1. Spirit Fanfics >
  2. Realidade Paralela >
  3. Empate.

História Realidade Paralela - Empate.


Escrita por: _Mag

Notas do Autor


Oi, olha eu aqui!
PRIMEIRAMENTE: Muito obrigada. Foram 45 comentários e isso é um record, creio eu. e_e'
Mais uma vez a irresponsável aqui não conseguiu responder todo mundo, mas depois de postar o capítulo irei voltar lá e tirar as dúvidas, ok? Ok.
Enfim, boa leitura e me desculpem pelos erros, acabei de terminar o capítulo.

Capítulo 13 - Empate.


BaekHyun correspondeu.

Tão apaixonadamente que me deixou sem fôlego.

O sangue que corria em minhas veias não era mais o mesmo, era feito de alguma substância anestésica, talvez a mesma da composição de todos os meus sonhos. Não existia mais desespero, urgência ou até mesmo força, era apenas um roçar suave de lábios, como se nos reconhecêssemos através do toque. Seus pés estavam firmes no chão, mesmo que ás vezes ele ficasse na ponta deles, em uma atitude quase infantil de tentar alcançar meus lábios. Ele me permitiu acariciar sua bochecha, provar a pele de seu pescoço com alguns beijos e enlaçar sua cintura de forma possessiva. Foram apenas alguns minutos de entrega que duraram até que BaekHyun recobrasse a consciência.

Não me afastou abruptamente, chegou a surpreender com sua sutileza, tão distinta da fúria com que me atacou instantes atrás. Seus olhos se abriram lentamente, brilhavam em cores diferentes, talvez devido ao misto de sentimentos que o dominava, algo que só o deixava mais bonito. Encarou-me e não consegui decifrar o que seu olhar queria transmitir, mas se fosse para descrever diria que ele estava assustado com as próprias atitudes.

Internamente desejei que não se arrependesse do que fez.

Eu estava extasiado, controlando a vontade de sorrir ao mesmo tempo em que controlava a vontade de beijá-lo novamente, mas mantive o pouco de autocontrole que me restava, afastando alguns passos para trás ou o asfixiaria com a explosão de sentimentos dentro do meu peito. Fiz o certo, assim que uma boa distância nos separou ele suspirou pesadamente, passou a mão pelo cabelo macio – pude constatar ao tocá-lo – e depois no queixo, por cima da barba inexistente.

- Senhor Park, por favor volte para o seu quarto. – pediu ao recobrar os sentidos, se virando para a parede em uma tentativa ridícula de fugir do meu julgamento.

Ele estava escolhendo o caminho mais difícil.

- Vai fingir que nada aconteceu? – indaguei, mas não obtive resposta. – Mesmo que tente, não irá mudar o fato de que nos beijamos. – pausei. – Ou melhor, você me beijou.

- Não irei repetir... – Voltou a ficar firme, sentando-se em sua cadeira confortável e encarando os papéis em cima da mesa, sem realmente prestar atenção a eles.

Ri. Aquele teatro de médico indiferente não me convencia mais, iria sair antes do último ato. Sem aplaudir.

- Você não era tão covarde, da última vez você lutou por nós. – disse tranquilamente, controlando a vontade de provar ali mesmo o quanto ele me desejava, muito além de alguns beijos.

- Do que... – começou, mas o interrompi antes que dissesse algo.

- Aqui. – apontei para minha cabeça. – Pelo menos em um delírio você teve coragem de assumir o que sentia.

Ele me olhou profundamente, como se esperasse ouvir algo diferente, vi seus ombros relaxarem de uma tensão que não tinha percebido antes. Aquilo me incomodou, mas a decepção de não conseguir uma confissão de sua parte não permitiu que eu entendesse aquele gesto, ou seu olhar quase doloroso, ou ainda percebesse que durante o beijo existisse algo que passou desapercebido por mim.

Sem esperar por uma resposta, deixei sua sala.

