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História Realidade Paralela - Mar.


Escrita por: _Mag

Notas do Autor


Eu não presto, sou a autora mais irresponsável da face da terra. Nunca mais posto uma fanfic sem ter capítulo pronto. Tô atrasando demais e quem sofre são vocês. Eu os amo incondicionalmente e nem ligo de sentir dor por vocês, mas tô me odiando por deixar os leitores na mão com capítulo/resposta.
Não ficou como eu gostaria, mas se enrolasse mais não iria sair nunca. ):
O próximo é bem BOOM, acho que escrevo ele rápido. *pensando*
Me desculpem pelos erros, fico nervosa e dá nisso. Quero acabar RP logo e sobre o epílogo eu falo no final, ok? Boa leitura. (sai correndo de desgosto da vida.)
MÚSICA DO CAPÍTULO: HOLD ON - MICHAEL BUBLÉ, recomendo ler no meio da dança.

Capítulo 14 - Mar.


 

“Espero que o álbum de fotografias ajude em sua recuperação e que as memórias se dissolvam em sua boca como gotas de chocolate. Boa sorte e bom apetite.”

 

SuHo

 

O pequeno bilhete estava em cima da mesa, ao lado do prato com um pedaço generoso de bolo, demonstrando todo o cuidado e preocupação que o enfermeiro por anos dedicou a mim. Sorri ao terminar de ler, tentando arrumar com os dedos o cabelo molhado que insistia em cair sobre meus olhos, talvez devesse pedir para que alguém cortasse os fios que já chegavam até meus ombros. Estava amortecido pela sensação de leveza que um banho quente sempre proporcionava, era tarde da noite e a maioria dos pacientes já dormia tranquilamente em seus quartos.

 

Depois do encontro tumultuado com BaekHyun voltei para a singela comemoração que se estendeu até quando o sol ameaçou se por, não voltei a ver o médico e também não desgrudei um segundo sequer do presente dado por ele. O álbum era precioso demais para que outra pessoa o tocasse, pelo menos até que me lembrasse de cada imagem que estava guardada nele. Era como se carregasse um pedaço do meu corpo entre meus braços trêmulos, um pedaço importante da minha história, talvez o protagonista dela.

 

Porém, mesmo que as lembranças não voltassem, estava completamente satisfeito pelo dia maravilhoso que se despedia através do céu coberto por estrelas. Meus amigos eram tão brilhantes como os pontos de luz no firmamento, as pessoas mais incríveis do mundo e os amava do fundo de meu coração. Minhas bochechas estavam doloridas devido às gargalhadas que dei ao lado deles, e ao provar o delicioso bolo desejei que aquele dia jamais se apagasse da minha memória. Os pedaços de chocolate realmente derreteram em minha boca, a doçura certa do recheio era a mesma que transbordavam dos olhos do pequeno cozinheiro.

 

Avisei que queria ficar sozinho no quarto, era apenas eu e o álbum de fotografias e ao terminar o doce sabia que não poderia mais fugir daquele momento. Toquei novamente a capa com as pontas dos dedos, me sentando na cama deixando que meu corpo se livrasse de um peso invisível. Ao abrir e deparar-me com a primeira foto, soube que me surpreenderia com as lembranças, mas também soube que mergulharia fundo nelas em busca de uma resposta para o sentimento de BaekHyun.

 

E a resposta sorria de uma maneira quase doentia.

 

-

 

15 de outubro de 2009 – 02:38 am.

 

Um mês.

 

Um mês perdido. Minha mente vagava sem rumo, preso em um imenso quarto branco, as luzes praticamente me cegavam e minha boca rachava devido à falta de água e alimento. Olhei para o meu braço e verifiquei o soro que ainda me mantinha vivo. Mas para quê? Por que minha existência significava algo? Eu não era nada, apenas um corpo que definhava cada vez mais. Até mesmo fechar os olhos era doloroso, não existiam mais lágrimas para limpar a minha alma e eu sentia que ela estava suja. Não poderia dormir, se dormisse os pesadelos voltavam... Eles diziam coisas terríveis, eles mostravam que eu era culpado.

