História Quero que você saiba - Não sabe?

O céu parecia impressionante depois de uma pequena tempestade de neve à noite, o tempo feio deu lugar a um céu anormalmente azul, e ainda que o frio estivesse lá, e a sensação térmica fosse ainda mais baixa do que a temperatura real, Butters se sentiu à vontade quando chegou na calçada vestido apenas com um pulôver azul celeste de gola alta e calça de abrigo forrada, ele caminhou calmamente, feliz em sair mais cedo para encontrar com Kyle e Tweek, um pouco antes ele recebera uma mensagem de Kyle avisando que alguns minutos seriam suficientes, ele havia conseguido dispensa na primeira aula para os voluntários que colaborariam com o Clube de Debates, a atividade contaria como um extra do Clube de Artes.

Cantarolando baixinho, Butters avistou na outra esquina ao longe Tweek, o loiro de cabelos espetados andava com as mãos cerradas e ele parecia tremer levemente, Butters aprofundou a sobrancelha e correu para alcançá-lo, mas quando chegou a esquina, olhou para a rua que Tweek deixara para trás e viu Craig conversando com Thomas, ambos estavam próximos e Craig não olhava nos olhos do outro garoto, os olhos azuis do garoto do chullo estavam voltados na direção de Tweek.

Intrigado Butters correu alguns metros até unir-se a Tweek.

— Hey, amiguinho! — Butters cumprimentou sorrindo.

Tweek não o olhou, discretamente ele passou as costas das mãos no rosto, e puxou algo do bolso, observando a palma da mão que tremia um pouco.

— E aí, Butters. — A resposta foi vaga, e Butters viu quando Tweek passou um tipo de protetor labial na boca.

— Oh, eu tenho um desses! — Ele apontou, puxando a mochila para frente do corpo e mostrando a Tweek um frasquinho de protetor sabor maçã verde. — Tem vitaminas e um gosto muito bom! Dei um para a Lexus sabor cereja ontem à noite!

Tweek enrugou a face.

— Eu não ligo pra isso, mas o Craig me deu esse treco. — Tweek comentou caminhando enquanto passava mais uma camada do protetor. — Parece que minha boca tava meio fodida, cara.

— Ah, nossa... eu não tinha reparado que seus lábios estavam tão maus... deveríamos ter visto, eu e o Kenny... afinal... essa coisa toda que temos feito...

Tweek corou ardentemente, guardou o protetor labial no bolso da mochila, tendo o cuidado de não olhar para Butters.

— Nem sei se vou... s-sabe... terminar isso... sinceramente estou achando que é uma perda de tempo. — Tweek declarou, a voz dele era plana e monótona, apesar do gaguejo eventual que há milênios Butters não notara, porém o conhecia bem o bastante para saber que estava abatido. — Craig ficou lá atrás... conversando com o Thomas.

Butters puxou ele pelo braço, obrigando Tweek a encará-lo.

— Falamos com você sobre isso ontem depois da Reunião... o Kenny estava certo... Craig é um pouco durão para mostrar o que sente... e ele deve sim estar muito chateado de ver você ocupado, mas, sério... você não pode desistir, Tweek.

— Beijei ele ontem. — Tweek falou de repente, como se fosse uma declaração bombástica.

Butters empalideceu, depois suas bochechas começaram a corar gradualmente.

— O... quê? — O pequeno loiro conseguiu perguntar, um sorriso ameaçava surgir em seus lábios, mas a expressão fechada de Tweek era um sinal para ele se calar.

— Não era o que eu queria... mas o cara tava me enchendo a paciência... — Tweek levou as mãos aos cabelos. — AHHH!!! To cansado disso!!!

Butters o abraçou, a frustração de Tweek estava quase fora de controle, e o pequeno Stotch não sabia fazer outra coisa senão apertar o amigo em seus braços...

Então uma voz surgiu por trás deles.

— Wow... obrigado Deus, por esta visão... — Butters olhou por cima do ombro de Tweek e viu o sorriso lascivo e sonolento de Kenny. — Como assim tem dois loirinhos agarradinhos bem na frente da porra dos meus olhos...

Butters deixou Tweek se afastar lentamente, ainda fazendo carinhos suaves nos braços dele, Kenny se juntou aos dois, deu um pequeno carinho nos cabelos loiros de Tweek, e eles continuaram caminhando em direção a escola.

— Tweek ainda está meio chateado. — Butters ofereceu, com um olhar de aviso, o tom dele acionou um alarme de alerta na cabeça de Kenny.

Kenny que por sua vez dormira tarde da noite, preso em um looping de pensamentos estranhos depois da própria descoberta da noite anterior.

— O Craig ainda tá sendo um cuzão irritado? Cara, falei ontem... ele só não sabe como demonstrar emoções... deve ser difícil pra caralho vestir aquela expressão de nada o tempo todo. — Kenny encolheu os ombros, pensando em si mesmo e suas negações e covardias.

Tweek estancou no lugar, seu olhar era desconsolado.

— EU SEI, PORRA! — Tweek explodiu novamente, Butters abaixou as mãos, e trocou um olhar preocupado com Kenny. — Mas por que caralhos toda a vez que ele vê aquele cara, ele se derrete todo e perde a língua? E daí, quando ele me vê com outras pessoas, fica todo puto? Isso é uma merda! To cansado! Ele me cobra sobre o que eu faço, mas não sei porra nenhuma das merdas que ele conversa com o cara de North Park! WAAAAH!!!

Kenny ergueu as sobrancelhas, não era exatamente o expert enfrentando um dos famosos ataques de Tweek, ele olhou para Butters que tinha um olhar sapiente no rosto.

