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História Quicksand - Numb


Escrita por: NicBern

Capítulo 3 - Numb


Fanfic / Fanfiction Quicksand - Numb

 

Tudo que eu tinha que fazer para deixar o segundo ano do ensino médio para trás era o simulado final. Assim que eu terminasse e o resultado saísse eu podia dar adeus aquele ano e bem-vindo as minhas férias.

Eu estava cansada dos professores, do ambiente, das provas, trabalhos e todo o resto que diz respeito ao colégio. Eu definitivamente odiava o ensino médio.

Fazia meses que sentia uma sensação estranha sempre que ia para escola, como se algo muito ruim fosse acontecer, eu nunca fui muito de acreditar em pressentimento, isso é uma característica que deixo para minha avó Luísa. Ela é ótima em sentir coisas, quando ela fala a agua para. Mas aquele sentimento ruim permanecia, que ótimo que já estava acabando.

Não me considero muito familiar, mas se tem alguém que posso dizer que realmente sinto que amo é vó Luísa, mesmo sabendo que ela não é a minha avó de sangue, sei que ela é a avó que eu conheci e que me trata muito bem, como se fosse tão sua neta quanto todos os outros.

Todos tentam fingir que não sou diferente, mas sei que eu sou, é como se eu não me encaixasse. Não conseguindo ser menos clichê que isso, entretanto em todas as reuniões de família me sinto como uma peça do quebra-cabeça no tabuleiro errado.

Nunca me senti da forma como Nise se sente, obvio que não é culpa dela, ela é ótima, ela não me vê diferente, ninguém me vê, eu me vejo. A família é o ponto forte e seguro dela, eu só vejo um bando de gente para me dizer o que fazer, e eu quero descobrir o que eu quero fazer, ou apenas dormir.

Ah, eu queria dormir, mas não posso.

Estava sentada no sofá esperando o sinal de Nise avisando que tinha chegado para finalmente podermos seguir para escola e acabar de vez com o segundo ano.

Minha prima é adorável, mas em parte ela é a maior culpada por me fazer odiar cada dia que passo no colégio porque tenho ânsia sempre que vejo ela se arrastando para aquele cretino do Bernardo. Para acabar de completar, ele agora estava indo para escola de carro e dando carona para Nise e obviamente eu tinha que ir com eles, a Hadassa também ia, mas parte do caminho eu ficava segurando vela para os dois.

Na verdade, nem é segurar vela, já que o Bernardo só enrola a Nise e ela nunca toma uma atitude, eu nem estou no relacionamento e me sinto usada, mas minha prima acha que ele só está enrolado com o fim do terceiro ano e os vestibulares.

Bernardo tinha dezessete anos, era moreno azeitonado, cabelo liso e arrepiado, forte e gastava boas horas na academia e se entupia de proteína, para manter o corpo de merda dele. Ele tinha um carro popular e se achava por isso. Mesmo não tendo licença para dirigir ele usa o carro para tudo, acho que até para sair do quarto e ir bater uma no banheiro, só para se sentir melhor do que ele é.

Ele era desse tipo de cara machista escroto, que só fala de mulher, carro e futebol, tudo de um jeito bem vulgar, o que me faz questionar a sanidade mental da Nise.

Pouco que me dei o trabalho de ouvir sobre ele descobri que ele é de uma família bem tradicional e influente na cidade. Eles trem cinco hotéis no estado e dois fora. Lembro que no dia que ele tentou ficar com o meu gato, ele estava na porta de um prédio bem caro que provavelmente é onde ele mora.

Cheguei a pensar que a Nise se encantou por ele por seu poder aquisitivo, mas então eu quis meter minha cabeça na parede, eu conhecia ela e não era assim que as coisas funcionavam para ela. Bem provável que tudo era só porque ela estava enlouquecida e cega de amor e não via o quão idiota ela realmente era.

Nise finalmente mandou a mensagem dizendo que estava me esperando na portaria. Peguei uma maça na geladeira e desci correndo pelas escadas, estava sem saco para esperar o elevador subir, queria terminar com isso logo.

- Bom dia, Francesca! – Bernardo sorriu ironicamente, como todas as manhas quando ele insistia em me chamar por esse nome.

