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História Quem é você, Jeff? - Não Se Meta


Escrita por: DarkMirrorAQ

Notas do Autor


Oieeeee!
Desculpem a demora!! Esse capítulo já estava pronto há muito tempo mas acabei perdendo ele ;-;
Por sorte consegui recuperar ^^.
O capítulo ficou meio grandinho então nem vou enrolar nas notas...

BOA LEITURA!!

Capítulo 3 - Não Se Meta


Já faz uma semana desde o ocorrido... Fui taxado como insano e minhas medicações dobraram. São dez comprimidos por dia que ao invés de me curarem, me prejudicam ainda mais. Minhas alucinações são mais frequentes e minha insônia tem se tornado um grande incômodo diário. Depois do meu ataque de ira no hospital Esther chamou a polícia para investigar o suposto corpo no meu banheiro e como esperado, era apenas fruto da minha mente doente. Agora, posso dizer que eu mesmo duvido da minha sanidade mental. Eu devo aceitar a realidade de que eu realmente seja louco?. Milhões de perguntas ressoam em minha cabeça e para nenhuma delas eu tenho respostas. Acabo por ficar doente e ainda mais paranóico com tudo, por fim, causando uma grande preocupação nas pessoas ao me redor.
 
   

Em plena três da manhã estou sentado no sofá de frente para a TV com o controle na mão em total desânimo e sem um pingo de sono. Faltam apenas algumas horas para o meu primeiro dia de aula e a insônia não me permite pregar os olhos. O pior que pode acontecer é eu desmaiar no colégio na frente de todos e confirmar o que eles, provavelmente, pensam sobre mim...

   "Olha lá, o garoto problemático!..."

   
   

  Clico constantemente nos botões do controle sem deixar em um canal fixo. A ansiedade está me corroendo por dentro e o tédio começa a dar sinais, então decido ir para a cozinha preparar algum lanche. Sem acender as luzes da casa e com apenas a luz da televisão de fundo, caminho em direção a cozinha e abro a geladeira. Sinto um frio na espinha e me viro bruscamente vendo que estava sozinho e era apenas mais umas das peças que minha cabeça insistia em me pregar. Me viro novamente para a geladeira e pego uma garrafa de leite. Levo o bico da garrafa em direção à minha boca e sinto meu corpo paralisar na metade do caminho. Começo a suar frio quando percebo que meu corpo não reagia aos meus comandos e somente meu globo ocular se movia. O meu arredor se torna mais sombrio e sinto um frio por todo o meu corpo causando arrepios no mesmo. Noto uma aproximação mas não consigo identificar o que seja. Uma mão pesada e de aparência horrível pousa lentamente em meu ombro e o aperta cravando sua unhas em minha carne causando uma ardência no local com um pouco de sangue brotando. Notei a semelhança dessa mão com a do meu sonho e me desesperei ao perceber que dessa vez não era minha cabeça que projetava imagens, estava o mais consciente possível. A mão solta o meu ombro e finalmente consigo me mover respirando com certa dificuldade, porém, nos próximos segundos sinto algo sendo cravado em minhas costas. Olho para baixo e vejo uma estaca atravessando minha barriga e no mesmo instante minhas pernas fraquejam fazendo com que eu caia de joelhos no chão. O sangue escorria incessantemente formando uma poça vermelha abaixo de meus joelhos de forma que permitisse eu ver meu próprio reflexo nesta. Me debruço e sinto minha consciência se esvair aos poucos dando lugar à uma interminável escuridão.
  
 

  Acordo bruscamente desesperado segurando minha barriga com uma das mãos. Estava deitado no chão da cozinha e tudo parecia normal. Não havia sangue nem  vestígio de qualquer ferida em minha barriga. Não havia nada no chão exceto pela garrafa de leite derramada.
   

O que foi isso? Será outra peça da minha cabeça ?
   