 

O rosto inocente de YunHa desaparecia lentamente, ela gritava e existia muito sangue. Vermelho. Uma cor tão forte que manchava o chão do quarto branco, que eu julgava ser minha própria consciência. Não me reconhecia, mas aquele lugar me tragava, como se fizesse realmente parte dele. Um lugar frio e solitário.

 

- “Ele não vai dormir sem os medicamentos, doutor.” – ouvi uma voz suave, mas não poderia identificar sua origem. – “Ele tem medo dos pesadelos, noite passada o paciente gritou muito, fomos obrigados a sedá-lo.”

 

- “Não o medique novamente sem a minha autorização.” – outra voz ditou um pouco mais firme, ainda que cansada. – “Vejo que ele também não se alimentou.”

 

- “Ele se recusou a comer, achamos melhor deixá-lo no soro e o trouxemos para cá.” – explicou.

 

 – “Pode ir, sei que já passou duas noites de plantão. Ficarei com ele.”

 

- “Mas doutor, não é sua função.” – a voz suave rebateu.

 

- “Tudo bem, é parte do tratamento.” – garantiu.

 

Após o pequeno diálogo a voz suave se foi. Tudo voltou a ficar silencioso, até que um anjo viesse me chamar.

 

- “Chanyeol... Se pode me ouvir, por favor reaja.” – o anjo chorava, sua voz tremia tanto que quase não ouvi seu pedido.

 

É possível ignorar o pedido de um anjo?

 

Julguei que não e com um esforço quase sobre humano tudo à minha volta passou a se focalizar e consegui finalmente enxergá-lo. Primeiro observei o semblante triste, seus lábios tremiam e me assustei ao ver alguém tão belo e ao mesmo tempo tão quebrável. Queria poder respondê-lo, mas minha garganta estava tão seca que nenhum som se desprendeu dela, ou talvez não existisse a força mínima para perguntar por quem o anjo chorava. Então notei que ele chamava por mim, que suas lágrimas tão carregadas de arrependimento eram por minha causa.

 

Por quê? O que eu fiz ao anjo?

 

Antes que pensasse em uma resposta, seus lábios se partiram levemente e ele sorriu. Estava sentado em uma poltrona gasta e amarelada, e eu ao seu lado permanecia imóvel deitado na cama. Achei que era um simples sorriso, até ele levar uma de suas mãos até as minhas que estavam repousadas sobre o peito, tocando suavemente e puxando uma delas para que pudesse entrelaçar seus dedos em um gesto carinhoso.

 

As batidas do meu coração faziam um bip, bip irritante. Era do aparelho ligado a ele, que monitorava cada batimento cardíaco. O aperto se tornou mais firme e senti que um laço muito forte nos unia, estranhamente me fortalecendo a ponto de conseguir retribui-lo. Apertei sua mão contra a minha quase desesperadamente e em troca ouvi a música novamente, eu a ouvia quase todas as noites antes de me render a inconsciência que os remédios provocavam.

 

 

“Como se eu renascesse como uma criança que não sabe nada...

Eu pensei que era um sonho, então fechei meus olhos e abri eles de novo...

Você estava parado em frente ao meu eu desesperado e orando.”

 

Acordei horas depois. Com certa dificuldade sentei na cama e observei o que era familiar a um quarto de hospital. Mal tive tempo de me localizar e entender o que estava acontecendo, a porta foi aberta de forma afobada e um homem de estatura baixa entrou no quarto assustado ao me ver tranquilamente sorrindo para ele.

 

- “Hyung, eu estou apaixonado pelo irmão da minha noiva!” – disse empolgado.

 

-

 

x-x-x

 

-

 

20 de abril de 2009 – 03:00 pm.

 

Sua pele era morena, como se o sol se derretesse por ela e deixasse a epiderme brilhando feito ouro. Seus olhos eram negros assim como seu cabelo volumoso e liso. Os lábios carnudos permaneciam imóveis enquanto eu o fitava totalmente encantado. Olhei para SuHo – meu melhor amigo da faculdade – e quase gritei tamanha empolgação.

 

- “É ele, não o reconhece?” – perguntei confuso.

