1. Spirit Fanfics >
  2. Realidade Paralela >
  3. Adeus.

História Realidade Paralela - Adeus.


Escrita por: _Mag

Notas do Autor


Oi gente! Nem acredito que está acabando. Depois de meses de espera, enrolação, angústia, choro e muito amor (eu amo vocês) estou chegando com o último capítulo de Realidade Paralela. Há minutos eu estava me sentindo aliviada, mas agora a vontade é de chorar. Já estou com saudades, acreditam? Só quero que saibam que cada prova/trabalho que deixei de estudar/fazer, cada dia que preferi ficar em casa escrevendo e todos os problemas com meu braço podre valeram a pena. MUITO a pena. Faria tudo de novo, por mim e principalmente por vocês. Sempre que penso em 2012 a primeira lembrança feliz são vocês, que me acompanharam aqui (alguns em Sky também) e que tornaram tudo isso REAL. Falo mais no finalzingo, ok?
PREPARADOS? ENTÃO BOA LEITURA!

Capítulo 16 - Adeus.


Chuva.

As gotas ainda tímidas anunciavam a tempestade escondida entre as nuvens, menos ameaçadora do que aquela que se formava dentro do meu peito. Impossível descrever a sensação de ter o mundo desabando sobre sua cabeça, sem nenhum lugar para se abrigar ou buscar conforto, era vazio e não existia nada além de incertezas. A maior delas morava no apartamento vinte e oito, tinha o sorriso doce e era linda, era a incerteza mais fodível de toda Coreia do Sul. “Louco”, murmurei para eu mesmo, recriminando a vontade que sentia de ter BaekHyun novamente.

Não era o momento de desejá-lo, teria que confrontar a verdade em poucos minutos e render-me aos encantos do psiquiatra era a última opção. Simplesmente não existia razão quando ficava perto dele e o pouco de sanidade que me restava precisava ser mantido. De um jeito ou de outro. As palavras de Kris se firmavam cada vez mais vivas em minha mente, queimavam exatamente para lembrar o objetivo da minha “visita” ao médico.

- Boa tarde, o Senhor Byun está? – indaguei educadamente ao porteiro, depois de minutos parado em frente ao prédio.

Ele fez um sinal para que eu aguardasse, não queria sequer imaginar meu estado deplorável depois da conversa com Kris, minha bochecha ainda ardia e meus batimentos cardíacos estavam acelerados desde que deixei o escritório. Talvez meu coração estivesse acostumado com aquele ritmo, como se diminui-lo causasse algum dano ao meu corpo fraco, que agora parecia formigar de tanta ansiedade. O homem de aparência cansada demorou algum tempo para responder, aparentemente falando no interfone com BaekHyun.

- Qual é seu nome, rapaz? – me encarou de forma suspeita. Certo, eu era um delinquente agora.

- Park Chanyeol. – respondi decidido, mas quase desabando por dentro.

Ele repassou a informação e em seguida ficou sério, suas sobrancelhas grossas se curvaram e sua voz saiu mais firme do que antes.

- Peço que espere, o senhor Byun já está descendo. – avisou.

Acenei em agradecimento apenas por educação, a chuva começava a ficar mais intensa e as gotas antes tímidas mostravam rapidamente que poderiam ganhar força. Suspirei torcendo para que BaekHyun me escutasse, ou melhor, que ele finalmente dissesse a verdade, sem vacilar como das outras vezes. Existiam duas versões, ambas sem uma explicação plausível. A primeira quando começou a fazer sentido, se perdeu devido à alguns pontos que não se ligavam de forma alguma, um deles era o amor incondicional que sentia por BaekHyun. Sempre relutei que o sentimento fosse apenas um reflexo do que senti por YunHa, apesar de todos tentarem infiltrar essa ideia em minha mente.

Era algo forte demais para ser apenas isso.

E eles não tentaram uma única vez, até mesmo BaekHyun explicou meu caso como sendo um trauma por amá-la, comparando ao garoto inglês que depositou sentimentos maternos em sua médica. Mas ele estava errado, estava mentindo mesmo que minha cura estivesse em jogo. Kris também fazia parte do passado, da página em branco que tentaram arrancar da minha estória, e que eu iria escrever a qualquer custo.

Ou melhor, iria reescrevê-la.

O encontro na boate, a noite em que BaekHyun foi apenas meu e tudo que senti por ele novamente voltavam a fazer parte da realidade. Algo que tinha abandonado desde o momento em que descobri ser apenas um paciente e não um amante como imaginava. Mas o que poderia ser apenas imaginação, agora era a razão que mudaria uma vida inteira. Era possível, e mesmo ansioso, ter realmente amado daquela forma em apenas uma semana me assustava. Por que era tão forte? Por que era inexplicável?

- Chanyeol... – fui desperto de meus pensamentos ao ouvir sua voz.

BaekHyun estava parado e apenas o portão do edifício nos separava, encostei e passei uma das mãos entre a grade, tentando tocá-lo. Sorri ao ver como ele estava vestido, com uma calça larga de moletom e uma blusa fina de mangas compridas, em seus pés apenas chinelos que se assemelhavam a pantufas. Provavelmente ele saiu apressado, pois sua respiração estava alterada e seu cabelo começava a se molhar por causa da chuva. Ficava muito bonito com roupas mais largas em seu corpo pequeno.

- Não achou que eu iria desistir, achou? – sorri desdenhoso, mas por dentro o desespero me consumia.

Ele chegou mais perto e segurou a minha mão estendida, sua palma era quente e o toque me acalmou um pouco.

- Você é um completo idiota. – ele disse de forma calma, sem se importar em tomar chuva. – Como fugiu? Tem alguma noção do problema em que se meteu?

- Tenho, mas não me importo. – sorri. – Mas seria bom se me deixasse entrar.

Seus olhos se arregalaram e ele percebeu a cena que estávamos protagonizando na portaria, era como nos filmes em que o casal apaixonado faz juras de amor enquanto a chuva cai. Rapidamente soltou a minha mão e pediu para o portão ser aberto, como estava chovendo corremos até o hall de entrada sem dizer uma palavra, pelo clima tenso que se instalou e porque minha roupa começava a grudar.

- Eu precisava falar com você, não podemos mais fugir do inevitável. – dessa vez meu tom era mais sério, mesmo que sua presença me perturbasse.

- Vo-você lembrou...

- Não. – o cortei, esperando o elevador abrir para que entrássemos. – Estou aqui exatamente para isso, você irá me fazer lembrar... É o mínimo que deve fazer por mim, consegue imaginar o quanto estou confuso?

- Me desculpe. – pediu. – Mas fugir sabe se lá como não foi a melhor atitude, com certeza estão te procurando e sua família já foi informada.

O elevador por sorte estava vazio, entramos e ele se encostou à superfície gelada.

- Vamos até meu apartamento, então eu ligo para o hospital, penso em uma boa explicação para sua fuga e você volta sem reclamar. – certo, ele queria adiar a nossa conversa. – Sei que te devo uma explicação, mas simplesmente este não é o momento...