    

Levantei assustado, fechei a porta da geladeira e saí correndo para a sala notando a luz alaranjada do nascer do sol atravessando, em pequenos filetes, os vitrais da casa. Olhei no relógio da parede que marcava seis da manhã em ponto. Esther já devia estar chegando então me apressei em subir as escadas e fazer minha higiene matinal. Fiz tudo em poucos minutos e separei uma roupa simples para usar no primeiro dia... Uma camiseta preta sem detalhes, uma calça jeans azul claro rasgada nos joelhos e na coxa, meu All Star vermelho cano médio e uma jaqueta de couro preta com algumas correntes discretas. Notei um objeto presente em meu bolso na parte de trás da calça mas não dei muita importância. O conjunto não era muito chamativo, porém era confortável e condizia com meu estilo, apesar de Esther não achar este muito elegante. Falando nesta, ouvi uma porta sendo aberta e logo em seguida fechada no andar de baixo, depois ouvi uma voz feminina gritar meu nome. Esther havia chegado e me lembrei do que ocorrera comigo há alguns minutos. Não seria prudente contar isso a ela, podendo só piorar minha situação e a certeza de que eu deveria voltar a ser internado. Decidi ignorar o ocorrido e escondê-lo no mais profundo e esquecido canto de minha memória. Peguei meu celular e caminhei para fora do quarto indo de encontro com Esther que assim que me viu torceu o bico.
...

 

— Como hoje é seu primeiro dia de aula achei que fosse mais adequado se vestir de uma forma mais apresentável. — ela falava me olhando de cima em baixo fazendo eu revirar os olhos e terminar de descer os degraus da escada.

— Bom dia para você também! Decidiu abandonar a enfermagem e se tornar uma consultora de moda?— ela riu da minha pergunta. Era incrível como aquela garota e eu conseguimos intimidade em tão pouco tempo, quebrando todos os meus conceitos de relações sociais. Achei que fosse praticamente impossível eu criar ligações fortes com alguém novamente, mas admitia que com ela era diferente...não que eu já estivesse me apegando à ela. Mas apesar da garota ser doce e atenciosa, esta conseguia me tirar do sério às vezes e acabávamos sempre em discussões irrelevantes e ofensivas onde na maioria das vezes afetava mais a garota do que a mim.

— Que estranho ouvir um bom dia da sua parte... Mas bom dia! — abriu um sorriso de orelha a orelha para repentinamente formar uma expressão séria. — Eu fui na cozinha e vi uma garrafa de leite derramada no chão... Aconteceu alguma coisa? — agora ela se mostrava curiosa. Mas que droga! Havia me esquecido de limpar aquilo antes que ela chegasse. Agora teria que achar uma desculpa plausível para isso.

— Ah...aquilo... Eu só... — ela ainda me encarava esperando uma resposta de minha parte. — Bem... Eu apenas estava com fome e fui pegar alguma coisa na geladeira. Peguei a garrafa mas me assustei com um barulho na casa e acabei deixando a garrafa cair. Acabei esquecendo de limpar porque fui correndo me arrumar para não me atrasar no primeiro dia de aula. — falei calmamente tentando ser o mais convincente possível.

— Um barulho?... — ela me olhou preocupada.

— Ahhhh... Devem ser apenas roedores na casa. Ela é antiga não é? — a garota aliviou sua expressão e concordou com um "Deve ser".

— Você está pronto? Acho melhor irmos agora. Não é bom se atrasar no primeiro dia, você pode causar uma má impressão.

— Mais má do que a minha própria presença?

— Ora senhor Walker! Não fique aí se martirizando. Você é uma pessoa amável e se relacionar e criar amizades pode fazer uma boa impressão do senhor. Nem todos irão te julgar.

— Eu não sei... Acho que não tem como causar boa impressão com tudo o que passei... E por favor, para de me chamar de senhor Walker, isso é irritante! Me chame apenas de Jeff.

