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História Quero que me transborde - Capitulo três


Escrita por: Cristalizada

Notas do Autor


Então, eu voltei depois de alguns meses shdusakdlmas.
Aos que acompanham a fanfic, sinto muito pela demora, mas não foi algo que eu não havia explicado antes sobre a minha demora para postar. Enfim, agradeço a quem tenha esperado pacientemente!

Capítulo 3 - Capitulo três


O medo de entrar em casa estava se tornando irreal. Travado na porta, fiquei pensando se eu deveria dar meia volta e ir para outro lugar, apenas para não ter de encarar meu pai e lembrar da situação constrangedora em que meti.

Ter bebido meia garrafa de vodka sendo que eu nunca havia bebido mais do que meio copo me fez esquecer tudo que havia acontecido na noite anterior, apenas algumas coisas voltavam em minha cabeça. Acredito que este era o meu objetivo, ficar louco a ponto de não lembrar mais nada. E sim, estou terrivelmente arrependido do que fiz. Eu poderia ter ido embora antes de beber, seja lá por qual motivo eu tenha feito isto.

Abri a porta de casa e a fechei com cautela. Fui para a cozinha e me deparei com um bilhete colado na geladeira, papai havia saído para trabalhar, mas comprou sorvete achando que eu voltaria para casa cedo. Fechei os olhos e respirei fundo, apesar de me sentir melhor depois de ter passado a madrugada acordando e vomitando com Danny me acalmando, ainda estava mal psicologicamente e levemente perdido.

A sensação é de ter voltado a ter nove anos de idade. Sinto-me pequeno, mas tenho altura o suficiente para abrir a porta do freezer, que antigamente eram repletos de desenhos meus e que mamãe afirmava que eram lindos. É como se eu ainda fosse pequeno e estivesse em casa, colocando muito sorvete em um copo e indo para o meu quarto, para então ficar vendo os carros passarem pela janela.

E a escada que geralmente tem um tamanho comum, parece muito maior do que antes. Sim, como se eu fosse uma criança e tudo dobrasse seu tamanho, como se ela fosse interminável. Tomei coragem e comecei a subir para o segundo andar, contando cada degrau.

Deixei o sorvete na mesa, ignorando qualquer outra coisa que estivesse ali, então me dirigi ao quarto de papai e fui direto para seu guarda roupa. Abrindo-o, senti o cheiro de roupa limpa misturada ao seu me invadir, enchendo meus olhos de lágrimas novamente.

Respirei fundo, sentindo aquela fragrância já tão conhecida e pela qual eu havia me acostumado espelhada pela casa, junta a minha. O cheiro de papai era reconfortante, de certa forma. Fazia-me pensar que talvez, quando ele chegasse, apenas me abraçasse dizendo o quanto ficou preocupado pelo meu sumiço, e eu riria nervoso em seus braços. Afinal, nossa relação era assim, e eu gosto do jeito bagunçado dela.

Peguei sua melhor jaqueta, que ficava consideravelmente grande em mim. A bebedeira me deixou levemente estranho, ainda tenho a sensação de ser criança. Então, fechei seu armário e retornei ao quarto, observando o sorvete derreter lentamente, por conta do ar levemente quente do quarto, presumo.

Abri a janela do quarto, recebendo uma lufada de vento que arrepiou minha nuca, sensação essa de que eu já havia sentido isto. Ignorei o fato de ter sido tão destratado pelo ar de Beacon Hills, decidi que ligaria o rádio. E sim, tenho a mania de ouvir musicas do rádio ao invés das que estão em meu celular, é uma questão de conhecer novos cantores e sair da minha zona de conforto.

Fiquei mudando as estações até ouvir uma melodia que eu desconhecia, mas que a voz era gostosa e a musica melódica. Algo sobre o cantor afirmar que prefere ser iludido pela garota que ele gosta, pois não se importa com isso, de qualquer forma. Ele afirma que, talvez, ela seja boa demais para ele e ele, é um apenas um tolo por ela. Algo parecido com a situação em que me encontro atualmente.

A musica preenchia cada espaço vazio de meu quarto, em som levemente alto, mas que não fodia mais ainda a minha dor de cabeça. Enquanto ela prosseguia, eu comia o sorvete com pressa para que não virasse totalmente pasta e ficasse parecido com patê.

