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História Realidade Paralela - Sedado.


Escrita por: _Mag

Capítulo 7 - Sedado.


Eu não estava acordado, mas também não estava dormindo. Ouvi algumas vozes que claramente demonstravam preocupação, vi alguns flashes como se colocassem uma luz muito forte contra o meu rosto e por último senti um carinho suave em minha testa. Acho que minha mente vagava para bem longe do plano material, porque meu corpo estava leve e me lembrava vagamente dos últimos acontecimentos.

Talvez fosse aquela maluquice de vida após a morte, ou algum evento sobrenatural, mesmo que o mais sensato fosse imaginar que aquilo tudo acontecia dentro da minha mente. Era uma brincadeira – ou não – dos poderosos lá de cima. O sangue seco parecia se acumular em minha boca, impedindo a vontade de gritar. Um grito espesso de dor, mas não por mim e sim por outra pessoa, alguém muito importante em minha vida, que não lembrava o nome, e também não conseguia ver quem era.

Só sabia que estava morta.

Sim, era exatamente por isso que estava ali. Por causa daquela dor e da pessoa misteriosa. Tudo estava muito embaralhado para conseguir decifrar, igual a um quebra-cabeça de mil peças em que você não sabe por onde começar, e acaba pegando cada peça aleatoriamente, sem saber exatamente o que fazer com ela. As peças eram minhas memórias, que precisavam se encaixar para que tudo fizesse sentido.

Uma das peças – ou lembrança - era o carro em alta velocidade, um carro que eu conhecia muito bem, pois pertencia à minha noiva. “Ela queria te matar”, uma voz debochada ecoou no lugar onde estava, não sabia qual a sua localização, mas deveria ser a parte mais profunda da minha consciência. Outra peça era a música, que ouvia repetidamente em meus sonhos, e que no último momento se tornou mais real, sendo a grande responsável por meu coração ainda bater.

Porém, o que mais impressionava era os traços masculinos e ao mesmo tempo delicados de BaekHyun, seu sorriso, sua voz, seu cuidado... Eram as memórias mais vivas, conversas que não lembrava que aconteceram, momentos a sós no nosso silêncio e aquela troca de olhar única, que tinha por trás um amor sincero e verdadeiro. Se pudesse iria rir da situação, mesmo à beira da morte pensava nele, no sentimento que guiava a minha vida.

Que me guiava para o despertar.

Quando finalmente abri os olhos, soube que dormi por muito tempo. Me sentia fraco, mas feliz por meu coração ainda bater, mesmo que lentamente. As primeiras imagens foram apenas borrões até me acostumar com a claridade do quarto de hospital, não precisei piscar duas vezes para me situar, as paredes branquíssimas e o cheiro de remédio eram características suficientes para mostrar que estava internado. Ergui um pouco o tronco, tentando olhar o estado do meu corpo, precisava saber se tinha algum osso quebrado ou algum dano irreparável na pele, mas tirando alguns hematomas no braço, tudo parecia bem.

Estranhamente bem.

Se não fosse por uma leve dor nas costelas, diria que sai ileso do acidente, o que contrastava bruscamente com o que senti naquele dia, um sentimento de perda enorme, como se não fosse eu caído no asfalto. Bom, estava vivo era o que importava, já que morto não poderia esclarecer nada, tudo deveria estar desabando fora daquele quarto de hospital. Minha primeira preocupação era minha ex-noiva, já que depois da traição – me apaixonei por outra pessoa – e do atropelamento, não poderia ir adiante com mais nada, definitivamente.

BaekHyun com certeza estava lidando com tudo sozinho, enquanto o inútil aqui dormia. O meu caso com ele já devia ser motivo de fofoca entre toda a família e amigos, pois não sabia como a notícia do atropelamento chegou até eles, talvez YunHa mentisse, afinal ela precisaria de uma boa desculpa para ter feito o que fez.

Não existia nenhum mordomo para levar a culpa, infelizmente.

Eu não conseguia odiá-la de verdade, no fundo sentia pena porque ela não merecia o que fizemos, foi fraca e acabou sendo imprudente, poderia ter morrido e não morri, então quem sabe tudo terminaria bem?

Fui interrompido com uma leve batida na porta.

- Vejo que acordou. – O enfermeiro entrou no quarto animado.

E eu o conhecia.

- KyungSoo! – Saudei surpreso. Não me recordava dele ser enfermeiro. – Desde quando trabalha em um hospital?

Ele olhou como se eu tivesse feito uma grande piada, então apenas deu de ombros.