-

Os corredores estranhamente me guiavam, dias atrás não poderia caminhar por eles sem me perder, era uma infinidade de salas e solidão. Mas depois de tudo que aconteceu era impossível não reconhecer aquele lugar cinzento, como se em uma parte da minha mente dosasse as memórias que ainda não passavam de um objetivo a se alcançar. Pouco a pouco me moldava à vida real, tudo ganhava forma, cor e até mesmo aroma, pois logo senti o cheiro da comida servida no refeitório, sabendo exatamente que direção seguir. Fiz o mesmo caminho inúmeras vezes, estava gravado de alguma forma, então em poucos minutos me encontrava em frente à imensa porta de vidro, observando alguns pacientes.

O lugar estava lotado, as mesas ocupavam boa parte do salão amplo e iluminado, os enfermeiros auxiliavam os pacientes, alguns precisavam de ajuda para se sentar e comer, outros se negavam a tomar os remédios antes da refeição. Minha boca ficou seca ao lembrar-me da quantidade de comprimidos que ingeria antes da comida, mesmo que não me negasse a tomá-los. Olhando diretamente para alguns internos, conseguiria dizer exatamente quem eles eram, não me assustei por lembrar naturalmente da rotina do hospital. Durante o “passeio” BaekHyun contou que o tratamento iria acontecer de forma progressiva, mas de uma maneira natural, para que eu acostumasse com os hábitos de uma pessoa mentalmente saudável aos poucos.

- Senhor Park, o que faz parado aí? – uma voz suave perguntou, o que me fez abandonar os pensamentos e me concentrar na pequena figura que aguardava uma resposta.

- Estava esperando por você. – disse, o que estranhamente não era uma mentira.

A enfermeira sorriu, indicando que eu poderia segurar em seu braço para entrarmos juntos no refeitório.

- O enfermeiro Kim está de folga, me permite a honra de acompanhá-lo durante a refeição? – perguntou rindo, claro que aceitaria sua companhia.

Balancei a cabeça positivamente, ela me indicou uma das mesas com lugares vagos, em cada banco sentavam cinco pacientes. Sentei e aguardei a enfermeira voltar com a bandeja, vi que estavam servido arroz, um tipo de carne e vegetais cozidos, não sentia muita fome, mas jamais recusaria alimento.

Acenei para ela enquanto aguardava o meu prato.

Sunny era uma mulher jovem, usava o cabelo curto com os fios descoloridos. Além de SuHo e KyungSoo ela também era responsável por mim quando um ou outro estava ausente. Como toda mulher era cuidadosa, me tratava com muito carinho, e a sensação de reconhecer seu rosto e o que sua imagem significava em minha vida, me deixou mais disposto após o desentendimento com BaekHyun.  Ela era mais uma parte de tudo que construí ali dentro.

- Você nos deu um baita susto nos últimos dias. – ela comentou quando eu já almoçava, afinal não tinha a encontrado anteriormente. – Mas conversei com o Doutor Byun ontem mesmo, e ele disse que você está cada vez melhor.

- Senti sua falta. – revelei, o que arrancou outro sorriso dela. – Sim, foi um pouco estranho no começo, mas estou me acostumando com a vida “real”. – admiti.

- Hm, eu gostava do ChanYeol louquinho. – provocou. – Mas fazia tempo que o verdadeiro ChanYeol não nos fazia uma visita.

- Ele veio para ficar desta vez. – afirmei, completamente seguro de que iria me curar.

- Eu sei, meu anjo. – respondeu de forma carinhosa. – Agora almoce logo, porque o Jongin está vindo e sabe que ele adora roubar seu arroz. – alertou, o que me fez parar de falar instantaneamente.

Kai realmente chegou logo depois, gesticulava e falava animado sobre várias coisas, ele parecia mais feliz que o normal – se é que existisse algo normal nele – e distribuía mais sorrisos que político durante a época das eleições. Era impossível não ser contagiado pela felicidade dele, acabei mais rindo do que almoçando, os outros pacientes olhavam curiosos ele se mexer tanto na mesa, e muitos acabavam rindo também, mesmo sem ter motivo.

- Hyung, como dois homens fazem sexo? – perguntou de repente, quase fazendo com que eu cuspisse a gelatina em minha boca.

