História Querer - Capítulo Único

O sol começava a nascer e já estávamos parados em frente ao portão da vila. Olhávamos o caminho a nossa frente em silêncio. As despedidas já haviam sido feitas, no entanto eu podia sentir que ela hesitava o que me deixou intrigado. Ela nunca hesita.

Observei-a de soslaio e a vi suspirar, a hesitação de segundos antes desparecendo por completo. Suspirei também; aquilo significava que a hora chegara. Ela só voltaria a Konoha dentro de dois meses.

- Você tem estado muito pensativo. – ela comentou. A hesitação era para iniciar uma conversa? Estranho, no entanto, não surpreendente, ela é uma estrategista afinal, e sempre pensava no próximo passo. – Eu não consigo decifrar o que se passa aqui todas às vezes, você sabe. – ela tocou minha testa com o dedo indicador, o cenho franzido indicava o desagrado em admitir aquilo. Eu sorri de canto e ela arrumou sua postura. – Quer me dizer algo? – ela sugeriu.

- Não é nada. – eu respondi. Levei minha mão direta à minha nuca, num ato quase automático. – Não se preocupe.

- Não estou. – ela disse firme e voltou a olhar para o caminho que tinha em frente. Nas últimas vezes ela acabou indo bem mais rápido, contudo desta vez, já estávamos parados um ao lado do outro há quase meia hora, resultado do tempo que ficaríamos sem nos ver provavelmente; eu agradeci internamente que poderia ficar um pouco mais de tempo em sua companhia. – Eu devo ir agora. – ela não olhou para mim. – Até mais, Shikamaru. – e sem esperar que eu respondesse, partiu.

Eu fiquei olhando aquele caminho por um bom tempo antes de sair do transe em que estava preso. - O que está fazendo ai parado? – perguntei a mim mesmo. Eu queria dizer-lhe, não é? Onde estava minha determinação agora?

Suspirei. Aquilo seria problemático de se fazer. Olhei para o céu em busca de nuvens, todas iam ao mesmo sentido que ela, pareciam me guiar, mas eu já conhecia aquele caminho. Então eu comecei a correr, antes que não pudesse mais alcança-la.

Demorou, entretanto, não tanto quanto eu pensei. Ela não estava viajando no ritmo usual, parecia saber que eu viria atrás dela. Problemática!

- Espera. – gritei e ela virou-se em minha direção, arregalando os olhos em surpresa.

- Esqueceu alguma coisa? – ela foi irônica, o sorriso presunçoso lhe enfeitando o rosto.

- Na verdade, esqueci. – ela arqueou a sobrancelha. – Eu queria te dizer algo...

Como começar a falar? Bem, eu não havia planejado aquele momento.

- Eu queria que fosse fácil dizer o que eu corri até aqui para te dizer. Não é. Você sabe disso. Queria ter milhões de palavras bonitas para te dizer, mas não tenho. Queria que a situação fosse outra também, ainda assim, este parece ser o melhor momento para isso. Queria muitas coisas, contudo, algumas coisas não são como queremos, não importa o quanto desejamos ou quanto tempo desejamos. – ela continuou em silêncio.

- Eu queria não sentir o que sinto... Tudo seria muito mais fácil. Entretanto seria vazio, sem graça, e você me trouxe tantas emoções, tanta vida. – podia sentir minhas mãos soando um pouco mais a cada segundo. A expressão dela endureceu.

- Queria não ficar tanto tempo longe de você, por que a saudade me domina e me sufoca. Queria conseguir não pensar tanto em você também, contraditoriamente você é dona dos meus sonhos, de todos eles se é que me entende. – ela enrubesceu e eu senti vontade de beija-la, mas não poderia, não ainda.

- Queria era poder ver teus olhos todos os dias, te abraçar todos os dias, te ver sorrir todos os dias. Queria era poder sentir o teu cheiro, confundindo meus sentidos, ouvir tua voz, acalmando meu espírito, sentir teu toque, aquecendo meu corpo. Jogar a tarde inteira com você, só para ver sua empolgação e poder admirar o quanto é assustadoramente inteligente.

- Shikamaru... – ela tentou me interromper, mas eu toquei seus lábios num pedido mudo de silêncio.

- Queria ao menos conseguir descrever o que sinto, no entanto, não sei como fazê-lo... Porém, esse sentimento me fez correr até aqui, atrás de você. É forte e verdadeiro. É complicado e demasiadamente problemático. É indescritível, mas se pudesse coloca-lo em palavras provavelmente elas seriam firmes e bonitas, assim como tu és. – a intensidade do olhar dela me garantiu que nada que eu tivesse planejado seria melhor que aquele momento.

- Queria era ser eu, o motivo do teu sorriso mais sincero, da tua lágrima mais feliz, do teu amor mais intenso e verdadeiro. Você sempre foi muito mais do que eu queria, problemática, não obstante agora, é tudo o que eu mais quero. - acariciei seu rosto e ela fechou os olhos brevemente. Continuei. Minha própria voz ficando embargada. - Queria nunca mais ter que ver você partir, e felizmente, isso nós podemos mudar. – os olhos arregalados em surpresa me fitaram cheios de lágrimas.

- Isso é...? – ela se interrompeu ao ver meu pequeno sorriso.

- É.

Ela me abraçou, não delicadamente e sim bruscamente, eu tive a sensação que ela poderia me partir se assim desejasse.

- Eu nem sabia, como poderia... Mas você apareceu e me mostrou que é tudo que eu sempre quis. – ela sussurrou e então se afastou um pouco para poder olhar em meus olhos. – E eu queria que você me beijasse agora, preguiçoso. – E eu a beijei.