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História Quid Pro Quo - Zolidan


Escrita por: cryomancer

Notas do Autor


Olá, demorei um pouco a trazer uma continuação, mas prometo que vou acelerar as coisas de agora em diante, afinal são férias e vou ter mais tempo para escrever :)

Obrigada pelo apoio imenso de vocês e por confiarem em mim o suficiente para me dar quase duzentos favoritos com apenas um capítulo postado. Enfim, boa leitura.

Capítulo 3 - Zolidan


Parte 2

 

Eu queria ser capaz de esconder melhor quando coisas me incomodam, mas sou muito transparente às vezes, e as pessoas podem perceber com facilidade o que estou sentindo.

Ao menos agora tenho motivos. O simulado de Gestão Mercadológica para o qual eu deveria assistir uma revisão hoje não é mais o objeto de minha aflição. Pelo contrário, estudos pareciam estar em segundo plano.

Eu sinto o que aconteceu ontem como uma corda ao redor do meu pescoço, apertando cada vez mais. Levando embora a minha respiração, até que eu comece a delirar.

Esfrego meus braços, até que sinta mãos quentes cobrirem as minhas. A cabeça de Suigetsu aparece na minha frente no próximo instante, sorrindo como se não houvessem dezenas de policiais espalhados pela faculdade e o que podia ter sido um homicídio não houvesse ocorrido por aqui ontem.

A falta de segurança no campus não parece incomodá-lo em nada, e ao mesmo tempo em que o invejo por sua tranqüilidade, eu o desprezo pela falta de sentimentos.

Mas se há algo que não se deve cobrar de alguém, é a empatia.

“Bom dia.” ele se acomoda no banquinho à minha frente. As pernas abertas; nas mãos um copo da cafeteria, no qual estava escrito exatamente a palavra ‘solteiro’.

Eu não preciso perguntar. Ele paquera uma das atendentes da cafeteria do campus há um bom tempo, então a resposta é óbvia.

“Dia.” Eu respondo, e um oficial fardado passa por nós em direção a saída oeste.

“Que exagero...” seu corpo salta com a breve e zombeteira risada que sai de seu nariz, enquanto ele observa a aglomeração nas escadas. “Quando ficou sabendo?”

“Eu vi na televisão, hoje cedo.”

“E mesmo assim veio para a faculdade?” ele parece incrédulo com minha escolha, suas sobrancelhas escuras se erguem, em um grande contraste com os fios excessivamente descoloridos. “Você é otária.”

Ele tem razão. Ele tem toda a razão, duplamente.

Eu escolhi sair de casa em uma manhã fria, que podia ter passado com o meu namorado, para vir até a faculdade, após testemunhar um crime pelo qual não procurarei a polícia.

Estou, indiretamente, ajudando os bandidos.

Duplamente otária.

Eu o observo em silêncio por alguns segundos. Conhecemos-nos há dois anos, mas ele já é capaz de presumir minhas falas através da forma como o observo. E não é nada difícil para ele assumir o que estou pensando, visto que é o questionamento óbvio após sua revolta com minha presença aqui.

“Bem, eu estou aqui porque não assisto à televisão de manhã. Algo que, depois de hoje, certamente mudará.” Ele boceja, esticando os braços. “Como você está?”

Péssima.

“Bem.”

“Você não parece bem,” ele inclina a cabeça para o lado, como se fosse um cachorro. “definitivamente não. O que aconteceu?”

“Um cara quase foi morto aqui ontem à noite.” Eu tento recobrar a consciência dele, porque sua decisão em fingir que nada está acontecendo é muito além de irritante.

Ele ri, fazendo pouco caso do que eu disse. “Mas ele não morreu, vai ficar bem. Em breve estará de volta, sendo o idiota que sempre foi. Maltratando as pessoas, como sempre maltratou.”

Suas palavras me surpreendem, porque, de alguma forma, me sinto íntima do homem que quase socorri ontem. Conversei com ele alguns poucos segundos, mas mesmo assim, eu o vi em um estado de fragilidade que certamente outros não o viram, e ele se preocupou o bastante com a minha segurança.

Então não importa quem ele fosse antes, para mim ele continuaria parecendo bom.

“Não é o momento de ressaltar os defeitos dele...” Eu tento cortar seu comportamento arredio e insensível, mas novamente, ele não parece ligar.

“Você não conhece Gaara no Sabaku, é uma inocente.”

“Eu não quero saber quem ele era, ok? Você está se comportando como lixo agora, eu não quero ouvir isso! Eu estou preocupada com a nossa segurança, existem agressores à solta, que provavelmente estudam aqui, e tudo que você consegue pensar é em caçoar da atendente da cafeteria e sentar aqui como se nada houvesse acontecido? Sério?” esbravejo; Suigetsu continua me olhando em silêncio como se eu, de alguma forma, houvesse atingido um nervo. E então, ele se rende ao que eu disse, e parece disposto a ficar calado.

É o que eu preciso. Silêncio. Eu preciso de silêncio para pensar no que farei.

