1. Spirit Fanfics >
  2. Realidade Paralela >
  3. Indolor.

História Realidade Paralela - Indolor.


Escrita por: _Mag

Capítulo 9 - Indolor.


Eu estava feliz.

Ou talvez seria melhor dizer que estava conformado.

Poderia me acostumar com as paredes brancas, o colchão duro, o gosto de remédio na boca e a sensação de estar preso em minha mente. Tudo isso não era nada perto do que sentia realmente, uma sensação de perda da minha essência, do meu “eu” que estava esquecido em alguma parte daquela história confusa dos últimos dias. A fase da negação tinha durado pouco, mais precisamente o tempo em que fiquei chorando no banheiro, igual a uma criança de cinco anos que esquece onde guardou o brinquedo favorito.

No meu caso esqueci onde guardei a sanidade.

Tudo em que acreditava não passava de uma invenção da minha mente, uma fuga da triste realidade que era estar preso naquele lugar, não pelas pessoas e sim por saber que estava a um passo da loucura. Ou talvez já estivesse com os dois pés enfiados nela, como uma poça lamacenta que me cobria até o pescoço. Colocando todos os meus pensamentos em ordem, algumas coisas faziam sentido e outras não passavam de imagens borradas, creio que eram minhas memórias verdadeiras.

A passagem pela faculdade, meu noivado com YunHa e meu início de carreira como advogado se embaralhavam, não saberia distinguir o que era real e o que não era, pois todas as minhas lembranças eram com o meu enfermeiro no papel de melhor amigo. Kai, LuHan e SeHun também estava presentes como personagens da minha imaginação, e ele – BaekHyun – ainda era o irmão da noiva e meu amante nos pequenos momentos de que me lembrava, ou melhor, me agarrava porque não queria suportar a ideia de que ele não era real.

Mesmo sabendo que ele era um anjo.

Era a única explicação para tudo que aconteceu durante a madrugada, ele estava parado como se esperasse por muito tempo, sua voz era tão suave que só poderia vir do céu, seu abraço era caloroso e seu sorriso a visão mais linda do mundo. Um ser humano de carne e osso não poderia ser tão místico igual a ele, porque senti uma ligação quando nos abraçamos, dizendo que aquele era o meu lugar. Mas era justo o seu abraço que quebrava a ideia dele ser divino, porque era acolhedor demais para ser uma visão ou um sonho, só de lembrar minha pele ardia como se sentisse falta do toque.

Ser tão único e intenso me deixava esperançoso, tentando buscar um detalhe desapercebido para provar que não estava mesmo enlouquecendo. Um fio de esperança me dizia que realmente toquei seu corpo, seus lábios e sua alma, de inúmeras formas e milhões de vezes, o amava mais do que tudo afinal, querer acreditar não era um pecado ou errado. Era minha mente dizendo que poderíamos ficar juntos enquanto eu acreditasse.

Suspirei me afundando no travesseiro, era cedo demais e estava com preguiça de levantar para pedir o desjejum, aliás, aquele lugar deveria ter um refeitório, eram muitos pacientes para todos terem as mordomias que recebi durante os últimos dias.  Eu também não era nenhum inválido, poderia muito bem ser tratado como os outros pacientes, mas sair daquele quarto só aumentaria a sensação de tudo ter sido uma ilusão. Veria os outros internos, veria aqueles que considerava meus amigos vestidos da mesma forma, presos naquele lugar sem previsão para sair e sem data marcada para serem curados.

Será que havia uma cura para as moléstias da própria mente?

- Hm, fico feliz que esteja acordado. – SuHo entrou no quarto de repente, parecia realmente satisfeito ao me ver desperto.

- Não dormi direito. – Revelei e ele entortou uma sobrancelha.

- Não? Seu calmante deveria lhe proporcionar uma noite tranquila. – Disse. Eu quis matá-lo por lembrar-me que vivia dopado naquele lugar.

- Ah, irei dormir melhor da próxima vez sabendo que sou controlado por remédios. – Respondi irônico e ele apenas riu baixinho.

Idiota.

- O que acha de sairmos desse quarto? Kai queria receber café na cama por sua culpa! – Acusou, mesmo que eu fosse inocente.

- Me deixe fazer as refeições aqui, só por hoje. – Pedi, doía olhar pela janela e ver todas aquelas mentes sem consciência.

SuHo ficou pensativo por alguns minutos, estava pedindo demais porque claramente já havia me recuperado do último surto – que nem lembrava - e mesmo que confuso com a verdade estava completamente saudável fisicamente, poderia comer com os outros internos. Porém, talvez como um último gesto de piedade ele concordou, não antes de repetir que seria a última vez, mas concordou e a vitória era o que me interessava.

