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História Quid Pro Quo - Redpill


Escrita por: cryomancer

Notas do Autor


Oláááá, esse capítulo tá longo. Eu pensei em dividir em duas partes, mas na minha visão não faria muito sentido fazer isso, porque coisas importantíssimas acontecem nele. Bastante coisa, na real. Acredito que a estória pega firme a partir daqui, é meio que um capítulo sutil de transição.

Capítulo 5 - Redpill


 Parte 4                                    

 

“Receio que esta não seja a pergunta real agora...”

Ele levanta as sobrancelhas, mostrando uma feição de surpresa regada a cinismo. “Qual é a pergunta real, Sakura?”

Ainda estou fora dos eixos quando recuo um passo. Eu preciso me recompor, do contrário, ele vai ter todo o necessário para atingir o meu emocional e me tirar de sério, exatamente como quer.

Eu não posso ser passiva a alguém como ele. Preciso resistir.

“O que você e o seu namorado estão fazendo aqui.” Eu respondo rapidamente, recuperando meu tom de voz normal. Ele não parece nem um pouco afetado, tampouco nervoso. Aliás, ambos parecem se divertir à minhas custas. Não é uma situação na qual eu me sinto confortável. “Facilitando o trabalho da polícia para quando eu dedurar vocês?”

Ele cruza os braços sobre o peito, assumindo uma postura de controle. “Você pode dar nomes à suas acusações somente quando puder prová-las.”

Das poucas opções que tenho, a que me parece mais prudente é blefar. “E como você tem tanta certeza que eu não posso?”

“Você pode provar, Sakura?” Ele redargua.

“Sim.”

Ele coça a própria garganta, os olhos escuros me observando com falsa dúvida. Aliás, pouco nele me parece real. Ele parece o tipo de homem que pode assumir com perfeição múltiplas personalidades e interpretá-las com naturalidade.

Ou talvez tenha interpretado um papel apenas quando fora educado e gentil, ao bater na minha porta, e esta é a sua verdadeira persona. “Se não estiver mentindo, eu não vou poder pegar leve com você, como eu gostaria.”

““Pegar leve?”” Minha voz ecoa, transtornada. “Você chama isso de pegar leve?”

Ele não responde imediatamente, pelo contrário, a sua mão esquerda toca o meu cotovelo pelo que parece ser um milésimo de segundo, antes que eu sacuda o meu próprio braço livre de seu agarre, que procurava me conduzir para a lateral do degrau no qual estamos conversando. “Não toque em mim outra vez!” Minha voz soa baixa o bastante, para que apenas ele ouça.

Eu não tenho interesse – ainda – de causar um escarcéu e atrair a atenção de policiais. Eu estou segura aqui, a minha posição agora é a melhor na qual estarei para exigir algumas respostas.

A minha rejeição ao seu toque lhe soa engraçada. E ele sorri de forma sádica, os dentes brancos raspando pelo lábio inferior para morder a risada que estava tentando conter.

Ele tem um sorriso charmoso, olhos tão escuros que mal posso encontrar pupilas, aliás, não posso. Ele tem olhos pretos, profundos como buracos sem fim, e é exatamente o que são. Meras distrações. Olhos que podiam sugar a sua alma para fora de seu corpo, ou ao menos fazer com que se sinta dessa forma. Nua.

“Sakura Haruno,” Seus lábios brincam com o meu nome. “Me diz... O que eu preciso dizer para você dar meia volta e pegar um novo táxi em direção a sua casa?”

Meus dentes rangem. “Nada do que você disser vai me fazer desistir do que eu vim fazer aqui. Nada. Você...” Eu aponto o meu dedo em seu peito, “No que depender de mim, até o fim do mês, você e o seu namorado vão estar com a bunda em uma cadeia⸺”

Uma impertinente risada de escárnio escapa por suas narinas.

“Nossa,” uma terceira voz emana em minhas costas faz com que eu gire bruscamente sobre meus pés. Então eu vejo exatamente quem eu esperava ver. “você ouviu isso? Ela está com raiva, Sasuke.”

Naruto está sorrindo para mim, de uma forma inquietante que pode ser confundida com apreço, mas eu sei que ele, eles, estão zombando de mim.

Eu me afasto inopinadamente, e isso me deixa mais próxima de Sasuke como consequência. Isso teria arrancado um grito furioso de mim, se eu não estivesse tão empenhada em demonstrar estabilidade emocional.

Isso faz com que ambos recuem um passo sem que seja preciso que eu peça, e esta situação, ironicamente, representa como está a minha vida no momento; a minha liberdade está sendo corrompida por eles, os dois. Aonde quer que eu vá, eles estão lá.

E eu sinto que isso é só o início.

“Qual foi a última vez que alguém com menos de um metro e setenta ameaçou você assim?” Naruto questiona, um tom de voz risonho acompanhado pelo insistente sorriso projetado em seus lábios. Sasuke e ele me observam como se eu fosse um macaco enjaulado os proporcionando o melhor dos entretenimentos. “Você a deixou brava, Sasuke. Esse é um péssimo jeito de tentar fazer alguém colaborar.”

Detesto que falem de mim como se eu não estivesse aqui.

Olho para Sasuke, que cruza os braços sobre o peito. O aspecto em seus olhos é de indiferença, embora momentos antes, enquanto conversávamos sozinhos, não estivesse assim.

“É por isso que você veio até aqui?”

Naruto também cruza os braços, olhos azuis fixados em mim com o mesmo ar de diversão enquanto permaneço calada, minha atenção alternando entre os dois homens aos meus lados.

Eles devem ser o casal mais bonito que já vi na vida, e isso é desconcertante. São dois criminosos, e é lamentável a maneira como não parecem ser. Dois leões em peles de cordeiro.

“Você ia colocar tudo a perder.” Naruto replica, sua atenção fixa a algo em minha cabeça, que presumo ser a tiara. Ele está olhando para a tiara. “Você sabe que, apesar de terem funcionado, as coisas do seu jeito nem sempre darão certo...”

““Apesar de terem funcionado”, você está ao menos tentando fazer sentido?” Eu olho para Sasuke outra vez, e percebo que me tornei uma espectadora da discussão deles.

“Eu estou, sim.” Naruto parece notar que eu me tornei avulsa, e olhando para mim, estica o braço esquerdo em direção ao estacionamento. “Que tal se nós três terminarmos esta conversa no carro?”

Ele só pode estar de brincadeira.

Esta é uma pergunta completamente tragicômica, mas eles dois parecem ser os únicos confortáveis o bastante aqui para zombarias. Eu ainda me sinto tensa, as pontas dos meus dedos frias e o gatilho mental de que não posso me defender dos dois ao mesmo tempo, caso tentem algo. É uma situação sufocante, para dizer o mínimo.

“Não,” respondo, minha voz transparece o quão irredutível é esta decisão para mim. Eu jamais ficaria presa dentro de um carro com esses dois homens. “não, inferno, nós não vamos discutir coisa alguma no seu carro. Nós não vamos discutir coisa alguma. Nós não temos o que discutir, tudo está muito claro para mim!”

Naruto ergue o dedo indicador, dando um passo para seu lado direito e fechando o caminho aberto à minha frente. “Você está errada. Nós temos muito o que falar. Muito.”

“Ele quer dizer que nós dois temos muito o que falar, você só vai ouvir.” Sasuke comenta; sua insensibilidade faz com que meu punho cerre involuntariamente. “E obedecer.”

Claramente o tipo de frase que alguém que não me conhece diria.

 “O que você precisa entender, Sakura, é o tamanho da sorte que teve.” Os olhos azuis de Naruto imantam toda a minha atenção para eles. Sua testa está ligeiramente franzida, mas ele está sério. “Eu juro. Eu te juro, que dentre as piores coisas que podiam acontecê-la, nós dois somos a melhor delas.”

Penso sobre o quão engraçado é que ele ache que sua palavra vale de algo para mim, ou mesmo que eu deva me sentir feliz por estar diante dos melhores dentre os piores.

Isso é ainda mais deprimente, na verdade.

“Você estava no lugar errado, na hora errada. Eu lamento que precise pagar por isso, mas pessoas morrem por muito menos.”

Ele fica calado, e eu permaneço imóvel. Se queria falar, que terminasse de uma vez por todas ao invés de fazer pausas dramáticas e me observar como se eu fosse senil.

“Você está esperando que eu o agradeça por não me matar?”

“Não, eu estou ressaltando que seria a maneira mais eficiente e rápida de manter você calada. E, no entanto, nós estamos contrariando o senso comum e investindo na solução em que você fica viva. Só que... esta será uma relação simbiótica.”

Um vinco se forma entre minhas sobrancelhas, e antes que eu possa manifestar minhas dúvidas, Sasuke toma partido. “Sem biologês”

Ele comprime os lábios em um sorriso que não chega a seus olhos. O sermão parece ter surtido efeito, e ele continua, mas desta vez diretamente ao ponto. “Eu quis dizer que você vai ter que ajudar, Sakura.”

“Não.” Respondo em um só fôlego. É de uma incrível ingenuidade da parte deles achar que eu tenho o mínimo de disposição a colaborar com dois bandidos. “Eu não vou fazer nada, e sinceramente, estou no meu limite.”

Nem mesmo dois corpos que mais pareciam muros foram o bastante para deter a minha força de vontade. Eu abro caminho entre eles com meus dois braços, empurrando-os para o lado e piso adiante, subindo os poucos degraus restantes.