— É uma bosta quando gostamos de alguém complicado ou tapado demais. — Butters declarou olhando para os pés. — Era só vir e dizer: “Cara, estou gostando de fulanx” ou “Não gosto de ninguém”, talvez um “Quero namorar com você” mas não... tem todos esses sinais confusos, toda a covardia em assumir e negação em perceber... ou sei lá, ficam esperando alguma coisa acontecer... tenho inveja do Eric e da Wendy, eles se gostam e não debatem sobre isso, só passam um tempo junto, se beijam se tem vontade e dizem desaforos um pro outro como costumam fazer desde o Jardim da Infância, discutem calorosamente no Clube de Debates, se tiverem vontade eles se agarram escondidos depois da aula, ninguém liga, ninguém diz nada.

Kenny e Tweek encararam Butters como se uma nova cabeça acabasse de surgir em cima do pescoço dele.

— Cartman e Wendy? Meu deus, eu bem que vi algo, mas não esperava pra agora! — Kenny respondeu, então voltando para Tweek. — Olha, cara... quando terminarmos... a coisa toda... vai ficar tudo bem.

— Não sei, homem... to esgotado, e parece que o Thomas não precisa de tanto esforço assim, não é? Ele só chega e o Craig perde a merda toda. — Tweek disse com escárnio, apertando as alças da mochila para não pegar nos cabelos outra vez. — Ontem eu tava com TANTA raiva, que beijei ele.

Kenny pareceu ter levado um tapa na cara.

— Você... como é?

— Beijei mesmo! JESUS!! Ele tava me perguntando o que fazemos, perguntou o que eu queria! PORRA!

— Tweek, se acalme, amiguinho... — A voz de Butters era baixa, tranquilizadora, eles já estavam perto da escola.

— Ainda tive que aguentar cobranças de que tirei ele da rotina. Puta que pariu, a merda da rotina de bosta! — Tweek rangeu os dentes, Kenny e Butters trocaram olhares.

— Cara, depois dessa reviravolta o Craig sabe que você tá interessado nele, então ele vai fazer algo a respeito. — Kenny tentou.

— NÃO, NÃO VAI, NÃO!!

— Shhhh... calma, cara... — Kenny colocou a mão no ombro de Tweek. — Pelo menos ele estará preparado para quando você... sabe... quando estiver pronto...

— Ele não vai, CARALHO! — Tweek voltou a falar, os olhos verde-avelã chisparam. — Eu falei pra ele que não queria um namorado.

Os outros dois arregalaram os olhos.

— Por que você disse isso, Tweek? — Butters perguntou cuidadosamente, temendo outra explosão do loiro.

— AHHHH!!! Porque sim!!! Eu não sei porque fiz isso!! Agora ele tá lá com o Thomas, não me entendam mal — Tweek puxou o ar, se acalmando —, Thomas até é um sujeito bacaninha, mas, PORRA, cara!

Kenny parou na frente de Tweek, apanhou o rosto do loiro entre as mãos quentes e encarou-o por alguns minutos, Tweek tinha os olhos secos, e havia uma frustração enorme oscilando dentro daqueles olhos.

— Cara. Calma. Olha, praquela... sabe... praquele troço final... eu pensei em uma coisa... é arrojado e atrevido... vou precisar, no mínimo, levar o Butters para um lugar em Denver... e tem que ser hoje... um lugar onde poderemos ver... sabe... as ações ao vivo...

Tweek o fitou, intrigado.

— Você diz como uma apresentação... prática? Depois vocês... nós... vamos repetir... do jeito que vocês vão ver... ao vivo?

Kenny mordeu os lábios, sorrindo um pouco.

— É... ao vivo... sim... meio que sim. Mas... depois vamos poder terminar aquela parte... e você não tem que esperar Natal, aniversário ou o caralho que seja... resolva isso sem uma data.

— Eu acho uma ótima ideia! — Butters aplaudiu sonoramente, parecendo uma criança feliz, Kenny então puxou Tweek para si, abraçando-o e afundando o nariz nos cabelos loiros espetados.

— Nós vamos terminar isso... e eu já estou com saudades do seu cheiro, Twinkie...

— Sai, filho da puta! — Tweek disse, mas sorriu se afastando dos braços de Kenny. — Vamos logo, o Kyle está nos esperando.

Tweek caminhou na frente, Kenny encarou Butters, tentando ignorar os arremessos que seu coração dava contra sua caixa torácica, então apontou para o amigo que dera as costas a eles.

— Você não acha que ele fica muito quente quando está com raiva? Puta merda, isso nem acabou e já estou com uma maldita inveja do Craig.

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

Kyle esticou o painel em branco, havia tintas e pincéis ao lado, ele e Rebecca tinham trazido tudo sozinhos da sala do Clube de Artes, Stan estava longe de ser visto, e Kyle sentia a falta arrasadora dele.

— Kyle... David vai demorar? — Rebecca perguntou timidamente, observando pela janela um trio de loiros se aproximando da entrada da escola. — Tweek está aqui.

Kyle abriu um armário apanhando os rascunhos dos tópicos de debates que fizera com Stan dias antes.

— David? Ele não ficou de vir... hoje seria apenas eu e você. — Ele olhou para a garota, sorrindo. — Já está cansada de mim?

Rebecca virou encarando Kyle horrorizada.

— Não! Não é isso! É só que... sei lá, ele sempre vem cedo.

— Eu sei. — “Stan também sempre vem”, pensou, mas escondeu seu desapontamento jogandoum olhar calmo para Rebecca. — Vamos tentar fazer isso rapidamente com o Tweek, Butters também se ofereceu, eles querem terminar o mais rápido possível, e acho ótimo.

Rebecca mordeu os lábios nervosa, desviou os olhos castanhos, encarando os tênis.

— E se fizermos um grande papel de idiotas com aquele pessoal de North Park? — Ela perguntou assustada, imediatamente Kyle percebeu a insegurança, deu um passo à frente e a abraçou para acalmá-la.