“Desculpa,” ele arqueja, esfregando a própria nuca com a mão livre, demonstrando vergonha por sua atitude. “você está assustada, eu entendo, foi um erro agir assim, eu vou parar.”

Não o respondo.

Eu olho para trás, e percebo que o pequeno motim ao redor da cena do crime começa a se dispersar. Vejo pessoas caminhando tranquilamente pelo caminho que percorri, outrora assustada e implorando a Deus por meu próprio bem estar. As cenas explodem em minha mente outra vez, e eu fecho os olhos por um momento, voltando a observar o meu amigo sentado.

“Você veio ontem?” ele questiona. Suigetsu sabe perfeitamente que venho buscar Ino todas as quintas, então eu me culpo por não ter previsto que receberia esta pergunta antes.

Engulo em seco, fazendo que sim com a cabeça.

A expressão no rosto dele se torna tensa, o tom de voz baixo quando completa a pergunta: “Você viu alguma coisa? Estava aqui no momento?”

Eu não quero mentir para ele também. Já o fiz para Ino, e me senti horrível.

“Não...”

Antes que eu possa completar a resposta, Ino se aproxima de nós. Percebo com facilidade o vinco entre suas sobrancelhas, assim como o pequeno cartão de contato – provavelmente entregue por um dos policiais – em sua mão direita, e ela o enfia em um dos bolsos da calça. “Oi, Sui.”

Os olhos azuis de Suigetsu se desviam de mim até Ino com custo, já que nossa conversa foi interrompida, e ele sabe muito bem disso. O clima de tensão agora é um fator comum entre nós três, e trocamos olhares silenciosos, antes que eu decida sanar minhas dúvidas sobre o cartão que Ino trouxera, ao chegar.

“Onde estava?”

Ela cruza os braços sobre o peito, a bolsa presa de forma desajeitada sobre os ombros. “Estava conversando com o Tenente Morino, dando o meu parecer.”

“Você se voluntariou como testemunha?” Suigetsu emenda, fazendo a pergunta que eu mesma teria feito. “É louca, a maioria das pessoas o fazem mandatoriamente, e você simplesmente vai até lá.”

“Vai se tornar mandatório, visto que ele já pediu aos reitores a ata de presença dos estudantes no laboratório ontem à noite, todos são suspeitos, e eu estava lá. Então também sou.” Ela suspira, parecendo pouco satisfeita com a situação. “É melhor demonstrar prontidão e vontade de colaborar com as investigações do que relutar e parecer culpada.”

Eu anuo, e como se não bastasse o olhar sedento de Suigetsu, Ino também me observa com um incômodo ar de desconfiança. Contudo, por enquanto, ela sabe mais do que ele, e depois de presenciar sua solicitude em colaborar com as investigações, eu tenho medo do que possa fazer com o que sabe.

É péssimo que a vítima esteja em coma, o que o impossibilita de dar seu depoimento confirmando que dois homens foram os responsáveis, e assim Ino estaria fora da lista de suspeitos. Ela é uma boa pessoa, mas tenho medo do que é capaz de fazer para tirar o corpo fora de problemas, e caso sua liberdade seja ameaçada por algo que não cometeu, obviamente eu interferiria, mesmo contra minha própria vontade.

Eu só espero que ela saiba disso. Que somos amigas e eu a protegerei, se necessário. Espero que não tente trair a minha confiança.

“Bem, de qualquer forma, eu posso dizer que nunca antes quis tanto assistir uma aula como quero agora...” comento, antes de sentir uma vibração atípica nos bolsos da minha jaqueta.

É uma mensagem do meu namorado.

E então? Como você está?

Não posso conter o sorriso em meus lábios após olhar para aquela mensagem. Dezoito letras que foram mais do que o suficiente para me proporcionar um pequeno momento de alívio.

Eu começo a pensar sobre como o ditado ‘há males que vêm para o bem’ pode estar certo às vezes. Deidara e eu estávamos em maus lençóis, nós brigamos porque ele disse que eu passo tempo demais me preocupando sobre a falta de estágios e isso estava começando a afetar o meu comportamento. Que mesmo quando estávamos juntos, eu parecia estar em outra galáxia, e no fundo, eu o entendo.

Mas ao mesmo tempo, sei que ele só me deu o mínimo de apoio que podia. Devia.

Há um ano, quando enfrentou sérios problemas com a família, eu fui uma rocha,  me orgulho disso. Mesmo no começo do namoro, eu abri mão de momentos juntos – que eram raros – para que ele lidasse plenamente com seus irmãos. Não reclamei nem uma vez, e fiz a coisa certa.

Mesmo assim, ontem ele me deixou saber como realmente se sente. Ele não ficou calado e emburrado como das outras vezes, ele resmungou. E eu ouvi.

'Eu não gosto de morar longe de você e ter um emprego de dois turnos. Não gosto de ver você apenas uma vez por semana, quando temos sorte. O mínimo que podia fazer quando estou aqui, é estar aqui também.'