Apenas ignorei ele, como eu sempre fazia.

- Não chama ela assim, Bê. – Nise, pediu, como toda vez ela pedia.

´´Bê´´ me deu ânsia.

- Oi, Nise, a gente pode só ir logo, eu quero entrar de férias ainda hoje se possível? – Disse entrando e batendo a porta do carro de modo que o vidro tremeu.

- Mas que porra! – Bernardo olhou na minha direção. – Ficou louca? – Ele me encarou.

- Foi sem querer, desculpa. – Menti.

- Sem querer o caralho! – Saiu para fora do carro. – Por pouco você não quebra! – Ele praticamente gritava.

- Meu Deus cara, se acalma, foi sem querer! – Tentei contornar a situação. – É só um carro.

- É o meu carro! – Conferiu a porta.

- A gente sabe, Bê. – Nise, interviu. – Ela disse que foi sem querer.

- Não interessa, é o meu carro. – Abriu a porta com o mesmo cuidado que o cirurgião abre um cérebro de um bebê. – Sai do carro! – Me encarou. – Saiu agora do meu carro! – Ele gritou.

- O carro que você dirige sem licença? O carro que seu pai te deu para pegar mulher? – Encarei pegando minhas coisas e saindo para fora. – Eu saio sim.

- Sim, e você vai a pé, para largar de ser ridícula. – Ele se aproximou de mim.

Eu estava furiosa, eu sempre ia a pé para escola, desde muito antes dele saber o que era punheta, não precisava dele, eu estava ali pela Nise.

- Calma Bernardo, nem danificou nada, a gente pode só entrar e ir para o colégio? – Nise saiu para acalmar as coisas.

- Não, eu não vou sair daqui se tiver que levar ela.

- Eu é quem não vou com você, seu cretino. – Gritei. – Te vejo na escola, Nise. – Comecei a andar.

- Espera! – Nise gritou. – Se ela for a pé eu vou com ela.

- Então vai! – Ele disse para Nise. – Porque eu não vou deixar essa monstra entrar no meu carro de novo.

Eu me virei para soca-lo, mas desisti quando eu vi o rosto de Nise. Ah, ele tinha acabado de quebrar algo dentro dela.

- Eu vou com ela, porque ela estava na minha vida antes de você, ela é muito mais importante para mim que você, seu grosso! – ela gritou para ele. – Você precisa de mim, nós não precisamos de você! – Ela tirou suas coisas do banco do carona. – E não adianta nada ter um carro para pegar mulher se você se quer sabe falar com uma. – Minha prima virou as costas para ele e me seguiu.

Andamos lado a lado em silêncio, por um tempo. Levou um tempo para eu administrar o que tinha acontecido, mas então eu entendi.

Depois de meses tendo que aturar os dois, em um momento de impasse, Nise tinha me escolhido. Ela me escolheu, não ele, ela escolheu a mim. Então eu abracei, acho que ninguém tinha me escolhido antes.

Na verdade, a única pessoa que me escolheu, foi o Will, acho afinal ele aceitou ser o pai de alguém que não era filha dele, até agora porque Nise me escolheu.

- O que é isso? – Ela se surpreendeu.

- Eu.... Eu...

- Você não achou que eu ia deixar ele gritar com você e te tratar que nem um cachorro e continuar indo com ele não, ne? – Ela me encarou quando eu a soltei.

- Pensei que...

- Eu posso ter uma quedinha por ele, mas eu odeio esse enjoou ridículo dele com o carro, e odiei ele ter falado com você daquele jeito, e principalmente ele ficar te chamando de Francesca, além de gritar com você. – Apontou.

- Primeiro você tem um precipício pelo Bernardo e segundo não era minha intenção estragar as coisas entre vocês.

- Você não estragou nada, boba. – Ela riu. – Ele vai esfriar a cabeça e depois vai vir pedir desculpas, relaxa.

- Você ainda acha que ele vai te pedir em namoro na festa de encerramento? – Encarei-a.

A festa de encerramento era um evento do colégio que acontecia sempre depois das recuperações. Eu nunca fui a nenhuma, mas minha prima e Hadassa ia em todas, desde que começamos a estudar aqui e na cabeça da Nise, Bernardo pediria ela em namoro na festa de encerramento. Porém eu duvidava veementemente que ele ia se comprometer com ela na frente de todo o colégio, ele não parecia desses caras.