Mais uma vez comi tudo que estava na bandeja, quase pedindo para repetir se não fosse o olhar de repreensão que SuHo vez ou outra me mandava. Pode parecer estranho, mas ele realmente era um excelente enfermeiro, me sentia bem ao seu lado, como se doença nenhuma me prendesse ali. Olhei mais uma vez pela janela, conseguia ver o muro e o portão imponente que nos separava da realidade, meu coração se apertou no mesmo instante.

- Se lembra que foi você quem pediu para melhorarem a comida? – Ele disse assim que elogiei pela milésima vez a refeição.

- Não, estranhamente não me lembro de nada dos últimos três anos. – Revelei. SuHo apenas balançou a cabeça como se concordasse.

- Eu não sou psiquiatra para conseguir explicar o que está acontecendo, mas eu vejo a angústia quase transbordando de seus olhos. – Disse sincero. – Se quiser perguntar alguma coisa, eu respondo se for do meu conhecimento.

SuHo puxou a cadeira que ficava próxima a escrivaninha, se sentando e me encarando de forma decidida. Eu quase pulei de alegria por ele estar disposto a contar pelo menos o suficiente para me deixar mais tranquilo, mesmo que ele fosse apenas um enfermeiro poderia dizer o que aconteceu comigo nos últimos três anos. O nome “BaekHyun” era um assunto delicado e aparentemente proibido, deixaria para perguntar em outra oportunidade ou diretamente para o médico responsável pelo meu caso, ou seja, para o insuportável do Doutor Chen.

- Há quanto tempo trabalha aqui? – Foi a primeira pergunta, afinal poderia estar ali antes dele.

- Quatro anos. – Respondeu. – Quando você chegou já trabalhava aqui.

Certo, ele conhecia meu caso desde o começo.

- Como cheguei até aqui? – Deveria existir um ponto em que minha vida real se cruzava com a loucura. Ele suspirou profundamente, como se fosse algo ruim para lembrar-se.

- Você passou semanas internado em um hospital comum, tentando ganhar peso. – Começou. – Chegou aqui muito debilitado, não falava com ninguém, muito menos se levantava da cama. – Assenti e ele continuou. – Aos poucos você respondia a alguns estímulos, melhorou muito com a chegada do doutor.

Fiz uma careta em sinal de desgosto, odiava aquele idiota metido a médico. SuHo apenas riu e voltou a me responder.

- Um mês depois da sua internação, em uma bela manhã você falou pela primeira vez comigo. – Nesse momento vi seus olhos brilharem levemente. – Fiquei muito feliz, você disse com a voz calma: “Hyung, eu estou apaixonado pelo irmão da minha noiva.”

Minha respiração falhou, deveria ser o começo de tudo. Em algum momento criei toda aquela estória sobre casamento e traição, e era exatamente no dia em que falei com SuHo, provavelmente o mesmo dia em que ele passou a ser o meu melhor amigo da faculdade. Assustei ao ouvir aquilo, talvez fosse arriscado saber a verdade caso não pudesse suportá-la, por isso até meus pais estavam escorregadios quando me visitaram. Eles acharam que me lembrava de tudo, da minha internação e da vida real, eu era muito tolo por pensar que estavam falando do acidente, aquela felicidade toda se resumia a possibilidade de eu estar de volta, de ser o ChanYeol antes da internação.

- E o que aconteceu depois? – Minha curiosidade era maior que o medo.

- Então as alucinações começaram, você só falava e perguntava sobre o irmão da sua noiva. – SuHo respondeu, ficando sério conforme contava toda a verdade. – Os médicos não entendiam sua obsessão, logo depois você passou a me tratar como se fosse seu melhor amigo.

- E os outros? – Perguntei, em algum momento Kai, SeHun e LuHan começaram a fazer parte da minha alucinação.

- Kai foi internado seis meses depois, quando se conheceram você também passou a tratá-lo como um amigo de anos. SeHun e LuHan foram internados logo em seguida, juntos. – Toda aquela estória parecia deixá-lo cansado, mas Suho se mantinha firme em sua narrativa. – Ás vezes você tinha crises, voltava a pensar racionalmente para em seguida começar tudo de novo.

Pausou e notei que sua próxima fala me desestruturaria.

- A última crise foi a pior, você gritava dizendo que sua noiva queria matá-lo, ficou fora de controle e saiu correndo, tropeçou várias vezes enquanto fugia dos enfermeiros. – Apontou para os meus hematomas no braço. – Tivemos que segurá-lo e sedá-lo, foi horrível porque o doutor não estava.

