História Quero Estar ao Seu Lado - Olhos Perolados

Primeiro dia de fevereiro, iniciando as aulas de seu segundo ano do ensino médio. Para Hinata, seria apenas mais um ano. Ela não via a hora de se formar. Sempre pensando em seu futuro, além de muito tempo ocioso, Hinata estudava para tirar as melhores notas e, assim, ir bem na prova de admissão da Faculdade de Konoha, a qual tinha um excelente curso de gastronomia.

Ela aprendeu a cozinhar muito bem, gosta de fazer tanto pratos doces, quantos salgados, e tenta aprender culinárias das mais diversas culturas. Hanabi adora exibir para suas amigas o almoço que leva para a escola, tão lindo e delicioso, preparado exclusivamente para ela. Apenas Neji não come as refeições preparadas por Hinata, sempre com desculpas de que já comeu ou que iria sair, além de nunca levar seu obentô para a escola, mesmo sendo feito todos os dias. Mas o que a deixava mais feliz e ainda mais empenhada, era ouvir de seu pai que ela cozinha como sua mãe cozinhava antes de ser promotora e de Hinata nascer. “Ela preparava refeições deliciosas, pensando em como meus dias duros de trabalho, o que ela fazia muito bem. Assim como você faz para Habani e eu, quando estou em casa”, disse seu pai uma vez a ela com muito carinho.

Para um primeiro dia de aula, o dia de Hinata já começou bem tumultuado. Acordou atrasada e descobriu que sua irmã não a acordou, muito menos Neji, é claro. Ela havia esquecido de colocar o celular para despertar.

- Ai, ai, ai!!!! Como pude esquecer? – saiu grunhindo pelo quarto, enquanto colocava o uniforme composto de uma saia verde, que Hinata usava até próximo aos joelhos e camisa branca com as barras das mangas em verde.

Enquanto escovava os dentes, Hinata viu que seu cabelo estava muito bagunçado, não dando nem para passar batido que não o teria penteado, se não o fizesse. Ela os havia deixado crescer, alcançando sua cintura apenas cortando sua franja.

Seu corpo também se desenvolveu bem, apensar de ficar doente de vez em quando: tinha seios fartos, mas não os mostrava; sempre usando roupas discretas e sem muito decotes; mantinha uma alimentação saudável e seus treinos de artes marciais como atividade física, o que lhe resultou em uma cintura fina, belas pernas torneadas e braços definidos. Tiraria o ar de qualquer homem, mas, talvez por não usar roupas vulgares, maquiagem, nem ser uma pessoa extrovertida, ela não chamava a atenção de ninguém. Mas, tinha isso como objetivo, não é mesmo? Passar despercebida.

Terminando de se arrumar, pegou seu material, desceu as escadas e saiu de casa correndo. Chegando na frente da escola, comemorou internamente por ainda chegar no horário. Mas, aparentemente, ela não foi a única a chegar atrasada:

- Yatta!!! – dizia um garoto atrás de Hinata que ainda estava com a respiração ofegante, assim como Hinata, o que ele reparou – Deu tempo! Parece que não fui o único a esquecer de colocar o despertador para funcionar, não é?

Hinata então se virou, pois parecia que o garoto falava com ela. Ao ver quem era, ela arregalou os olhos e por um instante a lembrança de um garotinho envergonhado em seu primeiro dia na academia de Kakashi-sensei, de cabelos loiros espetados, com olhos de céu, veio a sua cabeça. Ela ficou encarando-o sem perceber, até que Hanabi apareceu puxando a manga de sua camisa:

- Hey, Onee-san! Acorda! Vai ficar encarando o garoto até quando? Ele não vai olhar para você, não está vendo que ele está conversando com aqueles dois ali?

- Ah, er.... o quê, Hanabi? – respondeu Hinata sem graça, virando-se para olhar a irmã. Parece que o garoto não falava com ela, mas sim com um outro rapaz.

- Você está bem? Não está doente não, né? Você fica estranha quando fica doente.

- Não, Hanabi... Foi só uma lembrança que me veio à cabeça, mas não tenho certeza se ela realmente existe. Lembra que te contei que algumas memórias minhas ficaram confusas depois do acidente da mamãe e que esqueci de muitas coisas? – Hinata não queria pensar nessas coisas, nem preocupar sua irmã e já mudou de assunto - Mas, de qualquer modo, não tenho que me preocupar com isso, nem você, até porquê lembranças não me importam. E então, o que você queria me dizer?

