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História Realidade Paralela - Amigos.


Escrita por: _Mag

Capítulo 10 - Amigos.


Era como viver uma linda estória de amor e morrer no final sem ouvir o “felizes para sempre”. Chorei, gritei e implorei para estar preso em outra alucinação, o amava tanto que chegava a romper a barreira da sanidade, mesmo que fosse um amor idealizado era àquele sentimento que me apegava e lutava contra a loucura. Porém, mergulhava cada vez mais fundo, perdendo os sentidos a cada centímetro que afundava no mar da inconsciência, os enfermeiros tentaram me segurar, mas cai no chão rezando para existir um buraco ali.

Estava sem forças e minha cabeça latejava de dor, eram muitas informações em pouco tempo, muitos sentimentos embaralhados e a dúvida do porquê tanta coisa estar acontecendo comigo. Nunca fui um cara ruim, muito menos fiz mal a alguém, só que aquilo parecia castigo de tão doloroso, uma forma de punição, talvez de outra vida em que fui o vilão. Não que eu acreditasse em vidas passadas, mas eram tantas coincidências – infelizes – que chegava a duvidar de estar pagando por algo que cometi há muito tempo.

Dois enfermeiros me arrastaram até o quarto, parecia um corpo vazio, a casca abandonada pela borboleta ao sofrer a metamorfose, apenas um fragmento do homem que eu fui um dia. Estava dócil, domesticado, voltando para o quarto sem reclamar ou reagir, nem ao menos tinha voz ou força para tentar escapar e ir atrás dele, porque  não sabia quem BaekHyun era e tinha medo de descobrir. Voltei para o quarto e SuHo estava me esperando na porta, quando ele passou por mim eu não sei, mas seus olhos aflitos estavam lá me observando.

Abri a boca algumas vezes tentando chamá-lo, mas minha garganta estava tão seca que minha voz não saiu, então desesperado estiquei o braço tentando tocá-lo em um pedido mudo por ajuda. Ele balançou a cabeça como se dissesse “não”, não teria sua ajuda naquele momento e teria que lidar comigo mesmo sozinho, os enfermeiros me colocaram sentado na cama e obedeci prontamente, não iria bancar o rebelde. Seria somente eu e as paredes brancas, se assim que os dois grandalhões saíssem meu médico não entrasse no quarto.

Eu queria amaldiçoá-lo por ser tão lindo, ele fechou a porta e caminhou lentamente até mim, como se travasse uma guerra mentalmente para determinar o que falaria primeiro. Pelo jeito ele escolheu não dizer nada, apenas me encarou, buscando uma resposta para tudo aquilo, e como também não me mexi ele se aproximou ainda mais, tocando em meu rosto. Gelei com o toque, mas não permiti que percebesse, estava apenas me examinando, pois logo colocou aquela luz no meu olho, mediu minha pressão e ouviu meus batimentos cardíacos.

- Está acelerado por sua causa. – Disse sem pensar, minha voz estava tão baixa que se ele não estivesse tão perto jamais ouviria.

- Me desculpe por estar fora quando você mais precisava. – Ele respondeu calmo, guardando os objetos em uma maleta que não percebi antes. – O Doutor Kim já me contou tudo que aconteceu nos últimos dias.

Acabei levantando a cabeça, limitava olhar para as minhas mãos trêmulas que mantinha sobre as pernas, vi uma sinceridade absurda em seu semblante preocupado. Milhões de possibilidades se passaram por minha mente naquele instante, se ele era meu médico por que continuava sentindo uma estranha ligação entre nós? Por que a cena do acidente se repetia e eu via seu rosto antes de apagar? Ele era ou não era irmão da minha noiva? Onde YunHa estava? Tantas perguntas que temi surtar novamente, manter a calma era o meu foco principal.