- Jongin! – KyungSoo repreendeu o garoto instantaneamente, corando mais do que deveria.

Sunny abafou o riso, só não saberia dizer se era pela pergunta do mais novo ou por causa da minha cara de desespero.

- Não é algo que se possa explicar. – respondi incerto, rezando para que ele se calasse.

Não que eu fosse algum tipo de puritano, mas estávamos almoçando. E comida é sagrada.

- Mas Hyung, não pode usar os legumes do meu prato para mostrar? – voltou a insistir infantilmente, recebendo outro olhar felino por parte do enfermeiro de olhos expressivos.

- Er... O que te faz achar que eu entendo disso? – acabei perguntando.

Ele olhou para os enfermeiros, depois para os outros pacientes da mesa, até se inclinar o suficiente para que só eu ouvisse o que ele tinha a dizer.

- Você já fez com o Doutor BaekHyun! – sussurrou.

- Por que está dizendo isso? – retornei com outra pergunta. Ah, claro... Eu deveria delirar e contar aquele tipo de coisa para ele.

- Porque você me disse! – respondeu. – Vocês se encontraram em uma boate, depois tiveram a melhor fod...

- Fica quieto! – coloquei a mão em sua boca, o puxando para longe da mesa. E os enfermeiros nem ao menos impediram.

Quando estávamos mais afastados, voltei a respirar normalmente e ele ajeitava a camiseta que ficou amassada. Meu coração só faltava pular da boca, imaginei as coisas que dizia para todos naquele hospital, temendo ter dito algo parecido aos meus pais. Bom, se mamãe soubesse que eu gostava de foder psiquiatras, eu seria um cara morto.

Louco e morto. Ótimo.

- Eu disse mesmo? Com detalhes? – não custava perguntar. – Foi só para você ou foi para outras pessoas?

- Disse, mas os detalhes você só contou para o SuHo hyung... – murmurou emburrado. – E no total você contou para o SeHun e o LuHan consequentemente ouviu também. Acho que só. – concluiu sorridente.

Patético, eu deveria repetir minhas insanidades para quem quisesse ouvir!

- Você sabe que eu estava delirando, não é verdade o que te contei. – suspirei, afinal Kai sofria de transtorno bipolar, não era para ele acreditar em meus delírios.

Porém, para a minha surpresa ele sorriu.

- É verdade. – Kai segurou em minha mão. – Eu vi em seus olhos que é verdade.

Paralisei devido à sensibilidade dele, não era o garoto imaturo e sonhador que estava ali, mas sim um amigo sincero. Acabei o puxando para um abraço, rindo de sua inocência sutil, era confortável abraçá-lo e meu sorriso aumentou quando vi KyungSoo se morder de ciúmes um pouco afastado de nós. Aquele abraço era um obrigado mudo, mesmo com seus problemas Kai se preocupava comigo, estava dizendo que parte do meu delírio era verdade apenas para me ver melhor, ele acabou conseguindo afinal. Não voltei a negar, deixaria que ele se sentisse útil.

E pela primeira vez me senti completamente bem naquele lugar, até mesmo acolhido e seguro. Não encarava mais o hospital como um pesadelo, era apenas uma fase da minha vida que no final teria um saldo positivo. Os amigos que fiz ali contribuíam muito para que isso acontecesse, certo médico se agisse menos pela razão também poderia ter uma parcela maior, mas mesmo que não tivesse eu estava bem comigo mesmo. Talvez até por isso os dias passaram rapidamente, como se fechasse os olhos por poucos minutos e acordasse em plena terça-feira.

SuHo estava de volta, contei algumas coisas para ele, como por exemplo o encontro com YongHo e o beijo trocado com BaekHyun, o mais estranho é que ele não ficou tão surpreso, apenas fez um discurso sobre responsabilidade. Confesso que ouvi animado seu sermão sobre ética e tudo mais, não prestei muita atenção em suas palavras, gostava de observar seu semblante sério e seus gestos. Era a projeção perfeita do que criei para ele em minha mente, não me decepcionei com meus amigos do hospital, eles eram melhores do que eu poderia criar.