O quê eu iria fazer? O quê eu iria dizer para o meu pai? Não havia pensado muito nisto desde que cheguei, e certamente iriei ignorar o fato até que eu não tenha escapatória. Primeiro preciso organizar tudo que me lembro do que aconteceu no dia anterior, tomar um banho e ir descansar mais um pouco.

*

Papai não havia voltado ainda, e o relógio constava exatamente meia noite. Geralmente ele voltava mais cedo, mas desta vez deve ter acontecido algo sério, talvez um fugitivo ou algo do gênero. Não que isto fizesse diferença, de qualquer forma ele se encontra longe de casa, sem segurança.

Scott não me atende desde as vinte e duas horas, o quê significa que o caso no qual estou pensando pode ter relação com lobisomens, e isto significa problemas. Ou talvez fosse alguma paranoia da minha cabeça, talvez ele esteja com Allison como de costume, ou fazendo algo interessante com Isaac como, por exemplo, coisas de lobisomem em geral.

Desde que Derek se fora, Isaac ficou mais perdido do que normalmente desde a morte de Érica e Boyd, então, Scott acabou assumindo o lugar de Hale. É interessante o fato de que mesmo sabendo o básico, como não se transformar e ter uma âncora há todo um estudo e coisas muito surpreendentes que eles ainda não sabem, apesar de já terem certa convivência com isto. Sempre existe algo novo para se aprender neste universo lupino.

Pensar em Hale me deixou um pouco melancólico, depois dos sinais com as peças de xadrez nada mais apareceu e estou à procura do moreno às escuras. Mesmo não me esforçando para tirar algumas conclusões, pois pode ser que ele nem esteja mais em Beacon Hills. Seu sumiço não faz o menor sentido, de qualquer maneira.

A última vez que tomei coragem para checar sua casa abandonada, não havia nada relevante ali e o lugar estava adquirindo um cheiro empoeirado e velho, afinal o alfa sempre mantinha o lugar limpo e organizado. Uma mania que acabei percebendo sem querer, mas que é até divertida. E depois disto, não pensei em mais nenhum lugar onde ele pudesse ter se metido, nem mesmo havia novos registros sobre o mesmo, nada que meu pai tenha comentado.

Meu pai sabia o quê Scott era, e mesmo entendendo toda a situação a policia ainda considera Derek como um fugitivo, o quê me deixa angustiado por saber que o moreno poderia ser pego a qualquer hora, por um simples passo em falso. É alarmante.

Meia hora se passou e nem sinal de Scott e muito menos de papai, acabei considerando a ideia de ir até a delegacia para ver se estava tudo bem, mas sabia que ainda não havia dado explicações sobre a noite anterior e não queria causar um furdunço ali mesmo. Por fim, a preocupação se tornou gritante e logo me vi entrando no carro e indo até o local.

O ar estava começando a ficar mais denso e frio. O tempo iria mudar novamente, o quê me fez questionar desde quando esta cidade começou a ficar tão estranha em relação ao tempo climático, mas acabei deixando isto quieto, focando apenas na estrada.

Logo começou a chover forte, junto a uma neblina densa se espalhando pelo ar e todo o asfalto. Era difícil enxergar, por isso acelerei o carro sem paciência alguma. Claro, eu não era louco de acelerar do nada, mas conhecia a estrada muito bem para saber que a esta hora da noite e considerando o tempo fechado, nenhum carro se atreveria a sair de casa. Enquanto pensava nisto, vi um raio atingir em cheio a copa de uma árvore mais adiante, a minha esquerda, iluminando o local. O som do raio explodiu em cheio, arrepiando-me.

Distrai-me por uma fração de segundo, assustado com a trovoada. Voltei meus olhos para a estrada a minha frente, logo avistando um cervo muito próximo atravessar o asfalto. Arregalei os olhos e, em câmera lenta, me vi freiando o jipe com grosseira, percebendo o tranco que o banco havia dado e sendo arremessado para frente, de encontro com o vidro, estilhaçando-o. Rolei pelo capô e bati as costas no asfalto molhado, ficando sem ar. Sentia dor por todo o corpo, os cacos de vidro e o sangue fresco se misturando com a chuva.

Comecei a me debater, tentando respirar. Eu iria morrer ali mesmo, não iria conseguir chamar a ambulância e logo não conseguiria mais aguentar sem o ar, morreria de asfixia. Minha cabeça girava, e minha visão ficava cada vez mais turva a cada segundo enquanto eu tentava lutar pela minha própria vida.