- Ah, sim... Você trouxe meu obentô? – perguntou Hanabi, entendendo que a irmã não queria continuar com o assunto sobre o passado.

- Nossa, Hanabi!!! Não deu tempo de preparar. Eu saí atrasada de casa, porque ninguém me acordou, sabe? – Disse Hinata, como se apontasse Hanabi como culpada por isso – Então, não deu tempo de preparar, nem o meu, nem o seu. Compre algo para comer por hoje. Prometo preparar algo maravilhoso amanhã para te recompensar, está bem?

- Aaaah, Onee-san! Sua dorminhoca! Nem vem colocar a culpa em mim. – Hanabi falava fazendo bico – Tudo bem! Eu te perdoo por hoje, mas tem que valer a pena, hein?

- Pode deixar, Vossa Alteza! – Respondeu Hinata, acariciando os cabelos de Hanabi, com um sorriso nos olhos e na boca. Hanabi era a única que fazia os olhos de Hinata brilhar às vezes. Mas logo o sinal tocou e o opaco habitual retornou aos olhos de Hinata.

Com o sinal, as duas se despediram e foram para suas respectivas salas. Elas apenas não perceberam que um certo rapaz, alto, de cabelos arrepiados e olhos azuis as observava. Sim, era o garoto que Hinata não lembrava quem era. Uzumaki Naruto. Ele também não sabia quem era Hinata.

Naruto lembrou de uma garota pequena, muito parecida com ela, até mesmo lembrou que a chamava de hime em seus pensamentos quando criança. No entanto, algo estava diferente e ela não poderia ser a hime. A garotinha de antes tinha alegria nela e seus olhos brilhavam sempre, apesar de tê-la visto apenas alguns dias, já que depois desapareceu e nunca mais a viu. Mas, esta garota de agora, ele não sentia nada... Parecia não ter sentimentos, já que observou seus olhos opacos. Não poderiam ser a mesma pessoa. Cortando seus pensamentos, Naruto ouviu alguém chamá-lo:

- Naruto!!!! O sinal já bateu e temos que ir para a sala. – Gritava uma garota de cabelos rosados que já estava alguns passos a sua frente junto de outro garoto de cabelos pretos, assim como seus olhos.

- Claro, Sakura-chan! – respondeu Naruto ao acordar de seus devaneios e correr até os dois que o esperavam.

Naruto cresceu junto de Haruno Sakura, uma garota gentil, doce e extremamente inteligente, de cabelos rosados curtos e olhos verdejantes, a quem ele não ousava provocar, pois, apesar de sua personalidade delicada, uma vez que ela estivesse nervosa, com um só soco faria o chão tremer; e de Uchiha Susake, o garoto de cabelos pretos, reservado e áspero de vez em quando. Reservadas suas diferenças, os três se davam bem.

Conheceram-se na academia de artes marciais e também estudam na mesma escola desde o primário. Naruto e Sakura sempre se deram muito bem, como se fossem irmãos, mesmo Sakura fazendo Naruto de saco de pancada quando ele a deixava envergonhada ou brava, fatos que não são raros. Não haveria outra forma de mostrar o quanto eram próximos, não é? A garota era apaixonada pelo amigo Sasuke, mas nunca confessou sua paixão com medo de se afastarem por isso. Várias vezes nos ombros de Naruto sobre Sasuke estar com outras garotas. Naruto apenas ouvia, sem poder ajudar a amiga, pois nunca teve esses sentimentos por alguém para poder ajudá-la. De qualquer modo, apenas falar e chorar parecia funcionar para Sakura.

Já Sasuke foi relutante quanto a aproximação dos outros dois, mas, com o tempo e insistia dos outros dois, acostumou-se em tê-los por perto e já não saberia mais o que fazer caso os perdesse. Ele nunca confessaria isso a eles. Sasuke nunca conheceu os pais pois os perdeu em um acidente quando ainda era um bebê, sendo criado apenas por seu irmão Itachi. Além dele, nunca havia criado laços com ninguém mais além dos dois amigos. Não suportaria perdê-los.

Além dos amigos, Naruto tinha seus padrinhos Jiraiya, escritor renomado, e Tsunade, diretora e médica do Hospital da Folha, em Konoha, pessoas que o criaram. Os pais de Naruto foram mortos após um tiroteio que ocorreu há 12 anos, e ele não pôde vê-los no velório, pois segundo os médicos legistas, alguns tiros atingiram os rostos ficando deformados, e, por isso, foi melhor que o caixão ficasse lacrado.

