Dean POV
O funeral de Elliot havia terminado.
Amylee entrou no quarto desde então e eu fiquei na sala com Bobby e Sam, dividindo uma garrafa de whisky com ambos.
- Kathryn havia me pedido para ajudá-la - Sam comentou depois que eu comentei sobre o pacto com ele e Bobby.
- E você achou alguma coisa? - perguntei, aflito.
- Nada - Sam respondeu e eu me recostei na cadeira, suspirando. Um silêncio pairou entre nós e peguei meu copo, remexendo o líquido dentro dele.
- Não há nada que possa salvá-la - Bobby disse depois de um tempo - ela vai morrer.
- Tem que ter alguma coisa - falei e Bobby balançou a cabeça negativamente.
- Elliot já havia entrado em contato comigo quando Amylee fez o pacto - ele explicou - desde então, eu e ele temos investigado o enorme mundo sobrenatural em busca de alguma resposta. Não achamos nada.
- Talvez não tenham procurado direito. Tem - falei com mais ênfase - que haver algum jeito de salvá-la.
- Se ela tiver o temperamento autodestrutivo de Elliot, você vai ter sorte se ela ficar viva até o tempo do pacto acabar - Bobby disse com tamanha frieza que eu o encarei, surpreso - eu vi o que o pai dela passou quando Jane morreu. Foram duros anos. Ele deu seu sangue por essas meninas.
- Amylee não faria isso - murmurei.
- Você ainda não a conhece - Bobby rebateu e eu franzi a testa, incrédulo - ela levou um tombo bem grande.
Tomei o resto do whisky e me levantei, saindo dali.
⛤
Quando retornei para a casa, Sam dormia no sofá e não havia nenhum sinal de Bobby, o que indicava que ele havia ido dormir. Andei silenciosamente pelo pequeno corredor, parando em frente à porta do quarto onde Amylee estava, repensando se era uma boa ideia abrir aquela porta. Levei a mão até a maçaneta e hesitei, tomando coragem e finalmente abrindo-a.
Espiei para dentro do quarto e vi Amylee sentada no meio da cama, seu rosto estava apoiado entre as mãos.
- Oi - falei e ela me olhou - posso entrar?
Amylee assentiu e eu entrei, fechando a porta. Sentei-me na cama e, agora mais perto, pude ver seu rosto molhado pelas lágrimas.
- Queria ver como você está - eu disse e Amylee deu um sorriso cansado, enxugando o rosto com as mãos.
- Uma merda - ela respondeu - obrigado por se importar - ela disse e eu pude perceber o tom brincalhão lá no fundo.
- Eu sinto muito, Amy - falei, pegando sua mão - se eu puder fazer qualquer coisa…
- É, eu sei - ela sussurrou - eu só preciso passar por isso de uma vez.
Algumas horas haviam passado quando percebi meus pés gelados. A noite fria típica estava no seu auge e eu estiquei minha perna o mais delicadamente possível, alcançando o cobertor que estava sobre a cama, desdobrando-o com todo cuidado para não acordar Amylee que finalmente havia dormido ao meu lado. Estendi o cobertor e deixei-o cair sobre nós, começando a proteger-me do ar frio que pairava no quarto. Suspirei e encarei o teto escuro, esperando que eu pudesse finalmente adormecer.
⛤
Abri meus olhos e me virei na cama, percebendo que eu estava sozinho. Sentei-me ainda sonolento, coçando meus olhos na tentativa de despertar por completo. Ouvi a porta ser aberta e a luz que entrou do corredor me fez estreitar os olhos, adaptando-me à claridade.
- Oi - falei ao ver Amylee - tudo bem? - perguntei e ela assentiu em silêncio, deitando-se novamente na cama - que horas são?
- Sete e quarenta e cinco - ela respondeu.
- Nossa - arfei - não costumo dormir até esse horário.
- Sam trouxe café - ela disse, suspirando.
- Você já comeu? - indaguei, levantando-me.
- Não.
- Não? - ela não respondeu, permanecendo encarando o teto - e não vai?
- Eu tô bem - Amylee respondeu - só quero dormir.
- Tudo bem - assenti, saindo do quarto - volto já.
⛤
- Eu trouxe café - Sam disse assim que eu apareci na cozinha, sentando-me ao lado dele e Bobby, que tomava uma xícara de café, encarando a mesa.
- Fiquei sabendo - respondi, pegando um cheeseburguer do pacote.
