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História Realidade Paralela - Loucura.


Escrita por: _Mag

Notas do Autor


A parte em itálico no meio da fic é uma lembrança.
Estavam ansiosos? Pois eu estava. Notinhas no final do capítulo (inédito).
Boa leitura!

Capítulo 11 - Loucura.


Poderia um abraço desvirar uma vida que estava de cabeça para baixo? Poderiam as lágrimas e os sorrisos de felicidade dos meus amigos mudarem absolutamente tudo que vivi até então? Reconhecia cada rosto, reconhecia cada traço da amizade, ou melhor, da irmandade esquecida em meio à loucura de estar preso em eu mesmo, e principalmente sabia quem eles eram e o que significavam em minha vida. É absurdo até mesmo para alguém em plena consciência julgar e entender o que aconteceu naquele corredor gelado, fora uma fração de segundos tão mínima como a que separa a vida e a morte, ou no meu caso que separava a escuridão da luz.

Era possível deixar aquele lugar mais rápido do que imaginava.

A ideia de estar caminhando para a verdade chegava a ser assustadora, mesmo que já entendesse praticamente todos os acontecimentos que me levaram à internação em um hospital psiquiátrico, minha mente estava doente. Agora entendia que perder minha noiva foi o mesmo que perder minha alma, mesmo que já não lembrasse dela com tanto amor e devoção como antes, outro fato que eu também saberia explicar após ouvir tudo que Chen disse ao meu médico.

Via em BaekHyun o que deixei para trás, o amor que sentia e a estória que deixei de viver. Em uma atitude desesperada transferi o sentimento que nutria por YunHa para ele, depositando também meus sonhos e idealizações, por isso o enxergava com extrema devoção, talvez inconscientemente agradecendo por ele ter se preocupado comigo durante os três anos que se passaram. Mesmo que doesse perdê-lo, me agarrei à realidade que me abraçava e dizia que tudo teria seu fim em breve, sentia isso de uma maneira quase febril, pois suava frio ainda preso ao abraço com Kris.

- Chanyeol... – ouvi alguém me chamar, reconhecendo rapidamente a voz de Lay. - Lembra-se do Kris? – sua voz vacilou ao fazer a pergunta.

Afrouxei o abraço e encarei meu melhor amigo que me olhava com o rosto molhado devido ao choro, estava tão absorto em meus pensamentos que não notei que ele chorava. Sorri para acalmá-lo e virei para olhar e matar a saudade daqueles que eram muito importantes para mim. Tao chorava a ponto de engasgar com o próprio choro, assim que me soltei de Kris corri para ampará-lo, murmurei algumas palavras em seu ouvido e logo o choro era substituído por uma risada infantil, disse a ele que grandes pandas não choravam. Em seguida abracei XiuMin, que apenas não se encontrava pior que os outros porque em situações como aquelas ele ativava um mecanismo estranho de defesa, travava e não dizia uma palavra sequer.

Eles não entendiam nenhuma das minhas atitudes, quando soltei de XiuMin e encarei o rosto sereno de Zhang Yixing, que ainda ansiava por uma resposta, percebi que estavam confusos demais para demonstrar que realmente estavam felizes pela minha recuperação. Eu não era o único que sofri por três anos, talvez fosse o menos prejudicado ao longo do tempo, pois alheio a tudo e a todos fui feliz acreditando que BaekHyun era minha alma gêmea, enquanto meus amigos me visitavam sendo que não eram reconhecidos por mim. Os dias internado no hospital ainda eram vagos, mas com certeza deveria ser difícil visitar um amigo que não reconhecia seus rostos e a amizade que os trazia ali, então ele voltou a perguntar.

- Responda, por favor... – se aproximou incerto. – Lembra-se de todos nós?

Sorri e balancei a cabeça, afirmando.