Com a perda dos pais, Naruto se tornou uma criança agressiva, como seu houvesse um monstro dentro de si, aguardando por aquele momento desesperador para acordar, como uma raposa selvagem que observa suas presas esperando um momento de fraqueza para atacá-las. Não aceitava que seus padrinhos tomassem o lugar de seus pais, nem morar na casa deles e, por isso, os agredia diariamente, até causar lesões em Jiraya, que lhe deixaram cicatrizes no corpo. Mas seus padrinhos não desistiram de amar Naruto, nem de ajudá-lo a superar a morte dos pais. Com a ajuda de Sakura e Sasuke, aos poucos, Naruto começou a ficar mais controlado. O que não quer dizer que não sentia falta dos pais.

Quando atingiu seus 16 anos, Naruto decidiu morar sozinho na casa em que morava com os pais. Com o que recebia pela renda da administração da construtora de seu pai, gerenciada por Jiraiya, que, apesar de ser escrito, era bem inteligente, Naruto conseguiria manter-se bem, inclusive com muitas sobras na conta bancária, diga-se de passagem.

Naruto era grato pelos padrinhos. Eles sempre estavam em sua casa desde que mudou de residência. Quis se mudar, pois, de algum modo, estava se esquecendo de seus pais e achou que voltando para sua antiga casa, se sentiria melhor, mas não obteve o resultado pretendido. Às vezes, a dor ela até mais forte por não os ter. Quando ela apertava demais, Naruto recorria ao que lhe deixava mais calmo: tocar o violão quer pertenceu ao seu pai quando mais novo, o que fazia muito bem. Aprendeu, inicialmente com Itachi, irmão de Sasuke, mas continuou a estudar sozinho, quando Itachi foi para a faculdade e não tinha quase tempo para ensiná-lo.

Mesmo sempre estando alegre e atraindo pessoas com seu brilho natural, Naruto se sentia sozinho, às vezes, como se ninguém, nem mesmo Sasuke que não tinha os pais, pudesse compreendê-lo. Aliás, não podia, já que o amigo nem chegou a conheceu seus próprios pais. Não saberia o que é perder o boa noite de seus pais, aguardar os pais voltarem do trabalho ou saborear as refeições feitas por sua mãe. Ninguém ao seu redor compreenderia seus sentimentos e, por isso, para não magoar ninguém, não os deixava transparecer e lutava para não ser levados por eles. Sabia que a escuridão faria mal a ele, seus amigos e padrinhos. Não podia ceder, o que não quer dizer que não chorasse sozinho.

O primeiro tempo de aula de Naruto foi de Química, com o professor Orochimaru. Mesmo se esforçando, ele nunca ia bem nesta disciplina. Devia ser pelo fato de não conseguir se concentrar na aula prestando atenção na aparência de cobra do professor, principalmente com aqueles olhos. Bem, fora esta disciplina, ele tirava boas notas. Ao terminar a aula, abaixa a cabeça e diz:

- Eu não entendo nada que essa cobra fala! – Falou para que Sakura e Sasuke sentados atrás dele, o que fez com que eles rissem da cena, pois parecia que Naruto queria chorar.

- Então, Teme, prepare-se! Ele também será nosso professor o ano que vem. – Disse Sasuke rindo ainda mais vendo a expressão de Naruto piorar.

- É só você estudar um pouco mais Naruto! – dizia Sakura ainda entre risos. – Se tiver problemas, pode falar com a pessoa mais inteligente da sala. Ela da monitoria nas disciplinas de Ciência Exatas após as aulas da tarde. Só acho que ninguém sabe que tem monitoria na escola.

- Sakura-chan! Quer dizer que você vai me ajudar? Você é a pessoa mais inteligente da sala, mas não sabia que dava monitoria.

- Haha! Não, Naruto. Não sou eu. Apesar de ter boas notas, tem alguém melhor.

- Então é você, Sasuke? Sabia que por trás dessa cara carrancuda havia um ser de alma boa que ajuda as pessoas!

- Naruto, eu vou socar essa sua cara e aí vai ver que vai ficar carrancudo! – Sasuke já ia levantando a mão, quando foi interrompido por Sakura.