Fechei os olhos, me deixava nervoso olhá-lo tão de perto, não poderia pensar ou dizer qualquer coisa racionalmente, agiria por impulso e seguiria meus instintos controlados pelo cheiro do perfume marcante que ele usava. O importante não era mais a minha vida antes de entrar ali, mas sim tudo que aconteceu durante os três anos de internação, do que vivi sendo acompanhado por ele. A resposta estava no tempo em que ele ficou ao meu lado e eu criei a estória de uma vida inteira em minha mente.

- Quem é você? – Perguntei, mas ainda mantendo os olhos fechados. – Não quero saber se é meu médico ou não, quero saber se é irmão da YunHa. – Ditei firme enquanto minhas mãos tremiam.

Senti ele suspirar, pois sua respiração chegou fraca até minha bochecha. Ele se sentou ao meu lado e ficou em silêncio por alguns minutos antes de responder.

- Eu não sou. – Disse por fim, levando suas mãos até as minhas, tentando controlar a tremedeira que passou a dominar o meu corpo.

Mentira.

Agora eu tinha a confirmação que era tudo mentira, era um tolo que em meio à loucura se apaixonou pelo próprio médico, para escapar da vida real e se prender a um conto de fadas moderno, sem príncipes e princesas, mas com seres humanos que também são capazes de sonhar. Novamente comecei a chorar, acho que estava criando uma forma de defesa com minhas lágrimas, pois sempre recorria a elas quando estava perdido e com medo. Tinha medo de não voltar ao normal, de cair na alucinação de novo, medo de decepcionar meus pais que pareciam felizes ao me verem melhor depois de anos, medo de parecer um idiota espalhando para todos que meu médico era meu amante.

Sendo que ele não era nada.

BaekHyun só estava fazendo seu trabalho, mas ao sentir seu toque um sentimento de amargura me dominou e acabei afastando dele. Se éramos apenas paciente e médico, porque ele insistia em estar perto? Em mostrar que estava preocupado comigo? Em algum momento deveria ter confundido seus cuidados com amor, deveria ter me apegado a algum sentimento para criar a paixão devastadora que sentia. Precisava lembrar do acidente e de como tudo começou, só assim acalmaria meu coração e quem sabe poderia sair dali, ser livre da inconsciência e principalmente ser livre dele.

- Então a YunHa não me atropelou? – Resolvi tocar na última lembrança que guardava, finalmente abrindo os olhos, mas sem encará-lo.

- Não. – Confirmou o que eu desconfiava. – Mas aconteceu um acidente, foi ele que te trouxe até aqui.

Assenti, então precisava lembrar do acidente verdadeiro e quem sabe os outros acontecimentos viessem à tona.

- O que eu tenho? – Mesmo que fossem termos médicos que eu jamais entenderia, precisava descobrir pelo menos o nome daquela doença que me incapacitava de pensar racionalmente.

Porém, ele ficou calado e depois se levantou. Acabei levantando também, precisava encará-lo ou me mostraria fraco, estava cansado de ser a vítima e se tudo não foi real era inútil evitar uma aproximação, BaekHyun me via apenas como um paciente entre tantos. Mas novamente fui fraco, abracei meu corpo trêmulo porque doía demais poder vê-lo e não acariciar suas bochechas, tocar seus lábios com os meus, apertá-lo com força e fazer juras de amor com ele em meus braços. Mesmo que parecesse ridículo para um homem, o amava e não conseguiria negar, também o desejava porque até em uma situação como aquela queria ouvir sua voz rouca gemendo meu nome.

Eu deveria ser um tipo de masoquista, machucava cada segundo ali ao seu lado, mas queria aproveitar como se fosse o último. Era ele durante a madrugada, tinha certeza e seu perfume só confirmava isso, seu cheiro estava impregnado em mim, seus traços tão bonitos eram os mesmos, por algum motivo bizarro ele estava no jardim tão tarde da noite.

- Me responda... Doutor. – Disse irônico, ainda me sentindo traído.

- Seu caso é comum e raro ao mesmo tempo na psiquiatria. – Ele começou, encostando-se na porta. – Estava fora justamente por isso, fui ver um paciente que tem um quadro muito parecido com o seu. – Explicou o motivo de estar fora quando eu acordei. – Eu estava em Londres visitando esse paciente e também fui a um encontro com vários psiquiatras renomados, buscando alguma forma de te entender, Chanyeol.

