- Você não precisava fazer isso. - a voz de Peeta saiu mais rouca que o normal.
- Eu precisava sim. - usei minha mão livre, para acariciar a sua, que descansava sobre a sua perna. - Eu não vou mais deixar você sair da minha vida, baby.
- Eu agradeço por isso. - foi só o que ele disse, e eu sabia que era verdade.
- Descanse. - acariciei seu rosto, antes de voltar a prestar atenção na estrada.
Pela minha visão periférica, pude vê-lo recostar sua cabeça no banco do meu carro, e fechar os olhos, pegando no sono, em seguida.
O baile havia sido deixado para trás. Eu sabia que havia algo de errado, assim que notei que o atraso de Peeta para me buscar, era maior do que o normal. Por esse motivo, não hesitei em pegar o meu carro, e dirigir até o seu apartamento para saber o que estava acontecendo. Encontrei meu namorado com o rosto pálido e os olhos vermelhos. A minha preocupação ficou maior, quando ele me abraçou forte, e soltou a frase, antes de começar a chorar em meus braços.
Peeta não costumava chorar. Na verdade, essa era a terceira vez que eu o via chorar, e com ela, eu pude perceber que o meu Mellark preferido, só chorava por amor e dor.
Eu não me preocupei em tirar o meu vestido, e Peeta também não se opôs, quando eu disse que eu iria com ele até Austin, naquela mesma noite.
E era isso que estávamos fazendo. Já fazia mais de seis horas que eu estava dirigindo. O cansaço havia sido deixado para trás, assim como o baile e qualquer outra coisa que antes eu almejava. A minha prioridade agora, era Peeta, e era por ele que eu faria qualquer coisa.
Recebi diversas ligações de Finnick, Annie, Madge e até mesmo de Johanna, mas eu não atendi a nenhuma delas, apenas mandei uma mesma mensagem para todos os meus amigos, com o mesmo recado.
"Mudança de planos. Aproveitem a noite por nós dois.
K&P"
Xingamentos em forma de mensagens e mais ligações, apareceram na tela do meu celular, mas tudo o que eu fiz foi desligar o mesmo, jogando-o no banco traseiro do meu carro, voltando a prestar atenção na estrada, enquanto Peeta dormia ao meu lado.
O sol já estava alto, no céu, quando eu estacionei em frente ao hospital indicado por Alec a Peeta. Meu badboy ainda dormia ao meu lado. Toquei seu rosto devagar, e o mesmo abriu os olhos, me encarando.
- Chegamos? - ele questionou, coçando seus olhos azuis.
- Sim, baby. Chegamos. - concordei, sorrindo. - Você quer que eu vá com você?
- Você iria? - a pergunta veio, cheia de dúvidas.
- Se você quiser, com certeza. - respondi, sem pestanejar.
- Eu quero. - foi o pedido.
E eu fui.
E a única coisa que eu posso dizer, é que ver o homem que eu amava, sofrendo daquela maneira, era uma das piores coisas que eu já havia presenciado. A mãe de Peeta estava em um quarto tranquilo, seu corpo estava coberto por fios e mesmo sem conhece-la, eu poderia jurar que aquela figura magra e pálida, naquela cama, não tinha nada a ver com a Brenda Mellark de antes.
- Mãe. - foi a primeira coisa que Peeta disse, depois de longos segundos, apenas olhando para a mãe naquela cama.
- Peeta. - a voz na mulher saiu baixo, quase inaudível. - Você veio.
- Claro. Eu queria muito ver a senhora. - ele sentou na beirada da cama. - Como você está?
- Eu estava só te esperando. - a mulher sussurrou, e eu pude ver Peeta travar. - Eu queria conversar com você, mas não temos mais tempo.
- Mãe. - a voz do meu namorado saiu desesperada.
- Eu só quero que você saiba que você não foi um erro. Você foi muito desejado por mim e por seu pai. - Peeta abriu a boca para dizer algo, mas ela ergueu a mão com dificuldade em sua direção, o fazendo calar. - E mesmo que você não tenha feito tudo o que eu gostaria que fizesse, eu te amo.
- Eu ainda vou fazer. Você não quer que eu faça faculdade? - o desespero misturado em uma falsa animação, era claro na voz dele. - Eu me formei no colegial, e agora vou fazer faculdade. Depois posso dar seguimento a empresa do papai e...