 

- “Ele quem? Este é Jongin, um novo paciente.” – ele respondeu simples e ganhou uma careta minha em troca.

 

- “Paciente?” – ri. – “Jongin é nosso amigo, faz Direito também!” – expliquei, ás vezes SuHo não me entendia, principalmente quando eu falava sobre BaekHyun.

 

BaekHyun era o irmão da minha ex-noiva, porque eu e ele iríamos ficar juntos de qualquer forma então o casamento seria cancelado. Nos amávamos incondicionalmente e sei que ele lutaria por nós desde o encontro na boate.

 

- “Me chame de Kai.” – o garoto disse não entendendo nada. Mas Kai era bobo assim mesmo, então apenas ignorei.

 

- “Claro, afinal somos amigos e amigos podem se tratar por apelidos!” – avisei e ele abriu um sorriso tão grande que perguntei o porquê de não me lembrar de algo tão bonito.

 

Olhei para o lado e SuHo apenas fez algum gesto para ele, resolvi ignorar novamente porque meu melhor amigo sempre fazia algo assim, até mesmo já tinha visto ele se comunicando dessa maneira com BaekHyun.

 

Bom, pelo menos Kai estava comigo.

 

-

 

x-x-x

 

-

 

17 de julho de 2010 – 10:20 am. – 1ª crise.

 

Estava cercado de pessoas estranhas, aquela sala me sufocava e não conseguia explicar porque eu estava ali. SeHun permanecia sentado ao meu lado, observando seu namorando pintar um quadro, eram formas abstratas e ele as definia com uma delicadeza quase sobrenatural. Mas LuHan era chef de cozinha, ele cursou Gastronomia na mesma faculdade em que eu e meus amigos cursamos Direito, então por que estávamos naquela sala cercado de enfermeiros nos observando?

 

- “LuHan não deveria estar trabalhando?”- indaguei ao mais novo.

 

- “Ah, ele também gosta de ficar na sala de artes.” – explicou, mas continuei sem entender.

 

Pessoas iam e vinham para lá e para cá, andavam sem rumo pelo ambiente espaçoso. Estavam vestidos da mesma maneira, e me assustei ao verificar que também me vestia como eles. SeHun parecia completamente adaptado, sorria de vez em quando para o namorado que retribuía tímido, fiquei os observando por um tempo, ainda confuso, até que LuHan chamou a minha atenção.

 

- “Me conte mais sobre a faculdade de Gastronomia.” – o loirinho pediu animado.

 

Por que ele queria que eu contasse algo que ele conhecia? Afinal era o curso dele... Por que minha cabeça doía tanto que sequer conseguia respondê-lo?

 

- “Mas você é o cozinheiro, Lay!” – respondi quase gritando e o assustei.

 

Lay? Quem era Lay? Por que errei seu nome?

 

SeHun foi até ele acalmá-lo, me olhando em seguida com um longo suspiro. Não era minha culpa, também estava assustado, mas com meus próprios pensamentos. “Está se sentindo bem?”, perguntou carinhoso e não respondi, simplesmente por não saber o que sentia. “Vou chamar o doutor”, avisou antes de me deixar naquela sala esquisita.

 

Olhei ao redor e Kai também estava lá, perto de um rádio antigo, tentando escolher alguma estação. Vi KyungSoo todo vestido de branco, como um enfermeiro. Ri do pensamento, deveria esperar SuHo voltar e poderíamos ir para o escritório, sair daquele lugar esquisito, existiam pilhas e pilhas de casos para verificar.

 

- “Senhor Park, pode me acompanhar?” – ouvi a pergunta e quis rir novamente. Eles queriam me pregar uma peça?

 

- “Baekiie...” – comecei incerto, a dor de cabeça se tornando cada vez mais insuportável. Como se ela fosse explodir a qualquer momento.

 

Levantei um pouco trêmulo e BaekHyun me ajudou a caminhar para fora da sala, nós estávamos em um hospital e meu corpo retesou inteiro quando pude me localizar. Com certeza era um brincadeira muito sem graça.

 

- “O que está acontecendo? Por que estamos aqui? É um hospital...” – minha mente se enchia de perguntas.