- Fico fora por alguns dias e tudo fica de cabeça para baixo! – disse derrotado no fim do discurso. – Que isso não saia desse quarto, já pensou se outras pessoas ficam sabendo que você tem um caso com o próprio médico?

- É, seria complicado. – analisei. – Mas da parte de ter um caso com aquele par de coxas delicioso eu gostei!

Recebi um olhar atravessado quando saímos do quarto, eu receberia a visita dos meus pais e se tivesse sorte dos meus amigos também. Fui levado até o jardim, o hospital estava mais movimentado por causa do dia de visitação, reparei que o lugar se enchia de esperança naqueles dias previamente marcados no calendário. As famílias visitavam seus parentes em busca de uma melhora, mas mesmo que ela não viesse eu via nos rostos de pais, esposas, maridos e filhos algo comum e que não se repara muito quando temos uma vida agitada.

Cuidado.

- Olhe, ali está a família do LuHan. – o enfermeiro indicou, o garoto mais doce do hospital estava sentando enquanto recebia os afagos de sua mãe.

No fim de semana ele e SeHun viajaram até a praia com suas famílias, que acabaram aceitando a relação dos dois com o tempo. Fiquei sabendo de mais detalhes quando eles voltaram no domingo, LuHan estava mais corado e falante, descreveu com perfeição o mar e assegurou que não se sentiu ameaçado em nenhum momento. O passeio fez muito bem a ele, e SeHun só faltava pular de alegria com a melhora do namorado, ou melhor, todos no hospital estavam comemorando mais um passo dado em seu tratamento. Fora impossível não me lembrar das palavras de BaekHyun sobre o casal, se amavam tanto que o amor deles chegava a fazer parte do ar.

Suspirei, era bom ter aquela sensação. Porém percebi que Kai não estava ali, sua família o abandonara anos atrás e ele não costumava receber muitas visitas, seus pais eram de uma família influente e não gostavam de expor ao mundo que seu filho precisava de ajuda psiquiátrica. Era ridículo, pois Kai poderia viver tranquilamente em sociedade, sua doença era tratada com remédios e terapia, manter o garoto preso só agravava mais o seu estado. Fechei os olhos por um momento e a visão de um Kai com os olhos cobertos de lágrimas quase queimou as minhas retinas, ele chorava e perguntava qual era o maldito problema dele, qual era o motivo dos pais tê-lo abandonado no hospital. Eu apenas afagava seu cabelo tão negro quanto a noite e deixava que ele dormisse em meu colo após tanto chorar.

- Os pais do Jongin não vieram hoje. – SuHo interrompeu a lembrança, como se pudesse lê-la. – Você sempre ficava preocupado com ele nos dias de visita. – explicou.

- E onde ele está agora? – indaguei preocupado.

- Não se preocupe, o KyungSoo está com ele na sala de artes. – me tranquilizou, dando tapinhas em meu ombro.

Ficamos mais alguns minutos em silêncio, até reconhecer meus pais na entrada do hospital. Um portão de ferro separava o mundo real da “loucura” que ficava presa entre os muros, que se erguiam como uma muralha. Sorri e acabei correndo até eles, os abraçando com toda força, minha mãe só faltou chorar ao me ver tão disposto, e meu pai carregava sacolas pesadas, que continham um estoque de comida preparado por minha mãe. Sentamos em um dos bancos que ficavam próximos a fonte, aproveitando a sombra das árvores do jardim, o contraste do verde das folhas e das diversas cores das flores com a enorme construção do hospital chegava a ser algo bonito.

A visita durou um pouco mais de uma hora, mas nunca seria o suficiente para matar as saudades, os três anos se acumularam e só queria permanecer daquela maneira por mais tempo, aninhado nos braços da mulher e mãe mais incrível, enquanto meu pai com o jeito sério dele contava mais novidades do mundo lá fora. Em certo momento o Doutor Kim foi até nós, me parabenizou pela melhora e contou para os meus pais como eu estava surpreendendo a todos no hospital com meu quadro estável. Foi um dos poucos momentos em que não quis matá-lo, BaekHyun esteve ausente desde que nos beijamos, e acabei tendo a primeira consulta da terapia com o outro médico.