- Acho. O amigo dele disse que ele tem pensado em uma surpresa para mim e depois o Bernardo perguntou se eu vou na festa de encerramento. Então só pode ser isso. – Ela bateu palminhas.

Realmente queria entender como a cabeça das pessoas apaixonadas funcionavam, mas eu não entendia, isso não fazia o menor sentido para mim, como fazia para ela.

- Se você está dizendo...

- Queria que você fosse... – ela deu de ombro. – Mas sei que você não vai.

- Não vou mesmo, uma oportunidade de evitar olhar para cara daquele cretino e de todos os outros da escola.

Ela riu.

- Me desculpa por ele, ele foi ridículo, não esperava aquilo. – ela disse enquanto parávamos na porta da Hadassa.

- Você não tem que se desculpar, por ele, você não tem que fazer nada por ele Nise, você é melhor que ele em tudo, pode conseguir alguém que te ame e te valorize e queira que todos saibam disso principalmente você! – Disse.

Eu estava cansada aquela situação, era chato observar.

- Ele é o único que me deu atenção até hoje, o único que me ouve, eu amo ele. – Ela disse, mas tinha dúvidas se aquilo realmente era amor.

- Uai, cadê o carro? – Hadassa disse ao sair.

- O Bernardo foi um idiota com a Francis então viemos a pé. – Nise contou.

- Novidade....

Então eu apertei o botão ´´mute´´ na minha cabeça e permaneci andando ao lado das meninas enquanto elas discutiam o que usariam na festa de encerramento.

O bom de você ser foda-se na vida, é que você não precisava se importar com esse tipo de coisa.

***

 

 

Bernardo gritou comigo, mas pediu desculpas para Nise, disse que estava com a cabeça quente por causa do simulado final, eu caguei para ele. Assim que foi permitido deixar o colégio após o fim do simulado eu deixei, sabia que as meninas iam para padaria tomar café com os meninos do terceiro ano, então nem me dei o trabalho de ser rejeitada pelo Bernardo e seus amigos.

Fui para casa, dormi até o almoço e passei o resto do dia lendo e alisando o gato.

Dentro de dois dias saberíamos o resultado final.

***

Quando eu entrei na porta do colégio eu senti um peso no meu coração. Nise não ia saber o resultado final, ela tinha passado no terceiro bimestre, ela não precisa se ocupar com isso, mas nos pobres mortais não dotados da dedicação dela que estudávamos até para ganhar meio ponto por comportamento precisávamos e muito saber do resultado final.

Quase dei meia volta quando vi que era a Malévola que estava entregando as notas do segundo ano, entretanto eu não tinha outra opção, entrei sentei e aguardei minha vez já que ela estava explicando alguma coisa para a garota ao seu lado, que notei ser do terceiro ano.

- ... Você não entendeu Florzinha. – Ela disse com seu tom arrogante de sempre. – O simulado final vale dois pontos, mas não é somado a média é multiplicado por ela. Todos têm que tirar pelo menos um no simulado para continuar com a nota bimestral, ou pode diminuir a nota e ficar de recuperação final.

Eu voltei a terra quando ela disse ´´multiplicado´´. Que merda é essa?

Comecei a fazer os cálculos. Mas aquilo parecia complicado demais para os meus dois neurônios.

Ela começou a explicar que a função era medir o quando aluno tinha aprendido de modo que ele poderia melhorar a nota, e se fosse o contrário aquilo daria a oportunidade de ele refazer o que ele não fez corretamente, que era para acrescentar conhecimento... e blábláblá.

A garota estava furiosa por ter tirado 0,9 no simulado ela tinha ficado de recuperação em duas matérias. E que nada do que a professora dizia justificaria ela ter que permanecer mais duas semanas na escola.

Aquele discursão durou mais alguns segundos até a Malévola perder a paciência e chamar o coordenador para poder conversar com a garota, com mais calma. Levou alguns minutos até ela me chamar.

- Bom dia, Francesca! – Ela sorriu com seus lábios vermelhos e sua maquiagem forte para mim.

