História Querida Marge - Na plateia

Querida Marge,
   Mesmo que você pense que as maiores emoções acontecem no palco, você não tem como imaginar os pequenos triunfos que podem acontecer na plateia.
   Não é de hoje que Ally me diz que eu tenho uma boa voz para investir na música também, mas o palco me parece uma fera assustadora, não sei como ela consegue. Então eu digo à ela que fico feliz em apenas estar por perto para vê-la cantar, embora a música signifique para mim tanto quanto significa para ela.
   A boa notícia é que eu não fico mais sozinha na plateia. A boa notícia é que é ela quem me faz companhia. Mas eu não quero contar as coisas sem uma introdução.
   Eu já havia dito, Marge, que Normani Kordei era amiga da garota de olhos verdes. O que eu não disse era que elas eram muito amigas e na escola poucas pessoas gostavam delas. E eu, na verdade, nunca entendi isso muito bem. Mas isso não vem ao caso nessa carta.
   Mas Normani esses dias notou-me fazendo o costumeiro sinal de positivo para Ally no palco. Ela me perguntou se eu não iria cantar também e Dinah explicou que eu era apenas uma ouvinte ali. Normani então cochichou alguma coisa com Dinah que eu só pude entender no outro dia: Ela pediu permissão para levar alguém também. Para levar ela.
   Marge ela veio tão linda. Um sorriso orgulhoso e aqueles olhos verdes pareciam abranger o mundo. Ela se sentou do meu lado porque nós éramos as únicas ouvintes ali. Ela sorriu pra mim, com a boca, com os olhos, com a alma. Eu sorri de volta e disse meu nome. Ela me disse o dela.
   Lauren, Lauren Jauregui.
   No geral, nós não nos falamos muito. Ela dedicava quase toda sua atenção à Normani, o que explicava seu olhar orgulhoso. Me  perguntava se eu tinha o mesmo olhar em relação à Ally, porque ela também me dava muito orgulho.
   De qualquer maneira, mesmo sem muitas palavras, ela pareceu preencher um espaço naquele auditório que até aquele dia eu não havia notado. Foi muito bom tê-la ali. Então eu acho que o fato é que ela preencheu os meus espaços. Foi muito melhor do que vê-la apenas de longe.
   Em um momento, ela puxou um caderno e começou a rabiscar. Eu tentei ver o que era, mas ela me pegou olhando e me chamou de curiosa. E não foi ofensivo porque ela sorria. Eu me desculpei, mas ela disse pra não me preocupar porque era apenas um desenho e, se eu fazia mesmo tanta questão, ela me mostraria quando terminasse.
   Foi bom ter essa promessa para almejar porque ela me dava esperança de ver aqueles olhos de perto mais vezes.
   Hoje eu escrevo do terraço porque as chuvas deram uma folga e eu descobri que esse é o melhor lugar para pensar em Lauren. A lua agora se esconde entre as nuvens, mas eu não sei por que isso não me preocupa. Talvez porque meus pensamentos estejam em algum lugar lá em cima escondidos com a lua.
   No meu quarto eu deixei uma atividade de física pela metade porque a chegada de Lauren tirou toda a minha atenção. As meras palavras que trocamos, além dos nossos nomes, eram relacionadas à Ally ou Normani. Exceto por algo que ela me disse quando o ensaio terminou:
-Acho que você vai ser uma ótima companhia nessa plateia.
   E sorriu e saiu. E eu não preciso explicar o que isso me causou.
Com amor, Camila.