 Aos poucos, minha respiração foi voltando e estabilizando. Não conseguia me mover e não sabia como iria pedir ajuda. Senti-me extremamente fraco, as dores começaram a piorar depois de a adrenalina ter passado, uma dor alucinante se concentrava em meu estômago. Por instinto, comecei a chorar de maneira compulsiva enquanto sentia as gotas pesadas da chuva caírem em mim. Não havia forças para gritar, e eu estava sozinho no meio da estrada.

O mais apavorante de estar quase sem visão, por conta da tempestade, era ter de ouvir os sons e não conseguir identifica-los. Eu poderia ser morto por algo bem pior, talvez atacado por um lobisomem ou algo do gênero. E tudo isto sem poder enxergar nada, sem nem conseguir me defender.

Sentia minhas forças se esvaindo lentamente, enquanto já não sentia mais meu corpo. Até perceber que estava sendo arrastado para longe da estrada, deixando meu jipe a metros de distância para trás. Tentei fazer esforço para me soltar da coisa que me puxava pelo tecido da calça jeans, mas sem obter nenhum sucesso. Comecei a pensar no que aconteceria comigo, ou se meu corpo seria encontrado inteiro ou estraçalhado. As lágrimas continuavam a rolar intensamente por todo o meu rosto. Até que tudo ficou em extremo silêncio, e a coisa parou de se mover.

Depois daquele acontecimento, eu já não estava mais conseguindo lutar contra minha própria consciência. Sentia que iria adormecer a qualquer momento, sentia-me fraco e mole. Tudo girava sem parar, e eu batia meus dentes com força por conta do frio. Uma súbita tontura começou a se apossar de mim até eu não sentir mais nada e apagar completamente.

*

O resto da noite se resumiu em borrões, vozes alteradas e distorcidas. Luz forte, frio, cheiro de hospital.

Ouvi Allison gritar e me segurar em seus braços com tanto medo que parecia que eu poderia quebrar a qualquer momento. Então apaguei novamente, ouvindo-a dizer para ficar ali com ela, para que eu respondesse ou apertasse sua mão. Depois do segundo apagão, consegui ouvir o som de sirenes, de vozes me dizendo que estava tudo bem e que iria ficar tudo bem. Faziam perguntas e mais perguntas para Allison, que pela voz eu conseguia identificar o quanto estava aflita.

Sentia dor e muito frio, de tal maneira que nunca havia sentido na vida. Conseguia sentir alguém apertando e segurando firme a região do meu estômago, me fazendo contorcer e soltar grunhidos. Via a luz forte e fechava os olhos, quase perdendo a consciência. Tentava ficar acordado por Allison, tentava entender o quê ela dizia para mim. Então voltava a abrir os olhos, e com a garganta seca, engoli pensadamente ao ver minha mãe sentada ao meu lado, ou pelo menos sua imagem distorcida.

Tentei dizer para os enfermeiros que ela estava ali, tentei mostrar que algo estava acontecendo. Via minha mãe acariciar meu rosto, dizendo que eu precisava me manter firme. Eu não suportava olhar para ela, aquilo me deixava mais confuso e com medo. Porque mamãe morreu, e se ela estava ali era porque eu estava entre a vida e a morte.

Meu corpo retesava várias vezes, e eu perdia a noção de tudo que estava a minha volta. As vozes se tornavam piores, e ficava muito mais difícil de ver além da luz.

Então, senti-os movendo a maca e correndo para dentro do hospital. Diziam que eu precisava fazer uma transfusão de sangue e que iria para a sala de cirurgia com urgência. Então, ouvi a voz firme de uma mulher.

– Stiles. Aqui é a Melissa, se consegue me ouvir aperte a minha mão, okay? Preciso que faça isto por mim. – Com esforço, apertei levemente sua mão. – Você vai para a cirurgia agora, entendeu? Vamos lhe dar anestesia agora.

 

Depois de algum tempo após Melissa ter me dito que iria aplicar a anestesia, eu adormeci novamente.

No dia seguinte, acordei zonzo. Ainda estava dopado e não fazia ideia do que estava acontecendo. Vi meu pai deitado na poltrona ao meu lado, o sono estava tomando conta de mim novamente. E assim se seguiu até o outro dia.