-

“O vento balançava as copas das árvores e trazia uma sensação gostosa contra meu rosto, ao contrário dos demais pedalava tranquilamente, sem pressa de terminar a trilha que nos levaria até a cachoeira. Ao meu lado YunHa ria da disputa ridícula entre meus amigos, que quase se matavam para ver quem chegaria mais rápido ao nosso destino. Era mais um fim de semana agradável, Kris e eu acabávamos de sair de uma semana maçante de provas e só queríamos aproveitar o dia ao lado das pessoas que mais amávamos. Nossa amizade iniciada no primeiro dia de aula do curso se mostrava cada vez mais forte com o passar do tempo, ele era um grande amigo e ficou muito contente quando anunciei meu namoro com YunHa, ao contrário de XiuMin que tinha esperanças de eu ser gay e acompanhá-lo nas intermináveis festas que ele gostava de frequentar com o pessoal da publicidade.

Ele, Kris, Tao e eu cursávamos Direito, enquanto o namorado do meu melhor amigo tinha terminando a faculdade de Gastronomia, Lay era responsável pela preparação do cardápio das nossas reuniões, se não fosse por ele comeríamos o macarrão instantâneo que Tao achava que sabia preparar. Estava no último ano do curso, meu namoro estava sólido e logo estaria trabalhando ao lado de meu pai, um excelente advogado, honesto como poucos eram e meu modelo a ser seguido. Os únicos que continuariam com a rotina de estudantes seriam Tao e MinSeok, mas eles não se importavam muito, pois eu ainda daria carona para os dois e os levaria para comer bobagem em algum fast food.

Amava minha família, meus amigos e minha futura esposa.

- Você aceita? – perguntei para YunHa enquanto tentava alcançar sua mão, diminuindo o ritmo da corrida de bicicleta.

- O que? – retornou com outra pergunta, esticando o braço o máximo que conseguia, até nossos dedos se entrelaçarem.

- Aceita se casar comigo? – murmurei tão baixo que ela só entenderia se fizesse leitura labial, mas meu sorriso demonstrava claramente o meu pedido.

Seu rosto se iluminou no instante seguinte, o sol batia fraco contra suas feições delicadas, chegamos em seguida até a cachoeira, o que deixava a cena ainda mais bonita. Olhei minimamente para o lado e vi Tao sendo jogado pelos outros três direto na água, minha namorada sorriu e achei que era pela peça pregada no mais novo, mas estava enganado, aquele sorriso era a confirmação do meu pedido.

Naquele dia ela se tornou minha noiva e Tao ficou gripado, a água estava gelada.”

-

- Eu... – iria dizer mais alguma coisa quando a lembrança do pedido de casamento nublou meus sentidos, ao mesmo tempo em que meus pais e BaekHyun entraram em meu campo de visão.

- Querido, você se lembra de seus amigos? Está curado?  – minha mãe perguntou surpresa, observando todos nós como se fosse impossível me lembrar de quem eles eram. – Eu vi você afirmando...

 Ela não me deu tempo de responder, começou a chorar e puxar meu pai pelo braço, incrédula por me ver ali de pé tratando Kris e os outros como velhos amigos. Por quanto tempo ela não sonhava em ver o filho recuperado? Mas ao contrário do que imaginei, não consegui respondê-la, quem também me encarava surpreso era BaekHyun, como se uma resposta afirmativa fosse o fim de nós. “Não, você não pode pensar dessa forma”, me recriminei em pensamentos, que espécie de masoquista eu era? Mesmo disposto a esquecê-lo ainda vacilava quando estávamos perto? Se eu contasse a verdade talvez meus últimos dias internado passariam a ser contados, começaria a terapia e antes do que imaginava me veria livre daquele hospital.

E de BaekHyun.         

Porém, era o que eu queria, não era? Minutos atrás não via a hora daquele pesadelo acabar, e agora que minhas memórias estavam voltando mentiria para meus pais? Justo para eles que sofreram pela minha recuperação? Kris não era nenhum idiota, segurou em meu braço antes que eu fizesse uma besteira, antes que mentisse e colocasse tudo a perder. O que ele e nem ninguém entendia era meu coração quase pulando do peito, como se pedisse para eu continuar cego, negando que BaekHyun era apenas um delírio.