Ele tinha razão, era o mínimo.

E quando eu pedi as chaves do carro para ir até a faculdade buscar a Ino, ele perdeu as estribeiras. Nós estávamos prestes a começar um filme, e eu simplesmente pedi para sair. Nós brigamos muito, ele disse que coloco minhas amigas em sobreposição a ele, e que estava aliviado por Konan estar na África do Sul, pois isso a tornava ‘menos uma’.

Foi quando eu perdi a cabeça, e marchei para fora do loft possuída pela ira de um milhão de demônios. Achei que esfriaria a cabeça, que as conversas fiadas de Ino me ajudariam a espairecer. E então aquilo aconteceu, e eu voltei para casa pior. Traumatizada.

Ironicamente, foi o necessário para que deixássemos a raiva de lado. Ele me abraçou na cama a noite inteira, e pareceu realmente preocupado comigo e com o que podia ter acontecido se eu não houvesse corrido rápido o bastante.

Eu me sinto idiota agora por não ter aceitado seu convite, e ficar com ele a manhã inteira.

“As aulas foram canceladas,” Ino informa, enquanto observa as unhas. Ouço Suigetsu rir com satisfação, e eu inalo uma respiração profunda, me sentindo aliviada também. “apenas por hoje.”

“Não faz diferença, de qualquer forma.” Suigetsu salta para fora do banco, jogando seu peso sobre nós duas quando cada um de seus braços é jogado sobre nossos ombros, meu e de Ino. E então, ele começa a andar e nós não temos outra opção a seguir os passos dele. “Amanhã é sábado! Qual a programação do final de semana? Para onde nós vamos?”

Eu fico em silêncio. Fiz meus próprios planos, e o principal deles é questionar Deidara se ele lembra o nome do hospital no qual Gaara fora internado, pois planejo fazê-lo uma visita, deixar algumas flores, mesmo que certamente não seja possível vê-lo em seu estado atual, com a família o cercando em busca de respostas.

De qualquer forma, eu gostaria de tentar.

“Podíamos ir até a praia...” ela o responde, e preciso interceder antes que demonstre um mínimo sinal de empolgação.

A expressão masculina se acende e ele abre a boca, até ser interrompido por mim.

“Eu não vou.” A simples afirmação faz com que os dois pares de olhos azuis estejam fixados a mim com estranheza.

O que é óbvio, visto que é conhecimento de ambos o quanto gosto de praias. E eu nunca disse “não” antes; raras eram as ocasiões em que Deidara não usava o sábado para correção de provas e o domingo para encontrar a família, e passava o fim de semana comigo. E era quando isso – só isso – acontecia que eu negava seu convite.

Mas a minha vida não é mais tão simples como antes. Agora tenho um desconhecido para destinar minhas preocupações, agora tenho medo de dois agressores, quem sabe até outros reprimidos, à solta, indo à mesma faculdade que eu. Todos os dias.

“Por quê?” é Suigetsu quem faz a pergunta.

Suspiro, me sentindo sufocada pelo peso sobre meus ombros. Eu me abaixo, passando o braço masculino sobre a minha cabeça, e os dois me observam absolutamente surpresos.

Não sou introvertida com amigos. Pelo contrário.

“Não posso. Já fiz outros planos.” Eu não fico em silêncio, não preciso dar a eles o mínimo espaço de tempo que seja para que montem suas perguntas pessoais sobre o quê pretendo fazer no fim de semana. Levanto a mão direita para acenar em despedida. “Eu já vou indo. Vejo vocês na segunda?” não espero que respondam, embora eu duvide, pela forma como trocaram olhares, que alguma resposta seria dada. “Me enviem snaps da praia. Vou esperar por eles.”

Eu me viro de costas.

“Sakura!” a voz de Ino faz com que eu suspire. Não estou no humor para dar respostas, não estou no humor para conversar também. Eu preciso de silêncio, preciso de alguém que saiba o que realmente aconteceu e que queira sempre o melhor para mim.

É um combo que apenas o meu namorado obedece. E eu me sinto como uma criança que não vê a mãe há séculos, porque preciso tanto dele agora.

“O que?” a indagação sai entre meus dentes, e me os observo sobre meu ombro.

“Tudo bem?” Suigetsu questiona, como se estivessem, os dois, trocando falas.

Um começa, o outro termina. Isso teria arrancado uma risada de mim, se não fosse aflição tudo o que eu sinto agora. Se não fosse a tensão a tirar o meu sono.

“Sim, não se preocupem!”

Aceno outra vez, ensaiando um sorriso pronto antes de dar as costas outra vez em direção aos portões de saída.

Não tomei café da manhã. Eu estou com tanta fome que poderia comer as minhas próprias mãos, e isso só faz com que eu anseie por estar em casa ainda mais.

Faz com que eu sinta falta da minha melhor amiga, que está tão longe de mim e vai demorar tanto tempo até finalmente retornar.