- Desde sempre. – Riu. – É bom saber que acordou, você dormiu por dias. – Disse se aproximando e checando meu soro.

- Fiquei muito tempo desacordado? – Perguntei, precisava saber do mundo lá fora.

- Seis dias. – Disse como se fosse a coisa mais normal do mundo. – E está com sorte, hoje é dia de visitas. – Terminou retirando o maldito soro da minha veia. – Eu vou buscar sua comida, deve estar se sentindo fraco.

Realmente estava, meu estômago reclamava por alimento, mesmo que fosse a comida ruim que os hospitais geralmente serviam. Ele se foi antes que eu pudesse perguntar alguma coisa, maior que minha fome só a minha curiosidade. Era estranho estar sozinho, pelo que conhecia de internações os pais poderiam acompanhar o filho, a poltrona no canto do aposento parecia abandonada e estava gasta. “Que lugar estranho...”, pensei inutilmente esperando o tempo passar.

Graças aos céus passou rápido.

- Voltei... – Avisou retornando, tinha uma bandeja em mãos com uma variedade de alimentos que até estranhei. – Está reforçado, o médico que mandou.

- Obrigado. – Agradeci enquanto KyungSoo arrumava a bandeja em meu colo, me ajudando a ficar sentado em uma postura melhor. – Até aqui sua organização está presente? – Ri, quando ele passou a ajeitar o cobertor fino que me cobria.

- Organização é sempre bem-vinda. – Falou com aquele jeito “certinho” característico dele.

Enquanto SuHo parecia um pai para nós, KyungSoo durante o namoro com Kai fazia o papel de mãe. Sempre limpava a casa quando fazíamos bagunça, muito organizado mandava em todo mundo e raramente desobedecíamos, Jongin até disse uma vez que ele separava as roupas por cor, o que foi motivo de riso por um bom tempo. Senti mais acolhido quando vi KyungSoo atravessar a porta, simpático como sempre me obrigou a comer tudo direitinho.

A bandeja continha uma tigela com aveia, um copo de leite e algumas frutas cortadas em cubo, comi tudo e me senti satisfeito ao ver tudo vazio, KyungSoo também porque deu um de seus sorrisos animados – o que eu não lembrava que acontecia com tanta frequência – e disse que eu era o melhor paciente. Acho que era um elogio, então agradeci.

Mas ainda estava curioso e aflito.

- D.O... – O chamei pelo apelido. – Você sabe alguma coisa sobre o acidente? – Comecei incerto.

- Você se lembra? – Balancei a cabeça positivamente. – Do que exatamente?

Suspirei, doía um pouco falar sobre aquilo.

- Eu estava atravessando a rua, quando um carro em alta velocidade veio em minha direção. – Disse, e ele de repente ficou sério. – Quem dirigia o carro, era a minha noiva.

KyungSoo me olhou profundamente, parecia escolher o que dizer, talvez apenas algo que me agradasse, porque demorou demais para uma simples resposta.

- Tente não pensar muito nisso agora que acordou. – Aconselhou. – Descanse mais um pouco, se precisar de alguma coisa só apertar esse aparelhinho. - Apontou para um tipo de campainha. – Que eu ou outro enfermeiro iremos te atender.

Assenti, mas antes que ele saísse com a bandeja precisava de outra informação.

- KyungSoo... Você sabe alguma coisa sobre o BaekHyun? – Indaguei, torcendo para que tivessem falado algo para ele.

- Descanse, combinado? – Mudou de assunto, saindo do quarto e me deixando sem resposta.

Bufei irritado, descansei por exatos seis dias! Não precisava descansar mais, meu corpo dizia isso, pois estava dormente por ficar tanto tempo parado. Não conseguiria deixar de pensar nele, era impossível. Poderia estar aflito sem notícias e sem poder me visitar, com o remorso pensando em suas mãos e o medo transbordando de seus olhos, tão brilhantes... BaekHyun tinha a alma iluminada, mesmo que eu não pudesse vê-la, assim que SuHo me visitasse iria perguntar o que realmente me angustiava.

x-x-x

Calculei mentalmente o tempo passar, não existia nada para me tirar do tédio enquanto esperava, então apenas me contentava em observar o teto, as paredes e o estofado gasto no canto do quarto. Estava prestes a apertar a tal campainha quando KyungSoo retornou ao quarto, me entregando um remédio – para a dor nas costelas – e também avisando que meus pais estavam lá fora, o que me deixou animado nos primeiros minutos.