— Eu te entendo... Deve ser difícil ignorar todas essas coisas que te aconteceram e começar uma nova vida, mas acredito que se fizer um esforço para se relacionar com as pessoas, talvez você mude o que elas pensam de você. E quanto à minha forma de tratamento... — ela solta uma risadinha nasal. — era só uma forma de demonstrar o meu respeito por você. Mas tudo bem se você prefere que eu te chame apenas de Jeff. — ela para por um momento e olha o relógio que carregava no pulso esquerdo. — Vamos! Você vai se atrasar... — segui caminho para fora da casa em direção ao carro estacionado no meio fio. Esther vinha logo atrás destravando o carro e permitindo com que eu me sentasse no banco passageiro passado logo em seguida o cinto de segurança. Ela entrou e deu partida no carro.

                                                                                ⚜⚜⚜

 

  Após vinte minutos de viajem no carro, finalmente havíamos chegado ao portão principal do colégio. Destravei a porta e desci do carro já dando as costas para este quando Esther me chamou...

— Jeff! — me virei para ela. — Hoje, tenho que resolver alguns assuntos no hospital e não vai dar para te buscar. Infelizmente você terá que voltar de ônibus... Você acha que terá algum problema? — ela mostrava preocupação com a forma que falava.

— Sem problemas... — dei de ombros. Ela parou um pouco e ficou pensativa.

— Escuta... Tenha cuidado quando estiver na rua. Ouvi falar que um homem foi morto numa tentativa de assalto em frente à sua casa semana passada. Estou preocupada por você. — me lembrei de ter presenciado um assassinato na mesma semana e o relacionei com este de que ela falava.

— Não se preocupe. Eu vou ficar bem. Eu já vou indo senão vou me atrasar. — dei as costas para ela ouvindo um "Tchau" e em seguida o barulho do carro dando partida.
   
   

Quando finalmente entrei no colégio, fui recebido pelo mesmo diretor de antes...

 

— Bom dia senhor Walker! — ele diz e eu apenas sorrio amarelo. — Pontual... — ele olha o relógio em seu pulso e abre um sorriso. — Isso é bom. Venha comigo, vou lhe mostrar a sua sala. — ele começa a caminhar e eu o sigo sem dizer nada. — As aulas vão começar daqui alguns minutos então não haverá problema em apenas dar uma olhada. Neste momento os alunos estão se aprontando em seus dormitórios... Espero que se dê bem com eles. — revirei os olhos sem ele perceber. — Eu sei que vai... Aqui! Esta será sua sala. — paramos de frente para uma sala com uma plaquinha na porta e um número na mesma.. — Será a sala 10. A primeira aula será de Filosofia começando daqui 10 minutos. O café da manhã ocorrerá às 9:30 após o terceiro sinal para mudança de horário. A cada sinal, exceto o terceiro, ocorrerá troca de professores. Já falei de você para alguns deles então eles estarão cientes do seu caso. — eu apenas concordava com a cabeça. — Ah, não será necessário que você durma aqui hoje. Você poderá trazer seus pertences a partir de amanhã e eu lhe mostrarei seu dormitório.

— Eu já não trouxe hoje mesmo... — cocei a parte de trás da cabeça.

— Bom...assim evitamos mais trabalho desnecessário. Eu vou para minha sala. Você pode aguardar a chegada dos alunos e o professor aqui na sala. Faltam apenas alguns minutos para começar. — ele já se virava para ir embora. — Qualquer dúvida e problema, pode me procurar em minha sala. — concordei com um "uhum" e entrei na sala me sentando na última carteira da última fileira da esquerda.
  
    

Incrível como o tempo passa devagar quando se quer o oposto. Sentia a ansiedade aumentar conforme o tempo passava. Logo uma multidão de gente entraria por aquela porta e o silêncio que se faz presente daria lugar à uma verdadeira "feira" tirando todo o meu sossego. Batuquei os dedos, incessantemente, sobre a mesa numa tentativa de relaxar e evitar uma crise de ansiedade logo no primeiro dia. O barulho da madeira me desconcentrava e já direcionava meus pensamentos para um lugar bem distante da realidade. Com a mente viajando em alguma realidade paralela, me assustei com um barulho alto vindo do corredor que supostamente era o sinal para a entrada dos alunos em sala de aula. Me sentei corretamente e logo avistei alguns alunos entrando pela porta de ferro. Alguns deles me olhavam timidamente, outros me ignoravam e outros pareciam querer enxergar minha alma. Fiquei surpreso ao ver passar pela porta a mesma menina que havia se esbarrado comigo no corredor na vez passada que estive nessa escola. A reconheci por seus longos cabelos negros e sua pele incrivelmente pálida. Não percebi que meus olhos acompanhavam seus movimentos e vi ela se sentar na última cadeira restante bem no fundo da classe. Senti alguém cutucar meu braço e retomei minha expressão séria voltando minha atenção a quem me chamava.

