Autora POV
- E aí? - Kathryn disse, sentando-se na cadeira ao lado de Sam em uma cafeteria ao sul da cidade onde havia o caso sobrenatural a ser resolvido - o que temos?
- “Arquiteto Sean Boyden despenca para a morte do telhado em um condomínio que ele projetou” - Sam leu de seu notebook e Kathryn se aproximou dele, estrategicamente.
- Constrói um prédio e pula do alto dele. Que classe - Dean comentou, passando o braço discretamente por trás de Amylee, que estava sentada ao seu lado - quando chamou o Controle de Zoonoses?
- Dois dias antes - Sam respondeu.
- Ele disse cão negro mesmo? - Amylee perguntou, inquieta.
- É. Cão negro feroz e selvagem - Sam confirmou e Kathryn olhou para a irmã - as autoridades não acharam e ninguém o viu. As autoridades não entendem como um cão selvagem passa pelo porteiro, pega o elevador e começa a destruir as paredes de um apartamento de luxo. Depois, cessam as ligações e ele não vai trabalhar. Dois dias depois, ele pula.
- Acha que se trata mesmo de um cão negro? - Dean perguntou, semicerrando os olhos.
- Existem casos de cães negros no mundo inteiro. Uns dizem que são espíritos de animais. Outros, que são presságios de morte. Seja como for, eles são grandes, maus… - Sam disse e virou o notebook para Dean e Amylee, mostrando a foto de um cão gigante. Amylee enrijeceu, sentindo um nó se formar em sua garganta.
- É. Aposto que podem arrancar sua perna. Olha esse - Dean apontou para a tela e Amylee olhou-o - o quê? Eles podem.
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- Você e Sean Boyden foram sócios por quase dez anos, não é? - Amylee perguntou e o cara a encarou por alguns segundos, desviando depois para Dean, Sam e Kathyrn, que analisavam a decoração minuciosamente.
- Fomos - ele respondeu - diga outra vez, isto é para…
- Um tributo ao Sr. Boyden - Kathryn respondeu, com firmeza - Architectural Digest.
O cara soltou um riso irônico e olhou em volta.
- Acha engraçado? - Sam indagou, seriamente.
- Não - ele respondeu - é que… Um tributo… É. O Sean é que fica com o tributo. Ele se mata, deixa à mim e a família dele na mão mas ganha outro tributo.
- Certo - Dean disse - sabe por que ele faria uma coisa assim?
- Não faço ideia. A vida dele era ótima.
- Como assim? - Dean perguntou.
- Ele era um gênio. Eu sou bom, mas perto dele… Mas nem sempre foi assim.
- Não? - Amylee perguntou.
- Quer saber a verdade? - ele me olhou - houve um tempo em que ele não projetava nem um barraco. Há dez anos, ele trabalhava como barman num bar chamado Lloyd’s. Uma espelunca.
- E o que mudou? - Sam perguntou.
- Não faço ideia. Da noite para o dia, ele pega um trabalho enorme e começa a projetar. E projeta o edifícios mais incríveis que alguém já viu. Assim do nível de um Van Gogh ou Mozart.
- Como?
- Estranho. Todos os gênios, eles morrem cedo, não é? Você tem todo aquele talento… Por quê? Por que jogá-lo fora?
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Dean havia seguido até o Centro de Controle de Zoonoses e Amylee, Kathryn e Sam esperavam no carro.
- E aí? - Sam perguntou assim que Dean entrou no Impala.
- O nome da secretária é Carly - Dean respondeu e Amylee o encarou, surpresa - vinte e três anos, curte caiaques…
- Ah é? - Amylee disse e Dean a olhou brevemente, sorrindo de canto.
- Os cães são de verdade - Dean continuou.
- Você se lembrou de perguntar se ela viu algum cão negro recentemente? - Kathryn indagou, satisfeita com o clima que ela percebia entre Dean e Amylee. Ela não era burra. Kathryn percebia o jeito que Dean e Amylee se olhavam, o jeito com que ele esticou seu braço por trás dela, o jeito que ele a queria perto. E isso fez Kathryn sorrir, feliz com o desenrolar da breve e iniciante história dos dois.
- Todas as reclamações desta semana sobre tudo grande, negro, com cara de cão - Dean entregou um lista à Sam - são dezenove ligações. E eu não sei o que é isto aqui - ele apontou para uma frase anotada à caneta e Kathryn se esticou do banco de trás, olhando de perto.
- O endereço da Carly no MySpace? - Kathryn exclamou ao ler e Dean a olhou com uma cara estranha.
- MySpace? - Dean disse - que droga é essa? - Sam começou a rir e Kathryn suspirou - é sério. É algum tipo de site pornô?
- Você só consegue as coisas na base do flerte? - Kathryn indagou - que mulherengo - ela comentou, julgando-o, encostando-se no banco novamente.
- Decepcionada, mas não surpresa - Amylee disse e Dean a olhou.
- Sinto muito. Eu sou irresistível - Dean respondeu, sorrindo brevemente.
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Como o esperado, o quarteto seguiu até endereço de uma das ligações. Sam bateu na porta da casa e eles aguardaram pela resposta de alguém na casa.
- Eu juro, se for outro cachorro histérico latindo no quintal do vizinho… - Dean resmungou e a porta foi aberta.
- Boa tarde, senhora - Amylee disse simpaticamente - somos do Centro de Controle de Zoonoses.