- E eu achei um caso - ele disse, o que me fez olhá-lo.
- É? - perguntei de boca cheia - o que é?
- Lago Manitoc, Winsconsin. Sophie Carlton saiu para nadar e não foi mais vista nem nada. Eles até extraíram a água do lago, mas nada de encontrarem ela. E, pelo o que diz aqui, ela é a terceira atacada naquele lago esse ano. Nenhuma das vítimas teve seus corpos encontrados.
- Vai ver ela se afogou e foi devorada por peixes - respondi e Sam me olhou, com uma cara de tédio - o que é? Existem peixes carnívoros, não existem?
- Acho que devíamos investigar - Sam sugeriu.
- E deixar Amylee? - falei - ela não me parece em condições de caçar agora.
- Deixem ela - Bobby disse e nós o olhamos - eu tomo conta dela.
- Você? - as palavras saíram antes que eu pudesse conter.
- Qual o problema? Eu consigo cuidar de uma garota.
- Tem certeza?
- Podem ir. Eu faço companhia à ela. Todos nós aqui sabemos como a cabeça dela deve estar agora. Não é nada de outro mundo.
Amylee POV
Dean e Sam haviam saído sem me avisar.
Eu continuava deitada na cama, encarando o teto, mais desperta do que nunca, sabendo que qualquer tentativa de cair no sono seria em vão. Sozinha ali naquele quarto escuro, eu me sentia sufocada, com medo, como se o passar dos segundos zumbisse como uma assombração reprimida, um tic-tac ensurdecedor deixando-a em total estado de alerta.
Ouvi batidas na porta e eu dei um pulo, sentindo meu coração disparar automaticamente. Levantei-me e abri a porta, vendo Bobby parado do outro lado.
- Achei que você iria gostar de me fazer companhia lá fora - ele disse, espiando para dentro do quarto - não me parece confortável esse quarto escuro para você passar o dia todo.
- Eu tô bem aqui - respondi e Bobby suspirou.
- Vamos, Amy - ele insistiu - eu fiz algo para você comer. Olhe, eu e os meninos queremos te ajudar, mas você precisa nos ajudar também - desviei meus olhos dele, suspirando - Kathryn odiaria te ver assim.
Sorri sem graça, voltando a olhá-lo.
- Vou tomar um banho antes - falei e Bobby deu um meio sorriso.
- Tudo bem - ele concordou.
Autora POV
Bobby esperava por Amylee na cozinha. Ele havia preparado uma sopa de tomate encorpada, deixando-as sobre a mesa.
- Fiz seu café, ou jantar - ele disse assim que Amylee surgiu na cozinha, sorrindo sem graça - por mais que já sejam cinco da tarde.
- Obrigada - Amylee respondeu, sentando-se, deixando o celular sobre a mesa.
- Preciso fazer umas coisas lá fora antes que essa tempestade chegue - Bobby avisou, apontando para a janela - se precisar de mim, sabe onde me encontrar.
Amylee viu Bobby sair e suspirou, obrigando-se a comer a sopa inteira. O calor do dia dava lugar à ventos fortes, causando barulhos no lado de fora. A tempestade típica de final de tarde chegava à cidade, ostentando um céu cinza escuro. Amylee olhou para a janela, vendo as carregadas nuvens avançando de um jeito intimidador. Seu celular começou a vibrar e ela atendeu, sem tirar seus olhos da tempestade de verão.
- Alô? - ela disse, esperando resposta.
- Oi - a voz respondeu e ela prontamente reconheceu Dean - liguei para saber como você está.
- Bem - ela respondeu, recostando-se na cadeira.
- Bobby está sendo uma boa companhia?
- Está calor e ele fez sopa de tomate - Amylee respondeu e ouviu Dean rir - ao menos estava boa.
- Eu e Sam voltamos em no máximo dois dias - ele disse e Amylee mordeu o lábio. Dois dias era muito tempo.
- Tudo bem - ela respondeu, sentindo a agonia remexendo em seu estômago - dois dias.
- Você vai ficar bem? - ele indagou, esperando pela resposta por mais tempo do que pretendia.
- Sim - Amylee respondeu, olhando para a cadeira onde Kathryn havia se sentado para tomar café com ela alguns dias atrás.
- Te vejo em breve - Dean desligou e Amylee deixou o celular sobre a mesa, levando as mãos ao rosto, fraquejando, permitindo-se afundar em um choro doloroso.
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