 

— Ei novato! — vi um garoto alto de cabelos loiros, olhos claros e pele clara parado na minha frente me encarando junto com outros dois, que se encontravam à sua esquerda e direita cada um. Ele usava uma jaqueta esportiva e deduzi que este talvez jogava no time do colégio. — Está sentado no meu lugar.

— Não vi o nome "bixinha" pichado na carteira. — rebati com a minha famosa expressão de "foda-se" e vi ele apertar os punhos, bufando irritado e aproximando seu rosto do meu me encarando olho a olho.

— Quer morrer logo no primeiro dia novato? — revirei os olhos. — Acho que vou ter que te expulsar daí de um outro jeito... — ele segura a gola da minha jaqueta com força me puxando para mais perto de si.

— Não estou afim de perder meu tempo com você... — tirei suas mãos da minha gola.

— Ei cara... Esse é aquele garoto novato que saiu do hospício... Toma cuidado. — ouvi um dos garotos ao seu lado cochichar. Não contive um sorriso de canto, talvez pudesse usar isso ao meu favor.

— Ahh... Então é você o maluco que entrou no internato? Será que aqueles boatos de que você é perigoso são verdade? — ele sorri de canto e segura meu braço com força. Abaixei minha cabeça.

— ...Prometi para meu médico que tentaria controlar minha vontade de machucar as pessoas, mas parece que vou ter que quebrar essa promessa. — menti e ainda com a cabeça abaixada abri o sorriso mais sarcástico que conseguia e soltei uma risada baixa. Senti o idiota largar meu braço.

— Você pode ser maluco, mas não é capaz de enfrentar três...

— Hobi deixa esse cara! Ele é perigoso... — o outro garoto à sua esquerda disse aparentando estar assustado.
     Hobi... Então esse era seu nome...

— Vai me dizer que está com medo desse panaca?!

— Acho melhor escutar seus amiguinhos... Hobi... — levantei minha cabeça ainda com o sorriso sarcástico estampado em meu rosto. Vi ele me olhar estranho e dar um passo para trás. Estranhei ele recuar tão facilmente.

— V-você é maluco?! — ele olhava diretamente para minha mão direita e recuava mais e mais juntamente de seus amigos. Olhei na direção que ele olhava e me assustei ao notar que segurava um canivete. Minha mão estava trêmula e apertava o objeto com certa força. — Porque eu estou segurando isso?!— pensei ainda assustado. O canivete que estava em meu bolso traseiro, foi retirado de lá sem ao menos eu perceber. Levantei minha cabeça e vi que os garotos já haviam sumido da minha frente. Me virei bruscamente quando a professora bateu com força na porta da sala. Vi que todos os outros alunos também se assustaram com o ato repentino. Guardei rapidamente o objeto pontiagudo em minhas mãos e me sentei de forma correta.

— Bom dia alunos! — a professora deixou seus pertences na mesa reservada para ela e se posicionou de frente para a classe. — Espero que tenham feito o dever...

— Que dever?! — algum dos alunos presentes gritou chamando a atenção da sala e da professora.