Não permiti que ele falasse mais nada, seus lábios se mexiam demais e para dizer bobagens que não iria ouvir novamente. Cada silaba era uma desculpa, algo para camuflar o que ele realmente sentia, não deixaria que aquilo continuasse. Estar naquele elevador com ele era o mesmo que reviver cenas de anos atrás, de exatos três anos atrás. Kris não estava mentindo e BaekHyun ainda falava quando o beijei, deixando que suas desculpas morressem em sua garganta.

-

 

“...em um piscar de olhos já estávamos aos beijos dentro de um elevador.”

 

-

O prensei com força, não deixando espaço para ele protestar contra minha língua que invadia sua boca em fúria. Não era romântico ou lento, e sim dominador e desesperado, exatamente igual aos beijos que trocamos quando nossos destinos se cruzaram. Não era parte de um delírio, era a realidade esmagadora que fazia meu coração se apertar enquanto ele ainda tentava se livrar dos meus beijos. Em vão, porque não iria soltá-lo até que reviver aquela cena fosse o suficiente para me lembrar de como tudo aconteceu.

- Me solta! – pediu quase choroso quando as portas do elevador se abriram e eu o puxei com força de lá, indo até a porta de seu apartamento, encarando o número vinte e oito pregado na madeira.

- Abre essa maldita porta! – gritei, virando seu corpo bruscamente, fazendo com que ele entendesse o que estava acontecendo.

BaekHyun ainda estava preso entre meus braços, mas eu mantinha um abraço por trás, tocando com a língua toda a pele exposta do seu pescoço que alcançava.

-

“...enquanto tateava os bolsos da calça em busca das chaves, porque eu muito impaciente distribuía suaves beijos em seu pescoço.”

-

Ouvi seus murmúrios pedindo que eu parasse, mas completamente cego de raiva e desejo não esperei que ele sequer guardasse as chaves depois de abrir a porta, elas caíram no chão assim que entramos no apartamento e eu o joguei contra a parede.

-

“...jogando seu corpo sem a menor gentileza contra a parede, ele gemeu de dor devido ao impacto e com leves beijos em sua bochecha pedi desculpas.”

-

Segurei em suas coxas com firmeza e o levantei. Para não cair ele envolveu as pernas em minha cintura e a posição se tornou mais excitante do que eu esperava. Não queria me envolver com tudo aquilo, desejava somente a prévia do que fizemos em uma noite de bebedeira, para poder provar que realmente aconteceu. E para isso, antes que ele voltasse a protestar o dominei com meus beijos, puxando seus lábios entre meus dentes e em seguida penetrando a língua em sua boca. Chegava a ser obscena a forma como sua boca se moldava a minha, como eu mordia seus lábios e apertava suas coxas entre meus dedos.

BaekHyun gemeu e os sons que ele soltava ecoavam em minha garganta, sorri ao constatar que ele era meu, que sempre seria daquela forma, mesmo que os anos passassem e ele tentasse tirar o meu direito de tê-lo em meus braços.

Já tinha a prova que queria.

- Fim de jogo, BaekHyun. – sussurrei contra seus lábios vermelhos, o soltando e ouvindo o baque de seu corpo contra o chão.

- O quê? – ele indagou confuso, levando uma das mãos até sua boca, limpando a saliva em excesso.

O ignorei, olhando ao redor nostálgico, as luzes estavam acesas, diferente do breu em que nos amamos pela primeira vez, mas reconhecia o lugar em que acordei em um sábado totalmente desnorteado.

-

“- Tudo bem com você? – ele surgiu na sala, me observando de longe como se eu fosse perigoso.

Talvez fosse.

Seu corpo magro estava enrolado precariamente no mesmo lençol em que dormimos juntos, partes de seu ombro e peito estavam expostas, então entendi a razão do meu descontrole...”

-

Aquele homem – que mais parecia um garoto – não era o irmão da minha noiva, não tinha nenhuma ligação sanguínea com ela, mas tudo realmente aconteceu naquele apartamento.

E ele também não era um desconhecido.

Sentei no sofá, suspirando pesadamente enquanto meu corpo afundava no estofado macio. Fechando os olhos brevemente pude sentir a adrenalina daquela noite correndo por minhas veias, eu e ele andávamos aos tropeços pela rua, rindo e nos beijando no intervalo de cada risada. Eu não acreditava tê-lo reencontrado depois de tanto tempo e a embriaguez fazia tudo se tornar mais leve, como suas carícias em minha nuca e o cheiro do seu perfume. “Na faculdade eu quase me apaixonei por você”, confessou completamente bêbado quando chegamos até o prédio. Como resposta apenas sorri, mordendo seu pescoço com força para ouvi-lo gemer abafado.

“Talvez eu roube seu coração esta noite”, disse após um tempo já dentro do elevador, sem saber o impacto de minhas palavras. Uma inocente frase que se alastrou e se tornou verdadeira, porque no dia seguinte quando o peso do casamento e da traição chegou até mim, trazia na bagagem o seu coração. Mas não abandonei o apartamento apenas deixando as marcas de meus beijos em sua pele, também tinha deixado o meu próprio coração com ele.

Não havia como voltar atrás.

- Por que mentiu? – virei meu pescoço em sua direção e seu olhar vacilou com a minha pergunta.

- Porque era mais fácil. – respondeu, levantando-se já recuperado do meu ataque repentino.

- Era mais fácil me enganar? – ri fraco. – Era mais fácil dizer que o idiota aqui imaginou que te fodia? Sendo que nós realmente nos amamos neste apartamento?

Ele ficou receoso com meu tom de voz, mas não estava alterado a ponto de fazer qualquer mal a ele, ou melhor, eu seria incapaz de machucá-lo.

- Era menos doloroso, só queria te poupar. – BaekHyun disse, tão frágil que quase fui convencido. – Não poderia cuidar do seu caso se não omitisse o que tivemos, se não omitisse que você estava preso naquele lugar por minha causa.

- Kris sabe o que aconteceu, ele me contou que nos conhecemos na faculdade. – precisava desabafar tudo que sabia. – Nunca imaginou que ele acabaria me contando?

- Quan-quando ele te contou?

- Hoje. – disse firme, me levantando para poder encará-lo diretamente. – Quantas vezes você repetiu que eu deveria me lembrar de tudo, mas de tudo mesmo? Por que agora reluta tanto diante da verdade?

Notei que suas mãos suavam, todos os sinais do seu corpo demonstravam que ele estava nervoso. Tinha tanto a esconder que sequer conseguia olhar diretamente em meus olhos, senti pena de sua imagem.

- Quero que você se lembre, mas ao mesmo tempo eu tenho medo. – revelou, seus lábios tremiam a cada sílaba. – Eu te levei de propósito à padaria, queria que você lembrasse, só que eu o perderia assim que acontecesse! – gritou.