Dizem que o amor é cego, eu não queria enxergar nada além de BaekHyun naquele momento.

- Responda sua mãe, perdeu o respeito por acaso? – ela se debatia nos braços do meu pai, chorando compulsivamente.

- Omma, fique calma. – quebrei a distância que nos separava e fui ampará-la. – Estou confuso, mas me lembro um pouco deles. – menti, parcialmente. – Por favor, tente se acalmar.

Ela olhou profundamente e depois me deu um leve tapa no braço, mas visivelmente mais calma. Ri sem graça e cumprimentei meu pai, que estava feliz por me ver longe de uma cama e com a aparência mais saudável do que antes. Ele me explicou que tinham falado com os médicos e estavam esperançosos quanto a minha recuperação, mas não esperavam que seria tão rápido, temiam que fosse apenas uma crise como das outras vezes, então garanti que me sentia melhor e que não deixaria me levar por delírios. Claro que em parte era uma indireta para BaekHyun que permanecia calado, apenas respondendo algumas perguntas da minha mãe, entre elas se eu iria sair dali em breve.

Não consegui falar mais nada com meus amigos, minha mãe monopolizou o tempo para visitas, mimando e dizendo que meu quarto estava exatamente como deixei, e que ela mesma havia cuidado para que nada saísse do lugar com o tempo. Fui levado de volta para o quarto, como se pudesse quebrar a qualquer instante, mas não reclamei, era bom ficar perto dos meus pais, afinal carinho de pai e mãe era diferente, era puro e único. Conversei muito pouco com Kris, ele contou que estava morando com Lay e vi o moreno corar por causa da novidade, XiuMin quis se aparecer e disse que estava namorando e Tao me surpreendeu ao dizer que finalmente estava fazendo as aulas de luta que tanto desejou.

Ouvia tudo atentamente, para me distrair e tentar recuperar o tempo perdido, apenas conversamos sobre o presente, sem mais perguntas sobre minha recuperação ou algo que me fizessem lembrar de YunHa. Eles sabiam o que me fazia bem ou não, a dosagem certa para arrancar algumas risadas e me deixar mais confortável para falar com eles, como se não houvesse um intervalo de tempo entre nossas vidas, mostrando que eu era o velho ChanYeol de sempre e que a amizade não acabaria por causa de um delírio ou outro.

Quando o tempo estava acabando pedi para ficar a sós com Kris, minha mãe achou estranho no começo, mas acabou concordando e avisou que na próxima visita iria trazer algo bem gostoso para comer, me animei só com o pensamento. Meu pai disse que traria um livro, que agora eu precisaria me distrair até receber alta, estavam crentes que em breve eu estaria cem por cento recuperado, não diminuí o otimismo deles, afirmando pela enésima vez que estava revigorado.

Despedi também de Tao, MinSeok e Lay, depois Kris contaria para eles sobre nossa conversa, achei melhor que ficasse apenas ele no quarto para que não houvesse nenhuma desconfiança dos médicos, para os outros me lembrava apenas vagamente dos meus amigos. Precisava ganhar tempo para entender a ligação entre BaekHyun e eu, para isso mais alguns dias internado seriam valiosos.

- Você mentiu. – Kris afirmou, seu tom de voz passando bem longe de uma pergunta. – Espero que me diga o motivo.

Estava sentado na cama, então me levantei e fui até ele, tentando quebrar o clima tenso que se instalou no quarto, não estava mentindo para prejudicar ninguém.

- Não fiz por mal. – respondi sincero. – Não tive outra escolha.

- Há quanto tempo? Há quantas visitas finge que não nos conhece? – indagou amargurado, Kris tinha entendido tudo de forma errada.

- Eu não fingi anteriormente! – controlei-me para não gritar. – Foi depois que acordei, você sabe que passei seis dias desacordado, foi como acordar em outro corpo, vivendo uma outra vida. – pausei. – Vi você em uma lembrança depois disso, mas não sabia quem era.