- E esse não seria você. - ela finalizou por ele. - Acredite em mim, por favor. Você é perfeito da maneira que você é. E não precisa fazer nada, para provar o quão maravilhoso você é para mim.
- Mãe. Para de falar assim, por favor. - a voz de Peeta assumiu um tom choroso, fazendo meu peito doer.
- Me perdoa? - a mulher pediu, em um sussurro. - Me perdoa por não ter dado valor ao filho maravilhoso que você é.
- Não precisa disso, mãe. - Peeta apertou a mão da mulher entre a sua. - Você vai sair daqui, e vamos esquecer tudo isso e recomeçar.
- Você já é um homem, Peeta. - a mulher sorriu fraco, enquanto uma lágrima solitária descia por seu rosto bonito, porém magro. - Nós dois sabemos que eu não vou sair dessa.
- Eu não quero que a senhora morra. - de onde eu estava, eu pude ver as primeiras lágrimas correrem pela face de Peeta. - Tudo que eu amo vai embora. Isso não é justo.
- Eu vou cuidar de você de onde eu estiver. Eu prometo. - a mulher acariciou o rosto de Peeta, devagar. - Eu... Eu amo você, meu filho.
- Eu amo você, mamãe.
Foram as últimas palavras que os dois trocaram, antes do aparelho preencher o quarto, com um som ensurdecedor.
Naquela tarde ensolarada, a mãe de Peeta partiu, deixando meu namorado e seu pai sem chão. O sepultamento aconteceu no dia seguinte. Brenda havia sido vítima de um câncer, que a consumiu tão rapidamente, que não houve tratamento que a fizesse melhorar.
Eu não sabia como lidar com a situação, e na falta de saber o que fazer, eu não deixei Peeta sozinho, nem por um segundo.
- Promete que nunca vai me deixar?
Já era madrugada, quando ele me fez essa pergunta.
- Prometo, baby. - foi a minha resposta, enquanto acariciava seus cabelos macios. - Prometo nunca te deixar.
Ele suspirou, deitado em meu peito.
- Todos que eu amo me deixam, Flor. - ele sussurrou, e eu o apertei em meus braços. - Eu não quero que você e meu pai, me deixem também.
- Nós não vamos, baby. - passei minhas mãos em seus braços, tentando passar algum conforto a ele. - Agora descanse, amor.
Eu não posso dizer que foram meses fáceis, porque não foram. A falta que Brenda fazia a Peeta, era notável. Mesmo que eles estivessem afastados, e que a última briga deles, tivesse sido tão feia, ela era a mãe dele, e mãe é mãe.
E por esse motivo, Peeta começou a tentar fazer a minha cabeça, para que eu procurasse a minha. No começo, eu tentei entender o lado dele, mas no final, as brigas começaram.
- Você não pode agir por mim, Peeta. - falei ao meu namorado, enquanto prendia meu cabelo no alto da cabeça.
- Eu sei, mas eu posso te dar conselhos, não posso? - ele questionou, apontando para si.
- Pode, mas cabe a mim querer segui-los ou não. - falei, sentando na ponta da cama, para calçar meus sapatos.
- O que custa você conversar com ela? - meu namorado deu alguns passos em minha direção. - Ela vai estar aqui por apenas alguns dias.
- Eu não quero, Peeta. - me exaltei. - Será que dá pra você entender que eu não quero?
- Claro. - o semblante de Peeta adquiriu uma forma séria. - Desperdice as chances que a vida te dá. Eu só queria uma delas, para poder fazer tudo diferente. Uma só.
Ele me deu as costas, e saiu do nosso quarto, batendo a porta, em seguida.
- Grosso. - resmunguei.
Meses já haviam se passado, desde a morte da mãe de Peeta. Muitas coisas haviam mudado. Dentre elas, o fato de Peeta e eu estarmos morando juntos há quase um ano. Peeta estava cursando a faculdade de administração, que ele pagava com o que ganhava, ajudando seu pai, que havia aberto um novo negócio em Chicago, depois de muito Peeta insistir, e dizer que ele não poderia ficar em Austin, sozinho. Eu estava cursando a de dança, e através dela, eu havia conseguido o meu primeiro emprego, que era a de professora de dança para pequenas bailarinas, de meio metro. Peeta ainda lutava, e sempre que possível, eu o acompanhava.
Era engraçado ver, como a nossa vida ia tomando forma, com o tempo.
- Kat. - a voz conhecida da pequena, me fez virar em sua direção.
