"Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura."
24 de Março de 2018 – Sábado
Acordei sentido o cheiro de comida, abri os olhos e vi Nathan na cozinha de frente para o fogão.
– O que você está fazendo? – perguntei me apoiando sobre o cotovelo.
– Seu café da manhã... – sorriu para mim e voltou a olhar para o fogão. – Gosta de panqueca?
– Gosto. – disse me levantando da cama. – Quer ajuda?
– Quero meu beijo de bom dia. – disse deligando o fogão e andando com a frigideira até depositar ela sobre a mesa.
Fui até ele e o beijei levemente, o mesmo retribuiu com um abraço.
– Eu poderia me acostumar com isso fácil. – disse sorrindo. – Agora vamos comer... Tenho que te deixar no trabalho ainda.
Concordei.
A cozinha era pequena, então havia apenas uma mesa de canto e uma cadeira.
Nathan se sentou na cadeira e me puxou para o colo dele. Sentei sem problema.
– Dormiu bem? – perguntou enquanto pegava o prato e colocava algumas panquecas.
– Sim, e você? – respondi pegando o prato e jogando a calda em cima.
Nathan colocou as mãos em volta da minha cintura e abraçou. Com a colher peguei um pedaço da panqueca e coloquei na boca sentindo o sabor, era maravilhoso.
– Meu deus, para quem não sabe cozinha... – disse quase devorando o resto do prato.
– Deixa para mim, fominha. – brincou.
Dei um pouco da comida na boca dele.
– Obrigado. – sorriu, depois de mastigar.
Terminei de comer e fui para o banheiro. Tomei um banho o mais rápido possível. Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha, sai do banheiro enrolada e Nathan estava lavando a louça.
Olhei perto da porta e vi que minhas coisas não estavam mais ali, jogadas.
– Nate, onde estão minhas coisas? – perguntei razoavelmente alto.
– Ah, eu coloquei dentro do guarda roupa...- disse secando a mão e virando. – Para não ficar jogado.
Ele parou e me olhou de toalha e deu um sorrisinho de lado.
– Nem pense nisso... – sorri de volta. – Não tenho tempo.
– Eu sei. – ele sorriu. – Uma pena...
Foi até o guarda roupa e tirou minha mochila colocando em cima da cama.
– Vou te dar privacidade. – disse indo para o banheiro.
– Obrigada. – sorri.
Quando desapareceu na porta, fui até minha bolsa e tirei minha roupa. Coloquei minha roupa intima, minha calça jeans, meu coturno.
A porta do banheiro abriu e Nathan expiou.
– Muito adulto da sua parte... – ri quando ele colocou os olhinhos para fora.
– Desculpa, você é irresistível. – saiu e pegou a minha blusa sobre a cama. – Levanta os braços.
Fiz o que ele pediu ele me vestiu. Depois colocou meus óculos.
– Obrigada. – sorri.
– Vamos? – perguntou pegando a chave do carro sobre a mesa.
– Vamos! – peguei a mão dele.
Ele dirigiu devagar até meu trabalho e sempre tirava uma das mãos do volante para pegar a minha por alguns segundos e depois colocar de volta no volante.
– Fica tranquilo, vou dormir na sua casa de novo hoje... – sorri.
– Eu sei. – sorriu também, mas eu notei que ainda havia algo incomodando.
– O que foi? – perguntei.
– Minha mãe vem aqui hoje... – ele bufou. – Avisou hoje cedo que queria ver a mim e a Hannah.
– Você consegue... – disse levantando as mãos em torcida. – Eu já teria perdido a cabeça com uma mãe dessas.
Nathan riu e negou com a cabeça, depois deu um leve beliscão na minha bochecha.
– Ain. – reclamei passando a mão na bochecha.
– Eu só queria que ela entendesse... – falou calmo. – Mas ela sempre bate nessa tecla da Raven. – negou com a cabeça. – Chegamos. – disse estacionando o carro.
– Até. – dei um beijo nele.
– Venho te buscar... – sorriu.
Sai do carro e acenei enquanto ele saia com o carro.
Fui até a loja e vi que ainda estava fechada. Peguei a chave na minha bolsa e abri o cadeado puxando a portão de ferro para cima, abri a porta da loja e entrei. Depois liguei a música, abri a dispensa. Ouvi uma batida na porta de vidro, era minha chefe.
– Atrasada... – brinquei enquanto abria a porta para ela.
– Tive uma briga com meu namorado. – disse bufando.
– Vocês estão bem? – perguntei preocupada.
– Estamos, mas as contas estão chegando e ele não conseguiu um emprego... – revirou os olhos.
– Porque não pede para ele trabalhar aqui, te ajudar? – disse indo para o caixa para pôr o dinheiro na registradora.
– Porque ele é orgulhoso, e disse que não quer conseguir emprego através de mim... – deu de ombros.
– Melhor ele trabalhar e te ajudar, do que você ficar sustentando vocês dois... – falei. – Diz que quer sair da loja e que quer focar na banda, fala que é um favor, sei lá...
– Boa ideia. – disse me olhando e colocando as coisas dela embaixo do caixa. – Vou abrir a loja, está tudo pronto?
– Está sim. – confirmei fechando o caixa.
Ela foi até a porta a virou a plaquinha.
~ ◇ ~
– Pode ir Sam... – minha chefe voltou do almoço. – Vou fechar a loja sozinha hoje.
– Okay. – disse pegando minha bolsa. – Até segunda. – acenei e sai pela porta.
Olhei para a rua e não tinha nenhum sinal do Nathan. Puxei o celular da minha bolsa, e não tinha nenhuma ligação ou mensagem. Disquei o número dele e esperei tocar. Tocou e tocou, mas nada de atender.