— Não me venham com esses truques antigos que eu já estou acostumada. — a mulher solta uma risada e coloca as mãos na cintura. — O dever está na página duzentos e cinco e duzentos e seis, vou visitar valendo um ponto. — ouvia-se apenas murmúrios de reprovação e barulhos de folha sendo passada. A mulher passa os olhos pelo local e os fixa em mim. — Ora, ora... Parece que temos um aluno novo. — me encolho na cadeira e abaixo a cabeça. O que eu menos queria no momento era chamar a atenção. — Ora senhor Walker... Não se acanhe! Venha e se apresente para a turma! — lembrei do diretor falar que havia conversado com alguns professores sobre meu caso, portanto, alguns já saberiam meu nome.

— Não acho isso necessário...

— Ahh... Não seja tímido. Os alunos estão ansiosos para te conhecer. — ela abre um daqueles sorrisos irritantes. Neste momento, os olhares do local estavam todos voltados para mim. Suspirei pesadamente me rendendo e me levantei da carteira indo para a frente da turma onde se encontrava a professora. Antes de começar a falar, passei os olhos pelo local e avistei os garotos que haviam me atormentado sentados em um canto da sala com uma cara de deboche.

— Bem... Meu nome é Jefferson Walker, mas prefiro que me chamem apenas de Jeff. Tenho 20 anos, nasci em Hutchinson, moro sozinho... — tentava buscar os resquícios de memória na minha cabeça. — sou filho de dois grandes empresários da cidade...

— Acho que você quis dizer que "era filho de dois grandes empresários". — Hobi falou alto o suficiente para toda a sala ouvir e em seguida começou a rir juntamente de seus amigos. — Ah... Me desculpe! Acho que não superou a morte deles ainda. — abriu um sorriso debochado. Novamente senti um sentimento de raiva se apossar do meu corpo e para evitar constrangimentos, apenas serrei os punhos.

— Hobi Turner! — a professora chama a atenção do garoto. — Mais uma palavrinha e vai ter uma conversinha séria com o diretor! — o garoto revira os olhos. — Por favor, continue senhor Walker. — fechei os olhos por alguns segundos e os abri novamente já sabendo o que falar.

— Olha... Acho que devo ser mais um pouquinho direto. — falo seriamente e a professora me olha assustada. — Sei que vocês sabem de onde eu vim e sabem do meu passado. Não acho necessário essa historinha toda, os boatos já esclareceram quem eu era há muito tempo. Mas vou aproveitar a oportunidade para deixar algo bem claro... Posso não ser cem porcento louco como vocês acham, mas sou o suficiente para vocês não quererem me atormentar. Apenas cuidem de suas vidas e ignorem a minha existência, isso tudo tornará mais fácil a nossa convivência. Não quero problemas e sei que vocês também não, então...apenas não se metam comigo. — todos me olhavam estáticos. Sem mais conversa, caminhei em direção à minha carteira e me sentei. Vi a professora sorrir amarelo e chamar a atenção dos alunos...

— Bem... Vamos continuar nossa aula? Vamos, me mostrem as tarefas.— novamente os murmúrios de reprovação tomaram conta da classe. Ignorando eles, a professora deu continuidade à sua aula. Suspirei pesadamente e abaixei a cabeça na carteira. Pude sentir alguns olhares em minha direção. Alguns sussurravam entre si coisas inaudíveis enquanto me olhavam. — Poxa vida, nem para serem discretos — Pensei.

 

  O restante das três primeiras aulas, continuou normalmente. Nenhum professor ou aluno, pronunciaram meu nome novamente. Mas ainda haviam alguns que insistiam em me encarar. Isso já estava me tirando do sério, quando o sinal anunciando o intervalo tocou. Esperei todos saírem da sala e me levantei. Ao passar pela porta da sala senti alguém se esbarrar em mim.

— O que será que o diretor vai fazer quando souber que o aluno novato está andando por aí com um canivete em mãos enquanto ameaça eles?... — Hobi e seus amigos param na minha frente e me provocam.

— Aposto que ele não vai gostar muito. — completou um deles.

— Vocês não fariam isso... — disse com uma expressão séria enquanto apertava meus punhos.

— Você acha? Haha... — Hobi se virava para ir embora. — Até mais novato! — disse se afastando e sumindo na multidão que passava pelo corredor. Suspirei pesadamente pensando no quão ruim estava sendo aquele dia.