- Quando soube? – relaxou, bagunçando meus cabelos como sempre fazia antes.

- Minutos atrás, quando vi você, Lay e os outros. – expliquei. – As memórias voltaram como se nunca tivessem sido apagadas, poderia dizer seu livro favorito logo depois que nos abraçamos.

- E qual é? – indagou divertido, como se estivesse me testando.

- A saga Crepúsculo. – respondi quase caindo na gargalhada.

Ele riu e alegou que realmente não poderia ser uma farsa, eu era o único que sabia daquilo, era seu motivo de maior vergonha e nem Yixing desconfiava que o namorado guardava em um compartimento secreto o box para colecionador da saga. Quando ele veio até mim achei que receberia um soco por rir dele, mas ganhei outro abraço apertado e muito mais aflito que o primeiro. Kris temia me perder novamente, sentia o mesmo medo que ele, que com certeza aguentou tudo sozinho desde que fui internado, sempre sendo o alicerce da nossa amizade quase nada escapava de suas mãos, mas mesmo assim fui tirado dele, que simplesmente não pode fazer nada.

O amava como o irmão que nunca tive, um irmão mais velho devido a sua experiência e sensatez, Lay poderia ser considerado o cunhado mala e indispensável, e Tao e XiuMin os irmãos caçulas que só aprontavam. Os considerava como parte da minha família, sentir a angústia de Kris naquele abraço mostrou o quanto estava sendo egoísta por não dizer de uma vez que lembrava de tudo. Porém, só precisava de mais algum tempo para descobrir se BaekHyun sentiu ou ainda sentia algo por mim, da mesma forma que eu sabia que meu amor por ele não era uma ilusão, não era por perder YunHa.

- Por que não disse na frente do médico que se lembrava? – eu sabia que ele iria perguntar aquilo, já estava preparado para contar a verdade. – Realmente se apaixonou por ele? Quando viemos te visitar nas outras vezes, você só falava do doutor Byun e não nos reconhecia, durante três anos...

- Então você sabe que me apaixonei. – suspirei cansado, desfazendo o abraço e o encarando seriamente, precisava da ajuda dele. – Ouvi uma conversa entre ele e o doutor Chen, sobre uma transferência para a Inglaterra. – contei, levando uma das mãos até a nuca, não sabia como pedir algo sem maiores explicações. – Precisa me ajudar, tenho que impedi-lo.

Kris permaneceu calado por alguns minutos, buscando a resposta mais sensata para o meu caso, se estava confuso para mim, para ele deveria ser quase impossível me ajudar.

- Yeollie... – quando ele me tratava por esse nome, sabia que o assunto era delicado. – Conversei com vários especialistas sobre o seu caso, BaekHyun é um dos melhores do país, mesmo sendo tão jovem. Ele explicou que seus delírios por ele são baseados no que você sentia por YunHa.

Ri fraco, era o que todos estavam tentando me convencer, mas algo me dizia que não era verdade, até poderia estar traumatizado e ter aquela doença com nome complicado e tudo mais, entretanto o que  sentia quando via BaekHyun não era o mesmo de quando YunHa ainda era viva. Todas as memórias do nosso namoro, do primeiro beijo e até do pedido de casamento estavam frescas em minha mente, sentia até o perfume adocicado dela se fechasse os olhos, mas era totalmente diferente do que BaekHyun provocava em mim.

Iria provar que era correspondido por ele.

- Não lembro como YunHa morreu, mas é uma questão de tempo até eu lembrar. – garanti. – Se depois disso eu ainda afirmar que o amo, irá me ajudar?

- Há uma semana jurava que nunca mais iria ter uma conversa com você, agora está aqui comigo como se nada tivesse acontecido e ainda me pede ajuda para conquistar um cara. – suspirou. – Acho que fui eu quem enlouqueceu... Tem certeza do que sente? Não te faz bem ficar perto dele, seria melhor mudar de psiquiatra, sempre afirmei isso.