 

- “Sim, mas fique calmo. Não aconteceu nada.” – respondeu.

 

- “Aconteceu!” – meus olhos de repente se encheram de lágrimas. – “Aconteceu alguma coisa com a YunHa! Não minta para mim, você sabe muito bem o que aconteceu!” – exaltei-me. – “Ela... Ela... YunHa está morta.” – as palavras se desprenderam de meus lábios quase os machucando.

 

Eu estava chorando.

 

Sentia medo.

 

- “Acalme-se, por favor.” – BaekHyun pediu, levando uma de suas mãos até meu rosto. Ele era muito mais baixo do que eu e ainda sim conseguia me controlar totalmente. – “Eu estou aqui, sempre vou estar.” – ditou melodioso e meu coração recuperou seus batimentos pouco a pouco.

 

- “Mas ela está morta... E eu sou o culpado...” – comecei, mas não lembrava exatamente porque tinha tanta certeza do sentimento de culpa.

 

- “Não... Não existem culpados.” – me encarou, tão sincero que me deixou sem qualquer reação.

 

Quando vi estávamos afastados, em um corredor vazio e morto de emoções. Até que ele envolvesse seus braços em minha cintura de forma quase possessiva, ao mesmo tempo em que fazia um pedido mudo para que ficássemos daquela maneira por mais tempo, então não me afastei. Envolvi meus braços em seus ombros e deixei seu corpo bem junto ao meu, com uma sensação conhecida de união, algo muito mais forte que eu poderia um dia imaginar.

 

Uma força invisível que jamais nos separaria.

 

-

 

x-x-x

 

-

 

2 de setembro de 2012. – A última crise.

 

Minha testa suava, minha respiração descompassada me deixava cansado mesmo estando deitado antes de acordar completamente aterrorizado. Foram apenas flashes em minha mente, mas tão reais que me despertaram do pior pesadelo de toda a minha vida. Eu não estava em meu quarto, era um lugar completamente desconhecido e uma sensação ruim deixava minha boca amarga. Levantei, mas meu corpo tremia tanto que até então não havia notado que eu chorava compulsivamente.

 

Vi um atropelamento em meu sonho.

 

Era tanto sangue que sentia ele preso em minha garganta, sentia até mesmo ele em minhas roupas e mãos, mas quando verifiquei estava tudo limpo. Uma voz irritante passou a sussurrar em minha mente, ela dizia coisas absurdas e tentei a todo custo ignorá-la.

 

“Assassino!”

 

Não, eu não era um assassino. Tentaram me matar no sonho, tentaram tirar BaekHyun de meus braços! BaekHyun... Eu precisava vê-lo, precisava me assegurar de que tudo estava bem com ele. Abri a porta em um estrondo e sai correndo, gritando desesperado por ajuda. Me prenderam em algum lugar desconhecido pois era um corredor cinza e frio que não parecia ter fim. Tive a confirmação de que existia algo errado quando homens passaram a correr de atrás de mim.

 

- “Socorro!” – gritei desesperado. – “Estão tentando me matar!” – continuei gritando cada vez mais alto.

 

- “Senhor Park, pare com isso.” – ouvi um dos homens pedir, mas continuei correndo sem rumo.

 

Eu era mais rápido do que eles, os anos como jogador de basquete me ajudaram, mantinha a agilidade e a rapidez e agradeci mentalmente por isso. Corri tanto que quando parei estava em um jardim, cercado por três homens vestidos de branco.

 

- “Nós não vamos lhe machucar.” – um deles ditou. Tive vontade de rir, jamais acreditaria.

 

- “Então onde ele está? Não irei com vocês até vê-lo!” – avisei. – “O que fizeram para BaekHyun?”

 

- “Ele está bem e você sabe disso.” – uma voz conhecida respondeu. Pisquei várias vezes para ter certeza que era SuHo ali.

 

Não!

 

Eu não sabia de absolutamente nada. Banhado em lágrimas e completamente confuso.

 

Eles aproveitaram da minha fraqueza e me seguraram. Me debati tanto que chegava a machucar, arranhei cada centímetro de pele que consegui segurar, até conseguir uma brecha para sair correndo mais uma vez, tropeçando em meus próprios pés e caindo ridiculamente alguns metros depois.