— Se metendo em problemas logo no primeiro dia... — me assustei com a presença ao meu lado. Era aquela garota estranha que havia se esbarrado comigo no corredor. — Porque deixou eles irem embora sem fazer nada?

— Prefiro não perder meu tempo com idiotas desse nível. — disse sem olhar em seu rosto.

— Esse é o tipo de desculpa usada por pessoas covardes... — fechei a cara com o que ouvi. Me virei preparado para mandá-la ir para o inferno mas vi que já não havia ninguém ao meu lado. Olhei meu arredor e notei que estava sozinho no corredor, presumi que todos já estivessem no refeitório. Caminhei até o local e vi uma multidão de gente fazendo bagunça em algumas mesas e outras vagando sem rumo. Me apressei em pegar uma bandeja com lanche que continha um sanduíche natural, uma caixinha de suco e uma maçã. Avistei uma mesa vazia no meio daquela bagunça e me direcionei à ela. Me sentei, abri a embalagem do sanduíche e dei uma bela mordida. Após a terceira senti alguém se aproximar e se sentar na minha mesa, de frente para mim. Permaneci na mesma posição, apenas direcionei meus olhos à essa pessoa e vi um garoto de cabelos castanhos e olhos verdes me encarando com um sorriso bobo.

— Olá! — ignorei seu cumprimento e voltei minha atenção ao sanduíche inacabado. — Me chamo Petter... Você é o Jefferson Walker, certo?

— Jeff... Me chame de Jeff...— respondi secamente entre uma mordida e outra.

— Jeff? Como o Jeff The Killer? — fechei a cara ao ouvir sua comparação nada sensata. Ele riu mas logo ficou sério ao perceber minha expressão desagradável. — Ok, me desculpe. Eu sou impulsivo às vezes... Não penso muito quando vou falar alg-

— O que você quer? — interrompi sua fala encarando ele com uma expressão de tédio.

— Bem... — vi ele abrir um sorriso envergonhado e coçar a nuca. — Eu vi você aqui sozinho e decidi vir falar com você. Você me pareceu tão solitário... Talvez precisasse de companhia.

— Eu estou bem... Não preciso de idiotas me atormentando. — amassei a embalagem do sanduíche. Vi uma expressão triste se formar no rosto do garoto e suspirei revirando os olhos. — Ok... Porque decidiu vir aqui ao invés de ficar com seus amigos? Não ouviu meu discursinho na sala?

— E-eu não sou muito popular sabe... — novamente o garoto sorriu envergonhado. — Achei que por você ser igual à mim, pudéssemos...sei lá... Ser amigos?
     Amigos?... Que tipo de idiota esse garoto era?

— Acredite... Você não é igual à mim, e nem iria querer se aproximar de alguém como eu. — ele me encarou desentendido.

— Porque não? Você me parece uma boa pessoa. — ele sorriu de forma gentil e eu apenas suspirei pesadamente. — Quem sabe possamos nos tornar amig- — o garoto foi interrompido por uma bolinha de papel que o acertou na nuca em cheio. Nos viramos na direção que veio o objeto e avistamos Hobi se aproximando junto de outros três garotos.

— Vejo que já fez amizade com o nerdizinho... — disse me encarando enquanto pousava uma duas mãos sobre o ombro de Petter. — Vocês combinam. A dupla de esquisitões... — Hobi e os outros garotos começaram a rir. Vi Petter abaixar a cabeça e apertar os punhos sobre a mesa demonstrando frustração. Respirei fundo e encarei o idiota à minha frente.

— Cansaram de se comer e resolveram vir bancar os machões? — encarei Hobi com um sorriso irônico no rosto e ele franziu o cenho.

— O que quer dizer com isso? — ele perguntou incrédulo.

— Oras... Com essas caras, tenho certeza que vocês transam com a bunda. — disse olhando para o rosto de cada um ali presente. Hobi me encarou irritado juntamente de seus amigos. — O que foi? Vocês são tão sensíveis assim, a ponto de se magoarem com as meras palavras do "esquisito" aqui? Ou talvez o que eu disse realmente seja verdade... — Hobi largou o ombro de Petter e sua expressão de ódio, mudou para um sorriso debochado.

