História Queda Livre - A Primeira Vítima

"Ela saiu da lanchonete, não estava acompanhada de ninguém por mais incrível que isso parecesse.
Trancou a porta dos fundos e seguiu seu caminho até a casa de seu pai com quem morava.
A caminhada era curta, mas a rua era sempre deserta e escura. Não era a primeira vez que ela voltava sozinha para casa, seu pai sempre saía mais cedo às quartas para jogar poker com seus amigos.
Ela caminhou um quarteirão e ao passar em frente a um beco escuro, sentiu uma leve sensação de estar sendo observada. Ignorou e seguiu.
Virou a direita, sua casa estava próxima.
Não viu de onde surgira aquela figura encapuzada, mas sentiu seu ódio quando foi agarrada pelo pescoço. Não teve tempo de gritar, correr, se mover... O braço em seu pescoço estava dificultando sua respiração. Ela queria gritar, dar todo o dinheiro que tivesse ou seu corpo se fosse o caso. Tentou manter a calma esperando que seu agressor se acalma-se e lhe pedisse o que quisesse. Foi quando ele soltou seu pescoço. Pensou que seria assaltada, mas seu alívio durou poucos segundos. O braço que a enforcara agora puxava seu cabelo com força, ela teria tempo para gritar se fosse apenas uma agressão ou assalto, mas nem chegou a se dar conta, apenas sentiu uma dor intensa em seu pescoço e algo quente descendo por seu peito.
Colocou a mão em sua garganta e sentiu aquele espaço fino com a largura menor que seu dedo mínimo, era dali, era dali que seu sangue saía, úmido, quente, banhando seu corpo. Agora não conseguiria gritar. Ele a soltou e ela correu, sua vista embaçada, sentindo-se fraca, cambaleando atrás de ajuda. Ele apenas a observava. A observava tentando estancar seu sangue com as mãos. Ela estava ficando pálida, a vista turva, sem ar, aos poucos sem consciência, até cair no chão. Se afogando em uma poça de sangue que estava se formando embaixo de si, há poucos metros de onde ele a atacou. A vida estava se esvaindo de seu corpo agora inerte.
E ali estava ela, jogada ao chão dando seu último suspiro e sendo observada, até não haver mais vida nela. Ela se foi e ele também".

Adele acordou de sobressalto. Tudo parecia real, mas distante. Ela jurava que podia reconhecer aquele rosto se o visse.
Quem era ela? Alguém próxima, distante, do passado ou do futuro?
Pensou ser ela, mas aquele não era o caminho de sua casa.
Ela não pôde fazer nada para ajudá-la, apenas a viu morrer.
"Foi apenas um sonho". Era hora de se levantar, o trabalho a esperava.

*****

Caminhou como de costume, enquanto ouvia Can You Feel My Heart de Bring Me The Horizon. Sem dúvidas ela amava sua setlist.
Entrou na lanchonete e cumprimentou Kevin, o cozinheiro que parecia estar de saída.
- Ahn, vai sair?
- Nós vamos, não haverá expediente hoje. Kevin parecia perplexo.
- O que houve? Estamos demitidos ou entramos em greve.
Kevin tocou seu ombro e disse:
- Estamos de luto Del. Mia está morta. Alguém a atacou na rua de sua casa ontem à noite e cortou sua garganta. Ela morreu engasgada ou afogada em seu próprio sangue, não sei ao certo. Ela sangrou até morrer.
Adele sentiu o mundo girar. Sabia que poderia reconhecer aquele rosto, pois era o de Mia e agora ela estava morta, como em seu sonho. Como seria possível algo assim?
- Não... Pode... Ser... Mia... Não...
- Adele! Gritou Kevin enquanto ela caía ao chão inconsciente.