“Nós tentamos do seu jeito.” Ouço Sasuke atrás de mim, “Deve ser um saco namorar escondido...” o tom de sua voz se eleva apenas o bastante para que eu ouça, e isso faz com que eu gele sobre o degrau.

Sinto um calafrio no lado esquerdo da minha barriga; minha respiração desacelera dramaticamente, mas eu não me viro.

“Você sabia que ele ainda responde que é solteiro quando alguém o pergunta?” Minhas mãos tremem antes que eu feche o punho, tentando inutilmente conter o vazamento das emoções que suas palavras estão causando em mim. Meus pés se movem lentamente, e então eu estou virada para eles novamente, os observando de cima. “Ao contrário de você, não é? Você nunca dá nomes, mas sempre deixa claro que está namorando. Isso é meio deprimente, mas você está fazendo um bom trabalho em fingir não se importar.”

A tremura em minhas mãos definitivamente é um sinal de que eu me importo.

O fato de que estou desestabilizada e à beira de um surto definitivamente é um sinal de que eu me importo.

“Colocar um status de relacionamento na internet é tão importante para a maioria das garotas hoje em dia, eu só consigo imaginar o quanto deve ser difícil para você não poder fazer isso.” Ele não se esforçava, ele não fazia o mínimo para ao menos fingir desapontamento ao dizer aquelas palavras. Não, ele estava acima disso, muito acima.

O comportamento estável que eu estava tentando manter se dissipava tão rapidamente quanto um tanque esvaziando, água fluindo rapidamente por um ralo aberto como acontece com a minha tranqüilidade agora.

“Não sei do que você está falando.” Retorto, sem pensar direito. O tom em minha voz é seguro, firme. Perder a estabilidade por dentro não significava demonstrar por fora, e eu sou melhor nisso agora do que já fui antes.

“Você usou o carro dele para ir até a faculdade em uma quinta-feira à noite. Eu me questiono o porquê de você ter tanta propriedade para usar o carro dele, ele estava na sua casa ou você na dele?”

O carro.

Deus, o carro.

Mesmo com todas as regras de cuidado mútuo que estabelecemos para o uso daquele carro, eu ainda fui até a universidade buscar Ino usando ele todas as semanas. Nada nunca tinha dado errado, até agora.

“Não é da sua conta.”

“Você com certeza é a aluna favorita dele, que tipo de coisas Deidara a ensina em particular?

Sasuke fecha a mão e a leva até bem próxima de seus lábios. Por um momento, achei que fosse aparar uma tossida, mas ele faz algo pior. Muito pior.

Empurrando a língua contra a parte interna de sua bochecha, ele tem a maldita coragem de simular sexo oral para mim, e quando ouço Naruto rir ao seu lado, meus olhos lacrimejam. Não de tristeza, não de frustração, mas ódio.

A mais pura cólera, é neste momento que eu perco todas as minhas forças e piso no chão com força enquanto desço aqueles degraus viciosamente até seu encontro. Eu estou decidida a empurrá-lo com tanta força que ele rolaria como uma bola de palha pelas escadas, tendo o mesmo destino que Gaara teve.

E ele me espera com um sorriso arrogante nos lábios, sua postura não se altera nem um pouco, pelo contrário, ele parece ansioso por isso tanto quanto eu estou.

Por isso, quando eu estou apenas a um degrau acima dele, não são seus braços que me impedem, e sim os de seu amigo. Naruto agarra um de meus pulsos com firmeza e me lança um olhar cauteloso. “Não se esqueça de onde está, boneca.” Ele sussurra.

“Não me toque! Eu disse para não tocar em mim de novo!” Esbravejo, sacudindo meus braços para fora de seu toque, só então percebendo que falei alto demais. Eu olho para trás, mas ninguém passa pelas portas abertas da delegacia, e isso me alivia.

Eles estão conseguindo exatamente o que queriam. Acabar comigo emocionalmente, me desestabilizar da minha própria razão. Tudo dentro de mim está borbulhando.

Eu ainda estou ponderando agredi-lo fisicamente. Não os dois, mas um deles, sozinho, eu posso aguentar. Os meses que passei aprendendo krav magá em uma turma mista me garantiam isso.

Se eu enfiar os dedos nos olhos dele do jeito certo, posso fazê-lo perder até 70% da visão. Foi o que o meu ex-professor disse.

Mas eu perderia alguns pontos em proporcionalidade.

Sasuke mantém contato visual ininterrupto comigo. Enquanto eu desci os degraus com o punho em riste e veias saltando no pescoço, ele se manteve sereno, deixando muito claro o quanto me subestimava.

A sua sorte é que Naruto ousou interferir.

Quando a racionalidade finalmente se apoderou dos meus pensamentos, eu me retraí. Naruto, que mantinha-se em posição de alerta, baixou a guarda, e nós três trocamos olhares sub-reptícios.

Os lábios de Sasuke se abrem, abandonando o fantasma de um sorriso que os enfeitava. “O seu namorado, ele mora em Toranomon, não é? Condomínio Ebisu.” Por um momento, o choque ultrapassa meu rosto. Engulo ruidosamente, e minha reação parece doentiamente diverti-lo, de modo a crer que está certo. Ele está certo. “Professores universitários realmente fazem muito dinheiro. E não é como se a família dele não já fosse bem dos bolsos.”

“Que tipo de presentes ele dá a você?” Naruto interfere, com falsa inocência. Olho para ele em silêncio, sem conseguir acreditar que ele realmente deseja ouvir uma resposta.

“Ele sabe que você foi visitar outro homem em um hospital do outro lado da cidade?”

Essa pergunta é como um soco em meu estômago.

Por um momento, eu posso jurar que estou prestes a perder o equilíbrio, mas me recuso a apoiar o meu peso em qualquer um deles dois. Então eu caminho até um dos corrimões de aço e me apoio ali, sentindo o vento frio esfriar a minha testa suada, e ao mesmo tempo não surtir um mínimo efeito aos traços de falta de ar que estou sentindo.

Eles dois me seguem como duas sombras, Naruto para ao meu lado, ocupando o mesmo degrau que eu, e me observa com atenção. “Porra, não vá passar mal agora, ok?” Meu nariz calva por mais ar a cada novo suspiro.

Naruto está ao meu lado, Sasuke está na minha frente. Eu me sinto sufocada outra vez.

Não me importo que me ameacem, mas o meu namorado está fora de questão.

Eu procuro por espaço, e me viro de costas para Naruto. Minha frente diante de um jardim repleto de plantas de grande-porte, minhas duas mãos pressionando aquele corrimão como se eu pudesse tirar algum conforto dali.

“Não foi uma pergunta retórica.”

“Sim,” eu brado, meu olhar encontra o de Sasuke com um aspecto vicioso, mas sua tranquilidade permanece lá. Intocável. “ele sabe.”

“Ao menos você não está mentindo para ele. Isso é bom.” Sasuke apóia os quadris ao mesmo corrimão no qual estou apoiada, cruzando os braços sobre o peito. A gola em seu pescoço se encolhe, e com isso, eu posso ver uma pequena parte da sua tatuagem ali, na lateral esquerda. Não posso ver o desenho inteiro, então não é nada claro o bastante para mim. Meus olhos se chocam aos dele outra vez, “Mas não faz realmente muita diferença, faz? Afinal, nós dois sabemos disso. Que você tentou por dois dias seguidos visitá-lo, até conseguir. Que você está deixando a curiosidade falar mais alto e farejando demais, enfiando esse seu nariz bonitinho onde não deve.”

Sinto a mão quente de Naruto se alojar sobre um de meus ombros. Outrora eu o teria repelido e saído de seu toque, mas a conversa com Sasuke está tomando toda a minha atenção, e francamente, eu não tenho forças para reagir a isso.

A nada disso.

“Se eu me importasse, eu aconselharia você a não continuar farejando, mas você claramente não vai ouvir nada, vai? É um caminho sem volta, nós já atiçamos você o bastante, e você não vai parar até descobrir o porquê de Gaara ter se tornado um vegetal da noite para o dia. Eu não pararia em seu lugar.”

A mão de Naruto desliza ao longo do meu braço, fazendo o seu caminho de volta e parando no centro das minhas costas. “Pobrezinha...”

“E eu convido você a continuar”

Eu não consigo acreditar em meus próprios ouvidos.

“O que?”

“Continue investigando,” Sasuke pressiona os lábios, erguendo os ombros de forma dispersa. “As consequências são suas, mas, sem polícia. Sem polícia, entendeu?”

“Foi o último pedido dele, uma de suas últimas frases, você ousaria ir de encontro às vontades de um semi-morto?” A voz tóxica de Naruto soa atrás de mim, e eu perco o último traço de paciência que estava me mantendo parada ali.

“Porra, eu disse para não me tocar!” Eu clamo, minha voz enfurecida sai um pouco mais alta do que o intencionado, e eles me observam com vilipêndio, como se eu estivesse reagindo de forma exagerada, como se não estivessem me torturando psicologicamente desde que cheguei aqui.

Aliás, muito antes. O ponto de ônibus, a visita até o meu loft. Tudo isso começou muito antes de eu perceber que havia começado.

O tom jocoso de Naruto me tira de sério. “Você não quer fazer um escândalo aqui, quer, querida?”

O ar sai entre meus dentes cerrados, “Talvez eu devesse.”

“Então você não se importa tanto com o seu namorado quanto pensa⸺”

De súbito, Sasuke se cala. Percebo que seu olhar se eleva até acima da minha cabeça, e sua mandíbula trava. Eu acompanho seu olhar, e percebo que há uma dupla de policiais parados na entrada, nos observando.