Tentava encarar sua ausência como uma coincidência, ele também merecia uma folga. Relacionar com o beijo me deixaria culpado, e também frustrado por ele fugir de mim desta forma. E se ele usasse outras desculpas? Uma viagem de última hora para nos afastarmos cada vez mais? Não queria que ele abandonasse o caso, mesmo que sua presença tirasse a pouca sanidade que me restava BaekHyun era tudo ou nada em minha vida. Sua presença era ao mesmo tempo minha doença e a cura dela.

Com esses pensamentos me despedi de meus pais, reclamando da falta dos meus amigos, e eles prometeram puxar a orelha daquele bando de negligentes! Eu estava debilitado e com um parafuso a menos na cabeça, não custava receber no mínimo um cartão da parte deles. SuHo notou o bico que se formou e meus lábios e apenas riu da minha insatisfação, acabei sendo guiado por ele sem prestar muita atenção no caminho, caminhávamos lentamente até tomar um rumo diferente do meu quarto.

- Para onde está me levando? – arqueei uma sobrancelha em dúvida, estava tudo muito esquisito.

- Fique quieto pelo menos uma vez na vida! – mandou, me empurrando para baixo de forma que conseguisse tapar meus olhos com as mãos.

O silêncio no corredor era sepulcral, andava torto porque o enfermeiro era muito mais baixo do que eu, não estava entendendo nada, mas confiei no meu amigo até a claridade do dia novamente ofuscar a minha visão.

 “Surpresa!”

A palavra em coro ecoou pelo refeitório, que estava todo decorado com bexigas e fitas coloridas. Claro que a princípio não entendi nada, não era meu aniversário e tinha até mesmo um bolo – um pouco torto – em cima de uma pequena mesa improvisada, além de docinhos e refrigerante. Porém, logo vi a faixa um pouco atrás dos meus amigos, que estavam todos ali, acabei rindo da empolgação deles por algo tão bobo: “Feliz três anos de hospital”, estava estampado em letras garrafais na faixa branca.

Kai e Tao foram os primeiros a me abraçarem, o interno pulava empolgado e já avisava que boa parte da decoração fora feita por ele, agradeci realmente por ele ter se ocupado com outra coisa, Kai costumava ficar deprimido no dia de visitas. XiuMin, Kris e Lay também estavam lá, recebi um abraço coletivo por parte deles e os apertei bem forte, quando nos separamos do abraço MinSeok veio até mim e colocou em minha cabeça um daqueles chapeuzinhos de festa infantil, aliás, todos estavam usando um daqueles. Cada pedaço daquela festa era também um pedacinho dos meus amigos, enquanto eu conversava com meus pais eles foram organizando o refeitório e o transformaram em uma pequena comemoração. Além dos meus amigos e de alguns enfermeiros, outros pacientes também vieram participar.

Mas BaekHyun não estava presente.

 - Gostou do bolo? – LuHan apareceu em seguida, ele apontava para o monte de chantilly e raspas de chocolate em cima da mesa.

- Hm... – fingi estar com dúvida. – Mas é claro que gostei! – o que não era mentira, descobri depois que ele passou a noite toda fazendo o bolo.

Ele corou e disse que não contaria qual era o ingrediente secreto da massa. Que SeHun sussurrou logo em seguida para que só eu ouvisse: “Pedaços de chocolate”.

Depois de ter cumprimentado a todos agradeci milhares de vezes sempre me curvando, com uma vontade imensa de chorar ao pensar em que três anos significavam em minha vida. Dias atrás poderia afirmar que o tempo que passei no hospital fora perda de tempo, meses gastos imerso no vazio da minha própria existência, mas esse significado mudava completamente só de olhar as pessoas ao meu redor. Poderia ser meu maior momento de loucura, mas afirmei que fui feliz naquele lugar.