- Bom dia. - eu falei em um muxoxo.

- Então, vamos ver.... – ela procurou meu boletim e minha pasta de provas. – Aqui estão suas avaliações. – Disse me passando um envelope grosso. – E aqui tem seu boletim. – ela disse abrindo. – Ah! – ela fez uma expressão que juro por Star Wars que senti meu corpo amolecer.

- O que foi?

 - É que você tirou 0,8 no simulado, e ao ser multiplicado por suas notas, você ficou de recuperação final em quatro matérias.

- Ah. – eu disse – Então quando começa a recuperação? – encarei-a.

Não seria minha primeira recuperação final.

- Não, Francesca. – Ela me encarou como se falasse com um bebê. – Quando se fica de recuperação em quatro matérias você não pode fazer recuperação, nesse caso, você terá que refazer o segundo ano.

- Refazer o segundo ano? – Encarei-a confusa. – Como assim refazer o segundo ano? – Minha voz se alterou um pouco.

Então eu entendi.

- Querida, você foi reprovada. – Ela tentou soar reconfortante, mas senti como se ela estivesse zombando de mim.

- Puta merda! – Eu gritei. – Puta merda!

Biologia, claro. Química, física e matemática. Por causa dessas três matérias eu voltaria de novo ao inferno, pensei encarando meu boletim.

***

Juro que tentei digerir o que tinha acabado de acontecer no caminho para casa, juro que tentei ser foda-se, juro que tentei fingir que estava tudo bem, mas não estava, minhas amigas iriam e eu tinha ficado.

Fiz questão de ver que Hadassa passou com seus 1,2 no simulado e Nise com seus 1,5 tinha ido com dez em praticamente todo o boletim. E para acabar de completar eu era bolsista e por ter repetido de ano, tinha grandes chances de eu perder a bolsa.

Ou seja, eu poderia continuar no segundo ano e em outro colégio, eu odiava estudar, odiava esse colégio, mas sem minhas amigas eu provavelmente ia odiar mais o outro.

Que merda eu fiz para merecer isso?

O pior é que nem tive força e paciência para brigar com a Malévola ou com o coordenador. Eu só queria sair dali e pensar em como contar isso para os meus pais.

Eles não iam conseguir pagar o financiamento do apartamento e a minha mensalidade, já tinham a da Susan para bancar. Além de todas as contas da casa. Eu estava sem saída.

Eu podia arrumar um emprego e bancar minha própria mensalidade, mas se só estudando eu não tinha passado imagina estudando e trabalhando.

Eu não conseguia parar de pensar, eu não tinha ideia do que fazer, eu todos tinham ido e eu tinha ficado.

Então eu chorei.

Chorei como nunca tinha chorado na minha vida, eu estava me sentindo derrotada, burra, a pior das piores e um monte de outras coisas que só iam ladeira a baixo.

Tranquei-me no quarto e fiquei lá, mesmo com toda a minha família quebrando a porta do meu quarto eu continuei lá, Nise pediu, implorou para que eu abrisse, Hadassa também, mas eu não conseguia. Não sei por quanto tempo eu chorei, ou por quanto tempo eu passei ali, mas eu entendi por mais que eu não quisesse admitir.

Eu não era minha prima ou minhas amigas, eu não era como elas, que sentiam tudo, que lidavam com tudo, que conseguiam tudo, eu era do tipo que deixava que a correnteza me levasse. Mas ficar para trás doeu, doeu mais do que eu podia suportar.

Se era para ir para o inferno mais uma vez eu ia, e talvez eu nunca mais saísse de lá, mas para isso eu seria insensível, só assim eu poderia suportar!

 


Notas Finais


Notas da autora: deixo claro que escrever não é minha vida, é um hobby. Poderia passar horas aqui falando sobre o que tem acontecido, mas o comentário da autora não pode ser maior que a história! hahahahah

Enfim, posto quando der, puder, tiver tempo, paciência e inspiração para postar, espero compreensão. Obrigada por todo carinho e compreensão, não está sendo fácil, mas quem ama minhas histórias ficam. Deixe seu comentário e suas estrelinhas, são sempre muito importante para mim! :)


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