História Querido vizinho - Primeiro contato

Os vizinhos fizeram outra festa ontem a noite, pessoas estranhas aquelas que entram lá, geralmente todas em grupos e vestidas de maneira elegante demais. A musica é sempre baixa e não tenho a possibilidade de ligar para a policia e finalmente saber como é lá dentro, se bem que eu nunca vi nenhum deles se meter em nenhuma briga.

Eles moram na frente da minha casa a cerca de seis meses, tempo o suficiente pra já ficarem mal falados por não cumprimentar o bairro todo (como é o costume da nossa região ao se mudar) e tempo o suficiente para mim reparar como eles realmente são. Eu sei, todos do bairro no fundo sabem dessa anormalidade, mas ninguém tem coragem de assumir, ou ninguém tem coragem de admitir que acredita nisso.

Mas eu sim caros amigos, eu sim vou contar, afinal, eles não podem ficar aqui e não descansarei até que eles sejam banidos do meu lar. Vou começar do dia em que os conheci, do dia em que todo o bairro comemorou com a chegada deles (assumo que até eu fiquei feliz naquele dia).

Setembro, dia 18

- Oi- disse mamãe com uma frigideira na mão.

- Oi mãe

- Como foi o seu dia? - ela dividiu os ovos da frigideira entre os dois pratos na mesa

- Bom - Menti

- Muito trabalho?

- Na verdade não, não há muitas pessoas aqui na cidade que queira minhas aulas, acho que em breve terei que ir procurar em outra cidade,

- Você vai achar, acredite.Mas, e ai, soube que seu pai vai vir para casa semana que vem? Talvez ele traga presentes.

- Não sendo outra boneca... 

- Vou pedir para ele não trazer nada nesse estilo, não se preocupe.

- Obrigada mãe 

Eu e mamãe eramos muito parecidas, a não ser pelo cabelo, o meu era mais escuro e talvez pela falta de noção dela (que eu me orgulho de não ter herdado). Ela e papai não se viam muito, ele viaja muito e ela não sai de casa.

- Estou pensando em participar do "grupo" esse ano - O grupo é uma reunião que a terceira idade faz todos os dias na capela para jogar cartas e bingo, é claro que apenas idosos podiam participar, e minha mãe provavelmente teria que dar o seu "jeitinho" para conseguir, mas eu sinceramente iria adorar vê-la em outro lugar que não seja a cozinha.

- É uma ótima ideia, mas você esta na terceira idade?

- Mais um motivo para mim querer entrar logo no grupo, sou mais jovem que a maioria e poderia ajudar bastante lá.

- Não sei, mas tomara que consiga.

- Sim,bem... o que acha de visitarmos a sua tia nesse final de semana? Soube que ela já esta para ganhar o bebe...

- Combinei com um pessoal para revezar os turnos, provavelmente não vou poder, mas você pode ir, seria bom visita-la, a quantos meses vocês não se veem ?

- Alguns, não sei, uns dois?

- Sim, desde as férias.

- Acho que vou sozinha mesmo, preciso resolver algumas coisas com ela ainda.

- Ótimo mãe.

Era bom conversar com ela, mamãe podia ser oque fosse, mas tenho que admitir que graças a ela eu não era do tipo que falava muito (o que eu acho bom), perto dela eu tinha tempo o suficiente para pensar e colocar toda a minha desordem no lugar.

- Quem são? - Perguntei apontando pra janela

- Os novos vizinhos, soube que vieram de algum lugar distante, talvez não saibam nem a nossa língua, uma ótima oportunidade para uma professora ensinar o idioma local e ganhar algum dinheiro aliás.

Dois caminhões haviam parado em frente a casa e homens uniformizados descarregavam tudo na maior calma, mas os novos donos da casa não estavam ali, oque eu achei estranho, afinal, se fosse eu, não desgrudaria um só segundo das minhas coisas. Móveis velhos, e uma série de pequenas decorações saiam, uma a uma, estranhas para uma casa como aquela, estranhas para qualquer pessoas, tinham cores frias demais e não passavam sentimento algum, não pensem que eu estou esperando que os móveis falem ou algo do tipo, mas tudo oque era descarregado dos caminhões parecia ser feito o "mais comum possível", nada tinha personalidade ali.

O descarregamento durou mais ou menos duas horas, com homens saindo e entrando na casa, por volta das dez horas que eu os vi pela primeira vez, desceram um a um de um carro grande e preto. Um homem mais velho primeiro, era grisalho e cambaleava um pouco ao andar, daria para ele talvez uns sessenta anos; O segundo a sair do carro também era homem, bem mais jovem que o primeiro e extremamente bonito, a terceira pessoa a sair foi uma mulher alta e magra, de cabelos alaranjados e extremamente bonita, depois dela outra mulher saiu, exatamente como a anterior, supus que fossem gêmeas. A ultima pessoa que saiu, era a mais diferente, uma mulher alta de cabelos pretos e roupas sem vida alguma, ela carregava uma pequena maleta em uma das mãos e na outra um gato amarelado, ela foi a unica que me viu espia-los. Eu me apaixonei assim que a vi. Esperei ansiosamente que ela saísse da casa no dia seguinte mas ela não saiu, nenhum movimento na casa, nada.