 

Jurei que estava morto quando eles me alcançaram.

 

-

 

x-x-x

 

 

 As fotografias espalhadas pelo quarto, as lembranças dançando no ar como crianças brincando em um dia de neve, as bochechas marcadas por lágrimas secas e as mãos trêmulas que seguravam a última foto do álbum. Acordei como se estivesse parado no tempo, até o ar entrava em meus pulmões de modo lento, descompassado. Respirava com dificuldade ainda segurando a fotografia amassada durante a noite. Em algum momento dormir e sequer percebi que estava sonhando, as recordações eram tão intensas que senti como se as revivesse segundos atrás. 

 

18 de agosto de 2012. – “Abraço surpresa!”

 

A legenda da imagem descrevia exatamente a expressão de BaekHyun ao ser abraçado, meus braços envolviam seu corpo pequeno que se encolheu com o toque. Era adorável a forma como ele reagia conforme me aproximava dele, talvez algo que nunca mudaria com o passar dos anos.

 

O sol riscava o horizonte em tons dourados. Já deveria passar do meio-dia porque fazia um calor insuportável, sendo que o verão começava a se despedir de Seul. Caminhei de forma desengonçada, recolhendo as fotos e as colocando novamente no álbum. Não existia mais nada para lembrar, caso existisse se desprendeu de minha mente há muito tempo, pois ela estava em branco em sinal de paz. A ansiedade de ver BaekHyun depois de tudo me dominava, mas com uma tranquilidade quase absurda fui até o banheiro e lavei o rosto. Se me sentia bem mentalmente, fisicamente eu estava péssimo, com olheiras enormes iguais aos olhos de panda.

 

A atenção voltada para o pequeno espelho fora dominada por uma música agitada. Arqueei uma sobrancelha estranhando o ritmo que ficava cada vez mais alto, era possível alguma sala do hospital ser a origem daquilo? Rapidamente percebi que sim, Kai costumava dançar na sala de recreação e sorri com o pensamento de vê-lo dançando além de uma lembrança. O dormitório estava vazio naquele horário, o que confirmou a minha suposição, nenhum enfermeiro se encontrava ali para perguntar aonde eu iria, então segui a música até que encontrasse o corredor certo.

 

Uma enorme janela de vidro ocupava toda a parede e avistei Kai no centro da sala, movendo seu corpo como se fizesse parte da letra da canção. Seus movimentos eram lindos, coordenados e ao mesmo tempo naturais, possuía uma suavidade tão grande que não se parecia com o garoto de antes, mas sim como um homem. A sala estava lotada, alguns assistiam sua dança completamente encantados, outros pacientes se arriscavam à segui-lo e dançavam ao seu redor, não com a mesma naturalidade, mas era bonito de qualquer maneira.

 

Eles estavam felizes.

 

Consequentemente eu também estava.

 

Kai me viu assim que a música terminou, dando lugar a uma melodia lenta que provocou a formação de alguns casais inusitados e outros previsíveis. SeHun convidou LuHan para dançar que aceitou prontamente, Kai indicou para que eu entrasse na sala, em seguida arrastou KyungSoo até que o enfermeiro concordasse em acompanhá-lo. Eu apenas ri da confusão de que formou, encostando-me na parede e observando alguns pacientes pisando nos pés dos outros no que se assemelhava a uma valsa. Estava tão entretido que não notei BaekHyun no canto da sala, e rapidamente fui até ele convidando-o para dançar.

 

- Eu não danço. – afirmou, mas era clara sua insegurança.

 

- Eu também não. – respondi divertido, insistindo que ele me acompanhasse. – Vamos Doutor, me dê a honra de sua companhia.

 

- Vou pisar em seus pés. – garantiu.

 

- Não tem problema. – ri. – Ou melhor, pise neles que eu posso lhe guiar.