- Tenho certeza. – me mantive firme. – E se não concordava por que mudou de ideia depois?

Minha pergunta se não o pegou de surpresa, fez algo em seu semblante mudar, vi que Kris vacilou antes de responder, como se o fizesse lembrar de tempos difíceis, algo que ele desejasse esquecer a todo custo.

- Porque eu fui o primeiro a vê-lo depois que YunHa morreu, você parecia estar morto, assim como ela. – sua voz não passava de um sussurro triste. – Era apenas um fragmento do ChanYeol alegre que eu conhecia, dias depois você foi internado e continuou da mesma maneira.

- Me desculpe. – pedi, seu sofrimento chegava a ser palpável.

- Pode estar confuso agora, mas você a amava muito. – disse e tinha razão. – Por semanas você não passou de uma casca vazia, mas em uma visita quando não me reconhecia mais estava sorridente como antes.

Assenti para que ele continuasse.

- BaekHyun estava na sala conosco, e você brilhava mais que o sol em um dia de verão. – voltou a sorrir com a lembrança. – Até mesmo conversou comigo, perguntando quem eu era e porque estava ali, eu inventei uma desculpa e como uma criança você caiu na minha conversa e pude finalmente lhe reconhecer, mesmo que pouco.

E então nosso tempo acabou.

SuHo entrou na sala avisando, me despedi de Kris e pedi para ficar um pouco sozinho. O enfermeiro até tentou arrancar alguma palavra minha, mas permaneci em silêncio e ele soube respeitar o meu espaço. Senti vontade de rir quando os vi juntos, um era reflexo do outro, enquanto Wu Fan era meu amigo fora do hospital, SuHo era o amigo que eu criei ali dentro, se tornando muito especial em minha vida. Sentiria sua falta quando deixasse os dias de internação, não via tudo como algo ruim, pelo menos eu tinha ele, o hiperativo do Kai, SeHun e seu adorável LuHan, como se eu construísse outro mundo naquele lugar e fizesse dos meus dias e dos dias deles algo melhor.

Claro que ele retornou horas depois, quando o céu ameaçava chorar enquanto se tingia de azul escuro, era reconfortante observar o mundo pela janela do quarto branco, a cada dia que se passava e me mantinha consciente de meus atos era uma vitória a mais, era um pedaço de ilusão que ficava para trás. Não choveu naquele início de noite, o que agradeci após terminar de comer, gostava de ficar olhando as estrelas enquanto SuHo falava sobre outros pacientes. Acabei perguntando sobre Kai, não o tinha visto o dia inteiro, ele tinha se trancado no quarto pelo que o enfermeiro contou, alegando que queria ver apenas o responsável por ele; KyungSoo.

Em meio a tanta tristeza e olhares vazios, ainda poderia existir amor entre as paredes de um lugar abandonado pela vida, porque não existia vida ali, era apenas a sombra do que um dia foram homens honrados e mães de família, todos tomados por algo que eu julgava ser inexplicável, a loucura. Porém, mesmo assim existia amor, eu o via no cuidado que SuHo tratava seus pacientes e me contava estórias para dormir, na troca de olhares entre SeHun e LuHan e nas pequenas discussões que Kai e KyungSoo sempre se envolviam.

Torci para que esse mesmo amor pudesse tocar o coração de certo médico.

E não imaginei que o veria logo pela manhã do dia seguinte.

Era sábado e o dia amanheceu mais claro do que esperava, afinal alguns nuvens anunciavam chuva ao entardecer, se antes não queria que chovesse, agora agradeceria se o céu se desmanchasse em lágrimas. Uma vez quando era pequeno, minha mãe disse que a chuva eram as lágrimas dos anjos, no fundo queria acreditar naquilo até hoje, porque era muito mais bonito do que ser apenas o vapor da água que subiu até as nuvens. Mas nada era como eu queria ou planejava, dessa forma assim que abri os olhos me deparei com BaekHyun encostado na porta, me encarando seriamente.