Konan não me diria o que quero ouvir, ela me diria o que eu preciso fazer. Sem contar que provavelmente estaria no carro junto a mim quando tudo aconteceu, porque íamos buscar Ino juntas quando era preciso.

Sempre foi assim. Mas ela está muito longe agora.

Envio um torpedo rápido ao taxista que me trouxe até aqui no máximo há uma hora. Espero que ele esteja disponível para vir rapidamente, antes que eu ceda à vontade de comprar algum lanche na rua.

Decido esperá-lo na pequena parada de ônibus antes do fim da rua. Foi o ponto de referência mais fácil que encontrei e posso ficar sentada, na sombra. Além disso, do outro lado da rua, há um belo jardim com pedrinhas brancas, terra macia e flores coloridas. Elas sempre são a minha distração até que o ônibus chegue.

Mas hoje, minha distração são os meus próprios pensamentos.

Eu me acomodo no extremo esquerdo do banquinho de concreto. Uma garota está em pé à minha diagonal traseira, lendo a lista telefônica deixada ao lado do telefone público do Ponto. Ela, sem dúvidas, é uma estudante.

Mas a mulher sentada no outro extremo, grávida, não me parece familiar.

Os primeiros cinco minutos passam com tranqüilidade. Acabo recordando sozinha o nome do hospital. Aiiku Hospital, na zona leste da cidade.

Ainda estou pensando sobre como poderei ir até lá sozinha, sem que Deidara insista em me acompanhar quando uma silhueta masculina passa em minha frente. Ele caminha diretamente para o espaço vazio no meio do banco, e se acomoda lá. Eu o observo de soslaio, ele está apoiando uma mochila azul escura sobre a perna esquerda, e em sua mão direita está um copo de plástico com um líquido rosa, do que presumo ser milk shake.

Pela mochila, ele com certeza é um estudante. Seu rosto está concentrado à rua movimentada diante de nós, sério, como se vagasse em pensamentos. Os cabelos loiros parecem não ver um pente há semanas, além disso, tem um belo par de olhos azuis.

Por um momento, ele faz com que eu me lembre do meu namorado, no entanto, Deidara parece bem mais maduro que ele.

Deidara certamente é bem mais maduro que ele, eu concluo, quando vejo a unha de seu polegar pintada de preto. Apenas o polegar.

Ele flexiona o braço esquerdo, apoiando o cotovelo sobre o encosto do banco. Pareceu ter percebido que estou observando sua unha, e bem a tempo, desvio o olhar de volta ao meu celular.

Eu o movo rapidamente e a tela fica clara, mostrando o horário no visor. Ainda são nove horas.

“Eu gostei do seu cabelo.” Ele corta o silêncio. Sua voz é grave, mas a tonalidade que ele dá é quase infantil, e eu assumo que está tentando parecer legal.

Suspiro, sem articular uma resposta ou gesto. Eu me arrependo às vezes por não ter cedido ao pedido de Deidara, há uns bons cinco meses, quando ele perguntou se era a minha vontade usar aliança de compromisso, e eu disse não. Sempre considerei desnecessário, mas a aliança manteria os flertes bem longe.

“Não vai dizer ‘obrigado’?”

Ele insiste, e eu penso sobre como nunca antes eu quis tanto que o meu táxi chegasse tão rápido.

Em outro momento, eu teria agradecido apenas para mantê-lo calado, mas recordo que não sou obrigada a falar coisa alguma, e me mantenho em silêncio.

“Meu nome é Naruto, e o seu?”

O fato de que ele está forçando uma conversa mesmo com minha reação desinteressada me incomoda.

“Namoro há mais de um ano.”

Não ajo assim geralmente, eu teria o respondido com gentileza e até mesmo iniciado uma conversa rápida com ele, mas minha cabeça está à mil. Estou pensando em coisas demais, estou atormentada demais e não preciso de distrações além do que já tenho.

“Uau, mais de um ano com a mesma pessoa. Nossa...” Ele estala a língua algumas vezes, a cabeça loira movendo-se em um anuir constante, como se eu houvesse dito trinta anos ao invés de um. “Não consigo me imaginar fazendo tudo com a mesma pessoa por tanto tempo.”

Sinceramente, eu pensava antes da mesma forma que ele.

“Você pode calar a boca?”

“Estou tentando transformar a experiência da espera um pouco menos entediante, é tudo. Se você conversar comigo, o seu ônibus chegará bem mais rápido.”

“Não estou esperando um ônibus.”

Ele abre a boca. “Oh, não? O que está esperando?”

A informação quase salta para fora da minha boca. Eu suspiro outra vez. “Não quero conversar. Eu não conheço você, não estou com cabeça para coisas triviais...”

“Você sabe que existem duas Chinas no mundo?” ele me interrompe. A unha pintada coçando rapidamente a ponta de seu nariz bronzeado. O olhar que vejo em seu rosto é quase inocente, seguro e livre de malícias, como o de uma criança. Por um momento deixa de ser esquisito o fato de ele, como um completo estranho – sabendo do meu relacionamento – está insistindo em uma conversa comigo, e isso me torna ainda mais desconfiada. “República Popular da China e República da China. Uma delas é Taiwan, eu não me lembro qual exatamente agora, desculpe.”