Porque em seguida lembrei que seria uma decepção para eles, veria o rosto de minha mãe e pensaria que nunca iria lhe dar netos. Meu pai com certeza manteria o semblante sério, e por dentro julgaria por eu decepcioná-lo como homem, pois jamais me casaria com YunHa ou qualquer outra mulher e não chegaria a ser “um pai de família” igual a ele.

Eu seria o filho que dias antes de se casar desistiu de tudo, por egoísmo e por uma paixão arrebatadora por outro homem – e irmão da noiva -, que fugiria na primeira oportunidade abandonando sonhos, abandonando até mesmo eles para viver como os enamorados dos filmes, sem se importar com valores ou com as outras pessoas. Que estava traindo a futura esposa no lugar que chamaríamos de lar, tomando o irmão dela em todas as posições possíveis até saciar-se daquele sentimento e que no fim foi atropelado pela mulher traída.

Um filho patético, tolo por ter esperanças falsas de uma vida feliz.

Engoli o remédio logo, precisava encarar meus pais de uma vez por todas, sendo uma decepção ou não. Porém, quando vi a figura pequena de minha mãe entrando no quarto, desisti de todos os meus pensamentos.

Ela estava mais magra, parecia cansada e as olheiras mostravam as noites sem dormir. Sorri fraco estendendo os braços para recebê-la em um abraço, sentindo todo o carinho de mãe, percebendo o quão idiota fui achando que ela iria me julgar. Estava mais preocupada com a minha saúde, seus olhos transmitiam uma preocupação absurda, como se eu não fosse sobreviver após o acidente. Apertei o abraço mostrando que eu estava bem e feliz por vê-los, pois meu pai me olhava como se fosse um milagre estar ali com eles.

- Mãe, eu estou bem. – Disse com a voz firme, e ela começou a chorar baixinho ainda nos meus braços. – Não precisa chorar, logo vou estar em casa.

- Claro meu filho, você vai melhorar em breve. – Se soltou, segurando em minhas mãos e me encarando. – Então você vai voltar para casa, e passaremos uma borracha em tudo que aconteceu. – Seu tom era doce e gentil.

Meu pai se aproximou nesse momento, colocando sua mão por cima das nossas que estavam unidas, foi inevitável chorar quando os vi tão preocupados. Mas em meio às lágrimas eu sorria, ver minha família em uma cena tão linda e fazer parte disso não tinha como descrever. Até mesmo um advogado firme e rigoroso como meu pai se mostrava atencioso, amável como nunca vi antes, sendo um verdadeiro pai apenas com sua presença imponente e acolhedora.

- Pai, me desculpe... Por tudo. – Pedi, mesmo que não soubesse se meu caso com BaekHyun era do conhecimento deles.

- Não há nada para se desculpar. – Alegou. – Ver que está melhor é um presente, então por que pede desculpas?

Suspirei baixo, talvez eles não soubessem de nada e estava me precipitando, mas ainda sim sentia que precisava me desculpar.

- Sabem que foi por causa da YunHa que eu acabei nessa cama de hospital, não sabem? – Hesitei, precisava saber até onde ia o conhecimento deles sobre o acidente.

- Sim, sabemos querido. – Minha mãe respondeu, mudando de tom e ficando mais séria. – Mas não fale mais sobre isso, é doloroso. – Pediu. – O médico disse que suas lembranças voltariam aos poucos devido ao trauma.

- Eu me lembro de tudo. – Disse com naturalidade.

Em um misto de surpresa e alegria vi minha mãe soltar minha mão e me abraçar novamente, dizendo coisas sem sentido como se eu não fosse me recuperar mais. Até meu pai controlou a vontade de sorrir, dizendo que iriamos viajar em comemoração. Definitivamente eles não sabiam sobre BaekHyun, ou não estariam tão animados.

- Sofri alguma lesão mais grave? – Perguntei confuso. – Não é normal me lembrar?

- É absolutamente normal, querido. – Sorriu. – O médico nos deu essa esperança. – Afirmou, iniciando uma série de beijos em minha testa. – Aliás, vou chamá-lo.

Eu apenas assenti, precisava da opinião de um profissional sobre meu estado, não era possível ser algo tão grave a ponto de deixar meus pais daquele jeito, alguma coisa não estava se encaixando, uma informação solta que me confundia. Conversei um pouco com meu pai, ele disse que avisaria meus amigos sobre a minha recuperação, já que as visitas não eram permitidas até eu acordar.

- Eu dormi mesmo por seis dias? – Perguntei receoso, do ponto de vista deles pareciam meses.

- Sim. – Respondeu calmo. – Quando me ligaram avisando, perdi meu mundo. – Declarou, passando a mão em meus cabelos em um gesto amoroso. – Perder um filho é o fim da vida de um pai.