— Vai dar tudo certo, não se preocupe. — Não deixe que aquelas garotas intimidem você! — O ruivo disse alisando os cabelos ondulados.

Um som de tosse veio da porta onde Kenny observava Kyle com olhos felinos.

— Espero que não estejamos atrapalhando. — O loiro falou enquanto era seguido para dentro da sala por Tweek e Butters.

Rebecca soltou Kyle a contragosto, e Kenny aplicou um beijinho casto nos cabelos dela, o ruivo se afastou distraído por Tweek que já começava a desempacotar folhas de EVA da pasta que trazia a tiracolo.

— Vocês vieram bem cedo mesmo! — Kyle cumprimentou Tweek com uma batida na mão dele, e acenou para Butters, então olhou para Kenny que já fora largado por Rebecca. — Mas você, fique fora!

Kenny fez um beicinho magoado enquanto assistia Butters subindo em uma escada para ajudar Tweek a esticar o painel, um pedaço de pele pálida imaculada e deliciosa surgiu entre o pulôver e a barra da calça de abrigo confortável do pequeno loiro.

— KENNY! — Kyle gritou para chamar a atenção do loiro. — Não. Você vai nos distrair, cai fora.

— Vou ajudar! — Kenny tentou com voz suplicante, delicada e fingida.

Kyle ergueu a sobrancelha e Tweek jogou um olhar sujo para eles.

— Ele diz essa merda, mas fica de vadiagem o tempo todo, você sabe disso, Kyle. — O loiro de cabelos espetados ofereceu, virando-se para encarar o painel em branco, depois voltou para o ruivo. — Cara, fiz esse esboço, o que acha?

Kyle deu um jeito de empurrar Kenny para fora, e apanhou o papel que Tweek lhe entregara, observando com a sobrancelha franzida em concentração, Rebecca tropeçou em uma lata de tinta atrás deles, por reflexo Butters apanhou a garota no ar antes que ela chegasse ao chão, mas a saia rodada dela prendeu em uma cadeira e o rosto da menina quase explodiu de vergonha quando Tweek e Kyle tiveram que socorrer e desenganchar a peça, os Presidentes do Clube de Artes e Debate não entenderam porque a timidez, ela vestia uma legging por baixo da saia, então nenhum dano foi feito contra sua dignidade, o ruivo e o loiro de cabelos espetados evitaram olhar enquanto ela se afastava colocando a cadeira vilã no canto da sala, como se o objeto fosse uma criança malcriada, Kyle se voltou para Tweek.

— Incrível! — O ruivo alisou as letras coloridas na folha de papel. — Tem relevo aqui, e esse material é impressionante... mas, o mais chocante são os desenhos! São... cara, eles parecem tão... wow!

Tweek sorriu orgulhoso observando o papel onde estava escrito “XI ENCONTRO DOS CLUBES DE DEBATES”, diretamente abaixo, a data, hora e local, as letras em tamanhos diferentes e ao mesmo tempo totalmente combinadas eram ornamentadas por abetos e pinheiros embaixo, dando a ideia de gramado nevado, atrás do texto estavam as Montanhas Rochosas com cumes brancos, salpicados de verde e marrom, acima delas havia um sol amarelo pálido brilhante que parecia refulgir  iluminando um gramado orvalhado, e arrematando tudo, o nome da escola.

— Butters desenhou, ajudei a pintar esta amostra, as letras são em EVA, desenhei e trouxe as folhas prontas para recorte, então vamos ter um pouco de trabalho para recortar todas... sei que você queria uma coisa só, e vou fazer esta parte destacável, ou dobrável, depois vamos fazer esse contorno em glitter branco e verde, para dar a ideia de brilho na grama do Butters, vai ser um pouco trabalhoso, mas vai ficar bem foda. — Tweek apontava no papel. — No final o Butters desenha, acho que vamos precisar de uma hora agora pra resolver o EVA, já faço a marcação do texto e o Butters fica trabalhando com os desenhos. Vamos precisar da hora do almoço, talvez isso seja mesmo suficiente.

— Consegue fazer isso com este tempo, Butters? — Kyle perguntou impressionado.

O loiro encolheu os ombros, sorrindo, contente por Tweek estar mais calmo.

— Claro, não é nada demais!

Rebecca se aproximou, o embaraço da cadeira totalmente esquecido quando ela se inclinou sobre as costas de Tweek avaliando o papel nas mãos de Kyle.

— Poderíamos colocar umas franjinhas onduladas nas laterais? — Perguntou para Tweek, o loiro franziu as sobrancelhas, concentrado.

— Algo da mesma cor das letras ou em verde como os abetos e pinheiros do Butters? ­— Ele perguntou encarando firmemente o papel, já montando a imagem na mente. — Talvez... O que acham?

Butters e Kyle acenaram e voltaram os olhos para Rebecca.

— Sim... eu pensei que vermelho da cor da escola ficaria mais legal... — Ela respondeu dando a volta e ficando cara a cara com Tweek.

— Pode ser feito, vou fazer franjas destacáveis no caso de não gostarmos, certo? — O Presidente do Clube de Artes decidiu.

Rebecca sorriu de orelha a orelha e se atirou nos braços de Tweek, apertando o pescoço do garoto, que parecia muito alto perto da menina de um metro e meio.

— Você é muito legal, Tweek! — Ela jorrou ainda sorrindo.

O rosto de Tweek corou e ele coçou a nuca tímido.

— São só uns adereços gays, garota.

Ela sorria segurando Tweek apertado, quando porta abriu e uma voz monótona atravessou a sala.

— Tweek. — A voz anasalada soou apertada e impessoal. — Posso falar com você um minuto?