“O que está acontecendo aqui?” Um deles questiona.

Naruto não hesita, “Nada, senhor oficial da lei.”

É a minha chance. A minha chance de falar tudo que está entalado na garganta e fazer a coisa certa, e eu acabei de deixar o bastardo falar por mim.

Eu observo a dupla de policiais avidamente, as palavras querendo escorregar para fora da minha boca, impedidas por uma pequena parte do meu cérebro que ecoava a última sentença de Sasuke.

Sei bem o que são capazes de fazer. Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse com Deidara. Nunca.

Não é fácil para mim disfarçar a apreensão, mas eu o faço. Meu olhar cruza com o do policial calado, e percebo um vinco se formar entre suas sobrancelhas. “Tudo bem?” ele sonda, o tom de sua voz ligeiramente desconfiado.

Talvez a aura de tensão ao meu redor seja óbvia demais para meu próprio controle.

 “Sim.” É a vez de Sasuke responder, quebrando o silêncio que se formou após a pergunta. Naruto obviamente teve o tato de ficar calado após responder a primeira.

Eles são espertos.

Mas os dois policiais não vão embora, eles permanecem lá. O autor da pergunta permanece me encarando, e eu sei exatamente o que ele está esperando.

Ele quer ouvir de mim, a garota.

É uma das piores decisões que já tive que tomar. Subir o resto daqueles degraus e acompanhá-los para dentro ou mentir e dizer o que querem ouvir não responderá somente àqueles dois oficiais, como a Naruto e Sasuke.

O que eu fizer a partir daqui também culminará no meu parecer aos dois.

Inalo uma respiração profunda, “Sim,” meus lábios pressionados se esticam num sorriso. “tudo bem. Nós estamos conversando”

“Na escadaria de uma delegacia?”

Eu me sinto completamente saturada quando passo a mão por meus cabelos, “Já estávamos de saída.” Me viro, passando ao lado de Sasuke ao descer os degraus e rumar de volta ao estacionamento.

Os dois me seguem como dois cães de guarda. Eu posso ouvir os passos vigorosos de ambos, caminhando atrás de mim, por enquanto, em silêncio.

Ainda enquanto ando, puxo o celular do bolso e envio um torpedo ao meu taxista conhecido, informando-o que estou esperando por ele na delegacia.

Ele respondeu que estava no meio de uma corrida. E independentemente da reação negativa e temerosa que aquilo me causa, eu o envio outra, dizendo que esperaria.

Eu só posso esperar.

Mas isso me daria mais tempo com eles. A última coisa que eu quero.

“Sakura!”

Eu finjo que não ouvi e continuo andando, “Fugir de nós dois outra vez é apenas atrasar o inevitável. Você sabe disso.” Naruto adula.

Minha vontade de lidar com a realidade agora é tão curta quanto a minha paciência.

“Pare. A nossa conversa não acabou ainda.”

E eu paro exatamente onde estou, mas não para obedecê-lo. Eu volto, caminhando fervorosamente na direção dele.

Ambos me aborrecem igualmente, mas há algo sobre Sasuke que rasteja sob a minha pele, ardendo no mais puro desprezo. E eu tenho a impressão que isso se dê porque foi ele que correu atrás de mim na fatídica noite de quinta-feira.

Eu jamais temi tanto uma pessoa quanto o temi; quanto temi que conseguisse me alcançar e bater em mim da mesma forma que fez com Gaara, embora eu não saiba ou saberei o que ele teria feito comigo se sucedesse.

Qualquer falha minha, e podiam ser dois corpos no campus na manhã de sexta, ao invés de um.

E como se não fosse o bastante, foi ele que bateu à minha porta e trouxe todos os sentimentos de insegurança à tona outra vez. Mesmo sem que eu soubesse que se tratavam da mesma pessoa.

Agora eu sei. E é ainda pior.

“Não, a nossa conversa acabou exatamente ali.” Eu aponto o dedo em seu rosto; mas meu repente de raiva não parece impactar em nada na feição neutra em sua face. “Vocês conseguiram o que queriam. O meu silêncio. Não há mais nada para conversar!”

Ele suspira, “Exceto que está errada, Sakura. Há. Ou você acha que vamos acreditar que realmente ficará calada porque disse que ficaria?”

“Você ameaçou o meu namorado!”

Eu grito para fora todo o exaspero que estou sentindo. E novamente me sinto impotente diante da neutralidade em seus rostos, enquanto eu estou experimentando as divergências emocionais de qualquer ser humano quando posto à prova, isso parece algo comum para eles.

“E agora estou ameaçando também os seus amigos. Suigetsu Hozuki e Ino Yamanaka.”

O ar fica preso em meus pulmões, e sinto um forte arrepio esquentar os meus braços. Eu estou vendo os rostos de Suigetsu e Ino na minha cabeça, e não consigo aceitar que eu acabei de puxá-los para o meio de tudo isso.

Três das pessoas mais importantes que tenho acabaram de se tornar a minha fraqueza.

“Sasuke.” A voz de Naruto soa em um tom cauteloso, irrompendo o silêncio.

Mas ele não para.

“E mesmo isso ainda não é o bastante, Sakura.” Eu o observo, arrasada “As pessoas tendem a ser mais maleáveis quando têm algo a perder. Maleáveis no seu caso, determinadas no meu. Eu tenho muito a perder se você der com a língua nos dentes⸺”

“Eu não vou falar nada!” Imploro, meus olhos firmes aos dele. “Eu juro.”

“Eu já disse que a sua palavra não vale de nada para mim.”

“Então o que porra você quer que eu faça? O que vocês querem de mim?!” Grito em resposta, minha garganta arde como se eu estivesse em combustão. Minha consciência, meu senso de perigo, meus sentidos estão borbulhando; porque eu odeio estar submetida tão intensamente assim às vontades de alguém.

Sasuke desvia o olhar de mim até seu amigo, um aspecto triunfante e soberbo em seus olhos diante da minha humilhação.

Maleabilidade. Exatamente a comprovação de sua teoria. Eu estou, miseravelmente, perguntando a eles o que querem que eu faça. Me abrindo a qualquer circunstância, qualquer prerrogativa doentia que tenham em suas cabeças.

“O loft.” O sorriso de satisfação que surge em seus lábios me pega de surpresa, pois durante um momento, eu esqueci que ele bateu à minha porta em busca do imóvel. E logo em seguida vem a mágoa. Eu estou tão desorientada, ofendida e odiosa que podia socar a carne para fora de seu rosto. “Você se lembra do que Naruto disse? Sobre ser uma relação simbiótica, uma troca de favores? Essa é a sua parte.”

“De jeito nenhum⸺”

Sua voz sufoca a minha, ele sequer parece ter ouvido meu reles resmungo. “Você me dá as chaves daquele loft e nos ajuda a ficar de olho em você, seus amigos e namorado ficam bem, sãos e salvos. Você continua vivendo a sua vida normalmente.”

Eu estou tão transtornada que sequer consigo articular o que falar.

“Normalmente? Entregar a minha liberdade em uma bandeja para vocês dois não é normal!”

O sorriso em seus lábios aumenta. “Você continua sendo livre para fazer o que quiser. Se relocasse o apartamento para alguma mulher, ela tiraria a sua liberdade apenas por morar na porta da frente? Eu duvido.”

“Essa mulher não estaria ameaçando os meus amigos!”

Estou tão apavorada que mal consigo respirar, a forte náusea em minha cabeça me leva a crer, por um momento, que eu estou prestes a vomitar. Mas não posso fazer isso.

Não posso piorar ainda mais as coisas. Embora vomitar em cima dele fosse algo que me traria satisfação.

“Ainda é liberdade, Sakura.” Ele pondera as próprias palavras, dando de ombros.  Um olhar suplicante em meus olhos se desvia dele até Naruto, como se não fosse conivente, como se ele pudesse advogar por mim. “Liberdade assistida. Apenas isso.”

“Isso não é liberdade!” Meu dedo empurra contra o peito de Naruto, enquanto eu o observo túrbida, meus olhos ardendo e úmidos “Você mais do que ninguém deveria saber disso!”

Ele umedece os lábios furtivamente, “E eu sei, mas o que eu sei não faz diferença agora.” Naruto suspira, mantendo uma feição ensaiada de receio no rosto. Ele ao menos finge, mas eu não posso dizer o mesmo do cara ao lado dele. “Estes são os termos. Você vai ter que conviver com eles.”

Meus ombros se encolhem involuntariamente, enquanto eu aceito que perdi não só a discussão, como a minha soberania.“Até quando?” Pergunto, meu tom de voz baixo como um miado, até que eu erga a cabeça e olhe dentro dos olhos escuros de Sasuke. “Quando eu vou ter paz?”

“Paz não é necessariamente um meio, mas um fim.” Sasuke profere, e isso faz com que eu o olhe novamente.

Isso não responde nada. “É exatamente o que estou perguntando. Quando é o fim?”

“Você vai saber quando nós dois descobrirmos.”

Nada concreto. Absolutamente nada concreto, nada no qual eu possa me apoiar, nenhum norte.

Apoio a palma da minha mão à minha testa, massageando a pele fina e suada; tentando inutilmente aceitar tudo o que está me acontecendo.

Quando abro os olhos, Sasuke avança um passo em minha direção. “Você vai avisar ao Teuchi que arranjou um inquilino. Porque amanhã, às sete horas, nós vamos estar na sua porta. E eu quero que você saia dela carregando a cópia das chaves do loft que eu vou relocar. Do contrário, eu juro que baterei outra porta, em Toranomon. Você entendeu?”