Então eu tinha crises? Minha sanidade voltava e evaporava logo em seguida? Até quando conseguiria manter a ordem dos meus pensamentos? Estava em meio a mais uma dessas crises, poderia acordar no dia seguinte achando novamente que SuHo e eu estudamos juntos, chamando por BaekHyun e falando com todos ali como se os conhecesse. Era como lutar contra eu mesmo, contra minha mente doente que sempre acabava ganhando. Agora temia dormir e acordar em outra realidade.

- Pode acontecer de novo? – Minha voz saiu mais trêmula do que eu desejava.

- Pode, mas os médicos estão confiantes dessa vez. – SuHo respondeu, só Deus saberia o quanto agradeci por sua sinceridade.

- Não fique pensando nisso, hoje você receberá visitas. – Informou.

Acabei ficando contente apesar de tudo, queria ver meus pais e abraçá-los, dizendo o quanto sentia falta deles, mostrando que estava melhor mentalmente, apegado a mínima possibilidade de nunca mais cair na escuridão dos meus sentidos. Fiquei inquieto também, imaginando se BaekHyun viria, Suho não disse nada sobre ele, eu tinha medo de perguntar e me decepcionar descobrindo que ele não passava de um fruto proibido da minha imaginação. Apesar das explicações ainda faltavam peças soltas para tudo se esclarecer, se ao menos eu lembrasse como fiquei apático quando cheguei ali...

- Podemos entrar? – Uma pequena fresta na porta perguntou, é claro que eu reconheci a voz.

- Podem, Kai. – Disse rindo, ele entrou fazendo um bico enorme ao ser descoberto.

E ele veio acompanhado.

SeHun foi o segundo a aparecer, era engraçado porque estava totalmente familiarizado com o seu rosto, seu sorriso tímido fazia seus olhos se fecharem ao ponto de parecerem como uma meia lua. Ele puxava alguém pela mão, o pequeno LuHan, tão encolhidinho que se não andasse diria que era um urso de pelúcia. As mãos estavam entrelaçadas e ao entrarem no quarto SeHun o envolveu pela cintura, como se o protegesse até mesmo do ar que respirávamos.

- Diga “oi” para o ChanYeol. – O namorado protetor disse calmamente.

No mesmo instante LuHan me olhou e sorriu timidamente, entendi que aquele era o seu “oi”. Seu corpo era esguio, se encaixava perfeitamente nos braços de SeHun como se fossem moldes um do outro, era bonito ver tamanho cuidado. Acabei me lembrando do que SuHo disse sobre eles, foram internados ao mesmo tempo, como isso era possível? O loiro caminhou lentamente com a ajuda do namorado até alcançar a minha cama onde se sentou. Suho prontamente tirou a bandeja que estava em meu colo, o que foi a deixa para Kai reclamar.

- Aish, eu pedi café na cama e o hyung não deixou! – Exasperou-se, balançando os braços de forma espalhafatosa. – Park ChanYeol, você é um sortudo por ter um bando de puxa saco!

- Charme é para poucos, não é mesmo LuHan? – Disse provocando Kai, mas olhando no final da frase para o loirinho sentado em minha cama.

Ele balançou a cabeça indicando que concordava.

- Por que ele sempre te responde? – Kai mais uma vez reclamava, ajoelhando-se perto de LuHan fazendo cara de coitadinho. – LuHan, o que ele tem que eu não tenho? – Perguntou indignado.

 Vi SeHun revirar os olhos impaciente, empurrando Kai para o lado e se sentando ao lado do namorado. Eu também estava sentado, dando espaço suficiente para os dois. Era tanto carinho que SeHun falava com ele como se pudesse quebrá-lo caso não agisse suavemente, o que me intrigou. Abri a boca várias vezes, pensando em como perguntar sobre LuHan, ele era calado demais, se não fosse por seus lábios mexerem ao sussurrar algo para o namorado acharia que era mudo. Mas não consegui, a pergunta morreu em minha garganta. Seria indelicado perguntar, senti isso desde que meu olhar caiu sobre a face serena do loiro, mas ao mesmo tempo em que parecia tão calmo o via como um belo vaso quebrado.

Jongin que era ótimo no quesito se expressar, começou a contar efusivamente sobre seu encontro com “o enfermeiro bonitão”, quando ele nomeou KyungSoo – que não estava presente para se defender – com o apelido sugestivo, até SuHo que se mantinha sério começou a rir. Acabei esquecendo de perguntar sobre LuHan em meio a narrativa entusiasmada do moreno, o casal saiu primeiro alegando que estavam fora do quarto sem autorização do enfermeiro responsável por eles, não antes de SeHun sussurrar em meu ouvido:

- É bom te ter de volta. – Disse direto, entendi a mensagem no mesmo instante.