Após meu discurso – tolo – emocionado, todos atacaram os docinhos, menos eu que já estava entupido pela comida da minha mãe, deixaria espaço apenas para o bolo. Sentei entre o casal de namorados, Lay de um lado conversava animadamente com LuHan, contando como era sua profissão e adiantando as matérias do curso de gastronomia. Já do meu lado esquerdo, Kris mantinha-se um pouco sério enquanto debatia alguns pontos do meu tratamento com SuHo, que na verdade só dava a opinião dele enquanto o loiro tentava analisar meu caso criticamente.

- Você só entende de leis e relatórios enormes! – acabei provocando o maior, que só me olhou torto, mas depois riu. – Não fique falando de mim como se eu não estivesse aqui.

- O enfermeiro Kim só está me atualizando da sua melhora. – tentou se explicar. – Depois que você foi internado acabei lendo alguns livros da área. – revelou.

Quase o fuzilei com o olhar, ele tinha a mania irritante de querer saber um pouco de tudo, que no final ajudava muito em sua própria profissão. Eu estava tão desatualizado que precisaria de meses para voltar a advogar como gostaria. Pelo menos de tanto reclamar o assunto mudou e eles passaram a falar de tecnologia, o que praticamente incluiu a todos na conversa já que eu não conhecia os últimos lançamentos tecnológicos e eles passaram a tentar explicar que os celulares só faltavam lavar roupa. Certo, era exagero. Mas desde 2009 – quando fui internado – aconteceram algumas mudanças.

A conversa se alongou por mais algum tempo, até o último “convidado” chegar atrasado à festa. Usando uma calça social, camisa e jaleco na mesma tonalidade branca, BaekHyun chegou com um presente em mãos e um sorriso de desculpas estampado no rosto. Parei tudo que estava fazendo e me levantei indo até ele, com uma ansiedade sufocante por revê-lo depois do beijo, ele parecia estar um pouco envergonhado, pois desviou do meu olhar que o analisava por completo. Poderia estar enganado, mas suas bochechas adquiriram uma tonalidade levemente avermelhada devido à minha aproximação.

- Achei que não viria. – fui o primeiro a falar, parecíamos dois adolescentes no primeiro encontro.

- LuHan me mataria se não provasse do bolo. – riu sem graça, para depois acenar a todos em forma de cumprimento.

- E eu te mataria por tentar se afastar tanto de mim. – falei baixo, afinal o refeitório estava lotado.

Ele me encarou seriamente, depois soltou um suspiro prolongado.

- Irei roubar o “aniversariante”. – anunciou em voz alta, se virando em seguida com um gesto que indicava que eu deveria segui-lo.

Caminhamos sem dizer uma palavra sequer, no acordo mudo que em algum momento nós concordamos em selar. Ele me levou até uma sala mobiliada com dois sofás, uma mesinha de centro e uma televisão, parecia uma sala de espera. Era tudo em tons claros, mas não tinha o característico cheiro de hospital como em outros ambientes. Ele se sentou em um dos sofás e me sentei ao seu lado. A situação chegava a ser engraçada de tão aterrorizadora que era para mim, porque era horrível querer tocá-lo e algo em minha mente gritar que não era o certo.

- Parabéns. – ele quebrou o silêncio, estendendo o embrulho preso por uma fita azul.

Azul.

Seria realmente sua cor favorita?

- Obrigado. – agradeci e desfiz o laço, entregando a fita para ele. – Fique com você, é da sua cor favorita. – arrisquei.

- Você se lembra... – riu nostálgico. – Em uma tentativa frustrada de terapia, lhe entreguei um diário azul, você não escreveu nada, na verdade me devolveu ele quando disse que era da minha cor favorita.

- Dessa parte eu não me lembrava. – revelei. – O que fez com o diário? – indaguei apenas por curiosidade.

- Guardo até hoje. – disse como se fosse óbvio.

