- Você ainda lembra do acidente?
Disse a psicóloga pegando nas minhas mãos. As mãos dela são ásperas e secas, mas cheira creme de morango.
- como se eu pudesse esquecer. - ela ficou em silêncio. Continuei- desculpa, mas foi minha última visão. eu lembro do barulho que o carro fez e da dor que se alastrou na minha cabeça antes de desmaiar. Tenho juntado muitas memórias auditivas e sensoriais para tentar esquecer o dia do acidente, mas eu não quero tentar imaginar imagens. Uma vez eu ouvi que memórias são perdidas quando acumulamos outras memórias, tenho medo de esquecer o rosto da minha mãe vou coisas importantes
- se você se concentrar bem no que quer esquecer e substituir por uma imagem montada conseguirá esquecer só o que vc não quer.
- Talvez um dia tenha alguma coisa que valha a pena o risco.
- E o que está sentindo sobre a nova perspectiva?
- Não sei, não quero criar falsas esperanças, mas se meus pais saíram do meu país para vir à Coreia é porque a perspectiva é bem concreta. Vão colocar os sensores mês que vem.
- E o coreano?
- Não está vendo como estou falando bem?! Aliás minha vida é só estudar a muito tempo.
- Ok, nossa consulta acabou. Vou te ajudar na saída.
Ela pegou na minha mão e me guiou até o ambiente externo onde chamei meu cão guia, Rony. Antes de sair ouvi a voz dela atrás de mim:
- forte!
- Sempre forte! - respondi com falsa convicção, pois sinto que a qualquer momento minhas forças acabaram e eu desmoronarei como um castelo de cartas.
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