- Também é bom estar de volta. – Respondi e ele sorriu antes de me deixar.

Sozinho, com o efusivo do Kim Jongin!

- Hyung, poderia nos deixar a sós? – Kai pediu para SuHo que se mantinha de olho em nós. – Temos um assunto particular a tratar. – Disse de forma polida, o que quase provocou um ataque de risos da minha parte.

O enfermeiro reclamou, mas concordou, dando quinze minutos de privacidade para nós. Parecíamos dois delinquentes com tanto monitoramento, acabei bufando impaciente já curioso com o que Kai tinha a dizer. Ele respirou fundo, parecia controlar uma enorme agitação dentro de si, estralava os dedos para conter a vontade de roer as unhas e me olhava como se escondesse um segredo de estado.

- Nós nos beijamos! – Soltou de uma vez, eu quase engasguei com o nada. – Foi assim de repente, meio sem querer e querendo muito ao mesmo tempo, desajeitado e perfeito, intenso e... Ah, estou apaixonado! – Disse tão rápido que tive que me concentrar pra entender.

- Entendi até a parte do “nós nos beijamos.” – Ri sem graça.

- Hyung! – Reclamou. – Eu-e-o-KyungSoo-nos-beijamos-e-eu-comi... – Ditou pausadamente, mas novamente parei na parte mais importante, o “eu comi...”

- Você e ele...? – Indaguei tentando soar objetivo.

- Não! Eu comi batata frita, era o que iria dizer. – Explicou rapidamente.

Me joguei contra o travesseiro tentando fingir que aquela conversa não estava acontecendo, era demais para os meus neurônios! Certo, eu era louco, estava internado há três anos, meu enfermeiro era meu melhor amigo, existia um casal de namorados em um hospital psiquiátrico e agora estava ouvindo o relato do primeiro beijo do paciente bipolar com o enfermeiro maníaco por limpeza. Ótimo, perto deles eu estou curado! Acabei chorando de rir, não lembrava ter me divertido tanto em toda minha vida.

Acho que era como abrir os braços e abraçar a loucura, porque nada poderia ficar mais esquisito do que já estava. Porém, de repente Kai pareceu alheio demais, observando algo pela janela enquanto eu ainda ria. Endireitei minha postura até a última risada escapar, levantando para ver melhor o que ele tanto observava.

- BaekHyun voltou! – Ele disse animado.

Ao mesmo tempo em que meu mundo parou de girar.

Ele estava lá e eu o vi. A luz do sol o deixava mais bonito que o manto do luar, ele parecia um ponto incandescente, tão brilhante como se chamasse por mim. Estava sorrindo e conversava animadamente, seu sorriso era tão bonito que não escutei o que Kai me dizia, só queria permanecer ali o admirando. Porém, outra pessoa surgiu no meu campo de visão, era quem o acompanhava na conversa, o idiota do Jongdae parecia íntimo demais dele.

Iria sair daquele quarto e falar com ele, nada iria me impedir. Não era surdo e ouvi Kai mencionar seu nome, o que provava que não era uma alucinação, então noite passada também não era um sonho. Meu coração quase gritou de dor, mal cabia no peito tamanha angústia ao vê-lo, minha mente dizia “vá atrás dele” e foi o que fiz, sai correndo em disparada até a entrada do hospital. Ouvi JoonMyun me chamando, mas ignorei, continuei correndo em direção à minha felicidade.

“BaekHyun veio me ver!”, pensei enquanto corria descalço atravessando os corredores frios, empurrei vários enfermeiros que tentavam me deter, absolutamente nada me impediria de vê-lo. Era real, todo o meu desespero era em vão porque ele era real e estava ali para me ver! Será que era difícil entender? Dois dias transtornado devido à sua ausência era o suficiente para enfrentar o mundo inteiro se fosse necessário, eu precisava dele e sei que ele também precisava de mim.

- BaekHyun! – Gritei, quase sem fôlego. Descendo os degraus da imensa construção.

Um, dois, três... Nove passos me separavam dele. A distância mais longa que percorri em toda minha vida. Meus pés se arrastavam pelo chão, como se carregassem um peso enorme, mesmo assim consegui alcançá-lo, esticando meu braço em sua direção, mais um centímetro e tocaria seu rosto que transmitia um misto de surpresa e preocupação. Olhei para trás quando ele observou algo atrás de mim e dois enfermeiros enormes me seguraram, comecei a me debater pedindo para que me soltassem, as lágrimas rompiam a barreira dos meus olhos e simplesmente lavavam as minhas bochechas.