Quatro cabeças encararam Craig, e ele não tirava os olhos de Rebecca, ainda devidamente agarrada ao pescoço do loiro, mas também não se moveu da porta, esperando uma resposta de Tweek.

— Já volto. — O loiro de cabelos espetados saiu dos braços da menina e caminhou até a porta.

Craig deu as costas a todos, não antes de enviar um olhar fuzilante para Kyle, como se o culpasse de algo.

Quando Tweek saiu no corredor percebeu que estava frio ali, ele sentiu uma corrente de ar apanhá-lo de surpresa, e Craig virou de frente para ele, puxando da mochila uma jaqueta verde-musgo.

— Estava lá em casa. — Ele esticou o braço entregando a Tweek a jaqueta. — Você saiu correndo e não pude entregar. Não quero que fique doente.

Tweek pegou a jaqueta, eles se encararam por alguns instantes, os olhos de Tweek inevitavelmente voltaram para a boca de Craig, ele umedeceu os próprios lábios, engolindo enquanto sentia o coração acelerar ao lembrar do beijo que impetuosamente havia dado no moreno.

— Obrigado, cara. Você sabe que meu sistema imunológico é bom, mas realmente ta um frio do caralho aqui no corredor. — Falou jogando a jaqueta sobre os ombros.

— Sua boca. — Craig falou de repente, Tweek deu um salto.

— O que tem ela? 

Craig desviou os olhos e cobrindo-os com o antebraço.

— Não tá mais rachada.

— É! Eu sei! — O loiro cuspiu quase gritando, os olhos arregalados. — Tenho que ir, Craig, depois a gente se fala!

— Tweek! Espera. — Craig o segurou pelo braço com um aperto no peito percebeu que a mão de Tweek tremeu. — Vamos almoçar juntos ou você vai estar ocupado?

— Desculpa, Craig. Essa tarefa não é muito complicada, mas vou almoçar lá com eles. — Tweek respondeu, e sem pensar, emendou. — Mas garanto que o Thomas vai fazer companhia para você.

As palavras simplesmente pularam dos lábios de Tweek, e assim que ele as ouviu se arrependeu, a decepção estampada no rosto de Craig era gritante, mesmo Tweek estava impressionado, ele abriu a boca para falar algo, porém Craig voltou a falar.

— Quer ir lá pra casa hoje? Tem... quero... tem aquele jogo novo...

Tweek avaliou, precisaria falar com Kenny e Butters.

— Vou ver... tenho umas coisas pra fazer ainda.

— Eu espero! — Craig falou imediatamente.

— Pode demorar.

— Não me importo.

— AHHH! Okay. Meus Deus!

E dito isso Tweek virou-se e correu, em alguns instantes Craig o ouviu batendo a porta.

Uma mão tocou o ombro do moreno, ele se virou e gemeu internamente quando viu um grande sorriso o encarando de volta.

— Agora sim, parceiro, está fazendo alguma coisa! Muito bem! — Clyde dava palmadinhas nas costas de Craig.

Stan, que chegara com Clyde, observava silencioso.

— Cale a boca, Clyde. — Craig falou com a voz arrastada. — Vá lamber o chão dos seus amigos atletas.

Clyde gargalhou.

— Meus amigos são todos uns babacas... mas meus melhores amigos são incríveis! — Clyde declarou entre risadas, apertando Craig em um meio abraço. — Inclusive você!

Clyde puxou o chullo e bagunçava os cabelos de Craig, que era mais alto que ele.

— Clyde, pare de agarrar o Craig no meio do corredor, isso é degradante! — Eric Cartman avançou entre eles, com Kenny e Jimmy logo atrás, o loiro parou ao lado de Stan, jogando um braço sobre o ombro do amigo, Cartman obviamente viu isso. — Meu deus, é gay pra todo o lado! Como é que a raça humana vai continuar a espécie?

— Hey, Stan, você esteve lá com o Kyle? — Kenny questionou ignorando Cartman e puxando o celular do bolso. — Ainda temos dez minutos antes da primeira aula, quer ir comigo lá ver o que estão fazendo? Saí de lá há pouco, o Kyle meio que me correu.

Stan ponderou, mas a verdade era que não queria ver Kyle agora.

— Não se atrevam a atrapalhar eles, seus cuzões. — Craig interrompeu. — Tweek vai perder o almoço envolvido com essa merda do Broflovski, então, não o façam perder nem um minuto mais.

— Eu só ia dar uma olhada no trabalho deles, Craig. — Kenny falou inocentemente. — Nem pretendia entreter o Tweek... não hoje, de qualquer maneira...

Craig entrou no espaço pessoal de Kenny, encarando o sorriso lascivo do loiro a um passo de distância.

— Não gosto do seu tom, McCormick. Melhor não brincar comigo.

O sorriso de Kenny aumentou.

— Um moreno desses... porra, eu adoraria brincar... mas, se eu gostasse tanto desses tipos já tinha dado umas com o Stan aqui — Kenny disse rindo quando Stan deu-lhe um soquinho amistoso —, minha coisa é com os loiros, sabe como é... você também gosta deles...

Craig deu um passo furioso, Kenny não arredou pé, lambendo os lábios ao ver um brilho no olhar de Craig.

— Não p-p-p-pense com o seu p-p-p-pau, Ken-Kenny... já fiz isso uma v-v-v-v-v-vez... é uma merda. — Jimmy falou quando Craig já estava praticamente em cima de Kenny.

— Meu pau não pensa, ele age! — Kenny disse e Craig esticou a mão para o casaco dele.

— Parem com isso! — Stan se colocou entre eles, Clyde puxou Craig. — Kenny, cara! Dá pra parar de falar assim? Jesus, parece que todo mundo é um pedaço de carne, puta merda!

Clyde puxou Craig para si.

— Craig, parceiro, esse é o maldito Kenny, pelo amor da porra!