- Primrose. Chegou mais cedo hoje? - questionei, sorrindo para a pequena.
- Sim. Coloquei o celular da mamãe para despertar. - ela sorriu, sapeca. - Assim ela não teve como se atrasar.
- Tem razão. - sorri para a loirinha. - Alguma novidade?
- Não, e você? - ela sentou no banquinho, para calçar suas sapatilhas.
Neguei com a cabeça, a observando.
Primrose havia finalmente sido adotada, por ninguém menos do que Effie Trinket, a minha antiga diretora. Quando Peeta e eu, ficamos sabendo que ela estava na fila de espera, para adotar uma criança já crescida, não pensamos duas vezes, antes de irmos até o orfanato, onde Prim vivia e apresentar as duas. Não foi preciso mais do que um sorriso de Prim, para que Effie se apaixonasse, assim como eu e Peeta
- Você e o Peeta brigaram? - ela questionou, me encarando.
- Não. - neguei rapidamente. - Por que acha isso?
- Porque quando vocês brigam, seus olhos ficam tristes. - ela comentou, cheia de inocência. - Parece que você ganhou um bolo de chocolate sem cobertura.
Sorri para a pequena. Ela não havia dito nenhuma mentira.
- Você é muito esperta. - toquei seu nariz, com a ponta do dedo.
- E você boba. - ela rebateu, e eu franzi o cenho. - O Peeta é lindo, não briga com ele. Enquanto você briga com ele, tem várias garotas, que dariam tudo para tomar um sorvete, e ir ao cinema com ele.
Elas dariam tudo pra ele. Ele seria o sorvete delas, e o último lugar para onde elas gostariam de ir com Peeta Mellark, seria o cinema.
- Você tem razão. Vou fazer as pazes com ele, hoje mesmo. - sorri, abraçando a pequena. - Você é o meu cúpido.
- Cúpida, porque eu sou menina. - ela me corrigiu, e eu sorri, concordando.
- Cúpida, claro.
Meu pai ainda viajava muito a trabalho, mas sempre que possível ele retornava a Chicago, e passava semanas na cidade. Saíamos para comer e para conversarmos sobre a vida.
Ele não comentava nada sobre a minha mãe. Pelo menos, não até o dia em que eu mesma contei a ele, que eu havia escutado a último discussão dos dois.
- Eu não me importo com isso. - menti descaradamente a ele, enquanto Cressida servia nosso jantar.
- Eu não sei até que ponto do que ela disse, foi verdade. - meu pai soltou, me encarando.
- Ela foi embora sem falar comigo. Isso já deixa claro, que tudo o que ela disse foi verdade. - comentei, encarando meu prato. - E eu não quero mais falar sobre esse assunto. - pedi, e meu pai assentiu.
E foi desse dia em diante, que Peeta começou a tentar me convencer, a conversar com Evelyn novamente. Eu apenas negava, e ele parecia entender. Mas, então, meu pai deixou escapar, que minha mãe retornaria a Chicago, para resolver alguns problemas, e foi o que bastou para que Peeta tentasse consertar tudo.
Mas Primrose tinha razão. Eu não poderia deixar que essas pequenas discussões, estragassem a minha vida com o meu badboy. A quase dois anos atrás, eu nem imaginava que um dia eu teria uma vida tão maravilhosa, como a que eu tinha com ele. E por esse motivo, eu aproveitei a minha tarde de folga, e finalmente fui fazer a minha surpresa para ele. Uma surpresa, que eu já estava com a ideia de fazer, há muito tempo.
- Johanna? - questionei, quando a prima de Peeta, atendeu o telefone.
- Não. Osama Bin Laden. - ela respondeu grossa, e eu revirei os olhos.
- Eu só não meto a mão na sua cara, porque eu preciso de ajuda. - falei a última parte, em voz baixa, e ouvi ela rir.
- O que você quer? - ela questionou, educada.
- Você está ocupada ou eu posso aparecer aí?
- Eu só tenho aula à noite. Venha. - foi a resposta dela, antes de desligar o telefone na minha cara.
- Tudo bem. Estamos combinadas então. Tenha uma boa tarde você também, priminha. - me despedi de Johanna, mesmo que estivesse falando sozinha, e só então desliguei o celular, o jogando na cama.