- O que descobriu? – Tentei me manter indiferente, mas por dentro ansiava saber mais.

- Você foi internado com transtorno de estresse pós-traumático, não comia, não falava, estava apático a absolutamente tudo, durante a noite tinha pesadelos terríveis quando conseguia dormir... – Apenas balancei a cabeça concordando, apesar de não me lembrar de nada. – Quando foi internado após recuperar-se da anemia, se comportava da mesma forma nos primeiros dias, recusava a ajuda dos enfermeiros.

Sua narração confirmava o que SuHo disse anteriormente, sem os termos médicos, é claro. Cada vez mais tudo fazia sentido, precisava saber a verdade desde o começo, não entendia tanto mistério para algo tão simples, deveria ser pela minha reação ao me deparar com BaekHyun. Não foi fácil, ainda estava digerindo aquele BaekHyun novo à minha frente, mas iria sobreviver sem ele.

Ou não.

- Sendo assim, eu mesmo passei a cuidar de você. – Revelou. No mesmo instante vi um misto de dor e cansaço em seu rosto, como se ele estivesse se lembrando de tudo enquanto me explicava. – Como um milagre você passou a comer, começou a reagir como se ganhasse vida novamente, mas ao mesmo tempo em que melhorava fisicamente passou a se esquecer do acidente e os pesadelos acabaram.

- Foi a música. – Acabei dizendo sem pensar. – A música que sempre ouvia em meus sonhos... E que você cantava para eu dormir até ontem.

Ele pareceu surpreso ao ver que me recordava da noite passada, acabou sem palavras ao ser descoberto por mim. Talvez ele achasse que eu ficaria louco para sempre, não sendo capaz de lembrar, mas sua voz suave ditando uma melodia tão linda ecoava pela minha mente como uma forma de redenção.

- Dias depois você falou com SuHo pela primeira vez, sobre o irmão da sua noiva. – Suspirou, mas continuou a falar ignorando o que eu disse anteriormente sobre a música. – Eu esperava você falar para começarmos com a terapia cognitivo-comportamental, mas você apresentou um quadro de alucinação e se prendeu a ele como forma de escapar de tudo que estava vivendo.

- Até alguns dias atrás... – Respondi fraco, sentando na cama tentando entender tudo que ele me disse. – Até alguns dias atrás ainda estava preso em uma alucinação.

Aconteceu um acidente, não sabia se ele estava envolvido ou se era outro delírio, mas via seu rosto enquanto tudo se tingia de vermelho. Era o ponto em que tudo se cruzava, mas tentando buscar as memórias em minha mente sentia uma dor desesperadora, como se a cada respiração estivesse mais próximo de reviver o que me trouxe até ali, o que provocou um trauma tão grande a ponto de me tornar um morto-vivo e ser internado. Depois do acidente e da internação me apeguei a outra realidade, tão distante da que realmente vivia, para escapar do trauma ou o que quer que fosse, mas que me deixou completamente apaixonado por BaekHyun.

Pensando bem, ele deveria se sentir culpado, por ter cuidado com tanta dedicação um paciente como os outros, foi ele quem me salvou e o quem condenou a ficar preso em eu mesmo. Talvez se JoonMyun fosse responsável por mim nos primeiros dias, eu não teria desenvolvido um quadro tão grave de alucinação, ou poderia ter me apaixonado pelo meu enfermeiro ao invés do médico, aparentemente me apeguei ao primeiro que cuidou de mim. Não existia nada em especial, poderia ter sido qualquer um, afinal tudo não passava de um delírio.

- O rapaz que eu visitei também passou por um trauma, foi internado com o mesmo diagnóstico que o seu. – BaekHyun voltou a falar, medindo as palavras para que eu entendesse. – Semanas depois ele desenvolveu um quadro afetivo com sua psiquiatra, achando que ela era sua mãe.

Pelo menos ele teve o destino melhor que o meu, em sua alucinação ele não transava com o próprio médico.