 

Um pouco tímido ele atendeu meu pedido, colocando uma de suas mãos em minha cintura e outra em meu ombro. Ele mantinha uma distância saudável do meu corpo, mas contrariando sua vontade de ficar afastado o puxei com força, fazendo com que seus pés ficassem sobre os meus e sua cabeça repousasse em meu peito. A música não era difícil de dançar, bastava apenas seguir o ritmo, sentir a mensagem que a letra queria passar através da voz suave de quem cantava.

 

“Talvez todos os planos que tenhamos feito não deram certo.

Mas eu não tenho dúvidas, mesmo que seja difícil ver...

Eu tenho fé em nós, e eu acredito em você e em mim”.

 

- Coloque a outra mão em meu ombro. – sussurrei contra seu ouvido.

 

- Quer me fazer parecer uma garota? – perguntou bravo. – Fique sabendo que não sou uma!

 

- Eu sei... Só permaneça desta maneira, por favor.  – pedi abafado contra seu pescoço, ele não afastou mesmo com todos nos observando.

 

Era como se fossemos apenas nós dois e a música.

 

“Então me abrace forte.

Aguente firme, eu prometo que ficará tudo bem.

Porque somos eu e você juntos.”

 

- Sinto como se nos conhecêssemos há milhares de anos. – confessei, encarando seus olhos amendoados. – Como se a mesma cena se repetisse várias e várias vezes.

 

- E se for verdade? – a pergunta se desprendeu tão baixa de seus lábios, que não soube identificar o sentimento contido nela. – E se nos conhecêssemos de outras vidas?

 

Sorri por achar impossível tal fato, era só sua presença que me deixava cheio de dúvidas ao mesmo tempo em que a canção nos fazia deslizar sobre nuvens.

 

“Então me abrace fortemente.

Aguente firme, e eu prometo que ficará tudo bem.

Porque nós somos mais fortes juntos.

Mais do que nós poderíamos ser separadamente.

Apenas me abrace forte, nunca deixe-me ir embora.”

 

- Se for verdade, nem que eu tenha que viver milhares de outras vidas você será meu. – respondi quase tocando seus lábios com as palavras ao fim da canção.

 

BaekHyun se separou bruscamente, voltando a realidade de que estávamos sendo observados, mesmo que outras pessoas ainda dançassem a próxima música. Ele me olhava de forma tão assustada, que temi ter dito algo errado, como se algo apitasse em sua mente e avisasse que ele estava em seu limite. Todos os nossos encontros desde acordei na semana passada se resumiam a momentos de fraqueza dele.

 

- Doutor, o telefonema que pediu... – SuHo entrou na sala afobado, avisando BaekHyun de algo aparentemente importante.

 

- Já estou indo. – respondeu e deixou a sala, acompanhado do enfermeiro.

 

Pisquei algumas vezes, queria ter no mínimo conversado um pouco mais com ele. Nunca conseguia dizer realmente o que gostaria, ou até mesmo passar mais tempo o observando. Antes da última crise nós passávamos mais tempo juntos, ele zelava por meu sono, se preocupava até mesmo com coisas bobas, indo muito além de sua função como psiquiatra. Quando o vi deixando a sala, senti vontade de voltar a delirar, quem sabe assim eu não ganhasse novamente sua atenção?

 

- Hm... – ouvi um murmúrio malicioso. – Vejo que está se entendendo com o Doutor Byun...

 

- Finalmente estão juntos? – outro murmúrio, dessa vez cheio de expectativa.

 

Kai e LuHan, respectivamente, tinham até mesmo parado de dançar só para me observar dançando com o médico, até SeHun ria abraçado com o namorado. Mostrei a língua para eles, mas ri em seguida tão familiarizado com aquela situação. Pareciam mais sorridentes do que antes, julguei ser por causa da dança que o moreno mais novo tanto amava, mas ao ser praticamente arrastado por eles descobri em seguida que existia outro motivo.

 

- Aish! – cruzei os braços emburrado enquanto eles ainda me levavam até o jardim. – Nós só estávamos dançando!

 

- Vocês quase se beijaram na frente de todo mundo! – Kai só faltava dar pulos de alegria. – Me conte hyung, vocês se entenderam?