- Ei, vocês dois, parem de brigar feito menininhas! – Sakura sentiu o ódio vindo dos dois amigos e começou a rir – De qualquer modo, também não é o Sasuke-kun, Naruto. É aquela...

- Muito bem classe, todos para seus lugares. – O professor entrou na sala interrompendo a conversa dos três - Sou professor Yamato, da disciplina de Literatura. Hoje, para dar continuidade aos estudos do ano passado, vamos dar início aos estudos da Literatura Moderna.

Literatura era uma disciplina que Naruto gostava muito. Na verdade, tinha paixão por leitura, então, não tinha como ir mal. Só precisava resolver seu problema com a Química e ficou sem saber quem era a pessoa que da monitoria na escola com a entrada do professor.

Findo o segundo tempo de aula, os três amigos saíram para o almoço. Naruto comeu depressa seu obentô que ele mesmo havia preparado, como sempre fazia, e se despediu dos amigos:

- Vou até a sala de música praticar um pouco. Até daqui a pouco!

- Está bem, Naruto! Só não se atrase, para variar! – Respondeu Sakura acenando, assim como Sasuke.

A sala de aula era um ótimo lugar para se ter um almoço tranquilo. Como Hinata fazia em seus intervalos da escola. No entanto, este ano sua fala estava lotada de alunos falando sobre suas férias excepcionais. Era tanta conversa que ela preferiu procurar outro lugar para almoçar. Foi comprar seu almoço e saiu a procura de uma ouvindo um pouco de música orquestrada em seus ouvidos.

Hinata encontrou a sala de música, mas ela estava trancada. Percebeu que por ali não havia ninguém. Lá seria seu novo “refeitório”, pensou consigo, pois gostou da calmaria que era o lugar. Ela sentou no corredor, comeu seu salgado e ficou pensando em como as pessoas comem aquilo todos os dias, “coisa sem sabor”. Ela terminou sua refeição e viu que ainda teria um tempo para descansar por ali. Então, fechou os olhos e acabou por cochilar.

Ela não viu que alguém se aproximava do lugar em que estava. Realmente havia dormido. Naruto ficou surpreso por ter alguém ali. Nunca havia mesmo. Só ele usava a sala de música da escola. Ele se aproximou da garota. Então percebeu que era a mesma garota que viu de manhã. Ela parecia mais feliz dormindo do que com os olhos abertos. “talvez esteja tendo bons sonhos”, pensou Naruto.

Ele viu se aproximando ainda mais da garota, agachou-se, passou a mão na frente de seu rosto para confirmar se estava realmente dormindo, o que foi confirmado. De qualquer modo, ela não o ouviria, pois estava com fones de ouvido. Ficou observando a garota e pensando como nunca a viu no colégio antes. Devia ser alguma aluna nova, pois apenas a viu neste dia. Ela tinha uma aparência serena, e com pele tão branca e traços delicados, que a faziam parecer de porcelana. Naruto sentiu-se corar um pouco, o que fez com que se sentisse estranho, já que nunca ficou assim diante de uma garota. Bem, em sua cabeça, pensou que deveria ser normal garotos ficarem assim diante de outras garotas, já que estava na idade de se interessar por elas.

Naruto levantou-se rindo silenciosamente sobre seus pensamentos e foi para a sala de música treinar seu violão.

Hinata acordou com o barulho do sinal. Levantou muito rápido, e começou a correr em direção à sala de aula. Quando passou pela sala de música, viu pelo vidro que tinha na porta que tinha alguém lá dentro. Ela, por curiosidade quis ver quem estava lá. Era o garoto que viu pela manhã. Não conseguia ouvir o que ele tocava, já que a sala era acústica, preparada para que o som não saísse de lá, mas parecia ser uma música muito bonita e quente, pois ele tinha um sorriso no rosto enquanto dedilha os dedos pelas cordas do violão. A luz que passava pelas janelas, deixava ele ainda mais bonito do que Hinata lembrava dele ser pela manhã.

Naruto concluiu a música. Então, começou a abrir seus olhos. Admirou-se e se espantou ao ver dois olhos perolados em sua direção, vindos pela parte de vidro da porta. Era a garota do corredor.

Hinata se assustou e ficou corada por ser pega, o que a fez sair correndo para a sala de aula. Naruto ficou sem entender o que acontecia, mas riu com o que acabava de acontecer. Tocou mais um pouco e então olhou para o relógio. Sim, ele estava atrasado.