Levei uma das mãos até seu rosto, acariciando sua bochecha corada.

Agora eu sabia do que ele estava falando.

- Nós fomos até lá algumas vezes, sempre pedíamos a mesma coisa...

- Torta de morango. – ele completou, envergonhado. – Recomendei o doce e nas vezes que voltamos nem precisávamos pedir, o atendente já sabia o que iríamos comer.

Tudo começava a se encaixar.

Eu era calouro no curso de Direito, entrei para o time de basquete apenas para praticar alguma atividade física, como Kris e eu tínhamos a altura necessária os veteranos nos chamaram para participar. As partidas eram contra times de outros cursos e fazíamos uma espécie de campeonato, informal e apenas pelo prazer de praticar o esporte. Em uma delas acabei me machucando, fui empurrado contra a trave da quadra e cortei meu braço superficialmente, mas sangrava muito e abandonei o jogo para ir até a enfermaria.

Foi a primeira vez que nos vimos.

Achei que o lugar estava vazio, porque no quadro de horários informava que não havia ninguém naquele turno, mas para minha sorte um garoto baixinho arrumava o armário com os medicamentos. Claro que fiz o maior drama, quase chorando de dor ao entrar dramaticamente na sala, o que acabou o assustando pelo escândalo que eu fazia. Quase que desesperado ele recolheu tudo que precisava e colocou em cima da maca em que eu estava sentado, parecia um caso de vida ou morte, mas minha vontade era de rir pelo semblante preocupado do garoto. Ele limpou o ferimento e eu não parava de me mexer, recebi até mesmo uma bronca por tamanha infantilidade, o corte era pequeno.

Com o curativo pronto agradeci convidando-o para ir até a padaria que não ficava muito longe do campus, meu estômago roncava de fome. Acabei descobrindo algumas coisas sobre ele, seu nome era BaekHyun, cursava medicina e mesmo com a aparência delicada era veterano, entrou adiantado na faculdade. Conversar com ele era agradável, me sentia um ignorante, pois ele entendia de qualquer assunto. Porém, seus olhos pequenos brilhavam quando dizia que sua especialização seria em psiquiatria. Apesar de ser um homem e aquele pensamento me assustar, ele ficava lindo quando sorria.

Acabou se tornando comum nos encontramos na mesma padaria, pedindo sempre a torta de morango favorita dele. Foi uma amizade meio estranha, conversávamos um pouco, nos cumprimentávamos nos corredores e comíamos torta de vez em quando. Durou alguns meses, até que nunca mais o vi andando pelos corredores com um livro em mãos, ou na enfermaria quando ele ajudava em alguns casos – como o meu corte monstruoso. Senti sua falta, mas ao descobrir que se mudara para Londres sem se despedir, resolvi esquecê-lo.

Até reencontrá-lo em minha despedida de solteiro.

- Você não se despediu, por quê? – indaguei o que me perturbou por meses.

- Minha transferência já estava certa quando nos conhecemos, terminar meus estudos em outro país sempre foi meu sonho. – explicou. – Minha mudança aconteceu de forma muito rápida, na verdade eu até fui me despedir, mas... – pausou, mordendo o lábio inferior em nervosismo. – Você estava aos beijos com uma garota, eu sabia da sua fama de conquistador, não queria atrapalhar e fui embora.

Ele sentiu ciúmes, em uma época que eu jamais imaginaria tudo que iriamos viver no futuro. Ri com o pensamento de que tudo poderia ter sido mais fácil, se eu enxergasse o óbvio desde a faculdade. Se eu fosse capaz de perceber que não viveria sem ele, nunca permitiria que ele partisse, o agarraria com todas as minhas forças e assim o destino não seria tão cruel.

- Queria ter me apaixonado por você naquela enfermaria. – confessei.

- E eu queria não ter me apaixonado. – sua voz rouca se misturava com a sua respiração acelerada.

O destino era mesmo cruel.

- Quando te vi na boate e nós ficamos juntos, pensei que era a chance que eu pedi por anos, uma única oportunidade de me entregar a você. – emendou, e minha respiração também acelerou conforme ele falava, porque sentia que finalmente entenderia o que aconteceu no dia em que YunHa se foi. – Mas você foi embora no dia seguinte, dizendo que iria se casar.

- Fui um canalha. – suspirei, a realidade se mesclava com o que criei e começava a ficar confuso.

Meu reencontro com BaekHyun foi o ponto exato de colisão, a troca de olhares entre uma bebida e outra despertou um desejo escondido por anos. O que era para ser uma tradicional despedida de solteiro originou uma traição, uma morte e minha perda da realidade. Só que ao contrário dos meus delírios, quem estava comigo eram Kris, Lay, Tao e XiuMin, amigos que conquistei durante a faculdade, mas o restante se encaixava perfeitamente. Aos tropeços chegamos até o apartamento que pertencia ao médico, em uma noite em que ele foi meu e eu fui dele. No dia seguinte percebi o que tinha feito e o deixei, enrolado em um lençol branco, como um anjo despido de suas vestes.

O jantar com a família de YunHa aconteceu, mas sem a presença de seu irmão que acabou perdendo o voou de volta para Seul. Os preparativos para o casamento estavam em seus últimos detalhes, mas novamente meu destino se cruzou com o dele. Porém, quando? Onde? Como? A dor em meu peito mostrava que tudo não terminou da melhor maneira.

- O que aconteceu depois? – perguntei e ele se afastou, tremendo um pouco e definitivamente nervoso.

- Não me senti usado, em nenhum momento te julguei por sair correndo depois que... Que fizemos aquilo. – pigarreou, envergonhado. – Você disse que iria se casar, era óbvio que o que fizemos foi errado.

- Você não me procurou?

Kris disse que o psiquiatra e eu tornamos amantes, então em que momento nos reencontramos? Tudo parecia uma grande brincadeira.

- Não, achei que nunca mais o veria. – ele estava sendo sincero. – Mas na terça-feira fui até a loja em que alugam e vendem ternos e vestidos de noiva, para provar o terno que minha mãe encomendou sem eu saber... – pausou, como se toda aquela estória fosse ridícula. – Entrei sem querer em um provador ocupado e lá estava você, mais bonito do que eu poderia imaginar.

Dei um passo para trás, seria ainda mais irônico uma coincidência como aquela? Pisquei algumas vezes, buscando alguma explicação para ele estar lá dias depois do que aconteceu. Mas tudo era surreal demais para ter algum sentido.

-

 

“- Me desculpe, eu... – começou com a voz trêmula devido ao choro.

- Shiuu, tudo bem. – disse o abraçando, sem saber se tudo realmente terminaria bem.

- Eu me apaixonei. – confessou, suas lágrimas molhavam o meu terno...”