 

Revirei os olhos impaciente, até entendia a imperatividade do atrapalhado Jongin e a expectativa do pequeno LuHan, mas SeHun também queria saber se tinha acontecido alguma coisa! Eu era tão óbvio assim? Acabei rindo da situação, nós quatro em uma parte afastada do jardim, como garotinhas no colegial prestes a ouvir uma fofoca. Era grato por tê-los comigo, por tudo que passamos juntos, ou melhor, superamos juntos.  

 

LuHan quando chegou não passava de um garotinho assustado, quando o vi pela primeira vez foi depois de dias trancado no quarto. Eu e Kai ficávamos observando BaekHyun ou Jongdae entrarem no aposento em que ele e SeHun ficavam, pois sempre saiam com alguma notícia a respeito do novo paciente. Só sabíamos seu nome e que se fossemos seu amigo poderíamos ajudá-lo em sua recuperação, nos animamos rapidamente com a notícia e passamos a perguntar para os médicos se seu estado havia melhorado ou não.

 

 Eu estava dormindo quando Kai praticamente pulou na minha cama, avisando que o chinês tomava sol no jardim. Corremos até lá e enchemos o pobre SeHun de perguntas, que tentava explicar o que tinha acontecido ao namorado. Ás vezes conseguia distinguir o que era ou não real, mas logo o casal passou a ser parte da minha imaginação, assim como Kai em seu primeiro dia.  Juntos nós criamos um universo em que nossas diferenças completavam uma as outras.

 

- Não. – confessei derrotado. – Mas acho que falta pouco para ele se render. – gabei-me.

 

- Ah, espero que seja antes de eu sair daqui. – Kai deixou escapar.

 

Sair do hospital? O que Kai queria dizer com aquilo?

 

- Nosso Jongin irá sair em breve. – SeHun vendo meu rosto se contorcer em dúvida respondeu pelo moreno. – Irá morar com sua avó.

 

- É sério? – abri um sorriso tão grande que minhas bochechas chegaram a doer.

 

- Sim! – balançou a cabeça positivamente. – Ela veio hoje me visitar, pediu desculpas por tudo e disse que meus pais são dois irresponsáveis e que agora eu vou morar com ela, bom, ela convidou...

 

- E você aceitou?

 

- Por um tempo... Agora que sou maior de idade irei completar os estudos, me prenderam aqui por anos, quero descobrir o mundo lá fora. – explicou.

 

- E por quanto tempo pretende morar com ela? – indaguei, afinal não queria perder contato com ele. Sua avó morava um pouco longe de Seul.

 

- Até o KyungSoo hyung arrumar outro emprego, nós vamos morar juntos. – revelou por fim.

 

Queria matá-lo! Estava me provocando por causa da sala de recreação, enquanto ele iria praticamente casar com o enfermeiro dona de casa. Sentamos em um dos bancos e conversamos por longos minutos, descobri mais detalhes da conversa com sua avó e gostei dela mesmo antes de conhecê-la. Vivia em uma pequena cidade do interior, tinha sua própria terra e Kai iria para lá nos primeiros meses, enquanto KyungSoo procuraria um emprego com mais folgas entre um horário e outro. Com muito esforço – leia-se um ataque de cócegas – conseguimos convencê-lo a nos contar que estava namorando e LuHan se ofereceu para fazer um bolo em comemoração.

 

Tudo parecia se encaixar, estava perfeito demais para ser verdade.

 

- Ah, aí estão vocês! – KyungSoo correu até o jardim, nós apenas rimos do seu desespero.

 

- Calma hyung! Parece que viu um fantasma. – SeHun comentou e se arrependeu no instante seguinte, o enfermeiro estava sério demais.

 

O aperto em meu peito só confirmou o que mais temia.

 

- Chanyeol... Eu lamento muito. – ele me encarou realmente abalado. – Todos nós iremos sentir a falta dele.

 

Dele? Dele quem? Não poderia ser...

 

- O que aconteceu? – fui direto.

 

- O Doutor... O Doutor BaekHyun vai embora. – revelou.

 

Não o respondi, apenas corri mais do que minhas pernas poderiam suportar.

 

Covarde!