Meu olhar febril se choca ao de Naruto, mas ele está indiferente.

Eu não faço ideia o porquê de ainda esperar que alguém como ele pode fazer algo por mim. Ele está calado, consentindo a tudo. Ele é tão repugnante e podre como o seu amigo.

“Sim.”


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Eu não estava mais esperando que fossem cumprir com a promessa desde que o relógio marcou trinta minutos depois das sete horas, sem sinal algum dos dois. Por um lado havia a apreensão, mas por outro, eu me senti feliz. Estou me sentindo.

Talvez isso signifique algo, talvez eles tenham mudado de ideia sobre o loft.

Isso me deixa de bom humor, e sinto que tudo ficaria o mais próximo possível do normal. Não totalmente normal, pois eu sempre saberia o que vi; e teria que viver com a impotência de não poder falar nada e ainda precisar  mentir outra vez para o meu namorado, afinal, ele perguntará sobre no que resultou minha ida até a delegacia, e eu não posso usar a verdade.

Eu juro que se não colocasse a minha mente para fora de tudo isso em breve, acabaria adoecendo. Me importuna que eu esteja presa num maniqueísmo em que eu tenha que escolher entre abrir mão da minha liberdade ou da minha segurança e dos que eu amo.

Eu não suporto que ameaçar o meu namorado e amigos não faça acreditá-los que será o bastante para me manter em silêncio. Como se menosprezassem o que eu sinto por eles.

E eu ainda estou remoendo sobre isso quando ouço os estalos da fechadura. Por um momento sobressalto sobre meu próprio assento, afinal, Deidara jamais mencionou que viria hoje, e ele é a única pessoa que tem uma cópia da minha chave.

Mas é exatamente ele que ultrapassa a entrada, e eu ponho o ar para fora de meus pulmões aliviada, voltando a olhar para a televisão sem uma mínima noção do que está passando. 

“Oi, amor.” Ele arrulha, sorrindo para mim ao fechar a porta.

Reteso os lábios, esvaziando o assento vazio ao meu lado para que ele se sente. “Oi,”

Ele puxa a alça da bolsa por cima de sua cabeça, deixando-a sobre a mesa. Enquanto isso, eu o observo como uma mãe observa a seu filho.

A televisão esteve ligada a tarde inteira, mas apenas para que houvesse vozes no apartamento. Eu não a assisti, nem por um minuto.

Eu não consigo me concentrar nem mesmo em meus pensamentos, e foram eles que empestaram a minha cabeça desde a última palavra que troquei com aqueles caras.

Dormi pouco, comi pouco, e pensei muito. Eu estou em uma sinuca de bico, não há exatamente algo que eu possa fazer sem por em risco as pessoas que amo. Eu não gosto de subestimar as pessoas, e tomar uma decisão à partir disso me tiraria madrugadas de sono daqui para frente, sem dúvidas.

“Achei que estava morta. Por que não retornou as minhas ligações?”

Suspiro, olhando em seus olhos azuis. Ele está me olhando com uma sobrancelha erguida, analisando o meu corpo como se pudesse extrair suas respostas dele.

Ou então condenando mentalmente o quão desleixada eu pareço em meus pijamas tão cedo da noite. Sem demonstrar um pingo de preocupação em parecer minimamente apresentável para o meu namorado.

“Dormi cedo,” comprimo os lábios, desviando o olhar em direção as janelas. “desculpa.”

Ele tira o controle remoto das minhas mãos apenas para colher uma delas entre as suas, e a leva até os lábios para beijar a minha palma. “Sem problemas.”

Não consigo conter um sorriso, eu precisava exatamente disso. Dele. De sua presença para me acalmar apenas um pouco, o necessário para que eu não enlouqueça.

“Você não me contou sobre ontem... Como foi?”

Coço a cabeça, pensando em como devo proceder.

Obviamente, ele não pode saber o que aconteceu ontem. Ele não pode saber que eu sei, agora com certeza, quem são os infratores. Ele não pode saber que eles sabem que namoramos. Ele não pode saber que está sob ameaça, e que por causa disso eu me submeti à coisas absurdas.

“Mm, eu fui até a delegacia, como você sabe. Conversei com o delegado...” Eu fico em silêncio para pensar em alguma coisa.

Mas ele me interrompe antes que eu possa continuar,“Você contou tudo que viu?”

“Mais ou menos”

“Mais ou menos?” Ele ecoa, franzindo a testa. “Como?”

Ergo os ombros, exalando o ar com tédio. Eu espero que ele perceba, mas não aquiesça à minha indisposição de falar sobre isso, porque obviamente está curioso demais para se importar em ler sinais subtendidos.

“Bem, não havia um escrivão na hora para colher o meu depoimento. Eu contei ao delegado, mas não há nada em escrito. Não foi um depoimento propriamente dito, porque não há nada para comprová-lo. Eu não assinei coisa alguma, mas o delegado me ouviu.”

Ele estala a língua, parecendo desapontado. Obviamente está, ele tem um forte senso de justiça, além de ser um professor na universidade em que tudo aconteceu e só está contendo a própria vontade de gritar aos quatro ventos que eu vi o que aconteceu porque eu o pedi que guardasse segredo. “Deve ser o bastante... Eles sabem que há uma testemunha agora, a investigação ganhará forma e rumo.”

“Eu acho que sim.”

“Eles vão entrar em contato, não vão?” Anuo, e ele faz o mesmo em seguida, agora satisfeito. “Crimes no campus, isso é péssimo. Eu estava ouvindo a conversa dos reitores hoje, fomos convocados para uma reunião na semana que vem. Todos estão preocupados.”

“Eu imagino.” Resmungo, indisposta.

Ele se levanta do sofá, e caminha em direção a cozinha. Eu o checo enquanto ele caminha, jogando os sapatos pela casa e pisando nas meias até que estejam devidamente fora de seus pés.

Eu senti falta dele.

Deidara está vestindo uma camisa verde de manga três quartos hoje; seus antebraços firmes expostos. Ele sabe que amo esse tipo de camisa nele.

Ele percebe que estou encarando enquanto serve uma xícara de café para si. “Como foi o simulado?”, pergunta.

O simulado. O simulado de Gestão Mercadológica pelo qual estive tão nervosa dias atrás, semanas atrás. Uma das poucas disciplinas teóricas que tive ao longo do curso, e todas elas me preocupavam.

Ironicamente, eu não fui à faculdade hoje. Porque tenho consciência de que não conseguiria me concentrar o bastante, não com a cabeça cheia por Sasuke e Naruto, e o quanto eu gostaria de matá-los de forma pouco humana.

Eles me renderiam, além de outros prejuízos irreparáveis, uma nota vermelha, caso eu houvesse ido.

“Eu não fui para a faculdade hoje.”

Um dos piores tipos de frase que se pode dizer ao namorado que ganha a vida ensinando, fiscalizando faltas e reprovando alunos por elas. “Oh, você resolveu faltar no dia do simulado? Pouco inteligente.” Ele diz, enquanto retorna até o assento ao meu lado, carregando sua xícara fumegante em mãos. “Por que fez isso, Sakura?”

Ele toma seu lugar ao meu lado, e o forte aroma de café me priva de sentir o seu perfume. Eu me aproximo dele, enfiando meu rosto no pequeno espaço entre seu braço esquerdo e o encosto do sofá. “Eu não queria ir...” minha voz sai abafada, mas ele parece ouvir. “Vou pagar a segunda chamada.”

“Infantil.”

Eu me afasto para olhar em seus olhos, “O que?”

“Infantil. É o que você é às vezes.”

“Foi uma das consequências que assumiu ao decidir namorar uma garota onze anos mais nova do que você.”

Ele ri timidamente, “Por que precisa ficar me lembrando disso?” e então me observa sobre a xícara, enquanto sorve um breve gole.

“Que sou nova demais?”

Deidara suspira, deixando a xícara sobre a mesinha de centro. Então, ele torna a apoiar as costas contra o estofado, me observando de forma um tanto enigmática. “Que sou velho demais.”

Molho os lábios, e seus olhos atentos vão direto para lá. “Você não é velho demais...”

Ele ri, e pega meu queixo com a mão livre. “Sim, eu sou.”

Coloco meu joelho esquerdo entre suas pernas e me debruço sobre ele, selando os seus lábios rapidamente e testando como reagiria. O aspecto brincalhão ainda está pairando em meus olhos, mas a coisa fica muito diferente quando se trata dos dele.

Mais de um ano pode não ser muita coisa, mas eu sei distinguir o que se passa dentro da cabeça dele apenas olhando-o durante alguns segundos. Ele não estava pensando em sexo antes, mas agora está. “Não...” nego, mas seus lábios me interrompem antes que eu possa continuar.

Há uma xícara com café quente em uma de suas mãos, isso faz com que eu não me exceda tanto assim. Mas isso também não me impede de abraçá-lo; minhas mãos envolvendo o seu pescoço sob os cabelos longos enquanto ele me provoca, sem me tocar ou mesmo aprofundar o beijo.

Eu gemo, frustrada. É um tanto inédito que eu precise segurar a sua mão e trazê-la para o meu corpo, mas é exatamente o que faço.

Ele se afasta, seus olhos concupiscentes me perscrutam, e eu o fito confusa. “Você está cansado?”, sussurro a pergunta.

Deidara suspira, deixando que a cabeça desabe sobre o encosto. “Um pouco...”