 

-

Ele tinha se confessado! Na loja em que as mulheres compravam os vestidos feitos com papel de bala! Durante a última prova de roupa para o casamento ele me viu novamente, com o terno completamente alinhado apenas esperando o único dia em que seria usado. Se fechasse os olhos poderia me lembrar do gosto salgado de suas lágrimas, ambos fomos pegos de surpresa, porque também não esperava vê-lo. Mas ele chorou, compulsivamente contra meu peito, como forma de conforto – ou seria desejo? – o abracei e amparei seu choro. E sem perceber estava acariciando suas bochechas com meus lábios, traçando um caminho de beijos até sua boca.

Descreveria o fato de amá-lo como um sentimento involuntário, mesmo que lutasse com todas as minhas forças de alguma forma ele terminava sempre em meus braços. Estava com a cabeça cheia de dúvidas naquele momento, deixei que um mundo desconhecido me levasse, e justamente nesse mundo eu e ele éramos apenas um, compartilhando da mesma alma. Algo que Platão e seu estudo sobre almas gêmeas não conseguiria explicar.

- Eu desisti do casamento naquele dia? – perguntei, ainda assustado pela lembrança.

- Não. – aproximou-se. – Mas marcamos de nos encontrar dias depois, acho que você pensou muito sobre o assunto, porque estava disposto a arriscar.

Se antes eu tentava manter a calma, tinha mandado todas as tentativas para o inferno. Impossível manter a sanidade quando se é apenas um fantoche de alguém mais poderoso do que o livre-arbítrio, tantas coincidências não pareciam ser por acaso.

- E o que você estava fazendo lá, por que existe alguma força invisível que te coloca no meu caminho de qualquer forma? – explodi, mas não de raiva. Estava incrédulo com tudo aquilo.

Ele riu, provavelmente cansado de tentar entender.

- Vou buscar a sua resposta, espere um pouco. – anunciou, indo até o corredor que com certeza terminaria em seu quarto.

Enquanto ele não voltava passei a andar de um lado para o outro, tantas possibilidades martelando em minha cabeça e ainda sim a página em branco continuava inacabada, embora preenchida pelo que lembrei até então. Minhas mãos suavam e meu corpo estava gelado, acabei tomando um pouco de chuva pelo tempo que esperei fora do prédio, mas sequer tinha notado as roupas molhadas. “YunHa, o que eu fiz para você?”, pensei de repente com uma vontade imensa de chorar, lavar com minhas lágrimas tudo que estava sentindo.

Não demorou muito, logo ele estava de volta com uma caixa em mãos.

A caixa de pandora.

Seus dedos longos e finos chegavam a ficar brancos de tão firme que ele segurava o objeto. Abri a boca algumas vezes, mas nenhum som por mais desconexo que fosse saiu por ela, não sabia o que dizer enquanto via em seus olhos o brilho característico de quem estava prestes a chorar. O que tinha dentro daquela caixa era a origem de seu medo, do desespero que notei claramente quando ele abandonou o hospital. Virei quando ele passou por mim e depositou o objeto em cima da mesa de centro, que fazia parte da decoração da sala.

- Acho que você não vai entender, assim como eu. – disse como se lamentasse, abrindo a caixa em seguida.

Observei o interior dela e havia um envelope e um papel muito amassado, ele retirou o envelope e iria fechar a caixa se eu não o interrompesse.

- Espere. – pedi, indo até ele com os olhos fixos no papel gasto.

BaekHyun percebeu minha próxima ação e colocou o corpo na minha frente, impedindo que eu verificasse o que estava escrito em letras borradas naquela carta. Porque eu sabia que era uma carta.

- Não! – gritou desesperado. – Por favor, não insista.

- Me deixe lê-la. – não era um pedido, era uma ordem. – Pare de esconder a verdade de mim, o que está escrito naquele papel?

Nunca o vi tão perturbado, seus olhos ficaram opacos como se toda a vida fosse tirada de seu corpo em um único sopro. Depois voltaram a brilhar intensamente e as lágrimas banharam seu rosto perfeito, suas bochechas coradas e seus lábios tão rubros quanto sangue. As mãos em meu peito inutilmente tentavam me deter, porque seu corpo pequeno era um grão de areia comparado ao meu, não pela força física, mas pela determinação de acabar de uma vez com aquela tortura psicológica.

- Eu vou te machucar se não me deixar ler a carta. – era horrível ameaçá-lo, mas não tinha outra maneira. – Não tem piedade por tudo que eu passei?

- Você tem por mim? – rebateu, quase engasgando com o choro que lhe cortava a alma. – Se me ama, por favor não leia... – ajoelhou-se, segurando firme em minhas pernas.

Ele repetia as últimas palavras quase em um mantra, por alguns segundos permaneci calado sem saber o que fazer. O psiquiatra mais competente do país estava aos meus pés chorando feito um recém nascido, totalmente desprotegido e vulnerável. O puxei pelos braços sem a menor delicadeza, precisava acordá-lo daquele estado deplorável, era leve como uma pluma e não foi difícil afastá-lo.

- Se eu te amo, vou continuar te amando mesmo após abrir a caixa. – foi a última coisa que disse antes de tocar na folha amassada.

Pela segunda vez em minha vida.

Não me enganara, reconhecia o pedaço de papel tão delicado e ao mesmo tempo tão pesado que meus dedos chegavam a doer por segurá-lo. Era a última lembrança que YunHa me deixou em vida.

-

“Yeobo...

Eu não lhe reconheço mais. O que aconteceu com o amor que jurara ser para sempre? Não sou digna de tal sentimento? Em que momento eu errei? Não sou a mulher que sempre sonhou? Gostaria que eu fosse um homem? A data estava marcada, o vestido já estava quase pronto, jurei que estávamos tão felizes... Porém, você não estava, não é mesmo? O que aquele garoto tem que eu não tenho? Ele pode te dar um filho igual ao que eu carrego? Era para ser uma surpresa, acho que por isso eu estava mais feliz do que você, ansiava tanto o nosso casamento, o dia mais esperado por toda mulher.

Você tirou isso de mim, yeobo.

Mas eu o perdoei na primeira vez, quando o vi aos beijos com outra pessoa em frente aquela boate suja, e era com um homem. Achei que você estava apenas se divertindo, provando do fruto proibido antes de se unir completamente à sua esposa. Chorei a noite toda, mas quando te vi no dia seguinte seu abraço ainda era o mesmo, julguei que seu amor também.

E não era.

Nada seria como antes.

Você voltou a vê-lo, voltou a tocar seus lábios naquela boca amaldiçoada. Tinha que ser no dia da prova do meu vestido? Usando o terno que escolhi para você? Aquele homem era seu amante há muito tempo, eu sinto... Quando visitamos o apartamento que seria nosso você não me beijou como antes, olhei as mensagens em seu celular e você marcou um encontro com ele. Qual a sensação de me trair, de me enganar? Tantas perguntas e uma única resposta: Foi tudo porque você não me ama.

E se você não me ama, você também não ama o nosso filho.

Não somos mais necessários em sua vida... Você tem ao seu amante agora.

Não se preocupe, você estará livre em breve. Afinal, não é possível se casar com alguém que já morreu.”