- Ele perdeu a mãe. – Revelou. - Saiu para trabalhar e a casa onde morava pegou fogo, ela não sobreviveu. – Disse e aquilo me deixou com uma sensação ruim. – Conversei com vários profissionais da área, todos concordam que ele lembrar-se de como tudo aconteceu e quem era sua mãe verdadeira, talvez o aconteça uma regressão do quadro.

- Então eu preciso me lembrar... – Disse baixinho, tentando refletir sobre tudo que descobri nos últimos dias.

- Sim, mas de tudo. – Ele suspirou mais uma vez, pegando a maleta que estava no chão. – São muitas informações, tente descansar e peça para o Suho te levar ao meu consultório depois de comer alguma coisa.

- Eu não estou com fome. – Respondi, igual a uma criança que não ganha o que quer.

- Quer que eu mesmo lhe dê de comer? – Perguntou divertido, quando ele sorria suas bochechas coravam minimamente, um tom sutil de rosa, mas ele ficava lindo.

- Cai fora! – Retruquei emburrado, me deitando e virando para a parede, me sentia um idiota perto dele.

 

 

Antes que ele saísse prendi a respiração, soltando apenas ao ouvir a porta se fechar. Desnecessário dizer que foi em vão, ele se foi e seu cheiro ficou ali, para lembrar que de qualquer forma BaekHyun me deixava anestesiado, tanto que repousei minha cabeça no travesseiro, permitindo que meu corpo relaxasse. Ele não era irmão da minha noiva, não era meu amante e somente fazia seu trabalho, eu provavelmente deveria ser um caso difícil, pois reparando em cada detalhe vi uma leve macha embaixo de seus olhos.

Quantas noites ele passou em claro por minha causa? Quantas viagens ele fez buscando uma resposta para a minha alucinação? No começo senti traído por ele não ser absolutamente nada meu, nem sequer uma memória, mas vê-lo tão dedicado em ajudar amorteceu a minha queda até a realidade. A dor que sentia aos poucos foi se amenizando, até não sobrar mais nada, porque me mantinha preso a ideia que estava tudo bem, que iria lembrar e me recuperar, sorrindo no final pela vida dar tantas voltas.

Era apenas mais uma volta, que estava sendo longa demais e que teria seu fim de uma vez por todas. Tentei não pensar no que aconteceu e me render ao sono, meus pulsos estavam marcados pela brutalidade que fui segurado. Eu deveria ter exagerado quando vi BaekHyun, aliás, deveria não... Exagerei. Porém, por hora renderia ao cansaço que finalmente me arrebatou, sem memórias dolorosas ou motivos para chorar novamente.

-

Acordei horas depois, mas o sol ainda brilhava lá fora. Pela janela observei por alguns minutos o garoto frágil que LuHan aparentava ser, enxergava claramente traços de tristeza em seu olhar, que se iluminavam quando SeHun estava perto. Acabei invejando o sentimento bonito entre os dois, querendo sentir e viver na mesma intensidade que eles, sem as amarras invisíveis de algo que sequer compreendia. Não fiquei sozinho por muito tempo, logo meu enfermeiro entrou trazendo o almoço, pela altura do sol deveria ter passado do horário de comer, mas como sempre eu era bem tratado naquele lugar branco e frio.

SuHo fez as perguntas de sempre, indagou se eu estava me sentindo melhor e também quis saber sobre a conversa com BaekHyun, disse o básico porque não queria prolongar aquele assunto e ele respeitou minha vontade de ficar calado. Para me distrair acabou contando um pouco de quando era apenas um estudante de enfermagem, das dificuldades que passou e do maior presente que recebeu da vida; sua esposa. Ele era casado há quase um ano, me mostrou uma foto da felizarda e ela era realmente bonita, tinha os cabelos longos e um sorriso brilhante.

- Ela tem sorte. – Disse sincero, depois de quase lamber o prato de sopa.

- Eu é que tenho. – Ele respondeu ainda admirando a foto. – TaeYeon é uma mulher incrível, já pensei em apresentá-los.