Craig lançou um último olhar enregelante e deu as costas para os dois, Clyde o seguiu, Tolkien os encontrou e atirou um olhar questionador para Clyde.

Sozinhos, Stan voltou o rosto para Kenny.

— Por que essa implicância com o Craig? Já notei que você tem andado demais com o Tweek, sabe que eles...

— O quê? — Kenny rebateu.

— O... quê? — Stan replicou confuso. — Como “o quê”, Kenny? Sabe que sei lá, os dois são complicados, todo aquele negócio com as asiáticas quando éramos mais novos... O Craig é muito protetor com o Tweek! A questão é: Por que você resolveu grudar no Tweek? Não tem outra pessoa pra você cercar com seus... galanteios?

— Tem você, Capitão!

— Cara!!

Kenny abrandou.

— Aww... Marsh... acha que sou galante? Vindo de você estou até lisonjeado... quer que eu chupe você, bata uma pra você em agradecimento, ou algo mais harder?

Stan girou os olhos, se encostando na parede e esfregando o rosto.

— Porra, Kenny. Estou falando sério!

O sorriso de Kenny se extinguiu, e foi tão assustador que Stan ficou imediatamente atento.

— Por que você não me diz o que tá rolando entre você e o Kyle?

Stan de repente, perdeu a voz, um momento se passou enquanto Kenny não desviava o olhar, até que Stan saiu andando sem cerimônia, Kenny o seguiu de perto até que pararam em frente a saída de emergência, um canto afastado de todos, mas Stan continuava evitando olhar para Kenny, aguardando.

— Okay, Stan. — Kenny começou. — Não posso falar tudo, mas estou ajudando o Tweek com... algo... ele me pediu, tá legal? E não sei porque o Craig ficou assim. Não é como se o Tweek fosse algo dele, o cara é livre, porra.

 — Você sabe que o Craig gosta do Tweek, não sabe? — Stan disparou. — Sabe que, não importa como alguém de fora olhe para essa situação, parece que você está interferindo, não sabe disso, Kenny?

O loiro empurrou o capuz laranja encarando Stan com olhos irreverentes.

— E você sabe que tá parecendo que você e o Kyle transaram, e agora não conseguem mais se falar, ou se olhar, nem agir direito um com o outro, não sabe, Stan? — Kenny replicou sussurrando junto ao ouvido de Stan. — Sabe que não precisa roubar o que já é seu, não sabe? *

Stan parecia ter levado um soco no rosto, levou alguns momentos para que ele conseguisse falar novamente.

— Finalmente a falta de nutrientes tá ferrando seu cérebro, cara. Do que caralhos você está falando, Kenny? — Stan perguntou erguendo a sobrancelha.

Kenny se inclinou sobre o amigo, uma mão sobre o ombro de Stan, a outra enlaçando o moreno pela cintura de forma íntima.

— Kyle... Kyle está apaixonado por você. — Kenny apontou como se fosse uma imensa revelação. — E você... sempre o amou. E estou falando amor mesmo. Não estou falando de amizade, paixonite adolescente.

— O que você sabe... — Stan zombou, inseguro.

— É amor. Acredite em mim, tenho pensado sobre “amor” ultimamente. — Kenny declarou.

Stan sabia que isso era absurdamente incomum, mas havia mais coisas incomuns e incompreensíveis sobre Kenny que ele poderia reunir em alguns poucos minutos de conversa.

— Kyle vai se declarar para a Rebecca... — O moreno começou.

— Ela vai se declarar para o David. — Kenny falou sem interrupção.

— ... ou para o David. — Então Stan mirou o rosto próximo e satisfeito de Kenny. — Você disse o quê?

Stan murmurou, o rosto corando, a voz mínima, Kenny brincou com a língua sobre os lábios.

— Que a Rebecca vai se declarar para o David, ela gosta dele. Nosso mexicano é caliente, mas cego pra porra, ele não notou que ela está louca por ele, mas eu notei. — Kenny contou, para espanto de Stan, novamente.

— Ela gosta do Kyle! — Stan respondeu pateticamente. — É como se só o Kyle existisse pra ela!

— Você não entendeu nada! — Kenny girou os olhos. — Já percebeu que a Rebecca não se dá bem com as outras meninas? Ela prefere os meninos, aparentemente algumas garotas da escola antiga dela, e da nossa também, foram tão cruéis que fizeram ela perder a fé nas suas iguais.

— Nunca... nunca notei... ela se dá bem com os garotos, mas nunca pensei que não se dava com as meninas. — Stan começou a revisitar todas as lembranças que tinha de Rebecca desde o concurso de soletrar na terceira série.

— Ela parece okay com a Wendy, mas de longe nossa pequena Beckye prefere estar entre os meninos, prefere estar comigo, Clyde, Tweek, Butters, Gary que é um bom moço, David... — Stan bufou alto, Kenny cobriu os lábios dele com a mão. — Shhhh, não deixe seu julgamento pessoal atrapalhar a realidade, Stan... Kyle é o centro, admito, foi aquele que a ajudou a se enturmar desde o início, e você sempre olhou para ela como uma rival.

Kenny tocou o dedo na ponta do nariz do moreno. Stan afastou o dedo de Kenny contrariado.

— Não olhei pra ela desse jeito! Ela só vive agarrada no Kyle, vou pensar o quê?

— VOCÊ vive agarrado no Kyle! Já admitiu pra si mesmo? Porque tenho certeza que o Kyle já admitiu pra ele mesmo que quer você. — Kenny achou muito engraçado as caretas que Stan estava fazendo. — Daí quando achei que você ia fazer, ou já tinha feito, alguma porra a respeito, parece que os dois não estão agindo normalmente mais, foi só eu virar as costas...

