História Read - Green II

Atenção. 

Substantivo feminino. Concentração mental sobre algo específico. Dedicação; expressão de cuidado. Tendência natural para ouvir alguém.

Sejamos mais específicos hoje. O sentido que gostaria de destacar para a palavra em negrito será a capacidade de concentrar sua mente em determinada coisa. Dar sua atenção total a algo diz respeito a deixar todo o resto se quebrar ao seu redor, por simplesmente não ter sua atenção naquele momento.  

É como se o nosso cérebro selecionasse a coisa mais importante para você em determinada situação extrema e apenas se importasse com aquilo. Mantendo seus instintos, reflexos e pensamentos voltados apenas para isso. 

Novamente, não estou aqui para fazer nenhuma pergunta retórica, estou aqui para falar delas. Falar de como podemos ter duas pessoas no mesmo espaço, situação, tensão e cada uma manter sua concentração e atenção em coisas totalmente diferentes. Em como alguém pode se encantar com tão pouco.  

Assim como ela. 

O carro de linha limitada da jornalista atravessou um arco de madeira com alguns dizeres grafados, mas que passaram despercebidos pelos olhos castanhos da escritora, que mantinha sua atenção voltada para a paisagem que as cercava. 

A densidade da vegetação ao redor começava a dar espaço para uma região mais aberta. O caminho estreito de terra transformando-se em um caminho de pedras. Os olhos de Tiffany rapidamente se abriram em surpresa ao ver, ao longe, um grande lago com água em tom verde claro e mais ao lado uma grande casa de madeira. 

— Que lugar é esse? — seu tom surpreso fez a jornalista sorrir. Tiffany estava encantada com o que via, ela nunca tivera visto águas naquela cor ou estivera em um lugar como aquele. 

— Estamos em um parque ecológico. — respondeu guiando seu carro para o estacionamento do lugar. — Eu costumava vir aqui com meus pais e minha irmã mais nova quando era criança. — estacionou o carro e encarou a escritora. — Aquele lago, durante todo o ano, possui as águas azuis quase transparentes, exceto por um único mês na primavera, o primeiro mês. — Tiffany acabara de ligar os pontos. Elas estavam no primeiro mês de primavera e, no fundo do seu peito, queria gritar um obrigado enorme apenas por poder ter aquela imagem tão incomum sob suas vistas. 

— Podemos ir? — perguntou apressada, apontando com sua cabeça para fora do carro. A jornalista assentiu, trocando os óculos de sol em seu rosto por seus óculos de grau tão charmosos no conceito de Tiffany.  

Ambas desceram do carro, Taeyeon abriu a porta do banco traseiro e pegou uma pequena mochila, colocando-a sobre seu ombro e acionando o alarme do automóvel. 

— Taeyeon. — a escritora chamou depois de caminharem alguns passos em direção a grande casa de madeira escura.  

— Sim? — empurrou seus óculos com o dedo mindinho pelo centro da armação e a encarou. 

— O que nós vamos fazer? — a pitada de empolgação e curiosidade enfeitando sua voz dava a Taeyeon uma sensação confortável no peito.

— Eu não tinha coragem de fazer uma coisa nesse lugar quando era criança e me arrependia amargamente por nunca ter tentado. — confessou e fez um sinal de um segundo enquanto se aproximava do balcão no salão de entrada da casa e estendia sua mochila sobre o mesmo, tirando de lá uma câmera profissional e uma pequena liga para prender seus cabelos. — Obrigada. — agradeceu a simpática senhora do outro lado que guardou sua bolsa em um dos compartimentos. 

A jornalista virou-se para Tiffany, estendendo a liga em sua direção.

— Vai precisar. — a escritora agradeceu com um sorriso e Taeyeon indicou a saída com a cabeça. — Então... Eu decidi compartilhar esse momento com você, ter essa sensação nova e com cheiro de infância com você. — elas entraram em uma pequena trilha com uma placa que, novamente, Tiffany não fez questão de ler. 

— Do que se trata? — insistiu e a jornalista abriu um sorriso grande olhando para cima. Os olhos de Tiffany seguiram a direção dos de Taeyeon e um sorriso surpreso brotou em seu rosto enquanto ela analisava o circuito suspenso em grandes e fortes árvores. — Arvorismo. — seus olhos acompanharam duas crianças que se aventuravam no circuito até que estivessem na penúltima plataforma.

— Você já fez? — Tiffany negou com a cabeça. — Tem medo? — negou novamente. — Eu tinha medo de não ser forte o bastante para chegar no fim, por isso nunca fui. — confessou. 

Taeyeon tocou o ombro de Tiffany, obtendo sua atenção. A jornalista indicou a escada que as levariam para a primeira plataforma, onde um rapaz colocaria todos os equipamentos. 

Tiffany prendeu seu cabelo com a liga que Taeyeon lhe deu e a seguiu, subindo as escadas de madeira logo atrás da jornalista. Quando chegou à primeira plataforma, Taeyeon já colocava seu equipamento com o auxílio do funcionário do lugar. A jornalista, depois de devidamente equipada, esperou para que Tiffany estivesse pronta para começarem o percurso. 

— Você não tem mais medo, certo? — a escritora perguntou aproximando-se de Taeyeon que encarava a ponte de madeira, sem apoios nas laterais, que ligavam a primeira plataforma à segunda.  