Começo a rir de antemão pelas palavras que surgiram na minha cabeça, e a previsão certeira de como reagirá ao ouvi-las. Meus lábios alcançam a orelha dele, e eu o abraço um pouco mais fortemente, para evitar que ele consiga me empurrar de primeira. “Talvez você seja mesmo um velhinho.”

“O que...” Sua voz falha, tomada em surpresa pela minha declaração, e o corpo dele se move sob o meu. Sinto-me um caubói domando um touro nervoso, mas a tendência é que eu perca a força física quando estou rindo muito, e é exatamente o que acontece. Suas mãos grandes se fecham ao redor da minha cintura, e ele me empurra um pouco para trás, até que meu rosto esteja nivelado ao dele. O aspecto em seus olhos é risonho, mas eu sinto que atingi um nervo, e realmente consegui provocá-lo. “Pirralha, você disse isso mesmo?”

“O que você ouviu.”

Ele morde uma risada, “Eu vou mostrar o ‘velhinho’”

Atingi-lo em seu ego. Eu ficaria surpresa se não funcionasse. Nunca foi um incômodo para mim, e não era para ele, no início. Isso mudou quando Deidara viu a feição no rosto dos irmãos dele, assim que eu respondi a minha idade.

Aparentemente só teve um impacto nele, e mesmo depois que seus irmãos pareceram se acostumar a mim, o assunto continuou sendo um tópico que o causava certo constrangimento de si mesmo.

Ele ergue os quadris, sentando-se mais perto da borda do assento, e isso me assusta. Porque sei o que vai fazer.

Tento reprimir um riso, “Ora, não faça isso. O que você tem contra andar?” Seus olhos azuis me medem, eu sinto o aperto de suas mãos abaixo das minhas coxas ficarem mais fortes, e ele simplesmente fica de pé, me carregando.

“Agora, tudo.” Nós dois rimos, e eu enlaço meus pulsos ao redor de seu pescoço enquanto sou levada até o corredor. Não é a primeira vez que ele faz isso, mas é certamente a mais memorável, pois nunca antes eu impliquei com ele e seu ‘ponto fraco’ tão explicitamente.

“Não devia fazer tantas extravagâncias, professor,” meu tórax se gruda ao dele para que eu possa beijá-lo, enquanto ele chuta a porta antes encostada e caminha pelo quarto escuro. “A coluna de homens velhos é algo melindroso, requer cuidado.”

Ele me observa com olhos estreitos, mas tudo que consigo fazer é rir. Eu sei distinguir quando a situação passa de uma brincadeira para algo sério, e certamente não é agora. Deidara está apenas sendo estimulado a me provar o contrário à todo custo, e eu sinto que ele se vingou da melhor maneira possível quando seu agarre começa a afrouxar e eu, em meio à escuridão, sou arremessada no ar e experimento alguns milissegundos de pânico, até sentir o colchão macio sob minhas costas.

“Eu tenho trinta e quatro anos, não é para tanto.” Seu tom ligeiramente soturno me causa outra crise de risos.

O metrô passa, e tudo ao nosso redor estremece. É algo que já se tornou natural para mim, e consequentemente para ele.

Sinto a espuma do colchão afundar, e ouço a sua respiração sobre mim logo em seguida. Ele enfia o joelho entre minhas pernas, e a sua franja longa risca suavemente o meu rosto.

Sua respiração foi um sopro em meus lábios, antes que a maciez de sua boca tocasse a minha. De súbito, a brincadeira acaba e eu agarro os botões de sua camisa como se minha vida dependesse de desfazê-los, com tanta pressa que ele ri contra meus lábios. 

Minha mão percorre as laterais de seu corpo até chegarem ao traseiro, e eu tiro proveito disso antes mesmo de alcançar o meu objetivo, que é sua carteira. Eu sei que sempre há uma camisinha lá.

O momento que consigo puxá-la para fora de seu bolso é o mesmo em que os lábios dele deslizam pela linha do meu maxilar, então eu fecho os olhos, alheia a meus próprios arquejos, enquanto minhas mãos lidam desordenadamente com os compartimentos da carteira, em busca do que eu quero.

Alguns cartões e notas de dinheiro caem no colchão, mas eu não podia me importar menos. Sua ereção é como uma marca quente sobre minha coxa, e agora todo o meu raciocínio gira apenas em torno dele.

O pequeno pacote estala entre meus dedos, e eu jogo a carteira. Sentindo a urgência de deslizar para fora do meu pijama ao mesmo tempo em que tiro todas as roupas dele. Mas o que nos interrompe não é o metrô, e sim a campainha.

Um gemido nada satisfeito emana de sua garganta, quando ele se afasta de mim. “Você está esperando alguém?”

Frustrada, mordo o lábio inferior. Minhas mãos nunca deixando as maçãs do rosto dele. “Não...” Respondo desorientada, até que a realização me acerta rispidamente, e eu lembro de ontem. “Sim.”

Com um gemido derrotado, eu rastejo para fora da cama fazendo tudo ao meu alcance para tentar recompor a minha aparência.

Eu não tento pensar positivo, não tento imaginar que é Suigetsu ou mesmo Konan na porta, eu encaro as coisas como elas são. O assunto que ficou inacabado ontem retornou para me confrontar, e é melhor que eu faça isso de nariz erguido, mesmo que no fundo, eu odeie a minha situação atual.

 

Mesmo que no fundo eu queira tanto torcer o pescoço daqueles dois homens com minhas mãos limpas.

Ouço os passos de Deidara me seguindo pelo corredor, e fico temerosa. Eu já estou conformada, o principal problema é a reação dele.

Eu o procurei e argumentei veementemente até que concordasse comigo; até que ele olhasse em meus olhos e aderisse a minha causa com a mesma intensidade que a minha. Um hóspede masculino não seria aceito.

Ironicamente, eu o apresentarei dois.

Espio rapidamente o olho-mágico, e não sinto nenhuma surpresa. A visão distorcida de Naruto e Sasuke do outro lado da porta faz com que eu cerre meus punhos, e hesite antes de abrir a porta.

Não posso permitir que meu emocional se agite outra vez, embora eles tivessem esse poder recém-descoberto sobre mim.

“Quem é?” Deidara questiona, mas não o respondo.

Eu simplesmente abro a porta, e quando ele chega ao meu lado, ainda abotoando a camisa, nós dois encaramos os dois caras do lado de fora com reações muito diferentes.

Um vinco surge entre suas sobrancelhas loiras, o ímpeto de proteção rapidamente refletido na expressão em seu rosto. Dois homens estão parados em minha porta pouco antes das oito horas da noite, eu também pensaria coisas ruins caso estivesse no lugar dele.

“Boa noite!” Naruto exclama, sorridente.

Deidara desvia a atenção dos dois em direção a mim, as sobrancelhas contraídas, a feição confusa enquanto espera por esclarecimentos.

Mas eu mal posso olhá-lo de volta. Estou envergonhada. Miserável e humilhada.

Principalmente porque o cheiro de álcool que vem dos dois é aberrante.

“Hum,” limpo a garganta, segurando a maçaneta da porta fortemente enquanto a atenção de Sasuke está presa a mim. A perversidade faiscando em seus olhos, enquanto um pequeno, quase imperceptível sorriso brincava em seus lábios. Me subjugando, me provocando e esfregando na minha cara que havia vencido. “eu esqueci de avisar a você. Encontrei compradores.”

Agora mais do que nunca eu prefiro morrer a olhar nos olhos do meu namorado. Mas posso sentir o seu olhar em mim, faiscando e queimando da pior forma possível, me recriminando quando nem mesmo eu posso lidar com meu próprio ultraje.

“Nós avisamos que viríamos.” Sasuke adiciona, a satisfação por me desmoralizar explícita em sua voz, quase saindo por seus poros.

“Sim, há quase uma hora atrás.”

Eu solto a porta, e ouço uma risada da qual presumo partir de Naruto enquanto volto para o interior do meu apartamento, procurando pelas chaves de Konan.

Infelizmente, Deidara me segue para dentro, e eu me sinto impaciente. Eu não quero lidar com ele, mas ao mesmo tempo reconheço os seus sentimentos de desarranjo.

Eu adoraria explicar.

“Sakura, que porcaria─”

“Agora não.” Eu entro no quarto e pego a minha bolsa, investigando os bolsos em busca do meu chaveiro. Coloquei as chaves de Konan junto às minhas, porque não sou boa em lidar com objetos pequenos sem perdê-los facilmente.

Ao abrir a porta, eu esbarro com Deidara, e me sinto à beira de um surto mental. “Sakura foi você que quis a minha opinião, nós dois concordamos─”

“Agora não!” Brado, meus olhos arregalados quando o faço.

Eu sei que é exigir demais.

Caso os papeis fossem invertidos, eu o perseguiria e trancaria a porta, mantendo-o aqui até que me dissesse a verdade ou pelo menos uma mentira convincente o bastante.

Mas, felizmente, os papeis não estão invertidos.

Mesmo contrariado, ele me segue em silêncio até a entrada. Eu tenho certeza que ficará em silêncio apenas até o momento em que aqueles dois forem embora, e então me encherá de perguntas até que briguemos outra vez.

Pela milésima vez, desde que a minha vida se transformou em um inferno.

Quando retorno, eu os encontro lá, parados exatamente como os deixamos. Sasuke pende a cabeça para o lado, “Não vai nos convidar para dentro?”

“Não,” e eu fecho a porta atrás de mim, passando entre os dois em direção à porta da frente.