-

Definitivamente não foi um acidente que matou YunHa.

Fui eu.

O grito que ficou preso em minha garganta ao terminar de ler a carta amassada quase me sufocou. Chorava, sem piscar uma única vez. Os olhos se mantinham fixos em um ponto qualquer, não via nada além da névoa que invadia meus pensamentos e deixava meu corpo anestesiado. Os lábios secos logo foram molhados pelo líquido salgado que descia como o mar se agitando em meio a uma tempestade. E o barulho da chuva lá fora não era tão alto quanto meu coração que batia dolorido contra meu peito, todas as funções do meu organismo eram executadas de modo doloroso.

Um arrepio passou e eriçou todos os pelos do meu corpo, a janela impedia que qualquer vento entrasse, não era do frio, era por causa da culpa. Um sentimento gelado, amargo e impiedoso. Menos tirano do que o amor, esse passava por cima de qualquer coisa para permanecer intacto, soberano. O desgraçado sorria bem na minha frente, mostrando seus dentes perfeitos, mostrando que ele era mais forte do que eu. Era a personificação do que sentia por BaekHyun, o amor doentio que a ciência e até mesmo Deus não conseguiria explicar.

- Ela descobriu. – disse e só então voltei à realidade. – Ela nos seguiu e nos encontrou conversando em um restaurante na véspera do casamento.

BaekHyun ainda chorava, completamente entorpecido pelas lágrimas, mas afirmou em um aceno com a cabeça.

- YunHa deixou a carta e saiu correndo... – não sabia se falava para ele ou para eu mesmo, cada palavra cortava minha garganta a ponto de sentir o sangue coagular dentro da boca. – Corri atrás dela, mas foi tarde demais.

- Me desculpe, me desculpe, me desculpe... – ele murmurava, mas suas desculpas não trariam YunHa de volta, muito menos o nosso filho que ela esperava. – A culpa foi minha, eu... Eu provoquei tudo isso.

Ri, era cômico o seu desespero. Cômico e inútil.

Andei até a porta, encostando na superfície lisa e permitindo que a tristeza me abatesse. Meu corpo deslizou completamente sem vida até o chão, não conseguia encarar BaekHyun porque a culpa brotava de seus olhos, assim como transbordavam dos meus. Fechei os olhos e soltei o suspiro mais longo de minha vida, meus músculos retesaram e senti mais dor pelo ato. O sangue que manchava minhas lembranças era mesmo dela, que se jogou na frente do primeiro carro que viu, sem medir o estrago que a lataria de um automóvel em alta velocidade faria com seu corpo frágil.

Na verdade ela sabia exatamente o que aconteceria.

Primeiro mancharia o asfalto com o líquido ferroso que pouco a pouco se esvairia de seu corpo, ao mesmo tempo em que seu coração machucado pararia de bater, levando a pequena sementinha em seu ventre junto. E levando também a minha sanidade.

- ChanYeol, por favor diga alguma coisa... – BaekHyun pediu, estava ajoelhado bem na minha frente, não vi quando ele tentou me amparar.

- Teria como impedi-la? – perguntei inutilmente.

- Eu não sei, nós corremos atrás dela assim que deixou o restaurante. – voltou a chorar. – Fiz os primeiros socorros e chamei a ambulância, mas não era mais possível salvá-la.

- Tentou mesmo salvá-la? – precisava ter certeza.

Sua face endureceu, como se tivesse feito uma ofensa.

- De todas as formas! – gritou. – Acha que não sofri por todos esses anos? Acha que sou um maldito egoísta? – não, o papel de egoísta era meu afinal. – Tentei tanto que minhas roupas ficaram manchadas de sangue e quando vi você estava parado no meio da calçada, como um corpo vazio.

- Então por que ainda se culpa?

- Porque você iria se casar! – exasperou-se. – Porque eu me declarei, porque eu tinha esperanças de ficarmos juntos, porque em nenhum momento pensei realmente no que ela poderia fazer se descobrisse, porque...

- Cala a boca! – mandei. – Pare de falar bobagens, está me dando dor de cabeça.

- Chanyeol... – seus lábios voltaram a tremer, como se suas lágrimas ganhassem força. Sua figura pequena parecia tão quebrável. – Não me odeie, por favor não me odeie.

Eu não o ouvia, ou melhor, ouvia e ignorava.

Ali jogado no chão entendi porque a loucura me abraçou como uma mãe confortando seu filho, porque era morno o toque da inconsciência e como era tentador me render a ela novamente. Li a carta antes de me desligar do mundo, eu sabia que ela morreu por minha causa, pelo amor que infelizmente não sentia por ela. YunHa também era egoísta assim como eu, como BaekHyun... Nisso nós três nos completávamos. Nós não pensamos na reação dela, nunca imaginamos que seria capaz de se matar, e ela não pensou no nosso filho, que mesmo sendo um fragmento de vida merecia viver.

Além de lidar com a perda de um filho que nunca conheci, também teria que lidar com a culpa. Como ele seria? Teria a pele alva igual à dela? Seu cabelo seria castanho como o meu? Menino ou menina? Eu seria um bom pai? Nós seríamos uma família?

Eu nunca saberia.

Naquela noite – após muito pensar – marquei um encontro com BaekHyun, disposto a ficar com ele. Eu iria desistir do casamento, não que já o amasse, mas era inegável o poder que exercia sobre mim. Entrar em uma igreja inseguro e com tantas dúvidas não era o correto, se não machucasse YunHa naquele momento a machucaria em um futuro não tão distante. Como manteria um laço enfraquecido? A beijaria imaginando ele em seu lugar, tocaria sua pele aveludada lembrando de quando trilhei o mesmo caminho pelo corpo masculino de BaekHyun? Provavelmente não suportaria e acabaria me encontrando com ele, nos tornando verdadeiros amantes.

Não tinha como fugir.

- O que aconteceu depois? – eu não poderia saber, afinal morri junto com YunHa.

- A ambulância chegou, você não estava em condições de ir junto então eu fui, mas antes peguei seu celular e liguei para Kris. – então era ali que Kris se envolveu. – YunHa o procurou, mas ele não esperava que ela cometesse suicídio.

- E a carta ficou com você?

- Ficou, mostrei a ele depois e achamos melhor que a família não soubesse. – suspirou. – Ele te levou para o mesmo hospital que YunHa, os pais dela e os seus foram informados do acidente e ninguém ficou sabendo sobre nós.

Ele e Kris empurraram o problema para debaixo do tapete.

- Como você não respondia a nenhum estímulo, não seria possível descobrir como tudo aconteceu. – continuou. – Eu fiquei conhecido apenas como o médico que prestou os primeiros socorros, que estava na hora e no momento certo, mas a nossa ligação não foi revelada.

Um suicídio se tornou apenas uma tragédia do cotidiano?

Sentia tudo mais sujo e desumano do que antes.