- Não! Me soltem! – Gritei o mais alto que pude, colocaria meus pulmões para fora se fosse necessário. – Ele veio me ver! Me soltem seus idiotas. – Chutava o ar porque era fraco demais para me soltar. – Diga para eles que não sou louco, diga!

- Podem soltá-lo. – Ordenou o que tanto implorei. – Não é para tratá-lo dessa maneira. – Avisou aos enfermeiros que assentiram prontamente.

Eu o olhei atônito, sem entender o que estava acontecendo, mas feliz demais para me apegar aos detalhes. Sorri abertamente, desejando novamente beijá-lo mesmo com todos os enfermeiros e muitos pacientes nos observando, nos amávamos então qual o problema? SuHo apareceu assim que me soltaram, olhei para ele e sorri ainda mais.

- Você disse que eu receberia visitas e ele veio me ver. – Disse não contendo tamanha felicidade. – Eu sabia que não era tudo fruto da minha imaginação, algo tinha que ser real, ele tinha que ser real!

Esperei receber os parabéns do meu amigo, mas em troca recebi um olhar desolado e triste, todos em volta estavam em silêncio como se assistissem a uma peça de teatro durante o estopim do último ato. Não estava entendendo, por que de repente todos ficaram calados? Era o dia de visitas, não era? BaekHyun estava ali para me visitar, então qual o maldito problema?

- O que está acontecendo? – Perguntei confuso pra ele.

- Calma, não está acontecendo nada. – Ele garantiu se aproximando e tocando em minha mão, fiquei mais calmo apenas por sentir sua pele.

- BaekHyun, não se aproxime dele ou serei obrigado a chamar o diretor! – Chen avisou, não entendi a reação dele. – Você está atrapalhando o tratamento agindo dessa forma! – Continuou interrompendo e quis dar um soco para calar aquela maldita boca.

- Eu sei o que estou fazendo! – BaekHyun respondeu firme e Chen se calou. – Por favor, é o meu paciente e eu sei como agir com ele. – Disse cansado e eu apenas...

Fiquei estático.

Meu olhar desceu em direção à sua roupa, internamente eu pedia para estar errado. Ele usava uma calça social preta, camisa branca e um paletó bem alinhado em seu corpo, ele também usava a identificação de todos que trabalhavam no hospital. Pendurado do lado direito de seu peito, o crachá parecia rir da minha cara, como se o plástico se retorcesse para zombar da minha sanidade.

-

Hospital Psiquiátrico de Seul.

Byun BaekHyun

Psiquiatria – Setor A

-

Como um garotinho assustado ao acordar do seu pior pesadelo, eu chorei. Diante dele, diante dos enfermeiros e diante da dor. BaekHyun balançou negativamente a cabeça, entendendo perfeitamente o que se passava dentro de mim, ele segurou firme em meu braço, mas me desvencilhei de qualquer apoio que ele quisesse me dar. Talvez fosse exatamente o que merecia, a verdade me atingindo como um soco no estômago, em que até a sensação de enjoo estava presente. Não restava mais nenhuma saída a não ser admitir, nenhuma rota de fuga ao alcance me tiraria do labirinto que eu mesmo criei três anos atrás quando o vi pela primeira vez.

Eu era o único culpado ali, por achar que ele veio me ver, que me amava, que era irmão da minha noiva e como bom masoquista achar que seríamos felizes. Olhei para baixo envergonhado do meu próprio erro, ainda não lembrando como cheguei a cometê-lo e como criei um mundo paralelo em minha mente. Fechei os olhos desejando estar bem longe dali, em outra galáxia aonde eu pudesse amá-lo e ser amado.

- Quem eu sou? – BaekHyun perguntou próximo demais.

Engoli seco, era óbvio que sua aproximação me deixava sem forças e ele sabia disso.

- Meu... – Pausei, reunindo todo o autocontrole que possuía. – Meu médico.

Disse e aquilo doeu, no mesmo instante senti uma pontada na cabeça, uma dor muito forte que me deixou atordoado. Acabei apoiando nele para não cair, rapidamente SuHo veio me segurar, mas BaekHyun ainda estava perto para eu poder me apoiar em seu corpo. O encarei pedindo, ou melhor, implorando para ele dizer que era uma brincadeira, que ele estava ali como visitante e não como médico, implorando também por outro sedativo se tudo fosse mesmo verdade.

Dormir eternamente seria indolor, era exatamente o que eu precisava.

Não sentir absolutamente mais nada, mesmo que isso significasse nunca mais vê-lo.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...