“Nós queremos conhecer as imediações. Hóspedes interessados não têm o direito de uma tour pelo imóvel antes da compra?”

Konan me mataria.

Talvez não tanto se visse eles dois, são muito bonitos, mas são gays, então ela não teria chance com nenhum deles. Ou seja, ainda me mataria.

Eu coloquei dois homens que não conheço e com péssimos antecedentes em seu loft.

Meu pulso gira sobre a maçaneta, e eu empurro a porta apenas o suficiente para que calem a boca sobre o que eu devo ou não fazer. Só que isso piora ainda mais a minha situação. “Nossa, Sasuke, parece que nós dois interrompemos alguma coisa.” Não é preciso que eu olhe na direção de Naruto para sentir o riso em sua voz, e eu me pergunto o porquê de ter feito tal afirmação.

Ainda estou segurando o pacote de camisinha.

A provocação de Naruto seguida pelo impacto da realização cavou o meu estômago, me deixando sem reação durante alguns segundos.

Minha mão se ergue, trêmula, em direção ao meu busto, e enfio o pacote dentro do meu sutiã. “Bem, vocês podem entrar agora...”

Ingênuo de minha parte achar que o constrangimento cessaria aos poucos após chegar ao seu ápice. Não havia acabado.

“Sakura,” a voz de Deidara soa abafada, antes que ele puxe a maçaneta com força e abra a porta tão rapidamente ao ponto de me deixar realmente com medo. Eu me viro para observá-lo.

Ele está furioso.

Porém, eu não pude controlar um maldito impulso, e meu olhar ficou preso diretamente à sua virilha protuberante e o quanto ela estava chamando atenção nas calças de sarja que estava usando.

Não demora até que eu ouça risadinhas, e então, olhando de Naruto para Sasuke, eu percebo que não sou a única a encarar naquela direção.

“Boa noite, professor Deidara. O senhor parece... bem.”

Professor

Ouvir esta palavra faz com que a feição no rosto de Deidara caísse para uma ligeira carranca. É exatamente aqui que a situação sai dos trilhos, e eu sinto o meu lábio inferior tremer.

Existe um motivo para qual o nosso relacionamento não pode ser tão às abertas no que tange a faculdade e qualquer coisa meramente relacionada a ela. Ele é um professor. Eu sou uma aluna.

Deidara sempre deixou muito claro que podíamos nos assumir para todos, se quiséssemos. Mas ele também deixava explícito o quanto se fôssemos descobertos o incomodaria.

Professores universitários não são tão recriminados quanto professores regulares por se envolverem com alunos, e ele certamente não seria demitido ou sofreria represálias se algum dos reitores soubesse. O grande problema é o quanto isso abalaria a forma como ele seria visto pelos alunos. Haveriam brincadeiras de mau gosto, olhares recriminatórios, fofocas; isso também atingiria a mim diretamente, então por isso resolvemos juntos que apenas nossos amigos íntimos iriam saber do nosso namoro.

Eu fiz isso por ele e por mim mesma. Estávamos os dois muito bem com isso.

Mas isso ainda não justifica ele responder que é solteiro quando questionado, e se Naruto e Sasuke houvessem falado a verdade, eu conversaria com ele sobre este assunto, pois não estou bem com isso. Deidara já é suficientemente visado pelas alunas por causa de sua aparência. Professores gostosos são e sempre serão um grande fetiche – eu posso falar muito bem sobre isso, e em um campus repleto de garotas, eu teria todos os motivos para enlouquecer de ciúmes, se quisesse. Não que eu tenha aprendido a lidar totalmente com os casos explícitos, em que tudo que posso fazer é observar, e não agir. Eu não posso andar de mãos dadas com o meu namorado, eu não posso chegar ao lado dele quando vejo alguém passando dos limites.

E a pior parte foi descobrir que, de alguma forma, ele é parte disso.

Dizer por aí que é solteiro é absolutamente inaceitável. Eu não estava lembrando essa parte da conversa, em particular, mas ver Naruto e Sasuke me fez recordar.

A esta altura, eu estou um nível além do desconforto. Limpo a garganta, tentando produzir algum som para dar um fim ao silêncio que se formou enquanto Deidara parecia escaneá-los atentamente.

Eu não sei o que está acontecendo, mas a feição em seu rosto só demonstra pioras a cada novo segundo em que seus olhos estão em Naruto e Sasuke.

“Sakura, você disse que se sentiria mais segura se fosse uma mulher,” fecho os olhos, inalando uma respiração profunda. Eu não consigo acreditar que ele vai querer ter essa discussão na frente dos dois. “porque não queria correr o risco de ter um tarado morando na porta da frente. O que porra aconteceu?”

A pior parte disso tudo é que ele me conhece muito bem, e sabe que eu não desisto tão fácil das coisas que quero. Que minha teimosia beira a chatice, sendo ele próprio a maior ‘vítima’ disso.

Cruzo os braços sobre o peito, “Eles são namorados.”

Deidara não parece nada convencido. Pelo contrário, ele contém uma risada afetada e aponta para os dois homens ao meu lado.

Eu paro de respirar quando Deidara dá três passos adiante e fica cara à cara com Naruto. O ato parece pegá-lo de surpresa, mas o sorriso que surge em seus lábios em seguida é completamente nocivo. “Eu conheço você,”

Naruto comprime os lábios, tentando não rir. “Não me lembro de ter tido aulas com o senhor, professor Deidara.”

“Deidara, por favor─”

“Você foi expulso do pensionato da Kappa Akatsuki há três meses por causa de desentendimentos com o presidente de lá.”

“Se sabe disso, também deve saber que nada ficou provado e eu voltei para lá em menos de uma semana.” Com ar de riso, ele fita Sasuke, que encara Deidara em silêncio. “Os professores estão por dentro do que acontece nas fraternidades, cara, dá para acreditar?”

“Não fica tão difícil de saber quando a segurança do campus foi chamada, e quase a polícia.”

Essa informação me acerta como uma flecha. O último pedido de Gaara já deixava bem claro para mim que o que aconteceu não foi um caso isolado, e se eu já estava com medo de tê-los na porta da frente, agora eu sinto que mal posso respirar.

Estou apavorada. Engulo em seco, ouvindo a risada nervosa de Naruto. “Foi tudo um mal entendido, professor,” ele diz, e enquanto isso, eu sinto que preciso me apoiar em alguma coisa para me manter em pé e estável. Pressiono meu antebraço contra a parede, enquanto sinto o olhar de Sasuke fixo a mim.

Nossos olhares se chocam, e eu percebo que ele está analisando o efeito que o relato causa em mim, mas desvia o olhar em direção ao meu namorado quando o observo de volta.

“Eu não sei o que vocês dois querem aqui, mas a Sakura não está aceitando homens. Ela realmente não está.” Deidara informa, conciso e agora mais calmo.

“Não foi o que ela disse,” Sasuke retruca vagamente, e me lança um olhar circunspecto, repleto de atribulações subtendidas.

Algo como: resolva isso.

“Eles são inofensivos.” É a mentira mais amarga que sai da minha boca em meses, em anos.

Deidara reage imediatamente, me lançando um olhar chateado. Minha resposta parece ultrapassar seus limites, e ele segura o meu pulso com força. “Deidara,” chamo seu nome, em uma falha tentativa de refreá-lo, mas ele está inconformado.

Eu não o culpo, não houve qualquer aviso prévio de que Sasuke e Naruto estariam aqui hoje.

Em minha defesa, eu realmente não esperava uma visita sua hoje; ou seja, meus planos eram receber os namorados sozinha. Eu também não fiquei preocupada quando ele chegou de surpresa, pois passava do horário combinado com Sasuke e, por algum motivo, eu acreditei em uma suposta pontualidade e que seu atraso significava desistência.

Em resumo, tudo deu errado. Deidara veio, e Sasuke veio também.

É um homem claramente irritado que fecha a porta atrás de nós, deixando os dois lá fora. Deidara solta o meu pulso e respira profundamente, passando alguns segundos calado antes de falar comigo em tom ameno, como se eu fosse uma criança que não sabia o que estava fazendo.

“Sakura, eu também fingiria ser gay para conseguir um apartamento barato como esses dentro de suas circunstâncias. Você é mais esperta do que isso.”

Eu pensei nessa possibilidade no início, mas não tenho uma decisão tomada quanto a isso; até o momento eu realmente acredito que são um casal, pois os vi mais juntos do que separados até agora, e as fotos que Sasuke me mostrou provam que são bem próximos.

E, caso fosse mentira, podiam ter desmentido a história do namoro no momento em que fui forçada a aceitar suas imposições sustentadas por ameaças.

Se já haviam conseguido seus objetivos por mal, não havia motivo para sustentar essa história, caso fosse falsa.

“Eu preciso do dinheiro. A Konan precisa do dinheiro na África do Sul.”

Não é uma completa mentira. O meu pai continua fazendo os depósitos semanais, e Konan está financeiramente segura até o fim da viagem. Mas se há algo que nunca é demais, é o dinheiro.

Eu não consegui estágio algum, tampouco voluntário como remunerado. Estou dependendo dos depósitos, e gasto dinheiro com cópias de apostilas e livros de receitas importados que ainda preciso traduzir.

Eu preciso de dinheiro, mas não estou tão desesperada quanto estou demonstrando. A prova disso é que Sasuke me ofereceu o triplo e eu neguei, porque dinheiro algum é mais importante do que a minha segurança.