Sorri por ele guardar uma lembrança minha, levando uma de minhas mãos até seu cabelo. BaekHyun não afastou o toque, pelo contrário, fechou os olhos e abaixou a cabeça completamente rendido. Estava mais cansado, com suas olheiras maiores e também senti que ele estava tenso, fui condolente com a sua dor e permaneci apenas naquele toque, entrelaçando os fios entre meus dedos e acariciando sua nuca levemente no final. As pontas de meus dedos queimavam ao tocá-lo, mas ainda estendi a carícia até seu pescoço, sentindo BaekHyun se retesar inteiro após o contato.

- Abra seu presente. – ele recobrou a consciência, me sentia realizado por quebrar as suas defesas, mas o obedeci.

Rasguei o papel branco e me deparei com um álbum de fotografias, a capa era uma foto minha abraçado com Kai, LuHan, SeHun e SuHo, era um abraço desajeitado, mas meu coração se aqueceu ao ver a foto.

- Não olhe agora. – pediu, tocando em minha mão e a afastando do álbum. – Vai ser melhor olhar sozinho e com calma, sua estória neste hospital está contada aí. – apontou.

Assenti, ainda absorvendo a imagem da foto. Tentando me esforçar mais um pouquinho para me lembrar daquele dia, mas como BaekHyun avisou anteriormente eu deveria olhar as fotografias quando estivesse sozinho. Olhei para o lado e ele estava com a fita azul entre seus dedos, sorri com o seu gesto e deixei o álbum em cima da mesinha, para poder me virar e encará-lo melhor. Quis dizer que ele estava bonito, que sua presença me deixava feliz e que por mim nós poderíamos ficar daquela maneira para sempre. Mas não disse nada antes de me inclinar e tocar seus lábios.

Um simples selinho, que se estendeu porque ele fechou os olhos ansiando o beijo tanto quanto eu. Existia uma saudade boba no toque, mas era tão calmo que chegava a ser doce, seus lábios se moviam lentamente, sentia o gosto de sua boca e ele o gosto da minha. Parecíamos acostumados um ao outro, timidamente uma de suas mãos foi até meu rosto e ele afagou minha bochecha em um gesto carinhoso. Tudo muito diferente do beijo anterior, mais cálido e menos entusiasmado, mais suave e menos rude como a fúria que o tomou dias atrás. Não esperava beijá-lo tão cedo, mas principalmente não esperava ser correspondido daquela forma.

Meu coração quase pulava do peito, mas controlei a vontade de aprofundar o beijo e deixei com que ele o fizesse como da última vez. Sua língua buscava a minha como se me dominasse, sendo que ocorria o oposto, eu puxava seu lábio inferior e o prendia entre meus dentes, ouvindo-o suspirar ao puxá-lo de volta.

- É errado. – murmurou quando nos afastamos, completamente sem forças. – Não podemos manter esse tipo de relacionamento, você é meu paciente.

- Não me importo. – respondi dando de ombros, satisfeito demais para medir as consequências de meus atos.

A boca vermelha entreaberta deixava o ar escapar lentamente de seus pulmões, queria beijá-lo mais uma vez antes de sair, mas alguém poderia notar nossa demora e me contentei com um beijo casto em sua testa.

- Você está me enlouquecendo. – sua voz saiu quase como um sussurro quando eu cheguei até a porta com o álbum em mãos.

Sorri, mas ele não viu.

- Então estamos quites. – disse simples.

Não era a minha vitória e também não era a derrota de BaekHyun, considerava um empate técnico, porque da mesma forma que eu o deixava sem ar, ele deixava meu coração pular descontrolado contra o peito.

E as consequências? Elas viriam no dia seguinte.


Notas Finais


VIRAM O QUE COMENTAR RENDE? Fui linda e presenteei vocês com mais um beijinho. E como sou sádica, acho que implantei mais dúvidas na cabeça de vocês. Ah, mas faz parte de Realidade Paralela.
ENQUETE: Um leitor (Pablo <3) deu a ideia de eu escrever um capítulo com a visão do BaekHyun, o que acham? Votem que eu colocarei como "epílogo" e RP ficará com 17 capítulos. Quero a opinião de vocês.
Beijos e flws galerinha do mal. \m/


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...