- Não diga bobagens, o senhor é forte. – Afirmei, as lágrimas brincavam em meus olhos querendo sair. – É impressão minha ou ganhou alguns fios de cabelo branco? – Provoquei e ele riu.

- O tempo não perdoa, meu filho. – A voz dele transmitia toda uma experiência de vida. – Mas até que estou inteiro, não estou? – Riu novamente.

Eu ri com ele, do meu jeito escandaloso de sempre. Quando era criança vivia recebendo broncas por meu lado efusivo, que continuou em minha adolescência e existe até agora. KyungSoo que saiu do quarto quando meus pais chegaram, voltou acompanhado de minha mãe e o tal médico.

- Nos últimos dias o Doutor Kim ficou responsável por você. – Minha mãe explicou, para logo em seguida eu avistar o rosto do médico.

Amaldiçoando todas as coincidências daquele dia.

- Sua mãe disse que você se lembra do acidente, sentiu alguma tontura quando acordou? – Perguntou, se aproximando querendo me examinar.

- Não. – O cortei ríspido. – E eu também me lembro de você. – Sorri irônico.

JongDae – ou Chen – se afastou no mesmo instante, pedindo para meus pais se despedirem porque o horário de visitas havia terminado.

Minha mãe o olhou, confusa, e em seguida direcionou o olhar até mim, não reconhecendo meu tom de voz alterado. Estava sendo estúpido por ainda sentir ciúmes de BaekHyun, mas realmente não agradava em nada saber que meu médico era o amigo atrevido que conheci no shopping. A despedida foi rápida, minha mãe disse que voltaria e eu apenas assenti, já sentia a falta dela só por nos afastarmos um pouco, porém não queria que ela percebesse meu mau humor repentino. Meu pai também se despediu, conversando algo com o médico que não consegui ouvir.

Quando ficamos apenas eu, ele e KyungSoo pude encará-lo melhor, é claro que ele se lembrava da minha cena no shopping.

- ChanYeol, peço que não se altere. – Ele disse calmo.

- Não estou alterado. – Continuei mantendo o tom irritado, aquele idiota deveria saber muito bem o que eu estava passando. – KyungSoo, não existe outro médico neste hospital?

Sim, eu estava sendo infantil.

- Senhor Park, agradeço se respeitasse minha posição como médico responsável por você nesses dias. – Chen voltou a falar, queria poder ignorá-lo.

- Ah, certo... Serei cordial. – A ironia pingava de meus lábios. – Então o senhor deve saber como BaekHyun está, eu suponho.

KyungSoo notou o clima pesado que se formava ali, e me olhou como se pedisse para eu parar com a cena ridícula que estava protagonizando. Lembrava dos sorrisinhos fáceis que o médico dava para BaekHyun, só aquilo era motivo suficiente para o meu descontrole, também não sabia direito o que estava acontecendo lá fora, ninguém ali se dispôs a me explicar alguma coisa. Era normal eu querer as respostas.

- Sim, eu sei. – “Idiota”, xinguei mentalmente. – E não precisa fazer cara feia. – Me repreendeu.

Já disse que sou muito infantil com ciúmes?

- Pode ou não pode me dizer? – Tentei ser mais educado, afinal eu não era ríspido daquele jeito.

- Bem melhor assim. – Sorriu, se aproximando. – KyungSoo, pode medir a pressão dele?

Pressão? Eu não estava interessado nisso, queria uma única informação, por menor que fosse. Era difícil notar a minha aflição? Não poderia ter perguntando para os meus pais, porque depois de ficar dias desacordado seria no mínimo estranho acordar e minha primeira perguntar ser: “Pai, mãe... Como está o meu amante?”, estava fora de questão. Para ajudar meu melhor amigo nem para explicar o que estava acontecendo para o D.O, ou melhor, ele nem ao menos veio me visitar!

No fim, a pressão foi medida e estava tudo certo. Chen verificou se minhas pupilas estavam dilatadas e também perguntou se eu sentia alguma dor, respondi que não e falei que tomei o remédio, comi toda a refeição que me mandaram, e descansei o que tinha que descansar. Ele deu um daqueles sorrisos simpáticos que quase me fez vomitar – é, eu não ia com a cara dele – , anotou alguma coisa em um bloquinho de notas que tirou do jaleco branco e avisou que amanhã mesmo eu iria trocar de quarto.

Ótimo, adeus poltrona velha.

- E o BaekHyun, como está? – Perguntei novamente, dotado de uma paciência desconhecida. – Ele te contou alguma coisa?