Mas a segurança de outras pessoas que amo, pelo contrário, é. Principalmente quando foram visadas, em primeiro lugar, por minha culpa.

“Eu posso dar esse dinheiro a você... Emprestar.” Ele se corrige imediatamente, sem que eu precise fazer uma careta.

“Não, Deidara, eles vão ficar. Eu não posso aceitar isso, se os seus irmãos descobrirem que você me dá dinheiro, eles vão pensar coisas e você sabe muito bem.”

“Eles não vão saber disso, meu dinheiro é meu dinheiro─”

“Sasuke e Naruto vão ficar.”

“Porra!,” ele espalma a mão contra a porta com força e me observa absolutamente transtornado. “por que você está insistindo tanto nisso? Por que não me avisou antes?”

Fecho os olhos. A única coisa entre a dupla lá fora e nós dois aqui é uma porta me tira de meus eixos. Deidara está sequer preocupado com o fato de que, sem dúvida, estão ouvindo tudo.

“Por que você não pode respeitar a minha decisão? Por que você sempre precisa dar a sua opinião e agir como se fosse o meu pai?” Minha voz falha, mas eu falo da mesma forma.

Se ele soubesse as razões que estão me fazendo agir assim, tudo seria mais fácil. Mas eu preciso protegê-lo disso também. De descobrir a verdade e querer fazer justiça com as próprias mãos, de ficar muito empolgado e acabar se machucando.

Seu olhar se estreita, e eu posso dizer pelo jeito que ele respira pelo nariz que ele está realmente furioso. Minhas feições amenizam, eu tento respirar fundo e ficar calma, para quem sabe ele ficar calmo também e deixar que eu conclua o que comecei em paz.

“Porque Naruto não é uma pessoa boa, e esse homem com ele com certeza também não é. Sakura, tudo que eu quero é o seu bem.”

Eu solto o que mal pode ser chamado de risada, e soa totalmente amargo. “Eu também. Eu também quero o seu bem.” Tento sorrir, e uma de minhas mãos colhe o seu rosto carinhosamente. Meu polegar acaricia a pele macia de sua bochecha, “Eu não quero brigar outra vez.”

Ele suspira, complacente “Eu só não entendo.”

Eu também não. Não entendo porque tudo isso precisava acontecer comigo, como se eu já não tivesse preocupações o bastante.

Como se os horários inconsistentes dele não estivessem sendo um problema alarmante o suficiente, essas duas pessoas novas que entraram na minha vida estão desgastando completamente o meu namoro.

Nós estamos brigando além do normal, e eu estou perdendo a paciência mais facilmente.

“Por que você não me espera no quarto? Eles só querem entrar no loft, vai levar no máximo cinco minutos.”

Ele também não parece ter disposição para discussões, e apenas dá de ombros. “Pode ser.”

O meu namoro está em péssimos lençóis. Eu tenho plena consciência disso, parte da culpa é minha.

Abro a porta em seguida, e os dois permanecem lá, com sorrisos escarnecedores nos lábios. Eu me viro em direção ao meu namorado e dou um sorriso apertado. “Já chego,” e então me inclino para deixar um rápido selinho em seus lábios.

“Fofos, fiquei inspirado.” Naruto profere, interrompendo o precioso momento pacífico entre nós dois. Tudo acontece muito rápido; sustentando o mesmo sorriso cínico, ele olha para Sasuke sem mais nem menos e o dá um selinho rápido.

Olho para Deidara. “Viu só? Não estão mentindo”, é o que o meu olhar está dizendo, mas nada sai de sua boca, ele apenas obedece ao meu pedido e faz seu caminho em direção ao quarto.

No momento seguinte, nós três estamos sozinhos outra vez. Eu observo enquanto Sasuke e Naruto passam alguns segundos trocando olhares, até que os ombros do loiro se sacudam e ele comece a rir, “Está com vergonha, chuchu?” ele questiona, e sequer espera pela resposta; seus olhos azuis me fitam, risonhos “Sasuke odeia displays públicos de afeição, eu amo”

Fecho a porta atrás de mim, “O que Deidara estava falando? Sobre você, a segurança do campus, polícia e Deus sabe mais quem.”

“Talvez você deva perguntar a ele.”

Não importa o quanto eu considere cada vez mais voltar a viver minha vida de forma pacata e recuperar o meu namoro, eles sempre vão fazer algo para atrair a minha atenção.

Há algo sobre esses dois caras que me intriga como o inferno, e eu não posso parar. Eu não posso parar porque tudo neles cheira como perigo, e estar perto deles me instiga a saber o que está acontecendo, quem são, no que me meti quando fui forçada a aceitá-los aqui, porque fizeram aquilo com Gaara, porque resolveram bater em alguém até o coma na escadaria de uma faculdade quando podiam ter feito em algum galpão, sem risco de testemunhas.

Como eu tinha destrancado a porta anteriormente, nada os impede de entrar no apartamento. E é o que fazem, sem nem mesmo esperar por minha permissão.

Eu os acompanho, mas por uma questão de precaução, não fecho a porta da frente. Fico parada ao lado da entrada, observando a decoração pessoal de Konan. Lembro que foi necessário um mutirão de quatro pessoas, sendo elas eu, Ino e Suigetsu para pintar todas as paredes.

Prometi que cuidaria do loft. Depois que Konan foi embora, ele se tornou quase um santuário para mim, e eu estou deliberadamente colocando dois demônios dentro dele.

Naruto entra no banheiro e fecha a porta, eu tento ignorar o fato de que ele provavelmente vai usá-lo e volto minha atenção a Sasuke, que está caminhando lentamente ao lado do móvel de madeira sobre o qual está uma televisão pequena. Seus dedos indicador e médio puxando uma linha escura na superfície do móvel empoeirado. “É pequeno. Muito pequeno. Eu espero que você não me insulte cobrando qualquer valor acima de cem nisso aqui.”

A investida dele não passa despercebida, e eu solto um riso insolente. “Ninguém está obrigando você a ficar aqui.”

“Você parece ter bastante certeza do que está falando, você tem?” A pergunta me leva a refletir. Talvez, de fato, ele tenha algo importante a perder e me fiscalizar dia e noite realmente o force a estar aqui. Penso em responder, mas ele desiste do tópico e fica de joelhos, a palma de sua mão cobre o início da rachadura que corta ao menos duas cerâmicas no chão, até a parede “Este prédio vai cair.”

“Espero que você e eu não estejamos aqui quando isso acontecer.”

Ele me observa sobre o ombro, um sorriso pomposo estampado em seus lábios, “Não, você não espera.”

De fato, eu gostaria que ele morresse.

Ouço o barulho abafado da descarga, e Naruto sai do banheiro ajeitando as calças, em seguida. Ele olha para mim e eu tento disfarçar o desgosto por sua indelicadeza em simplesmente agir como se estivesse em sua casa.

“Eu estava apertado.”

Reviro os olhos, pensando em como vou ser capaz de suportar tudo isso daqui para frente. Não que fossem dividir apartamento comigo, mas no momento estou tão irritada que o mesmo o fato de respirarem perto de mim me enfurece.

“O sistema de abastecimento é bom?” Sasuke questiona, ficando em pé.

Ele sai do meu campo de visão quando caminha em direção ao corredor, ouço o ruído de algumas portas e sei que está investigando os dois quartos; ele retorna, e desta vez parece interessado na cozinha, separada da sala apenas por uma meia-parede. Abrindo a geladeira, ele checa o fogão e sua mão alisa o mármore da ilha enquanto retorna alguns passos até estar em frente a um portão com grades de ferro. Além do portão, há uma outra porta de madeira por trás, e ele dá dois toques na superfície amadeirada, sem dirigir seu olhar a mim, “O que há aqui?”

Naruto não parece tão interessado em explorar quanto ele, então se joga no sofá muito à vontade, colocando uma parte de sua perna sobre os assentos. Quanta petulância.

“Uma varanda, onde você pode estender suas roupas.”

Parecendo satisfeito, ele retorna até a sala e observa o teto. “Aqui tem aquecedor?”

Eu contenho um riso, pois no que depender de mim, eles não vão estar aqui no inverno.

Farei tudo em meu poder para que saiam o mais rápido possível, e tudo que preciso é algo que eu possa usar. Teuchi não tem muitas regras aqui, para ele, o dinheiro é tudo que importa, mas existem algumas exceções, e eu pretendo usá-las.

Esses caras com certeza têm algum podre.

“Não se preocupe, vocês não vão precisar dele.”

“Por que não?”

Eu ouço sua pergunta, mas decido ignorá-la, tendo em vista que Naruto me fez um questionamento mais simples de responder. “Essa televisão liga?”

“Sim,” respondo.

“Você pode ligar?”

“Não.”

“Por que não?”

É a vez dele de ser ignorado. Eu cruzo os braços sobre o peito, suspirando, “Por que não cortamos o papo furado e discutimos o que realmente interessa?”

Sasuke se senta ao lado dele, fazendo a mesma coisa irritante com as pernas, só que ele consegue se superar, apoiando os calcanhares cruzados à frágil mesa de centro. Dois pares de coturnos sujos de lama e grama. “Quanto você está pedindo, Sakura?”

“Oitenta. Todo mês antes do dia dez.”

Ele dá de ombros, “Eu posso viver com isso.”

“Mas você mencionou que me daria o triplo quando veio aqui.”

O indício de um sorriso perverso brinca em seus lábios, “Você perdeu essa chance quando fechou a porta na minha cara, Sakura.”

No fundo, eu sabia que ele responderia isso. Mas não custa tentar sair por cima.