“Então não são duas Chinas, uma é Taiwan e a outra é China.” rebato, imediatamente me sentindo arrependida por fazê-lo.

Se eu disse que não quero conversar, alimentar uma discussão geográfica com ele não é exatamente a melhor coisa a fazer. Vai de encontro ao que afirmei antes.

“Mas a porcaria da ONU reconhece como duas Chinas. Está escrito China nos nomes.” Ele argumenta, soando entediado por minha resistência em refutá-lo.

“Isso é cerimonial. Taiwan é um estado separado, reconhecido limitadamente, mas separado mesmo assim.”

E aqui estou, me afundando mais como se estivesse presa à areia movediça, e quanto mais me mexo para sair, mais fundo vou. Minha intenção era apenas a de provar o meu ponto para ele e sair por cima, mas eu tinha que questionar ele, e ele tinha que me questionar de volta.

“Oh, você quer falar de separatismo? Porque eu sou anarquista, e passaria horas conversando sobre isso e criticando o Estado.”

Ele realmente é um livro aberto. Menos de cinco minutos, e já sei como se chama, sua posição política e que abomina longos relacionamentos.

Decido entrar na brincadeira. “No momento você está ferindo a minha propriedade, eu não quero conversar.”

Ele ri. “Não estou ferindo a sua propriedade, não estou tocando em você.”

“Está sendo inconveniente.”

“Princípio da não-inconveniência não existe. Tudo que precisa fazer é levantar e ir embora se não quer ser incomodada por mim.”

O observo com atenção, e ele está sorrindo. As sobrancelhas arqueadas, e o ar de auto-confiança necessário para falar uma coisa como essas e soar convicto de que eu não o faria.

Contudo, é exatamente o que eu faço.

Eu me levanto do banco, e saio sem olhar para trás.

Seria incômodo caminhar de volta até os portões da faculdade e remarcar o ponto de encontro com o taxista, mas é melhor que ter um cara estranho sentado ao meu lado querendo falar sobre política.

 

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Têm uns rapazes bem bonitos aqui.” Ela lambe o dedo indicador, “Conheci um no meu vôo até Pretória. Você precisava ver...”

“Amores de vôo são um pouco menos deprimentes que amores de ônibus. Só um pouco.” Eu devolvo, sem conseguir conter uma risada.

Logo ela, que tanto zombou da forma como conheci Deidara, se encantando por homens que nunca mais verá outra vez.

Ela ergue os ombros rapidamente, sorrindo para a câmera. “Não posso discordar.”

“Já conheceu alguém legal?” é a minha vez de levar uma, a última, colher de sorvete à boca. Enquanto isso, Konan suspira, parecendo desconfortável com a pergunta.

Nós combinamos que nosso hábito de tomar sorvete juntas não acabaria com a distância. Foi uma sugestão minha, que ela aceitou de excelente grado.

“A outra garota que foi adotada pela minha família é muito reservada, não consegui puxar assunto ainda, acredita nisso?” Ela joga uma mecha de cabelo azul para trás da orelha, seus olhos âmbar me fitam risonhos, nervosamente risonhos. “Eu descobri que meu inglês não é tão bom quanto eu achei que seria. Hoje cedo eu tremi quando ouvi algumas coisas que não entendi à mesa do café da manhã, e me senti um pouco deslocada.”

“Eu acho que isso é uma coisa normal.” tento tranquilizá-la.

“Não deveria ser, já que vou passar tanto tempo aqui.”

Observo suas unhas coloridas se remexerem quando ela brinca distraidamente com a colher; o que era antes um sorvete de flocos se transformando em uma espuma pastosa e branca. Ela está triste e desapontada consigo mesma.

“Como o Suigetsu está?”

A carga emocional atrelada à pergunta me parece incrivelmente menor, e presumo que esteja trabalhando consigo mesma em como se comportar sobre ele, seu fatídico ex-namorado.

De alguma forma, eles são membros do raro grupo de pessoas que conseguem continuar amigos mesmo após terem falhado em um relacionamento amoroso.

Eu, definitivamente, não faço parte disso. Odeio todos os meus ex-namorados.

“Bem. O mesmo vadio que você conhece, ele não mudou em nada.”

Konan ri, um sorriso repleto de memórias. Eu não sei se ele ainda gosta dela, mas ela definitivamente ainda tem sentimentos por ele.

É por isso que eu quero muito que conheça alguém lá. Suigetsu não é um garoto que ela quer apresentar aos pais, eu nem mesmo sei como passaram quatro meses namorando, ele não leva relacionamentos a sério e é totalmente impuro, no sentido de ser o que chamamos de rodado.

“Isso é bom, eu acho.”