Com mais consciência, expliquei toda a situação a policia e os médicos me disseram o quê havia acontecido comigo. Pelo o quê consegui entender, quando fui arremessado do jipe, um caco de vidro imenso conseguiu rasgar meu estômago, fazendo com que eu tivesse uma hemorragia externa, além disto, o impacto em minha coluna me fez perder o ar. Após estes acontecimentos, a perda de sangue me fez entrar em choque e comecei a convulsionar, sendo socorrido por Allison. Então, fui submetido a cirurgia e agora me encontro no hospital, em repouso. Por ter sido arremessado, sofri um traumatismo craniano.

O quê eu não consegui explicar e nem Allison foi como eu fui encontrado em uma espécie de valeta a muitos metros de distância do carro. Os médicos ordenaram a policia que não me pressionassem ou me questionassem muito, pois eu ainda estava extremante confuso pelo acidente. Allison disse que havia me encontrado ali, mas não consegui ouvir o motivo de estar naquele local tão tarde da noite.

Recebi várias visitas e conversei muito com Melissa, que ficou feliz em saber que eu estava me recuperando bem. O único problema é que eu deveria permanecer no hospital até conseguir uma recuperação completa, o tipo de traumatismo não foi dito pelo menos para mim. Mas ainda estou apresentando sintomas como sono, perda de memória e vômitos. Além de não conseguir me mover às vezes. Papai disse que logo eu iria ficar bem e compraria doces quando eu tivesse alta.

Na madrugada do terceiro dia, acordei sem conseguir mover minhas pernas. Geralmente isto passava após uma ou duas horas, mas ainda assim era perturbador, pois eu não tinha certeza de que poderiam voltar desta vez. Decidi esperar acordado, por algum motivo. Logo a enfermaria passaria para checar se estava tudo bem.

O silêncio no hospital era tranquilizador, mas também muito sombrio quando as árvores balançavam com força por conta do vento, projetando sombras desagradáveis. Hoje, a noite estava mais calma. Enquanto pensava nisto, ouvi passos pelo corredor, ou melhor, patas.

O simples pensamento prendeu minha respiração, me deixando assustado. Acompanhei a sombra e o ruído das patas até elas pararem na frente da porta, ficando em completo silêncio. A cena que veio a seguir foi quase cômica, se eu não estivesse eletrizado pelo medo.

Um focinho preto apareceu entre a porta, tentando entrar. Logo um grande lobo adentrou o quarto, cheirando tudo a sua volta. Os olhos vermelhos se encontraram com os meus, e senti que eu os conhecia de algum lugar. Por algum motivo, imaginei que fosse alguma séria alucinação da minha cabeça por causa do traumatismo, e meu medo se desfez. Aquilo não era real, sendo assim não me machucaria.

O animal com os olhos quase humanos se aproximou lentamente, sentando-se ao lado da minha cama. Deixei meu braço cair ao seu lado, tendo como resposta uma lambida simpática nos dedos. Estranhei o fato de a sensação ser tão viva. Talvez eu estivesse apenas sonhando, mas ainda assim me sentia confortável perto do ser de pelos negros. Gostava de sua companhia e tentava não estranhar a situação.

Em um ato de ousadia, bati as mãos em meu colo, o convidando para se juntar a mim na cama de hospital. Surpreso, observei o lobo saltar e, com muito cuidado, deitar ao lado de minha perna direita. Coloquei a mão delicadamente no topo de sua enorme cabeça, acariciando-o. Quis aproveitar o momento, já que me sentia muito sozinho e nunca tivera a chance de tocar em um animal de grande porte. Logo o sono começou a ameaçar vir e então deixei minha mão encostada na orelha pontuda do lobo, adormecendo em seguida.

No dia seguinte, contei a Melissa sobre a possível alucinação e esta me ouviu com atenção. A mesma parecia estar pensativa, então pediu para que eu não pensasse muito sobre o assunto até que novos exames fossem feitos para checar se o traumatismo não alterou algo em meus sentidos ou algo do gênero. Ela também considerou ser um fator por conta dos remédios fortes, algum efeito colateral.

*

Uma semana se passou desde que tive alta no hospital, e desde aquele dia o lobo continuou a me fazer visitas. Apesar de que não constataram nada de diferente nos exames e eu parecia estar bem.