— Cara! O Kyle não gosta de mim! Não desse jeito! Estou te dizendo! EU SABERIA!

Kenny sabia por experiência própria que nem sempre se sabe essas coisas... e calou Stan outra vez.

— É sério! Aproveite o seu aniversário, vá nesse debate com o Kyle, vá naquela festa da Presidenta Gata, e deixe as coisas acontecerem.

— Combinei de ir com o Gary. — Stan torceu os lábios.

O loiro bufou puxando o capuz, irritado.

— Não foda com isso, Stan! Pensei que você era um bom observador! Seus olhos afiados e intuição só funcionam quando veste aquele capacete de futebol do caralho? — Kenny disse. — O tapado é o Kyle! Ele não é bom lendo emoções e pode não ter percebido, mas você sabe que gosta dele. Não sabe?

Dizendo isso, Kenny saiu, Stan ouviu o sinal soar se perguntando se seu amigo loiro poderia estar certo... porque se ele estivesse...

Então, Kyle estava treinando para quê?

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

Na sala do Clube de Debates, apesar de Kyle ter exigido que seus ajudantes voltassem às aulas depois do almoço, Tweek proclamou que só saía dali depois que o trabalho estivesse finalizado, isso fez o ruivo se desdobrar em dois para ajudar nas colagens que Rebecca havia idealizado e eles puderam voltar para as duas últimas aulas.

Kyle estava aliviado e finalmente satisfeito quando Butters e Rebecca correram para suas salas e o próprio Kyle entrou para a última aula do dia com Tweek à sua frente, várias cabeças se voltaram para eles e Craig os encarou friamente segurando uma caneta como se fosse espremê-la entre os dedos, Tweek sentou ao lado dele, Kyle procurou Stan com os olhos, mas seu Super Melhor Amigo não retribuiu seu olhar, Kyle sentou-se na frente, e não conseguiu falar com Stan.

Foi uma aula rápida com exercícios de revisão de História e o ruivo era particularmente bom e interessado demais para pensar em outra coisa qualquer, uma prova foi marcada e toda a turma protestou, porém, não foi isso que fez o estômago de Kyle revirar quando percebeu que Stan digitava em seu celular, obviamente trocando mensagens com outra pessoa.

Depois da aula voltaram ao Clube de Debates, era quarta-feira e precisavam arrumar tudo para a Reunião logo mais, o dia passou voando e Kyle sabia que podia contar com os caras do Clube de Artes para resolver o outdoor do evento em North Park, essa seria não apenas a faixa que ficaria exposta na escola convidando os alunos para prestigiarem seus colegas em um evento oficial do Clube, como também seria a bandeira os identificando em sua mesa durante o acontecimento.

Mais uma vez eles apreciaram o trabalho finalizado, contentes.

— Muito obrigado, caras. Vocês foram incríveis, vou garantir que sejam dados os créditos a vocês! — O Presidente jorrou observando o painel onde estava esticada a faixa/outdoor recém aprontada. — Ficou maravilhosa!

— Fantástica! — Completou Rebecca, tocando nas franjas que davam um ar festivo ao trabalho.

Tweek observava ainda crítico, achando que alguma letra ficara torta, ou algum recorte não estava bom o bastante, pensando que poderia ter usado outra técnica, outro tipo de fonte, outro material para as letras...

— Não é nada como um trabalho de tipografia, mas gostei de desenhar as paisagens! — Butters, ao contrário de Tweek, estava feliz e envaidecido de seu trabalho.

Começaram a guardar o material, Kyle dispensou todos, mas Tweek conversou algo com Butters e fez questão de ficar, o pequeno Stotch e Rebecca despediram-se, deixando os dois Presidentes arrumando a sala.

Alguns minutos se passaram enquanto trabalharam em silêncio, Tweek estava anormalmente quieto e parado a alguns instantes, Kyle carregou uma mesa para o centro da sala, organizando as coisas no lugar, e notou Tweek olhando para a janela distraído, o loiro tremia levemente, e isso preocupava Kyle, eles tinham algumas aulas juntos e fazia muito tempo que não via Tweek tremendo, o ruivo se aproximou do amigo para ver o que o loiro observava.

— Hey, Tweek. — Ele chamou silenciosamente, não queria sobressaltar o outro.

Algo lá fora tinha toda a atenção de Tweek, Kyle se aproximou e viu por cima da cabeça loira, no pátio frontal estava Craig, escorado na entrada da escola, o moreno acenou para Clyde e Tolkien, que saíram pelo portão com outros alunos, Kenny e Stan vinham juntos atrás e Butters correu para alcançá-los, Stan parou ao lado de Craig eles trocaram algumas palavras, Craig jogou um olhar em direção ao prédio, Stan acenou negativamente com a cabeça dizendo algo e saiu pelo portão, sozinho.

Kyle sentiu um vácuo em seu peito assistindo Stan sumir do outro lado do portão, ele tocou o ombro do loiro.

— Você pode ir, cara. Eu termino aqui.

Tweek acalmou brandamente, voltando-se devagar para Kyle.

— Quer que eu peça ao Stan para esperar você? — Tweek questionou.

— Não precisa, Stan sabe que hoje o Clube de Debates tem reunião, ele geralmente me espera aqui na sala mesmo, enquanto joga algo no celular. — Kyle sorriu tristemente.

— Vocês brigaram ou algo do tipo? — Tweek perguntou agarrando sua mochila.

Kyle desviou os olhos observando o chão com interesse.

— Não. — Ele ofereceu humilde. — Mas você deve ir, o Craig realmente está esperando por você... por muito tempo, Tweek... não o faça esperar mais.

Tweek colocou a mochila nas costas e segurou a porta antes de sair.

— Eu não vou.

Kyle observou em silêncio quando Tweek chegou até Craig, o moreno simplesmente se empurrou da parede e, sem uma palavra, acompanhou o loiro para fora da escola.