Suspirando, ele tira um cheque do bolso interno de sua jaqueta. Eu pisco, pensando no quão ridícula é a atitude que estou presumindo que tomará.

Quem ainda usa cheques hoje em dia?

“Você tem uma caneta?”

“Não precisa pagar agora. Eu não aceito cheques.”

Ele passa a língua pelos lábios, “Agora você aceita.”

Quem ele pensa que é para usar esse tom comigo?

“Não, enfie os seus cheques na bunda.”

Meu insulto não parece afetá-lo, ele apenas me observa com um ar sereno, “É com essa boquinha suja que você beija o seu namorado?”

Não penso duas vezes. “E ele adora.”

Prometi a mim mesma que jamais me deixaria intimidar por qualquer um dos dois, mas o que ele faz em seguida me deixa intrigada. Seus olhos escuros me perscrutam da cabeça aos pés em uma análise descarada e não tão discreta, mas quando nossos olhares se chocam outra vez, ele não diz coisa alguma, apenas coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha e empurra sua postura para frente, finalmente pisando no chão e apoiando os cotovelos aos joelhos. “Sakura, se você não aceitar o cheque, eu não vou pagar. Nem mesmo no dia dez, eu não vou pagar.”

Com a mandíbula apertada, eu sinto um calor furioso percorrer o meu corpo enquanto sou observada ininterruptamente por ambos. Eu tento me manter forte, mas eles fazem eu me sentir minúscula, impotente, como um rato de laboratório.

É como se minhas escolhas não importassem quando eles estão perto, sempre será a vontade deles sobre a minha. Eu perco a minha prerrogativa, sempre fadada a dar o braço à torcer.

“Você não se atreveria,” a frase sai entre meus dentes, e tudo que ele faz é folhear o cheque em suas mãos casualmente.

“Quer esperar até o dia dez e ver o que acontece? Tudo bem por mim,”

 Naruto apóia o queixo à palma da mão, parecendo entretido. Suas irises deslocam-se entre Sasuke e eu à medida em que espera uma resposta, e agora estão em mim.

Se eu for abrir a boca para dizer algo agora, serão apenas insultos.

“Pense um pouco sobre o quão ruim é a sua situação. Você é um besourinho preso em uma teia bem maior do que você, e está agonizando, a mercê da pena de alguém, no caso nós dois. Nós dois somos muito pacientes. Pacientes demais.” Ele arranca uma das folhas do cheque, enfiando o resto do bloco em seu bolso. “Você já está na merda e sabe disso, mas continua lutando contra o próprio destino, continua se mexendo e isso só piora a situação, porque mais fios estão grudando em você e é só uma questão de tempo até que alguém te coma.”

“Você está sendo cruel, Sasuke...” Naruto comenta, mas ele não se importa de verdade, pelo contrário.

“Mas não é só você, porque seria fácil demais se fosse. É também o seu namorado e dois dos seus amigos. Então partindo do princípio em que eu vou morar aqui queira você ou não, por que não tira proveito de meu lapso de honestidade e vai buscar uma caneta?”

Mesmo sendo muito religiosa, minha mãe sempre disse: As pessoas tendem a crer no sentido alegórico de céu e inferno, mas não é nada disso... O inferno está na terra.

Eu nunca acreditei em nenhum dos sentidos, alegórico ou não, até agora. Ela tem razão.

O inferno está aqui.

Sinto que sou capaz de derrubar as paredes quando faço meu caminho em direção a meu apartamento, eu agarro a primeira caneta que vejo pela frente e retorno, marchando. Dez projeções de cenários diferentes sobre quantos lugares no corpo dele posso enfiar esta caneta em minha cabeça, cada uma melhor do que a anterior.

“Obrigado,” ele murmura com conotação cínica ao receber o objeto, e começa a preencher as linhas do documento em mãos. Rubricando uma assinatura horrível no fim.

Com o papel entre seus dedos indicador e médio, ele aponta em minha direção. Eu puxo o papel, mas ele não o solta. “As chaves.”

Suspirando, eu tiro as chaves de Konan do bolso, ainda com os cordões coloridos que ela deixou, e o entrego. Ele solta a folha de cheque, e entrega a chave a Naruto, “Eu estou contando que essa seja a única cópia...”

Arqueio as sobrancelhas, percebendo no tom de sua voz que nem mesmo ele acredita nisso. E é óbvio que não, eu tenho uma outra cópia bem guardada. No entanto, minto, “Sim.”

“Foi incrível fazer negócios com você, Sakura.”

Depois disso, eu tomo a iniciativa de ir embora ao perceber que os dois se levantam de seus assentos.

Eu não o avisei sobre a televisão e alguns dos eletrodomésticos, – que pertencem a Konan e por isso eles não vão usá-los – pois terei tempo o bastante para tirá-los de dentro daquele apartamento em outro momento.

Antes mesmo que eu possa abrir a porta do meu próprio lugar, sinto o cheiro sufocante de scotch pairando no ar e sei que eles dois estão atrás de mim. Ouço os ruídos da fechadura, quando Naruto fecha a porta, e sinto a curiosidade aflorar novamente.

Eu me viro, “Quando vocês farão a mudança para cá?”

“Vocês quem?” Naruto responde, ainda de costas.

“Vocês dois. Quando vai ser a mudança?”

“De nós dois, pouco provável. De Sasuke, eu não sei. Quando você vai se mudar?”

Ok, eu não estou entendendo nada, mas ao mesmo tempo espero que isso não signifique o que pareceu.

Arqueio as sobrancelhas e olho para Sasuke. Ele me fita, a expressão demonstrando júbilo com a minha confusão.

“Como assim?”

Naruto força a maçaneta algumas vezes em um teste de segurança, e se vira em minha direção. “Eu moro com a fraternidade, boneca. Quem vai morar aqui é o Sasuke.”

Eu não sei o porquê de ter reagido assim, mas o impacto da surpresa me partiu em nós. Estou perdida em um misto terrível de sentimentos, no qual não sei definir se a situação é boa – afinal, me livrei de um deles – ou se eu tive azar por ter sido justamente o pior dos dois.

É como se eu houvesse sido abençoada e castigada ao mesmo tempo, em doses parecidas.

“Hum, ok.” É o que consigo articular, miseravelmente falhando em demonstrar neutralidade com a informação.

Olho em sua direção, e noto os cantos de seus lábios virados para cima; o sorriso perdido em seus olhos.

Sasuke não é assustador, mas é cruel.

Na verdade, ele é assustador também. Eu nem mesmo sei o que pensar sobre ele além do enorme desperdício que alguém com esse rosto seja uma pessoa de caráter tão dúbio e traiçoeiro. Alguém tão digno de desprezo.

O mesmo vale para seu namorado, mas ainda há algo minimamente angelical sobre Naruto e a forma como se porta, ele tem olhos claros, uma pele bronzeada e uma marcante habilidade em ser multifacetado. Seus comentários aleatórios e a forma como ele me olhou na delegacia, como se estivesse com pena de mim, eram dignos de um ator. Mas algo em mim ainda o considerava ‘o menos pior’.

Sasuke não, não há um pingo de pureza sobre seu comportamento, ele não tenta disfarçar, seus olhares de pena são diminutivos, ele é capaz de sugar a minha força interior ou qualquer resquício de coragem apenas me olhando do jeito certo, e eu mal o conheço. Seus olhos são tão escuros que parece estar usando lentes o tempo todo, e eu ainda não consegui distinguir o que está desenhado no lado esquerdo de seu pescoço, pois sempre há cabelo na frente.

Na verdade, a única coisa que me garante que não são dois sociopatas é o fato de que a faculdade submete todos os alunos a um teste de avaliação psicológica. Um comprovante assinado por um médico capacitado é requerido a todos os alunos para completar o ato da matrícula, então de fato o meu único consolo é saber com certeza que não estou lidando com nada parecido.

Sem perceber, eu anuo ao ter esses pensamentos; os dois trocam olhares rápidos, mas logo voltam suas atenções a mim.

“Eu vou me mudar no fim de semana.” Ele responde, e eu faço que sim com a cabeça, chegando à conclusão de que tenho um dia para tirar os eletrodomésticos e alguns dos objetos de Konan de lá antes que ele encha o loft com suas tralhas pessoais.

Eu não posso me submeter a testemunhar nada disso, então definitivamente viajarei no sábado com Ino e Suigetsu. Ele pode se mudar, isso não significa que eu precise estar presente. Ele já tem a chave, afinal.

“Mm,” limpo a garganta, “não estarei aqui.”

Ele não parece surpreso, apenas emite uma breve risada nasalada antes de partir junto com seu amigo.

“Nos vemos na segunda.”

Posso adiar o fim de semana, mas não a segunda. Assim como adiei o meu estado de letargia ao máximo que pude, eu quis que tudo continuasse normal após algo tão chocante, eu quis achar que ainda estava segura mesmo após o que vi, quis continuar desfrutando da minha autonomia, sem ameaças. Mas nada disso é possível, e eu estou acordada agora. Eles sabem, eu sei.

Definitivamente nos veremos na segunda.

 

 


Notas Finais


Naruto e Sasuke se beijaram no canon, eu quis fazer uma homenagem aqui porque pra mim é a cena mais engraçada da história do anime, bajhsjagshjskajsa.
Eu só quero dizer a vocês que a Sakura não vai ser uma vítima pra sempre. Ainda tem muita água pra rolar, o momento dela vai chegar.

Até a próxima, gente.


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