- Os médicos acabaram te liberando, mas você definhava a cada dia. Até que foi preciso te internar, porque estava fraco e não falara uma palavra sequer. – suas mãos foram até as minhas, gélidas iguais a um cadáver. – Não foi difícil para o psiquiatra te diagnosticar, até um clínico geral entenderia o que estava acontecendo.

- Eu estava morto. – respondi, e mesmo com sua mão gelada sobre a minha sentia a pele queimar. – E como acabou se tornando responsável pelo meu caso? – seria outra coincidência?

Ele soltou a minha mão e se levantou, fiz o mesmo por não aguentar esperar. Mas ele apenas foi buscar o envelope que ignorei anteriormente, me entregando.

- É a parte ainda mais louca de tudo. – disse simplesmente.

Arqueei uma sobrancelha, o que de ruim ainda iria descobrir?

- Quando eu fui provar o terno era para o seu casamento, Chanyeol. – revelou e quase deixei o envelope cair.

- Como? – tinha alguma câmera escondida naquele apartamento? Era uma pegadinha?

- Leia. – indicou.

Abri o envelope como foi ordenado, o papel era sofisticado e possuía uma leve tonalidade amarelada. As letras eram douradas, brilhavam mesmo com o passar do tempo, havia alguns detalhes de flores no mesmo tom, enfeitando o convite de casamento.

Park ChanYeol & Jung YunHa

Meu rosto endureceu, aquele convite não poderia ser destinado a ele.

- Espero que tenha uma boa explicação para isso. – entreguei o envelope, mas ele não aceitou.

- Leia o verso. – pediu, como se implorasse por uma chance.

Verifiquei o que ele pedia e em troca encontrei para quem era destinado aquele convite.

- São seus pais? – indaguei, mas era óbvio porque o sobrenome era o mesmo. Não lembrava de conhecer um casal com esse nome, muito menos tê-los convidado.

- São, minha mãe foi convidada pela sua. – riu fraco. – Elas são amigas até hoje, acho que talvez se lembre do nome “Byunnie”, é o apelido que sua mãe colocou na minha.

 

Byunnie? Era uma senhora bonita que frequentava a casa dos meus pais, em várias ocasiões e até mesmo em minhas festas de aniversário ela estava presente, sempre comentando do seu filho... Psiquiatra. Céus, como poderiam existir tantos caminhos para o meu destino se cruzar com o dele? De uma forma ou de outra tudo sempre terminava em um ponto que seria inevitável nos reencontrarmos.

- Não moro com meus pais desde que voltei de Londres, ganhei o apartamento de presente e garanti minha independência. – disse, pegando o envelope e rindo por segurá-lo. – Minha mãe foi com a sua até o hospital e quando me viu lá ficou sem entender nada, mas ambas agradeceram por eu ter ajudado.

Não era tão difícil juntar as peças.

- Sua mãe encomendou um terno e você foi prová-lo, no dia do casamento nós finalmente iriamos nos reencontrar, mesmo que não o visse na boate, mesmo que não se enganasse com o provador da loja... Seria inevitável... – murmurei e ele concordou. – Existe mais alguma coisa, Doutor Byun?

Minha voz saiu mais fria do que desejava.

- Eu iria trabalhar no hospital, mesmo que sua mãe não pedisse diretamente que eu cuidasse de você. – se aproximou, mas a diferença de altura não permitia que olhasse diretamente em meus olhos, então era obrigado a me inclinar um pouco. – O diretor me disse semanas depois, existiam muitas recomendações para minha futura contratação.

- Você é o melhor afinal. – não estava sendo irônico.

- Sou, mas para o seu caso ser o melhor não significa nada, sempre fui vulnerável perto de você. – confessou, parecia doer desde os seus ossos até sua pele continuar falando. – E nós também seriamos vizinhos. Minha mãe nunca gostou desse apartamento, vivia me mandando mudar e ficou encantada quando soube do prédio em que você iria morar, fica perto da casa em que fui criado.

- Parece que nós não tínhamos escolha. – ele esperava por uma resposta e não o torturaria por mais tempo. – Algum detalhe sempre existiria entre nós, algo que nos uniria, querendo ou não.

E dizer que aquilo não me assustava seria mentira. A faculdade, a boate, a loja, o casamento, o hospital, o apartamento... Tudo me levaria até ele. Se me cassasse não iria durar, sucumbiria a vontade de beijá-lo em qualquer lugar que o reencontrasse. Em qualquer época da minha vida, lúcido ou não. BaekHyun me pertencia, o destino claramente mostrava o seu desejo de nos ver juntos, passando por cima de qualquer coisa para nos ver finalmente como uma única alma. Um sentimento além do livre arbítrio, um abismo que nos puxaria para a queda sem fim.

Amá-lo não era uma escolha, era a razão do meu coração ainda bater.

- Você me odeia? – ouvir sua voz em meio ao silêncio cortou o ar, chegando até mim debilitada. – Eu vou entender se me odiar, eu...

Não deixei que ele terminasse, toquei seus lábios em um pedido mudo para que ele ficasse quieto. Joguei meu corpo novamente no estofado macio, afundando e permitindo que meus músculos relaxassem, não chorava mais, as lágrimas secaram como minha alma que morreu no dia em que YunHa e meu filho se foram. Só assim, ouvindo as batidas do meu coração, a respiração pesada de BaekHyun e a voz que julguei ser minha consciência, entendi o que aconteceu entre nós.

Esse tempo todo era BaekHyun que precisava enxergar a verdade, não eu.

Permaneci por incontáveis minutos em silêncio, sentindo o oxigênio fazer todo seu caminho, entrando pelo nariz, preenchendo meus pulmões e depois saindo pela boca. Eram muitas informações em pouco tempo, era doloroso e as feridas sangravam, mas como demorei a respondê-lo isso o preocupou.

- ChanYeol, reaja! – BaekHyun gritava, segurando em meus ombros enquanto balançava meu corpo vazio, que esperava ser preenchido pelo veneno de seus lábios. – Não se deixe levar, se esforce um pouquinho, não deixe que a loucura te leve outra vez! – ele segurou em uma das minhas mãos e a levou até seu rosto. – Pode me bater, pode descontar em mim, pode me odiar, mas apenas reaja!

Eu sorri, encarando-o e puxando seu rosto até que estivesse a milímetros do meu.

- Eu te amo. – respondi finalmente, recebendo seu choro compulsivo como resposta. – Sou completamente viciado em você.

- Não entendo... – sussurrou, eu secava suas lágrimas com suaves beijos.

- Você não é culpado, jamais te odiaria. – selei nossos lábios brevemente. – Eu também não sou culpado, ninguém é. – puxei seu corpo de forma que ele sentasse em meu colo, com uma perna de cada lado. – Era nosso destino ficarmos juntos, já pagamos o preço para tê-lo.

Ele ficou surpreso, mal sabia como reagir e eu ficava encantado com detalhes aparentemente insignificantes de sua falta de reação.