 

Ele estava fugindo de algo muito maior que nós mesmo, maior do que minha própria vontade ou do que a dele. Soube no exato instante em que meus pés simplesmente me guiaram até sua sala, ninguém me impediu, nenhum enfermeiro muito menos SuHo que acabava de abandonar o aposento. Ele só me olhou como se desejasse boa sorte, o que me reconfortou tanto que se tornou menos desagradável encarar BaekHyun guardando seus objetos em uma caixa que desejei despejar na mesa. Notei que ele tremia, mas estava com tanta raiva que não medi minha fúria ao agarrá-lo pelos ombros obrigando-o a me encarar, enquanto ele soltava um gemido de dor.

 

Foi o contato visual mais longo que trocamos, busquei uma explicação em seu olhar, qualquer coisa que denunciasse sua fraqueza, mas não vi nada além de um sentimento vazio. Estávamos bem há minutos, como BaekHyun poderia mudar de ideia tão rapidamente? Por que seus olhos não brilhavam como pontos de luz igual antes? Do que ele tinha tanto medo?

 

- Então é isso, simplesmente vira o meu mundo de cabeça para baixo e foge na primeira oportunidade? – indaguei o soltando, não conseguia distinguir nada além de mágoa em minha voz.

 

- Você viu o álbum? Lembrou-se realmente de tudo? – retornou com mais perguntas, de uma maneira fria que quase não reconheci.

 

- O que quer tanto que eu lembre? Eu sei o que aconteceu neste hospital, eu sei que você dedicou ao meu caso todos os dias da sua vida durante três anos, só isso me interessa! – praticamente gritei.  – Foi o suficiente para provar que você também me ama!

 

- O que garante que é amor? – riu fraco. – Por que tem tanta certeza que me ama? Você não se lembrou de tudo. – garantiu.

 

Levei uma das mãos até a nuca, sentindo a camada de suor que se acumulava ali. Estava mais irritado do que antes, só que incrivelmente mais controlado, guardando toda a raiva que sentia por ele ser hipócrita ao ponto de negar o que sentíamos um pelo outro. Ele correspondeu a todos os meus beijos, mesmo fugindo no início ele se rendeu assim que minha língua penetrou em sua boca. Sentia vontade de jogá-lo contra a mesa, derrubando tudo que estava em cima no chão, para então fazer juras de amor perto de sua orelha e fodê-lo até o fim dos meus dias na terra.

 

Por que ele tinha que lutar tanto contra àquele sentimento?

 

- Então me diz, o que falta eu lembrar para finalmente te jogar contra a primeira superfície plana que avistar e fazer você implorar por mais? – perguntei quase avançando em sua direção.

 

- O acidente. – respondeu sem vacilar novamente. – Assim que se lembrar exatamente de como YunHa morreu, vai descobrir que me odeia. – voltou a guardar suas coisas, colocando a tampa na caixa. – A única coisa que irá sentir é ódio.

 

Ódio? Eu era incapaz de odiá-lo. Foi um atropelamento, eu me lembrava dos faróis e do sangue no asfalto, o que mais haveria para descobrir?

 

- E o que você sente? – era minha última pergunta.

 

- Culpa.

 

- Então eu irei descobrir a origem da sua culpa. – desafiei. – E se eu não o odiar como diz, não permitirei que fuja de mim novamente.

 

Ele pegou a caixa e passou por mim sem encarar de volta antes de alcançar a porta.

 

- Eu não vou fugir. – disse baixo e me deixou.

 

Quanto mais fundo eu mergulhava, mais descobria que estava longe do fundo, de encontrar toda a verdade por trás da realidade que criei e por trás do olhar de BaekHyun.

 

Porém, não iria nadar e morrer na praia.

 

Naquele mar de incertezas eu chegaria até a superfície.

 

Em alguns dias fugiria do hospital.

 


Notas Finais


Sobre o epílogo: IRÁ ACONTECER. Mas não sei exatamente se será um epílogo. Acho que será uma fanfic de um, dois ou três capítulos com a visão completinha do BaekHyun. Estou planejando ainda.
Me desculpem mais uma vez, sou uma autora em crise. /cry

Beijos, e até domingo que vem. /fortificaSenhor.


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