O desejo de mudá-lo infla o ego das garotas que conseguem achar aquele garoto minimamente interessante. Ele tem os cabelos mais secos que já vi e também se veste mal, não consigo entender o que parece ser tão atrativo sobre ele, sexualmente falando.

Observo Konan olhando para mim do outro lado, e acho bom o assunto ter ido parar no Suigetsu, do contrário eu jamais me lembraria de questioná-la o que tenho urgido tanto por saber.

Suigetsu conhece muita gente, e ela namorou com ele, então foram à muitas festas juntos, e ela sem dúvidas conhece mais pessoas do que eu, não custa perguntar.

“Konan... eu posso perguntar uma coisa?”

“Claro.” Ela dá de ombros, sem hesitar.

Engulo, suspirando em seguida. “Você conhece um cara da nossa faculdade chamado Gaara no Sabaku?”

“E quem não conhece?” Ela fica séria, revirando os olhos.

Aparentemente há algo sobre aquele cara que todos parecem saber, exceto eu.

“Quem é ele?”

“É um dos auxiliadores da Kappa Akatsuki. Você se lembra deles? A pior irmandade do campus. Eu simplesmente odeio aqueles caras. Todos eles...

Nunca me dei ao luxo de querer saber sobre as fraternidades da Aoyama Gakuin, porque não dou a mínima aos jogos estúpidos de basquete e futebol deles, e não me juntei a nenhuma delas, porque não preciso de um quarto em suas casas idiotas, controladas por mais idiotas.

Eu aluguei o meu próprio loft em outro bairro justamente para não precisar me humilhar e tentar ser aceita por qualquer um deles, e sinto que foi a melhor decisão possível.

“Sim, o nome não me é estranho. Os docentes odeiam eles, como eu não poderia conhecê-los?”

Os docentes odeiam eles justamente por serem uns malas e se acharem a Skull and Bones da AG. Gaara é um deles, nem de longe o pior deles, mas é um maldito membro da irmandade. O Deidara já o ensinou durante um período, ele dividia duas classes de Empreendedorismo comigo, uma na terça e outra na sexta, você pode perguntar a ele quem é Gaara e sobre como sempre levava advertências por chegar atrasado e, pior, chapado, cheirando a bebida ruim. Ele não é alguém com quem você deva andar, por quê?”

Que excelente pessoa o destino escolheu para que eu esbarrasse, não?

Seria totalmente cômico se não fosse trágico.

“Por nada. Apenas curiosidade.”

Ela me encara com os olhos diminutos, parecendo pouquíssimo convencida.

Sakura, eu não quero que você pense que porque estou longe, precisa parar de me contar o que está acontecendo aí, é totalmente o contrário, entendeu? Agora mais do que nunca eu preciso saber de tudo.”

“Eu sei, está tudo bem.”

Mais mentiras, mais mentiras. Estou me afogando cada vez mais em mentiras, e tenho o pressentimento de que é só o começo.

Obviamente eu a contaria, só não agora. Nem mesmo eu sei explicar o que aconteceu, só o que vi nos jornais. Pretendo visitá-lo primeiro, conversar com pessoas que o conheciam melhor, e contá-la apenas quando eu tiver formado minhas próprias conclusões.

Eu só não quero falar sobre isso agora.

Mas talvez eu deva...

“Konan, há duas noites atrás...” Eu me calo quando ouço a campainha, seguida por dois soquinhos na porta.

“O que foi?”

“Tem alguém na porta, eu preciso ir.” empurro a cadeira para trás, me sentindo aliviada pela interrupção. Apoio as palmas das minhas mãos à mesa na qual meu notebook está apoiado, acenando para ela uma última vez.

Ela, ao contrário, parece inconformada pela interrupção.

“Ah, pode ser.”

“Ligo para você outra hora, um beijo. Eu te amo.”

“Eu também.”

Fecho a tela, agarrando o molho de chaves para caminhar em direção a porta. Provavelmente Deidara conseguiu algum tempo livre e quer passar o resto do dia comigo, o que me deixaria bem feliz, mas percebo que não passa de um desejo sem fundamento no momento em que observo o olho mágico.

É um rapaz estranho do outro lado. Alguém que eu não me recordo de ver antes, ou que more no prédio.

O súbito barulho do metrô correndo sobre os trilhos faz com que meu peito salte em um susto que ergue todos os fios de cabelo em meu corpo. Já faz tanto tempo, eu já estou acostumada a ter uma estação movimentada passando ao lado do prédio, mas mesmo assim ainda consigo a proeza de me assustar às vezes.

No entanto, eu não sei se posso considerar o susto como algo inteiramente atrelado ao metrô. Já que o cara do outro lado aproximou o rosto do olho mágico, tentando observar inutilmente alguma coisa aqui dentro.

Eu inalo uma respiração profunda, apertando a maçaneta em meus dedos antes que meu pulso gire, abrindo uma fenda de um palmo na porta – o máximo que o fecho de corrente permite.