- Faço qualquer coisa por você. – confessei. – Iria te buscar até no inferno se fosse preciso.

Aos poucos ele parava de chorar, seu rosto estava vermelho, a vida exigiu muito dele também. Suportou tudo aquilo calado, me vendo em um estado tão deplorável no hospital, delirando e chamando por ele sem sequer ter noção do tempo e espaço. Dizendo que o amava enquanto o corpo da minha noiva se resumia ao pó, fazendo com que ele se sentisse culpado pelo que aconteceu. BaekHyun lidou com a realidade, eu covarde e fraco me prendi à imaginação, criando personagens e uma outra versão dos fatos, em que quem sabe nós poderíamos ser felizes.

Se fossemos mesmo culpados, o tempo tratou de colocar tudo em seu devido lugar. Era sofrimento demais para carregar durante toda a vida, éramos novos, só precisávamos recomeçar. YunHa sempre teria seu espaço em meu coração, mesmo com uma tragédia manchando sua lembrança. O remorso talvez voltasse em outras ocasiões, mas quando acontecesse saberia lidar com ele.

Chegara o momento de YunHa também alcançar sua própria paz.

- Obrigado por ter cuidado de mim por tanto tempo. – agradeci selando novamente nossos lábios, mas sem me afastar. – E me desculpe por me entregar à loucura, te deixei sozinho quando mais precisava.

Suas mãos foram até minha nuca, acariciando a região de forma tão carinhosa que quase ronronei como um gato recebendo afago do dono.

- Fiquei com medo de enlouquecer também, mas eu precisava te manter vivo, precisava te trazer de volta. – o clima começava a esquentar e seu corpo não estava mais frio. – Sou irrevogavelmente obcecado por você, um médico doente pelo próprio paciente.

Ele tinha razão.

- Vamos nos curar. – sugeri, mordendo seu lábio inferior. Já estávamos envolvidos em poucos segundos, com a tensão sexual nos rondando. – Vamos viver o presente, esqueça o passado.

- Então me cure, me faça esquecer e me preencha por completo. – gemeu quando sentiu minha excitação tocar-lhe a carne. – Faça agora, Chanyeol.

Pretensioso dizer o quanto um mínimo toque também o excitava, segurei firme em suas coxas, mas sem a brutalidade de antes, levantando e trazendo seu corpo junto ao meu, caminhando até o quarto. Não desviei meu olhar por um segundo sequer, seus olhos estavam líquidos novamente, no tom amendoado que o deixava ainda mais bonito. Ainda não nos beijávamos, a boca macia apenas roçava na minha, provocando, instigando para algo mais profundo e íntimo.

Ele era bom em provocar, porque não era apenas com olhares e gestos, seu corpo inteiro me convidava para degustá-lo, pedindo para que eu marcasse a pele com saliva e gozo. Criava um ambiente completamente sexual, mas não de forma suja e depravada, mas envolvente e até mesmo suave. Movia-se com as ondas do mar, indo e vindo sentado em meu colo quando já nos encontrávamos no quarto, na mesma cama em que o tomei pela primeira vez. O colchão era macio, os lençóis tinham o seu cheiro, a iluminação fraca refletia em sua pele leitosa, tudo nos tragava para aquele momento.

O tecido incomodava, raspava na pele, impedia os toques e os beijos. Tirei sua blusa e a minha, admirando o corpo masculino, com a mesma devoção da primeira vez. Meus lábios provaram de sua pele, os dentes afundaram na região do pescoço, ombros e peito. Com a ponta da língua tocava seu pomo, sentindo a vibração de seus gemidos ecoarem por sua garganta, chegando a ficar rouco de desejo. Depois me concentrei em seu rosto, recebendo carícias na nuca ou arranhões nas costas, ele mal conseguia me tocar, pois suas reações eram exacerbadas, dominando até sua alma.

- Tenha calma. – ele pediu, se curvando e alcançando meus lábios em um beijo.

Estava se acostumando aos poucos com os toques, como um virgem em sua primeira vez, por isso suas respostas aos meus estímulos vinham de forma lenta, mas intensamente. Maravilhei-me por seu corpo estar intocado por três anos, o meu também estava, mas era diferente já que ele era dominado. Tinha o total controle enquanto BaekHyun sequer prendia os gemidos em sua boca, eram soltos dentro da minha conforme o beijo se aprofundava. Molhado, estalado, cheio de saudades. Beijá-lo sempre seria uma experiência única e sentiria falta de seus lábios mesmo após deixá-los inchados por causa das mordidas que depositava.

Minha excitação pulsava dentro da calça, doía e como um masoquista apreciava a sensação de ser esmagado pela carne de suas nádegas, firmes e redondas. Apartei o beijo quase o afogando com a pressão de minha língua, deitei seu corpo na cama e fiquei ainda mais encantando com seus traços masculinos. Tomado da fúria que o invadia naqueles momentos, BaekHyun me puxou pelo cabelo, forçando minha cabeça em seu peito, em um pedido mudo – mas autoritário – para que eu o agradasse com a boca. Ri do seu modo apressado, ele mesmo tinha pedido para eu manter a calma há minutos.

- Está com pressa? – indaguei malicioso, molhando seu peito com saliva, deixando os mamilos úmidos para em seguida tocá-los usando apenas os dedos indicadores.

Brincava com seu corpo e ele correspondia impondo seu quadril contra o meu, atritando a região mais sensível.

- Na verdade eu não sei, ah... – pressionei o mamilo direito com mais força do que ele esperava. – Agora eu definitivamente estou com pressa, espero por esse momento há três anos. – confessou.

Porém, seu corpo já tinha dado indícios da sua espera.

- Então quero que aproveite. – aconselhei, tirando o suor que se acumulava em sua testa, ele parecia febril de tão quente.

Fora fácil se livrar de sua calça larga, ele não usava nada por baixo e quase gargalhei pelo fato. “Pervertido”, sussurrei próximo ao seu umbigo, mordendo, puxando a pele da região entre os dentes. O corpo antes alvo se encontrava completamente marcado, a não ser pelas coxas e virilha que me concentraria naquele momento. Apalpei onde meus dedos facilmente marcavam, toquei com as mãos, lábios, língua... Envolvi sua intimidade com a boca, tendo todo o controle do seu corpo em poucos movimentos, sugando toda rigidez por completo, conforme ele se curvava devido ao prazer de um único ato.

 

BaekHyun gemia, implorava por mais, remexia-se na cama quase a beira do clímax e eu apenas sorria achando lindo seu peito subindo e descendo devido à respiração acelerada. O preparei com todo cuidado, gentilmente o tocando, explorando, invadindo e o deixando mais relaxado para me receber assim que me livrei do restante das roupas. O que ele fez por mais apertado que fosse. Sem os meios necessários seria impossível amenizar completamente a dor, mas a cada investida contra seu corpo tentava demonstrar o quanto me preocupava e o quanto ele me excitava.