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

Era cedo ainda quando Craig caminhava com Tweek pelas calçadas de South Park em direção a sua casa, ele combinara com Jimmy, Tolkien e Clyde que se falariam amanhã, falou para os amigos que hoje precisava da ajuda de Tweek em uma tarefa de Literatura, o que era uma meia verdade, mas ele não tinha a consciência pesada, Jimmy apontou que Craig só precisava de um tempo com Tweek para ser mimado pelo melhor amigo.

Bem que Craig queria isso.

No entanto, agora observando os ombros de Tweek marcados na jaqueta verde-musgo, ele sentia o silêncio do loiro perfurando sua alma, o garoto tremia eventualmente, e isso estava deixando Craig preocupado além do normal.

— Cansado? — Craig perguntou. — Podemos ir para a sua casa se preferir, Tweek.

O loiro desacelerou o passo, e olhou diretamente nos olhos de Craig, o moreno o observava com expectativa.

— Não, tudo bem, combinamos de ir pra sua casa. — Ele respondeu e Craig tentou não sorrir com essa declaração. — Q-quero mesmo jogar as missões inéditas do “The Last Maharaja”... a não ser que você já tenha jogado com outra pessoa.  

Craig ignorou a acidez da resposta, pois estava concentrado pensando que havia algo incomodando Tweek o suficiente para fazê-lo gaguejar e tremer.

— Comprei o jogo para jogar só com você, cara. — Craig falou tocando na lateral do braço de Tweek, tentando ignorar seus batimentos cardíacos enlouquecidos pela proximidade. — Nem mesmo coloquei para rodar ainda, quero que a primeira vez seja com você.

Tweek corou, sua cabeça naufragou com várias ideias inapropriadas, definitivamente Craig tinha razão, Kenny era uma má companhia, ele se afastou de Craig, caminhando na frente.

— Certo, vamos lá então, só preciso apanhar um café antes.

Não demorou para estarem no quarto de Craig, e o moreno não queria demonstrar o quanto estava contente, largou a mochila na escrivaninha observando Tweek sentar-se em sua cama.

— Cara, preciso ver esse jogo! Dizem que os templários são muito mais nefastos nas novas missões! — Tweek se atirou na cama.

Craig fechou a porta embora não houvesse ninguém em casa ainda, e tratou de colocar o jogo para ele e Tweek jogarem, o loiro deitou-se de bruços na cama de Craig, enquanto o moreno sentou-se ao chão, nos pés da cama direto na frente da televisão, ele sentia os cabelos esvoaçarem quando Tweek xingava o jogo ou batia a mão no colchão, e Craig só conseguia pensar que fazia muito tempo que não assistia o loiro tão relaxado, desviou os olhos da tela observando Tweek, as maçãs do rosto salpicadas de sardas perfeitas, o nariz quadradinho na ponta, Craig gostaria de poder sentir de perto, e os lábios... os malditos lábios que Craig não conseguia esquecer do gosto e da maciez.

De repente a música do jogo parou, Tweek escorregou da cama sentando-se ao lado e Craig sacudiu a cabeça deparando-se com os olhos verde-avelã preso aos dele.

— Não fique encarando, está me desconcentrando, cara. — Tweek falou baixinho, encarando os olhos azuis de Craig.

Já anoitecera, o tempo passou muito rápido e Craig observou os cabelos do amigo, eram como um raio de sol naquele quarto escuro, irresistivelmente loiros e bagunçados, os olhos quentes, vivos, sem resistir Craig ergueu os dedos longos e tocou as bochechas coradas de Tweek, o loiro se encolheu como se fosse um animal assustado, Craig recolheu a mão.

— Desculpe, era... só um brilho de glitter. — Ele ergueu o polegar para provar, havia um brilhinho verde na ponta do dedo dele.

Tweek desviou o olhar, pensando no beijo que dera em Craig na noite anterior.

— Não é como se fosse a primeira vez. Sou sempre uma bagunça fazendo as coisas. — Ele estremeceu.

Rapidamente e de forma instintiva, Craig o abraçou, e então sentiu o coração de Tweek aceleradíssimo, o moreno o apertou em seus braços e acariciou as costas do loiro.

— Por que está tão nervoso? — Falou preocupado, Tweek se amaldiçoou por deixar Craig aflito assim. — Há quanto tempo você não treme ou gagueja? Sabe que pode contar comigo, Tweek.

O loiro respirou fundo, o cheiro de Craig o intoxicando totalmente, relaxando seus membros aos poucos.

— Há quanto tempo não beijo você? Seis anos? — Ele sussurrou se acalmando. — Você contou aquilo como um beijo? Éramos tão crianças...

Craig sentiu seu interior se contorcer quando borboletas bateram asas dentro dele.

— Claro que contei. — O moreno tentou manter a voz firme para não assustar Tweek, mas seu próprio coração começava a enlouquecer. — Mas foi diferente... de ontem...

Tweek quis se afastar, Craig o deixou ir, pesaroso sem o calor do loiro ali, era como se o corpo inteiro do moreno esfriasse.

— Desculpe por ontem, cara... eu só queria... não sei, você estava todo louco! — Tweek ficou de pé caminhando no seu quarto, a luz da televisão iluminava os ângulos do rosto dele.

— Eu sei. — Craig não costumava se desculpar, mas também não poderia deixar Tweek ansioso. — Não gosto do McCormick, ele é...

— Sei me cuidar, okay? — Tweek determinou, e Craig ficou um pouco aliviado em ver a expressão decidida dele. — Kenny não é o depravado que ele finge que é... ou ele é, mas é pior na cabeça dele.

— Certo. Esqueça isso. — Craig falou. — Deixa pra lá.