Atravessei a rua e fui almoçar no restaurante da frente, estava faminta. Pedi a comida mais barata no cardápio, que consistia em batata assada, frango, arroz e feijão.
Terminei de comer e olhei para o celular angustiada, e novamente sem nenhuma informação nova, nem ligações e nem mensagens. Revirei os olhos e fui até o caixa e paguei a comida.
Sai batendo o pé do restaurante e vi que a Bruna já havia fechado a loja.
Peguei meu celular do bolso e tentei ligar novamente para o Nathan, que não atendeu. Desisti e liguei para Raven que atendeu.
– Oi, sumida! – falou cantarolando.
– Rae, você que anda sumida... – lembrei ela. – Sempre que eu posso eu te ligo.
– Verdade, mas eu te deixei um presente, abriu? – parecia empolgada.
– Ainda não. – me lembrei do embrulho. – Estou tentando falar com o Nathan, mas ele não atende... – desabafei.
– Vem no meu dormitório, aí nós conversamos... – falou.
– Ok, estou indo. – desliguei o telefone.
Muito engraçado universo, pensei, primeiro me faz sentir super feliz e depois me derruba do balanço. Bufei e comecei a andar até o ponto de ônibus. Fiquei sentada esperando por quase meia hora até um ônibus do campus passar. Mostrei minha carteirinha para não precisar pagar e subi. Me sentei perto da janela e olhei o caminho longo que o ônibus fazia.
Chegando fui direto para o prédio da Rae e subi as escadas até o quarto dela. Rae estava jogada na cama com as pernas para o alto, ouvindo música e lendo algum livro.
– Estudando? – perguntei entrando no quarto.
– Quando eu já estudei na vida? – respondeu jogando o livro de lado. – Demorou...
– Vim de ônibus. – revirei os olhos cansada. – Nathan disse que ia passar me pegar e que teríamos um sábado maravilhoso de trabalhos universitários.
Me joguei na cama dela e coloquei as pernas para o alto igual a ela.
– Não sei onde isso é algo bom... – revirou os olhos.
– Eu também não, mas tinha ficado feliz. – bufei outra vez.
– Estamos precisando de umas festinhas, as universitárias são melhores que as escolares... – jogou no ar.
– Estou sem forças. – bufei.
– Parou com essa bad amiga, aqui, nesse quarto, bad só entra com bebida... – falou como se fosse uma frase de vida.
– A mãe do Nathan está na cidade... – olhei para Rae. – Você também devia estar acabada.
– Pelo amor de deus, não aguento mais aquela mulher... – levantou da cama agora parecendo furiosa. – Sempre que eu vou falar com os meus pais e eles começam a me entender, aquela megera, bruxa e mal-amada, vem colocar a sementinha do casório na mente deles. – ela revirou os olhos.
– Nathan disse que comprou uma aliança para mim, mas que não sabe se poderemos usar... – bufei.
– Eu vou bater na família dele inteira. – revirou os olhos novamente.
Meu celular vibro na minha bolsa e eu puxei olhando o visor, era Nathan. Depois de algum tempo atendi.
– Nathan?
– Oi, desculpa, minha mãe inventou de me levar para almoçar. – falou. – Não consegui ir te buscar.
– Eu sei. Podia ter me avisado que não tinha como, fiquei quase uma hora esperando. – me sentei na cama certo e Rae olhava para mim analisando.
– Desculpa, sabe como ela é... – ouvi o cansaço em sua voz. – Ela me enlouquece em 5 minutos e eu nem lembro mais o que tenho que fazer.
– Tudo bem... – amoleci. – Pode trazer minhas coisas ou vir me buscar? Tenho que fazer meu trabalho para Segunda.
– Vou te buscar... A não ser que queria que eu apenas leve suas coisas. – disse relutante.
– Pode me buscar... – falei. – Vou desligar, Rae está pedindo minha ajuda com as coisas dela. – disse quando vi a Rae dançando sensualmente pelo quarto.
– Ok, até logo. – desligou.
Raven me olhou de lado e com os olhos semicerrados.
– Que foi? – perguntei.
– Acho que devia abrir meu presente e usá-lo... – sorriu maliciosamente.
– É outra lingerie? – desconfiei.
– Claro que é. – disse pegando minha mão e me levantando da cama. – E tem mais algumas coisinhas que vocês podem gostar.
– Porque sempre apronta essas coisas comigo?
– Porque eu te amo... – sorriu amigável.
– Também te amo e não faço isso com você. – observei.
– Talvez devesse começar a fazer. – ela me empurrou para fora do quarto dela. – Eu iria amar...
– Louca. – falei antes que ela começasse a fechar a porta do quarto.
– Se divirta com o seu boy magia... – falou e depois o quarto ficou em silencio.
Eu devia mesmo começar a arranjar alguns amigos normais na minha vida. Revirei os olhou e sai andando para fora do campus.
Nathan estava esperando dentro do carro estacionado.
A porta abriu e eu entrei. Nathan ligou o carro e o rádio para que o clima não ficasse tão estranho, mas isso não funcionou muito bem.
Fiquei olhando a janela enquanto a cidade passava e logo a chuva começou a cair no vidro.
Chegamos no apartamento dele. A pia estava suja com alguns pratos e copos.
– Quer que eu lave? – perguntei.
– Não, deixa aí que depois eu lavo. – ele tirou os sapatos e jogou no canto.
Fiquei parada olhando ele jogar o cabelo para trás. Seu olhar se fixou no meu e ele andou até mim me abraçando.
– Me desculpa... – falou e eu senti sua respiração no meu pescoço.
– Está tudo bem. – o abracei de volta.
– Eu não posso mais fazer isso? – me olhou sério.
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