Queria proporcionar prazer a ele naquela noite, negligenciando minha própria necessidade. Na verdade não precisava de muito para satisfazê-la, suas expressões eram o suficiente para minha ereção doer enquanto o penetrava, excitando-me pelos gemidos roucos que aquilo proporcionava. Mantinha suas coxas bem firmes em meu quadril para ir cada vez mais fundo em seu corpo frágil, conseguíamos atingir a perfeição quando unidos, no mesmo ritmo, tomados pelo mesmo sentimento.

BaekHyun não anunciou quando iria gozar, mas se desfez abundantemente, apertando todos os músculos e consequentemente me fazendo atingir o clímax após a última estocada. Era quase depressiva a sensação de deixá-lo, rapidamente envolvi seu corpo, o abraçando ainda por cima apoiando um pouco do peso nos cotovelos, não queria parar de admirá-lo. As pequenas gotinhas de suor, as bochechas coradas, a boca um pouco inchada de tanto que ele precisou mordê-la e o sorriso discreto que demonstrava o quanto ele estava feliz.

- Você é lindo. – disse óbvio. – Te faria meu de qualquer forma e em todas as posições possíveis.

- Porque eu sou inteiramente seu. – respondeu, tirando a franja que cobria parcialmente o meu rosto. – Gosto do seu cabelo assim, você também é lindo, Chanyeol. – amava quando ele pronunciava meu nome.

Amava tudo que viesse dele.

- O que acha que sempre acaba nos unindo? É aquela estória de nos conhecermos em outra vida? – indaguei curioso, lembrando de quando dançamos juntos. Também sentia a mesma coisa.

- Talvez, mas acho que se ficarmos juntos assim... – me beijou levemente. – Bem juntinho... – deu outro beijo, um pouco mais demorado e depositando as mãos em minhas costas. – Seja o suficiente para essa vida, não vamos desperdiçá-la.

Concordei, expondo minha língua para que ele mordesse.

- Não vamos. – disse antes de beijá-lo, seu corpo morno voltava a ficar quente debaixo do meu.

Só me separaria dele para respirar.

- Então você não vai mais fugir? – perguntei, apenas por segurança e ele confirmou que nunca mais me abandonaria. – E a sua transferência para Londres, irá cancelar?

Vi um pouco de dúvida em seu rosto, mas não da forma como eu imaginava.

- Não existe nenhuma transferência para Londres! – riu após entender aonde eu queria chegar com aquele assunto. – Só iria me ausentar do hospital, voltar com as consultas no meu consultório, mas jamais abandonaria o país... Jamais abandonaria você.

Sua sinceridade e devoção me quebravam por dentro, nos dias anteriores jurava que ele iria embora, que fugiria para sempre de mim. Porém ele só tinha medo, também estava assustado e confuso com tudo que aconteceu, vivendo dia após dia sem nenhum momento de paz. O homem que cantava para eu dormir, zelava por meu sono e colocava sua carreira em risco não era um covarde, eu tinha muito orgulho de amá-lo, a ponto de adoecer por ele. Indo até as últimas consequências.

- E se amanhã eu acordar e esquecer de tudo e voltar com os delírios? – era minha maior preocupação no momento.

O mundo que enfrentaríamos fora daquela cama não era nada comparado ao mundo que criei em minha mente, que poderia vencer aquela guerra a qualquer momento e em um único golpe. Ele se remexeu, claramente pensativo sobre a minha pergunta, mas sua expressão sequer chegou a se fechar, logo ele sorria depositando selinhos suaves em meu rosto.

- Idiota. – xingou, mas não de forma ofensiva. – Se você esquecer eu faço tudo de novo, passo mais três anos naquele hospital com você. – seu tom era sério apesar das brincadeiras de antes. – Até que lembre, até que me faça seu como fez agora.

- Hm, então acho que sofrerei de algum tipo de amnésia. – sorri, invertendo as posições e o deixando por cima.

Em poucos minutos nos encontrávamos perdidos em meio ao emaranhado de lençóis, amando, trocando carícias, rindo um do outro, aproveitando tudo que perdemos ao longo do tempo. Amar daquela maneira era uma maldição e uma dádiva, só de tocá-lo era como estar no céu. Receber um olhar ou um beijo me deixava anestesiado, os detalhes de sua anatomia me enlouqueciam. Seus defeitos e medos me atraíam, queria decifrá-los com uma sede de entender mais sobre Byun BaekHyun.

Minha respiração se acalmou aos poucos, voltei a abraçar seu corpo quando exausto após fazê-lo meu novamente. Ele era pequeno, encaixava-se perfeitamente em meu peito, seus cabelo fazia cócegas em meu queixo e me tranquilizava sentir seu coração batendo, tão alto como se avisasse que era por mim. Rompi o silêncio gostoso entre nós apenas quando BaekHyun quase se rendia ao sono.

- Um louco é capaz de amar? – indaguei.

- Sim, se ele for correspondido por outro. – respondeu com um sorriso nos lábios, me beijando apaixonadamente. – E eu sou louco por você.

Não era necessário dizer mais nada.

O destino encerrava ali sua missão, nós estávamos juntos conforme a sua vontade. E se por algum motivo ele nos obrigasse a separar aquele sentimento, nós iríamos lutar contra tudo que fosse contrário ao nosso amor. Juntos éramos indestrutíveis, na lucidez e na imaginação.

Completamente apaixonados.

Eu criei uma realidade paralela para ficarmos juntos, um mundo só nosso, uma fuga de todos os meus medos que agora se despedia, quase perdendo o trem de partida. Era como uma velha amiga que caminhava para uma viagem sem volta. Não nos veríamos por muitos e muitos anos, talvez no dia da minha morte, mas até lá ela pegaria o próximo trem e sumiria através do horizonte, sem choro e lamentações. Afinal ela já tinha ficado por três anos, não iria sentir saudades e não era um até breve...

Era um adeus.

-

O que é real?

As lágrimas que você derrama? O gosto amargo na boca? As palavras que acabou de ler?

A realidade está dentro de nós, está em nossos sonhos ansiando o dia em que despertará e verá a luz do sol, sentirá o vento, tocará os lábios da pessoa amada...

Sentimentos são reais, machucam, curam, amparam, ensinam e nos fazem viver.

E se o real for impossível de se alcançar? Imagine.

O que foi apenas imaginação, também pode ser a razão que mudou a sua vida.

E mudou?

-

FIM


Notas Finais


Escuto as trombetas do apocalipse? CHEGAMOS AO FIM! Só tenho a agradecer, nunca irei me cansar de agradecer: OBRIGADA! Por todos os comentários, puxões de orelha no twitter, palpites e pedidos. Prometo que meu próximo projeto será bem pensado e organizado, pra sempre responder vocês. Do contrário encerro minha vida de autora. Ainda tem o epílogo, mas mesmo assim deixo novamente o meu MUITO OBRIGADA!
Ah, o que querem ler: BaekYeol ou KaiSoo? Votem!
Beijos, eu amo vocês.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...