-Minha vida é repleta de sofrimento sem fim... sempre estarei sozinha, eu só quero que essa dor cicatrize -chorava - eu quero morrer...

-Querida, não era isso que seus pais desejavam para você. Se depender de mim e de sua prima, você não estará sozinha. Realmente acha que seu pai desejou vir aqui somente para me ver? –eu a fitava curiosa, consenti movimentando a cabeça –Mas não, ele trouxe você até aqui para que não ficasse sozinha, Regina, aqui você pode recomeçar. Mesmo que não soubesse que algo estava errado, ele sentia. Sabe por que? Porque sentimentos nunca morrem. Não tenha medo do que estás sentindo, coloque para fora, somente assim poderá se curar.

A mais velha aconselhava, enquanto eu derramava lágrimas.

Logo senti uma força desconhecida a cada lado do meu braço como se me levantasse para cima, me erguendo do chão frio. Algo sobrenatural, me transmitindo uma sensação de paz há muito esquecida. Sentia como se anjos tocassem minha pele, arrepios percorreram pelo meu corpo, no mesmo instante, em que eu escolhi viver. Eu sentia meus pais comigo.

 

 

 

                                                                                        X X X

 

                                                                              ( Sálvame-Anahí )

 

 

Duas semanas após quase exterminar minha vida, eu tentava seguir em frente. A dor jamais dissiparia, conviver com ela era um desafio a cada amanhecer e anoitecer. Mas, apesar de sofrer, eu conseguia lidar com a dor.

O choro não findava, comprovando aquilo que minha alma não era capaz de esquecer.

  Ousava recordar de minha história com meu marido, apenas quando depositava a cabeça em meu travesseiro, ou durante minhas caminhadas pela beira do mar. Suas águas não foram capazes de levar consigo um conjunto de lembranças que insistiam em permear dentre minhas memórias. Dentre tantas coisas o amor que tanto me machucava não morria.

Eu só queria olvidar do sentimento que me feria e rompia meu coração.

  Minha vida tornou-se pautada em uma rotina oriunda. Com muito sacrifício não voltei a beber, me dedicando integralmente a ajudar minha tia na pousada a beira mar. Fazendo anotações relacionadas aos poucos hóspedes que chegavam, afinal, não era comum receber turistas no outono. Pagava contas. E quando não havia nada para fazer me distraia diante da janela fitando o cair da chuva e o percorrer das águas sob os vidros embaçados, acompanhada por uma caneca de café, divagando.

Por vezes, admirava o mar tentador a minha frente, questionando em qual parte do oceano a garrafa que carregava as cinzas do meu pai estaria?

 Uma vida metódica.

Não estava pronta para encarar o que me aguardava no futuro. Fugindo do meu destino.  

  No entanto, em um fim de tarde, cujo uma vigorosa tempestade atingia a cidade, o mar furioso chocava-se contra si, representando a rebelião das águas.  As janelas batiam fortemente por conta das rajadas de vento, eu e Ruby corríamos pelos andares da pousada para fechá-las apressadamente. Um grande temporal nos assolava.

Um novo hóspede chegará diante da chuva espessa. O som dos trovões me impediu de ouvir sua voz. Escutando apenas quando minha tia me chamara para levar o mesmo até o quarto que ficaria instalado.

-Regina, venha receber nosso hóspede, ele ficou empenhado na estrada, está molhado, traga toalhas também!

Desci as escadas ofegante por conta da correria. Os raios refletiam nas janelas. Assim como a chuva que continuava a cair em cântaros. Todavia, o mundo pareceu entorpecer no mesmo instante em que o vi, estagnei. Deixando que as toalhas colidissem ao chão.

Instintivamente meus olhos marejaram ao fitar a figura de meu marido há poucos metros de mim, ainda parado na porta de entrada com a mala de couro marrom em mãos. Encharcado, pingos de chuva caiam de seus cabelos. Ele estava muito diferente desde a última vez que lhe vi. O corpo mais esguiou, insinuando a perca de peso, a barba por fazer, o olhar fundo, entristecido. Um homem que um dia tanto conheci, era um desconhecido.

Incerta sobre o que fazer ou agir não sabia o que dizer, a raiva mesclando com a saudade, confundia meu coração ferido. Eu desejava com veracidade me jogar em seus braços e ser consolada por quem um dia jurei ser meu amado. O coração acelerava com batidas tão velozes que jurei vê-lo sair de meu peito. O amor que tanto relutei refletia em meus olhos, assustados. Um nó na garganta me impedia de proferir tudo aquilo que devia ser dito. Apesar de atônito, Robin quebrou o silêncio entre nós.

-Regina... –ele murmurou tão surpreso quanto eu, com a voz entrecortada e rouca ele continuou:  –É aqui que você esteve esse tempo todo? Como está seu pai? Estou procurando por você há semanas!

                              

 

                                                 “ A tempestade que chega é a cor dos teus olhos. ”

 

  


Notas Finais


LINK PLAYLIST:
https://www.youtube.com/watch?v=M0yOyLlhXr4&list=PLIfquUxC6ldYyG2ZFh8TOR-TU-ruJzFAI

E aí o que acharam? VIVAS?!
Infelizmente a morte do pai dela, foi necessária para o futuro da Regina... Sobre todo drama, desculpem, a partir de agora, não teremos mais nenhum capítulo assim, sério, é ruim até de escrever...
E esse reencontro? O que vai acontecer? O que houve com Robin nesse tempo? Ele denunciou ou não ela para a polícia?
Tudo isso no próximo capítulo, esse focado em Robin, e tudo que enfrentou até rever sua amada...Como será esse reencontro narrado pelo ponto de vista dele?
P.S: ela tentando se matar, seu pai morrendo, as cinzas no mar, assim como a aliança... doeu. :(
Gurias, a próxima atualizar vai demorar um pouco mais para sair, pois essa semana me dedicarei a volta de Corações Feridos 2 (UMA SEMANA) portanto, próximo capítulo, apenas na semana seguinte, tentarei não demorar, okay?
XOXO Tais.
Minhas folhas de outono, flores da primavera, café quente ou chimarrão de inverno, e sol de verão... kkkkk essa foi uma tentativa de amolecer o coração de vocês. Beijosss


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