O cara me observa em silêncio por alguns segundos, seus olhos observam a pequena corrente, até que voltem aos meus. O aspecto em seu olhar muda drasticamente de algo conspícuo até um ar simpático, e subitamente um pequeno sorriso ocupa seus lábios.

Múltiplos cenários diferentes sobre o que eu poderia fazer agora passam pela minha cabeça, mesmo assim, eu fico parada enquanto nós dois desfrutamos de um mudo momento de análise mútua. Embora eu tenha uma visão melhor dele do que ele tem de mim.

Ele definitivamente é alto, bem alto. Cabelos escuros, meio longos e estilosos. Está vestindo uma camisa regata azul marinho abaixo de uma jaqueta preta, e é tudo que me permito ver de suas roupas, já que não tenho interesse em demonstrar ser observadora como ele – eloquentemente – tem, já que baixou os cílios algumas vezes para tentar me observar por completo.

“Bom dia,” os cantos de seus lábios se erguem em um sorriso torto e gentil. “você é...” Ele desamassa uma bolinha de papel que tirou dos bolsos de sua calça, estreitando os olhos para lê-la. “Sakura Haruno?”

Eu limpo a garganta. “O que é?”, respondo, sem afirmar ou negar coisa alguma.

Embora para ele tenha soado como uma afirmação, já que sorri e continua.

“Eu, bem, me chamo Sasuke Uchiha e estou cursando Astrofísica na Aoyama Gakuin. Você provavelmente estuda lá também, e bom, tenho que mandar dinheiro para o meu pai e a mensalidade do meu apartamento antigo acabou de aumentar por causa de reformas na infra-estrutura, então se tornou caro demais para mim. Eu vou precisar sair de lá...”

Estou prestes a sugerir que ele tente bajular os membros das irmandades para conseguir uma vaga na casa de estudantes, mas decido esperar que conclua sua fala.

Ele corre a mão pelos cabelos, e só então percebo que o pedaço de papel totalmente amassado que está segurando é o anúncio que escrevi cuidadosamente à mão e deixei contra minha vontade no mural de avisos do prédio principal.

Ele o amassou, e precisarei fazer outro.

Eu já não suporto esse cara.

“Então vi que você não menciona quanto, mas avisa que o preço é baixo em seu anúncio, por isso decidi que vou alugar aqui.” Ele passa a língua pelos lábios e cruza os braços sobre o peito. “Nós podemos conversar sobre isso? Quem sabe você pode me mostrar o apartamento...”

“Sasuke Uchiha, quem deixou você subir?” eu o interrompo.

Obviamente ele já acha que pode controlar algo ou está em posição de poder por ter dinheiro e estar interessado no loft, então eu obviamente preciso colocá-lo em seu devido lugar, não importa o quão gentil tenha parecido ser.

Perguntar quem deixou ele subir dá mais crédito a esta espelunca que moro do que ela realmente merece. O bairro é medíocre, o prédio é ruim, precisa de pintura e reparos em todos os lugares. Fora a maldita estação de metrô produzindo barulho constante e o número alarmante do que me parecem ser marginais andando pelas ruas.

Optar por não me afiliar a uma das fraternidades para moças ocasionou nisso, em ter que morar em um lugar ruim para ter soberania sobre mim mesma e não precisar responder por um grupo de garotas mimadas.

“O cara no birô lá embaixo, ele disse que se chama Teuchi. Eu mostrei o seu anúncio, ele disse que eu podia subir.”

“O que sobrou do meu anúncio, você quer dizer.”

Ele ri, erguendo os ombros. “Bem, sinto muito por isso...”

“Não tem problema,” Eu minto. “já que você obviamente não leu todas as exigências que eu escrevi aí, ou leu e decidiu vir mesmo assim, tentar a sorte.”

O ar de riso em suas feições desaparece, e ele me fita com seriedade. Uma sobrancelha arqueada, demonstrando sua surpresa em ter que lidar com meu comportamento pouco amigável. “É...” ele me devolve o papel amassado, e eu ponho a mão para fora da fenda para aceitar a devolução, “eu decidi parar na décima sexta cláusula, achei um pouco exagerado.”

“Então você leu a primeira delas, na qual eu especifico o gênero que as interessadas no apartamento devem ter. E eu só quero mulheres.”

O tom da conversa muda totalmente após isso.

“Nem um pouco sexista, não é?”

“Totalmente sexista, não precisa ser irônico. Há apenas dois lofts no andar, e eu não quero ficar sozinha a maior parte do tempo com um homem estranho na porta da frente.”

“Com isso você está dizendo que mulheres não podem ser perigosas?”

“Com isso eu estou dizendo que a probabilidade da pessoa na porta da frente ser perigosa é menor, e definitivamente não será um estuprador. Não tenho problemas com isso, você entenderia o porquê da minha exigência se morasse neste bairro dos infernos. A antiga dona que está o relocando, assim como o meu namorado concordam que é mais seguro.”

Percebo que ele morde a própria bochecha por um momento breve, e então me observa silenciosamente. Eu sinto medo, e para piorar, os corredores devem estar vazios, como sempre estão.