— Um pouco. — disse sincera e respirou fundo.  

— Eu vou estar bem atrás de você. — Taeyeon encarou a altura em que estavam, o percurso tinha variações de alturas até a última plataforma, o que a deixava um pouco nervosa. Em seguida, encarou Tiffany e assentiu, virando-se para iniciarem o trajeto. 

Os primeiros passos na ponte foram tranquilos, mas no centro da mesma, onde não havia tanto apoio para a sequência de peças de madeira, a mesma começou a tremer e Taeyeon travou por alguns segundos. 

— Um passo de cada vez. — a voz rouca de Tiffany logo atrás de si sussurrou. — Você está indo bem, vamos lá. — encorajou-a e Taeyeon assentiu, seguindo as instruções. 

Quando colocaram os pés na segunda plataforma o grunhido animado de Taeyeon fez Tiffany sorrir tão largo quanto podia.  

— É tão emocionante. — bateu palminhas e encarou a escritora com uma cara interrogativa. Tiffany assentiu e a empurrou pelos ombros para que continuasse. 

Ligando a segunda à terceira plataforma havia um percurso de pneus, com duas cordas de apoio nas laterais. A travessia foi tranquila, logo dando espaço ao que ligava a terceira à quarta. 

Uma rede de cordas, inclinada para cima, as levaria à plataforma mais alta do percurso, servindo como uma escada até a mesma.

Os braços de Taeyeon não eram tão fortes, mas suas pernas firmes compensavam. Decidiram que Tiffany só subiria quando Taeyeon já estivesse no alto, para não atrapalharem uma a outra. E assim foi feito. Os olhos da escritora não fugiram de Taeyeon um só segundo até que ela estivesse de pé na próxima plataforma. 

Estendeu seus braços para cima, encaixando seus tênis em espaços na rede e escalando a mesma. Ao chegar no topo, Tiffany teve uma visão que gostaria de gravar em sua mente para sempre. 

A jornalista acabara de tirar a câmera profissional do seu rosto e reposicionava, de forma desajeitada, seus óculos apoiados em seu nariz. O sorriso gigantesco iluminando seu rosto enquanto seus olhos davam total atenção às flores que desabrochavam no topo das majestosas árvores. Mas Tiffany não conseguia desviar seu olhar da imagem da jornalista. 

Fios de cabelo rebeldes soltos do coque, óculos tortos no rosto e aquele sorriso que fazia Tiffany se sentir bem por estar ali dividindo esse momento com ela. Aproximou-se silenciosamente, esticando uma de suas mãos até o rosto de Taeyeon e arrumando o par de óculos, atraindo, por fim, a atenção da jornalista. 

— Não é lindo? — murmurou ainda admirada encarando os olhos de Tiffany rapidamente. 

— Unhum... — sussurrou sem desviar sua atenção.  

— Você pode tirar algumas fotos minhas? — esticou a câmera para Tiffany que se afastou um pouco, seguindo as instruções da jornalista.  

Taeyeon tomou a máquina em suas mãos novamente e Tiffany deixou-se admirar a visão que a natureza lhe proporcionava. Aproveitando do descuido da escritora, Taeyeon fotografou-a com a finalidade de guardar aquela sensação em sua mente por muito tempo.  

As duas continuaram o trajeto até que estivessem na última plataforma, retirando seus equipamentos e descendo as escadas, voltando pela mesma trilha em que chegaram ao local. 

— Obrigada por dividir comigo. — agradeceu surpreendendo a jornalista. — Eu nunca tinha feito nada parecido e a sensação de pertencer ao amontoado de árvores, folhas e flores é tão boa. — suspirou fundo. 

— Isso é o que eu chamo de verde, Tiffany. — ficou de frente para a escritora, andando de costas e abrindo os braços. — Pertencer a um lugar como esse, ver mais do que a maioria das pessoas se importa. — Tiffany sorriu com as palavras certas da jornalista. De fato elas estavam sendo verdes naquele dia, sendo parte daquilo, realizando desejos e dividindo sensações tão boas e deixadas de lado pelo tempo. 

Tiffany esticou sua mão, segurando a direita de Taeyeon e fazendo as duas pararem de andar. 

— Obrigada por dividir comigo. — repetiu e os olhos castanhos cobertos pelas lentes analisaram seu rosto com cuidado.  

— Nós ainda não terminamos... — a escritora deu de ombros, aproximando-se um pouco mais e cedendo ao extinto de gratidão em seu peito, envolvendo a cintura de Taeyeon em um abraço apertado e cheio de agradecimentos. 

— A questão não é essa no fim das contas, não é? — indagou ao se separarem e Taeyeon concordou.   

— A questão é trazer de volta algo que nunca deveríamos ter abandonado, ou perdido... — deixou a frase no ar. — Você me permite, de coração, ajuda-la a recuperar seu tempo perdido? 

— Nós já somos verdes. — arriscou e Taeyeon soltou uma gargalhada, compreendendo o que Tiffany queria dizer sem que ela precisasse explicar. Afinal, era uma de suas habilidades, compreender além do que dizem. 

Era óbvio para Taeyeon que ela deixara, assim como era óbvio a necessidade dos seres humanos de oxigênio para sobreviver. Algo explícito para Taeyeon, e apenas para ela.