— Garoto... Você não sabe com quem está mexendo. Vai se arrepender de cada palavra que disse. — podia ver a raiva em seus olhos, camuflada por aquele sorriso cínico. Hobi nos deu as costas sem dizer mais uma palavra após sua jura de  vingança. Quando ele alcançou uma distância considerável de nós, ouvi Petter gargalhar alto.

— Cara isso foi ótimo! Eu nunca vi o Hobi irritado dessa forma... Foi impagável aquela cara dele! — Petter falava com um sorriso no rosto, mas logo esse sorriso se desfez. — Você precisa tomar cuidado... — o olhei confuso. — Não ouviu o que ele disse por último? A partir de agora, esses caras vão fazer de tudo para tornar sua vida um inferno.

— Eu não tenho motivos para ter medo deles. — ouvi o sinal tocar anunciando o término do intervalo e houve uma grande movimentação de alunos pelo local, todos rumando suas devidas salas de aula. — Você também deveria pensar assim. — fiz menção de me levantar.

— Mas você não conhece esses caras. Eles são terríveis, me atormentaram por anos. — olhei para ele com um sorriso de canto.

— Eles também não me conhecem... Mas logo vão conhecer... — disse antes de dar as costas ao garoto, saindo daquele refeitório e rumando minha sala.

                                                                      ⚜⚜⚜

  
 

   Desmotivação, ansiedade, tédio...palavras que me definem perfeitamente no exato momento. Longos quarenta e cinco minutos que mais parecem uma eternidade. O grande ponteiro do relógio na parede parece ficar mais lento a cada movimento. Um "tic tac" incessante que se mesclava ao som das canetas se chocando contra a madeira das mesas, como forma de liberar a ansiedade crescente no corpo de cada um. Alguns optavam por outras terapias como... Desenhar coisas aleatórias em uma folha qualquer, mesmo não possuindo dons para tal, mas apenas uma forma de aliviar o tédio e o desinteresse presente no ambiente. Outros apenas se debruçavam sobre suas mesas e emergiam em um sono superficial em uma expectativa de diminuir o tempo desgastante daquela aula.

 

    Finalmente...

O som estridente do sinal, que mais se assemelhava à uma sirene policial em alguma perseguição afoita, soou assustando a maioria dos presente e retirando alguns de seus devaneios. Os alunos se levantavam afoitos de seus assentos, guardavam seus materiais de forma desleixada ignorando as falas da professora que tentava avisá-los sobre algum teste marcado para a próxima aula. Sem pressa alguma, me levantei da minha carteira e me direcionei à saída daquela sala, afinal não havia trago material algum. Pluguei meus fones e logo aproveitei a suave melodia de November Rain, ignorando todos os olhares curiosos no extenso corredor principal. Já com um dos pés do lado de fora do portão de entrada, sinto uma mão pesada segurar meu ombro direito. Estava tão inerte na melodia da música, que me assustei com o ato, virando bruscamente já esperando algum idiota querendo bancar o valentão mas o que vi foi apenas a imagem de um diretor lançando um olhar frustrado em minha direção. Tirei um dos fones de meu ouvido pronto para uma possível bronca.

 

— Senhor Walker, precisamos conversar. Venha até minha sala.

— O que tiver que falar, fale aqui. — disse sem o menor interesse de subir até sua sala. O homem me olha ainda mais frustrado.

— Fiquei sabendo, que um aluno novato anda pelos corredores do colégio apossando algum tipo de objeto pontiagudo enquanto ameaça a segurança dos outros alunos... — logo me lembrei de Hobi e no mesmo instante, o vi passar pelo corredor, me encarando com um sorriso cínico no rosto. — Devo repetir que não tolero comportamentos violentos em minha instituição?