As vezes ainda fico confuso e não consigo me lembrar direito das coisas, e agora está mais difícil que eu tenha uma confusão na percepção sensorial. E meu pai vem me ajudando muito, me estimulando a fazer exercícios mentais e físicos. Também disse que logo meu jipe iria ficar pronto, mas eu não iria poder dirigir por um bom tempo por conta de tudo que aconteceu.

A parte mais difícil em casa foi quando eu perdi o movimento da perna direita enquanto descia as escadas e acabei caindo nos últimos degraus, não cheguei a me machucar na hora, mas fiquei triste por ainda estar tendo estes sintomas. Meu pai me socorreu e levou-me ao hospital novamente, onde passei o dia inteiro fazendo novos exames.

Os sonhos começaram a ficarem horríveis desde que eu voltei, todos são voltados para o acidente e envolviam o estranho lobo que havia permanecido às escondidas comigo no hospital. Comecei a dormir com meu pai na tentativa de amenizar os pesadelos, mas o máximo que conseguimos foi diminuir meus ataques noturnos e a intensidade deles.

Durante a semana seguinte em que fiquei em casa, Scott sempre vinha me ver ou conversar pelo menos um pouco, já que eu havia largado a escola desde o acidente. Confesso que depois de um tempo cai na velha monotonia e ansiava para poder voltar as minhas atividades. Estava cansado de ficar sentado no sofá resolvendo quebra-cabeças e puzzles no celular, e já não haviam mais conversas interessantes com meu melhor amigo. Além disto, desde a minha saída do hospital o lobo misterioso parou de aparecer.

Em parte, creio que aquela criatura era apenas algo da minha cabeça que aparecia por eu tomar remédios fortes na veia todos os dias. Tentei tomar todos os remédios como me mandaram, mas acabei vomitando todos ao longo da semana, o quê me frustrava muito. De qualquer modo, sentia falta daquele estranho ser que aparecera do nada. Meus dias estavam melhores com ele ao meu lado, brincando e se escondendo no tempo certo quando uma das enfermeiras apareciam.

 Era sexta a tarde quando bateram na porta, e logo imaginei que fosse Scott. Tratei de ajeitar as roupas ao me levantar do sofá, mesmo sem entender o motivo da formalidade toda apenas para ver meu melhor amigo. Tomei coragem para abrir a porta, depois de ter ficado alguns segundos perdido em meus próprios pensamentos. Encarei o par de pés bem encaixados em seus respectivos saltos altos, subindo meu olhar até o vestido de tom pastel e finalmente encontrando um par de olhos familiares e levemente inchados. Lydia.

– Não sei se você sabe, mas é falta de respeito sair da festa dos outros sem se despedir. – A garota de cabelos ruivos disse, em tom sério, referindo-se a noite de sua festa. O evento parecia distante agora, como se tivesse ocorrido há tempos atrás.

– Sinto muito. – Encarei o chão, como se houvesse algo incrível ali. Estava constrangido por ter feito isto com a ruiva, e nunca mais ter falado com ela também.

– Eu pelo menos posso entrar? – Ela sorriu, me mostrando que estava brincando. Em seu rosto não havia um pingo de chateação. Deixei que ela passasse pela porta, fechando-a em seguida.

– Como está, Stiles? – Observei-a olhar tudo em volta, em um misto de curiosidade e algo que não consegui identificar.

– Bem, consideravelmente. – Respondi de prontidão, Lydia conseguia me deixar nervoso com sua presença. Não ficava irritado com ela, mas sim intimidado.

– Isto é ótimo. O treinador está mais emburrado do que normalmente, provavelmente porque você parou de vir para a escola, mas acho que você não se importa muito com isso. – Seu tom de voz parecia acusador, talvez fosse impressão minha.

– Ah, é. Ainda me sinto muito aturdido para voltar para a escola, estou me recuperando aos poucos. – A garota se virou em minha direção, encarando-me.

– Eu soube. Sinto muito pelo acidente. – Ela parecia estática, longe dali.

– Senti sua falta no hospital, você não veio me visitar. – Lydia me olhou levemente chateada, como se eu houvesse dito algo ruim para ela.

– Sinto muito por isto, Stiles.

– Você está aqui hoje, então está tudo bem. – Mudei o peso de pé, enquanto observei silenciosamente ela se remexer.

– Muitas coisas aconteceram comigo durante esse tempo em que você ficou no hospital, por isto eu... – Sua voz foi sumindo ao perceber que eu não importava com aquilo. Quer dizer, ela pelo menos veio hoje e quanto mais tentava se explicar, mais parecia que ela estava ali por culpa, e eu odiava isto.