- Ah, já mandaram alguém ontem - a mulher respondeu.
- Nós só viemos conferir - Sam explicou e a mulher assentiu, deixando que eles entrassem - procuramos a Dra. Sylvia Pearlman.
- A doutora - ela começou - olhe, ela… Eu não sei bem quando ela volta. Ela viajou há dois dias.
- Certo, e você é? - Dean perguntou.
- Empregada da Srta. Pearlman.
- E para onde a doutora foi? - Kathryn perguntou.
- Eu não sei. Ela fez a mala e saiu. Eu não sei aonde ia. O cão, vocês acharam, afinal?
- Ainda não - Sam respondeu - diga, você chegou a ver o cão?
- Ora, não. Eu nem sequer ouvi. Eu cheguei a pensar que a doutora estava imaginando coisas. Mas ela não é assim. Então…
- Eu li que ela é… Cirurgiã-chefe no hospital? - Dean perguntou - ela deve ter o que, 42, 43? Muito jovem para o cargo.
- A mais jovem na história do lugar - ela respondeu - ela foi promovida há dez anos.
Sam e Dean trocaram olhares desconfiados.
- Um sucesso repentino há dez anos - Kathryn comentou, semicerrando os olhos..
- É - Dean disse - conhecemos um cara assim. Ah, olhe para isso - todos o olharam e Dean tirou uma foto da geladeira, mostrando para eles.
Atrás, estava escrito “Lloyd’s bar. Novembro de 1996.”
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E, seguindo as pistas, a próxima parada foi o Lloyd’s bar.
Que como eles já imaginavam, ficava na beira de uma encruzilhada.
Eles desceram do carro, analisando o local enquanto andavam pela rua. Era uma estrada de terra, cercada por flores amareladas e uma grama alta com aspecto seco.
- Acham que alguém plantou isso? - Kathryn indagou, apontando para as flores - no meio dessas ervas daninhas?
- São, como é o nome mesmo? - Dean respondeu.
- Milefólio - Amylee respondeu, concentrada em suas lembranças.
- É - Dean concordou - não é usado para rituais?
- São - Amylee concordou, sentindo o peso do olhar da irmã sobre si - rituais para conjurar.
- Então, duas pessoas têm sucesso repentino há dez anos - Dean comentou - na mesma época que andavam por aqui no Lloyd’s. Bem aqui tem um encruzilhada. O que acham?
- Vamos descobrir - Sam disse.
- Aqui parece o centro pra vocês? - Dean disse, parando no centro da encruzilhada.
Depois de cavar, Dean encontrou uma caixa. Ele a abriu e nela continha várias coisas, dentre elas ossos e um vidro com um pó preto.
- Aposto que é pó de cemitério - Kathryn disse quando Sam pegou o vidrinho que estava dentro da caixa.
- E ossos de gato preto - Amylee concluiu.
- Um feitiço pesado - Dean comentou - isto é coisa de vodu do sul. Usada para chamar o demônio.
- Não só pra chamar - Sam disse - encruzilhada é o lugar de pacto. Estas pessoas fizeram pacto com o demônio. Porque isto sempre dá certo.
- Estão vendo cães mesmo - Dean continuou - mas não são cães negros. São cães do inferno. Pit bulls do demônio.
- E seja qual for o demônio, ele voltou para cobrar - Sam concluiu - aquela doutora, pra onde quer que ela esteja fugindo, não vai correr rápido o suficiente.
- Então é igual a lenda do Robert Johnson? - Sam perguntou - digo, vender a alma para o diabo na encruzilhada?
- É - Dean respondeu - só que não é uma lenda. Você conhece a música. Nunca ouviu as canções de Robert Johnson? Sam, há referências ocultas em todas as letras. “Cross Road Blues”, "Me and the Devil Blues”, “Hell Hound on My Trail”? A história diz que ele morreu engasgado com o próprio sangue. Ele estava alucinando falando em cães grandes do mal. E agora está acontecendo de novo.
- É - Sam disse - temos que descobrir se mais alguém fez negócios por aqui.
- Grande! - Dean resmungou - vamos limpar a bagunça dos outros por eles.
Amylee recuou, sentindo-se tonta. Aquilo era como um trailer do que estava por vir, de como seria os seus últimos dias na Terra. Kathryn olhou para a irmã, as sobrancelhas arqueadas em pena e culpa.
- O que é? - Sam perguntou ao irmão.
- Eles não são nada imaculados - Dean continuou - ninguém pôs uma arma na cabeça deles para forçá-los a fazer pactos.
- E daí? - Amylee rebateu - vamos deixá-los morrer?
- Alguém se joga do Niágara num barril e você pula para salvá-lo?
- Dean - Kathryn repreendeu-o e ele a encarou - não vai pensar assim para sempre. Eu tenho certeza.
- Tudo bem - ele disse com um sorriso forçado - legal. Em um ritual assim, você tem que pôr sua foto no meio. Então - ele remexeu a caixa e tirou uma foto - este cara conjurou o diabo. Vamos ver se alguém lá dentro o conhece. Se ele ainda estiver vivo.
Dean bufou e voltou para o Impala, seguido por Sam. Kathryn se aproximou da irmã e Amylee balançou a cabeça.
- Não diga nada - Amylee respondeu - por favor.
Kathryn apenas assentiu, mordendo o lábio. Talvez essa caçada não tivesse sido uma boa ideia.
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