- Bom dia.  – disse e apenas retribui a saudação. – Ontem por causa de seus pais e seus amigos não conseguimos conversar como eu gostaria.

- Eu não sinto dor. – respondi infantilmente, como se eu precisasse sentir alguma coisa física para me consultar com um psiquiatra. – E não queira saber como eu gostaria de conversar. – provoquei, mas sem realmente soar malicioso.

BaekHyun ficou sem graça e eu comemorei internamente por deixá-lo desconfortável.

- Nós vamos sair. – apontou para uma pilha de roupas sobre a cama. – Volto em quinze minutos.

Bufei irritado, mas assim que ele me deixou sozinho levantei quase em um pulo, verificando as roupas e notando que elas serviam perfeitamente em mim. Não entendi direito o que ele queria, então troquei de roupa o mais rápido possível, se era alguma espécie de terapia fora daquele lugar acharia ótimo. Primeiro porque seria bom ver algo além dos muros que cercavam o hospital, segundo que estaríamos a sós e não via a hora de poder tirar a prova. Iria provar que era correspondido por aquele médico pomposo.

Ele voltou como prometido, sem o jaleco e o semblante sério de médico. Usava uma calça jeans justa demais para o seu próprio bem estar físico e uma camisa social cinza, já eu usava uma blusa listrada e uma calça também jeans com uma lavagem mais escura, me sentindo simples, mas bonito. Antes de deixarmos o hospital fui até o banheiro, lavei meu rosto, escovei os dentes e penteei meu cabelo como pude, os fios estavam compridos demais.

- Para onde vamos? Estou morrendo de fome, sabia? – era cedo e não deu tempo de tomar café, muito menos tomei um daqueles remédios coloridos que me davam.

- Vou te levar para comer em algum lugar, não se preocupe. – avisou enquanto eu o seguia até o estacionamento, ele tinha mania de ignorar o que eu falava.

- Está me levando para um encontro?

Certo, precisava provocá-lo mais vezes, porque mesmo sem querer ele corava e voltava a ignorar minhas investidas. Talvez fosse coisa de médico, BaekHyun parecia ser do tipo certinho, enquanto eu fazia mais o cara louco que gostava de quebrar regras. Bom, eu era louco afinal.

- Hm, gostaria de comer torta de morango. – comentei quando entramos em seu carro, um modelo caro pelo pouco que entendia de automóveis, nunca fui muito chegado em carros ou motos. – Belo carro. – elogiei mesmo assim.

- Não é elogiando meu carro que irá ganhar a tal torta. – alertou divertido, parecia que aos poucos se sentia mais a vontade para conversar comigo.

Deixamos o hospital que ficava afastado do centro, percebi que existia uma segurança reforçada na saída do estacionamento e no portão principal quando passamos por ele, como aqueles hospitais famosos por abrigar criminosos enlouquecidos após serem pegos por seus crimes. Caso eu fosse um deles, meu único crime era amar o homem que dirigia atentamente pelas ruas de Seul.

- Está pensativo, por acaso estaria buscando a melhor maneira de me dizer que mentiu? – acusou, ele deveria ser muito bom ao analisar as pessoas.

- Se sabe que menti, não tenho razão para te contar. – afundei no banco, incomodado com a sua indagação.

- Reconheceu seus amigos ontem durante a visita, não iria me contar? É importante manter um diálogo cordial entre nós. – suspirou. – Eu quero te ajudar, ChanYeol.

O médico bondoso querendo ajudar seu paciente, clássico. O problema é que não queria sua ajuda, muito menos que ele sentisse pena do meu estado, queria mesmo é arrancar um beijo daqueles lábios tão convidativos. Para isso precisava de um tempo a mais naquele hospital, precisava que ele não fosse embora para Londres e me deixasse, estava a sós com ele e oportunidade não bateria outra vez à minha porta.