– Está tudo bem, Lydia.

 

Nós conversamos brevemente depois daquilo, logo ela foi embora e eu me arrastei para a sala, desconfortável. A conversa me deixou desanimado, além de ter sido totalmente desastrosa e ruim. Pensar que a ruiva havia vindo simplesmente para se redimir e fingir que estava tudo bem era péssimo, e me fazia repensar no motivo de ainda insistir neste drama romântico em que me enfiei.

Desde o acidente, certas coisas começaram a perder sua importância de modo devastador. O tempo em que fiquei no hospital me fez olhar as coisas de outro ângulo, principalmente sobre os meus relacionamentos e a maneira como eu os vejo. Veja bem, Scott, Allison e Danny vieram me visitar quase todos os dias e insistiram em me levar algum presente. E até Isaac apareceu duas vezes para me ver e conversar comigo sobre a escola e outras trivialidades, e nossa amizade não é tão forte. Mas ele veio, e mostrou que se importa. Esta é a diferença. Lydia está começando a virar apenas uma parte do cenário, e não em primeiro plano como eu sempre enxergava desde que me apaixonei por ela.

E havia Hale, que estava desaparecido. Mas mesmo assim eu ainda sentia sua presença constantemente, e acreditava fielmente que se o alfa estivesse na cidade iria dar um jeito de ver se estava tudo bem. O mesmo já havia me dito, de forma indireta, que faço parte da vida dele. Mas agora, depois de pensar com clareza o suficiente, percebi que ele poderia nunca mais voltar e estava começando a ficar nítido que isto já não estava mais virando uma opção.

Fiquei vagando por horas nestes pensamentos, tentando compreender o motivo de tudo que havia acontecido comigo desde o dia em que tudo mudou na casa do alfa. Pensei no jogo de xadrez, nas peças que estava recebendo, em Lydia, na festa, em Danny também, pensei sobre o acidente, e como Allison havia me salvado. E como tudo parecia não se encaixar em determinado ponto, como se algo estivesse errado nesta história toda. Mas onde?

Despertei com o som da chuva forte, e de batidas brutas na porta também. Pisquei algumas vezes, há quanto tempo havia começado aquele pé d’agua? Corri para a porta pensando nisto, sem nem questionar-me quem estava do outro lado.

Encarei Allison ensopada de cima a baixo. Seu rosto estava contorcido em uma mistura de raiva, arrependimento e cansaço. Deixei-a entrar rapidamente, para que a mesma saísse da chuva, percebendo que ela não estava desacompanhada. A morena arrastava um imenso cachorro negro com uma corrente.

– Precisamos conversar. – Ela disse firmemente, enquanto encarava o animal com certa raiva.

 

Busquei uma toalha para a morena, que tremia de frio. Logo nos sentamos nas cadeiras da mesa de jantar e ouvi Allison disparar uma longa história para cima de mim sobre o como foi difícil chegar ali e a raiva que sentia pela coisa que estava com ela. Depois, começou a falar sobre a caça que havia voltado a fazer com seu pai, mas que estava procurando alguém em especifico.

– Basicamente, nos últimos tempos eu e meu pai começamos a sair para caçar o Hale. Ele sumiu subitamente, sem deixar rastros e nem marcas. Então descobrimos que tem um lobo rondando Beacon Hills, e começamos a segui-lo. Depois de um bom tempo, eu fui juntando as peças e cheguei a conclusão de que Derek conseguiu se transformar completamente, mas que não conseguiu voltar mais para a sua forma humana.

– Como assim? – Minha cabeça havia dado um nó. Eram muitas informações para assimilar.

– Stiles. Na noite do acidente, tudo indica que foi o Derek que te arrastou para longe da estrada e ficou vigiando você de longe, depois daquele dia o vi diversas vezes rondando o hospital. Acredito que o Hale está agindo conforme seu subconsciente manda, ou seja, ele acredita que você é parte da alcateia dele e que precisa de proteção. – Encarei Allison, perplexo. As peças começaram a se juntar, enquanto meus olhos corriam para o animal preso pela coleira de corrente. Seus olhos eram exatamente iguais aos que encarei naquela noite no hospital. Quase humanos.

– Derek? – Sussurrei ao animal, que respondeu ao meu chamado com o olhar. 



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