— Bem... Na verdade isso foi um deslize meu... — cocei a nuca tentando usar um de meus teatrinhos para me safar da situação. — Eu sequer sabia que tinha trago um canivete à escola. Em um momento de distração eu acabei expondo esse objeto e alguns alunos, que provavelmente já me odeia, resolveram usar isso contra mim. Não tive a intenção de machucar ninguém e muito menos carregar algo dessa natureza comigo. — sorri envergonhado. — Prometo que isso não irá se repetir.

— Assim espero... E se livre desse objeto urgentemente! — o homem já se virava para ir embora quando uma brilhante ideia se passou pela minha cabeça e o chamei novamente. Ele me olhou esperando algo de minha parte. — Bem... Eu apenas queria falar que... Não é para acusar ninguém e muito menos algum tipo de implicância mas... Acredito que Esther, minha enfermeira, avisou que meu tratamento não está cem por cento concluído. — vi ele assentir com a cabeça e continuei. — Eu ainda não sou considerado completamente são, e meus médicos me alertaram para evitar muito estresse e qualquer tipo de estímulo negativo. Bem...eu realmente quero melhorar e jamais pensaria em machucar alguém, mas acontece que aqui nesse internato existem algumas pessoas que...digamos que "não foram com a minha cara" e adorariam me ver prejudicado. Tenho medo de que alguma hora eu possa me enfurecer a ponto de fazer algo que não quero e acabar prejudicando alguém. O senhor mais do que ninguém sabe que não tenho más intenções, apenas me preocupo com as pessoas ao meu redor. — menti descaradamente.

— Entendo... — ele parecia comovido com a minha atitude correta. Comemorei internamente. Com a ajuda do diretor, poderia haver alguma vantagem para mim, certo? — Poderia ser mais específico? Um nome por exemplo?

— Hãnn... Hobi Turner. Acredito que esse seja o nome. — ele me olhou surpreso. — Foi ele que me dedurou, não é? Já esperava por isso... — fiz uma expressão triste enquanto encarava o chão. Apesar de odiar todo aquele drama, queria deixar tudo mais verídico aos olhos do diretor.

— Não se preocupe! — ele segura o meu queixo e ergue minha cabeça. — Darei um jeito de ter uma conversinha com ele. Se tiver mais algum problema pode falar comigo! — abre um sorriso reconfortante e se vira entrando novamente na escola.

— Ótimo... — suspiro aliviado quando o vejo sumir.

 

— Porque você faz isso?...

— Hun?! — me viro assustado na direção da voz e vejo a garota estranha do corredor me encarando à uma curta distância. — Acho que você tem algum fetiche por aparecer do nada e assustar os outros. — observo ela rir soprado.

— Talvez eu goste de te assustar... Mas você não respondeu minha pergunta. Porque você faz isso? — a encarei confuso.

— Do que você está falando? — franzo o cenho sem entender seu objetivo com aquele tipo de pergunta.

— Você age como se não ligasse para o que aqueles garotos fazem. Você esconde sua raiva com esse sorrisinho medíocre. Nunca revida e acaba como um idiota covarde recorrendo ao diretor. — ouço suas palavras com uma expressão incrédula. — Fica se martirizando pelos cantos, se fazendo de pobre coitado e vítima. Como se isso fosse mudar alguma coisa...

— Porque fala como se me conhecesse? — vejo sua expressão inalterada e ela permanece em silêncio. — Você definitivamente é estranha... — dou as costas à ela distanciando-me em passos rápidos.

— Você não deveria negar sua natureza, Jeff! Não deveria correr como um garotinho assustado, como está fazendo agora! — ignoro seus gritos e continuo andando.

 

Qual é o problema dessa garota?... Qual é o meu problema por dar ouvidos à ela?

 

  Essa era a verdade, apesar de toda sua estranheza, o que ela havia dito mexeu comigo de alguma forma. Deve ser porque há alguma verdade no que ela disse...

 

Talvez eu deva parar de tentar agir como um coitado e finalmente abraçar meus próprios demônios.

 

Talvez eles possam me ajudar a alcançar meus objetivos...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


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