Larguei a tigela vazia e encarei seu rosto divertido, sem saber se ele estava falando a verdade ou não. Que tipo de marido apresenta um louco para a esposa? Vendo minha careta de dúvida, continuou a falar.

- Sempre comento sobre os pacientes, principalmente de você. – Revelou. Senti importante para ele falar sobre mim, me achando uma celebridade do hospício. – Acho que ela gostaria de ter um filho igual a você, ainda mais porque você parece uma criança de cinco anos.

- Aish! – Bufei irritado, dando um soco de leve em seu braço. – Eu não tenho cinco anos! Tenho apenas uma personalidade única. – Mostrei a língua para ele em um gesto infantil.

Audacioso da parte dele dizer que eu era infantil, claro que tudo tinha um propósito para conseguir o que queria, ele mesmo disse que a comida do hospital tinha melhorado por minha causa. Poderia ser considerado um revolucionário se estudassem sobre a minha vida dali uns anos, seria conhecido como “Park ChanYeol, o invencível”, ou algo assim.

- Antes você disse que a comida melhorou porque eu pedi, como assim? – Acabei ficando curioso.

- Ah, você pediu para o Doutor Byun quando aceitou comer pela primeira vez. – Disse pensativo. – Só ele cuidava de você, dia e noite, sem descanso. – Confessou e aquilo mexeu mais comigo do que deveria. – Lembro que nos meus turnos da noite sempre o encontrava dormindo em uma cadeira ao seu lado.

Depois daquelas palavras não consegui dizer mais nada, mesmo que SuHo tentasse chamar minha atenção para outro assunto, meus pensamentos voltavam para a imagem do médico cuidando com tanto afinco sendo que eu era só mais um paciente. Meu coração voltou a se apertar, de repente vi uma necessidade enorme de vê-lo, buscando saber mais sobre os três anos que passei ali, ansiando por cada detalhe com a esperança de encontrar neles algo concreto.

Algo que confirmasse que ele também me amava.

Se existisse – mesmo que pouco – a possibilidade dele sentir algo, iria tentar de tudo para descobrir, voltei a perguntar para SuHo e a cada frase que ele dizia minhas esperanças só aumentavam. “BaekHyun se preocupa comigo”, pensei enquanto ouvia sobre as primeiras semanas da minha internação, além de zelar pelo meu sono e me alimentar, meu médico também me levava para tomar sol e passava um tempo comigo esperando pela mínima reação que fosse. Antes de eu ser internado contratavam os psiquiatras que realizam suas consultas semanalmente, BaekHyun era o único que visitava o hospital quase todos os dias, só por minha causa.

Então o diretor do hospital resolveu ter dois médicos fixos, ele e o – insuportável – Doutor Chen, responsável por mim somente quando BaekHyun estava fora. Fiquei tão animado que pedi para tomar banho mais cedo, lavando e me vestindo sozinho dessa vez, tirei o gosto amargo de remédio da boca, penteie meus cabelos e fiquei mais apresentável, de repente quis ficar bonito e arrumado. Iria me consultar depois que tomasse banho, como tinha adiantado poderia ir assim que Suho me autorizasse e como esperado ele autorizou.

Segui sozinho pelos corredores porque o enfermeiro precisava medicar outros pacientes, não era difícil chegar até a sala, ainda mais com a placa com o nome “Byun BaekHyun – Psiquiatra” pregada na porta para qualquer um ver. Vacilei antes de bater, talvez ele estivesse me esperando em outro horário e só iria atrapalhá-lo, não queria incomodar mais depois de saber de todo esforço que ele fazia para ajudar. Tinha medo de me tornar um paciente que só dava dor de cabeça, isso se já não fosse um.

Porém, assim que me aproximei da porta vi que ela estava aberta, apenas uma pequena fresta, mas estava. Em seguida ouvi vozes exaltadas e reconhecia os donos delas, aparentemente eles discutiam, porque vez ou outra um tentava controlar o que iria dizer, em vão, porque acabei ouvindo boa parte da conversa.