A noite chegou rapidamente, e com ela Peeta também chegou em casa, completamente mudo. Eu estava sentada no sofá, assistindo uma série qualquer. Eu não disse nada, e ele muito menos. Nós dois não costumávamos brigar, e, talvez, por esse motivo, o clima ficava estranho, quando algo parecido, acontecia. Meu namorado passou por mim, indo para o nosso quarto, em seguida, eu ouvi o barulho do chuveiro sendo ligado, e eu continuei onde eu estava.
Em alguns poucos minutos, Peeta retornou a sala, e apenas o seu cheiro de banho recém tomado e perfume, já me enlouqueciam o suficiente. Fechei os olhos, tentando me concentrar em algo, que não me fizesse sentir vontade de pular, no pescoço dele. Quando os abri novamente, Peeta estava parado a minha frente, apenas com uma calça de moletom, com seus cabelos molhados e sem camisa. Sem camisa.
- Porra. - murmurei.
- A gente precisa conversar. - foi o que ele disse, e eu apenas assenti.
Meu lindo, cheiroso e gostoso namorado, desligou a televisão e sentou na pequena mesinha de centro da nossa sala. Seus olhos azuis, não demoraram a encontrar os meus.
Eu poderia ficar horas ali, apenas analisando a beleza natural de Peeta Mellark, ou encarando as suas infinitas tatuagens, seus músculos bem feitos. Eu era muito sortuda, muito mesmo.
- Eu não quero agir por você, Katniss. - ele falou baixo, enquanto coçava a nuca. - Eu apenas me preocupo com você, e assim como eu queria ter tido a chance de consertar tudo com a minha mãe, eu acho que você poderia aproveitar a oportunidade que a vida está te dando, para falar com a sua. - ele falou tudo rapidamente, talvez com medo que eu o cortasse. - Mas tudo bem. É uma escolha sua, e eu não vou mais me meter nas suas escolhas.
- Você é uma escolha minha. - falei, e notei que ele quase sorriu. - A melhor delas, na verdade.
- Eu concordo. - foi a sua resposta egocêntrica. - Eu amo você, Flor.
- Eu também amo você, bad boy, e não é pouco. - respondi, sorrindo. - E eu tenho uma surpresa para você.
- Engraçado, eu também tenho uma. - ele sorriu, ficando de pé, e eu o imitei. - Você primeiro.
- Não. Você primeiro. - rebati, e ele revirou os olhos.
- Os dois juntos? - ele questionou, e eu sorri, assentindo.
- Sempre. No três? - perguntei, segurando a manga da minha blusa.
- No três. - ele concordou.
- Um.
- Dois.
- Três.
- Quer casar comigo?
- Eu fiz outra tatuagem!
As duas frases saíram em uníssono, mas foi a de Peeta que me deixou paralisada. A minha surpresa não era nada, comparada a dele. Eu nem havia notado que ele estava ajoelhado a minha frente, enquanto eu havia erguido a manga da minha blusa para mostrar a minha nova tatuagem a ele.
- É linda. - foi o que ele disse, antes de sorrir. - O que significa?
- Er... O meu coração. - apontei o pequeno ponto na extremidade do meu pulso. - Batendo por você. - segui com meus dedos sobre os batimentos cardíacos desenhados ali, até chegar a pequena moto na outra extremidade do pulso. - Só por você.
- O meu também, só bate por você, e está quase saindo pela boca, esperando a sua resposta. - ele falou nervoso, e eu sorri mais nervosa ainda. - Casa comigo, Flor?
- Quem nega algo a Peeta Mellark? - perguntei, sorrindo boba.
- Quase ninguém. - ele respondeu, e eu segurei a sua mão, o puxando para cima.
- Sim, sim e sim. - respondi. - Eu caso com você, badboy. - foi a minha resposta, antes de grudar nossos lábios.
E foi daquele dia em diante que tudo começou a se acertar na minha vida. Na verdade, as coisas começaram a caminhar para algo perfeito, desde o dia em que Peeta quase me atropelou no estacionamento da escola a dois anos atrás.
Peeta Mellark havia salvo a minha vida. Havia me livrado da garota sem caráter e sem escrúpulos que eu era. Ele havia dado um novo sentido a ela. Havia dado uma razão, para o meu coração bater.
E, o que um dia parecia ser um desastre para mim, hoje, havia se transformado em algo muito maior, talvez, um belo desastre. E não importava quanto tempo passasse, para mim, Peeta Mellark sempre seria o meu bad boy.
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