- Ele me contou algumas coisas. – Respondeu enquanto os anjos no céu diziam um sonoro “aleluia”. – Ou jamais conseguiria acompanhar seu caso... E você irá vê-lo em breve. – Disse por fim.

Acabei sorrindo, pelo jeito minha recuperação estava ótima e as visitas liberadas. Também iria trocar de quarto, sem a necessidade daquele aparelho irritante monitorando meu coração, porque ele batia disposto a me manter vivo por um bom tempo.

- Ótimo, quando falar com ele... Diga que estou com saudades. – Certo, eu precisava provocá-lo.

- Darei o recado, Senhor Park. – Respondeu, se retirando do quarto.

Senti uma vontade enorme de mostrar a língua, sorte que eu era advogado – recém formado, mas advogado – e não me rebaixaria apenas por ele ser médico. KyungSoo riu quando ficamos sozinhos, dizendo que eu parecia uma criança fazendo birra, poderia até ser, afinal consegui o que queria. Conversamos um pouco, ou melhor, ele apenas teceu uma rede de elogios sobre o médico, dizendo que eu estava em excelentes mãos, mas seria apenas até amanhã porque JongDae precisava tratar de outros pacientes. Claro que comemorei a notícia, pelo menos a estadia no hospital seria tranquila até eu receber alta.

Depois disso fiquei mais uma vez sozinho, dormi um pouco, olhei para o teto, fiz outra refeição no meio da tarde e esperei o tempo passar, já que a única noção que possuía de tempo era pela iluminação da pequena janela do quarto. Até pensei em levantar e olhar através dela, mas pelo pouco que via ao inclinar o corpo era um pedaço do muro alto e o céu azul.

Azul.

Incrível como tudo me fazia lembrar dele.

-

Estava tentando alcançar a ponta do nariz com a língua quando fui interrompido.

- Meu turno acabou! – KyungSoo ditou entrando no quarto, como se fosse ruim me aturar. – Não dê trabalho ao outro enfermeiro. – Pediu.

O dia agitado finalmente chegava ao fim, o céu agora era coberto pelas estrelas indicando que já era noite.

- Como se eu fosse me levantar daqui e aprontar “altas confusões com uma turminha da pesada”. – Ironizei. – Vá logo e mande um beijo para o Kai!

- Aish, nem me fale do Jongin, consegue dar mais trabalho que você. – Suspirou. – Acredita que ele ficou sentado na porta enquanto você estava desacordado?

- Então por que ele não veio me ver? – Bufei irritado, queria ver meus amigos.

- Seus pais são prioridade, por esse motivo a primeira visita é deles. – Explicou. – Bom, já vou indo! O turno dos enfermeiros está uma bagunça, não sei quem irá ser responsável por você. – Avisou. – Ele trará algo para você jantar.

- Melhor impossível, além de me livrar de você vou me encher de comida. – Disse, quase o expulsando do quarto.

- Fique sabendo que é sopa para o jantar. – Retrucou, acenando e deixando o ambiente.

Gritei um “vai logo”, antes dele fechar a porta. Agora eu sentia vontade de levantar da cama e não custava nada arriscar alguns passos, dessa forma joguei o cobertor fino longe, sentindo um leve arrepio ao tocar o chão frio com os pés descalços. Usava aquela roupa horrível de hospital e agradeci por estar vestindo algo por baixo daquilo que mais parecia um vestido aberto atrás. Escorei na parede, minhas pernas estavam fracas e pude notar pequenos cortes no joelho, iria chegar até a porta com a intenção de espiar o corredor, mas antes disso outro enfermeiro entrou.

Usando uma roupa branca padrão e o crachá pendurado na camiseta...

Quando meus olhos se depararam com a figura masculina e seu nome impresso no pedaço de plástico em seu peito, desejei estar vivendo um pesadelo.

O que ele estava fazendo ali? O que estava acontecendo?

Antes que ele pudesse me segurar minhas pernas foram mais rápidas e vacilaram, me fazendo perder as forças de tal maneira que quando vi já estava no chão.

Gritando.

Gritei tão alto que logo outros enfermeiros invadiram a sala, me segurando e injetando alguma substância diretamente em minha veia. Tudo ficou leve, meus batimentos cardíacos desaceleraram e eu sorri bobamente para a figura borrada de quem me segurava em seus braços, tão cuidadoso que parecia um pai segurando um filho.

Ou um amigo segurando o outro.

Eles me sedaram e no segundo antes de apagar agradeci mentalmente por isso.

-

Kim JoonMyun

Nº 0014512 – Setor A.

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