- “Você enlouqueceu!” – A primeira voz ditou firme. – “Aceite a proposta de trabalhar na Inglaterra, é a chance da sua vida!” – Chen exclamou. – “Quantas oportunidades você perdeu, ein?”

- “Minha vida é aqui, meu trabalho é aqui.” – A outra voz rebateu. – “Não vejo motivos para me mudar, não agora. Ele ainda...”

- “Pare de pensar nele!” – Chen voltou a falar alto. – “Vou continuar o tratamento, tenho certeza que em breve ele estará livre daqui.” – A sala ficou em silêncio por alguns minutos antes dele continuar. – “Você é um dos maiores psiquiatras do país, acha que vale a pena se prender a um único caso? Por favor, é a sua carreira que está em jogo, BaekHyun.”

Dei um passo para trás, assustado com tudo que estava ouvindo e me sentindo cada vez pior.

- “Falta pouco para ele se lembrar de tudo.” – BaekHyun tentou argumentar. – “Ainda sou novo, irão surgir novas oportunidades...”

- “Até quando? E se ele não melhorar?” – Estranhamente o “ele” parecia se encaixar completamente no meu caso. – “Ele perdeu a noiva, amou tanto essa mulher que depositou todo esse amor em você! Quando ele lembrar você irá ser apenas o médico!” – Chen gritou e eu já não pensava mais racionalmente. – “São três anos presos ao hospital, três anos preso ao Park Chanyeol!”

Não suportei ouvir mais nenhuma palavra.

YunHa estava morta.

Era por esse motivo que não conseguia sentir ódio dela, mesmo quando achava que ela era a causa do meu atropelamento. A menina tão doce e delicada não poderia ser a vilã, tanto que evitei pensar nela como uma pessoa ruim nos últimos dias, estava cego por BaekHyun e ignorei a existência da pessoa mais gentil que conheci em toda minha vida. Agora YunHa estava morta, não poderia pedir perdão por traí-la em pensamento, por ser egoísta e acabar manchando sua imagem em meio a um delírio.

Eu realmente era louco por amá-la ao ponto de criar alguém como ela, o homem que eu tanto desprezava deveria estar certo, o que eu sentia por BaekHyun não passava do reflexo do que senti por YunHa um dia. Me senti miserável e aliviado ao mesmo tempo, também o libertaria da minha insanidade, era errado envolvê-lo em minhas dores, usando sua imagem para buscar conforto.

Desisti de falar com BaekHyun, na verdade não existia mais nada para conversar, me esforçaria ao máximo para lembrar de tudo e deixá-lo em paz. Fraco como eu era, limitei a correr de volta para o quarto, acabei chamando a atenção de alguns enfermeiros que logo vieram atrás de mim, mas como sempre fui rápido consegui voltar ao dormitório antes que me alcançassem. Porém, meu corpo travou ao ver que o corredor estava movimentado demais, algumas pessoas estavam ali e não eram internos, eles eram visitantes e estavam em frente ao meu quarto.

- Kris... – Disse fraco ao encarar o rapaz de cabelos dourados.

Não sei como fui capaz de pronunciar um nome, ou melhor, não sabia como lembrei do seu nome, mas estava certo. Ele me olhou e sorriu, reconheceria aquele sorriso mesmo que milhões de anos se passassem e eu ficasse ainda mais louco, além dele os rostos dos outros três homens que o acompanhavam me eram muito familiar. Atravessei a distância que nos separava o mais rápido possível, e o loiro – Kris – me recebeu de braços abertos, apertando o mais forte que conseguia.

Eles iriam me tirar daquele lugar, eu estava salvo perto deles. Me reconhecia em meio ao abraço, também reconhecia as lágrimas que aparentemente o mais novo entre eles começou a derramar, como uma cascata de desespero, e principalmente sabia que era parte de tudo que estava acontecendo.

Afinal, eu estava com meus amigos.

Por um segundo esqueci quem era BaekHyun e me senti melhor.



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