Então Tweek parou no centro do quarto e seus olhos fixaram em Craig.

— Você está saindo com o Thomas? — Tweek perguntou. — Ele totalmente está querendo entrar nas suas cuecas, não está? Ele beijou você, pelo amor de Deus!

— Você também me beijou! — Craig disparou.

— AHHH! Eu só queria provar algo! — Tweek respondeu desolado.

— Mas foi minha boca que você provou! — Craig deixou escapar, foi mais forte que ele, e se arrependeu imediatamente quando viu o rosto arrasado de Tweek.

— Craig... eu...

O loiro começou e Craig correu para pará-lo, não suportaria ouvi-lo se desculpar por um beijo que Craig estupidamente não parava de relembrar.

— Por favor, vamos esquecer isso. — Craig colocou as mãos nos ombros de Tweek. — Olha, vamos jogar aquele jogo que você queria? Cuphead, não é? Eu já tenho, dei uma olhada em alguns gameplays e é um jogo insanamente difícil, parece perfeito.

Tweek ergueu as sobrancelhas, vinha querendo aquele jogo, mas não tivera tempo para nada ultimamente, o Boxe, a Cafeteria e o Clube de Artes... as horas com Kenny e Butters... nem lembrava de ter falado Craig, o moreno se sentou colocando o jogo.

— Assistiu... gameplays? — Tweek perguntou baixinho.

Craig o olhou por cima do ombro.

— Tenho tido bastante tempo livre ultimamente.

E assim jogaram, até que Tweek adormeceu no ombro de Craig, o moreno o apanhou no colo “ao estilo noiva”, e acomodou o loiro em sua cama, Tweek estava totalmente exausto, dormiu pesado antes das dez da noite, Craig desceu as escadas procurando algo para trazer para o quarto para que Tweek comesse quando acordasse, Craig deparou-se com a mãe e a irmã assistindo uma série antiga com adolescentes cantando músicas na TV*, um carinha com uma camiseta branca escrito “LIKES BOYS” cantava com outros adolescentes pulando em volta dele.

— Mãe, Tweek vai ficar esta noite. — Craig declarou com voz monótona.

Totalmente desinteressadas as duas olharam para ele, Laura ergueu levemente uma sobrancelha.

— Não me importo se vocês estão namorando de verdade agora, mas ligue para a Helen.

— Pobre Tweek, um carinha tão lindo e legal, namorando um cuzão como meu irmão retardado.

Craig ergueu o dedo do meio.

— Não estamos, ele só apagou e não vou acordá-lo, okay?

Contrariado, Craig apanhou o telefone residencial, discando o número que era um dos poucos que ele tinha memorizado, após alguns toques, uma voz feminina calma o atendeu.

“Residência dos Tweaks!”

Craig respirou fundo.

— Boa Noite, Sra. T. — Craig saudou sem emoção, nem precisaria se identificar, do outro lado da linha já havia uma clara comoção.

“Olá Craig! Como vai?” Craig ouviu a voz baixa e abafada em seguida.  “Querido, é o Craig, é o Craig!”

— Fantástico. — Craig respondeu estoico. — Tweek vai passar a noite na minha casa. Estamos terminando um trabalho gigante, preciso que ele me ajude.

“Oh... Oh, meu amor, tudo bem, ele ainda tem alguma roupa na sua casa? Posso pedir que o Richard leve alguma muda limpa, cuecas, especialmente.”

Craig corou da cabeça aos pés, e mostrou o dedo do meio para Ruby que sorria parecendo adivinhar a conversa constrangedora.

— Ah, não, está tudo bem. Tenho... tenho alguma coisa dele aqui ainda e ele pode pegar algo emprestado.

“Certo, meu amor, dê um beijo no Tweek por mim, meu bebê tem estado muito preocupado ultimamente, e tem aquele segredo acontecendo no quarto dele todas as noites, acho que ele não tem dormido direito de novo...”  

Ela se interrompeu de repente.

“...sentimos sua falta aqui também, Craig, apareça mais.”

— Eu irei, boa noite, Sra T. — Craig desligou com as sobrancelhas franzidas, intrigado.

Subiu ao quarto com uma térmica de chá quente e biscoitos, não daria café a Tweek para que ele pudesse dormir direito, e se postou ao lado do loiro, zelando pelo sono dele.

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

Cerca de algumas horas depois da escola, já escurecia quando Butters e Kenny se postaram em frente a um letreiro sofisticado, luzes brincavam no rosto sacana de Kenny.

— Cara, isso vai ser divertido pra caralho! — Ele apertou a mão de Butters na sua. — Vamos dar um showzinho para o Tweek com o que aprendermos aqui.

Butters estava visivelmente nervoso quando entraram no recinto, e estremeceu quando o show de fato começou.

— Ken... não acha que isso... é sofisticado demais para o Tweek...? — O coração do pequeno Stotch galopou em seu peito quando uma cena mais intensa explodiu seus sentidos.

Kenny apertava a mão dele durante os primeiros minutos, no entanto, acalourado, Kenny tirou o casaco e se inclinou sobre Butters, beijando-o com lábios poderosos.

— Esses caras são profissionais, Leo... — Ele sussurrou sensualmente. — Nós podemos ajudar o Tweek se aprendermos algo aqui, confie em mim.

“E depois de resolver com o Tweek posso seguir em frente” Kenny pensou, mas evitou falar em voz alta seus planos, já que o gosto e o cheiro de Butters estavam misturados àquele cenário impressionante... Agora Kenny poderia entender Tweek, Craig, e seus gostos estranhos...

Ele encarou Butters apaixonadamente, e duas horas depois saíam com as pernas bambas e a mente cheia de ideias, enquanto em South Park, Craig puxava o cobertor sobre Tweek profundamente adormecido, acariciando os cabelos loiros espetados.