Ele franze os lábios. “Eu sou gay, então... acho que você não precisa se preocupar com isso.”

Clássico. Tão clássico.

“Eu não sei se este é um truque consolidado em outros lugares do mundo, mas você pode facilmente estar se fingindo de gay apenas para conseguir um lugar para morar aqui, me desculpe, mas não sou idiota...”

“Eu tenho namorado.” Ele me interrompe, o olhar risonho enquanto tira um celular moderno dos bolsos de sua jaqueta e começa a usá-lo, em silêncio.

Fico sem palavras durante os próximos momentos, apenas observando sua face agora luminosa pela tela acesa do celular. Se Ino me acha pálida, ela definitivamente precisa olhar para esse cara.

O choque que seus cabelos e olhos tão escuros proporcionam com sua pele tão branca é um verdadeiro contraste. Ele é atraente, não nego. As maçãs de seu rosto são bem esculpidas, e quando ele sorri, mesmo que pouco, duas covinhas se formam em suas bochechas. Ele tem um tipo de beleza simples e angelical, mas ao mesmo tempo arrebatadora, do tipo que ninguém ousaria negar que ele é um cara bonito. Pelo pouco que posso ver, ele também tem uma tatuagem no lado esquerdo do pescoço, mas não posso definir o que é, já que seu cabelo e os tecidos cobrem a maior parte dela e tudo que posso enxergar é uma pequena ponta do desenho saindo.

“Eu não sou obrigado a me expor tanto assim, mas este aqui é o meu namorado,” ele ergue o celular, colocando-o na frente do meu rosto. E o que vejo faz com que eu prenda a respiração por um momento. Na tela do celular está estampada a foto de alguém que eu definitivamente conheço.

É o cara do Ponto de Ônibus de dois dias atrás, que tinha seriamente algo contra me deixar esperar por meu táxi em paz. Naruto, acho que era este o nome dele. 

Ele desliza o dedo pela tela e me mostra outra foto, nesta, a iluminação é ruim e os dois parecem bem chapados; estão sentados em um sofá, cochilando, o loiro com a cabeça apoiada ao ombro dele.

Vendo isso, eu penso comigo mesma que no caso deles, dois semelhantes se atraem. Visto que os dois são muito bonitos e igualmente chatos. Tinham isso em comum.

“Eu posso trazê-lo aqui se você quiser confirmar pessoalmente.”

“De jeito nenhum!” Eu brado veementemente, só então percebendo que fui intempestiva demais. “Não é preciso, eu acredito em você. E também porque não vai adiantar de nada.”

Ao me ouvir dizer isso, eu percebo o momento em que o músculo de sua mandíbula aperta. O ser educado, gentil e sorridente que me abordou primeiramente parece se esvair quando seu olhar fica sério, sombrio. Sua insatisfação por minha resposta é latente.

Quando Sasuke volta a falar, o tom em sua voz é arrogante: “Quanto você está cobrando?”

Eu hesito. O preço é tão baixo que não o coloquei no anúncio, temerosa de que isso fosse trazer mais interessados.

“Nós não temos um acordo...”

“Essa não foi minha pergunta.” Ele me interrompe outra vez.

“Eu não vou dizer a você quanto estou cobrando, porque nós dois não temos um acordo! Não cumpre os requisitos que eu quero! Você não vai ficar aqui!” esbravejo.

“Eu pago o dobro.” O tom de sua voz não se acresce, como o meu. Ele a mantém uniforme, porém ainda tensa, irritadiça, como se estivesse há muito pouco de perder a paciência, como eu perdi.

“Não.”

“Foda-se o valor, eu não ligo para o quanto você cobra. O triplo, eu pago a você a porra do triplo de quanto quiser pelo loft.

Esse cara está começando a me assustar.

Solto o ar pela boca, e esfrego o rosto com as duas mãos.

O triplo é realmente irresistível, eu poderia dar a Konan apenas o valor da mensalidade e ficar com todo o resto. É totalmente irresistível.

Mas ao mesmo tempo, toda a sua insistência é mais do que estranha. Eu não posso ceder.

Afinal, em suas palavras, de uma hora para outra o dinheiro deixou de ser um problema. A situação é tão sem sentido e esquisita que mal consigo respirar.

“Você não vai ficar aqui.”

Repito, meu tom é baixo, cauteloso. E para garantir que foi a última vez, fecho a porta sem hesitações. Esticando a corrente o máximo possível e girando a chave na tranca até que não seja mais possível.

Respiro, minhas costas pressionadas contra a madeira da porta enquanto me recupero do que acabou de acontecer.

Mais calma, chego a conclusão de que foi apenas um mal entendido. Ele não se expressou direito, não fez o menor sentido, e eu não dei a chance para que se explicasse porque não preciso de suas explicações.

Porque não é necessário. Ele não será um inquilino.

 

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado, vejo vocês no próximo capítulo. Até lá.


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