- Se está planejando me agarrar, desista. Tenho spray de pimenta dentro do carro. – comentou casualmente enquanto virava para direita e estacionava em frente a uma padaria.

O encarei indignado, desde quando psiquiatras são videntes? A faculdade que ele frequentou deveria ser a melhor do país, até linguagem corporal era capaz de fazer, ou talvez eu fosse muito óbvio. Nada do que dizia ou fazia parecia atingi-lo, como se estivesse acostumado com as minhas investidas, desejei profundamente me lembrar de tudo para descobrir no mínimo um ponto fraco naquela parede de gelo, mas por enquanto teria que comer muita torta de morango para conseguir arrancar alguma confissão dele.

- Acabou atendendo meu pedido. – vangloriei ao sentar na confortável cadeira da padaria, que mais parecia um café já que havia algumas mesas para os clientes que desejam experimentar seus doces ali mesmo.

- Não custa nada atender um pedido de alguém morto de fome. – disse, menos desdenhoso do que gostaria de parecer. – Do que se lembra exatamente?

- Dos meus amigos, de quem eles são e de tudo que passamos juntos. – dei de ombros, também não custava nada respondê-lo. – Mas eu não me lembro da morte de YunHa, muito menos dos anos em que passei internado.

Ele assentiu, como se anotasse mentalmente tudo que eu falava para poder analisar depois.

Pedi a torta de morango que tanto ansiava e para minha surpresa ele pediu o mesmo, o lugar era bonito e agradável, em tons fracos de rosa e marrom, igual a uma casinha de bonecas. As senhoras saiam carregando sacos com pães doces ou salgados, e algumas crianças encaravam os bolos e tortas com os rostinhos transbordando em expectativa. Eu parecia uma delas, há três anos não deveria comer algo tão bom quanto a torta que logo chegou até meu prato, ignorei a pergunta de BaekHyun e me concentrei no doce, surpreso ao lembrar que era o doce favorito de YunHa

- Na verdade te trouxe aqui para conhecer uma pessoa. – BaekHyun confessou, mas eu estava absorto demais para prestar atenção em suas palavras.

Em algum momento ele se levantou, eu ainda encarava a torta que reluzia no prato.  Estranhamente aquele lugar pareceu familiar, como se já tivesse sentado naquela mesa anos atrás e pedido o mesmo sabor de torta. Vi que um rapaz entrou no recinto no mesmo instante e ficou parado ao lado de BaekHyun, esperando alguma reação minha, que não veio. O vermelho da cobertura cintilante de morango parecia sangue.

- Quero que conheça YongHo. – o médico voltou a falar. – O irmão verdadeiro de YunHa.

Estagnei, juro que por um segundo meu sangue parou de circular, impedindo qualquer movimento, não sabia se era por ver o verdadeiro irmão de YunHa e constatar até que ponto cheguei para BaekHyun ter alguma importância em minha vida, criando um personagem para ele baseado naquele rapaz que sequer conhecia, ou paralisei pelo vermelho sangue da torta ser o mesmo vermelho do sangue de YunHa sobre o asfalto molhado na noite do acidente, ou ainda se meu desespero era por ter reconhecido a padaria em que estava, que visitei anos atrás quando ainda era um estudante de Direito.

Acompanhado de BaekHyun.    

Até mesmo o morango mais doce, derreteria como fel em minha boca ao perceber que existia um mundo desconhecido entre a realidade e a loucura.

Naquele momento, preferi a loucura.


Notas Finais


YAY, finalmente!
Sentiram minha falta? Porque estou morta de saudades.
Claro que sou má e irei deixar vocês com esse BOOM.
Aos poucos as postagens irão se normalizar, estou me referindo a Sky também! Postarei um aviso no Nyah comentando tudo, inclusive a minha mudança para o AS! Espero reconhecer todo mundo aqui nos comentários, não me abandonem!
Beijos e até o próximo capítulo.
P.S: Esse não é o penúltimo.


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