História Querida, eu vou puxar sua mão. - Puxão.

Depressão. Palavra que causa pena em uns, impacto em outros. Quando as pessoas ouvem sobre isso, logo pensam em alguém que só está triste, ou se corta ou que está com frescura. Depressão é algo mais profundo que isso e mesmo se "curando", no fim ela sempre estará bem no fundo esperando um momento para surgir novamente.

Conselhos como "vá ao médico", ou "faça uma força para melhorar", não ajudam. As pessoas não percebiam que precisava de apoio e mãos que estivessem dispostas a te levantar. Na verdade, você tinha, mas por causa de sua depressão, eles acabavam te deixando. Com um tempo, simplesmente se cansavam de oferecer-lhe ajuda sendo que você recusava. Infelizmente isso só piorava seu estado.

Somente um amigo insistia em oferecer não só uma mão, como também o corpo todo se fosse necessário. O jovem goleiro da Raimon que todos amavam, o perfeito Endou Mamoru.

Era incrível como o garoto tem uma paciência imprescindível e uma alegria inabalável. Todos os dias ele vinha em sua casa, normalmente parava em frente a porta de seu quarto, o qual vivia fechado. Às vezes você o dava permissão para entrar. Então, Endou começava a conversar animadamente com você sobre assuntos aleatórios.

Sempre questionando como estava se sentindo. Era possível ver por uma fresta, o sorrisão amarelo estampado na face. Qualquer um diria que era um sorriso ridículo, mas... É o Endou. Ele não dá a mínima para essas coisas. Daqueles lábios só escapavam diversão e humildade. Nunca se lembrava de, nem mesmo uma vez, palavras como "por que você tenta sair mais?", serem ditas.

Mamoru viva lhe convidando para passear, jogar futebol ou até para atravessar a esquina. Sua palavra sempre continuava intacta.

— Não.

E o que ele fazia? Respeitava sua decisão, o que não faz sentido algum, visto que qualquer pessoa insistiria acreditando que conseguiria fazê-la melhorar ao sair.  Uma vez perguntou o porquê dele não insistir.

— Se você não quer, por que eu a forçaria? Eu simplesmente preciso esperar até que diga sim por sua própria vontade. Enquanto isso não acontece, eu continuarei te perguntando.

Quando você revela que tem depressão, os outros olham bem para seu rosto e têm a audácia de te ferir com as piores palavras.

— Você não tem cara de quem tem depressão.

Humanos e seus malditos padrões. Só porque sorria na frente de todos, significa que está saudável e bem? É tão difícil enxergar por trás das máscaras? E o pior é que toda essa ignorância só a fazia regredir na melhora. Não é frescura, não é uma birrinha pra chamar atenção. É a sua alma que sentia dor. No momento você a enfrentava, sofrendo em silêncio.

 Mamoru estava sentado numa cadeira, em frente a cama, na qual se deitava enrolada por entre as mantas. Ele parou um pouco a fala, para logo em seguida, perguntar preocupado.

— Quer desabafar?

Sua cabeça meneia um não mesmo que quisesse despejar tudo o que sentia e pensava, descontar sua frustração e raiva nos ouvidos do goleiro. Porém não tinha o direito de perturbá-lo com seus problemas. Foi aí que no meio do silêncio formado, o garoto se levanta abruptamente e caminha até ficar em sua frente e te estende a mão.

— Você quer ajuda?

Por que essa pergunta de repente você não fazia ideia, apenas acenou positivamente.

— Você quer melhorar?

Esta não fez nenhum sentido como a anterior, mas você responde que sim novamente.

— É claro que não vai conseguir sozinha, então... Eu vou te dar todo o apoio que precisar. Conte comigo. — Ele finaliza com o clássico sorriso mostrando os dentes, que te faz sorrir discretamente também. Você então se prepara pra apertar a mão estendida. — No entanto... Se pegar esta mão, eu vou te puxar pra fora com tudo, ok?

Concorda sem saber o que o goleiro queria dizer. Parecia uma metáfora, qual finalmente compreendeu quando Endou a puxou de verdade ao balançar sua mão num leve cumprimento. A queda seria iminente se ele não a pegasse, segurando-a firme em seu peitoral. Seu rosto cora um pouco ao perceber tamanha proximidade a ponto de ouvir o coração dele, que ri brincalhão.

Depois daquele dia, você melhorou consideravelmente e já sentia vontade de fazer tudo o que gostava. Não significa que estava curada é claro. Ainda surgiam crises e recaídas, mas o impulso dado por Mamoru fora de grande importância.

Entretanto...

Quem necessitava de ajuda era ele.

...

Você corria apressada pelos corredores daquela escola que mal sabia o nome. Na verdade acabara de chegar. Fazia um tempinho desde que viu o goleiro. Depois da Raimon ter sido destruída pelos "alienígenas", ele e o resto do time embarcaram na Caravana Inazuma para impedi-los. Como não é jogadora, nem assistente, você teve que ficar. Mas justamente hoje, você telefonou para Kidou indagando sobre notícias. Qual não foi seu espanto ao descobrir que Kazemaru os abandonou e isso abalou Endou de uma forma deplorável.

Quando deu por si, já estava ali no terraço. Endou se encontrava sentado no chão, encostado nas grades do local, a cabeça abaixada. Não foi preciso adivinhar pra saber que sua expressão é de melancolia. Sua alma não exibia aquele ar excêntrico e otimista de sempre. Você permaneceu ali, queria muito ajudar, mas o que fazer? O que falar?

Sendo assim, você apenas abaixou e estendeu a mão da mesma maneira que ele fez tempos atrás. Mamoru então, levantou o olhar confuso.

— Você quer ajuda?

Ele, observa silencioso.

— É claro que não vai conseguir sozinho, então... Eu vou te dar todo o apoio que precisar. Conte comigo.

Essas foram as únicas palavras que passaram pela sua mente e decidiu pronunciá-las com o intuito de surtir o mesmo efeito com qual surtiram em você. Não era uma troca de favores, muito menos obrigação. Sua presença ali é por pura vontade. Endou esteve dias ao seu lado, desperdiçando tempo, dando-lhe toda a atenção que a faria melhorar.

— Isso... É por todos os sorrisos. Todo o tempo que ficou encostado com as costas doloridas, encarando a porta na cara... Os incontáveis "nãos" que eu dizia de forma rude, mas sem dúvida, obrigada por aquele puxão.

— Eh?

Seus olhos se arregalam ao perceber que tinha falado em voz alta. Seu rosto esquentou de vergonha quando Endou prestava atenção em você. Todavia, ele deu seu costumeiro sorriso. Isto te aliviou, e quando o goleiro apertou sua mão, você o puxa do mesmo modo que fizera contigo.

Só não esperava que um beijo bem no canto de seus lábios acontecesse. A sorte foi que ninguém notou. Se notaram, fingiram bem.

— Obrigado.

O agradecimento dele veio cheio de gratidão, mas quem estava grata mesmo era você. O que um simples gesto não pode alterar na realidade de alguém?